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Processo Executivo e dos Recursos

Processo Executivo e dos Recursos

1. Conceito e fins da ação executiva 2


2. Pressupostos da ação executiva 4
3. Título Executivo 5
4. Certeza, Exigibilidade e Liquidez da Obrigação 6
5. Competência do tribunal 11
6. Legitimidade das Partes 14
7. Patrocínio Judiciário 16
8. Pluralidade de Sujeitos e Pluralidade de Pedidos 17
9. Formas do Processo Executivo 20
PARTE II 22
PROCESSO ORDINÁRIO DE EXECUÇÃO PARA PAGAMENTO DE
QUANTIA CERTA 22
10. Delimitação 22
11. Fase Inicial 22
12. Oposição à execução 25
13. Objeto da Penhora 29

!1 João Teixeira de Freitas


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1. Conceito e fins da ação executiva

1.1 - DELIMITAÇÃO
- A dualidade existencial entre ações declarativas e ações executivas, os três sub-tipos de ações declarativas (10º
CPC). Não devem ser confundidas com as ações executivas as ações de condenação in futurum, em que o réu
é condenado a abster-se de determinado comportamento (1276º CC), ou para que o condene à realização de
determinada prestação no momento do seu vencimento (557º e 610º CC).

- A ação executiva visa, ao contrário da declarativa, promover a reparação efetiva de um direito violado através
da realização coativa de determinada prestação.

1.2 - TIPOS
- Resulta do artigo 10º/6 do CPC que existem 3 tipos de ação executiva, ou seja, a ação executiva pode ser
intentada para:

• Pagamento de quantia certa - O exequente pretende obter o pagamento de determinada quantia pecuniária sendo que
para tal são apreendidos os bens do património do executado que forem considerados suficientes para o pagamento da dívida.
Depois de apreendidos os bens são vendidos e o produto da sua venda é usado para pagar ao exequente, obtendo ele assim o
mesmo resultado que obteria com a realização da prestação (817º CC).

• Entrega de coisa certa - Nestas ações o exequente que é titular de um direito à entrega de determinada coisa pretende
que o tribunal apreenda esse bem para que lhe seja posteriormente entregue (827º CC), obtendo-se assim o mesmo resultado
que se obteria com a realização da obrigação. Todavia, nos casos em que a coisa não seja encontrada ou a sua entrega não seja
mais possível, então, o exequente pode obter um resultado idêntico ao que obteria pela realização da prestação procedendo-se à
liquidação do valor do bem devido e do prejuízo resultante da falta de entrega, penhorando-se e vendendo-se bens até que a
quantia liquidada possa ser paga.

• Prestação de um facto - Nestas ações o exequente pretende obter a prestação de determinado facto a que tem direito,
seja ele positivo ou negativo, todavia, à que distinguir as situações em que o facto é infungível (828º CC) das situações em que
não o é. Assim, nestas o exequente pode requerer que o facto seja prestado por outrem à custa do património do executado,
sendo apreendidos e vendidos bens deste para pagar os custos da prestação. Já naquelas situações em que o facto é infungível
(868º CC), não restará outra alternativa que não a de apreensão e venda dos bens do executado para satisfação do prejuízo
sofrido com o incumprimento.

1.3 - FUNÇÃO

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- Após esta breve análise é possível retirar algumas conclusões acerca da função das ações executivas. Em
primeiro lugar, é necessário referir que estas ações se destinam a promover a realização de determinada
prestação coativamente. Todavia, nem sempre a razão de ser da existência desta prestação é de caráter
obrigacional, sendo que por vezes podem os próprios direitos reais fundar pretensões exequíveis neste tipo
de ação. Além disso, é necessário ter presente que na ação executiva, ao contrário da ação declarativa, o
proponente visa reparar um direito violado e não verificar se ele existe ou se foi ou não violado. Na execução
o exequente tanto pode obter a realização da prestação que lhe é devida, seja direta ou indiretamente
(execução específica), ou então obter uma execução por equivalente. Assim, é importante também não
esquecer que o tipo de ação executiva a intentar apenas pode ser determinado face ao título executivo em
que se fundará a mesma, e que a satisfação do credor é conseguida mediante a substituição do tribunal ao
devedor.

1.4 - NORMAS SUBSTANTIVAS E NORMAS PROCESSUAIS


- O direito executivo é regulado por um conjunto vasto de normas quer de caráter processual quer de caráter
substantivo. Estas normas surgem face aos efeitos de natureza real dos atos executivos e sua articulação com
direitos de terceiros - 819º a 826º CC, à necessidade de definição dos regimes de responsabilidade
patrimonial, da sujeitabilidade do património à execução e da exequibilidade intrínseca da pretensão ou
ainda face à necessidade de coagir indiretamente o devedor ao cumprimento de obrigações insusceptíveis de
execução específica (829º- A CC).

1.5 - O ACERTAMENTO E A EXECUÇÃO


- Tal como já supra referido, a ação executiva pressupõe logicamente a dissolução de qualquer dúvida acerca da
existência ou configuração de determinado direito (o direito exequendo), sendo que se esta declaração
chamada de acertamento é o ponto de chegada nas ações declarativas, já nas ações executivas é o ponto de
partida. Assim, existe um acerta coordenação funcional entre ação declarativa e ação executiva, coordenação
esta que cessa inevitavelmente quando a ação executiva se funda num título que não é uma sentença.

- Assim se justifica que no processo executivo e no processo declarativo sejam valorados de forma diferente
determinados princípios típicos do Processo Civil, por exemplo: o princípio do contraditório ou da igualdade
de armas. É que no direito executivo o executado não goza de uma paridade posicional com o exequente, e
muito menos de faculdades de gestão processual amplas e largas margens para contradizer a pretensão do
exequente.

1.6 - JUIZ E AGENTE DE EXECUÇÃO

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- Antes da reforma do processo executivo a direção do mesmo cabia inteiramente ao juiz aplicando-se a norma
prevista no 6º/1 do CPC, todavia, tal configuração revelou-se excessiva na medida em que se verificou que a
maioria dos despachos proferidos pelos juízes não constituíam atos de natureza jurisdicional. Assim, hoje em
dia o papel do juiz está limitado ao exercício de funções de tutela e controlo, deixando de ter a seu cargo a
obrigação de promoção das diligências executivas. Estas funções estão hoje em dia a cargo de uma nova
figura, o agente de execução, um profissional liberal, podendo as partes apenas reclamar para o juiz dos atos
ou omissões praticadas pelo mesmo. Problema aqui colocado é o de saber se atos ilícitos do agente de
execução originam ou não responsabilidade do Estado, problema este que deve ser respondido analisando o
caráter privatista/ administrativista das suas funções1 .

2. Pressupostos da ação executiva

2.1 - PRESSUPOSTOS ESPECÍFICOS


- A exequibilidade do direito à prestação depende da verificação de duas condições, a primeira de caráter
formal, a segunda de caráter material:

• A obrigação constar de um título - o título executivo.


• A prestação deve ser certa, exigível e líquida.
- Todavia nem sempre os pressupostos de caráter material são pressupostos autónomos ao título executivo,
uma vez que a verificação destes pode resultar diretamente da existência e configuração de determinado
título.

- Outra questão prende-se com a liquidez, hoje em dia, ao contrário do que anteriormente sucedia, em relação
às sentenças condenatórias, estas apenas podem ser consideradas títulos executivos se a liquidez da
obrigação contida na mesma não depender mais do que um simples cálculo aritmético. Também já está
contido este pressuposto no título executivo quando este é um título de crédito.

2.2 - PRESSUPOSTOS GERAIS


- Competência do Tribunal
- Personalidade e Capacidade Judiciária

1
Se Lebre de Freitas se inclina para aceitar que este atos originem responsabilidade do Estado, em sentido diverso se
pronunciou o STJ em 6.7.11 e 11.4.13...

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- Legitimidade das partes
- Patrocínio judiciário
- Pluralidade de sujeitos na ação?
- Cumulação de pedidos?

3. Título Executivo

3.1 - NOÇÃO
- O título executivo é a base de toda a execução, nele se definem o seu fim e limites bem como o seu objeto, e a
partir dele se resolvem as questões de legitimidade ativa e passiva. A existência de um título executivo
pressupõe, como ja foi dito, um acertamento, ou seja, a definição material dos elementos objetivos e
subjetivos da relação jurídica que vai servir de objeto à execução.

3.2 - ESPÉCIES
- No artigo 703º são enumeradas as 4 espécies de título executivo existentes no nosso ordenamento jurídico.

3.3 - A SENTENÇA CONDENATÓRIA

3.3.1 - CONCEITO

- O legislador intencionalmente utiliza aqui esta expressão para demarcar este fenómeno jurídico das
sentenças proferidas em ações declarativas de condenação. Cabe aqui chamar atenção para uma querela
doutrinal levantada a respeito das sentenças declarativas constitutivas favoráveis, uma vez que este tipo de
sentenças, por vezes, cria obrigações que podem vir a ser objeto de incumprimento. Nestes casos, todavia, o
efeito constitutivo da sentença é de produção automática, nada restando para executar, a não ser que exista
também uma condenação ainda que implícita à realização de determinada prestação2. Quanto às ações de
simples apreciação é pacífico que as sentenças que daqui advêm não formam títulos executivos.
3.3.2 - TRÂNSITO EM JULGADO E LIQUIDEZ

2
Veja-se o exemplo de um particular que intenta um ação de preferência mas não pede que o bem em relação ao qual
prefere lhe seja entregue. Apesar de este pedido não ter sido formalmente realizado pode considerar-se implicitamente
feito no caso de procedência da ação, uma vez que a sua existência não depende de qualquer outro pressuposto. Caso
diferente é o da restituição da coisa ou quantia prestada em cumprimento de contrato anulado, uma vez que aqui o pedido
de restituição do preço pago ou da coisa entregue não se pode considerar realizado de forma implícita, a não ser que se
tenha efetivamente provado a realização das prestações.

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- Para que determinada sentença possa servir de título executivo é também necessário que já tenha transitado
em julgado, ou seja, que não seja mais passível de recurso ordinário ou reclamação (628º CPC), salvo nos
casos em que tiver sido interposto recurso com efeito meramente devolutivo (704º CPC). Nestes casos, a
interposição de recurso não impede a prossecução de determinada ação executiva, no entanto, quando a
causa vier a ser definitivamente julgada, a decisão proferida poderá ter um de dois efeitos, ou extingue a
execução porque veio dar razão ao recorrente, absolvendo-se o réu executado, ou então modifica a execução
de apenas se revogar em parte a decisão exequenda (704º/2 CPC).

- (...)

4. Certeza, Exigibilidade e Liquidez da Obrigação

4.1. - CONCEITO

4.1.1 - INTRODUÇÃO

- Já vimos que ao prosseguimento da ação executiva não obsta a falta de prova da obrigação exequenda, uma
vez que a existência da mesma é pressuposta pelo título executivo, todavia, apesar de este não ser um
pressuposto da ação executiva, já o incumprimento da obrigação exequenda é um pressuposto da ação
executiva, pressuposto este que não resulta do próprio título nos casos em que a obrigação é incerta,
inexigível ou ilíquida.

4.1.2 - A CERTEZA

- A certeza reporta-se à determinação qualitativa da obrigação exequenda. Os casos mais flagrantes em que
este requisito não se encontra preenchido serão os das obrigações alternativas (400º CC) ou obrigações
genéricas de espécie indeterminada (539º CC).

4.1.3 - A EXIGIBILIDADE

- A obrigação exequenda apenas é exigível quando já se encontrar vencida, ou o seu vencimento depender de
simples interpelação ao devedor (777º/1 CC). Os casos em que este requisito não se encontra preenchido são
os de:

• Obrigações com prazo certo (779º CC);


• Obrigações de prazo incerto a fixar pelo tribunal (777º/2 CC);
• Obrigação sujeita a condição suspensiva (270º e 715º/1 CC);

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• Caso de sinalagma e não satisfação da contraprestação3;

4.1.4 - A LIQUIDEZ

- A liquidez por sua vez reporta-se à determinação quantitativa da obrigação exequenda. Normalmente o
problema da liquidez coloca-se quanto às obrigações genéricas que normalmente já têm o seu quantitativo
determinado, mas todavia a concretização das mesmas depende ainda de um ato de individualização das
unidades que serão prestadas. Todavia pode gerar-se aqui uma confusão devido ao facto de o CPC confundir
os conceitos de pedido genérico com pedido ilíquido, abrangendo também o conceito de universalidade
(556º e 557º/1 CPC), sendo possível nos casos aí declarados realizar tal pedido nas ações declarativas, sendo
que a determinação da prestação deve acabar por ser realizada nessa mesma ação declarativa mediante o
incidente da liquidação (258º a 360º CPC), incidente este que pode mesmo ser suscitado já depois do trânsito
em julgado da sentença, dando lugar à renovação da instância. Este incidente apenas não carece de ser
suscitado quando a liquidação possa ser realizada através de simples cálculo aritmético, ou então quando o
juiz apesar de já condenou o réu, pelo menos parcialmente, caso em que já é possível a execução da parte
líquida da prestação (609º/2 CPC). O artigo 716º prevê ainda alguns casos de liquidação da obrigação na ação
executiva.

4.2. - REGIME DA CERTEZA E DA EXIGIBILIDADE

4.2.1 - OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS

- Nas obrigações alternativas a escolha da prestação definitiva a vir a ser realizada pode estar a cabo do
devedor, do credor ou de terceiro (543º/2 e 549º CC). Se a escolha pertencer ao credor este apenas tem de a
realizar no requerimento executivo (724º/1/h CPC). Se a escolha pertencer ao devedor então este é
notificado (ao mesmo que é citado) para que proceda à escolha da prestação a realizar até ao prazo da
oposição à execução, sob cominação de esta vir a caber ao credor (714º/1 e 714º/3 CPC). Se a escolha já tiver
sido efetuada então cabo ao requerente fazer prova da mesma (715º CC).

4.2.2 - OBRIGAÇÕES GENÉRICAS

- Aplicação do regime supra descrito para as obrigações alternativas.

4.2.3 - OBRIGAÇÕES A PRAZO

- Quando a obrigação estiver condicionada ao decurso de um prazo certo apenas no fim deste é possível
considerar a obrigação exigível. Assim, em princípio o devedor fica imediatamente constituído em mora

3
Nestes casos a falta de realização da contraprestação é equiparada às situações de pura inexigibilidade

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(805º/2/a CC), a menos que o credor não tenha praticado os atos de cobrança da prestação que lhe
incumbissem4, caso em que existirá uma mora do credor. Esta mora não impede todavia a proposição da
ação executiva como resulta do 610º/2/b, que embora só seja diretamente aplicável aos casos de obrigações
puras deve aqui ser aplicado por analogia só se constituindo o devedor em mora a partir do momento da
citação. Se o exequente parte diretamente para a execução através do 610º/2/b então incumbe-lhe a ele
suportar as custas processuais (532º/2/b CPC), apenas sendo possível evitar este pagamento se se provar que
já efetuou os atos de cobrança da prestação que lhe incumbissem.

- Já no caso de obrigação com vencimento dependente de prazo a fixar pelo tribunal o credor tem de promover
na fase liminar da execução a fixação judicial do prazo (1026º, 1027º e 874º CPC).

- Questão aqui que gera certa controvérsia é a da admissibilidade do pacto de non exequendo ad tempus, que,
ao que parece, deve ser admissível, permitindo que as partes acordem que determinada obrigação não
poderá ser executada até determinada data (caso em que o processo executivo passará a ser tratado como se
na sua base existisse uma obrigação de prazo certo).

4.2.4 - OBRIGAÇÕES PURAS

- Nestes casos o vencimento da obrigação depende do ato de interpelação, sem o qual a obrigação não se torna
exigível. Todavia, a ação executiva de obrigação pura poderá ter lugar mesmo sem esta interpelação, contando
que ela seja feita na citação, e com a consequência de ter de ser o autor a suportar as custas processuais de tal
ação, sendo apenas possível eximir-se de tal responsabilidade se fizer prova nos termos do 715º que a
interpelação ocorreu antes da propusitura da ação.

4.2.5 - OBRIGAÇÕES COM CONDIÇÃO SUSPENSIVA

- Estas obrigações exigem que se prove a ocorrência da condição nos termos do 715º, pois até lá o negócio
jurídico não produz efeitos (270º CC). Nos casos de o negócio estar sujeito a condição resolutiva, poderá a
prova da ocorrência da condição ser feita pelo executado em sede de oposição à execução (729º/1/g CPC).

4.2.6 - OBRIGAÇÕES SINALAGMÁTICAS

- Nestes casos em que cabe ao devedor realizar determinada prestação em simultâneo com o credor caberá a
este a prova de que já realizou ou ofereceu realizar a prestação sob pena de não poder promover a execução.
O mesmo regime é aplicável aos casos em que o credor esteja obrigado a realizar determinada prestação
antes do devedor.

4.2.7 - PROVA COMPLEMENTAR DO TÍTULO

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Por exemplo, no caso de a entrega da prestação dever ser efetuada no domicílio do devedor e não ter o credor deslocado-
se ao mesmo.

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- A certeza e a exigibilidade dos títulos quando não resultantes do próprio título levam à necessidade de
abertura de uma fase liminar do processo executivo que visa acertar ou liquidar a obrigação exequenda, ainda
que esta fase possa ter-se por consumada no próprio requerimento de execução. Estes acontecimento prévios
à ação executiva devem nela ser provados nos termos do 715º.

- Nas execuções em processo sumário (855º/1 CPC), ao contrário das de processo ordinário (726º/1 CC) estes
requisitos são verificados não pelo juiz (através do despacho liminar) mas sim através do agente de execução,
podendo este, em caso de dúvida, suscitar a intervenção de um juiz.

- Se for necessária a produção de prova extradocumental o exequente oferece a mesma no requerimento


executivo (724º/1/h CPC), devendo seguir-se definição do dia para a produção de prova através de despacho
liminar (se não houver lugar a causas de indeferimento ou aperfeiçoamento (726º/2/b e /4)) (715º/3 CPC),
prova esta que deve ser produzida de forma sumária de forma semelhante à prevista no 345º, decidindo
posteriormente o juiz se o processo prossegue ou não.

- Esta decisão pode ocorrer mesmo sem audição prévia do executado como dispõe o 715º/3, ou então se o juiz
a reputar como necessária, deverá o executado ser imediatamente citado nos termos do 715º/4.

- O executado só pode, no entanto, contestar a execução invocando fundamento de inexigibilidade ou


incerteza em cede de oposição à execução 729º/e CPC, embora o exequente continue a ter o ónus de provar
os factos de que depende a exigibilidade e certeza da obrigação exequenda.

4.2.8 - CONSEQUÊNCIA DA FALTA DE CERTEZA OU EXIGIBILIDADE

- A normal consequência quando o exequente não logra provar os factos de que depende a exigibilidade ou
certeza da obrigação exequenda é a de o juiz emitir despacho de aperfeiçoamento no espírito do 6º/2 e 590º/
2 CPC de forma a permitir o aproveitamento da ação a que falta o preenchimento de um pressuposto formal,
ou que padece de irregularidades formais susceptíveis de sanação. Assim, como dispões o 726º/4 e /5 CPC,
apenas há lugar a despacho de indeferimento liminar no caso de o despacho de aperfeiçoamento não lograr
os objetivos a que se propõe.

4.3. - REGIME DA LIQUIDEZ

4.3.1 - OS MEIOS DE LIQUIDAÇÃO

- O nosso código como já vimos prevê mecanismos de liquidação quer declarativos que executivos.
Relativamente a este últimos, o nosso código prevê que a liquidação possa ser realizada através de simples
cálculo aritmético, ou não, e ainda faz referência à liquidação por árbitros e à liquidação de universalidades
(716º/4 a /7 CPC).

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4.3.2 - A LIQUIDAÇÃO POR SIMPLES CÁLCULO ARITMÉTICO

- Quando a liquidação de determinada obrigação possa ser efetuada através de um simples cálculo aritmético
o exequente deve no requerimento executivo indicar o respetivo cálculo e valores (716º CPC). Por exemplo,
numa situação em que são devidos juros relativos ao decurso de determinada janela temporal. É importante
lembrar que se existirem juros vincendos o pedido a deduzir deve ser ilíquido, sendo liquidados no
requerimento inicial os já vencidos e liquidados a final pelo agente de execução os vincendos (716º CPC).
Outros casos de pedido ilíquido admitidos no processo executivo são os de sanção pecuniária compulsória e
prestação de facto infungível.

4.3.3 - LIQUIDAÇÃO NÃO DEPENDENTE DE SIMPLES CÁLCULO ARITMÉTICO

- Neste caso o exequente deverá, de acordo com o 716º/1 especificar os valores que considera compreendidos
na prestação para formular um pedido líquido. O citado é de imediato citado para que se possa opor à
execução (716º/4), e se não o fizer dar-se-á por fixado o valor líquido que foi definido pelo exequente no
requerimento executivo.

- Sendo apresentada contestação seguem-se por apenso (732º/1) os termos do processo comum de declaração
(360º/3) por remissão dos artigos 716º/4 e 732º/2.

- Por outro, se não for apresentada contestação nem oposição, e a revelia seja inoperante (568º), então, os
termos subsequente têm lugar como incidente do processo executivo. Se não se verificar nenhum dos casos
do 568º (revelia inoperante), então, a falta de contestação implicará a liquidação automática da prestação nos
termos descritos no requerimento de execução. Pode no entanto suceder que a prova produzida seja
insuficiente para liquidar a prestação, sendo que, neste caso, o juiz deve, oficiosamente, promover a sua
correção nos termos do 411º, podendo para isso ordenar a produção de prova pericial nos termos do 478º
(360º/4), podendo ainda, no caso de indemnizações, julgar o montante segundo a equidade (566º/3).

4.3.4. - LIQUIDAÇÃO POR ÁRBITROS

- Está prevista no 716º/6 a hipótese de as partes ou lei especial convencionarem que a liquidação se faça por
árbitros, caso em que ela terá lugar extrajudicialmente e previamente à proposição da ação executiva. Nestes
casos cabe ao juiz presidente do tribunal de execução nomear o terceiro júri ou então o segundo júri no caso
de este não ter sido nomeado pelo requerido (10º/4 e 59º/1/a LAV). Apenas não será assim se a obrigação
resultar de sentença judicial ou de título de crédito liquidável através de mero cálculo aritmético, caso em que
se aplica diretamente o 361º.

4.3.5 - PEDIDO DE ENTREGA DE UNIVERSALIDADE

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- Nestes casos é permitido ao exequente que formule um pedido ilíquido, uma vez que não seria justo não
permitir ao titular do direito a uma universalidade que a execute desde logo, apesar de não a poder descrever
quantitativamente com rigor. A liquidação deve ocorrer nos termos do 716º/7 CPC).

4.3.6 - CASO JULGADO

- Nos casos em que existe decisão judicial favorável proferida no incidente de liquidação, então, essa mesma
sentença forma caso julgado, não podendo voltar a discutir-se a liquidação da mesma obrigação, fundada no
mesmo título.

4.3.7 - CONSEQUÊNCIAS DA ILIQUIDEZ DA OBRIGAÇÃO

- Nos casos em que por qualquer razão a obrigação ainda não esteja líquida o juiz proferirá despacho de
aperfeiçoamento, convidando o exequente a liquidar a obrigação, sob pena de se não o fizer, ver a sua
pretensão indeferida, ou abrir espaço para que posteriormente o executado se oponha à execução (729º/e
CPC).

5. Competência do tribunal

5.1 - COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA


- A competência dos tribunais judiciais para a ação executiva determina-se através de um critério positivo e um
critério residual. Segundo aquele, devem ser julgadas pelos tribunais judiciais todas as ações executivas
baseadas na não realização de uma prestação devida segundo normas de direito privado. Por outro lado,
os tribunais judiciais são também competentes para as ações executivas que não caibam no âmbito de
competência de tribunais de outras ordens jurisdicionais (40º/1 LOSJ e 64º CPC).

- No sistema da LOSJ, como já sabemos, as Comarcas encontram-se dívidas em instâncias centrais e instâncias
locais (sendo que cabe àquelas julgar apenas as ações com valor superior a 50000€ - 117º/1/b LOSJ).

- As instâncias centrais por sua vez desdobram-se em seções de competência especializada, onde encontrámos
secções cíveis e de execução (80º/2 e 81º/2 LOSJ), sendo que são estas últimas que têm sempre a
competência exclusiva para julgar ações executivas (129º/1 LOSJ), e só na ausência destas será a ação julgada
por uma secção cível (conquanto que o valor da causa seja superior a 50 mil euros).

- Já as instâncias locais subdividem-se em secções de competência genérica (81º/1 LOSJ), de onde podem
resultar outras secções cíveis (81º/3 e 130º/2 LOSJ). Estas seções de competência genérica vão julgar todas as

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ações executivas de valor igual ou inferior a 50 mil euros (130º/1/d LOSJ), sempre que não exista uma seção
especializada de execução.

5.2 - COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA HIERARQUIA


- A competência em relação à hierarquia não oferece problemas de maior uma vez que segundo o disposto nos
artigos 85º e 86º do CPC apenas os tribunais de 1ª instância possuem competência para julgar ações
executivas, mesmo nos casos em que a ação declarativa que origine o título executivo seja proposta em
instância superior por força de disposições legais específicas.

5.3 - COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO VALOR


- Como já vimos o valor da ação apresenta especial importância no que toca à determinação do destino a ser
dado à ação, uma vez que, no geral, se o valor foi superior a 50 mil euros, deverá esta ser julgada numa
instância central, por uma secção de competência especializada (de execução), ou por uma secção
especializada cível no caso de aquela não existir.

- Por outro lado, se o valor da ação for inferior a 50 mil euros, ação deve ser julgado na secção de competência
genérica cível, a não ser que exista na instância central da Comarca uma secção de competência especializada
em execução.

5.4 - COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO TERRITÓRIO

5.4.1 - TIPOLOGIA

- No nosso sistema jurídico a competência em razão do território è estabelecida nos artigos 85º a 90º do CPC,
sendo depois aditadas nos artigos 709º/2 a 4 e 56º/3 do CPC algumas regras relativamente à cumulação de
pedidos. É importante distinguir para este efeito os vários tipos de títulos que servem de base à execução,
devendo ser realçada a diferença entre os título que provêm de sentenças condenatórias, os que provêm de
decisões arbitrais, ou os restantes títulos executivos possíveis.

5.4.2 - DECISÃO DE TRIBUNAL JUDICIAL

- Nos casos em que o título executivo seja uma sentença condenatória há que distinguir consoante a ação
declarativa de que resulta a sentença foi ou não proposta em tribunal de 1ª instância. Neste caso, a
competência para a execução pertencerá ao tribunal da Comarca em que a causa foi julgada em 1ª instância
(85º/1 e 2 CPC). Nos casos em que a ação declarativa não foi proposta em tribunal de 1ª instância, então,
segundo o disposto no 89º CPC, deve a ação executiva ser proposta no tribunal de 1ª Instância da Comarca de

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residência do réu, ou, se este não residir em Portugal mas em Portugal tiver bens, no sítio onde estiverem
esses bens.

5.4.3 - DECISÃO DE TRIBUNAL ARBITRAL

- Neste casos será já competente o tribunal do lugar da arbitragem (85º/3 CPC e 59º/9 LAV), mesmo que o
objeto do processo tenha conexão com ordens jurídicas estrangeiras.

5.4.4 - OUTROS TÍTULOS

- Quando a execução se funde num título que não seja sentença condenatória é necessário para definir a
competência territorial olhar ao pedido que é formulado no requerimento executivo.

- Se o pedido formulado for para entrega de coisa certa ou, por outro lado, for uma execução por dívida com
garantia real, então, competente é o tribunal do lugar em que se situa a coisa (89º/2 CPC)5 6.

- Em todos os restantes casos o pedido deve sempre ser deduzido tendo em conta o tribunal do lugar do
domicílio do executado. Apenas assim não será se a ação for proposta contra pessoa coletiva ou se o
exequente e executado residirem na area metropolitana do Porto ou Lisboa, caso em que o tribunal
competente será o do local onde deva ser cumprida a obrigação (89º/1 CPC).

5.4.5 - SENTENÇA ESTRANGEIRA

- No caso de a execução se fundar numa sentença estrangeira, seja ela proferida por um tribunal ou por um
arbitro, desde que revista e confirmada pela Relação (ou nos casos em que não careça dessa confirmação por
força da Convenção de Lugano e do Regulamento de Bruxelas I), deve ser a ação proposta no domicílio do
executado, ou no local de situação dos bens (90º CPC)7.

5.5 - COMPETÊNCIA INTERNACIONAL

5.5.1 - A LEI PORTUGUESA

- Ao longo dos tempos e depois de várias querelas doutrinais quanto à aplicabilidade do regime geral
determinativo da competência internacional veio a ser consagrado no pós-reforma o artigo 63º/d CPC, pelo
que sempre que haja uma ação de execução que diga respeito a um imóvel situado em território português,

5
Ver ainda possível aplicação analógica dos artigo 70º/3 e 2
6
Nos casos em que o exequente não saiba nem tenha obrigação de saber o local de situação da coisa então é de aplicar o
89º/2
7
Note-se que também o domicílio do executado é utilizado como critério para determinar qual o tribunal competente para
julgar da ação de revisão de sentença estrangeira (979º CPC), sendo na falta de domicílio utilizado o recurso aos artigos
80º/2 e 3 do CPC.

!13 João Teixeira de Freitas


Processo Executivo e dos Recursos
apenas os tribunais portugueses são competentes para a julgar. Todavia, isto não significa todavia que os
tribunais portugueses não possam ser competentes através de um dos critérios do 62º para julgar uma ação
executiva que diga respeito a um bem imóvel situado no estrangeiro. Estas normas são mesmo aplicáveis
segundo o artigo 16º/5 da Convenção de Lugano e 22º/5 do Regulamento de Bruxelas I, quando exista uma
ação em conexão com dois Estados-Membros.

5.6 - COMPETÊNCIA CONVENCIONAL E REGIME DA INCOMPETÊNCIA RELATIVA

5.6.1 - A LEI PORTUGUESA - REGIME ATUAL

- O regime geral que se aplica às ações declarativas é aqui também aplicável, sendo que qualquer infração das
normas relativas à competência em razão da matéria e da hierarquia geram incompetência absoluta (96º
CPC), sendo a sua violação oficiosamente cognoscível (95º/1 e 97º/1 CPC), sendo que o mesmo se aplica às
normas em razão do valor, apesar de a sua violação gerar mera incompetência relativa (95º/1 e 104º/2 CPC).

- Já a infração das normas de competência territorial (que possuem caráter meramente supletivo, mas não nos
casos previstos no 104º) gera uma incompetência relativa (95º/1 CPC), todavia, só sendo esta oficiosamente
cognoscível nos casos previstos do 102º ao 104º CPC.

- (...?)

6. Legitimidade das Partes

6.1 - QUEM É PARTE LEGÍTIMA

6.1.1 - CRITÉRIOS DE AFERIÇÃO

- A regra geral nestes casos é de fácil aplicação e dita que o exequente e o executado numa ação de execução
são aqueles que figurarem como tal no título executivo (53º CPC).

- Existem todavia situações em que esta regra geral pode sofrer alguns desvios, por exemplo, no caso de ter
ocorrido sucessão na titularidade da obrigação, cabe ao titular do direito exequendo (ou seu sucessor) exercer
a ação contra o obrigado à prestação (ou seu sucessores), devendo para isso alegar no requerimento executivo
os factos constitutivos da sucessão (54º CPC). Apenas não será este o caso quando a sucessão venha a ocorrer
na pendência do processo executivo, sendo aqui de aplicar o incidente da habilitação previstos nos artigos
351º a 357º CPC.

- Outro desvio sofre esta regra no caso dos títulos ao portador, sendo que a aqui a legitimidade ativa pertencerá
ao portador do título (53º/2 CPC).

!14 João Teixeira de Freitas


Processo Executivo e dos Recursos

6.1.3 - O TERCEIRO PROPRIETÁRIO OU O POSSUIDOR DO BEM ONERADO

- Pode suceder que o exequente possua uma garantia real de um crédito que incida sobre um bem de terceiro
(que não o devedor), ou então, que possuindo o exequente uma garantia real sobre um bem do devedor, este
o tenha alienado anteriormente à propositura da ação executiva. Assim, se se quiser atuar sobre a garantia
prestada a ação terá de ser proposta também contra o proprietário do bem que garante a dívida. Pela sua
similitude com a situação do adquirente dos bens após a procedência de uma ação de impugnação pauliana,
é de aplicar aqui analogicamente o artigo 54º/2 CPC.

- A eventual renúncia do credor à garantia real só pode ter lugar pelas formas indicadas na lei civil, sendo que
apenas pode esta ter lugar no requerimento executivo nos casos em que a mesma seja expressa e permitida8.

- Cabe ao exequente decidir se quer ou não fazer atuar o direito real de garantia, sendo que, no caso de não
renunciar a este, e não propuser a ação também contra o terceiro proprietário do bem garante, não pode o
executado vir a opor-lhe o mecanismo previsto no 752º/1, clamando a necessidade de prova da insuficiência
dos bens dados em garantia para o fim da execução.

- Assim temos aqui então uma situação de litisconsórcio voluntário. Todavia, convém não esquecer que sempre
que o título executivo seja uma sentença condenatória, então, se se pretender fazer valer a garantia real
contra o terceiro proprietário do bem garante, é necessário que desde logo, seja a ação declarativa proposta
contra este, de formar a provar e declarar a existência dessa mesma garantia (635º/1, 667º/2, 717º/2 CC).

- No caso de o bem se encontrar na posse de terceiro mas, no entanto, pertencer ao devedor, pode o exequente
decidir livremente se propõe ou não a ação contra os dois sujeitos, sendo que em qualquer dos casos será
sempre possível a penhora dos bens (54º/4 CPC).

6.1.4 - TERCEIROS ABRANGIDOS PELO CASO JULGADO

- Quando o titulo se funde em sentença condenatória, a legitimidade passiva para a ação pertence não só ao
devedor que foi pela sentença condenado, mas também as todos os outros sujeitos que não tendo sido
condenados, sejam abrangidos pelo caso julgado 55º CPC9.

8
Assim sendo, por exemplo, no caso da hipoteca ou da consignação de rendimentos (cuja renúncia terá necessariamente
de ser expressa), apenas no caso excepcional de a hipoteca ser voluntária e dizer respeito a um bem móvel (688º/1/f CC)
pode a renúncia ser feita no requerimento executivo. Ver também os artigos 677º, 761º e 752º respetivamente aplicáveis
relativamente ao penhor, ao direito de retenção e ao privilégio creditório. (Ilustração da problemática da necessidade/
desnecessidade de prévia renúncia antes da propositura da ação executiva).
9
É importante ter presente que não é aqui abrangida a situação de transmissão da situação jurídica do réu por ato entre
vivos quando essa transmissão seja posterior à propositura da ação ou quando o seu registo (de for sujeita a tal) seja
posterior ao registo da ação - 263º/3

!15 João Teixeira de Freitas


Processo Executivo e dos Recursos
- Fala-se aqui de todas as situações em que na ação declarativa haja lugar a litisconsórcio voluntário ou
necessário passivo, em que o consorte não intervém na causa. A sentença que vier a proferir decisão constituirá
sobre a esfera do consorte caso julgado, mesmo que este não intervenha na ação no casos de litisconsórcio
voluntário (320º CPC), caso julgado este que resulta do próprio instituto nos casos de litisconsórcio necessário
(261º/1 CPC).

- Todavia LEBRE DE FREITAS chama a atenção para a redundância deste preceito, uma vez que mesmo nos casos
de litisconsórcio voluntário passivo em que o chamado não participa na ação, o próprio chamamento faz com
que este se constitua como parte, sendo de lhe aplicar a norma do 53º e não a do 55º, concluindo assim pela
inaplicabilidade atual da norma prevista no 55º CPC.

6.1.5 - O MINISTÉRIO PÚBLICO

- Cabe ao MP promover a execução por custas ou multas impostas em qualquer processo (57º CPC).

6.2 - CONSEQUÊNCIAS DA ILEGITIMIDADE DAS PARTES


- A ilegitimidade das partes constitui excepção dilatória de conhecimento oficioso (577º/e e 578º CPC). Assim,
sendo ela insanável, cabe ao juiz proferir despacho de indeferimento liminar da PI (726º/2/b), todavia, sendo
ela sanável, cabe ao juiz proferir despacho de aperfeiçoamento (6º/2 e 726º/4), podendo, posteriormente, se
ela não for sanada, indeferir o requerimento executivo (726º/5 e 734º).

- Quando o réu seja citado não obstante a existência de legitimidade insanável, pode este vir a opor-se à
execução por embargos (729º/c).

7. Patrocínio Judiciário
- Nas ações executivas a exigência de patrocínio judiciário é definida em função das várias alçadas e do valor da
causa. Assim, temos que, se o valor da ação exceder o valor da alçada da Relação, então, é obrigatória a
constituição de advogado (58º/1 CPC).

- Pelo contrário, se o valor da ação estiver contido entre a alçada da comarca e da Relação é também obrigatório
o patrocínio, todavia, este pode ser realizado por uma multiplicidade de entidades (58º/3 CPC).

- Como já referido pode por vezes suceder a situação de existir uma ação ou incidente que corra por apenso ou
seja enxertada no processo executivo mas que possua tramitação de natureza declarativa principal (não

!16 João Teixeira de Freitas


Processo Executivo e dos Recursos
incidental). Nestes casos segundo o 58º/1/2ª parte é obrigatória a constituição de advogado desde que o valor
da ação seja superior ao da alçada de 1ª instância10.

- Também na ação de reclamação e verificação de créditos é necessária a constituição de advogado se o valor do


crédito for superior ao da alçada de comarca e se for impugnado o crédito reclamado.

- Também é necessária a constituição de advogado para interposição de recursos (40º/1/c CPC).

8. Pluralidade de Sujeitos e Pluralidade de Pedidos

8.1 - LITISCONSÓRCIO

8.1.1 - LITISCONSÓRCIO INICIAL

- Aplicam-se aqui as regras do processo declarativo. Convém recordar que o facto de no título executivo
constarem vários devedores ou, porventura, terceiros com património sujeito à execução, isso não significa
que a ação tenha obrigatoriamente de ser proposta contra todos eles - situações de litisconsórcio voluntário11.

- Diferentemente, nas situações de litisconsórcio necessário, a ação não poderá prosseguir sem o chamamento
de todos os interessados. Situações que no processo executivo são consideravelmente mais raras que no
processo declarativo. Por exemplo, quando a ação executiva seja uma ação para prestação de coisa certa e essa
coisa pertença a várias pessoas, todas têm de ser citadas. O mesmo se passará no caso de uma execução para
prestação de facto ao qual estejam obrigados vários devedores, sendo ainda que na execução para prestação
de quantia certa a lei ou o negócio jurídico podem exigir a intervenção de todos os interessados.

8.1.1 - LITISCONSÓRCIO SUCESSIVO

- Tal como na ação declarativa sempre que em virtude de um procedimento incidental passem a figurar ao lado
do autor ou do réu outras partes - a intervenção de terceiros. Assim, não se levantando qualquer problema
quanto à aplicação do instituto da assistência, o mesmo não se pode dizer relativamente à intervenção
principal.

10 Embargos de executado, embargos de terceiro e incidente de liquidação são exemplos destas situações

11
Exemplos destas situações são obrigações conjuntas (32º/1) e solidárias (517º CC), obrigações garantidas por bens de
terceiro (641º/1, 667º/2 e 717º CC), ou, do lado ativo, obrigações indivisíveis com pluralidade de credores (538º/1 CC) e
relações reais que lhe são equiparadas (1286º/1, 1405º/2 e 2078º/1 CC)

!17 João Teixeira de Freitas


Processo Executivo e dos Recursos
- Por exemplo, no caso de o exequente chamar a intervir determinada pessoa para assegurar a legitimidade de
uma parte nos termos do 261º CPC. Este chamamento pode ocorrer espontaneamente ou, pelo contrário,
como reação a um convite ao exercício (726º/4), ao proferimento de despacho de indeferimento liminar do
requerimento executivo (726º/5), à rejeição oficiosa da execução (734º) ou ainda face à procedência da ação
executiva.

- No âmbito das situações de litisconsórcio voluntário a lei resolve o problema ao admitir expressamente o
incidente da intervenção de terceiros, por exemplo, nos casos em que o exequente demanda apenas o
proprietário dos bens onerados mais tarde demandando o devedor se estes se revelarem insuficientes (54º/2),
ou então, no casos em que seja demandado o devedor subsidiário (745º/3) dada a insuficiência de bens do
devedor principal ou quando este invoque o benefício da excussão prévia (745º/2). Outra situação que
exemplifica esta admissibilidade do instituto será o caso em que o exequente ou executado necessitam de
fazer citar o cônjuge da contraparte para que este declare se aceita a comunicabilidade da dívida,
constituindo-se também este como executado se aceitar a mesma ou quando desta venha a ser convencido
nos termos do 741º/1 a 5 e 742º. Também devem hoje em dia ser consideradas partes principais o cônjuge do
executado (787º) que veja os seus bens penhorados em ação executiva para o pagamento de quantia certa,
bem como os credores com garantia (864º).

- Jamais é admitida a intervenção principal provocada pelo executado.

8.2 - COLIGAÇÃO
- Jamais é admitida a intervenção principal provocada pelo executado.
- Dita o artigo 56º que é admitida a coligação sempre que não se baseie um dos pedidos em decisão judicial
que deva ser executada nos autos da ação declarativa (709º), se forem cumpridos os seguintes requisitos:

• A espécie de ação deve ser a mesma, a menos que seja os vários pedidos se fundem numa mesma
sentença (709º/1/b e 710º).

• No caso de ser uma coligação para pagamento de quantia certa, deve a quantia ser líquida exigível e certa,
ou liquidável por simples cálculo aritmético (56º/2)

• O tribunal tem de ser competente internacionalmente, em razão da matéria e da hierarquia, mesmo que
não o seja em razão do valor ou do território (709º/1/a e 56º/1)

• A forma de processo a seguir para execução dos vários pedidos deve também ser a mesma, sem prejuízo de
o juiz permitir a cumulação de pedidos, adequando a forma processual às necessidades do caso concreto
(709º/1/c e 56º/1 CPC)

!18 João Teixeira de Freitas


Processo Executivo e dos Recursos
• Tratando-se de uma coligação passiva é necessário que todos os pedidos tenham origem no mesmo título
executivo (56º/1/b), ou então que todos os devedores sejam titulares de quinhões no mesmo património
autónomo, ou de direitos relativos ao mesmo bem indiviso, sempre que um ou outro pedido sejam objetos
de penhora (56º/1/c)

- Nos casos de coligação as regras de competência em razão do valor e do território são determinadas pelo
artigo 56º/3 e 709º/2 a 5 do CPC.

8.3 - CONSEQUÊNCIAS DA FALTA DE LITISCONSORTE, QUANDO NECESSÁRIO, E DA COLIGAÇÃO ILEGAL


- Nas situações de litisconsórcio necessário, quando não estejam presentes todas as partes necessárias à análise
da causa, é fundamento de ilegitimidade (33º/1 CPC). Assim, quando houver despacho liminar deve o juiz
convidar o requerente ao aperfeiçoamento para que este requeira a intervenção principal de terceiro (6º/2 e
726º/4). Se o convite não for atendido deve o juiz indeferir liminarmente o requerimento executivo (726º/5).

- O vício poderá ser corrigido até 30 dias sobre o trânsito em julgado do despacho de indeferimento liminar
(ou da rejeição oficiosa do 734º) ou da sentença que julgue procedentes os embargos de executado. Como já
foi visto o artigo 261º permite que o exequente venha chamar a pessoa cuja falta é o motivo da ilegitimidade,
podendo fazê-lo mesmo depois da extinção da instância, caso em que terá de arcar com o pagamento de
custas processuais e será esta renovada.

- No caso de coligação ilegal o juiz, de forma similar ao que se passa nos casos de litisconsórcio necessário,
proferirá despacho de aperfeiçoamento convidando o exequente ou exequentes a optar por um dos pedidos
relativamente ao qual quer que a ação prossiga, sendo que se a escolha não for feita será o réu absolvido da
instância (38º e 726º/4 e 5 CPC).

- Se relativamente a um dos pedidos se verificar a incompetência absoluta do tribunal ou então a inadequação


da forma de processo, o princípio da economia processual impõe que o juiz profira um despacho de
indeferimento parcial prosseguindo apenas os pedidos admitidos (726º/3 CPC).

- Em qualquer dos casos pode sempre o executado opor-se à execução nos termos do 729º/c.

8.4 - CUMULAÇÃO SIMPLES DE PEDIDOS

8.4.1 - FORMAS

- A cumulação simples de pedidos é admitida e pode assumir-se desde o início do processo (709º) ou
sucessivamente no desenrolar deste (711º).

!19 João Teixeira de Freitas


Processo Executivo e dos Recursos

8.4.2 - PRESSUPOSTOS

- Para que seja admitida a cumulação é necessária a verificação dos requisitos enumerados em primeiro
terceiro e quarto lugar relativamente à admissibilidade da coligação - Tipo de ação executiva, competência e
forma de processo. No entanto, ainda que sejam diferentes os tipos de ação executiva, pode acontecer como
já se viu a convolação da ação numa de outro tipo (867º e 869º CPC), tornando-se a cumulação possível a
partir do momento da conversão.

- Note-se também que segundo o disposto nos artigos 709º/1/b e 710º podem ser cumulados pedidos que se
baseiem numa mesma sentença.

- No caso de a cumulação ser ilegal aplicam-se as mesmas disposições aplicáveis aos casos de coligação ilegal.

9. Formas do Processo Executivo

9.1 - O TIPO E A FORMA DO PROCESSO


- Já vimos que existem vários tipos de ação executiva que são, dependendo do pedido realizado, em princípio,
incumuláveis, a não ser que se fundem numa mesma sentença, todavia, cabe também notar que cada tipo de
ação executiva poderá seguir uma forma de processo comum ou especial.

- Tal como na ação declarativa as formas de processo especiais são apenas utilizadas quando a lei assim o
imponha, sendo que a forma comum será a forma residual de processo para todos os restantes pedidos.

- O processo comum, geralmente de forma única, pode ainda assumir duas sub-formas no caso de o tipo de
ação executiva ser para pagamento de quantia certa, a forma ordinária e sumária (550º/4 e 550º/1, 2 e 3 CPC).

9.2 - ÂMBITO DAS FORMAS PROCESSUAIS

9.2.1 - PROCESSOS ESPECIAIS

- Os processos especiais podem ser sub divididos em duas categorias, consoante o seu caráter misto ou
exclusivamente executivo. Neste último grupo insere-se, por exemplo, a execução por alimentos (933º a 935º
CPC). No primeiro grupo temos processos de natureza declarativa que são seguidos de uma fase executiva,
por exemplo, o processo de investidura em cargos sociais (1070º e 1071º CPC).

!20 João Teixeira de Freitas


Processo Executivo e dos Recursos
- Podem ainda existir processos que sendo puramente declarativos tenham previsto a prática de certos atos
executivos, por exemplo, o processo de divisão de coisa comum (929º/2 CPC), de liquidação de herança vaga
em benefício do Estado (939º/2 e 4) e o processo de apresentação de coisa ou documento (1047º CPC).

9.2.2 - PROCESSO COMUM

- A forma sumária segue-se, em regra, nos seguintes casos:

• a) Decisão arbitral ou judicial nos casos em que não deva ser executada nos autos do processo declarativo;
• b) Requerimento de injunção ao qual tenha sido aposta a fórmula executória;
• c) Título extrajudicial de obrigação pecuniária vencida, garantida por hipoteca ou penhor;
• d) Título extrajudicial de obrigação pecuniária vencida cujo valor não exceda o dobro da alçado do tribunal
de 1ª instância

- Todavia, a forma sumária não se aplicará nos casos anteriores se:

• a) A obrigação não é certa e a determinação da prestação cabe ao credor;


• b) Há que fazer prova complementar do título executivo;
• c) A obrigação carece de ser liquidada na execução e a liquidação não depende de simples cálculo
aritmético;

• d) O exequente alega no requerimento a comunicabilidade da dívida constante de título, diverso da


sentença, que apenas obrigue um dos cônjuges;

• e) A execução é movida apenas contra o devedor subsidiário que não haja renunciado ao benefício da
excussão prévia.

- 9.3 - DIREITO SUPLETIVO


- COMPLETAR

!21 João Teixeira de Freitas


Processo Executivo e dos Recursos

PARTE II
PROCESSO ORDINÁRIO DE EXECUÇÃO PARA PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA

10. Delimitação
- Já vimos que para que o tipo de ação executiva a intentar quando se quer obter uma quantia pecuniária é a
ação executiva para pagamento de quantia certa. Já vimos também que a obrigação de pagamento pode ter
origem num qualquer negócio jurídico, ou numa outra causa diferente (facto ilícito, gestão de negócios,
enriquecimento sem causa). Vimos também que pode suceder que uma ação para prestação de facto ou
entrega de coisa certa pode converter-se numa ação para pagamento de coisa certa, podendo o exequente
obter, em vez do facto devido, a quantia necessária ao custeamento da prestação de facto a efetuar por outrem
(870º CC), ou em vez da coisa, indemnização por equivalente (867º CC).

- Convém também não esquecer que as obrigações pecuniárias são obrigações de pagamento de moeda com
curso legal em Portugal (550º CC), e, assim sendo, as obrigações de moeda específica e as obrigações de
moeda com curso legal no apenas no estrangeiro seguem um regime próprio. Apenas o primeiro dos casos dá
lugar à execução para pagamento de quantia certa, sendo que ao segundo cabe intentar uma ação para
entrega de coisa certa.

11. Fase Inicial


11.1 - REQUERIMENTO INICIAL E TRAMITAÇÃO COMPLEMENTAR

11.1.1 - O REQUERIMENTO INICIAL

- No processo executivo toda a demanda se inicia com a submissão de um requerimento executivo ao tribunal
(724º CPC), sendo que este requerimento obedece ao formulário previsto na Portaria 282/2013, nos termos e
com os elementos previstos no 724º.

- Convém lembrar que no caso do título conter o reconhecimento de uma dívida ou uma qualquer promessa de
cumprimento sem indicação da respetiva causa, maxime, um título de crédito já prescrito sendo a sua
prescrição invocada, ou querendo-se prevenir a invocação da mesma, deve o exequente alegar desde logo a
causa da obrigação.

- Casos há em que não é possível dar andamento à ação executiva sem alegação de determinados factos:

• A obrigação precisa de ser liquidada não bastando a realização de cálculos aritméticos - 147º/2, 716º e
724º/1/h CPC;

!22 João Teixeira de Freitas


Processo Executivo e dos Recursos
• O título carece de prova complementar ou porque a certeza e exigibilidade do mesmo dele não resultam
(724º/1/h), ou no caso de escritura pública contendo a promessa de contrato real ou previsão de obrigação
futura;

• Quando o exequente requeira a dispensa de citação prévia do executado com base no receio de perda da
garantia patrimonial do crédito (727º e 724º/1/e CPC);

• O exequente alegue que a dívida titulada é comum contra ambos os cônjuges, só figurando um deles no
título (741º/1 e 724º/1/e CPC).

- Podem ainda existir uma série de menções facultativas ou eventuais:

• Escolha da prestação (724º/1/h CPC)


• Designação do agente de execução (724º/1/c CPC)
• Requerimento da citação do devedor subsidiário antes da excussão do património do devedor principal
(745º/1 CPC)

• A indicação do empregador do executado nos termos do 724º/1/i, 2 e 3 CPC


- Para que a apresentação do requerimento executivo se dê por concluída é ainda necessário o pagamento ao
agente de execução 724º/6/a CPC.

11.1.2 - TRAMITAÇÃO COMPLEMENTAR DO REQUERIMENTO INICIAL

- Dando entrada o requerimento na secretaria pode ele ser:

• Recusado:
- Algum dos requisitos obrigatórios do 724º não se encontra preenchido;
- Quando não é apresentado título executivo ou seja manifesta a sua insuficiência

• O ato de recusa é reclamável sendo todavia a decisão deste irrecorrível, exceto quando se funde na falta de
exposição dos factos (725º/2 CPC).

• Seguem-se sempre os termos do 720º

11.2 - DESPACHO LIMINAR

11.2.1 - TEM SEMPRE LUGAR

!23 João Teixeira de Freitas


Processo Executivo e dos Recursos
- O despacho liminar que pode assumir a forma de despacho de aperfeiçoamento, indeferimento ou citação
terá sempre lugar nos casos em que a ação executiva deva seguir a forma de processo ordinário, o que já não
acontece nos casos em que deva seguir a forma sumária.

11.2.2 - APERFEIÇOAMENTO E INDEFERIMENTO LIMINAR

- Olhando ao disposto no 726º/4 e 5, sempre que o requerimento executivo contenha falta de pressupostos ou
outras irregularidades sanáveis deve o juiz convidar o requerente ao aperfeiçoamento do mesmo, e só sendo
este convite não atendido é que deve indeferir liminarmente o requerimento.

- Assim, o despacho de indeferimento liminar ficará reservado para os seguintes casos:

• Falta insuprível de pressuposto processual de conhecimento oficioso, não tendo a secretaria, se se tratar de
falta do título, recusado o requerimento (726º/2/a e b CPC)

• A atual inexistência da obrigação exequenda constante do titulo por causa oficiosamente cognoscível
(726º/2/c CPC)

11.2.3 - REJEIÇÃO OFICIOSA DA EXECUÇÃO

- A rejeição do requerimento é sempre possível até ao primeiro ato de transmissão de bens penhorados ou de
consignação de rendimentos com base em qualquer uma falta dos pressupostos previstos no 726º/2 a 5 (734º
CPC).

11.2.4 - INDEFERIMENTO PARCIAL

- Admitido pelo 726º/3

11.3 - CITAÇÃO DO EXECUTADO


- Não havendo lugar a despacho liminar de aperfeiçoamento ou indeferimento dá-se o despacho de citação,
sendo ao réu facultado um prazo de 20 dias para que pague ou se oponha à execução (726º/6 CPC). Já vimos
porem que em certos casos a citação pode ser dispensada nos termos do 727º. Para tanto terá de alegar os
factos dos quais resulta o seu receio de perda das garantias patrimoniais.

- Se a citação prévia for dispensada, então, o executado é citado apenas posteriormente à penhora, dispondo
de 20 dias para se opor a esta ou a esta e à execução cumulativamente (727º/4 e 856º/1 e 3 CPC). Se a
oposição à execução lograr o seu objetivo, então, é de aplicar a sanção prevista no 727º/4 e 858º ao
exequente. Nos casos de cumulação sucessiva de pedidos o executado não é de novo citado mas apenas
notificado para o efeito (728º/4 CPC).

!24 João Teixeira de Freitas


Processo Executivo e dos Recursos

12. Oposição à execução


12.1 - MEIO
- A oposição à execução é realizada através de embargos (728º/1 CPC), visando-se com ela a extinção da
execução através da alegação ora da inexistência da obrigação exequenda ou da falta de um pressuposto da
ação executiva.

- Convém não esquecer que os embargos de executado são uma verdadeira ação declarativa que corre por
apenso ao processo executivo, podendo o executado nela levantar não só questões de conhecimento
oficiosos, mas também alegar novos factos e apresentar novos meios de prova, podendo mesmo levantar
questões de direito que estejam na sua disponibilidade. Pode também o cônjuge do executado opor-se à
execução nos termos do 787º.

12.2 - FUNDAMENTOS

12.2.1 - NA EXECUÇÃO DA SENTENÇA

- A oposição à execução de sentença apresenta diversas especialidades consoante estejamos perante uma
sentença de tribunais estaduais (729º), uma sentença de tribunal arbitral (730º) ou uma sentença
homologatória de confissão ou transação (729º/i CPC).

- Assim, olhando agora a fundamentos de oposição à execução da sentença ainda não referidos, temos que
pode o executado alegar:

• Falsidade, tal e qual como prevista nos casos do 372º/2 CC, tendo por objeto todo o processo declarativo, a
sentença nele proferida ou o translado. Por outro lado, se a falsidade disser respeito a um ato do processo
executivo, ou qualquer documento deste que não seja o título executivo, deve ela ser arguida nos termos
do 446º a 450º. Também é importante não esquecer que a falsidade de atos do processo declarativo ou
documentos nele produzidos servem apenas de fundamento ao recurso de revisão (696º/b). A falsidade é
de conhecimento oficioso nos casos do 372º/3.

• A Infidelidade pode ocorrer quando o translado não é fiel ao original, não sendo mais do que um tipo de
falsidade a integrar no regime dos artigos 385º e 387º/1 CC. Apenas de conhecimento oficiosos quando o
processo declarativo original se encontre no tribunal de execução, podendo, no entanto, o juiz requisitar o
confronto nos termos do 436º.

• Pode ocorrer também a falta de um pressuposto processual geral, remetendo-se o leitor para as
consequências dessa mesma falta já supra referidas.

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Processo Executivo e dos Recursos
• Pode ainda acontecer a nulidade (191º/1) ou falta (188º) de citação. Convém apenas relembrar que quanto
à falta de citação fica ela sanada uma vez que o réu intervenha no processo sem a arguir (189º), e que a
nulidade de citação no processo declarativo pode apenas ser arguida no prazo para a contestação, embora
possa também mais tarde ser arguida no processo executivo se o processo declarativo tiver corrido à revelia
do réu. Enquanto a falta de citação é de conhecimento oficiosos (196º), já a nulidade da mesma depende
de arguição (197º/1), podendo a primeira fundar o indeferimento liminar, e a segunda apenas ser arguida
em sede de embargos. Note-se que fala-se aqui de falta ou nulidade da citação no processo declarativo que
originou a execução, uma vez que se estivermos perante uma falta ou nulidade da citação no próprio
processo executivo ela será fundamento de anulação da execução (851º) ou de revisão (696º/e).

• Se duas decisões forem proferidas acerca da mesma questão apenas será eficaz a que primeiro transitar em
julgado. Assim, sendo a segunda sentença inexequível, pode o executado opor-se à sua execução, sendo
esta uma exceção de conhecimento oficioso (578º), bem como o facto em que ela se funda, nos casos em
que a decisão primeiramente transitada tenha ocorrido no mesmo tribunal (412º/2).

• Pode ainda o executado invocar um facto extintivo ou modificativo da obrigação, abrangem-se aqui os
casos de extinção das obrigações previstos nos 837º e ss. do CC. Com exceção da prescrição, devem estes
factos ser provados documentalmente (exceto quando confessados - 729º). Convém ainda referir que a
superveniência exigida na al. g) do 729º pode ser subjetiva ou objetiva, devendo esta alínea ser conjugada
com os artigos 728º/2 e 588º/2. A este respeito ver ainda o lugar paralelo no 860º/3 que não permite a
invocação em sede de embargos de factos que se baseiem em pressupostos já verificados até à data do
encerramento da discussão em processo declarativo.

• Pode também o executado acionar a compensação de uma determinada dívida, sendo agora esta uma
exceção autonomizada, o que permite que não necessite de ser provada por documento. Tendo ainda em
conta o lugar paralelo do 729º/g temos que a compensação só poderá ser invocada em sede de embargos
se não podia ser invocada à data da contestação da ação declarativa.

• A prescrição ocorre geralmente pelo decurso do prazo ordinário (311º/1 CC), exceto no caso de a sentença
vir a condenar em prestações futuras, caso em que o prazo para prescrição será mais curto (311º/2 CC).

- Como já vimos pode suceder que um dos fundamentos invocados em sede de oposição à execução seja
também um fundamento de recurso extraordinário de revisão, sendo importante não esquecer que o recurso
de revisão não suspende a execução, sendo necessária na mesma a oposição (699º/3), oposição esta que
suspenderá a instância de recurso até que seja decidida.

- Nos casos de sentença homologatória de confissão ou transação a única inovação será a de permitir ao
executado que não só invoque os fundamentos previstos no 729º como também os fundamentos gerais
previstos no 291º e ss. do CC.

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- Na execução de sentença de um tribunal arbitral, pode também o executado invocar um dos fundamentos de
anulação da decisão arbitral (730º), contando que o faça dentro dos 60 dias previstos LAV (46º/6), e desde que
a ação de anulação não tenha sido julgada improcedente (48º LAV).

12.2.2 - NA EXECUÇÃO DE OUTRO TÍTULO

- Nestes casos já pode o executado invocar qualquer fundamento que fosse lícito invocar no processo
declarativo - 731º CPC, ou seja, matéria de impugnação ou exceção (571º/2). Não pode todavia o executado
reconvir.

12.3 - OPOSIÇÃO POR REQUERIMENTO


- Será o elenco previsto no 729º taxativo quanto às causas de oposição invocáveis em processo executivo? Se
pensarmos bem a resposta terá de ser negativa, pense-se por exemplo nos casos em que existe um erro na
forma de processo, um erro na indicação do valor da ação ou a falta de um outro requisito legal. Neste casos
entende LEBRE DE FREITAS que a invocação destes factos pode ser levada a cabo através de mero
requerimento (723º CPC) sempre que não careçam de alegação de factos novos ou de prova.

12.4 - PROCESSO

12.4.1 - NATUREZA

- Do ponto de vista estrutural a invocação de factos em sede de oposição à execução toma o caráter de uma
contra-ação. Se a oposição tem por base o mérito da execução, a oposição visa um acertamento negativo da
situação substantiva, obstando-se ao prosseguimento da ação executiva por eliminação da eficácia executiva
do título enquanto tal. Por outro lado, numa oposição com fundamento processual temos um acertamento
negativo da falta de um pressuposto processual, sendo a execução inadmissível.

12.4.2 - ÓNUS E PRECLUSÕES

- Ao contrário do que sucede no processo declarativo a não dedução de oposição não tem nenhum efeito
cominatório para o réu, apenas um efeito de preclusão dum direito processual cujo exercício se poderia
revelar vantajoso. Este efeito preclusivo apenas apresenta uma diferença em relação ao seu semelhante no
processo declarativo, é que neste, o efeito preclusivo dissolve-se com a sentença no efeito geral do caso
julgado, enquanto que no processo executivo nada impede que uma exceção não deduzida possa ser
invocada noutro processo. Esta decisão não terá eficácia no processo executivo, todavia, pode conduzir à
restituição do indevido.

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12.4.3 - FORMAÇÃO DE CASO JULGADO

- Dispõe o 732º/5 que a decisão de mérito proferida em sede de oposição à execução forma caso julgado
material relativamente à existência, validade e exigibilidade da obrigação exequenda. Este artigo veio após a
reforma resolver uma querela doutrinal de longa data sendo que largo setor da doutrina defendia a
circunscrição da força das decisões proferidas em sede de oposição à execução apenas ao processo executivo.
Isto levava a que se o executado consegui-se com sucesso opor-se à execução teria, para impedir proposição
de nova ação contra si a exigir o pagamento da mesma dívida, de propor uma ação declarativa autónoma com
vista à declaração da inexistência da obrigação exequenda.

- No caso de existirem vários litisconsortes executados e nem todos se opuserem à execução, a sentença de
embargos só é oponível entre embargante e exequente (580º, 581º e 619º).

12.4.4 - PRAZO

- A oposição à execução deve ocorrer nos 20 dias subsequentes à citação do executado (728º/1) ou, no caso de
cumulação sucessiva de pedidos, da notificação do executado.

- Existe a possibilidade de embargos supervenientes apenas quando o facto que os fundamenta ocorre
posteriormente à citação ou quando deles só tem conhecimento o executado posteriormente à mesma (728º/
3).

12.4.5 - EFEITOS DA PENDÊNCIA

- Se a oposição à execução for deduzida, esta não é, em regra, suspensa, todavia, nenhum credor poderá ser
pago na pendência da ação de oposição sem antes prestar caução (733º/4).

- A execução apenas será suspensa se (733º/1):

• O embargante prestar caução - A todo o tempo, devendo o juiz suspender a execução, devendo ser
prestada nos termos do 915º e 913º;

• Alegue a não genuinidade de assinatura em que se funde a execução contida em documento cujas
assinaturas nãos e encontrem reconhecidas - O juiz pode suspender a execução se com a alegação for
entregue documento que indicie a veracidade da mesma;

• Quando se impugne a exigibilidade ou liquidação da obrigação - O juiz tem a faculdade de suspender a


execução.

- A suspensão cessará sempre que por mais de 30 dias o processo esteja parado devido a negligência do
embargante (733º/3). A suspensão mantém-se sempre na fase de recurso, que tenha a oposição sido julgada
procedente ou improcedente (732º/4).

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12.4.6 - TRAMITAÇÃO

- Já vimos que os embargos à execução são uma verdadeira ação declarativa que corre por apenso ao processo
executivo. Assim, a petição inicial deve ser articulada em obediência à norma do 147º/2, sendo
posteriormente o processo concluso ao juiz para emissão de despacho liminar que será de indeferimento nos
seguintes casos (732º):

• Dedução de embargos fora de prazo;


• Invocam-se fundamentos para além dos previstos nos arts. 729º a 731º;
• Manifesta a improcedência da oposição;
• Ocorrência de exceção dilatória insuprível de conhecimento oficioso
- Proferido despacho de citação tem o exequente 20 dias para contestar.
- Como processo de caráter declarativo à falta de contestação aplicam-se as normas do 567º/1 e 568º (revelia
do réu), embora não se dando como provados os factos da petição de embargos que estejam em expressa
contradição com factos alegados no requerimento inicial de execução (732º/3)

- Os termos subsequentes regem-se pelo 732º/2, sendo admissível a suspensão da instância de embargos por
ocorrência de causa prejudicial (272º/1).

13. Objeto da Penhora


13.1 NOÇÃO
- A satisfação da obrigação exequenda no processo executivo é conseguida através da transmissão de direitos
do executado, sendo esta transmissão seguida do pagamento da dívida exequenda quando feita a terceiros.
Para que essa transmissão se realize à que proceder previamente à apreensão dos bens que constituem o
objeto desses direitos, ficando o executado impedido de exercer sobre eles os seus plenos poderes enquanto
proprietário, uma vez que os bens passam a estar afetos à realização dos fins da execução.

- A penhora é então uma apreensão judicial de bens, sendo o ato executivo por excelência nas ações para
pagamento de quantia certa.

13.2 - PRINCÍPIOS GERAIS


- Partindo do princípio geral de que pelas dívidas do devedor respondem os bens do seu património, é
importante ter presente uma série de exceções que limitam o possível objeto de uma penhora, e que
resultam da articulação dos artigos 735º a 739º CPC e 601º e 818º CC:

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• Bens inalienáveis e que a lei declare impenhoráveis;
• Bens de terceiro, a não ser que exista uma garantia real do crédito exequendo, ou quando tenha sido
julgada procedente ação de impugnação pauliana de que resulte para o terceiro a obrigação de restituição
de bens ao credor;

• Diversos desvios resultantes da existência de patrimónios autónomos e da constituição de garantias reais


sobre bens próprios do devedor, bem como da articulação de responsabilidades entre devedor principal e
subsidiário;

• Nunca podem ser penhorados bens que não pertençam ao executado.

13.3 - PENHORA E DISPONIBILIDADE SUBSTANTIVA

13.3.1 - INDISPONIBILIDADE OBJETIVA

- Casos em que a lei dita que os bens são objetivamente indisponíveis:

• 736º CPC
• 2008º, 1488º, 2028º, 1105º e 1106º CC
• 279º CPI

13.3.2 - INDISPONIBILIDADE SUBJETIVA

- O regime da indisponibilidade subjetiva pode traduzir-se numa impenhorabilidade absoluta nos casos em
que o poder de disposição do bem é atribuído a um terceiro, quer para satisfação sua, com fim de garantia,
quer para realização do interesse do titular do bem, incapaz de o exercer; ou, pelo contrário, meramente
limitar o regime da penhorabilidade exigindo também que um terceiro aprove o ato dispositivo.

- Nos casos acima descritos, a pessoa a quem o bem tenha sido dado como garantia tem o direito de ser paga
antes do exequente se o bem for penhorado antes de exercido o direito que justifica a atribuição (666º CC). Se
a impenhorabilidade se fundar na incapacidade do titular dos direitos então será resolvida por meio de
representação (16º e 10º CPC)

- Nos casos em que o poder de disposição do bem se encontrar restringido no interesse da pessoa legitimada
para conceder a autorização ou consentimento à que perceber a origem da limitação que pode ser extrínseca ,
por exemplo, no caso do consentimento exigido para atos de disposição de determinados bens por um dos
cônjuges (1682º/A/1 CC - apesar da penhora ser possível sem este consentimento - 1696º CC), ou, por outro
lado, intrínseca, inserida ou não num qualquer esquema contratual. Neste primeiro exemplo, pense-se por
exemplo na autorização exigida para cessão de quota ou parte social. Assim, numa situação de penhora de

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partes sociais ou quotas à que olhar aos regimes estabelecidos no CSC, que, por um lado, nas sociedades de
tom mais capitalístico, permite a penhora sem restrições (239º, 475º e 328º CSC), restringindo por outro a
possibilidade de ocorrência da mesma nas sociedades de tom mais personalístico (999º CC, 183º e 474º
CSC), onde só se admite a penhora do direito ao lucro e à quota de liquidação, sendo que esta última apenas
será exigível na falta de quaisquer outros bens.

- A limitação poderá derivar intrinsecamente de um esquema contratual, por exemplo, o contrato de edição,
100º CDA. O direito à edição não pode ser transmitido sem o consentimento do autor.

13.3.3 - IMPENHORABILIDADE CONVENCIONAL

- Ver os artigos 602º, 603º, 833º e 831º do CC

13.4 - IMPENHORABILIDADE DIRETAMENTE RESULTANTE DA LEI


13.4.1 - ENUNCIAÇÃO

- A lei pode determinar que certos bens ou direitos sejam impenhoráveis, quer de força absoluta, quer de
forma meramente relativa ou ainda apenas parcialmente.

- A lei começa por determinar a impenhorabilidade absoluta de certos bens por razões de interesse geral (736º
CPC) e outros bens de domínio público (737º/1 CPC - salvo quando a execução for para pagamento de dívida
com garantia real - impenhorabilidade relativa).

- Também são impenhoráveis os bens que asseguram ao executado o mínimo de condições de vida12 (737º/3
CPC), bem como os bens que são indispensáveis ao exercício da sua profissão ou formação profissional13
(737º/2 CPC).

- É também impenhorável o rendimento auferido pelo executado até dois terços do seu montante, não
podendo nunca a penhora resultar numa castração que deixe o executado a auferir menos do que o ordenado
mínimo nacional (738º CPC), nem podendo ser penhorados vencimentos superiores a três salários mínimos
nacionais. Pode o executado ainda lançar mão do mecanismo previsto no 738º/3 CPC.

- Ver ainda o 736º CPC, 738º/4 CPC e 1184º CC.

12
A jurisprudência tem divergido quando àquilo que considera serem as condições mínimas sendo que LEBRE DE FREITAS
reputa correta uma analisa tenho em conta os padrões médios de vida da sociedade e não uma análise tendo em conta
casos marginais/ limite que vivem em condições mínimas extremas. A penhora é apenas possível numa execução para
pagamento do preço ou reparação do bem em causa.
13
Apenas aplicável quando se trate de execução sobre pessoa singular, sendo todavia sempre penhorável quando a
execução se destine ao pagamento do preço pago pelos bens ou do custo da sua reparação, ou ainda quando sejam os
bens parte integrante de um estabelecimento comercial penhorado nos termos do 782º/1 CPC

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13.5 - PENHORABILIDADE SUBSIDIÁRIA

13.5.1 - ENUNCIAÇÃO

- A lei determina que certos bens apenas podem ser penhorados depois de se revelar que a penhora dos
demais bens é insuficiente para satisfação do fim da execução, tendo como motivos para essa limitação 4
fundamentos:

• Regimes matrimoniais
• Benefício da excussão prévia
• Bens especialmente afetos ao cumprimento de obrigação
• Consideração de outros interesses ponderosos

13.5.2 - RESPONSABILIDADE COMUM E RESPONSABILIDADE PRÓPRIA DOS CÔNJUGES

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