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e) PRINCÍPIO DA MÁXIMA EFETIVIDADE E MENOR ONEROSIDADE

A execução tem por finalidade a satisfação do exequente (desfecho único).


O princípio da máxima efetividade não tem um artigo de lei que o regulamente. A
doutrina e a jurisprudência resolveram pinçar a ideia de um artigo, o 612 do CPC.

Art. 612. Ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que tem


lugar o concurso universal (art. 751, III), realiza-se a execução no
interesse do credor, que adquire, pela penhora, o direito de
preferência sobre os bens penhorados.

A execução é pró-credor.
Apesar disso, existem regras que regulamentam o princípio de defesa do executado: em
contraposição ao artigo 612 há o artigo 620 do CPC, que trata da chamada menor
onerosidade (ou gravosidade).
O artigo 620 prevê que a execução seja feita da maneira menos gravosa.

Art. 620. Quando por vários meios o credor puder promover a


execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para
o devedor.

Se for possível criar instrumentos para não prejudicar o executado, isso será feito.

Em torno do artigo 620 orbitam outros artigos que regulamentam o princípio da menor
onerosidade. São eles:
 Artigo 692: impossibilita a arrematação de bem do executado por preço vil, por
preço abaixo do mercado.
 Artigos 649 e 650 da Lei 8.009/90: impenhorabilidade.
 Artigo 668: possibilidade de substituição do bem penhorado (tanto o credor
quanto o executado podem pedir essa substituição).
 Artigo 685-A, §2º: os familiares podem adjudicar o bem em hasta pública. Esse
instituto era chamado de remição; hoje é chamado de adjudicação.
 Artigo 745-A: moratória processual.
 Artigo 659, §2º.

Jurisprudência:
REsp 1116647: o juiz não pode recusar carta fiança para substituição de penhora online.
REsp 801262.
(ver no material de apoio os demais julgados citados).

Hoje, o juiz deve se pautar nesses artigos 612 e 620.

O artigo 612 tem como fundamento a patrimonialidade. A execução é


patrimonial e deve atender aos interesses do credor. Artigos 591 e 592 do CPC.

Já o artigo 620 tem por fundamento a dignidade da pessoa humana (artigo 1º,
inciso III, da CRFB) e a boa-fé processual. Evita que se tire do executado mais do que
aquilo que ele deu.

f) PRINCÍPIO DA TIPICIDADE DA EXECUÇÃO


O CPC regulamenta as espécies de execução.
Os critérios classificatórios variam. Serão explicados 3 critérios:

i. 1º critério: situação patrimonial do executado

a. Insolvência: O passivo do executado é maior que o ativo. Há um concurso


universal na execução.
b. Fazenda Pública: A Fazenda não é insolvente. Seu problema é a
indisponibilidade dos bens.

ii. Natureza da execução

a. Execução por quantia


b. Entrega
c. Obrigação de fazer e não fazer

iii. Forma de cumprimento

a. Execução direta
b. Execução indireta

Os critérios da natureza e da forma são atrelados ao princípio da tipicidade.

O Brasil sempre adotou a tipicidade.


O que é tipicidade da execução?
Modelo previsto em lei. A lei estabelece a execução como um procedimento tipificado.
Para cumprir um título executivo, o juiz deve passar por uma série de etapas previstas
em lei. O juiz deve seguir o modelo prévio de execução (juiz como “boca da lei”).
3 motivos levam o Brasil a adotar tipicidade:
o Positivismo: quanto mais leis, mais justo será o julgamento ou a execução. O
positivismo impede a arbitrariedade do juiz.
o Segurança jurídica: a invasão patrimonial só pode ser efetivada pelo modelo
prévio e abstrato da lei. O executado tinha a garantia de que não seria
expropriado sem o devido processo legal.
o O Brasil sempre adotou um modelo rígido de procedimento. Dois artigos
regulamentam especialmente essa rigidez: artigos 264 e 300.

Existe um microssistema na execução que autoriza uma flexibilização procedimental.


Tem previsão na CRFB, artigo 5º, inciso XXXV.
A flexibilização confere maiores poderes ao juiz.

Quando acontece a flexibilização procedimental?


Em duas situações:
 Quando a prática do ato não tiver previsão em lei. O juiz age como supridor de
lacuna da lei. Ex: o Brasil não tinha previsão expressa de penhora online e
alguns juízes a determinavam (hoje já tem previsão).
 Deformação, ou seja, quando o ato previsto em lei não é adequado para a
solução da situação concreta. O ato que a lei prevê (meio) não é adequado para
chegar ao fim a que se destina. Como não é adequado, o juiz estaria autorizado a
criar um outro mecanismo, sendo uma deformação do ato previsto em lei.

Como visto, há duas formas de cumprimento:

a. Execução direta: substitutividade. É a execução por subrogação. O Estado


diretamente age no patrimônio do executado: se subroga na vontade do agente e
cumpre a obrigação. Ex: penhora. Se o executado não paga a obrigação, o
Estado vai atrás de seu patrimônio.
b. Execução indireta: trabalha com o convencimento do executado. Ex: multa
pecuniária (astreinte). Objetiva estimular o executado a cumprir a obrigação.

Predomina no Brasil em relação à execução direta a TIPICIDADE dos atos. É regida


por normas expressamente previstas. Artigo 652 e ss. A lei regulamenta o itinerário.
Se a execução for direta, será uma execução por subrogação, em que predomina a
substitutividade. É uma execução dinâmica.

Em relação à execução indireta (por coerção), predomina a ATIPICIDADE dos atos.


Ex: artigo 461, §5º.

§ 5o Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado


prático equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento,
determinar as medidas necessárias (cláusula geral), tais como (rol
exemplificativo) a imposição de multa por tempo de atraso, busca e
apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e
impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de
força policial. (Redação dada pela Lei nº 10.444, de 2002)

O juiz tem amplos poderes para, no caso concreto, verificar qual medida adotar. O
artigo 461, §5º regulamenta o chamado PODER GERAL DE EFETIVAÇÃO. A
atipicidade é regulamentada pelo poder geral de efetivação.
A execução indireta é a execução por coerção, que atua no convencimento do
executado. Predomina a atipicidade. É estática: é preciso esperar a atitude, a
participação do executado.

Quanto mais precisar da participação do executado, maiores devem ser os poderes do


juiz.

EXECUÇÃO POR SUBROGAÇÃO (ou direta):

É modalidade de execução em que a vontade do executado não é fator determinante.


Assim, o Estado atua diretamente na esfera jurídica do patrimônio do executado. O
magistrado age como um gestor do procedimento. É uma EXECUÇÃO DINÂMICA,
tendo em vista que o Estado não fica estático, vai atrás do patrimônio do executado.
Exemplo clássico: execução por quantia.

De que maneiras a execução por subrogação pode ser efetivada?

 Expropriação: é a conversão do patrimônio do executado em renda para o


exequente. É a mais comum. Pode ser efetivada por meio de:
o Adjudicação;
o Alienação por iniciativa particular (o bem é vendido para o particular. O
Judiciário participa, mas não interfere);
o Alienação por hasta pública;
o Usufruto.

 Desapossamento: se aplica nas execuções de entrega de coisa. O devedor se


recusa a entregar o bem em juízo e o Estado faz o desapossamento. Pode ser
feito de duas formas:
o Por imissão na posse, se o bem for imóvel;
o Por busca e apreensão, se móvel.

 Transformação: acontece quando a obrigação específica for cumprida por


terceiros, então se transforma em execução por quantia contra o executado
(artigos 633 e 634 do CPC).
Ex: obrigação de fazer fungível (outra pessoa pode fazer). O executado se recusa
a construir muro. É possível que se convoque um terceiro para cumprir a
obrigação. A construção do muro pelo terceiro gera um custo, que será cobrado
do executado nos próprios autos da execução.
É transformação porque era uma execução de obrigação de fazer
originariamente. Como o executado se recusou, a execução passa a ser por
quantia, para pagar o terceiro.

EXECUÇÃO POR COERÇÃO:

Nessa hipótese, não há substitutividade. O Estado não se subroga, mas cria estímulos
para que o devedor entenda vantajoso o cumprimento. Atua indiretamente na esfera
jurídica. É uma EXECUÇÃO ESTÁTICA.

De que maneira o Estado pode aplicar as medidas coercitivas? Quais são os métodos
coercitivos?

 Sanção coercitiva stricto sensu


o Patrimonial (multa pecuniária, por dia/semana de não cumprimento);
o Pessoal (prisão, no caso dos alimentos).

 Coerção punitiva (artigos 600 e 601 – contempt of court). É uma multa para
quem age na execução de má-fé.

 Sanção premial. Ex: artigo 652-A, p. ú.

Há quem diga que execução por coerção não é execução.


1ª corrente (Humberto Theodoro Jr. e Ovídio Baptista): execução por coerção
não é execução.
2ª corrente (amplamente majoritária: Dinamarco, Araken, Marinoni, Didier):
execução por coerção é execução.

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Em regra, a execução por quantia é direta.
Em regra, a obrigação de fazer ou não fazer é indireta, especialmente quando for
infungível. Exige uma realização da parte. Como convencer o Roberto Carlos a cantar
no navio? Por multa! Não se pode obrigá-lo diretamente.

A obrigação de entrega pode se dar tanto por execução direta quanto indireta.

Execução por quantia


Tem por regra a coerção direta.
É possível haver execução indireta?
A execução em dinheiro pode comportar medidas coercitivas, como por exemplo
multa?
Não é bem aceito pela doutrina e pela jurisprudência, dado que, se a pessoa não paga
nem o dinheiro que deve, que dirá a multa.
No RE 495740, o STF autorizou em uma execução de dinheiro a aplicação de multa
(astreinte).
A despeito do julgado do STF, é possível algumas medidas coercitivas em execução por
quantia, mas não a multa.
Quais são as medidas coercitivas que se aplicam em uma execução por quantia?
 Artigo 652-A, p. ú.
 Prisão civil em execução de alimentos (que é execução por quantia). Nesse
sentido, REsp 1117639 – o STJ permitiu a prisão civil em alimentos em
execução de título extrajudicial.
 Enunciado 76 do JEC: medidas coercitivas dentro da execução de quantia.
 Artigo 17 da Lei 10.259/01 (JEF): medidas coercitivas dentro da execução de
quantia.

Fim da análise dos princípios.


OBS: Alguns temas a seguir são tratados como princípios por alguns autores.

5. Lealdade processual (boa-fé)

É uma diretriz geral do processo civil, regulamentada nos artigos 14 a 19 do CPC.


Os dispositivos criam mecanismos para explicitar que o credor e o devedor devem agir
com probidade, de maneira íntegra.

Se há essa cláusula geral, por que existem regras específicas de execução?


Na execução existe penhora de bens, fraude, dilapidação de patrimônio... o Estado fica
em contato muito próximo com as partes. O legislador resolveu repetir as regras de boa-
fé processual da teoria geral para a tutela executiva.
Microssistema da execução: artigos 599, inciso II, 600 e 601. Esse microssistema é
denominado contempt of court: regras para garantir a administração da justiça e evitar o
desacato ao Judiciário ou à parte.
Em execução, quem mais sai prejudicado por um ato atentatório não é o Judiciário; é a
parte contrária.
Por isso, fala-se em ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA JUSTIÇA para se
referir ao contempt of court.

OBS: É errado falar em ato atentatório à dignidade da jurisdição.

Parêntesis: O artigo 600 regulamenta as hipóteses de ato atentatório:


Art. 600. Considera-se atentatório à dignidade da Justiça o ato do
executado que: (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
I - frauda a execução; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1º.10.1973)
Fraude à execução: artigo 593.
1ª corrente (majoritária: Cahali, Carmona e Araken): o
artigo 600, inciso I, refere-se ao artigo 593.
2ª corrente (Marcelo Abelha e Alcides Lima): a
interpretação deve ser extensiva. Abrange qualquer
conduta antijurídica, e não somente as previstas no artigo
593.
II - se opõe maliciosamente à execução, empregando ardis e
meios artificiosos; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
Respeita-se a ampla defesa; pune-se o abuso. Existe uma
certa discricionariedade judicial para entender o que é
ampla defesa e abuso.
III - resiste injustificadamente às ordens judiciais; (Redação
dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
IV - intimado, não indica ao juiz, em 5 (cinco) dias, quais são e
onde se encontram os bens sujeitos à penhora e seus respectivos
valores. (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
Credor
Hoje, a nomeação de bens à penhora compete
precipuamente ao credor exequente. Mas se o juiz
entender que o executado está dilapidando seu patrimônio,
por força dos
artigos 652, §3º e 656, §1º,
o juiz pode intimar o executado a apresentar seus bens,
sob pena de ato atentatório à dignidade da justiça. Ele não
precisa indicar todos os seus bens, mas
bens suficientes
para cumprir a obrigação.
A lei fala em 5 dias para cumprir a obrigação. Os prazos
para as partes são próprios (sujeitos à preclusão). Se a
parte não apresentar os bens em
5 dias,
contudo, não gera preclusão. A preclusão não alcança o
dever processual!
Sempre que o ato a ser praticado for um dever processual,
não há que se falar em preclusão.
Ex: advogado fez carga dos autos e o juiz determinou a
devolução ao cartório em 24h. Se devolver em 48h, não
ficará impossibilitado de devolver. É um dever processual.
Informação
E se a parte não tiver bens penhoráveis? Deve comunicar a
falta de bens ao juiz. Se não informar, será multada por ato
atentatório à dignidade da justiça. O que se pune é o
silêncio, e não a falta de bens.
Questões processuais pertinentes:

Qual é a natureza jurídica do ato atentatório à dignidade da justiça?


É um contempt of court adaptado. No tradicional, a multa se reverte para o Estado.
No caso, a multa se reverte para a outra parte.

Advertência prevista no artigo 599, inciso II, do CPC.


Essa advertência é condição de eficácia da aplicação da multa?
Se o juiz perceber que a parte vem agindo com ardil, com fraude, o juiz já pode aplicar
a multa do artigo 601 diretamente ou deve advertir a parte primeiro?
1ª corrente (Marinoni): É preciso haver advertência prévia, condição de eficácia
da multa.
2ª corrente (majoritária: Carmona, Araken, STJ): A multa pode ser aplicada
independentemente da advertência. A 3ª Turma do STJ, no REsp 1101500, entendeu
que a advertência não é condição de eficácia da multa e, portanto, não haveria a
necessidade da advertência.

Quem é o destinatário da multa?


O ato atentatório à dignidade da justiça só pode ser praticado pelo executado ou o
exequente também pode praticar?
Pode.
Mas os artigos 600 e 601 foram projetados para o executado.
Em interpretação sistemática, pode-se chegar à seguinte conclusão:
Se quem praticou o ato foi o executado, vai incidir sobre ele a multa do artigo
601.
Se quem praticou o ato foi o exequente, a lei não regulamenta. A multa será a do
artigo 14, p. ú., do CPC.

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