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DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÓMICAS E JURÍDICAS

CURSO DE DIREITO

PROCESSO CIVIL II
(Textos de apoio)

4º Ano

Autora:
Isabel Hotalala (Me.)

BENGUELA, 2023/2024
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÓMICAS E JURÍDICAS
CURSO DE DIREITO

PROCESSO CIVIL II
(Textos de apoio)

4º Ano
Autora: Isabel Hotalala (Me.)

BENGUELA, 2023/2024
UNIDADE III: PRESSUPOSTOS DO PROCESSO DE EXECUÇÃO
TEMAS:

3.1 Pressupostos processuais da acção executiva (comuns ao processo declarativo,


com particularidades próprias do processo de execução.

3.2. Pressupostos específicos da acção executiva:

a) Título Executivo
b) Obrigação exequenda: Certeza exigibilidade e liquidez.

3.1. Pressupostos processuais da acção executiva (comuns ao


processo declarativo, com particularidades próprias do
processo de execução.

1. Competência internacional
(art. 65.º)
1- Pressupostos
relativo ao Tribunal

2. Competência interna 1. em razão da matéria – 66º


2. da hierarquia
3. do valor
4. do território (90º e ss)

- Personalidade e capacidade judiciárias, art. 5.º e


2- Pressupostos ss.

relativo às partes - Patrocínio judiciário, art. 60.º

- Singular- 55º CPC e ss


- Legitimidade das partes
- Plural
-
1. Personalidade e capacidade judiciárias

Numa acção executiva os pressupostos processuais da personalidade e capacidade


judiciárias seguem o regime geral dos artigos 5.º e ss do CPC sem especialidades.
2. Patrocínio judiciário. O seu regime esta previsto no art. 60º CPC

LEGITIMIDADE PROCESSUAL SINGULAR

Em processo declarativo, o Autor é parte legítima quando tem interesse directo em


demandar, o Réu é parte legitima quando tem interesse directo em contradizer art. 26.º
C.P.C.

Na acção executiva, a legitimidade determina-se pelo título executivo, ou seja, a


execução tem de ser promovida pela pessoa que no título executivo figure como credora
e deve ser instaurada contra a pessoa que no título tenha a posição de devedora n.º 1.
Art. 55º C.P.C.

obs. o termo “credor e devedor”, não tem aqui um sentido rigoroso técnico-jurídico. Isto
porque, na expressão “credor” tanto cabe o credor stricto sensu da obrigação como o
titular de um direito real.

No entanto, esta regra da legitimidade acarreta excepções

a) Títulos ao portador: Art. 55º n.º 2

b) Sucessores no direito ou obrigação, art. 56º n.º 1

Ex: os sucessores podem promover a execução ou serem executados, para tal, a lei exige
apenas que no próprio requerimento para execução sejam deduzidas os factos
constitutivos dessa sucessão.

A excepção em causa, respeita aos casos em que a sucessão ocorreu após a formação do
título executivo e antes de acção executiva ser intentada.

Se ocorreu já depois da propositura da execução, a habilitação dos sucessores opera-se


através do incidente de habilitação. Art. 371º C.P.C.

c) Execução por dívida com garantia real. O crédito do exequente pode ser dotado
de garantia real.

Neste caso, deve-se distinguir os casos de os bens onerados com garantia real
pertencerem ou não ao devedor.

Na hipótese afirmativa, não existe qualquer excepção a regra da legitimidade formal,


pois o titular dos bens onerados é também o devedor.
Porém, no caso de os bens onerados serem pertença de um terceiro, verifica-se uma
excepção a regra da legitimidade formal na acção executiva. Entenda-se aqui, se o
credor quer de facto fazer valer aquela garantia, a expressão “pode” da letra da lei, deve
ser interpretada como “deve”.

d) Terceiro adquirente do devedor tendo procedido a impugnação pauliana.

No caso de haver um terceiro adquirente dos bens do devedor, e se o credor houver


intentado com êxito impugnação pauliana ( art.º. 616º e sscc), a acção executiva pode
ser intentada contra o referido adquirente, que mantém para o efeito os bens no seu
património. Esta possibilidade de demandar o terceiro adquirente constitui outra
excepção a regra da legitimidade formal na acção executiva

e) Exequibilidade da sentença contra terceiro.

Este regime, só se aplica as execuções cuja prestação consiste na Entrega de Coisa


Certa. O art. 57º, confere exequibilidade a sentença contra todas as pessoas em relação
as quais ela tenha força de caso julgado mesmo que não tenham intervindo na acção.
Exemplos: analisar os artigos: 271º n.3, 376º, 323º n. 1, art. 359º n.º 2 C.P. C. etc.

LEGITIMIDADE PROCESSUAL PLURAL

Normalmente, o processo executivo apresenta-se de forma simples, ou seja, com um


exequente e um executado.

Porém, pode haver relação processual cujo lado activo ou passivo seja composto por
mais de uma pessoa. Neste caso estaremos perante uma relação complexa por haver
pluralidade de partes.

Essa pluralidade de partes, do ponto de vista processual, pode revestir a forma de


litisconsórcio art. 27º, 28º C.P.C. ou coligação art. 30º 31º (consolidar) e art. 58º C.P.C.

Att. Cumulação de execuções: analisar art. 53.º C.P.C.

LEGITIMIDADE ESPECIAL DO M.P.

O Ministério Público, é atribuída a legitimidade pelo art. 59º C.P.C., para promover a
execução por custas e multas impostas no processo.

Também, o art. 927º, prevê um caso especial (acção sumaríssima) em que o Ministério
Público tem legitimidade para intentar uma execução conjunta pelo crédito do autor
reconhecido em acção declarativa e pelas custas desta acção (que o réu responsável por
estas custas, não pagou).
3.2. PRESSUPOSTOS ESPECÍFICOS DA ACÇÃO EXECUTIVA:

a) Título Executivo
 Conceito
 Características
 Classificação
 Exequibilidade dos títulos executivos
 Consequências da falta de título executivo
 Conformidade do pedido com o título
 Consequências do uso da acção declarativa havendo título executivo
extrajudicial.
b) Obrigação exequenda: Certeza exigibilidade e liquidez.

TITULO EXECUTIVO

 CONCEITO
São documentos de actos constitutivos ou certificativos de obrigações que mercê da
força probatória especial de que estão munidos tornam dispensável o processo
declarativo (ou novo processo declaratório, caso se trate de sentença), para certificar a
existência do direito do portador.

- È constitutivo da relação obrigacional quando a relação obrigacional tem no


documento a sua fonte (ex. escritura de venda de um imóvel na qual o vendedor se
obriga a entregar o prédio e o comprador a pagar o preço.

- É certificativo da obrigação quando, procedendo a constituição da dívida a um outro


acto, o título apenas confirma a existência dela, como sucede com a sentença de
condenação que dá por existente a dívida que o réu afirmava ter-se extinguido por
pagamento, dação em cumprimento ou compensação.

 CARACTERÍSTICAS DO TÍTULO EXECUTIVO


Efectivamente, diz-se que o título executivo é condição necessária e suficiente da acção
executiva.

Assim, por um lado é condição necessária porque não pode haver acção executiva sem
título executivo.
Por outro lado, é também condição suficiente porque a simples existência do título
basta para promover a execução sem necessidade de nova indagação acerca da
existência do direito material que se pretende fazer valer.

 CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS EXECUTIVOS

A enumeração dos títulos executivos de que se ocupa o art. 46º CPC é


taxativa.
Efectivamente quando ali se diz que a execução apenas podem servir de
base…, está-se a consagrar inequivocamente neste domínio o principio do
numerus clausus.
A doutrina tem elaborado uma grande variedade de classificações de títulos executivos
com base nesta enumeração.
Quanto a nós, optamos pela distinção entre títulos executivos judiciais e títulos
executivos extrajudiciais.

Judiciais
- Sentenças condenatórias (todas as decisões em que
o juiz impõe a alguém determinada obrigação. Neste
(documentam uma
grupo abrange também:
Decisão judiciais)  Despachos
 Decisões dos tribunais arbitrais
 As sentenças dos tribunais arbitrais ou
árbitros estrangeiros.
 Documentos exarados ou autenticados por notário.
 Documentos particulares assinados pelo devedor
 Documentos que por disposição especial seja atribuída
força executiva art. 52º CPC (títulos administrativos-
devemos incluí-los no âmbito da al. d) do art. 46º
(documentam um acto administrativo) ou negociais
(documentam negócios jurídicos).

Nos negociais podemos fazer a distinção entre os unilaterais


(letras, livranças, cheques, vales etc . da al. c)) e os contratuais ( da
Extrajudiciais alínea d)).

 EXEQUIBILIDADE DOS TÍTULOS EXECUTIVOS

Analisar os artigos 47º, 48º, 49º, 50º, 51º e 52º C.P.C.


Obs: consolidar alguns conceitos como :

 DOCUMENTOS EXARADOS OU AUTENTICADOS POR NOTÁRIO


- Documentos exarados por notário São aqueles directamente lavrados pelo
notário no respectivo livro ou em instrumento avulso e os certificados, certidões
e outros documentos análogos por ele expedidos Art. 51º nº 2 do C. Notariado-
confirmar.

- Documentos autenticados por notário- São os documentos particulares


(redigidos ou exarados por particulares) confirmados pelos autores perante o
notário, em que o notário atesta a conformidade do documento com a vontade
das partes.
 DOCUMENTOS PARTICULARES NÃO AUTENTICADOS
Letras- são ordens de pagamento dadas por uma pessoa (sacador) a outra pessoa
(sacado), para que pague uma quantia determinada a certa pessoa (tomador) ou à ordem
dela.

Livrança é uma promessa feita no título por uma pessoa ( subscritor) de pagar uma
quantia determinada a uma outra pessoa ou à ordem desta.

Cheque consiste numa ordem dada por uma pessoa ( sacador) a um banco (sacado),
para que pague determinada quantia por conta da provisão bancária à disposição do
sacador.

Extrato de factura, é uma espécie de letra sacada pelo vendedor de mercadorias a


crédito (comerciante por grosso) sobre o comprador, para pagamento do preço ou
prestação em dívida.

Vales- são documentos constitutivos ou certificativos de um empréstimo ou de um


adiantamento por conta do crédito que posteriormente se vencerá ou será liquidado, é
necessário que dele conste não só a assinatura do devedor, mas também a menção ao
credor, pois só assim dele constará uma obrigação

Facturas- são documentos certificativos da venda de mercadorias, com a indicação das


quantidades fornecidas e dos respectivos preços, inserindo uma declaração de
conformidade assinada ou rubricada pelo comprador.
Assinatura a rogo- é aquela feita por outrem a solicitação do autor das declarações
documentadas.
Reconhecimento por semelhança: é baseado na mera semelhança entre a assinatura
reconhecida e a firma autêntica da mesma pessoa, quando exista em poder do notário no
seu livro de sinais, ou entre a assinatura reconhecida e assinatura aposta no bilhete de
identidade (Cód. Notariado art. 165º nº 2- confirmar).

 CONSEQUÊNCIAS DA FALTA DE TÍTULO EXECUTIVO


Segundo certa doutrina, (Eurico Lopes Cardoso), o título executivo funcionaria
como causa de pedir na acção executiva e por tanto a sua falta implicaria a
ineptidão da petição ou requerimento inicial art. 193º n 2 al. b) do C.P.C.

Castro Mendes critica esta tese, salientando que o título executivo é um


documento e não um facto jurídico, pelo que se a causa de pedir fosse o título
não haveria litispendência se estivessem pendentes em tribunal duas ou mais
execuções baseadas em títulos diferentes ainda que certificativos de direitos
emergentes do mesmo facto jurídico. O que considera inaceitável.

Para ele, a acção executiva desacompanhada de título, deve ser aplicado o art.
477º ou seja, o Juiz poderá proferir despacho de aperfeiçoamento.

Mas importa aqui distinguir algumas situações:

1- No requerimento inicial foi invocada a existência do título, mas não foi junto
o respectivo documento. Neste caso, justifica-se o despacho de
aperfeiçoamento; convidando o exequente a juntar o título dentro de certo
prazo, sob pena de julgar extinta a execução.

2- Não foi sequer invocada a existência do título, o Juiz deverá usar do


indeferimento liminar, por falta de um pressuposto específico essencial da
acção executiva que é do conhecimento oficioso do Tribunal. Al. c) do nº 1
do art. 474º.

Com efeito, não pode haver execução sem título ( art. 45º nº 1) e por tanto
pedido de execução sem título executivo.

Se por ventura o juiz não proferir nenhum destes despachos liminares e


mandar citar o executado, este poderá opor-se por embargos ou recurso de
agravo, invocando a falta de título.
 CONFORMIDADE DO PEDIDO COM O TÍTULO
O pedido deve estar em conformidade com o título executivo sob dois
aspectos: subjectivamente e objectivamente.

 Subjectivamente, porque é em face do título que se afere a legitimidade


do exequente e do executado como regra (art. 55º nº 1 CPC, pode ser
absoluto e relativo.
Exemplos: O título certifica uma dívida de entrega da coisa a A e o pedido é
de entrega da coisa a B, as consequências são iguais à falta de título
executivo para entrega da coisa a B; Obteve-se a condenação de A, move-se
a acção executiva contra A, B e C.
 Objectivamente porque o título determina os fins e limites da acção
executiva (art. 45º nº 1). A desconformidade objectiva pode ser absoluta
ou relativa.
Absoluta:
Ex. Pelo título o devedor deve a Joia a X e Pede-se o quadro a Y
Relativa:
Ex. O devedor deve a coisa aA e o pedido ou pedidos são de entrega das
coisas a A e B ou o devedor deve 100 KZ e o pedido é de pagamento de 200
KZ. Há excesso de execução, pelo que esta só deve prosseguir dentro do fim
ou objecto e dos limites do título, devendo ser indeferida liminarmente ou
julgada extinta quanto à parte em excesso. E quanto a esta, poderá o
executado opor-se também invocando a inexequibilidade ou a falta de título
quanto ao excesso ( art. 813º al. a).

Entretanto, a desconformidade subjectiva conduz a ilegitimidade, pelo que


só a conformidade objectiva constitui um pressuposto processual relativo ao
objecto.

 CONSEQUÊNCIAS DO USO DA ACÇÃO DECLARATIVA HAVENDO


TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL.

O art. 449º nº 1 e 2, refere a principal consequência: O autor paga às custas do processo,


mesmo que acção seja julgada procedente, desde que o Réu não a conteste. Isto porque
o autor usou desnecessariamente o processo declaratório, pois detinha um título
executivo por si só suficiente para ver satisfeita a sua pretensão.

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