• O equilíbrio “harmoniza” o querer conflitante entre trabalhadores e empresas, determinando o salário e o nível de emprego observado no mercado. • Ao entender como o equilíbrio é alcançado, podemos endereçar o que talvez seja a pergunta mais interessante na economia do trabalho: por que os salários e o nível de emprego sobem e descem? • Este capítulo analisa as propriedades do equilíbrio em um mercado de trabalho perfeitamente competitivo. Veremos que os mercados competitivos, as empresas e os trabalhadores estão livres para entrar e sair destes mercados, e a alocação de equilíbrio de trabalhadores para as empresas é eficiente; já a ordenação dos trabalhadores para empresas maximiza o total de ganhos que eles acumulam quando negociam entre si. Este resultado é um exemplo do teorema da mão invisível, do renomado Adam Smith, cujos participantes, em busca de suas próprias metas egoístas, obtêm um resultado que ninguém conscientemente procurou obter no mercado. • Também analisaremos as propriedades do equilíbrio do mercado de trabalho sob estruturas alternativas de mercados, como os monopsônios (onde há apenas um comprador) e os monopólios (onde há apenas um vendedor do produto). Cada uma dessas estruturas de mercado gera um equilíbrio com suas próprias características singulares. • Por último, o capítulo usa uma série de aplicações da política econômica – como os impostos, os subsídios e a imigração – para ilustrar como as políticas governamentais deslocam o mercado de trabalho para um diferente equilíbrio, alterando, assim, as oportunidades econômicas disponíveis tanto para as empresas quanto para os trabalhadores. Equilíbrio em um único mercado de trabalho competitivo • A curva de oferta mostra o número total de empregados-horas que os agentes na economia alocam ao mercado em qualquer nível salarial; a curva de demanda mostra o número total de empregados-horas que as empresas no mercado demandam. O equilíbrio ocorre quando a oferta é igual à demanda, gerando um salário competitivo w* e emprego E*. • Uma vez que o nível salarial competitivo é determinado dessa maneira, cada empresa nessa indústria contrata trabalhadores até o ponto em que o valor do produto marginal do trabalho seja igual ao salário competitivo. A primeira empresa contrata E1 trabalhadores; a segunda, E2 e assim por diante. O número total de trabalhadores contratados por todas as empresas na indústria deve ser igual ao nível de emprego de equilíbrio do mercado, E*. • não há desemprego em um mercado de trabalho competitivo. No salário de mercado w*, o número de pessoas que querem trabalhar é igual ao número de trabalhadores que as empresas querem contratar. As pessoas que não estão trabalhando também não estão procurando trabalho no salário vigente. • Não é preciso dizer que uma economia industrializada moderna está continuamente sujeita a muitos choques que deslocam as curvas de oferta e demanda. Porém, é improvável que o mercado de trabalho realmente consiga alcançar um equilíbrio estável – com salários e empregos permanecendo a um nível constante por muito tempo. Mesmo assim, o conceito de equilíbrio do mercado de trabalho continua sendo útil porque ele nos ajuda a entender por que os salários e empregos parecem subir e descer em resposta a eventos econômicos ou políticos específicos. Eficiência • A receita total acumulada para a empresa pode ser facilmente calculada ao somar o valor do produto marginal do primeiro trabalhador, do segundo trabalhador e de todos os trabalhadores até E*. Como a curva de demanda por trabalho mostra o valor do produto marginal, a área sob ela mostra o valor do produto total. Cada trabalhador recebe um salário de w*. Assim sendo, os lucros acumulados pelas empresas, as quais chamaremos de excedente dos produtores, são dados pelas áreas do triângulo P.1 • Os trabalhadores também lucram, pois a curva de oferta mostra o salário exigido para incentivar empregados adicionais para o mercado de trabalho. Na realidade, a altura da curva de oferta em certo ponto mede o valor do tempo marginal do trabalhador em usos alternativos. Por esse motivo, a diferença entre o que o trabalhador recebe (isto é, o salário competitivo w*) e o valor do tempo do trabalhador fora do mercado de trabalho indica os ganhos acumulados pelos trabalhadores. Essa quantidade é chamada de excedente dos trabalhadores e é dada pela área do triângulo Q na Figura 4-1. • O total de ganhos de troca, acumulados na economia nacional, é dado pela soma do excedente dos produtores e o excedente dos trabalhadores, ou a área P + Q. O mercado competitivo maximiza o total de ganhos de troca acumulados na economia. • A alocação de pessoas para empresas que maximizam o total de ganhos de troca no mercado de trabalho é chamada de alocação eficiente, que nada mais é que um equilíbrio competitivo que gera uma alocação eficiente dos recursos do trabalho. Equilíbrio competitivo entre os mercados de trabalho • A discussão na seção anterior enfocava as consequências do equilíbrio em um único mercado de trabalho competitivo. No entanto, a economia normalmente consiste em muitos mercados de trabalho, mesmo para os trabalhadores que têm qualificações similares. Esses mercados podem ser diferenciados por região ou por indústria. • Suponha que existam dois mercados de trabalho regionais na economia, o Norte e o Sul. Presumimos que os dois empreguem trabalhadores com qualificações similares, de forma que as pessoas que trabalham no Norte são substitutos perfeitos para aquelas que trabalham no Sul. • A Figura 4-2 ilustra as curvas de oferta e demanda por trabalho em cada um desses mercados (SN e DN no Norte e SS e DS no Sul). • Para simplificar, as curvas são representadas pelas linhas verticais, sugerindo que a oferta é perfeitamente inelástica em cada região. Como está traçado, o salário de equilíbrio no Norte, wN, excede o salário de equilíbrio no Sul, wS. • Essa diferença salarial entre as duas regiões poderá persistir e representar um verdadeiro equilíbrio competitivo? • Assim sendo, enquanto os trabalhadores e as empresas forem livres para entrar e sair do mercado de trabalho, uma economia competitiva será caracterizada por um único salário.2 • A propriedade do “salário único” de um equilíbrio competitivo tem implicações importantes para a eficiência econômica. Lembre-se de que, em um equilíbrio competitivo, o salário é igual ao valor do produto marginal do trabalho. À medida que as empresas e os trabalhadores mudam-se para a região que oferece as melhores oportunidades, eles eliminam as diferenças salariais regionais. Assim sendo, os trabalhadores com certas qualificações têm o mesmo valor do produto marginal do trabalho em todos os mercados. Convergência dos níveis salariais regionais • Há muito interesse em determinar se as diferenças salariais regionais nos Estados Unidos (assim como em outros países) se reduzem com o passar do tempo, como sugerido pela nossa análise de equilíbrio do mercado de trabalho. Muitos estudos empíricos sugerem que há, de fato, uma tendência em direção à convergência. • No entanto, as evidências indicam que os níveis salariais convergem com o passar do tempo – embora possa levar algumas décadas antes de os salários serem igualados entre os mercados. • É claro que a alocação eficiente de trabalhadores entre os mercados de trabalho e a convergência salarial resultante não são limitadas aos mercados dentro de um país, mas também podem ocorrer quando comparamos os mercados de trabalho entre os países. Recentemente muitos estudos tentaram determinar se as diferenças internacionais na renda per capita estão se reduzindo.5 Muito deste trabalho é motivado pelo desejo de entender por que o hiato de renda entre os países ricos e os países pobres parece persistir. • Os estudos empíricos normalmente concluem que quando comparamos dois países com dotações de capital humano similares (por exemplo, nível de escolaridade da população), o hiato entre esses países se reduz com o passar do tempo, sendo que metade dele desaparece em uma geração. Esse resultado, chamado de convergência “condicional” (porque ela compara países que já são similares em termos de dotação de capital humano na força de trabalho), não necessariamente sugere que haverá convergência nos níveis de renda entre os países ricos e os países pobres. • O hiato salarial entre os países ricos e pobres pode per-sistir por períodos mais longos, isso porque os níveis muito baixos de capital humano nos países pobres não permitem que eles estejam na mesma trajetória de crescimento como os mais ricos. Aplicação de política econômica: impostos sobre a folha de pagamento e subsídios • Podemos facilmente ilustrar a utilidade da estrutura de oferta e demanda ao considerar uma política governamental que desloca a curva de demanda por trabalho. Nos Estados Unidos, alguns programas do governo são parcialmente financiados por meio de um imposto sobre a folha de pagamento que recai sobre os empregadores. • O que acontece com os salários e empregos quando o governo impõe um imposto sobre a folha de pagamento dos empregadores? • Vale observar que, mesmo que a legislação declare que os empregadores devem pagar o imposto sobre a folha de pagamento, o mercado de trabalho desloca parte do imposto para o trabalhador. Afinal de contas, o custo para demitir um trabalhador aumenta ao mesmo tempo em que o salário recebido por ele declina. Assim sendo, de alguma maneira as empresas e os trabalhadores “compartilham” os custos do imposto sobre a folha de pagamento Um imposto tributado sobre os trabalhadores • O debate político sobre a tributação da folha de pagamento faz parecer, muitas vezes, que os trabalhadores estão numa situação melhor quando o imposto é tributado sobre a empresa, em vez do trabalhador. Entretanto, essa suposição representa um completo mal-entendido de como um mercado de trabalho competitivo funciona. Não importa se o imposto é aplicado aos trabalhadores ou às empresas. O impacto do imposto sobre os salários e os empregos é o mesmo, independente de como a legislação é redigida. • Suponha, por exemplo, que um imposto de US$ 1 sobre cada hora de trabalho fosse tributado aos trabalhadores e não aos empregadores. Como pareceria o equilíbrio do mercado de trabalho resultante? • Assim sendo, o imposto sobre o trabalhador leva aos mesmos tipos de mudanças nos resultados do mercado de trabalho como o imposto sobre a folha de pagamento das empresas. Ambos os impostos reduzem o pagamento que os trabalhadores levam para casa, aumentam o custo de uma hora de trabalho para a empresa e reduzem os empregos. Quando o imposto sobre a folha de pagamento será completamente deslocado para os trabalhadores? • Somente em um caso extremo o imposto sobre a folha de pagamento será totalmente deslocado para os trabalhadores. Suponha que o imposto seja tributado sobre a empresa e que a curva de oferta de trabalho seja perfeitamente inelástica, como está ilustrado na Figura 4-6. Um total de E0 trabalhadores estão empregados neste mercado, independente do salário. Como antes, a imposição do imposto sobre a folha de pagamento desloca a curva de demanda negativamente por US$ 1. Antes do imposto, o salário de equilíbrio era de w0. Depois do imposto, o salário de equilíbrio é de w0 – 1. Assim, quanto mais inelástica for a curva de oferta, maior é a fração de impostos sobre a folha de pagamento que os trabalhadores acabam pagando. Quando o imposto sobre a folha de pagamento será completamente deslocado para os trabalhadores? Perda peso-morto • Visto que os impostos sobre a folha de pagamento normalmente aumentam os custos de contratação de um trabalhador, eles acabam reduzindo o total de empregos – independente de os impostos serem aplicados aos trabalhadores ou às empresas. Assim, o equilíbrio depois dos impostos é ineficiente, porque o número de trabalhadores empregados não é o número que maximiza o total de ganhos de troca no mercado de trabalho. • A comparação das Figuras 4-7a e 4-7b resulta em uma conclusão importante. A imposição do imposto sobre a folha de pagamento reduz o total de ganhos de troca. Há um triângulo, DL, que representa a perda peso-morto (ou ônus em excesso) do imposto. A perda peso- morto surge, porque o imposto não deixa que alguns trabalhadores que estão dispostos a trabalhar sejam contratados pelos empregadores. Subsídios para os empregos • A curva de demanda por trabalho é deslocada não apenas pelos impostos sobre a folha de pagamento, mas também pelos subsídios do governo destinados a encorajar as empresas a contratarem mais pessoas. Um subsídio de empregos diminui o custo de contratação para as empresas. • No programa típico de subsídio, o governo concede um crédito fiscal para a empresa, digamos, de US$ 1 para cada pessoa-hora que ela contrata. Pelo fato de esse subsídio reduzir o custo de contratação de uma pessoa-hora por US$ 1, ele desloca a curva de demanda positivamente para aquela quantia, como ilustra a Figura 4-8. Aplicação de política econômica: o impacto da imigração no mercado de trabalho • Agora discutiremos como as políticas governamentais, que restringem ou favorecem a imigração em larga escala, deslocam a curva de oferta de trabalho e alteram os resultados do mercado de trabalho. • O modelo mais simples de imigração presume que os imigrantes e nativos são substitutos perfeitos na produção. Em outras palavras, os imigrantes e nativos têm os mesmos tipos de qualificações e estão competindo pelos mesmos tipos de empregos. O impacto da imigração no curto prazo neste mercado – mantendo o capital fixo – é ilustrado na Figura 4-10. Quando os imigrantes entram no mercado de trabalho, a curva de oferta desloca-se para fora, aumentando o emprego total de N0 para E1 e reduzindo os salários (de w0 para w1). Observe que poucos trabalhadores daquele país estão dispostos a trabalhar por esse salário mais baixo, assim o emprego deles cai de N0 para N1. De certa maneira, os imigrantes “tiram os empregos” dos nativos e os convencem de que não vale mais a pena trabalhar. • Assim sendo, o impacto no curto prazo da imigração quando imigrantes e nativos são substitutos perfeitos é inequívoco. Enquanto a curva de demanda se inclina negativamente e o capital é fixo, um aumento na imigração moverá a economia para baixo na curva de demanda, reduzindo o salário e o emprego de trabalhadores nativos. • É claro que a suposição de que trabalhadores nativos e imigrantes são substitutos perfeitos é questionável. Pode ser que os trabalhadores imigrantes e nativos não estejam competindo pelo mesmo tipo de emprego. Por exemplo, os imigrantes podem ser adeptos a algum tipo de produção agrícola o qual requer muita mão de obra. Isso libera a força de trabalho nativa mais qualificada para realizar tarefas que fazem uso melhor de seu potencial. • A presença de imigrantes aumenta a produtividade nativa porque os nativos agora podem se especializar em tarefas que são mais adequadas às suas qualificações. Portanto, imigrantes e nativos se complementam no mercado de trabalho. • Se os dois grupos são complementares na produção, um aumento no número de imigrantes eleva o produto marginal dos nativos, deslocando a curva de demanda positivamente para esses trabalhadores. Como mostra a Figura 4-11, esse aumento na produtividade eleva o salário deles de w0 para w1. Além disso, alguns nativos, que anteriormente não achavam lucrativo trabalhar, agora veem a taxa salarial mais alta como um incentivo adicional para entrar no mercado de trabalho, aumentando o emprego de N0 para N1. Efeitos no curto prazo versus efeitos no longo prazo • Suponha que imigrantes e nativos sejam substitutos perfeitos. No curto prazo, os imigrantes reduzem os salários, mas elevam os retornos sobre o capital. Afinal de contas, os empregadores agora podem contratar trabalhadores com um salário mais baixo. Com o passar do tempo, a lucratividade aumentada da empresa inevitavelmente atrairá fluxos de capital para o mercado, quando empresas antigas se expandem e novas empresas abrem para aproveitar o salário mais baixo. Assim, esse aumento no estoque de capital deslocará a curva de demanda por trabalho para a direita e terá a tendência de atenuar os impactos negativos do choque na oferta de trabalho inicial. • A pergunta crucial é: no longo prazo, quanto a curva de demanda se deslocará para a direita? Se a curva de demanda se deslocasse apenas um pouco, os trabalhadores nativos concorrentes ainda receberiam salários mais baixos. Se, por outro lado, a curva de demanda se deslocasse para a direita, os efeitos negativos sobre os salários poderiam desaparecer. • A extensão do deslocamento para a direita na curva de demanda por trabalho depende da tecnologia subjacente à função de produção. • A teoria de demanda por fatores de produção em um mercado de trabalho competitivo sugere que o preço do capital (sendo igual à taxa de retorno sobre ele) é dado pelo valor do produto marginal do capital e que o salário é dado pelo valor do produto marginal do trabalho. Para simplificar, suponha que o preço do produto é rbitrariamente estabelecido e igual a US$ 1. Usando cálculos elementares, é fácil mostrar que o valor das equações do produto marginal para capital e mão de obra são dados pelas seguintes equações • O efeito da imigração no curto prazo é simplesmente aumentar o número de trabalhadores na economia. Uma análise das Equações (4- 4) e (4-5) mostrará que esse aumento no número de trabalhadores elevará a taxa de retorno sobre o capital r e reduzirá o salário w. • No entanto, com o passar do tempo, a imigração também aumentará o tamanho do estoque de capital K. Em outras palavras, se a imigração aumenta o número de trabalhadores em 20%, então o estoque de capital também deve aumentar por 20% no longo prazo. • Este insight teórico tem implicações bastante interessantes (e importantes) para o impacto da imigração no longo prazo no mercado de trabalho. • Considere a Equação (4-5). Se a razão capital-mão de obra é constante no longo prazo, a Equação (4-5) mostra claramente que o salário também deve ser constante no longo prazo. • Em outras palavras, a imigração inicialmente reduz os salários e, com o passar do tempo, o estoque de capital aumenta quando os empregadores aproveitam a força de trabalho mais barata; mas, no final, o estoque de capital ajusta-se completamente para levar a economia de volta de onde ela começou, com a mesma taxa de retorno sobre o capital e a mesma taxa salarial! Correlações espaciais • Muitas das pesquisas empíricas normalmente comparam os ganhos de nativos em cidades onde os imigrantes são uma fração substancial da força de trabalho com os ganhos de nativos em cidades onde os imigrantes são uma fração relativamente pequena. As correlações cruzadas entre cidades, estimada entre os salários e a imigração, são chamadas de correlações espaciais. É claro que os salários de nativos variam entre os mercados de trabalho, mesmo se a imigração não existir. No entanto, a validade da análise depende essencialmente da extensão na qual todos os outros fatores, que geram dispersão no salário de nativos entre as cidades, podem ser controlados quando estimamos uma correlação espacial. Esses fatores incluem as diferenças geográficas nas qualificações de nativos, as diferenças salariais regionais e as variações no nível de atividade econômica. • Tem havido um consenso notável em muitos estudos que estimam essas correlações espaciais. A correlação espacial é levemente negativa, de forma que os salários dos nativos são um pouco mais baixos no mercado. Mas a magnitude dessa correlação é geralmente muito pequena. Assim, as evidências sugerem que os imigrantes parecem não ter muito impacto nas oportunidades do mercado de trabalhadores nativos. O êxodo do Mariel • Em 20 de abril de 1980, Fidel Castro declarou que os cubanos que quisessem se mudar para os Estado Unidos poderiam sair livremente do porto de Mariel. Por volta de setembro de 1980, aproximadamente 125 mil cubanos, a maioria trabalhadores de baixas qualificações, escolheram realizar a jornada. • Quase que do dia para a noite, a força de trabalho de Miami cresceu inesperadamente em 7%. Entretanto, um estudo influente indica que a tendência dos salários e oportunidades de emprego para a população de Miami, incluindo a população afro-americana, foi pouco afetada pelo fluxo de Mariel. • Assim, parece que o fluxo do Mariel, na realidade, desacelerou o aumento na taxa de desemprego de negros, de forma que o cálculo de diferenças-em-diferenças (ou 1,3-2,3) sugere que o fluxo do Mariel foi responsável pelo declínio de 1,0 ponto percentual na taxa de desemprego de negros. • A conclusão de que mesmo os fluxos grandes e inesperados de imigrantes não parecem afetar adversamente as condições do mercado de trabalho local é confirmada pela experiência de outros países. • O estudo do êxodo do Mariel fornece um excelente exemplo da metodologia de diferenças- -em-diferenças: medir o impacto da imigração ao comparar o que aconteceu no mercado de trabalho em questão (isto é, o grupo tratado) com o que ocorrem nos mercados de trabalho que não foram penetrados pelos imigrantes (o grupo de controle). • Em outras palavras, a estratégia é usar dados de regiões diferentes para estimar a relação entre a alteração no salário sobre um período específico de tempo e a alteração correspondente induzida pela imigração na oferta. O principal resultado do estudo do Mariel é que, essencialmente, há uma correlação zero entre as variáveis dependentes e independentes, de forma que o coeficiente α é quase zero. Essa correlação zero leva à inferência de que as alterações induzidas pela imigração na oferta de trabalho têm pouco impacto nos salários. Os nativos respondem à imigração? • O fato de que muitos estudos entre cidades encontram poucas evidências de um impacto adverso considerável da imigração nos ganhos dos nativos levanta duas questões importantes: • Por que a evidência é tão diferente da suposição típica no debate sobre a política de imigração? E por que as evidências parecem ser inconsistentes com as implicações do modelo mais simples de equilíbrio de oferta e demanda? Significativas alterações na oferta, como aquelas observadas no fluxo do Mariel, devem alterar o nível salarial no mercado de trabalho. • Um problema importante com a abordagem conceitual que fundamenta a interpretação das correlações espaciais (isto é, a Figura 4-10 no caso de substitutos perfeitos e a Figura 4-11 no caso de complementos) é que ela ignora outras respostas que poderão ocorrer no mercado de trabalho – mesmo abstraindo dos ajustes com relação ao estoque de capital agregado. • A entrada de imigrantes no mercado de trabalho local poderá muito bem reduzir o salário de trabalhadores competidores e aumentar o salário de trabalhadores complementares. • Entretanto, com o passar do tempo, os nativos provavelmente responderão à imigração. Afinal de contas, não é do interesse dos trabalhadores nativos sentar e assistir os imigrantes mudarem as oportunidades econômicas. Todos os nativos agora têm incentivos para mudar seu comportamento a fim de aproveitarem o cenário econômico alterado. Os benefícios econômicos da imigração • Temos visto que os imigrantes podem ter um impacto adverso nas oportunidades de trabalho dos trabalhadores nativos. Os imigrantes também podem fazer uma contribuição importante para o país receptor. Para avaliar o impacto econômico líquido da imigração, devemos calcular a magnitude dessas contribuições. Há uma relação profunda entre a elasticidade que mede o impacto salarial da imigração na força de trabalho nativa e a magnitude dos ganhos que resultam para os países receptores. O modelo teia de aranha (cobweb model) • Modelo ocorre quando mercados não se ajustam rapidamente as alterações da demanda e oferta. • Na realidade, existem evidências de que o mercado para os trabalhadores altamente qualificados, como engenheiros, exibem períodos sistemáticos de expansão e contração que disputam a noção de que o mercado alcança o equilíbrio competitivo rapidamente e com custo baixo. • Em uma série de estudos, Richard Freeman propôs um modelo que mostrava como essas tendências no salário de entrada poderiam ser geradas. Duas suposições-chave fundamentam o modelo: (1) leva tempo para produzir um novo engenheiro e (2) as pessoas decidem se querem ou não ser engenheiras ao observar as condições no mercado de trabalho quando elas entram na faculdade. • A análise inclui a teia de aranha (cobweb model), a qual é criada ao redor do ponto de equilíbrio quando o mercado de trabalho de engenharia se ajusta ao choque da demanda inicial. O salário de entrada exibe um padrão sistemático de expansão e contração, à medida que o mercado lentamente se direciona para o salário de equilíbrio w* e emprego E*. Mercados de trabalho não competitivos: monopsônio • Até agora, analisamos as características do equilíbrio do mercado de trabalho em mercados competitivos • Cada empresa na indústria enfrenta o mesmo preço competitivo p quando tenta vender seus produtos, independente de quanto produto ela venda. • Além disso, cada empresa na indústria paga um salário constante de w para todos os trabalhadores, independente de quantos profissionais ela contrata. • Agora vamos começar o estudo das propriedades do equilíbrio no mercado de trabalho sob estruturas alternativas de mercado. • Um monopsônio é uma empresa que se defronta com uma curva de oferta de trabalho positivamente inclinada. Em comparação a uma empresa competitiva, a qual pode empregar quanta mão de obra quiser no preço vigente, um monopsônio tem de pagar salários mais altos para poder atrair mais trabalhadores. • A cidade com uma única empresa (por exemplo, uma mina de carvão em um local remoto) é um exemplo de um monopsônio. A única maneira que a empresa consegue convencer mais moradores da cidade a trabalharem é aumentando o salário para satisfazer o salário de reserva dos não trabalhadores. Monopsonista discriminador perfeito • Além disso, uma empresa monopsonista discriminadora perfeita pode empregar diferentes trabalhadores com salários distintos. • Em termos da curva de oferta de trabalho na figura, esta empresa monopsonista precisa apenas pagar um salário de w10 dólares para atrair o 10º trabalhador, e deve pagar um salário de w30 para atrair o 30º trabalhador. • Como resultado, a curva de oferta de trabalho é idêntica ao custo marginal para contratar mão de obra • Assim, a curva de demanda por trabalho para uma empresa monopsonista, assim como para uma empresa competitiva, é dada pelo valor da curva do produto marginal. • Uma empresa monopsonista discriminadora perfeita contratará até o ponto onde a contribuição do último trabalhador para a receita da companhia (VMPE) for igual ao custo marginal de trabalho. Em outras palavras, o equilíbrio do mercado ocorre no ponto A, onde a oferta é igual à demanda. Monopsonista não discriminador • Uma empresa monopsonista não discriminadora deve pagar o mesmo salário a todos os trabalhadores, independente do salário de reserva do trabalhador. Pelo fato de a empresa monopsonista não discriminadora ter de aumentar o salário de todos os trabalhadores quando ela deseja contratar mais um trabalhador, a curva de oferta de trabalho não mostra mais o custo marginal de contratação. • A empresa monopsonista que visa à maximização de lucros contrata até o ponto onde o custo marginal de mão de obra é igual ao valor do produto marginal, ou ponto A na figura. • salário em uma empresa monopsonista, wM, é menos do que o salário competitivo, w*, e também menos do que o valor do produto marginal do trabalhador, VMPM. Assim sendo, em uma empresa monopsonista, os trabalhadores recebem menos do que seu valor do produto marginal e são, neste sentido, “explorados”. Mercados de trabalho não competitivos: monopólio • Agora, consideraremos as decisões de contratação em empresas que influenciam o preço do produto que elas vendem. O exemplo mais simples de tal estrutura de mercado é um monopólio, quando há apenas um vendedor no mercado. • Pelo fato de o preço do produto cair à medida que o monopolista expande a produção, a receita marginal associada com a venda de uma unidade adicional de produto não é igual ao preço do produto p. • Como resultado, a receita marginal é menor que o preço cobrado por aquela última unidade e declina-se à medida que o monopolista tenta vender mais. A Figura 4-22 mostra que a curva da receita marginal (MR) para um monopolista se inclinanegativamente e se situa abaixo da curva de demanda (D). • Uma empresa monopolista que visa à maximização de lucros produz até o ponto onde a receita marginal é igual ao custo marginal de produção (ou ponto A na figura). • Uma empresa monopolista, no entanto, vende menos produtos a um preço mais alto