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Capítulo 6.

Procura Individual e de Mercado

6.1 Efeitos da variação no rendimento

6.2 Efeitos da variação no preço

6.3 Agregação das curvas da procura individuais

6.4 Efeito de substituição e efeito rendimento

6.5 Aplicações
1
Capítulo 6. Procura Individual e de Mercado

6.1 Efeitos da variação no rendimento

Objetivo da análise: analisar as combinações ótimas no consumo dos dois bens quando o
rendimento varia, mantendo-se constantes as preferências do consumidor e os preços de
mercado dos dois bens.

.
2
6.1 Efeitos da variação no rendimento

1. Bem inferior: bem cuja procura diminui com o aumento do rendimento, ceteris paribus,
porque as pessoas têm a possibilidade de substituir este bem por bens de que gostam
mais. A elasticidade rendimento é negativa.
ER < 0
D

2. Bem normal: bem cuja procura aumenta com o aumento do rendimento, ceteris paribus.
A elasticidade rendimento é positiva.
Bem de primeira necessidade: E RD > 0
bem cuja procura aumenta menos que proporcionalmente que o aumento do
rendimento, ceteris paribus,
a elasticidade rendimento é positiva mas inferior a um,
exemplo: maior parte dos bens alimentares. 0 < E <1
D
R
Bem de luxo:
bem cuja procura aumenta mais que proporcionalmente que o aumento do rendimento,
ceteris paribus,
a elasticidade rendimento é superior a um,
exemplo: perfumes.
E D
R >1

Nota: A característica de inferior, normal, etc., não é intrínseca ao bem. É uma


característica económica determinada pelas preferências do consumidor.

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6.1 Efeitos da variação no rendimento

Curva consumo rendimento

A curva consumo rendimento corresponde ao lugar geométrico das combinações


ótimas de X e Y (que maximizam a satisfação do consumidor), para os vários níveis de
rendimento, mantendo-se constantes as preferências do consumidor e os preços de
mercado dos dois bens.

Considere-se os seguintes casos:


(a) X e Y são bens normais.
Y
Na situação em que os bens X e Y
são normais, temos:
à medida que o rendimento aumenta,
mantendo-se constantes as preferências
e PX e PY, a quantidade procurada
de ambos os bens aumenta; C
B
neste caso, a elasticidade rendimento A

da procura dos dois bens é positiva.

Logo, a curva consumo rendimento X


tem inclinação positiva.
4
6.1 Efeitos da variação no rendimento

(b) X é um bem normal e Y é um bem inferior.

Assumindo como constantes as preferências do consumidor e os preços de mercado dos


bens X e Y .

Nesta situação, perante um aumento no rendimento, conclui-se que:


a quantidade procurada ou consumida de Y diminui e a quantidade procurada ou
consumida de X aumenta, ceteris paribus.
logo, a curva consumo rendimento tem inclinação negativa.

. A B C

X 5
6.1 Efeitos da variação no rendimento

(c) Nas situações anteriores, (a) e (b), considerou-se que quer o bem X quer o bem Y são de
um certo tipo (ou inferior, ou normal), para qualquer nível de rendimento do consumidor.

Ora, para a generalidade dos consumidores e para a generalidade dos bens de consumo,
a situação comum é que um bem possa eventualmente ser inferior, de primeira
necessidade ou de luxo, dependendo do nível de rendimento do consumidor.

Assim, no caso genérico, é razoável esperar que o bem seja normal para determinados
níveis de rendimento e passe a ser inferior para níveis de rendimento superiores. Vejamos
então a curva de Engel.

6
Curva de Engel

A curva de Engel do bem X relaciona a


quantidade procurada do bem X (que
maximiza a satisfação do consumidor) com
Y
o rendimento, mantendo-se constantes as
preferências do consumidor e os preços
de mercado dos bens.
C
Os gráficos representam, respetivamente:
- a curva consumo rendimento do A B
consumidor no espaço dos bens X e Y ;
X
- a curva de Engel do bem X ,
R
no espaço de X e R :

- X = f (R)
C
Neste caso, o bem X é:
- bem normal entre os pontos A e B dado B
A
que a curva de Engel tem inclinação positiva;
- bem inferior entre os pontos B e C dado
X
que a curva de Engel tem inclinação negativa.
7
6.1 Efeitos da variação no rendimento

Notas:

1. A classificação de um bem como bem normal ou inferior depende das preferências do


consumidor.

2. Dada a curva de Engel, X = f (R) , pode calcular-se a elasticidade rendimento da procura


individual de um bem num ponto desta função.

3. Para um dado nível de rendimento, se a curva de Engel do bem tem inclinação positiva,
o bem é normal; se a curva de Engel do bem tem inclinação negativa, o bem é inferior.

4. Como sabemos, um bem normal pode ser de primeira necessidade ou de luxo. Para um
dado nível de rendimento, a curvatura/configuração da curva de Engel indica se o bem é
de primeira necessidade ou de luxo.

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6.1 Efeitos da variação no rendimento

(i) No caso de um bem de primeira necessidade, (ii) No caso de um bem de luxo, a curva de
a curva de Engel é convexa no espaço (X,R). Engel é côncava no espaço (X,R).

R R

X X

(iii) Um bem pode ser um bem de primeira necessidade para níveis de rendimento elevados e
um bem de luxo para níveis de rendimento baixos.
Neste caso, a curva de Engel é côncava para níveis de rendimento reduzidos e convexa
para níveis de rendimento mais elevados.
R

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X
6.2 Efeitos da variação no preço

6.2 Efeitos da variação no preço

Consideremos dois bens, X e Y.

Curva consumo preço

A curva consumo preço representa o lugar geométrico das combinações ótimas de X e


Y (que maximizam a satisfação do consumidor) quando o preço de mercado de um bem
varia, mantendo-se constantes as preferências, o rendimento do consumidor e o preço
de mercado do outro bem.

Curva da procura individual

A curva da procura individual do bem X representa a quantidade procurada por este


consumidor do bem X para cada preço de mercado do bem X, mantendo-se constantes
as preferências, o rendimento deste consumidor e os preços de mercado dos outros bens
(neste caso do bem Y).

Admita-se que as procuras individuais dos bens X e Y obedecem à lei da procura.


Considere-se agora dois casos: (a) X e Y são bens complementares
(b) X e Y são bens substitutos.

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6.2 Efeitos da variação no preço

(a) Considere-se, em primeiro lugar, que os bens X e Y são complementares.

Perante uma diminuição no preço do bem X, admitindo que o bem X obedece à lei da
procura, a quantidade procurada do bem X e a procura do bem Y aumentam.

Y
Px Curva da procura PY Curvas da procura
do bem X do bem Y

CCPX
dY1 dY2 dY3

X X Y

11
6.2 Efeitos da variação no preço

(b) Considere-se agora outra situação: os bens X e Y são substitutos


Perante uma diminuição no preço do bem X, admitindo que o bem X obedece à lei da
procura, aumenta a quantidade procurada do bem X mas diminui a procura do bem Y.

Y
Px Curva da procura PY Curvas da
do bem X procura
do bem Y

dY3 dY2 dY1


CCPX

X X Y

Note-se que, quer no caso de bens complementares quer no caso de bens substitutos, à
medida que o preço do bem X diminui:
- o nível de utilidade total aumenta e
- o consumidor consome uma maior quantidade do bem X.
12
6.2 Efeitos da variação no preço

A curva da procura individual do bem X tem as seguintes propriedades:

1. Em cada ponto da curva da procura individual, o consumidor está a maximizar o seu


nível de utilidade.
PX
Ou seja: TMS Y
X =
PY
A TMS XY indica o montante de Y de que o consumidor está disposto a prescindir para
consumir uma unidade adicional de X, mantendo-se o nível de utilidade constante.
Y
Logo, a TMS X mede o benefício marginal resultante do consumo de uma unidade
adicional de X, expresso em unidades do bem Y, ou seja, o preço de reserva de uma
unidade adicional de X, expresso em unidades de Y.

PX
O rácio mede o custo de oportunidade marginal resultante do consumo
PY de uma unidade adicional de X, expresso em unidades de Y.

.
13
6.2 Efeitos da variação no preço

Sabemos que, na escolha da combinação de bens no consumo, o consumidor racional


deverá satisfazer o princípio do custo-benefício: Bmg = Cmg

Com efeito, em cada ponto da curva da procura, observa-se: Bmg = Cmg


Em cada ponto da curva da procura, vimos que: PX
TMS Y
X =
PY

Vamos exemplificar a escolha ótima do consumidor, fazendo variar PX , ceteris


paribus.
Suponha-se que PY = 1 u.m. e PX = 2 u.m.

P 2unid .Y 2 u .m .
TMS = X
Y
X
=
PY 1unid .adicionalX 1u .m .
Ou seja, na combinação ótima:
- 1 unid. adicional de X vale, para o consumidor, 2 unid. de Y
- BmgX = CmgX , ou seja: preço de reserva dessa unid. adicional de X = 2 u.m.
Então, neste caso, PX é o preço de reserva de uma unid. adicional de X e é o custo
marginal de obter uma unid. adicional de X.
14
6.2 Efeitos da variação no preço

Admita-se que PY = 1 u.m. e que, agora, PX =1,5 u.m.

PX 1,5unid .Y
TMS XY = =
PY 1unid .adicionalX

Na combinação ótima, temos agora:


- 1 unid. adicional de X vale para o consumidor 1,5 unid. de Y
- BmgX = CmgX , ou seja: preço de reserva dessa unid. adicional de X = 1,5 u.m.

Então, neste caso: PX = BmgX = CmgX = 1,5 u.m.

Em conclusão: A curva da procura individual do bem X identifica o benefício marginal


ou preço de reserva de uma unidade adicional de X associado a diferentes níveis de
consumo.

Verifica-se à medida que o consumo de X aumenta, o BmgX ou preço de reserva de X


diminui.
15
6.2 Efeitos da variação no preço

2. O nível de utilidade do consumidor varia ao longo da curva.


Quanto menor o preço do bem X, ceteris paribus, maior o nível de utilidade do
consumidor, porque o seu conjunto de possibilidades de consumo expande-se quando o
preço do bem X diminui. Dito de outro modo, o rendimento real ou poder de compra do
consumidor aumenta.

3. Parte-se do pressuposto de que os preços de todos os outros bens não variam ao longo
da curva da procura de X.
Mas podem variar as quantidades procuradas de todos os outros bens, por este
consumidor. Na verdade, aos vários preços representados ao longo de uma curva da
procura de um dado bem poderão corresponder diferentes curvas da procura de um outro
bem ou de outros bens.

.
16
6.2 Efeitos da variação no preço

Inclinação da curva da procura e lei da utilidade marginal decrescente.

O facto de a curva da procura ser negativamente inclinada resulta do facto de a utilidade


marginal ser decrescente.

Como a utilidade das unidades adicionais é decrescente, à medida que o número de


unidades consumidas aumenta, o seu preço de reserva diminui.

Assim, o consumidor compra uma quantidade maior se o preço por unidade do bem for
menor.

Recordemos a regra ótima de escolha do consumidor:

Umg X UmgY
=
PX PY
Admita-se que o consumidor se encontra na combinação de bens de consumo ótima, de
acordo com esta regra.

.
17
6.2 Efeitos da variação no preço

Suponhamos agora uma nova situação:


- o rendimento do consumidor mantém-se,
- o preço do bem X aumenta.

Nessa situação, o consumidor deixa de estar no seu ótimo pois que, agora, a condição de
ótimo deixa de se verificar.
Umg X UmgY
Seja, por exemplo:
PX
< PY
Nesta situação o consumidor aumenta a sua utilidade no consumo se fizer uma afetação
diferente do seu rendimento, designadamente transferindo unidades monetárias para a
aquisição do bem Y. (Note-se que esse aumento é independente de o consumidor passar
a consumir uma menor quantidade de bens em virtude da diminuição do rendimento real.)

Concluímos, então, que PX ↑ ⇒ QX ↓ . Como se vê, a regra de escolha ótima do


consumidor está subjacente à curva da procura decrescente.

Para cada preço de transação no mercado, a quantidade que o consumidor decide


adquirir depende, pois, da utilidade marginal (isto é, da utilidade da última unidade
consumida).

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6.3 Agregação das curvas da procura individuais

6.3 Agregação das curvas da procura individuais.

A curva da procura de mercado corresponde à soma horizontal das curvas da procura


de todos os consumidores.
Ou seja, para cada preço, somam-se as quantidades procuradas de todos os
consumidores.

Observações:
(i) A curva da procura de mercado deslocar-se-á para a direita, quando o número de
consumidores no mercado aumenta.

(ii) Alterações nos fatores que influenciam a curva da procura individual afetam a curva da
procura de mercado. Ou seja, deslocações na curva da procura individual implicam
deslocações na curva da procura de mercado.

(iii) Mesmo no caso de cada uma das curvas da procura individuais ser um segmento de linha
reta, a curva da procura de mercado pode não ser uma linha reta.

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6.3 Agregação das curvas da procura individuais

Exemplo: Procura de trigo no mercado do trigo dos EUA.


Considere um mercado composto de dois segmentos:

Procura doméstica QDd = 1 465 – 88 P 0 ≤ P ≤ 16,65


Procura externa QDe = 1 344 – 138 P 0 ≤ P ≤ 9,74

Deduza analiticamente e represente graficamente a curva da procura de mercado.


Q = 1 465 – 88 P 9,74 ≤ P ≤ 16,65
P Q = 2 809 – 226 P 0 ≤ P < 9,74

16,6

9,7

1 344 1 465 2 809 X


20
6.4 Efeito de substituição e efeito rendimento

6.4 Efeito de substituição e efeito rendimento.


O efeito da variação no preço de um bem sobre a quantidade procurada do próprio bem
ou de outro bem – efeito preço total – pode ser decomposto em dois efeitos:

Efeito de substituição: variação na quantidade procurada de um bem resultante da


variação do preço relativo de um bem, mantendo-se constante o nível de utilidade total (ou
rendimento real) e o preço do outro bem.
Quando o preço de um bem aumenta, os consumidores tendem a substituí-lo por outros
bens que se tornaram relativamente mais baratos face à situação inicial. Corresponde à
reação do consumidor a uma alteração no preço relativo dos bens, mantendo-se a
utilidade total (ou rendimento real) constante.
O efeito não depende do tipo de bem.

Efeito rendimento: variação na quantidade procurada de um bem resultante da variação


do rendimento real, ceteris paribus.
Quando o preço de um bem aumenta, o rendimento real (poder de compra) diminui e os
consumidores tendem a adquirir menos de todos os bens. O conjunto de possibilidades de
consumo diminui. Corresponde à reação do consumidor a uma alteração no seu
rendimento real, mantendo-se constantes os preços relativos dos bens.
O efeito depende do tipo de bem.

21
6.4 Efeito de substituição e efeito rendimento

Vamos analisar graficamente a grandeza do efeito total e a sua decomposição nos efeitos
de substituição e rendimento.

6.4.1 Variação no preço – caso de um bem normal.

Suponha-se uma diminuição do preço do bem X, ceteris paribus.


- Pelo efeito de substituição, a quantidade procurada do bem aumenta;
- Pelo efeito rendimento, se X é um bem normal, a quantidade procurada aumenta.

Assim, o efeito preço total traduz-se num aumento da quantidade procurada do bem X.

22
6.4.1 Variação no preço – caso de um bem normal

Na Figura 1 representa-se a decomposição do efeito preço total entre os efeitos de


substituição e rendimento, no caso de um bem normal.

A combinação ótima inicial é B (X1,Y1), no ponto de tangência da curva de indiferença U1


com a restrição orçamental [ linha RS].

Considere-se uma diminuição de PX. Esta diminuição do preço relativo de X dá origem a


uma nova restrição orçamental [ linha RT ], que se representa por uma rotação da
restrição orçamental inicial sobre o ponto R.

A combinação ótima passa a ser C, no ponto de tangência da curva de indiferença U2


com a nova restrição orçamental [ linha RT ].

No sentido de proceder à análise da decomposição do efeito total nos efeitos de


substituição e rendimento, vamos, em primeiro lugar, isolar o efeito de substituição.

Isto significa fazer a análise do efeito da diminuição do preço relativo do bem X sobre a
quantidade procurada de X como se a utilidade total se mantivesse constante.

23
6.4.1 Variação no preço – caso de um bem normal

O efeito de substituição corresponde a um movimento ao longo da C.I. U1 .


Para isolar o efeito de substituição, vamos traçar uma paralela à nova R.O. [RT].
A linha paralela a RT é PP . Esta: - reflete os novos preços relativos dos bens X e Y ,
- mas é tangente à curva de indiferença inicial.
A restrição orçamental PP, comparativamente com a reta RT, reflete uma diminuição do
rendimento nominal do consumidor que compensa a diminuição do preço do bem X , de
forma que o nível de utilidade total do consumidor continua a ser U1.
O consumidor escolheria a combinação D, consumindo as quantidades ( X2, Y2 ).
A diminuição de PX implica a deslocação da escolha da combinação B para D.
Y
R
Efeito de substituição = X2 – X1
e Y2 – Y1
P
Y1 B Figura 1.
Decomposição
Y2 D do efeito preço total,
Y3 C no caso de bem normal.
U1
U2

24
0 X1 X2 S X3 P T X
6.4.1 Variação no preço – caso de um bem normal

O efeito rendimento corresponde a uma deslocação da R.O. do consumidor e,


consequentemente, a uma deslocação do consumidor para uma outra C.I..
Considerem-se as duas retas de R.O. que refletem o novo preço relativo dos dois bens
(i.e., de PX em termos de PY) : PP e RT .
Estas duas retas de R.O. correspondem a dois níveis de rendimento real. Na verdade,
dado que o bem X é procurado na situação inicial, a diminuição do preço unitário do bem
X vai originar um aumento do rendimento real do consumidor. É este aumento do
rendimento real que está implicitamente representado nessa deslocação da reta de
R.O. de PP para RT .
Y
O aumento do rendimento real
R implica a deslocação da escolha
do ponto D para o ponto C.
P
B Efeito rendimento = X3 – X2
Y1
e Y3 – Y2
Y2 D
C Efeito preço total = X3 – X1
Y3
U1 e Y3 – Y1
U2

25
0 X1 X2 S X3 P T X
6.4.1 Variação no preço – caso de um bem normal

Note-se que:
o efeito de substituição vai sempre no mesmo sentido, independentemente do
tipo de bem: quando aumenta o preço de um bem, o bem que encareceu
relativamente ao outro é substituído pelo que se tornou relativamente mais
barato,
o sentido do efeito rendimento depende do tipo de bens.

No caso do bem X, os efeitos rendimento e o efeito de substituição, em resultado de uma


diminuição de PX, apresentam o mesmo sinal: aumento na quantidade procurada do
bem X.
Pela análise do efeito rendimento, um aumento do rendimento real conduziu a um
aumento em X, logo o bem X é um bem normal.

. 26
6.4.2 Variação no preço – caso de um bem inferior

6.4.2 Variação no preço – caso de um bem inferior.


Suponha-se uma diminuição do preço do bem X, ceteris paribus.
Pelo efeito de substituição, a quantidade procurada do bem aumenta.
Ora, se X é um bem inferior, pelo efeito rendimento, a quantidade procurada diminuirá.
Assim, em teoria, o efeito preço total tem sinal indeterminado (no caso considerado no
gráfico abaixo, o efeito preço total é
Y
positivo).
R
X2 – X1 = efeito de substituição > 0
X3 – X2 = efeito rendimento < 0
P
Y3 C X3 – X1 = efeito total > 0
B
Y1
U2 Figura 2.
D Decomposição do efeito
Y2 preço total, no caso de
bem inferior.
U1

0 X1 X3 X2 S P T X
27
6.4.2 Variação no preço – caso de um bem inferior

Neste caso, a diminuição do preço do bem X resulta num aumento da quantidade


procurada de X uma vez que o efeito de substituição domina o efeito rendimento.

Ou seja, a lei da procura é previsível quer no caso de bem normal, quer no caso de um
bem inferior.
A quantidade procurada tende a aumentar, quando o preço do bem diminui, ceteris
paribus.

28
6.4 Efeito de substituição e efeito rendimento

Notas:

(1)
Empiricamente, em resultado de uma variação do preço e consequente efeito sobre a
variação da quantidade procurada, o que se observa é o efeito total.
Ou seja, a decomposição do efeito total nos seus efeitos de substituição e rendimento
não é observável.

(2)
Embora abstrata, esta decomposição de efeitos é importante. Ilustra a validade dos
fundamentos da teoria do consumidor e vai servir para prever e avaliar os efeitos de
variações de preço nos mercados. Concretamente, vejamos:

(2.1)
Em resultado de uma diminuição (aumento) do preço de um bem, o efeito de
substituição significa sempre uma maior (menor) quantidade procurada do bem.
Isto resulta da convexidade das C.I.. Se o preço do bem X diminui, então:

PX
TMS XY >
PY
29
6.4 Efeito de substituição e efeito rendimento

PX
Para que se verifique a igualdade TMS XY =
PY
Y
(uma das condições de otimização), a TMS X tem de diminuir, o que significa um aumento
da quantidade procurada de X e uma diminuição da quantidade procurada de Y.
Logo, o efeito de substituição é consistente com a lei da procura.

(2.2)
Considere-se uma diminuição do preço do bem X, mantendo-se constante R e PY.
Como sabemos: Efeito preço total = Efeito de substituição + Efeito rendimento

No caso de ser um bem normal, ambos os efeitos são positivos. Logo, a curva da procura
individual tem inclinação negativa.

No caso de ser um bem inferior, o efeito de substituição é positivo e o efeito rendimento é


negativo. Quando o efeito de substituição domina o efeito rendimento, a curva da procura
individual do bem inferior tem inclinação negativa.

Caso o efeito rendimento domine o efeito de substituição, a curva da procura individual do


bem X teria uma inclinação positiva. Este é o caso da paradoxo de Giffen.
30
6.4 Efeito de substituição e efeito rendimento

(3)
Paradoxo do bem Giffen.
Um bem Giffen é um bem cuja curva da procura é positivamente inclinada.
É necessariamente um bem inferior. Mas um bem inferior não é necessariamente um bem
Giffen.
Considere-se que o bem X é um bem Giffen. Suponha-se uma diminuição de PX, ceteris
paribus. Dado que é um bem Giffen, a quantidade procurada diminui.

Vejamos: Pelo efeito de substituição, a quantidade procurada do bem aumentará.


Ora, se pelo efeito preço total a quantidade procurada do bem diminui, então, pelo efeito
rendimento a quantidade procurada teria que diminuir. Como essa diminuição da
quantidade é consequência de um aumento do rendimento real, o bem é necessariamente
um bem inferior.
No caso particular de um bem Giffen, quando o preço do bem X diminui, a quantidade
procurada diminui. Tal implica que a curva da procura deste bem apresente inclinação
positiva. Ou seja, estamos perante um caso especial de violação da lei da procura.
Para que este resultado paradoxal ocorra, terá que ser simultaneamente um bem
fortemente inferior e terá que ter um peso elevado no orçamento/despesa do consumidor.
Ou seja, só assim o efeito rendimento será suficientemente forte para dominar o efeito de
substituição.
31
6.4 Efeito substituição e efeito rendimento

Y
X3 – X2 = efeito rendimento < 0
R
X2 – X1 = efeito substituição > 0
X3 – X1 = efeito total < 0
P
C
Y3
U2

B
Y1
D
Y2
U1

0 X3 X1 X2 S P T X

Figura 3. Decomposição do efeito preço total, no caso de bem Giffen.


32
6.5 Aplicações

Aplicação 1 : (Pindyck & Rubinfeld, 6ª ed., pág. 143)

Suponha que a procura de bilhetes de teatro:


- pelo público em geral é dada por: Qpg = 500 – 5 P 0 ≤ P ≤ 100

- por estudantes é dada por: Qest = 200 – 4 P 0 ≤ P ≤ 50

a) Represente graficamente as duas funções. Se o preço de cada bilhete for de 35 u.m., qual
a quantidade procurada por cada grupo?

b) Calcule a elasticidade preço da procura para cada grupo, para um preço de 35 u.m..

c) Será que está a ser cobrado o preço que permite maximizar a receita da empresa?

d) Quais deverão, então, ser os preços cobrados a cada um dos grupos de forma a
maximizar a receita da empresa?

e) Deduza analiticamente e represente graficamente a curva da procura de mercado.

33
6.5 Aplicações

Resolução:

a) Represente graficamente as duas funções. Se o preço de cada bilhete for de 35 u.m., qual a
quantidade procurada por cada grupo?

P
Qpg (P=35) = 325

Qest (P=35) = 60

100

Curva da procura
em geral
50

35
Curva da procura
estudantes
.
60 100 200 325 500 X
34
6.5 Aplicações

b) Calcule a elasticidade preço da procura para cada grupo, para um preço de 35 u.m..

Público em geral: P = 35 ⇒ Qpg = 325


dQd
E PQd = | dP | = | – 5 . (35 / 325) | = 0,54
Qd
P
Estudantes: P = 35 ⇒ Qest = 60
dQd
E PQd = | dP | = | – 4 . (35 / 60) | = 2,3(3)
Qd
P
c) Será que está a ser cobrado o preço que permite maximizar a receita da empresa?
De forma a aumentar as receitas, o preço cobrado ao público em geral deve aumentar,
uma vez que a elasticidade preço da procura do público em geral é inferior a 1 e, portanto,
mediante um aumento do preço, a receita total aumentará.
O preço cobrado aos estudantes deve diminuir, uma vez que a elasticidade preço da
procura dos estudantes é superior a 1 e, portanto, mediante uma diminuição do preço, a
receita total aumentará.
35
6.5 Aplicações

d) Quais deverão, então, ser os preços cobrados a cada um dos grupos de forma a maximizar a
receita da empresa?

Público em geral:
dQd
P
E PQd = | dP | = | –5 . | = 1 ⇔ 5 P = 500 – 5 P
Qd 500 − 5P
P
P = 50
Q = 250 com RT = 12 500

Estudantes: dQd

E PQd = | dP | = | –4 . P
| = 1 ⇔ 4 P = 200 – 4 P
Qd 200 − 4P
P
P = 25
Q = 100 com RT = 2 500

36
6.5 Aplicações

e) Deduza analiticamente e represente graficamente a curva da procura de mercado.

Q = 500 – 5P 50 ≤ P ≤ 100

Q = 700 – 9P 0 ≤ P < 50

100

50

.
200 500 700 X

37
6.5 Aplicações

Aplicação 2: (Exercício 7 da Sebenta de exercícios nº 3)

O Paulo estabeleceu a seguinte função como representando as suas preferências pelos


bens ‘par de sapatos’ (X) e ‘calças de ganga’ (Y):
U(X,Y) = X Y2

Sabe-se ainda que o Paulo dispõe de uma mesada de 100 u.m. e os preços dos bens X e
Y são, respetivamente 10 e 15 u.m..

1. Determine a combinação ótima de consumo para o nível de rendimento e os preços


dados.
2. Suponha que o preço do bem X se eleva para 20 u.m., permanecendo tudo o resto
constante. Calcule a nova combinação ótima de consumo.
3. Decomponha o efeito preço total da variação do preço do bem X, justificando os cálculos
efetuados.
4. Qual o efeito do aumento do preço do bem X sobre o consumo do bem Y. Qual dos efeitos
é que domina?
5. Determine analiticamente a função procura do bem X deste consumidor.
6 . Calcule a elasticidade arco preço da procura do bem X entre as duas situações óptimas
das alíneas 1) e 2). Interprete o resultado obtido.

38
6.5 Aplicações

Resolução:

1. UmgX Px Y 10
= = Y 1= 4,4(4)
UmgY Py 2X 15
R = X Px + Y Py 100 = 10 X + 15 Y X 1= 3,3(3)

2. UmgX Px' Y
= =
20 Y 3 = 4,4(4)
UmgY Py 2X 15
R = X Px + Y Py 100 = 20 X + 15 Y X 3 = 1,6(6)

3. Nível de utilidade inicial: U0 = 65,8


Ponto de substituição:
UmgX Px ' Y 20
= = Y 2= 5,6
UmgY Py 2X 15
U(X,Y) = 65,8 XY2 = 65,8 X 2 = 2,1
39
6.5 Aplicações

y 10

7.5

5.6
5
4.44

U=65.8

2.5 U=32.9218
RO
RO
Final
Fictícia RO Inicial
0
0 1.6(6) 2.1 2.5 3.3(3) 5 7.5 10

x
40
6.5 Aplicações

Efeito de substituição
X2 – X1 = 2,1 – 3,3(3) = – 1,23(3)
Y2 – Y1 = 5,6 – 4,4(4) = + 1,15

Efeito rendimento
X3 – X’2 = 1,6(6) – 2,1 = – 0,4(3)
Y3 – Y’2 = 4,4(4) – 5,6 = – 1,15

Sinal dos efeitos:


X Y
Efeito Substituição ↓ ↑
Efeito Rendimento ↓ ↓
Efeito Preço Total ↓ --

Classificação dos bens:


(i) X e Y : bens independentes (pelo efeito preço total)
(ii) X : bem normal (pelo efeito rendimento)
Y : bem normal (pelo efeito rendimento)

41
6.5 Aplicações

Efeito de substituição: Reta orçamental fictícia (com os novos preços mas tangente à
curva de indiferença original). Admite-se uma variação no rendimento que compensa a
variação no preço relativo do bem X, de modo a manter-se a utilidade inicial.
Efeito rendimento: Mede o efeito de uma variação no rendimento.

4. O aumento no preço do bem X de 10 u.m. para 20 u.m. não provoca qualquer alteração
na quantidade procurada do bem Y. Tal significa que os efeitos de substituição e
rendimento compensam-se exatamente.

5. Incógnitas: X , Y , PX
Dados do problema: U(X,Y) , R , PY

UmgX PX Y Px
= = 15 Y = 2 X . Px
UmgY PY ' 2X 15
R = X .PX + Y .PY 100 = X PX + 15 Y 100 = 3 X . PX

X = 33,3(3) , Px > 0 Curva da Procura Individual do bem X


Px 42
6.5 Aplicações

∆% X
6. E X
Px = =1
∆ % Px

∆% X = – 66,67%

∆% PX = 66,67%

Entre as duas situações, por cada variação de 1% no preço do bem X, a quantidade


procurada do bem variou também 1% no sentido inverso, mantendo-se tudo o resto
constante. Preço e quantidade procurada variam na mesma proporção mas em sentido
inverso. O bem X respeita a lei da procura (curva da procura negativamente inclinada).

.
43

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