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Sistemas Motrizes: Motores elétricos, sistemas de ar comprimido e de bombeamento


EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E GESTÃO DE ENERGIA

Sistemas Motrizes: Sistemas de Ar Comprimido

PARTE III

Anderson Jucá

Sistemas Motrizes: Motores elétricos, sistemas de ar comprimido e de bombeamento


Sumário
5. Sistemas de Ar Comprimido .................................................................................... 4
5.1. Oferta e demanda............................................................................................................5
5.2. Avaliação do consumo de ar comprimido ..................................................... 13
Referências ..................................................................................................................................... 19
Biografia ........................................................................................................................................... 21

Sistemas Motrizes: Motores elétricos, sistemas de ar comprimido e de bombeamento


5.
Sistemas de Ar Comprimido
O capítulo apresenta dois métodos simples1 para a avaliação de compressores
elétricos, com foco em eficiência energética em complemento ao conteúdo
apresentado na publicação Eficiência Energética em Sistemas de Ar
Comprimido, Manual Prático, publicado pelo Procel

Como ponto de partida, o especialista em eficiência energética deve considerar


duas rotas básicas para a avaliação dos sistemas (ver Figura 1).

EQUILÍBRIO
(a)

Demanda
Central de ar Sistemas
comprimido consumidores
Oferta de
ar

(b) SISTEMAS CONSUMIDORES – CARACTERÍSTICAS DO CONSUMO

Vazamento de ar na linha de distribuição


Uso não eficiente do insumo

Figura 1 – rotas de avaliação: (a) demanda/oferta de ar; (b) uso do ar


comprimido pela planta

A rota (a) considera uma visão geral da relação entre o agente fornecedor de ar
comprimido e os seus consumidores. Nesse contexto, deve-se avaliar a eficácia
da relação oferta/demanda de ar e como ela ocorre.

1 O conteúdo apresentado considera abordagens técnicas relacionadas às experiências absorvidas em


trabalhos de consultoria (Exergias Consultoria em Inteligência Energética - lsilva@exergias.com.br).

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A rota (b) diz respeito a eficácia do uso do ar comprimido pelos agentes
consumidores. É comum observar em plantas industriais vazamentos na linha
de distribuição de ar além de desvios de aplicação do insumo como, por
exemplo, o uso do ar em limpeza de áreas.

5.1. Oferta e demanda

Pelo lado da oferta, deve-se, primeiramente, avaliar as condições operacionais


dos equipamentos que compõem um sistema de ar comprimido (ver Figura 2).
Todos os elementos possuem critérios e controles técnicos de manutenção que
precisam ser cumpridos à risca. Dessa forma, é possível mitigar os custos
operacionais da planta ocasionados, por exemplo, pela presença de particulados
e, ou, pela presença de água líquida no ar comprimido.

Uma central de ar comprimido pode abrigar mais de um compressor. É comum


observar em plantas industriais centrais com vários compressores operando em
conjunto.

Nesse cenário, é importante que se avalie a configuração de operação dos


compressores que leva em conta, dentre outras questões, a ordem de operação
de cada equipamento, em função da demanda de ar.

Figura 2 – Caracterização técnica de um sistema de geração de ar


comprimido. Fonte: Manual prático de eficiência energética Procel.

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Considere, por exemplo, uma instalação dotada de um compressor do tipo VSD
(dotado de inversor de frequência) e outros dois compressores dotados da
estratégia carga e alívio na operação (ver Figura 3).

Figura 3 – Caracterização de compressores em uma central de ar


comprimido.

Suponha que a configuração de operação dos equipamentos siga as


informações apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1 – Exemplo de uma configuração não eficaz para a operação de


compressores operando em uma central de ar comprimido

Parâmetros Compressor (1) Compressor (2) Compressor (3)


VSD CA* CA
Pressão de alívio 7,5 7,0 7,0
[bar]
Pressão de carga 6,0 6,0
[bar]
* CA diz respeito à estratégia de carga e alívio

O parâmetro Pressão de alívio corresponde à pressão de referência na qual os


equipamentos devem entrar em modo de alívio ou devem diminuir a rotação
do compressor. Observe que nessa configuração o compressor VSD será o
último equipamento a atuar.

Um compressor dotado de inversor de frequência opera conforme a demanda


de pressão da linha. Se o consumo de ar comprimido for diminuindo
gradualmente na planta, a pressão em linha tende a aumentar no mesmo ritmo.
Nesse cenário, o compressor VSD diminui a sua rotação de trabalho até que o
valor do parâmetro Pressão de alívio seja menor, nesse caso, que 7,5 bar.

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Os demais compressores operam entre dois patamares, conforme apresentado
na Figura 4.

▪ Em carga, enquanto a pressão em linha sobe e não alcança o valor de


referência para ativar a estratégia de alívio
▪ E em alívio, enquanto a pressão, após alcançar o valor de referência para
o alívio, diminui até o valor de referência para ativar a estratégia de carga.

Observe que ao longo da operação em alívio o compressor mantem um


consumo mínimo da potência nominal2.

ENERGIA CONSUMIDA DURANTE A OPERAÇÃO EM ALÍVIO

Figura 4 – Caracterização da operação de um compressor do tipo carga e


alívio. Fonte: Zenit Compressores.

Retornando às informações apresentadas na Tabela 1, pode-se concluir que o


compressor dotado da tecnologia VSD atuaria para mitigar a pressão em linha
depois que os outros compressores tenham entrado em modo de alívio. Nesse
cenário, o compressor VSD não da forma mais efetiva para mitigar o consumo
de energia elétrica ao longo da operação.

À vista disso, o especialista deve configurar os equipamentos de forma que o


compressor VSD atue em primeiro lugar e os demais atuem em sequência (ver
Tabela 2)

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Consumo de potência para acionar o sistema de lubrificação e vencer as irreversibilidades
dos presentes no funcionamento do equipamento transformadas em ruído e calor, por
exemplo.

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Tabela 2 - Exemplo de uma configuração eficaz para a operação de
compressores operando em uma central de ar comprimido

Parâmetros Compressor (1) Compressor (2) Compressor (3)


VS EA EA
Pressão de alívio 6,0 6,7 6,9
[bar]
Pressão de carga 6,0 6,0
[bar]

Na configuração apresentada na Tabela 2 entende-se que quando a pressão em


linha alcançar 6,0 bar, o compressor VSD atua de forma a manter a pressão
abaixo desse valor. Se, a pressão do circuito permanecer em 6,0 bar, o
compressor diminui a sua rotação até que seja desligado.

Quando isso acontecer e a pressão voltar a subir e alcançar o patamar de 6,7 bar,
o primeiro compressor a aliviar será o (2) EA. Em suma, quando os dois
compressores que operam em carga e alívio estiverem aliviando, o compressor
VSD estará desligado.

A simples reconfiguração dos parâmetros de operação de um grupo de


compressores pode gerar economia de energia com capex igual a zero.

Considerando a realidade da indústria nacional, é comum observar centrais de


ar comprimido operando com compressores do tipo carga e alívio, somente.

Uma avaliação simples desses sistemas permite mensurar o consumo de


energia elétrica na operação em alívio.

Segundo alguns fabricantes, o compressor deve consumir entre 25% a 30% da


sua potência nominal para manter a operação no status de alívio. Portanto, cabe
ao especialista em eficiência energética avaliar se o consumo em alívio desses
equipamentos é elevado ao ponto de se justificar investimentos em
compressores mais eficientes (VSD).

Os parâmetros principais dessa avaliação correspondem ao tempo de operação


da máquina e ao tempo de operação em carga e são facilmente acessados via
Interface Homem Máquina (IHM) dos compressores, conforme apresentado na
Figura 5.

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O cálculo do consumo de energia elétrica para a operação em alívio parte da
diferença entre as respectivas grandezas, que corresponde ao tempo de
operação em alívio.

Como exemplo de avalição, considere uma central de ar comprimido com três


compressores do tipo carga e alívio operando. As características operacionais
dos equipamentos estão apresentadas na Tabela 3.

Tabela 3 – Características operacionais dos compressores

Parâmetros Compressor (1) Compressor (2) Compressor (3)


CA CA CA
Pressão de alívio 6,5 6,7 6,9
[bar]
Pressão de carga 6,0 6,0 6,0
[bar]
Horas totais 20.685 25.420 30.894
Horas em carga 6.188 6.488 22.287

Os compressores estão equipados com um motor de 100cv nominais. Suponha


que os cálculos considerem, ainda, as seguintes premissas:

• No modo em carga será considerado um fator de carga igual a 100% para


os compressores
• No modo em alívio será considerado um fator de carga igual a 30% (ver
Figura 6).
• O rendimento do compressor elétrico é igual a 95% em carga e igual a
93% com 30% de fator de carga.
• Os compressores não possuem secadoras embutidas
• O preço médio da energia pago pela indústria seria em torno de R$ 0,20
/kWh.

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(a)

(b)

Figura 5 – (a) IHM com detalhe à função horas totais e (b) IHM com detalhe
a função horas em carga

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Figura 6 – Comparativo entre tecnologias considerando o percentual
da capacidade de operação por consumo de energia elétrica. Fonte:
Atlascopco.

Nesse cenário, a Tabela 4 apresenta a memória de calculados dos custos


operacionais dos compressores, operando em carga e em alívio.

Tabela 4 – Memória de cálculo dos custos da operação em carga e em alívio


dos compressores elétricos

CP-01M1 CP-02M1

TEMPOS DA OPERAÇÃO TEMPOS DA OPERAÇÃO


Horas totais 20.685 Horas totais 25.420
Horas em carga 6.188 29,9% Horas em carga 6.488 25,5%
Horas em alívio 14.497 70,1% Horas em alívio 18.932 74,5%

CONSUMO E CUSTO EE EM CARGA CONSUMO E CUSTO EE EM CARGA


FC 100% FC 100%
Pot. Eixo_kW 74,57 kW Pot. Eixo_kW 74,57 kW
Rendimento 95% CEE Rendimento 95% CEE
Energia consumida_kWh 485.725 kWh Energia consumida_kWh 509.274 kWh
Custo do kWh 0,2 R$/kWh Custo do kWh 0,2 R$/kWh
Custo da operação 97.145,09 R$/período Custo da operação 101.854,77 R$/período
Tempo de operação do equip. 2,4 anos Tempo de operação do equip. 2,9 anos
Custo da operação por ano 41.140,49 R$/ano Custo da operação por ano 35.100,23 R$/ano

CONSUMO E CUSTO EE EM ALÍVIO CONSUMO E CUSTO EE EM ALÍVIO


FC 20% FC 20%
Pot. Eixo_kW 14,914 kW Pot. Eixo_kW 14,914 kW
Rendimento 92% Rendimento 92%
Energia consumida_kWh 235.009 kWh Energia consumida_kWh 306.904 kWh
Custo do kWh 0,2 R$/kWh Custo do kWh 0,2 R$/kWh
Custo da operação 47.001,80 R$/período Custo da operação 61.380,84 R$/período
Tempo de operação do equip. 2,4 anos Tempo de operação do equip. 2,9 anos
Custo da operação por ano 19.905,04 R$/ano Custo da operação por ano 21.152,48 R$/ano

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Observe que haveria uma economia de energia elétrica de 1.022.160 kWh (62%),
referente ao período total de operação, no lugar da estratégia em alívio, o
compressor deixasse de atuar. O impacto disso nos custos operacionais seriam:

• Na média, os compressores CP-01M1 e CP-02M1 estão operando a quase


dois anos em modo de alívio (70% do tempo), gerando um gasto de R$
42.602,17 por ano, por compressor.
• E o compressor CP-03M1, embora opere há menos tempo em modo de
alívio, 8.607 horas, gera um gasto anual de R$ 41.858,09.

Considerando o preço orientativo3 de R$ 119.000,00 para um compressor de 100


cv, dotado de inversor de frequência, o payback do investimento para a
substituição do compressor com maior custo na operação em alívio seria de 5,6
anos. Nesse exemplo, o payback não foi atrativo, por outro lado, se a vida útil de
um compressor for de 15 anos, o custo a ser evitado com a operação em alívio
após o sexto ano seria de R$ 190.400,00, aproximadamente.

Na prática, o tempo de retorno do investimento deve ser menor que 5,6 anos,
pois o cálculo da estimativa dos ganhos com a economia da energia
contemplaria, ainda, a diferença de consumo de energia elétrica na
operação em carga, entre as tecnologias VSD e carga-alívio (ver Figura 6).

3
Valor de venda em balcão, sem descontos, de um compressor do tipo VSD, sem secador
embarcado.

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∆ consumo com 40%
da capacidade dos
compressores

Figura 7 – Capacidade do compressor pela potência exigida considerando


diferentes tipos de equipamentos com ênfase ao delta de consumo para a
demanda de 40% da capacidade do compressor. Fonte: Atlascopco.

Como estratégia para mensuração do ganho econômico em carga, sugere-se


levantar o histórico de corrente dos respectivos compressores e calcular a
potência de eixo gerada em cada nível de pressão observada na rede de
distribuição. O nível de pressão determinará o percentual da capacidade de
oferta de ar comprimido do equipamento (quanto maior a pressão em linha,
menor a capacidade).

Sobre tecnologias alternativas, há no mercado compressores que operam com


a estratégia on/off, em função da demanda. Ao invés de entrar em alívio, o
compressor é desligado.

Segundo a Ingersoll Rand, fabricante norte americana de compressores


elétricos, o equipamento com estratégia on/off apresenta preço competitivo,
opera de forma econômica, possui confiabilidade, além de vida útil compatível
á vida dos compressores do tipo VSD.

5.2. Avaliação do consumo de ar comprimido

Nessa seção serão apresentados métodos básicos para a mensuração de


ganhos econômicos por meio de ações junto aos consumidores de ar
comprimido.

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Conforme apresentado na Figura 1 (b), há duas rotas a serem avaliadas sob o
ponto de vista. São elas:

• Vazamento em linha
• Consumo não programa do ar comprimido

O inconveniente do vazamento de ar é uma ocorrência comum em plantas


industriais. Há a necessidade de inspeções periódicas dos equipamentos
consumidores e geradores de ar comprimido e há a necessidade de inspeções
periódicas nos circuitos de distribuição do ar, como estratégias de prevenção de
perdas. Contudo, as diretrizes de O&M nem sempre são cumpridas como
deveriam.

Nesse cenário, propõe-se o desenvolvimento de um teste de estanqueidade do


circuito de distribuição de ar comprimido como meio de estimativa das perdas
com vazamento de ar.

O teste consiste, basicamente, em isolar, pressurizar a linha de distribuição de


ar comprimido e observar se há ou não alívio do(s) compressor(es), por um
determinado período. O método leva em conta os seguintes passos:

• Isolar uma área representativa dentre as demais e certificar-se de que


todos os pontos de consumo estejam inoperantes (ver Figura 8).

Central de ar
comprimido

Área 01 Área 02 Área 03

Figura 8 – Caracterização da estratégia para o teste de vazamento na


linha de distribuição de ar comprimido

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• Identificar a demanda nominal por ar comprimido (vazão e pressão de
trabalho e pressão em alívio)
• Selecionar o compressor e operá-lo, observando os cenários
apresentados na Figura 9.

Observou-se na IHM Portanto, a linha não


Cenário 01 - que houve um
aumento de pressão
Observou-se que a
estratégia de alívio
está sendo 100%
pressurizada.
após ∆t mas não se alcançou não foi acionada Indicativo de
a pressão de alívio vazamento severo

há a probabilidade
Alcançou a pressão
Cenário 02 - de operação e
de que não haja
vazamentos na linha
passou a aliviar
após ∆t continuamente
ou que sejam
mínimos

Cenário 03 - Alivia e retorna à


condição de carga de Indica vazamento
após ∆t forma periódica

Figura 9 – Cenarização do teste de estanqueidade de área

O tempo (∆t) em que o compressor deve operar ao longo do teste é relativo.


Deve-se considerar o tamanho da rede de distribuição de ar comprimido
utilizada no teste e a vazão do compressor para os níveis de pressão em rede
que devem ser alcançados.

Para o cenário 01, após o tempo de operação ∆t, pode-se inferir que a demanda
de ar por vazamentos em linha seja significativa. Nesse exemplo, pelo menos
um compressor da central é utilizado para suprir os vazamentos naquela parte
da planta.

O cenário 02 é um excelente indicativo de que o trabalho de conservação do


sistema de distribuição de ar comprimido é realizado de forma correta. Para
corroborar esse cenário, pode-se avaliar o nível de pressão de ar no reservatório,
após o teste. Se o nível se mantiver, de fato não há vazamentos em linha.

A ocorrência do cenário 3, dentre os cenários, é a mais comum. Pode-se


mensurar um custo “representativo” do consumo do ar em vazamentos
considerando os períodos em que o compressor opera em carga. Normalmente,
observa-se um padrão entre a operação em carga e em alívio, no tempo (ver
Figura 10).

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Quando identificado, pode-se calcular o referido custo em carga e relacioná-lo
a perda aproximada com vazamentos em linha.

8
tempos em carga
7,0 bar - alívio
7

6 5,5 bar - carga


5
1º Alívio 2º 3º 4º
bar

2
Início do
1
teste
0
0% 20% 40% 60% 80% 100%
∆t

Figura 10 – Caracterização da operação de um compressor em um teste de


estanqueidade, considerando a possibilidade de vazamentos na linha de
distribuição de ar

O custo representativo considera o montante a ser empenhado para manter a


malha de distribuição de ar comprimida pressurizada, durante o teste. Esse
custo não representa o custo real da operação dos compressores, operando para
suprir a demanda por vazamentos.

Em média, mais de 10% do consumo de energia elétrica de uma central de ar


comprimido está relacionado à vazamentos e a uso não programando do ar.

O consumo não programa do ar comprimido diz respeito ao uso do insumo em


operações ou sistemas não cativos4. A exemplo disso, é comum utilizar jatos de
ar comprimido na limpeza de áreas ou em processos de resfriamento.
Normalmente, o uso não programado do ar emerge de uma necessidade, a
princípio, temporária.

A exemplo disso, a Tabela 5 apresenta o levantamento de pontos não cativos


observados em uma planta industrial, desenvolvida para a extração e
processamento de zinco. Ao todo, 82,5% dos pontos de ar presentes na empresa

4 Uso não definido a projeto

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eram utilizados na limpeza de área, e/ou desobstrução de equipamentos, e na
atuação pneumática (ar de instrumento).

Alternativamente, a tabela apresenta as possíveis medidas de eficiência cabíveis


a cada tipo de uso não cativo.

No caso dessa empresa, mais de 30% do consumo de ar comprimido era


direcionado ao uso não programado. O custo do uso indevido do insumo
corresponde à R$ 873.808,09 por ano, nessa planta. Para mitigar ou extinguir
gasto, a empresa deve investir o montante de R$ 550.000,00 em tecnologias
alternativas, aproximadamente.

Tabela 5 - Distribuição dos pontos de consumo de ar comprimido na linha de


instrumentação e transporte pneumático, considerando as possíveis
medidas de economia, ou proposta para a substituição da fonte de energia

Medidas de economia de
% de
Número energia
Aplicação aplicabilid
de pontos (propostas para a substituição
ade
da fonte de energia)
Sopradores de baixa pressão,
Processo de
18 4,6% ventiladores
resfriamento
elétricos, bocais
Sopradores de baixa pressão e
Atomização5 4 1,0%
bocais atomizadores
Atuação Motores elétricos, bombas
100 25,7%
pneumática6 mecânicas
Ventiladores,
Fluidização7 13 3,3%
sopradores, bocais
Sopradores de baixa pressão,
Limpeza/deso ventiladores
221 56,8%
bstrução elétricos, vassouras/escovas,
bocais
Transporte
33 8,5% Sopradores de elevada pressão
pneumático8

5
Nesse caso, o ar comprimido é utilizado na atomização de água
6
Importante mencionar que 30% dos pontos dedicados a atuação pneumáticas fazem uso
compartilhado com a função de limpeza e desobstrução de equipamentos.
7
Aplicado no processo de fluidização de silos
8 Aplicado na limpeza dos filtros de manga

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Para estimar os ganhos energético e econômicos propôs-se, a princípio,
desenvolver processos de medição de vazão por área da planta e comparar os
resultados com os valores de vazão projetados 9 para cada área, conforme
apresentado a seguir. Como resposta, tem-se o consumo total de ar comprimido
a ser mitigado por ações de eficiência energética.

∑ 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟𝑒𝑠 𝑚𝑒𝑑𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑣𝑎𝑧ã𝑜 (á𝑟𝑒𝑎𝑠 𝑒 𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎𝑠)

− ∑ 𝑉𝑎𝑧õ𝑒𝑠 𝑝𝑟𝑜𝑗𝑒𝑡𝑎𝑑𝑎𝑠 (á𝑟𝑒𝑎𝑠 𝑒 𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎𝑠)


= 𝑉𝑎𝑧ã𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑝𝑜𝑟 á𝑟𝑒𝑎 𝑛ã𝑜 𝑝𝑟𝑜𝑗𝑒𝑡𝑎𝑑𝑎

9
Entende-se por vazões projetadas aqueles valores estimados em projeto de engenharia,
para cada área e sistema consumidor.

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Referências

[1] Balanço Energético Nacional 2019: Ano base 2018 / Empresa de Pesquisa
Energética. - Rio de Janeiro: EPE, 2019.

[2] Fonte: Balanço Energético do Estado de São Paulo 2019 - ano base 2018
[3] O Motor Elétrico: uma história de energia, inteligência e trabalho. Projeto
Editorial UNERJ: texto Joca Wolff. Jaraguá do Sul: Editora UNERJ, 2004.

[4] Halliday, D.; Resnick, R.; Walker, J. Fundamentos da Física 3:


Eletromagnetismo. Livros Técnicos e Científicos, 1996.

[5] HAYT, William H.; BUCK, John A. Eletromagnetismo. 7. ed. São Paulo:
McGraw Hill, 2008.

[6] SIMONE, Gilio Aluisio; CREPPE, Renato Crivellari. Conversão eletromecânica


de energia. São Paulo: Editora Érica, 1999.

[7] FALCONE, Aurio Gilberto. Eletromecânica. São Paulo: Editora Edgar


Blucher, 2004. v.1.

[8] Fitzgerald, A. E.; Kingsley C.; Umans, S. D. Electric Machinery. Bookman, 6ª


Edição, 2006.

[9] Kosow, I. Máquinas Elétricas e Transformadores. Editora Globo, 2000.

[10] CHAPMAN, Stephen J. Fundamentos de máquinas elétricas. 5. Edição.


Porto Alegre: AMGH, 2013.

[11] Toro, V. D. Fundamentos de Máquinas Elétricas. Livros Técnicos e


Científicos, Rio de Janeiro, RJ, 1999.

[12] Mamede Filho, João. Instalações Elétricas Industriais. 9ª edição. Rio de


Janeiro: LTC, 2017.

[13] Eficiência energética: teoria e prática. 1ª edição. Eletrobras, Procel


educação, Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), FUPAI. Itajubá, MG,
2007.
[14] Eficiência energética: fundamentos e aplicações. 1ª edição. Elektro,
Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), Excen, FUPAI. Campinas, SP, 2012.

[15] Guia Operacional de Motores Elétricos, Cepel-Eletrobrás.

[16] Guia Operacional de Acionamentos Eletrônicos, Cepel-Eletrobrás.

[17] Catálogo Geral de Motores Elétricos, WEG. Módulo 1: Comando e Proteção.


WEG

[18] Considerações sobre redimensionamento de motores elétricos de indução.


Artigo publicado na revista Lumière Electric edição nº 166, 2010.

[19] Souza, Danilo Ferreira. Uma avaliação do desempenho de motores elétricos


de indução trifásicos comercializados no Brasil entre 1945-2016 e o impacto
da legislação brasileira. Dissertação de mestrado apresentada no Programa

19

Sistemas Motrizes: Motores elétricos, sistemas de ar comprimido e de bombeamento


de Pós-graduação em Energia do Instituto de Energia e Ambiente da
Universidade de São Paulo. São Paulo, 2018.

[20] Jung, H. K. Golbal movement in developing hegh efficiency motor. Honk


Kong, 2015.

[21] Almeida, A. T. et al. EUP lot 11 motors. Coimbra: ISR - University of, 2008. P.
137.

[22] Conservação de energia: eficiência energética de equipamentos e


instalações. 3ª edição. 1ª edição. Eletrobras, Procel , Universidade Federal de
Itajubá (UNIFEI), FUPAI. Itajubá, MG, 2006.

[23] DT-6 - Motores elétricos assíncronos e síncronos de média tensão -


especificação, características e manutenção.

[24] DT-6 - Motores elétricos assíncronos e síncronos de média tensão -


especificação, características e manutenção. WEG, 2020.

[25] Fatores de influência na Eficiência Energética / Marcos Cortez Brito Leite


Póvoa. - Rio de Janeiro: UFRJ / Escola Politécnica. Projeto de Graduação -
UFRJ / Escola Politécnica / Curso de Engenharia Elétrica, 2014.

[26] Guia Técnico WEG - Motores de indução alimentados por inversores de


frequência PWM. WEG, 2020. Disponível em WWW.weg.net

[27]LOCATELLI, E. Programa de eficientização industrial. Módulo Motor Elétrico.


Eletrobrás/Procel: Rio de Janeiro, 2006.

[28] REZENDE, P. H. O e BISPO, D. Estudo da eficiência energética e


dimensionamento de motores de indução trifásicos a partir da plotagem de
suas curvas características. VI International Conference on Engineering and
Computer Education. Buenos Aires, Argentina, março/2009. p. 956-960.

[29] Yamachita, R.A. Determinação de perdas e rendimento em motores


elétricos empregando termografia infravermelha. Tese
(Doutorado) - Universidade Federal de Itajubá, Itajubá, (MG), 2013.

[30] Ramos, M.C.E.S. Metodologia para avaliação e otimização de motores


elétricos de indução trifásicos visando a conservação de energia em
aplicações industriais. Tese de doutorado - Programa de Pós-Graduação em
Energia da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009.

[31] Castro, R. A. Análise de viabilidade de troca de motores elétricos


superdimensionados e a influência da energia reativa. Dissertação
(mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia
Mecânica. Campinas, SP, 2008.
[32] Caracterização técnica de um sistema de geração de ar comprimido. Fonte:
Manual prático de eficiência energética Procel. Disponível em
http://arquivos.portaldaindustria.com.br/app/conteudo_18/2014/04/22/6281/
ManualArComprimido.pdf>. Acessado em 13/05/2020.

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[33] Caracterização de compressores em uma central de ar comprimido.
Disponível em <https://www.atlascopco.com/pt-
br/compressors/customerbenefit/new-zr-series>. Acessado em 13/05/2020.

[34] Caracterização da operação de um compressor do tipo carga e alívio.


Disponível em:
<http://www.zenitcompressores.com.br/downloads/catalogos-
tecnicos/compressores-estacionarios-com-inversor-de-frequencia.pdf>.
Acessado em 13/05/2020.

[35] Comparativo entre tecnologias considerando o percentual da capacidade


de operação por consumo de energia elétrica. Disponível em:
<https://eficienciaenergetica.atlascopco.com.br/inversor-de-frequencia-
compressor/>. Acessado em 13/05/2020.

[36] Capacidade do compressor pela potência exigida considerando


diferentes tipos de equipamentos com ênfase ao delta de consumo para a
demanda de 40% da capacidade do compressor. Fonte: modificado do
conteúdo acessado via <https://eficienciaenergetica.atlascopco.com.br/inversor-de-
frequencia-compressor/>., Acessado em 13/05/2020.

Biografia

Anderson Juca é Engenheiro Eletricista pela FEG – UNESP, em 1991; Mestre


(1998) e Doutor (2003) em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica da USP;
Master in Energy Business Administration pelo PECE-USP, em 2007;
Especialização em Regulação do Setor de Energia Elétrica pela ABDIB, em 2011;
Especialização em política energética e mercados pelo Instituto Baker da Rice
University, Houston, Texas, USA, no período de 2014 - 2015.

Professor e pesquisador na Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana


Mackenzie, na área de sistemas de potência. Tem experiência de 28 anos de
atuação profissional nas áreas de Geração, Transmissão e Distribuição de
Energia Elétrica; em Assuntos Regulatórios do Setor Elétrico; Comercialização
de Energia Elétrica; em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D); e Eficiência
Energética. Atuou em empresas como a Companhia Energética de São Paulo
(CESP); na Secretaria de Estado de Energia de São Paulo e na Agência
Reguladora de Saneamento e Energia do estado de São Paulo.

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Sistemas Motrizes: Motores elétricos, sistemas de ar comprimido e de bombeamento

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