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DIREITO PROCESSUAL CIVIL I

Casos Práticos

NOÇÕES GERAIS

1. Que espécie de ação proporia, enquanto mandatário de X, nos seguintes casos:

(a) Na aldeia onde X vive, Y vem divulgando que é proprietário do veículo em

que X circula; X assegura que comprou o automóvel a Y, muito embora ainda lhe não

tenha pago a totalidade do preço.

(b) X pretende que, com fundamento em erro sobre o objeto do negócio, seja

anulado o contrato celebrado com Y.

(c) X pretende que o tribunal declare a nulidade de um contrato celebrado com Y.

(d) X pretende receber de Y uma indemnização por danos causados no seu

apartamento em virtude de inundação no imóvel Y.

(e) Perante o incumprimento de Y (promitente-vendedor) da obrigação de vender

a X (promitente-comprador) um imóvel, X pretende, não obstante, comprar o bem.

(f) X (promitente-comprador) pretende obter de Y (promitente-vendedor) a

restituição do sinal em dobro, porquanto este incumpriu o CPCV celebrado entre

ambos.

(g) X pede que o tribunal reconheça que é o proprietário de um veículo que está

na posse de Y e bem assim que Y lhe entregue esse veículo.

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(h) X está incomodado com o ruido proveniente de um bar que labora numa loja

do prédio em que habita, pretendendo que o referido bar seja encerrado.

2. Tendo considerado, por razões essencialmente semelhantes, que autor e réu

litigaram de má fé, o juiz condenou X, autor na ação, numa multa de 3 UC, e Y, S.A.,

seguradora demandada, numa multa de 20 UC. Em sede de recurso, a Y, S.A. alega

que foi violado o princípio da igualdade. (i) Tem razão? (ii) Identifique manifestações

legais do princípio da igualdade.

3. Responda justificadamente:

(a) Em sede de audiência prévia, as partes acordaram na suspensão da instância

por 30 dias, para obtenção de acordo que poria termo ao litígio. Transcorridos os 30

dias, o tribunal notificou as partes para informarem no prazo de 10 dias sobre o

resultado da negociação. Passados 7 meses sobre a referida notificação, nenhuma das

partes respondeu. Consequentemente, o julgador declarou a instância extinta. (i)

Comente a licitude da decisão do julgador e identifique o princípio em que poderá

tê-la fundado. (ii) Identifique outras manifestações legais desse princípio.

(b) X propôs uma ação em que pedia ao tribunal que condenasse Y a cumprir um

contrato que com ele havia celebrado. Y contestou alegando que já havia cumprido.

Houve audiência de julgamento. Enquanto elaborava a sentença, o juiz apercebeu-se

de que as partes não haviam observado a forma que a lei exigia para o negócio

jurídico em causa. Posto isto, proferiu sentença declarando o contrato nulo. X e Y

ficaram surpreendidos e desencantados com o teor da decisão tomada pelo julgador.

Com efeito, se houvessem tido conhecimento daquele entendimento a respeito da

validade do contrato, teriam querido que o mesmo fosse considerado válido.

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Poderiam X e Y ter imposto ao julgador que, para efeito de elaboração da sentença,

tratasse como válido o referido contrato?

4. Responda justificadamente:

(a) Na sentença de uma ação de despejo fundada no não uso do imóvel por

período superior a um ano, o julgador, alicerçando a sua convicção no depoimento

de duas testemunhas, considerou provado que há mais de um ano que as persianas

das janelas do apartamento se encontravam descidas. Em virtude deste facto, o

julgador considerou provado que imóvel não era utilizado por Y, o arrendatário, há

mais de um ano. Em recurso, Y impugnou a decisão relativa à matéria de facto,

argumentando, inter alia, que o autor não tinha alegado na Petição Inicial qualquer

facto respeitante às persianas, estando pois vedado ao tribunal considerar factos com

esse conteúdo na sentença. (i) Analise e comente a conduta do tribunal e os

argumentos de Y à luz dos princípios do processo civil. (ii) Identifique outras

manifestações legais do(s) princípio(s) que considerou relevante(s) na resposta

anterior.

(b) Finda a fase dos articulados, o julgador, em despacho, dispensou a realização

de audiência prévia e proferiu de imediato a decisão de mérito (que pôs termo ao

processo), com fundamento na simplicidade da questão de facto e de direito versada

nos autos e na circunstância de constarem dos autos os elementos suficientes para

proferir decisão de mérito. Y, o réu condenado, surpreendido pela decisão, pretende

dela recorrer. Ensaie os fundamentos do recurso apresentado por Y, identificando

justificadamente os princípios processuais violados pela conduta/decisão do

julgador.

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5. Responda justificadamente:

(a) Numa ação de responsabilidade civil por ato médico, X, autor, requereu ao

tribunal que solicitasse à Y, S.A., proprietária de uma clínica de imagiologia, o

relatório dos exames aí realizados por X. A Y, S.A. recusou juntar esses documentos

aos autos. (i) Supondo que a Y, S.A. não era parte na ação, é esta recusa lícita e, não o

sendo, quais são as suas consequências? (ii) A circunstância de a Y, S.A. ser ré na

ação alteraria, em que termos, a resposta precedente?

(b) Apesar de o réu não ter deduzido reconvenção, o autor apresentou réplica

para infirmar a verificação dos factos alegados na contestação. Colocando-se na

posição do juiz, decida se este articulado deve ser admitido no processo. Se não

admitir, qual o destino do articulado que consta dos autos.

6. Responda justificadamente

(a) Na sentença, o juiz fundou a decisão de improcedência da ação na falta de

alegação de factos cuja verificação era determinante para uma decisão de

procedência. O autor pretende recorrer da sentença, designadamente porque

considera que o juiz deveria tê-lo convidado a aperfeiçoar a PI. Quid iuris?

(b) X propôs ação indemnizatória no dia 01.11.2021, tendo fundado a sua

pretensão num facto ilícito, que imputa à Y, Lda., ocorrido em 09.11.2018. Porquanto

X se equivocou na identificação da sede da Y, Lda., a primeira tentativa de citação

gorou-se. X requereu a correção da indicação da morada de Y, Lda., tendo esta vindo

a ser citada em 05.12.2021. Na contestação, vem a Y, Lda. alegar a prescrição do

direito de X. Quid iuris?

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II

COMPETÊNCIA

7. Responda justificadamente:

(a) A Z, Pty Ltd., sociedade comercial com sede em Camberra, contratou nesta

cidade com a X, Lda., com sede em Braga, a venda de mercadorias no valor de

€100.000, a serem entregues pela Z, Pty Ltd. em Vila Real de Santo António. A Z, Pty,

Ltd. não cumpriu a obrigação de entrega. Admitindo que a X, Lda. propõe, em

Portugal, ação de cumprimento contra a Z, Pty Ltd., deverá o tribunal escolhido

considerar os tribunais portugueses internacionalmente competentes?

(b) X, chinês residente em Pequim, celebrou com Y, japonês residente em Pequim,

contrato-promessa de compra e venda nos termos do qual X prometia vender e Y

prometia comprar um imóvel localizado em Lisboa. Tendo X incumprido este

contrato, Y propôs ação de execução específica no Juízo Central Cível de Lisboa.

(i) São os tribunais portugueses internacionalmente competentes?

(ii) Em caso afirmativo, essa competência é exclusiva?

8. Responda justificadamente

(a) X (português a residir em Portugal) comprou uma bicicleta numa loja

localizada em Portugal de que é titular uma sociedade comercial portuguesa. A

bicicleta havia sido produzida na Alemanha por uma fábrica da sociedade comercial

alemã Y GmbH. Enquanto X fazia um passeio de bicicleta na Alemanha, os raios da

roda dianteira partiram-se, tendo X caído e sofrido prejuízos que computa em

€20.000. X pretende propor ação condenatória contra a Y GmbH. Os tribunais

portugueses são competentes para conhecer esta ação?

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(b) X, residente em Lisboa, propôs ação no Juízo de Trabalho do Tribunal da

Comarca de Lisboa contra Y e Z, portugueses e residentes em Bruxelas, pedindo que

estes fossem condenados a pagar-lhe créditos laborais. Alegou em síntese que foi

contratada por Y e Z como trabalhadora doméstica para prestar trabalho na casa de Y

e Z, em Bruxelas, onde se ocupou da limpeza da casa, de cozinhar e de tratar dos

filhos do casal. Mais alega que denunciou o referido contrato, não lhe tendo pagos os

créditos vencidos na cessação do contrato. O Juízo de Trabalho de Lisboa declarou os

tribunais portugueses internacionalmente incompetentes. Concorda com a decisão?

9. A X, S.A. (sediada em Portugal) celebrou com a Y, Sociedad Anónima (sediada

em Espanha) um contrato mediante o qual a X vendeu 3.000 peças decorativas de

madeira à Y. Na sequência de vários telefonemas para estabelecer o acordo, a Y fez a

encomenda das peças na plataforma eletrónica da X, onde preencheu um formulário

destinado ao efeito. A plataforma eletrónica só permitia concluir a encomenda se o

utilizador, premindo um ícone, declarasse ter lido as condições gerais do contrato. O

representante da Y premiu o ícone sem que tivesse lido as condições gerais. Destas

condições gerais constava que seria competente para qualquer litígio decorrente do

contrato o Tribunal da Comarca de Lisboa.

(a) O referido pacto de jurisdição é válido à luz do nosso ordenamento jurídico?

(b) Admitindo que o pacto jurisdição referido no número precedente não era

válido à luz do nosso ordenamento jurídico, como deveria proceder o tribunal

(português) em que viesse a ser proposta, pela X, S.A. contra a Y, Sociedad Anónima,

uma ação decorrente do mencionado contrato?

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10. Responda justificadamente:

(a) A X, S.A. (sediada em Portugal) e a Y, GmbH (sediada na Alemanha)

celebraram um contrato mediante o qual a Y se obrigava a fornecer software à X. Do

contrato constava a seguinte cláusula: "Para qualquer litígio resultante do presente

contrato são competentes os tribunais de Madrid.". Passados alguns meses sobre a

duração do contrato, a Y propôs ação num tribunal em Munique pedindo que a X

pagasse quanto lhe devia àquela data. A X contestou a ação. Antes do julgamento, as

partes chegaram a acordo pondo termo ao processo. Continuaram a executar o

contrato. Recentemente, a X propôs ação contra a Y, alegando defeito do produto e

pedindo a substituição do mesmo, no Tribunal da Comarca de Lisboa. A Y arguiu a

incompetência internacional dos tribunais portugueses. A X entende que, com a

primeira ação, ambas as partes revogaram o pacto de jurisdição. Quid iuris?

(b) X, Lda., sociedade portuguesa, celebrou com Y, multimilionário venezuelano

com domicílio em Madrid, um contrato de prestação de serviços de cibersegurança,

nos termos do qual a X, Lda. se obrigava a desenvolver e instalar software que

protegesse os sistemas informáticos que Y utilizava na sua atividade, em Caracas, na

Venezuela. Do contrato constava a seguinte cláusula: “Para julgar qualquer litígio

decorrente da celebração, execução ou cessação do contrato são competentes os tribunais de

Caracas”. Tendo os engenheiros da X, Lda. viajado até Caracas para instalar o

software, depararam-se com vários obstáculos à realização do trabalho, de modo que

regressaram a Portugal sem finalizar o serviço. Porque Y recusava efetuar o

pagamento, a X, Lda. propôs ação de cumprimento no Juízo Central Cível de Lisboa.

Podem os tribunais portugueses considerar-se internacionalmente competentes para

conhecer a ação?

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11. Respondendo justificadamente, diga qual é o tribunal português (caso haja

algum) competente para:

(a) Julgar recurso de decisão proferida pelo juízo de competência genérica de

Oleiros, sendo €6.500 o valor da ação.

(b) Julgar ação em que X (residente em Alvalade) pede que Y (residente no Porto)

ou Z, Lda. (com sede em Cascais) sejam condenados a cumprir contrato que deveria

ter sido cumprido Alvalade.

(c) Julgar ação em que se pede a declaração da nulidade, por simulação, do

divórcio e da partilha acordados entre X e Y, residentes no Porto, tendo os referidos

negócios sido celebrados em Matosinhos.

(d) Julgar ação de execução específica respeitante a contrato-promessa cujo objeto

é a venda de imóvel sito em Guimarães, sendo que o comprador tem domicílio em

Ovar e o vendedor, que é uma sociedade comercial, tem sede no México.

12. Tendo por referência o caso precedente, identifique as consequências de as

ações descritas nessa hipótese serem propostas no:

(a) Tribunal da Relação de Évora.

(b) Juízo de Central Cível de Loures

(c) Juízo Central Cível do Porto

(d) Juízo Local Cível de Braga (admitindo que o imóvel estava a ser vendido por

€100.000).

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