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Direito Comercial da empresa

3 de julho de 2023

1. António e Belmiro são co-proprietários de uma livraria instalada num imóvel arrendado
por Carlos, através de escrito particular.
a. Considere a hipótese de o contrato de arrendamento ter sido celebrado no dia
1 de junho de 2019, pelo prazo de 6 anos mediante o pagamento de uma
renda mensal de 1.000,00€. Do contrato celebrado por escrito constavam,
designadamente, as seguintes cláusulas: «O imóvel destina-se exclusivamente
ao exercício da actividade de livraria»; «Os co-proprietários são responsáveis
pelo pagamento das prestações de condomínio»; «Dionísio é fiador subsidiário,
respondendo igualmente pelo pagamento das prestações de condomínio».
Verificado o não pagamento de 4 prestações de condomínio, o senhorio
demanda judicialmente António, Belmiro e Dionísio exigindo solidariamente o
pagamento do montante da dívida. Pode, qualquer deles, opor-se à exigência
do senhorio? (5 valores).
i. António e Belmiro são responsáveis solidariamente nos termos
do artigo 100.º do Código Comercial. Justificar.
ii. O fiador é responsável solidariamente (solidariedade imperfeita)
nos termos do artigo 101.º do Código Comercial. Justificar.
iii. A cláusula contratual que consagra a responsabilidade
subsidiária do fiador é nula. Explicar.
iv. Nenhum dos demandados se pode opor à exigência do senhorio.

b. Os co-proprietários não pagaram as rendas relativas aos meses de janeiro,


fevereiro, março, abril e maio de 2022. O senhorio instaurou a 20 de agosto de
2022, contra os inquilinos, um procedimento especial de despejo com
fundamento na falta de pagamento de rendas. Notificou os inquilinos a 10 de
Junho de 2022 através de contacto pessoal de solicitador e declarou
fundadamente a resolução do contrato. O fiador pagou as rendas em singelo
em 30 de junho. O senhorio exigiu, ainda, aos inquilinos e ao fiador o
pagamento de uma indemnização correspondente a 60% do valor das rendas
em atraso e juros de mora sobre cada uma das rendas em atraso (à taxa
legal). Quid iuris? (5 valores).
i. Incumprimento da obrigação de pagamento de rendas superior a 3
meses – artigo 1083.º/3 do Código Civil;
ii. Resolução extrajudicial fundamentada– artigo 1084.º/2 do Código
Civil.
iii. Notificação prevista no artigo 9.º, n.º 7, do NRAU.
iv. Os arrendatários não fizeram uso da possibilidade prevista no
artigo 1084.º/3 do Código Civil;
v. O fiador – com legitimidade – pagou as rendas em atraso, mas
apenas em singelo;
vi. A 10 de Julho terminava o prazo para pagamento das rendas em
atraso e a indemnização devida de 20% do valor das rendas.
vii. Haveria que desocupar o locado – artigo 1087.º do Código Civil;
viii. O senhorio podia instaurar o procedimento especial de despejo –
artigo 15.º/2/e) do NRAU.
ix. O pedido de indemnização por parte do senhorio não é cumulável
com a resolução – artigo 1041.º/1 do Código Civil;
x. O senhorio pode pedir juros de mora sobre cada uma das rendas
em atraso.
2. Eduardo arrendou a Fernando o imóvel de que era proprietário «para o exercício de
actividade de restauração». O contrato foi celebrado no dia 1 de janeiro de 2020 pelo
prazo de 10 anos, sendo a renda mensal de 1.000,00€ e foi constituída fiadora a
Gabriela, professora primária. No dia 1 de junho de 2022 Fernando vendeu o
estabelecimento comercial (restaurante com a marca «O Bom garfo») a Hélio pelo
preço de 500.000,00€.
a. A garantia mantém-se após a venda do estabelecimento comercial? Justifique
(2 valores).
i. A garantia extingue-se, pois tem natureza intuitu personae.
Explicar.
b. Hélio vem a confrontar-se, logo após a aquisição do estabelecimento, com a
existência das seguintes dívidas conexionadas com o estabelecimento:
i. Um mês de renda ao senhorio;
ii. 25.000€ à segurança social.
Pode Hélio eximir-se ao pagamento destas dívidas? (4 valores).
O regime regra em matéria de trespasse: não transmissão das
dívidas, salvo acordo. Justificar.
Pelas dívidas à segurança social o trespassário é responsável
com o trespassante – regime imperativo. Explicar.
c. Hélio no dia 10 de dezembro de 2022 cede a exploração do seu
estabelecimento comercial – o restaurante «O Bom garfo» de cozinha
tradicional portuguesa – a Irnério pelo prazo de 2 anos e mediante a
remuneração mensal de 1.500,00€ (atenta a abundante clientela de que
dispunha). No dia 20 de dezembro de 2022 Hélio abre um novo restaurante de
cozinha tradicional portuguesa numa rua contígua ao local onde se situa o
restaurante «O Bom grafo». Irnério sente-se prejudicado. Que pode fazer? (4
valores).
i. Contrato de locação do estabelecimento comercial.
ii. Obrigação de não concorrência do locador – base legal (artigos
1031.º/b) e 1037.º/1 do Código Civil). Justificar.
iii. Meios de defesa do locatário.

Duração: 2 horas.

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