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Resolução exercícios Processo Inventário - 2º teste

Caso Prático IV

ALECRIM, viúvo de BEATRIZ, com quem fora casado no regime da comunhão de


adquiridos, faleceu em junho de 2019. ALECRIM deixou três filhas, CLARA, solteira,
maior, DÁNIA casada no regime da comunhão geral de bens com FAUSTO e ELVIRA
casada com GUILHERME no regime da comunhão de adquiridos.

ALECRIM deixou por pagar uma dívida a HILÁRIO, no valor de € 500,00, relativa a um
serviço de reparação automóvel.

ALECRIM fez testamento, em 2015, onde deixou:

• a ISIDRO, seu primo, um automóvel marca mercedes e;

• a JACINTA, sua melhor amiga metade da sua quota disponível.

Em vida, ALECRIM havia feito doação a LEONOR, sua melhor amiga, do seu
apartamento de férias sito em Esposende.

Em abril de 2020, foi requerido inventário para partilha da herança deixada por
ALECRIM.

1. Admitindo que o processo de inventário seguiu os seus trâmites normais e que na

conferência interessados não foi obtido acordo quanto à composição dos quinhões,

o que se seguirá?

R.: Art.1113 CPC, partilha por acordo exige unanimidade.

Não chegaram a acordo. Abrem-se as licitações nos termos do Art.1113 CPC, cada verba é
licitada separadamente, mas que há a possibilidade de se juntarem verbas (1113 nº2 CPC).

Que a licitação tem a estrutura de uma remotaçao. Referir os bens que vão ser objeto de
licitação- são os bens deixados pelo autor da herança. Temos determinadas exclusões no
nº4 do art.1113 CP, também há a possibilidade de vários interessados por acordo em
conjunto licitarem a mesma verba (nº5 do art.1113 CP). Nos bens deixados não se incluem o
bem legado. Redução de liberdades.

2. Diga quem tem o direito de licitar no inventário em causa, e se para licitar é

obrigatório estar representado por advogado ou solicitador?

R.: São admitidos a licitar os interessados diretos da partilha (Art.1113 nº3 CPC). Temos os
herdeiros, a Beatriz herdeira e meeira, as filhas Clara, Dânia e Elvira. Temos a Jacinta
herdeira testemunha (2030 nº2 CPC) e mais ninguém pode licitar. Fausto é interessado direto
na partilha mas não pode licitar, ele está lá ao lado da Dânia (cônjuge). a Dânia é que é
herdeira ela é que tem o quinhão da herança (1113 nº3) tem esta restrição.

É obrigatório estar representado por advogado ou solicitador? Não. Art.1090 CPC. Quando se
está a licitar não se está a decidir questões de direitos + Art.42 parte geral. As partes podem

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estar por si que se aplica, face ao art.549 nº1 CPC.

3. Se os interessados acordam por unanimidade na composição dos quinhões de cada

um deles, apenas divergindo quanto ao valor de adjudicação de determinado bem,

como poderá ser ultrapassado o problema?

R.: Não basta decidirem a composição também é necessário determinar os valores


(adjudicação

dos bens) - Art.1111 nº2 a) CPC.

Como é que resolve? Tem de se pedir a avaliação nos termos do art.1114 CPC. Neste
momento há uma suspensão da conferência de interessados, aguarda-se pelo resultado da
avaliação.

Subsidiariamente serão aplicadas as regras do princípio do Código Civil- perícia realizada


apenas por um perito, mas que pode ser colegial em determinados casos e também temos
um prazo genérico de 30 dias. O juiz mediante o nº de bens em causa pode decidir
complexidade e pode decidir atribuir outro prazo ao perito ou peritos. Em princípio 30 dias
para ser célere.

4. Suponha que está relacionado um prédio rústico na proporção de dois terços, e que
a parte restante desse prédio pertence a CLARA, por sucessão de sua mãe BEATRIZ. O
que poderá fazer CLARA para ficar com a propriedade exclusiva do prédio?

R.: Relativamente à outra parte, ele ficou adjudicado ao Alecrim.

Clara pretende ficar com a propriedade exclusiva do prédio. Confirmar se cumpre os


pressupostos do art.1115 nº1 CPC:

- Trata-se de um bem indivisível; SIM

- Um dos interessados é comproprietário; SIM

- Tem de ser comproprietário de metade do bem; NÃO

- Título de aquisição; SIM

Falha um pressuposto: Ter metade do bem. Ela só tem 1/3 parte porque as outras 2/3 partes

pertencem à herança e, portanto, ela não pode pedir a adjudicação, não tem qualquer

preferência em relação aos interessados.

- A única hipótese pode ser por acordo de todos (unanimidade) 1111 nº1/2 alínea a). Se não

houver acordo por unanimidade vai-se abrir licitação sobre este bem/outros e ela pode pedir

licitar e ela tem que oferecer maior valor/preço para que o bem lhe seja adjudicado.

CASO PRÁTICO V

ARNALDO faleceu em junho de 2017, no estado de casado com BERTA no regime da

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comunhão de adquiridos. ARNALDO deixou três filhos, todos eles nascidos de um
anterior casamento: CELSO, DIOGO e EDITE.

Em 2016, ARNALDO fez testamento no qual contemplou o seu afilhado HILÁRIO com o
seu barcode recreio, marca Yamaha.

Tendo saído frustradas todas as tentativas para realização da partilha da herança de


ARNALDO por acordo, em fevereiro de 2022, foi instaurado processo de inventário, que
prosseguiu os seus trâmites com a marcação da conferência de interessados.

1. No entender de BERTA, a deixa testamentaria do barco de recreio a favor de


HILÁRIO prejudica a sucessão legitimária. Poderá BERTA reagir?

R.: No entender de B, a deixa testamentária do barco de recheio a favor de H prejudica a


sucessão legimária, o que, se confirmado, esta deixa seria então uma liberdade inoficiosa.

Neste sentido, importa saber se poderá B reagir, face a esta deixa testamentária que
considera ser inoficiosa.

Primeiramente, para responder a esta questão, teremos de verificar se B terá legitimidade


para reagir, se tem fundamentos para reagir, se ainda vai a tempo e se o momento
processual o permite.

Ora, importa referir que B pretende reagir face a uma deixa testamentária que na realidade
é um legado, tendo em conta que é um bem certo e determinado (2030º/2 CC). Neste
sentido, o 1118º e 1119º do CPC regulam o incidente da inoficiosidade das liberalidades
feitas pelo 'de cujus' (ou, autor da sucessão).

Nos termos do 1118º CPC, qualquer herdeiro legitimário pode requerer a redução das
liberalidades inoficiosas. Ora, B, sendo conjugue do falecido, num regime de comunhão, é
herdeiro legitimário (2157º e 2133º/1 al. a) CC, 1118º CPC e 2169º CC), sendo B também
uma interessada direta na partilha (1085º/1 al. a) CPC).

Pode então B requerer, no confronto de H (enquanto legatário), até à abertura das licitações,
a redução do legado, na medida em que o considera viciado por inoficiosidade.

Estando então o processo numa fase prévia à conferência de interessados, B ainda vai a
tempo de apresentar o requerimento, que deverá ser fundado, especificando os valores quer
dos bens da herança, quer do bem legado, que justifiquem a redução pretendida, sendo de
seguida ouvidos os restantes herdeiros legitimários, que terão 10 dias para se pronunciar
(293º/2 ex vi 1091º/1 CPC) e também o legatário H. (1118º/2 CPC)

Na sequência do requerimento irá se proceder à avaliação de bens, se esta ainda não tiver
sido realizada no processo, nos termos do 1118/3 CPC, que pode ser determinada pelo juíz
(oficiosamente) ou a pedido de qualquer herdeiro.

A decisão sobre a existência ou inexistência da inoficiosidade e respetiva restituição (ou


não) do bem, no todo ou em parte, caberá ao juiz.

2. No seguimento da questão anterior, admita que se verifica que dos € 50.000,00 do


valor do barco de recreio, € 20.000,00 ofendem as legítimas. Qual a consequência que a
decisão judicial ditará para HILÁRIO?

R.: Neste caso, estaria comprovada a existência de uma inoficiosidade, ofendendo a


sucessão legitimária no valor de 20.000 €, pelo que H seria condenado a repor a parte que

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afeta a legítiima (1119º/1 CPC)

Tratando-se de um bem indivisível (barco de recreio), o artigo 1119º/3 CPC e 2174º/2 , 1ª


parte do CC, apenas se aplicaria se o valor da redução fosse superior à metade do valor do
bem (onde teria que repor o bem), caso que não se aplica (ora, 50.000€/2=25.000€ > 20.000
€). Por outro lado, o 1119º/4 CPC e 2174/2, 2ª parte CC, garante que tratando-se de bem
indivisível e, no caso de o valor da redução não exceder a metade do valor do bem, o
legatário H tem de devolver o valor que afeta a legítima, o que no caso seriam os 20.000€.

3. HILÁRIO não se conforma com a aludida decisão judicial, pois considera, tal como
invocou no momento processual oportuno, que a pretensão de BERTA assenta num
direito que já não existe por razão de caducidade. HILÁRIO dispõe de algum meio para
tentar reverter essa decisão?

R.: Como aqui consta, na presente situação, o juíz já teria decidido pela inoficiosidade, tendo
H invocado, na oposição, assim como já a tinha invocado em momento processual oportuno,
que B não poderia requerer a redução de liberalidades, tendo em conta que o prazo para tal
já teria caducado.

Segundo o art. 2178º CC, a ação de redução de liberalidades inoficiosas caduca em 2 anos a
contar da aceitação da herança por herdeiro legitimário.

H pretende então recorrer da decição judicial do juíz de inventário.

O 1123º CPC impõe regime próprio de recursos no processo de inventário, remetendo o seu
nº1 para as regras gerais previstas nos arts. 627º e ss do CPC.

Ora, o 629º/1 diz que para se recorrer é necessário que esteja cumprido o pressuposto do
valor, devendo o valor do processo ser igual ou superior a 5.000,01€, estando este cumprido.

Estamos num caso de recurso autónomo (possibilidade de recorrer da decisão de imediato)


ou recurso conjunto (1123º/4 e 5 CPC)?

A regra é a apelação conjunta, pois apenas será possível recorrer à apelação autónoma nos
casos previstos na lei (1123/2 CPC - "Ainda" - + artigo 644º/1 e 2 CPC).

Ora, a presente situação não se enquadra em nenhuma alínea do 1123/2 CPC, nem no artigo
644º/1 e 2 CPC, pelo que estáriamos num caso de recurso conjunto.

Estando num caso de recurso conjunto, interessa saber o momento em que foi proferida a
decisão que se pretende impugnar, em virtude da aplicação do nº4 ou do nº5 do artigo 1123
CPC.

No caso em concreto, a decisão foi proferida depois, na medida em que já estamos na


conferência de interessados que, nos termos do 1110º/2 CPC, é posterior ao despacho de
saneamento do processo, pelo que se aplica o 1123º/5 CPC.

Desta forma, H só poderá recorrer depois que seja realizada sentença homologatória da
partilha, dispondo do prazo de 30 dias para recorrer (638º/1 ex vi 1123º/1 CPC).

4. Suponha que, no mapa da partilha elaborado e do qual os interessados foram


notificados na data de hoje, todos os bens a partilhar são adjudicados a CELSO, de
acordo com o sucedido na conferência de interessados. BERTA pretende que lhe seja
adjudicado o imóvel em que residia com ARNALDO. A pretensão de BERTA é viável?

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R.: Poderá B fazer algo para ainda ficar com o imóvel em que residia?

Do enunciado consta que já foi elaborado mapa da partilha, que deverá ser elaborado com as
regras constantes do artigo 1120º CPC.

O 1120º/4 CPC, na sua alínea a), garante que no preenchimento dos quinhões, os bens
licitados são adjudicados ao respetivo licitante, acontecendo isto na fase da conferência de
interessados (1116º CPC).

Ora, a fase da conferência de interessados já passou, pois estamos agora na fase da


notificação do mapa da partilha.

Na fase da conferência de interessados, B poderia invocar, estando preenchidos os


pressupostos, oposição ao excesso de licitação, o que não significaria, contudo, que
garantidamente ficasse com o imóvel, pois estaria dependente de C.

Deste modo, B já não poderia ficar com o imóvel, pois já teria passado o prazo para opor-se à
adjudicação do imóvel a C. Poderia apenas pedir que lhe fossem adjudicados os bens que
ainda não o tivessem sido (no caso, todos os bens já foram ajudicados) ou, reclamar, no
prazo de 10 dias (149/1 ex vi 599/1 CPC), o pagamento de tornas que são devidas a C
(1121º/1 CPC).

CASO PRÁTICO VI

1. Arménio, com 50 anos e Benedita, com 45 anos, casados desde 1999 sem
convenção antenupcial, divorciaram-se em 2018, por mútuo consentimento, na
Conservatória do Registo Civil de Braga.

Em 2000, o casal comprou um imóvel situado em Vila Verde, no qual habitou durante a
constância do casamento. Sobre esse imóvel encontra-se registada hipoteca a favor
do Banco X., para garantia do valor mutuado.

No mesmo ano, Arménio adquiriu, por sucessão de seu avô, um prédio rústico situado
em Barcelos, e comprou um automóvel.

Após o divórcio, Arménio voltou para a casa dos pais, que vivem em Vila Nova de Gaia,
e Benedita permaneceu no dito imóvel.

Em junho de 2022, foi requerido inventário no tribunal competente com vista à


realização da partilha do casal.

1.1 Quem poderá ter dado início ao processo? Quem tem legitimidade para nele
intervir?

R.: Estamos perante um processo de inventário destinado à partilha dos bens comuns do
casal na sequência de um divórcio nos termos do artigo 1082 al. d), 1133º e 1134º CPC e
1689º CC.

Neste inventário tem legitimidade para requerer qualquer um dos cônjugues (1133º/1 CPC).

Quando falamos do artigo 1133º e 1134º CPC, falamos que tudo o que não aqui estiver
previsto, se aplicará as normas do Inventário destinado à partilha da herança (1084º/2 CPC)

Relativamente à legitimidade para intervir no processo, nos termos do 1085º/1 al. a) CPC,
tem legitimidade para intervir os interessados diretos na partilha, que no caso em concreto

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serão os cônjugues (1689ºCC).

Poderá ainda intervir no processo o Banco (1085/2 al.b) CPC), na medida em que é um
credor do património comum do casal (detêm uma hipoteca sobre imóvel do casal).

1.2 Em que tribunal foi requerido o inventário?

R.: Nos termos do 60º/2 CPC, na ordem interna, a jurisdição reparte-se pelos diferentes
tribunais segundo a matéria, o valor da causa, a hierarquia judiciária e o território.

Em razão da hierarquia, é competente o tribunal da 1ª instância (67º CPC)

Em razão da matéria será competente o tribunal judicial (64º CPC e 40º LOSJ) de comarca
do juízo de família e menores (79º, 81º/3 al. g) e 122º/2 LOSJ).

Em razão do território, a regra geral é a do tribunal do domícilio do réu, contudo, no caso em


concreto não existe nenhum réu, apenas requerente e requerido. Assim sendo, se A tivesse
requerido o processo, o tribunal competente seria o do domícilio de B (vive em Vila Verde),
pelo que seria competente o juízo de família e menores de Braga, do tribunal judicial da
comarca de Braga (Mapa III, em anexo ao ROFT). Se B tivesse requerido o processo, o
tribunal competente seria o do domícilio de A (vive em V.N Gaia), pelo que seria competente
o juízo de família e menores de V.N Gaia.

1.3 Suponha que, na relação de bens apresentada no processo de inventário por


Arménio, apenas consta o imóvel situado em Vila Verde. Terá Benedita fundamento
para reagir? Em caso afirmativo, em que momento e através de que mecanismo
processual o deverá fazer?

R.: Tendo em conta a idade do ex casal, A enquanto cônjugue mais velho é o cabeça de
casal (1133º/2 CPC), pelo que deve apresentar a relação de todos os bens sujeitos a
inventário, acompanhados de todos os documentos comprovativos (1097º/3 al. b) CPC).

Ora, consta do enunciado que A apenas identificou um imóvel sito em Vila Verde, que era a
casa de morada de famíilia.

O regime de casamento é o da comunhão de adquiritos (1717º CC), pelo que existirão bens
próprios e bens comuns do casal.

Relativamente ao automóvel, B poderia reagir, pois este foi comprado na constância do


casamento, pelo que será um bem comum do casal (1724 al.b) CC). Deste modo, Benedita
deveria reclamar para a relação de bens, dispondo de 30 dias a contar da citação para o
mesmo (1104º/1 al. d) CPC), seguindo-se a tramitação subsequente do 1105º/1 a 3 do CPC.

1.4 Na sequência da questão anterior, admita que a decisão do tribunal determina a


inclusão do automóvel na relação de bens, e que Arménio não se conforma com essa
decisão. No entender de Arménio, existe prova bastante de que comprou esse bem
com dinheiro próprio. Poderá Arménio interpor apelação autónoma dessa decisão
judicial?

R.: O artigo 1723º do CC admite a possibilidade de, aapesar de um bem ser adquirido na
constância do casamento, o mesmo conservar a qualidade de bem próprio.

Ora, do enunciado consta que o juíz já decidiu pela inclusão do automóvel na relação de
bens, pelo que, querendo reagir face a esta, A deveria interpor recurso da decisão do juíz.

O regime dos recursos encontra-se previsto no art. 1123º CPC, sendo que o nº1 deste artigo

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remete para os arts 627º e ss CPC, nomeadamente para o 629º/1 CPC que diz que para se
recorrer é necessário que esteja cumprido o pressuposto do valor, devendo o valor do
processo ser igual ou superior a 5.000,01€.

Do enunciado não consta qual o valor do automóvel. Desde que esteja cumprido o
pressuposto do valor, importa saber se poderá apelar de forma autónoma ou conjunta.

Ora, a apelação conjunta constitui o regime regra, sendo os casos da apelação autónoma
excecionais, estando previstos os últimos no artigo 1123º/2 CPC e 644º/1 e 2 CPC.

Estando num caso de recurso conjunto, interessa saber o momento em que foi proferida a
decisão que se pretende impugnar, em virtude da aplicação do nº4 ou do nº5 do artigo 1123
CPC.

No caso, a decisão do juíz foi preferida até a fase do saneamento do processo (1110/1 al. a)
CPC).

Assim sendo, o recurso terá que ser junto com a decisão do saneamento, nos termos do
1123º/4 CPC.

Deste modo, A deverá apresentar recurso no prazo de 15 dias, para recorrer deste despacho
e, conjuntamente da decisão deste incidente da reclamação contra a relação de bens (638º
ex vi 644º/2 al. i) CPC).

Por fim, importa referir que nos termos do 1123º/3 CPC, o efeito deste recurso será, em
regra, meramente devolutivo pelo 647º CPC, podendo, no entanto, o juíz atribuir efeito
suspensivo ao recurso.

CASO PRÁTICO VII

Adalberto, casado com Benilde, faleceu em junho de 2018. Adalberto e Benilde tiveram
duas filhas, Cândida e Delmira, que são solteiras maiores.

A Adalberto teve outro filho, fruto de uma relação extraconjugal com Elsa: Filinto,
solteiro maior.

Em testamento, Adalberto deixou a sua quota disponível a Benilde.

Em maio de 2022, foi requerido inventário para partilha da herança de Adalberto.

1. Benilde constata que no mapa da partilha está omitida a deixa testamentária com
que Adalberto a contemplou. Poderá Benilde reagir?

⦁ R.: Vamos assumir que para trás está tudo bem. Neste despacho Benilde

constata que o mapa não está em conformidade de acordo com o art. 1120 nº 1
CPC nesta proposta do mapa de partilha em que os interessados podem acordar
os direitos de cada interessado, relativamente às cotas elas estão já
determinadas no despacho determinado da partilha nos termos do art. 1110 nº 2
a) CPC.

Benilde recebeu a quota disponível do autor da sucessão e essa disposição


testamentária já foi considerada no despacho determinado da partilha no

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momento em que forem fixados os quinhões hereditários. Agora o mapa da
partilha apresenta uma irregularidade, sendo assim Benilde pode reclamar nos
termos do art. 1120 nº5 e no prazo de 10 dias a contar da notificação, nos termos
do art. 149º nº1 por força do art. 549º nº1 CPC. Neste prazo, ela deve reclamar
contra o mapa da partilha com este fundamento de que o mapa da partilha não
está em conformidade com o despacho determinado da partilha em que foram
fixados os quinhões hereditários de cada um dos interessados (as quotas ideais).

2. Estando pendente recurso interposto da sentença homologatória da partilha,


Benilde pretende registar em seu nome o prédio urbano que lhe foi adjudicado nessa
partilha. A pretensão de Benilde é viável?

⦁ R.: A sentença homologatória da partilha ainda não transitou em julgado, mas

nos termos do art. 1124º a lei prevê a possibilidade de os interessados


receberem os bens que lhe tenham sido adjudicados antes do transito em
julgado, sendo que para isso é necessário que mostrem interesse credível – o
juiz é que vai analisar o pedido da Benilde e se entender que ela tem interesse
credível vai autorizar a que seja emitida a certidão do inventário para que ela
possa proceder ao registo. No caso essa certidão do inventário que é o título que
vai ser passado para o registo e posse dos bens imóveis é necessário que desse
título conste que a decisão não é definitiva nos termos da alínea a) do art. 1124º
CPC e o conservador não pode registar, só se converter o registo provisório em
definitivo até que seja apresentado na conservatória um despacho a autorizar a
conversão do registo em definitivo.

Exemplo : Porque é que a Benilde quer registar neste momento? Ela pode querer
vender o bem e quem quer comprar só quer neste momento, mas também
sabem que os registos ficam provisórios art. 1124º nº1 a) e nº2 CPC.

3. Admita que Benilde ao pretender registar o prédio urbano que lhe foi adjudicado por
decisão homologatória da partilha transitada em julgado, apercebeu-se de que o
mesmo se encontrava no processo como “não descrito” na Conservatória do Registo
Predial quando, como resulta de certidão bastante, se encontra descrito. Como
resolver?

R.: O prédio está omisso, mas na verdade está descrito.

Nos termos do art. 1126º CPC é possível pedir a “emenda” da partilha no próprio
inventário, um desses fundamentos é ter havido erro na descrição dos bens

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(existe fundamento para emenda) depois temos que dizer que a emenda pode
ser realizada por acordo de todos os interessados nos termos do art. 1126º nº1
CPC, não há prazo para se pedir a emenda. Se não existir acordo entre todos os
interessados, a Benilde nos termos do art.1126º nº2 CPC tem de requerer
fundamentalmente também no próprio processo de inventário num prazo de 1
ano a contar do conhecimento do erro depois da decisão homologatória da
partilha art. 1091º nº1 que remete para o art. 292º e art. 295º (Tramitação do
processo).

Benilde tem que apresentar um requerimento com o seu pedido e tem que juntar
a prova (certidão predial) pode haver oposição no prazo de 10 dias e depois o
juiz terá que decidir a questão.

Caso Prático VIII

Cícero e Dina são casados sob o regime da comunhão de adquiridos desde


2015.

No âmbito de uma ação executiva movida contra Dina, que corre termos no
Juizo de

Execução do Porto, face à inexistência de bens próprios desta, o agente de


execução

penhorou uma moradia, situada em Matosinhos, que Cícero e Dina


compraram um ano após terem casado, para servir de casa de morada de
família.

Cícero foi hoje citado para a execução, e pretende instaurar processo de


inventário para separação de meações.

1. Aprecie a pretensão de Cícero.

R.: O Cícero foi citado para a execução mas não na qualidade de executado, ele
é cônjuge da executada, ele foi citado nos termos do art. 786º nº1 a) + 740º CPC.
A execução foi movida apenas contra um cônjuge, foram penhorados bens
comuns do casal porque não havia bens próprios do executado e então o
cônjuge é citado para no prazo de 20 dias requerer a suspensão dos bens e esse
requerimento é o requerimento de inventário, sob pena de execução prosseguir
sobre o bem comum. Citação → 740º/1+ 786º/1 a) parte final, também está
previsto no 1135º (processo inventário) refere-se à separação de bens comuns

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do casal e separação por causa da insolvência de bem dos cônjuges. 1135º/1
remete para o regime do processo inventário em consequência do processo de
separação divórcio (1133º, 1134º). Será também necessário recorrer o regime
deferido ao inventário de partilha de herança. 1984º/2 CPC a pretensão de
Cícero é separar as meações 1082º al. d). 740º/2. A execução foi intentada
apenas entre o cônjuge e ele consegue separar a sua meação e enquanto a
execução não avançar ele vai resolver esta questão no processo de

inventário.

2. Analise o pressuposto processual da competência para conhecer deste


processo.

R.: A regra está prevista no 1083º/2, em que o processo pode ser requerido à
escolha do interessado que o instaura mediante acordo entre todos os
interessados, nos tribunais judiciais ou cartórios.

Esta regra apresenta a exceção aos casos em que a competência é exclusiva


dos tribunais.

1083º/1 al. b) CPC. O processo de inventário vai ser instaurado porque existe um
processo de execução e a lei processual dá esta possibilidade. Só pode ser
proposta este processo de inventário porque existe um processo de execução e
porque realmente foi penhorado um bem comum do casal por uma execução
movida contra um dos cônjuges. A competência em causa é do juiz de execução
do Porto. É uma competência por conexão. De acordo com o 1083º/1 al. b) CPC,
a competência é do tribunal onde corre a execução. Temos uma dependência do
processo + 1135º CPC.

3. Nesse processo, Cícero pretende que lhe seja adjudicado o imóvel. Tal
poderá acontecer?

R.: Art.1135º/4 CPC estabelece que o cônjuge do executado tem o direito de


escolha. Cícero deve exercer esse direito, mas temos que advertir Cícero que se
usar esse direito, os credores serão notificados da escolha e podem reclamar
fundamentalmente contra ela. → 1135º/5. CPC

O bem tem de ser avaliado → 1135º/6. Cícero pode desistir da escolha →


1135º/7.

Ele pretende que lhe seja adjudicado o imóvel, vai exercer o direito de escolha e

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depois pode acontecer ou não a reclamação dos credores, ele pode desistir ou
não da escolha, mas enquanto Cícero não pagar as tornas devidas, a penhora
vai manter-se. 740º/2 CPC

CASO PRÁTICO IX

Anália, solteira, maior, faleceu em 12 de janeiro de 2022.

Anália viveu com Berilo, já falecido àquela data, uma relação amorosa
duradoura, da qual nasceram três filhas: Carminda, Dinarta, e Elsinda, todas
solteiras, maiores.

Anália deixou testamento em que deserdou a sua filha Carminda, com


fundamento em recusa, injustificada, a prestar-lhe os devidos alimentos,
obrigação a que aquela estava vinculada por decisão judicial transitada em
julgado.

Em dezembro de 2022, Dinarta requereu, em cartório notarial competente,


processo de inventário para partilha dos diversos bens móveis e imóveis que
compõem a herança deixada por sua mãe.

Dinarta apenas se indicou a si e à sua irmã Elsinda como interessadas no


processo.

1. Poderia ter sido requerido processo de inventário notarial neste caso?

R.: O presente caso prático remete-nos para uma situação de aplicação da lei no
tempo.

O processo de inventário foi instaurado a Dezembro de 2022, já na vigência do atual


regime, que nos termos do artigo 11º e 15º da Lei 117/2019 de 13 Setembro, entrou
em vigor a 1 de janeiro de 2020.

Este novo regime vem estabelecer uma nova repartição de competências entre os
tribunais e os cartórios notariais, conforme consta no art. 1083º CPC.

A regra é a da liberdade de escolha por parte do interessado (1083º/2 CPC).


Todavia, há casos em que a competência é exclusiva dos tribunais judiciais, casos
esses que se encontram previstos no nº1 do artigo 1083º CPC.

Deste modo, importa verificar se haverá liberdade de escolha, podendo então


Dinarta, como fez, requerer o processo de inventário em cartório notarial, ou se
estamos num caso de competência exclusiva dos tribunais judiciais.

Ora, a alínea a) do 1083º/1 CPC não se aplica, na medida em que não há, no caso
em concreto, menores, maiores acompanhados, nem ausentes. A alínea b) do
mesmo artigo também não se aplica, pois o processo em causa não está
dependente de outro processo judicial. Por fim, a alínea c) também não aplicar-se-á,
na medida em que do enunciado consta que quem requereu o processo foi Dinarta

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(e não o MP).

Deste modo, está em vigência a liberdade de escolha de tribunal judicial ou cartório


notarial, pelo que poderia ter sido proposto o processo em cartório notarial.

Independentemente da sua resposta à questão anterior, considere que o


processo

prosseguiu os seus tramites no cartório notarial em que foi requerido, e que,


tendo o

notário proferido despacho de saneamento do processo, Carminda apresentou

requerimento em que alegou ser herdeira de Anália, juntando prova de que


intentou no

tribunal ação para impugnação da sua deserdação.

2. Após fazer o enquadramento dos factos, diga se o processo estará em


condições de

prosseguir para a realização da conferência de interessados.

R.: Antes de mais, interessa analisar que Carminda, vem ao processo, após o
notário proferir despacho de saneamento, dizer que também é herdeira e que já
intentou ação para impugnar a sua deserdação.

Carminda terá feito uso do mecanismo processual previsto no 1087º CPC, sendo
admitida, em qualquer altura do processo, a intervenção relativamente a qualquer
interessado direto na partilha.

Nos termos do artigo 2º/1 RIN (Regime inventário notarial), é aplicável ao processo
de inventário que possa decorrer perante o cartório notarial, o regime do processo
de inventário judicial, com as necessárias adaptações.

Ora, neste sentido, o artigo 1085º/1 al.a) CPC atribui a Carminda, na qualidade de
filha/presumível herdeira (e, por isso, interessada direta na partilha), legitimidade
para intervir no processo.

Deverá, para isso, fazer junção de prova, nos termos do 293º/1 CPC ex vi 1091º/1
CPC.

Segundo o 1087º/2 CPC, o cabeça de casal e demais interessados são notificados


para responder a dedução do pedido de intervenção no prazo de 10 dias (293º/2
CPC).

Importa ainda referir que Carminda não vem pedir ao notário que aprecie os moldes
da sua deserdação, mas apenas o informa, uma vez que esta questão tem
relevância para a definição de direitos de interessados diretos na partilha (1092º/1 al
a) CPC)

O notário não vai poder prosseguir para a realização da conferência de

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interessados, nos termos do 3º/1 al.a) RIN, determinando a suspensão do processo,
até que seja decidida a ação de deserdação com trânsito em julgado com caráter
definitivo, só podendo praticar-se validamente atos urgentes destinados a evitar
dano irreparável (275º/1 CPC).

Outra razão que podemos suscitar é que, quando se realiza a conferência de


interessados, já tem que estar resolvidas todas as questões suscetíveis de incluir na
partilha, sejam questões relacionadas com o sujeito ou questões relacionadas com
o objeto. Ora, saber se Carminda é ou não herdeira é uma questão relevante para o
processo.

Caso Prático X

Abel, solteiro, maior, faleceu em janeiro de 2020, sem deixar testamento. Os pais de
Abel já faleceram, e este não teve filhos.

Sobreviveram a Abel os seus três irmãos, Cremilde, Denis, e Evaristo, todos solteiros,
maiores.

Em maio de 2021, Cremilde requereu inventário notarial para partilha dos bens que
compõem a herança de Abel, tendo-o feito enquanto cabeça de casal.

1. Admitindo que Cremilde indicou € 250.000, 00 como valor do inventário, qual o valor
que a mesma tem de pagar de honorários notariais pelo requerimento do processo?

Portaria 278/2013 de 26 agosto → art.1º g) é referente ao regime dos honorários notariais e


despesas devidos pelo processo de inventario e é aplicável apenas aos inventários notariais.
18º/2 → honorários notariais.

18º/6 + 19º/1 a) → 1º prestação é devida na sua totalidade pelo seu requerente.

18º/6 → tem responsabilidade de pagar todos os honorários. Requer processo de inventário –


o valor resulta do anexo I + art.2º72 RIN (Regime Inventário Notarial). Aplicar portaria. Terá
que pagar 714,00€ + IVA.

Ver anexo I – valor 250,00€ - 14UC: 2 = 7UC + IVA. O colega de casal rem que apresentar a
coleção de bens.

1097º/2 c).

1098º/1 prevê que tem de ser atribuído um valor a cada um dos bens, caso ela não indique o
valor, ele pode ser obrigado a corrigir o valor indicado para pagar e taxa de justiça/ honorários
notariais devidos correspondentes ao valor indicado na coleção de bens.

2. Citado para o inventário, Denis reclamou contra a relação de bens apresentada por
Cremilde, alegando que um dos bens relacionados, um relógio em outro, lhe foi doado
por Abel, pese embora esse bem tenha continuado na posse deste. Como meios de
prova, Denis ofereceu duas testemunhas.

Quid iuris?

1104º/1 b).

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Não há herdeiros legitimários. Se o bem tivesse sido relacionado ele tem razão em pedir a
exclusão do bem da coleção de bens porque o bem não teria de ser relacionado uma vez que
não existem herdeiros legitimário. Os bens doados são considerados no cálculo da herança
para efeito da legitima. Aqui não há legitima.

1085º/2 a) e 1097º/2 c)

Se a doação aconteceu, ele tem direito para pedir que o bem seja excluído da coleção de
bens. Ele reclamou contra a relação de bens e apresentou meios de prova. 1105/2, para além
do 1091º + 293 CPC. temos 1105º/2- provas apresentadas com requerimentos e resposta.

947º/2 CC. Doação do bem móvel que não foi acompanhada da tradição da coisa. Se tivesse
havido tradição da coisa aquando da doação, a doação era válida. Esta doação estaria sujeita
por documento escrito. Como não está apresentado prova documental e por isso pode decidir
esta questão julgar improcedente a reclamação contra a relação de bens. O notário só pode
decidir depois de ouvidas as partes. Art.3º/2 RIN. Ouvidas as partes, o notário tem 2 órgãos:
remeter os interessados para os meios judiciais ou decidir nos demais caos a matéria de
litígio. Doação: 947º/2 CC → doação de bens moveis não que ser obrigatoriamente ser por
escrito caso haja tradição imediata. Sendo assim, foi julgada improcedente a reclamação
contra a relação de bens porque não foi apresentada a competente prova documental nos
termos do 947º/2 CC.

Pode haver recurso dessa decisão, art.3º/2 d) recurso imediato. Art.4º/2 c) efeito meramente
devolutivo sem efeito suspensivo. Prazo recurso 15 dias e conta da decisão do notário, isto é,
se a parte tivesse fundamento mas a verdade é que não tem (documento escrito assinado
pelo falecido), não haverá lugar a reconhecimento da assinatura/ escritura publica/ DPA.

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