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Instituto Politécnico do Cávado e do Ave

Escola Superior de Gestão

Bruna Filipa Pimenta de Sousa – A25785


Bruno Miguel Campos Araújo – A25756
Lara Afonso Vaz da Silva – A26520
Manuel Maria Ramoa de Matos da Costa Carvalho – A25754

Tema: “Domicílio”

Licenciatura em Gestão de Empresas


Unidade Curricular: Introdução ao Direito
1.º Ano, 1.º Semestre

Barcelos, novembro de 2022


Índice

Notas introdutórias .................................................................................................................... 1

1. Domicílio voluntário ............................................................................................................. 2

1.1) Domicílio geral ............................................................................................................. 2

1.2) Domicílio especial ........................................................................................................ 3

a) Domicílio especial profissional ..................................................................................... 3

b) Domicílio especial eletivo …......................................................................................... 3

2. Domicílio legal ...................................................................................................................... 4

2.1) Domicílio legal dos menores e maiores acompanhados ................................................ 4

2.2) Domicílio legal dos empregados públicos ..................................................................... 5

2.3) Domicílio legal dos agentes diplomáticos portugueses ................................................. 5

Referências Bibliográficas ........................................................................................................ 5


Introdução

O presente estudo académico, referente à Unidade Curricular de “Introdução ao


Direito” prende-se com a temática do “domicílio”, regulado nos artigos 82.º a 88.º do
Código Civil (doravante CC).
Desde logo, importa referir que os conceitos de “residência” e de “domicílio” não
são unívocos1. Também o conceito de “paradeiro” merece ser distinguido dos anteriores.
Com efeito, o termo de “residência” exprime uma realidade da vida social – é o
lugar onde o sujeito vive habitualmente, “aí organizando a sua vida: uma noção de facto,
assente na habitualidade e nalguma estabilidade”2. Por seu turno, “domicílio”, embora
provenha do latim “domicilium”, que tem origem no termo “domus” (“casa”), tem que
ver com “o sítio onde, oficialmente, o sujeito está presente, podendo aí ser contactado,
com relevo jurídico”3. Diferentemente, pode definir-se “paradeiro” como o local onde,
num determinado momento, a pessoa se encontre, sem qualquer caráter de estabilidade.
Para o que aqui releva, destaca-se o conceito de “domicílio”, que não deverá ser
associado, como sucede muitas vezes na vida prática, à morada de determinada pessoa,
embora possa, de facto, corresponder a esse local. Note-se que este conceito é utilizado
em inúmeras situações jurídicas e releva, por exemplo, para se saber qual o tribunal
competente para julgar determinada ação de divórcio ou de separação de pessoas e bens4.
Note-se ainda que a proteção do domicílio está garantida pelo artigo 34.º da
Constituição da República Portuguesa. De facto, de acordo com o n.º 1 deste artigo, o
domicílio é inviolável, sendo que a entrada no domicílio dos cidadãos contra a vontade
destes apenas pode ser ordenada pela autoridade judicial competente (n.º 2).
Nos termos dos artigos 82.º a 88.º do CC, o domicílio das pessoas singulares pode
revestir as modalidades de domicílio geral (relevante para a generalidade das situações
jurídicas) e de domicílio especial – profissional e eletivo (para situações específicas).
Pode ainda distinguir-se o domicílio voluntário (para cuja fixação é relevante a vontade
do sujeito) do domicílio legal ou necessário (fixado por estatuição legal)5.

1
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA, AJAR 206-1/2018 (Parecer de auditor jurídico), disponível em
www.dn.pt, [consultado a 19.11.2022], p. 1.
2
CORDEIRO, A. Barreto Menezes, “Código Civil Comentado I – Parte Geral”, Faculdade de Direito da
Universidade de Lisboa, Almedina, maio de 2020 [consultado a 09.11.2022], p. 329.
3
Idem.
4
Veja-se o artigo 72.º do Código de Processo Civil, que nos diz que “Para as ações de divórcio e de
separação de pessoas e bens é competente o tribunal do domicílio ou da residência do autor”, isto é, aquele
que instaura a ação.
5
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA, AJAR 206-1/2018 (Parecer de auditor jurídico), [consultado a
19.11.2022], p. 2.
1. DOMICÍLIO VOLUNTÁRIO
Tal como referido, podemos desde logo classificar o domicílio como voluntário
ou legal, sendo que o primeiro provém de um ato de vontade da pessoa a que respeita. O
domicílio voluntário pode ser geral ou especial, conforme melhor se explanará de seguida.

1.1) DOMICÍLIO GERAL


De acordo com JOSÉ GONZÁLEZ, “domicílio é o local do território onde uma
pessoa se considera sedeada para qualquer ou para algum particular efeito jurídico. No
1.º caso, diz-se que o domicílio é geral; no 2.º, que é especial”6. Em qualquer dos casos,
o titular do domicílio tem de manter ligação com o local no qual se considera estabelecido.
Na linha de pensamento do mesmo autor, “o domicílio voluntário geral
(domicilium personae) corresponde ao local onde a pessoa habitualmente reside” – é o
que dispõe a primeira parte do n.º 1 do artigo 82.º do CC. Da segunda parte deste preceito
consta que “se [a pessoa] residir alternadamente, em diversos lugares, tem-se por
domiciliada em qualquer deles”, o que significa que o domicílio voluntário geral poderá
corresponder ao lugar da residência permanente, caso o sujeito se encontre,
ininterruptamente, num determinado local; ao local da residência habitual, quando o
sujeito, circulando por vários locais, tenha um em que tem presença predominante; ou ao
local de alguma das residências alternativas do sujeito jurídico7.
Refere ainda o n.º 2 do art. 82.º do CC que “Na falta de residência habitual,
considera-se [a pessoa] domiciliada no lugar da sua residência ocasional ou, se esta não
puder ser determinada, no lugar onde se encontrar”. Tal significa que o domicílio
voluntário geral poderá ainda corresponder ao local da residência ocasional do sujeito,
caso não seja possível apurar uma residência mais estável (isto é, permanente, habitual
ou alternativa). Na falta de outro critério, cumpre ainda mencionar que o domicílio
voluntário geral poderá corresponder ao paradeiro, que, como referido, é o lugar onde a
pessoa se encontrar – é o caso dos artistas de circo, que não têm paradeiro fixo.

1.2) DOMICÍLIO ESPECIAL


O domicílio voluntário especial deriva, à semelhança do geral, da escolha do
sujeito titular do domicílio, mas visa alguma categoria de situações, profissionais (art.
83.º do CC) ou eletivas (art. 84.º do mesmo diploma legal).

6
GONZÁLEZ, José Alberto, “Código Civil Anotado – Volume I, Parte Geral (artigos 1.º a 396.º)”, Quid
Juris, fevereiro de 2011 [consultado a 09.11.2022], p. 145.
7
CORDEIRO, A. Barreto Menezes, “Código Civil Comentado I – Parte Geral”, p. 330.
a) Domicílio especial profissional
O domicílio voluntário especial profissional corresponde ao local em que a pessoa
exerce a sua profissão e é relevante para as relações a que estas se referem8. Assim, o
domicílio pode coincidir com escritórios de advogados, consultórios médicos, etc.,
dependendo do local onde a profissão é exercida, de acordo com o disposto no n.º 1 do
art.º 83.º do CC. Neste sentido, importa realçar que os trabalhadores por contra de outrem
têm domicílio profissional no local onde prestem o serviço.
Note-se ainda que se a pessoa exercer a sua profissão em lugares diversos, cada
um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem, conforme
disposto no art. 83.º, n.º 2, do mesmo diploma legal.

b) Domicílio especial eletivo


O domicílio eletivo tem, tal como previsto pelo art.º 82 do CC, caráter voluntário,
sendo especialíssimo dado que se refere a uma categoria muito particular das relações
jurídicas – aquelas que se referem a determinado negócio. Assim, o domicílio eletivo
permite estipular domicílio particular para determinados negócios, sendo essa estipulação
realizada através de um documento autenticado, conforme é referido no art. 84.º do CC.
Na verdade, o domicílio eletivo é contratual, quando estipulado em contrato. Por
outro lado, será unilateral se estiver presente num negócio desse tipo. Note-se que este
tipo de domicílio opera apenas em negócios jurídicos específicos, sendo que os restantes
são considerados domicílio geral (conforme o art. 82.º do CC).
O local escolhido pelas partes para a prática de certo negócio tem relevância
prática no domicílio de negócios de grandes entidades e no campo de relações duradouras,
em que as partes esclarecem, no contrato, quais os domicílios a reter para o caso de
ocorrerem certas eventualidades. Por vezes, são ainda incluídos nos contratos os
domicílios profissionais dos advogados que representem as partes.

2. DOMICÍLIO LEGAL
De acordo com o suprarreferido, distingue-se o domicílio voluntário do domicílio
legal, sendo que este último é, em certos casos, fixado por lei. É o que sucede no caso dos
menores e dos maiores acompanhados (art. 85.º do CC), dos empregados públicos (art.
87.º do CC) e dos agentes diplomáticos portugueses (art. 88.º do mesmo diploma legal).

8
Note-se que, como suprarreferido, o domicílio profissional é voluntário visto que na sua origem está um
ato de vontade da pessoa (o exercício da profissão é voluntário) e é especial uma vez que este domicílio só
releva para as relações respeitantes à profissão.
De referir que antes da reforma ao CC (1977) também a mulher casada tinha
domicílio legal, que correspondia ao do marido, tal como preceituava o revogado artigo
86.º do CC. No entanto, o princípio constitucional da igualdade entre os cônjuges,
consagrado no artigo 1671.º do CC, levou à revogação do referido preceito, na linha
geralmente adotada pelas legislações estrangeiras que consagram aquele princípio9.

2.1) DOMICÍLIO LEGAL DOS MENORES E DOS MAIORES ACOMPANHADOS


O artigo 85.º do CC esclarece o domicílio dos menores e dos maiores
acompanhados. Num primeiro momento, debruçar-nos-emos sobre aqueles que, por
necessariamente sofrerem de uma inaptidão para agir, carecem de um substituto legal
(titular das responsabilidades parentais, tutor ou administrador de bens) – os menores.
Deste modo, no que diz respeito ao domicílio legal dos menores, o menor tem
domicílio no lugar da residência da família (artigo do 85.º/1). Note-se que a residência da
família é definida através de um acordo feito pelos cônjuges ou, na falta deste, a
requerimento de qualquer deles.
Em regra, os cônjuges vivem com os seus filhos, sem que nunca se adote,
formalmente, uma residência de família. Esta apenas releva em casos de conflito. Assim,
nos casos em que não exista residência da família e o menor tiver sido confiado a um dos
progenitores, como acontece em situações de divórcio, o menor tem como domicílio o do
progenitor a cuja guarda for entregue (artigo 85.º/1), embora o tribunal possa, naqueles
casos, apontar um domicílio diferente do que já havia sido decidido pelos progenitores.
Se os progenitores partilharem a guarda do menor e viverem em residências diferentes, o
domicílio do menor será o do progenitor detentor do poder paternal.
De referir que, nos termos do disposto no art. 1903.º do CC, “Quando um dos pais
não puder exercer as responsabilidades parentais por ausência, incapacidade ou outro
impedimento decretado pelo tribunal, caberá esse exercício ao outro progenitor ou, no
impedimento deste, por decisão judicial”, ao cônjuge ou unido de facto de qualquer dos
pais ou a alguém da família de qualquer dos pais.
Por outro lado, o artigo 85.º/2 esclarece que o domicílio do menor que, em virtude
de decisão judicial, foi confiado a uma terceira pessoa, estabelecimento de educação ou
assistência, é o do progenitor que exerça o poder paternal.

9
Nos termos do disposto no preâmbulo do Decreto-Lei n.º 496/77, disponível em www.pgdlisboa.pt,
[consultado a 10.11.2022].
Importa referir ainda que a tutela (art. 1921.º e artigos 1927.º a 1972.º do CC) visa
atender o poder parental em situações como falecimento dos progenitores ou quando estão
inibidos/impedidos de educar, aplicando-se a menores e maiores acompanhados. Assim,
domicílio do menor sujeito a tutela é o do seu tutor, tal é como mencionado no art. 85.º,
n.º 3. Note-se ainda que, em caso de os progenitores existirem, mas serem incógnitos, isto
é, não se saber quem são, a lei desiste da residência da família e remete para a do tutor.
Há, por outro lado, um grupo de cidadãos que, por várias razões, não conseguem,
sem apoio ou intervenção de terceiros, exercer os seus direitos, cumprir os seus deveres
ou cuidar dos seus bens – são os designados “maiores acompanhados”, os quais, apesar
de serem maiores de idade, não têm acesso direto a todos os direitos e deveres que outros
maiores de idade teriam, sendo, em algumas circunstâncias, comparados aos menores,
designadamente no que se refere ao seu domicílio. Assim, também os maiores
acompanhados têm domicílio no lugar da residência da família, nos termos conjugados
dos n.ºs 1 e 4 do art. 85.º do CC.
De acordo com o n.º 5 do art. 85.º do CC, quando tenha sido instituído o regime
da administração de bens (art. 1922.º e arts. 1967.º a 1972.º), que se aplica ao menor e ao
maior acompanhado nos termos do art. 145.º/2, o domicílio destes é o do administrador,
nas relações a que essa administração se refere.
Não são aplicáveis as regras anteriores se delas resultar que o menor ou o maior
acompanhado não tem domicílio em território nacional (art. 85.º/6).

2.2) DOMICÍLIO LEGAL DOS EMPREGADOS PÚBLICOS


O domicílio legal dos empregados públicos, civis ou militares surgiu de modo a
facilitar a vida dos particulares, protegendo a intimidade dos funcionários e agentes por
forma a não revelarem o seu domicílio privado, podendo, desta forma, ser contactados no
local do exercício das funções – ou seja, no seu domicílio profissional (art.º 83 do CC).
De referir que se trata de um domicílio com caráter necessário e é especial visto que se
refere exclusivamente ao exercício das suas funções enquanto empregados públicos,
como dispõe o n.º 2 do art. 87.º do CC.

2.3) DOMICÍLIO LEGAL DOS AGENTES DIPLOMÁTICOS PORTUGUESES


Os agentes diplomáticos portugueses, isto é, aqueles que representam Portugal
num outro Estado, quando exerçam funções fora do território português invocando a
extraterritorialidade, consideram-se domiciliados em Lisboa no Palácio das Necessidades
no Ministério dos Negócios Estrangeiros enquanto estiver no exercício das suas funções
– art. 88º do CC. Neste caso, dir-se-á que o domicílio é necessário/legal, já que o local do
domicílio corresponde ao da capital de nação.
No entanto, o domicílio destes agentes é também considerado geral, dado que a
razão que justifica a fixação do seu domicílio em Lisboa prende-se com as complicações
originadas ao nível da comunicação pela extraterritorialidade, que se presumem maiores
pelo facto dos agentes diplomáticos se encontrarem fora do território português.
De referir que o diplomata pode não ter qualquer residência privada em Lisboa e,
assim, a sua residência profissional passará a ser
Bibliografia

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA, AJAR 206-1/2018 (Parecer de auditor jurídico), disponível em


www.dn.pt, [consultado a 09.11.2022].

CORDEIRO, A. Barreto Menezes, “Código Civil Comentado I – Parte Geral”, Faculdade de


Direito da Universidade de Lisboa, Almedina, maio de 2020 [consultado a 09.11.2022].

GONZÁLEZ, José Alberto, “Código Civil Anotado – Volume I, Parte Geral (artigos 1.º a 396.º)”,
Quid Juris, fevereiro de 2011 [consultado a 09.11.2022].

CÓDIGO CIVIL, Almedina, 16ª Edição, 2022

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, Almedina, 40ª Edição

DECRETO-LEI N.º 496/77, disponível em www.pgdlisboa.pt, [consultado a 10.11.2022].

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