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Noção: para avançar uma noção podemos socorrer-nos das palavras de José
de Oliveira Ascensão: “juridicamente, é necessário considerar a pessoa ligada a
um lugar para o exercício da sua vida jurídica. Esse lugar chama-se domicílio”1.
Poderíamos dizer, a partir destas palavras, que o domicílio é o lugar ao qual uma
pessoa se acha ligada para o exercício da sua vida jurídica.
1
Teoria Geral do Direito Civil 83-I, pág. 156 vol I.
2
TGDC 68-I
3
Citado por Franco João Melo, in dic. Pág.367.
residência onde a pessoa vive normalmente, ou como diz C.A. MOTA PINTO
“…onde a pessoa costuma regressar após ausências mais curtas ou mais
longas…”4.
Mas o domicílio pode ser o local de residência ocasional, quando a pessoa
não tiver residência habitual. Não havendo residência habitual nem ocasional,
considera-se domicílio o seu paradeiro (art. 82/2).
Modalidades de domicílio:
4
TGDC, 68-II,
pessoa não os tivesse previsto ou querido, daquelas em que a vontade de pessoa
não é relevante, porque é fixado imperativamente pela lei. No primeiro caso, fala-
se de domicílio voluntário; no segundo, de domicílio necessário ou legal (esta
última é, aliás, a terminologia utilizada pelo Código Civil).
Por seu turno, o domicílio voluntário pode ser geral, especial ou particular5.
O domicílio voluntário geral corresponde à residência habitual e está previsto no
art. 82/1 e 2. É geral porque é o que releva para a generalidade dos efeitos jurídicos.
O domicílio voluntário especial corresponde ao domicílio profissional, que se
verifica para as pessoas que exerçam uma profissão e é relevante para as relações
que se refiram à profissão. O domicílio é o lugar onde a profissão é exercida (art.
83).
5
Mot Pinto TGDC, 68-II
Quanto ao domicílio necessário, José De Oliveira Ascensão distingue
entre domicílio necessário geral e domicílio necessário particular6. O primeiro é o
que diz respeito às pessoas sujeitas à representação legal, ou seja, das pessoas
sujeitas à guarda do(s) respectivo(s) representantes legais (pais ou tutores). O
domicílio de uma pessoa nestas condições corresponde ao domicílio da pessoa que
sobre ela tem poder de representação. Assim, o domicílio do menor é a residência
habitual dos pais, o interdito acha-se domiciliado na residência habitual do tutor (
art. 85/1 C.C.), exceptuando-se as situações em que o incapaz possa intervir
pessoalmente (verbi gratia, casos em que a ordem jurídica permite a actuação
pessoal do menor).
6
TGDC 85-I
7
José De Oliveira Ascensão, TGDC, 85-II, pág. 160
O art. 88 C.C. fala de um outro tipo de domicílio legal: o dos agentes
diplomáticos angolanos. Sempre que eles invoquem a extraterritorialidade,
consideram-se domiciliados em Luanda. Segundo José de Oliveira Ascensão,
trata-se de uma subespécie do domicílio necessário particular. Diz o mesmo autor:
“aqui perde-se toda a base realística, pois não existe sequer a presunção de o
diplomata aí se encontrar, que se poderia invocar nos restantes casos”. 8
Há um
traço de voluntariedade, resultante do facto de os diplomatas poderem invocar a
extraterritorialidade, diz ainda o nosso autor.
8
85-III, pág. 160.
- Em Direito Privado e em Direito Internacional Público, o domicílio
é elemento de conexão Segundo Américo Fernando Brás Carlos, trata-se dos
elementos “…que colocam os factos em ligação com o território…”9 ou ainda,
aqueles que permitem aferir da existência relevante de ligação entre um facto e
determinado território. Em Direito Fiscal (Internacional), nas situações em que
dois Estados se consideram com competência para tributar um facto que se
encontra em contacto com mais do que um ordenamento jurídico, os Estados
recorrem a vários elementos de conexão para se determinar qual dos Estados tem
competência para tributar. Entre tais elementos se encontra a residência. Uma
pessoa singular que seja nacional de um Estado e trabalhe noutro Estado será
tributada pelo rendimento (salários) pelo Estado em que se seja considerado
residente.
99
Impostos, Teoria Geral, 2ª Ed. Actualizada e aumentada, Ed. Almedina, pág. 226
10
(TGDC 86-IOI, pág. 162)
Basta, por exemplo, que o credor se dirija à caixa de correio do devedor.
Este não pode alegar ou invocar desconhecimento, provada a comunicação, ela
produz os seus efeitos.
C.A. MOTA PINTO nota a respeito: “é, igualmente, no domicílio da pessoa
que devem ser praticadas as diligências ou efectuadas as comunicações dirigidas a
dar-lhe conhecimento pessoal de um facto, quando esse conhecimento seja
pressuposto de determinados efeitos. Há uma presunção de presença da pessoa no
domicílio, com o que se visa impedir escapatórias” 11.
AUSÊNCIA
Noção12: Pode-se falar de ausência em dois sentidos: um sentido amplo e
em sentido restrito. Em sentido amplo, a ausência traduz-se na não presença de
uma pessoa num certo lugar onde se esperaria poder encontrá-la. Este é o sentido
em que vulgarmente se fala da ausência.
11
C.A. MOTA PINTO, TGDC, 68-I, pag. 262.
12
Castro Mendes, Direito Civil, Teoria Geral, 1978, I-437, Citado por Franco João Melo, Dicionário de
Conceitos e Princípios Jurídicos, pág. 108
A ausência em sentido técnico, que é a que nos interessa, está
regulamentada nos artigos 89ss do Cód. Civ.
13
(Direito Civil, teoria Geral, 70-II e III)
14
Uma solução que é algo grosseira
pode haver elementos para levar a decretar judicialmente a ausência: …se alguém
aparece todos os dias no seu estabelecimento com a regularidade de um relógio e
deixa de vir sem mais durante uma semana sem se saber onde se encontra nem
haver possibilidade de o contactar, está ausente. Se quem foi realizar uma
expedição ao Árctico está 3 meses sem dar notícias, não está ausente.” 15.
15
(87-I).
Curadoria provisória: art. 89 C.C.
Para se requerer e nomear um curador provisório, é preciso que se
verifiquem os seguintes pressupostos:
- Desaparecimento de alguém sem noticias
- Ter deixado bens (necessidade de prover a administração desses bens
- Falta de um representante legal ou procurador voluntário
- Havendo procurador, se este não puder ou não quiser exercer as suas
funções
- Requerimento pelo Ministério Público ou qualquer interessado.
Curadoria definitiva:
A curadoria definitiva é vista pela lei como uma situação mais sólida, em
que os interesses dos sucessíveis já são mais prosseguidos16.
16
José de Oliveira Ascensão, Direito civil Teoria Geral 91-III
17
São ilustração disto o facto de a legitimidade para requerer a curadoria definitiva caber às pessoas que
têm um direito dependente da condição da morte do ausente (art. 100 C.C.) e o facto de, justificada a
ausência, se abrirem os testamento para a partilha dos bens da herança e ainda o facto de os legatários já
poderem exigir a entrega dos bens antes da partilha (art. 102 C.C.).
18
O património do ausente é tratado como verdadeira herança. Há uma abertura provisória da sucessão.
2º- Entrega de bens aos legatários e outras pessoas com direito a bens
determinados;
19
C.A. MOTA PINTO nota que aqui os herdeiros ainda não são proprietários, mas apenas curadores
definitivos (Teoria Geral do direito Civil, 69-II-B, pág. 266), pelo que o seu direito e ainda resolúvel.
- Representar o ausente nas acções contra ele propostas.
Direitos:
- O curador definitivo (sendo cônjuge, ascendente ou descendente)
tem direito à totalidade dos frutos percebidos (art. 111 C.c.). Nos
outros casos, o curador definitivo terá direito a dois terços dos
rendimentos líquidos dos bens que administre.
Morte presumida:
Requisitos (art. 114):
20
Não basta o ausente regressar para acabar com a curadoria definitiva. Os bens só lhe são entregues se ele
requerer a sua entrega. Se não o fizer, os bens continuam sob o administrador definitivo. Com as noticias
do ausente, este é notificado de que os seus bens estão em curadoria e que assim continuarão enquanto ele
não providencias (art. 113/2 C.C.). Por isso, como nota José De Oliveira Ascensão, nem as meras notícias
nem o regresso do ausente fazem cessar a curadoria definitiva, já que é necessário que ele requeira a entrega
dos seus bens (art. 113/1 e 2)., sendo assim, a cessação referida no artigo 112 com o regresso e com as
notícias do ausente é enganosa. José De Oliveira Ascensão nota aqui que a instauração da curadoria
definitiva requer a justificação da ausência, contrariamente ao que se passava na curadoria provisória. Isto
é um mecanismo de prevenção contra a circunstância de aqui avultar já outro interesse além do ausente.
- Prolongamento da ausência com os seguintes prazos:
- 10 anos sobre as últimas noticias
- 5 anos sobre estas no caso de maiores de 80 anos (contados da data em
que completariam 80 anos)
21
Op. Cit. 94-II.