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CASO PRÁTICO

Considerando os factos a seguir descritos, responda às questões que lhe


são colocadas.
Amílcar, com domicílio em Santo Tirso, adquiriu, entre outros bens, um
frigorífico com gavetas interiores e uma placa vitrocerâmica XPTO –
butano, à Sidónio - Eletrodomésticos, Lda., com sede na Trofa, pelo preço
de € 3.200,00, que pagou no ato da encomenda. Após receber a
mercadoria, em sua casa, verificou que os eletrodomésticos que lhe
foram vendidos não correspondiam àqueles que escolheu a partir de um
catálogo. Em face disso, dirigiu-se ao Julgado de Paz de Santo Tirso e aí
propôs ação onde peticionou que a requerida fosse condenada a cumprir
pontualmente o contrato e, por via disso, a entregar ao requerente um
frigorífico e uma placa vitrocerâmica com as características acordadas.
Uma vez citada, a demandada veio apresentar contestação onde, além de
impugnar os factos alegados pelo demandante, invocou a incompetência
do tribunal.

a. A demandada tem razão quanto à incompetência dos Julgados de


Paz de Santo Tirso para decidir esta ação?

R.: O presente caso prático está relacionado com os julgados de paz,


regulados pela lei 78/2001, de 13 de julho.
Ora, do enunciado decorre que a demandada invocou a incompetência
dos Julgados de Paz de Santo Tirso para decidir esta ação, pelo que
interessa verificar se a mesma terá razão.
Em razão do objeto, o art. 6º LJP determina que o julgados de paz apenas
tem competência para decidir ações declarativas, pelo que até aqui estará
tudo bem, pois, de facto, estamos perante uma ação declarativa.
Em razão do valor, o art. 8º LJP determina que os julgados de paz tem
competência para decidir as ações cujo valor não exceda 15.000€, sendo
certo que a presente ação tem valor de 3.200€, por aplicação do 297º/1
CPC (ex vi, 63º LJP).
Em razão da matéria, o julgados de paz são competentes para apreciar e
decidir as ações resultantes do art. 9º LJP, sendo que a ação descrita no
enunciado enquadra-se no na alínea a) do nº1 deste artigo, correspondente
às ações que destinem dar cumprimento a obrigações.
Por fim, em razão do território, determina o art. 10º LJP que se aplica os
arts. 11º e ss da LJP, podendo, na situação prática concreta, aplicar-se o
12º/1 LJP, que atribui a escolha ao credor entre o julgado de paz do lugar
em que a obrigação devia ser cumprida ou no julgado de paz do domicilio
do demandado, ou, poderia ser ainda aplicado, o artigo 14º LJP, na media
em que a demandada é uma Pessoa Coletiva, sendo a ação proposta no
julgado de paz da sede da administração principal.
Deste modo, a demandada não teria razão em invocar a incompetência do
julgado de paz, sendo o julgado de paz de Santo Tirso competente para
decidir a ação.

Admita, agora, que o que estava em causa era a compra e venda de todos
os eletrodomésticos da casa de férias de Amílcar, no valor de 25.500,00
euros e que, igualmente por desconformidades, o comprador e a
vendedora se tinham dirigido aos serviços de mediação dos Julgados de
Santo Tirso.

b. Diga se seria viável usar os referidos serviços de mediação.

R.: O art. 16º/1 LJP evidencia que em cada julgado de paz existe um
serviço de mediação que disponibiliza a qualquer interessado a mediação.
Se é certo que, em razão do valor, o julgado de paz seria incompetente,
na medida em que o valor da ação excede os 15.000€ (8º LJP), é também
certo que o artigo 16º/3 LJP refere que o serviço de mediação é competente
para mediar quaisquer litígios que possam ser objeto de mediação, ainda
que excluídos da competência do julgado de paz.
Neste sentido, temos de recorrer à lei da mediação para perceber se o
litígio é mediável, confirmando o art. 11º/1 LJP que o litígio é, de facto,
mediável, na medida em que o litígio diz respeito a um interesse de
natureza patrimonial.
Deste modo, seria viável usar os serviços de mediação do Julgado de Paz
de Santo Tirso, estando a organização e funcionamento dos serviços de
mediação disponíveis nos Julgados de Paz, regulados na Portaria
1112/2005, de 28 de outubro.

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