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ESCRITÓRIO DE ADVOGADOS, HAMUTI CHISSINGUI E ASSOCIADOS Rua 12, Bairro João de Almeida
E-mail: hamutichissingui@gmail.com Tel:922343510/922323415.
AO
MERITÍSSIMO JUIZ, DE
DIREITO DA SALA DO
CIVIL DO TRIBUNAL DA
COMARCA DO LUBANGO
LUBANGO
EXEM ENERGY, BV., com sede em Amsterdão, Países Baixos, representada pelo
Escritório de Advogados Hamuti Chissingui e Associados, doravante designado por
Demandante, vem intentar:
Contra:
Sonangol, E.P., com sede em Luanda, Angola, doravante designado por 1.ª
Demandada; e contra o
DOS FACTOS
1º
2º
O referido contrato teve por objecto a compra e venda de 40% das acções de que a 1.ª
Demandada era titular na sociedade comercial “ESPERAZA HOLDING BV”, na qual
2
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esta era a única acionista com 100% das respectivas acções, avaliadas em 30.000.000,00
(Trinta milhões de dólares Norte-Americanos). (Doc.1).
3º
Ficou acordado entre a Demandante e a 1.ª Demandada que o pagamento das referidas
acções seria feito em dez prestações num período de 10 anos a contar da data da
celebração do contrato.
4º
5.º
6.º
7.º
8.º
9.º
Assim sendo, depois da 1.ª Demandada ter feito uma alteração dos seus membros do
conselho de Administração, entendeu e consolidou a sua posição de incumprir as duas
últimas obrigações.
10º
A 2.ª Demandada, é detentora do capital total da 1.ª Demandada que é por si detido
pelo Estado, sob o seu poder de superintendência e por isso mesmo, recusar-se a dar
quitação do referido cumprimento.
11.º
Pelo que, a 2.ª Demandada usando de poderes públicos passou a controlar, orientar e
governar, a 1.ª Demandada.
12.º
DO DIREITO
13.º
14.º
1
A compra e venda internacional é estudada em sede da disciplina Jurídica de Direito do Comércio Internacional e
como ensina o professor Francisco Mário, Docente da FDUMN, na sua obra “Manual de Direito do Comércio
Internacional” o Direito do comércio Internacional é entendido como conjunto de normas e princípios jurídicos que
regulam as relações de comércio internacional que tem conexão com ordens jurídicas ou Estados diferentes.
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15.º
Não há dúvida de que estamos perante uma compra e venda internacional comercial, se
olharmos atentadamente o que vem consagrado no n.º 5 do artigo 463.º do C.Com, pois
estamos em presença de uma compra e venda de parte das acções da 1.ª Demandada
detidas na sociedade comercial da “ESPERAZA HOLDING”.
16.º
17.º
Ensina o Professor Baptista Machado que a “lex fori” é a lei do Tribunal do país que
regula o processo e na mesma senda, o Professor Francisco Mário enfatiza que é a
cláusula através da qual as partes designam a lei que vai ou irá reger o seu contrato.
18.º
Por seu turno, em relação a cláusula de eleição do foro, ensina o Professor José Janota
que é aquela através da qual as partes conferem competência a um determinado Tribunal
para que resolva os seus litígios2.
19.º
Ensinam os professores Sofia Vale e Coutinho de Abreu que as questões sobre direitos
e obrigações comerciais que não puderem ser resolvidas, nem pelo texto da lei comercial,
2
Importa, segundo o professor José Janota aludir a diferenciação entre a cláusula da lei aplicável e a cláusula da
eleição de foro.
Assim, através da cláusula da lei aplicável, as partes escolhem a lei que vai ou irá reger o seu contrato, isto é,
escolhem o Direito ao passo que, na cláusula de eleição do foro as partes escolhem o Tribunal que vai, ou irá
resolver os seus litígios, isto é, escolher o Tribunal. Portanto é tudo uma questão de escolha.
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nem pelo seu espirito, nem pelos casos análogos nela previstos, são decididas pelo Direito
civil3.
20.º
Desta forma, sem desprimor as demais leis do ordenamento jurídico angolano e porque
estamos cientes de que o Direito é um sistema, aplicar-se-á ao presente contrato as
disposições da compra e venda previstas nos artigos 874.º a 939. º do CC.
21.º
O contrato de compra venda, é como já asseveramos, regulado nos termos dos artigos
874.º e sgs do Código civil (doravante CC), nos termos do qual “é o contrato por meio
do qual se transmite a propriedade de uma coisa, ou outro direito mediante um preço”.
22.º
23º
Ora, nos termos do artigo 879.º do CC, a compra e venda tem como efeitos essenciais5:
24º
O referido contrato foi celebrado por meio de bolsa de valores e conforme ensina o
professor Pedro Romano Martinez, a bolsa de valores é um ambiente de negociação no
3
No mesmo sentido Cfr. 3.º do Código Comercial.
4
Vide in Direitos das obrigações (parte especial dos contratos), compra e venda, locação e empreitada,
2.ª Edição, Editora Almedina e no mesmo sentido, o professor Menezes Leitão Direito das Obrigações
volume III.
5
Ensina o professor Pedro Romano Martinez que o contrato de compra e venda produz um efeito real e
dois obrigacionais, designadamente: transferência do direito de propriedade ou outro direito real; obrigação de
entregar a coisa; obrigação de pagamento do preço.
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qual investidores podem comprar ou vender seus títulos emitidos por empresas, sejam
privadas, de capitais públicos ou privados.
25º
Assim, a narração dos factos diz que as partes fizeram recurso a venda a prestações cujo
regime jurídico consta dos artigos 934.º e sgs do CC, portanto, uma das modalidades
especificas da compra e venda.
26.º
Ensina o professor Menezes Leitão que a venda a prestações6 é aquela em que o preço
devido corresponde a uma prestação unitária, que é fraccionada e escalonada no tempo
no que respeita ao cumprimento.
27º
Assim, nos termos do artigo 762.º n.º1 do CC e como ensinam os Professores Menezes
Leitão7 e Antunes Varela a realização da prestação pelo devedor se considera como
cumprimento, importando a extinção da obrigação.
28º
29.º
Nos termos do artigo 787.º do CC, a Demandante goza do direito à quitação, isto é,
aquele que cumpre com uma obrigação tem direito a uma quitação, mediante a qual o
credor confirma ter recebido a prestação.
6 Trata-se de vendas muito divulgadas nas sociedades de consumo manipuladas por poderosas organizações
capitalistas, para em dadas circunstâncias, não permitir a resolução por falta de pagamento de uma só prestação.
Neste tipo de venda visa-se proteger o comprador.
7
“Direito das Obrigações, v.I- introdução da constituição das obrigações 2017.14.ª Edição p. 109. E no
mesmo sentido o professor Antunes Varela, para quem o cumprimento da obrigação é a realização
voluntária da prestação vide. Das obrigações em geral p.7.
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30.º
31.º
Na esteira do professor Menezes Leitão8, a quitação é um direito atribuído por lei a quem
cumpre a obrigação.
32.º
Ensina o Professor Carlos Burity da Silva9 que a boa fé pode ser entendida em sentido
subjectivo e objectivo e no sentindo objectivo é um critério normativo de valoração de
condutas, ou seja, é um princípio norteador da conduta das partes, é de resto a que mais
interessa na constituição dos contratos.
33.º
A 1.ª Demandada ignorou os padrões objectivos de boa fé que devem nortear a relação
contratual cfr. Artigo 227.º e 762.º n.º 2 do CC e ao não cumprir o seu dever legal de dar
a quitação, mormente, expurgar as garantias que pendiam sobre as acções vendidas, viola
os deveres impostos por lei, de dar quitação e de actuar em conformidade com os ditames
da boa fé no cumprimento das obrigações.
34.º
8
“Direito das obrigações 2017 14.ª Edição p. 184.
9 Teoria Geral do Direito Civil 2.ª Edição p.183 e no mesmo sentido o professor Menezes Cordeiro para quem a boa
fé constitui um importante principio geral do direito cuja aplicação se reconduz à imposição de comportamentos às
partes, em ordem a possibilitar o adequado funcionamento da prestação e evitar a ocorrência de danos.
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35.º
Conforme descrito nos factos 2.ª Demandada, é detentora do capital total da 1.ª
Demandada que é por si detido pelo Estado, sob o seu poder de superintendência.
36.º
Na mesma senda, a 2.ª Demandada, ao abrigo dos poderes que detém sobre a 1.ª
Demandada, incitou o novo Conselho de Administração da 1.ª Demandada, a não dar a
quitação ao Demandante e por isso mesmo incumprir a obrigação a que estava adstrita,
com fundamento em corrupção.
37.º
38.º
A conduta da 2.ª Demandada configura-se num facto ilícito10 e culposo que a obriga a
indemnizar a Demandante pelos danos que lhe causou, por extensão da 1.ª Demandada,
tal como resulta das disposições combinadas dos artigos 406.º n.2 e 483.º do CC, os
efeitos do contrato quanto ao cumprimento das obrigações.
39.º
10 Tal como ensina o professor Menezes Leitão, para que haja responsabilidade civil subjectiva deve verificar-se os
seguintes pressupostos: facto voluntário do agente, ilicitude, culpa, dano e o nexo de causalidade entre o facto e o
dano.
11 Ensina o professor Menezes Leitão que a previsão do abuso de Direito, consagrado no art. 334.º. vem estabelecer
a ilegitimidade do exercício do direito sempre que o seu titular exceda manifestamente os limites imposto pela boa fé,
pelos bons costumes, ou pelo fim social e económico desse direito, (Direito das obrigações 2017, 14.ª Edição p. 290).
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40.º
O acto ilícito da 2.ª Demandada foi levado a cabo com culpa, pois, em face de tal
situação podia muito bem ter evitado, ou ter agido de outro modo.
41.º
Portanto, ao abrigo das disposições combinadas dos artigos 406.º, 334.º e 483.º todos do
CC, deve a 2.ª Demandada ser condenada nos mesmos termos a ordenar a 1.ª
Demandada que cumpra com as obrigações a que está adstrita e a indemnizar a
Demandante pelos prejuízos que lhe causou.
42.º
43.º
Assevera o professor Menezes Leitão12 que a responsabilidade civil pode ser delitual (ou
extracontratual) a que está em causa a violação de deveres genéricos de respeito, de
normas gerais destinadas à proteção doutrem, ou a pratica de Tatbestande delituais
específicos e a responsabilidade civil obrigacional aquela que resulta do incumprimento
das obrigações.
44.º
12
(Direito das obrigações 2017, 14.ª Edição p. 276) e vai ainda mais longe o professor que em apreço em falar da
existência da terceira via da responsabilidade civil, onde se poderão incluir situações como a violação dos deveres
de boa fé, geradoras da responsabilidade pré-contratual e pós-contratual.
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45.º
46.º
47.º
Dessa forma, o terceiro que interferir na relação contratual de outrem e causar prejuízos
que levam ao inadimplemento do contrato deve ser responsabilizado pelos prejuízos que
causar.
48.º
Portanto, face aos factos supracitados devem as Demandadas ser condenadas não
apenas no cumprimento das obrigações contraídas e não cumpridas pela 1.ª Demandada,
mas também por todos os danos que a Demandante sofreu.
DOS PEDIDOS
Nestes termos e nos demais de Direito e sempre com o mui douto suprimento de
vossa Meritíssima, a Demandante requer que:
Valor da Acção: USD 50.185.013,88 (Cinquenta milhões, cento e oitenta e cinco mil,
treze dólares e oitenta e oito centavos Norte-Americanos).
Os Advogados: