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DA REDE APAE
AUTISMO E MÓDULO 4
EDUCAÇÃO
INCLUSIVA: A
MEDIAÇÃO
PEDAGÓGICA
Mara Monteiro da Cruz
E-mail: secretariauniapae@apaebrasil.org.br
26 Fórum de debate
PROFESSORES
IZABEL NEVES FERREIRA
MARA MONTEIRO DA CRUZ
A TECNOLOGIA DA
INFORMÁTICA COMO
FERRAMENTA DE
ACESSIBILIDADE AO
CURRÍCULO
• “Foi mais fácil ler e escrever. Quando eu entrei, não sabia
quase nada. No computador, foi ficando fácil. [...] Estou
pensando diferente. Estou aprendendo. Agora está bom
até demais.” (Fala de aluno com D.I. CRUZ, 2004, p. 229)
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ca possibilitou a construção de uma rede mundial, a Internet, que
tem modificado a relação das pessoas entre si e até mesmo com
o conhecimento. O chamado ciberespaço é um espaço público,
onde as pessoas podem se encontrar, ou se esconder, passar o
tempo sem nenhuma intenção específica ou realizar aprendi-
zagens formais e informais. Estas novas formas de aprender e
se comunicar produziram novos tipos de leitores. Como afirmou
Magda Soares, diferentes tecnologias de escrita criam diferentes
letramentos (SOARES, 2002), que produzem determinados efei-
tos cognitivos e culturais, provenientes das múltiplas formas e
contextos de interação com a palavra escrita, bem como com o
próprio mundo.
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ção da percepção e na senso-motricidade, prepararam a sensibi-
lidade perceptiva humana para o surgimento do leitor imersivo
ou virtual, típico da cibercultura.
Este terceiro tipo de leitor, o imersivo, navega nos espa-
ços virtuais, usando como interface não mais um objeto manipu-
lável, como o livro, mas uma tela na qual o texto eletrônico é lido
com total liberdade de escolha – no hipertexto, não há rotas pré-
-definidas, é o leitor quem define a sequência com que percorre
os nós e conexões, instaurando um tipo completamente novo
de leitura. A possibilidade de escolha, de definição das rotas de
leitura constitui-se como uma forma de autoria. “O navegador
participa, portanto, da redação do texto que lê.” (LÉVY, 1999, p.
57) O perfil cognitivo do leitor imersivo é caracterizado pela e
formado na interatividade. É um leitor cuja mente é distribuída,
“capaz de realizar simultaneamente um grande número de ope-
rações. Observar, absorver, entender, reconhecer, buscar, esco-
lher, elaborar e agir ocorrem em simultaneidade.” (SANTAELLA,
2009, p. 182).
A existência de diferentes tipos de leitor deve inspirar
práticas pedagógicas voltadas não somente para a tradicional
alfabetização, processo de formação essencialmente de leitores
do tipo contemplativo ou movente, mas também para o letra-
mento digital, contemplado pela educação do leitor imersivo.
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informações importantes, trabalhando para que se tornem signi-
ficativas. Fazer a mediação emocional significa incentivar a tur-
ma, estimular, organizar os limites com equilíbrio, credibilidade,
autenticidade, empatia. Já quando o professor organiza grupos,
propõe atividades de pesquisa, favorece interações, organiza o
processo de avaliação, ajuda a desenvolver todas as formas de
expressão, está agindo como mediador gerencial e comunicacio-
nal. A mediação ética, por sua vez, atende à necessidade de se
vivenciar valores construídos individual e socialmente.
Ensinar e aprender usando as tecnologias digitais envol-
ve estabelecer relações interpessoais e educacionais, ou seja, o
estabelecimento de interações e transações entre os sujeitos e
entre os sujeitos e os “objetos” de aprendizagem. São estas que
suportam, quer a aprendizagem, quer o ensino, e que diferen-
ciam o ato de aprender e o ato de ensinar de um ato mecânico,
socialmente descontextualizado e isolado (QUINTAS-MENDES,
MORGADO & AMARANTE, 2010).
Em uma pesquisa de mestrado, Cruz (2004) trabalhou
durante trinta meses com 15 alunos com deficiência intelectual,
de 19 a 38 anos, em um laboratório de informática. Na primei-
ra fase da investigação foram observadas as aulas, que usavam
softwares infantilizados e instrucionistas, isto é, eram jogos ou
atividades que esperavam do aluno uma resposta certa, sem que
favorecessem uma reflexão sobre o sistema da escrita. Como são
atividades fechadas, também não são contextualizadas nem con-
sideram a realidade dos alunos.
Podemos citar como exemplo, a atividade do software
ABC da Turma da Mônica (Editora Melhoramentos). No Jogo da
Rima havia diferentes questões, como a que solicitava ao aluno
que identificasse a palavra que rimava com RAINHA. Veja na figu-
ra abaixo:
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a escrita a partir de sua manipulação no software Power Point.
Este aplicativo foi escolhido porque já estava instalado no labo-
ratório, não implicando em custo para sua aquisição, e também
porque favorece a produção de atividades totalmente criadas
pelo aluno, com recursos de sua escolha e elementos de sua pre-
ferência, como sons, imagens e cores.
Após um momento inicial, de conversa na roda ou leitura
coletiva de algum material de interesse do grupo, cada aluno es-
colhia o que gostaria de escrever no computador para apresentar
para a turma.
Eles faziam a primeira escrita espontânea, que depois
era refeita com a mediação das pesquisadoras ou das professo-
ras. Esta mediação era feita com base no diálogo, sempre ques-
tionando ao aluno o que ele queria escrever e como ele achava
que deveria fazer isso. O objetivo era levá- lo a pensar sobre a
escrita, pois sabemos que é elaborando hipóteses que se avança
nesta produção.
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- To... to… ‘Tô’ com dor de cabeça. (risos) to... to... Doril!
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Não, Doril não. To... to... Já sei! (digita o O).”
Como resultado da mediação, surge uma “tempestade de
ideias”, onde o aluno identifica o mesmo som, “to” em outros
contextos, inclusive conseguindo diferenciar, sem ajuda, as síla-
bas “to” e “do” (“Doril não”). Finalmente, a satisfação expressa
pelo aluno (“já sei!”) revela o valor de permitir ao estudante que
realize suas próprias descobertas.
O texto com mediação era produzido em “caixinhas”, a
fim de desenvolver consciência das palavras na frase ou das síla-
bas nas palavras. Após este processo de reescrita nas caixinhas,
os alunos deveriam produzir nova escrita espontânea em outro
slide, a fim de verificarmos se sua hipótese inicial havia sido mo-
dificada.
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de aula, igual aos outros colegas. Passei obrigatoriamente a neces-
sitar com uma aluna só que... (fala o nome da aluna) que teve um
momento, tem uns dois anos, que ela não escrevia, que não queria
escrever, se recusava e aí teve um projeto do Instituto “tablet na
escola” pros alunos autistas e aí nós recebemos um para ela. Então
esse ano foi assim um ganho porque ela adora, adora joguinho de
celular, adora tátil, adora computador, na casa é a coisa que chama
a atenção dela, atividades que ela consegue se interessar, e aí nós
passamos: tudo era colocado no tablet, ela fazia, depois a gente
imprimia pra professora ter e pros responsáveis. Então foi um ano
assim que a gente usou como coisa necessária. Os outros não. Às
vezes a gente trabalha uma produção de texto, uma ortografia nos
computadores, mas como uma atividade assim, diferente, enten-
deu? Mas não que tenha essa coisa de só não escrever ou por não
conseguir, por não ter interesse, né? Graças a Deus eles conseguem
trabalhar assim (NASCIMENTO, 2017, p. 88).
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* o novato: não conhece a rede e, por isso, a utiliza de
maneira muito limitada. Anderi e Toschi (2012) afirmam
que geralmente os professores encontram-se no nível
de leigo a novato, o que nos parece a ir de encontro
com a afirmação de Cruz (2013), sobre o currículo ser
desenvolvido para as gerações pré-digitais.
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(MARQUES, 2018)
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desenhos e com uma fonte limpa. Além das frases escritas, foram
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disponibilizados os mesmos enunciados em áudio. Todas estas
medidas são importantes para favorecer o acesso aos conteúdos
escritos para quem possui dificuldade na aprendizagem da lín-
gua escrita.
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Atividade de adaptada a partir da história ‘Bolo fofo’, de Mary França.
Editora Ática.
Além das atividades no Power Point, Nascimento (2017)
também utilizou atividades educativas e disponibilizadas em si-
tes na internet para trabalhar os conteúdos que estavam sendo
abordados pela professora regente em sala de aula. Apresenta-
dos no computador, os mesmos conteúdos curriculares aborda-
dos em sala de aula pareciam despertar imediatamente e com
maior intensidade o interesse dos estudantes.
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Mãe: Sozinho.
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Pesquisadora: Sabe fazer tudo?
Mãe: Sabe
Pesquisadora: Ele sabe escrever o nome que ele
quer do vídeo que ele quer...
Mãe: Ele não sabe não. Ele aperta um botão lá
que eu nem sabia que tinha ele aperta e fala:
“- vídeo tal” Ai vai lá sozinho e consegue.
Pesquisadora: Ah, ele usa o mecanismo de bus-
ca por voz?
Mãe: Isso. Eu nem sabia que tinha. E no dia que
eu comprei o tablet. Ele ligou sozinho sem eu
mexer e eu falei: “- caramba, ele sabe mexer
mais do que eu.” Aí ele mexeu, ele ligou, ele fez
o que tinha que fazer e... sozinho. (NASCIMENTO,
2017, p.93)
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Pesquise e descreva uma atividade de leitura e escrita, na qual
seja utilizada a tecnologia do computador. Não se esqueça de
relatar, principalmente, como você acha que deve ser feita a me-
diação.
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