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Ser diretor de turma.

Contar com a biblioteca escolar

2ª Sessão:
A leitura, a informação, a comunicação e a produção de conhecimento como condição de uma
cidadania crítica, criativa, ativa e responsável.
A educação para as literacias no contexto da sociedade do século XXI.

Texto da sessão

APRENDER NO SÉCULO XXI

Informação e conhecimento

A sociedade em que vivemos é muitas vezes designada como sociedade da informação. De


facto, a abundância de informação é uma característica do nosso tempo. Os media, antigos e
novos, são omnipresentes e estão acessíveis a partir dos dispositivos que nos acompanham
vinte e quatro horas por dia. Vivemos rodeados de ecrãs e ficar, ainda que momentaneamente,
sem acesso à internet é motivo de angústia.

À distância de um clique temos informação acerca de qualquer tema que nos desperte interesse.
Das preciosidades ao lixo, há de tudo na internet e em enorme quantidade. Mesmo quando já
dominamos as funcionalidades de ferramentas que nos permitem selecionar e filtrar a informação
que recebemos, vemo-nos muitas vezes submersos e com a sensação de que há sempre algo
que nos está a escapar. Muitos estudos atuais debruçam-se sobre este fenómeno de sobrecarga
de informação (information overload) e os seus efeitos que são considerados quase tão graves
como os da falta de informação.

A informação que, durante tanto tempo, foi um bem raro, privilégio de alguns é hoje em dia um
bem comum de facílimo acesso. O valor superior, aquele que distingue os bem sucedidos dos
excluídos é o conhecimento, razão pela qual se fala em sociedade do conhecimento.

Transformar a informação em conhecimento é um processo complexo, mas essencial à


aprendizagem. Muitos dos modelos de pesquisa que conhecemos têm como objetivo guiar os

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alunos nesse processo, em que muitas competências estão envolvidas. Algumas podem
considerar-se mais técnicas, como, por exemplo, saber usar os recursos disponíveis, conhecer
estratégias de pesquisa, avaliar a qualidade da informação, saber fazer uma citação e elaborar
referências bibliográficas. Outras têm a ver com a apropriação da informação, como por exemplo,
identificar as ideias fundamentais na informação encontrada e tomar notas. Outras ainda referem-
se à reflexão e questionamento da informação encontrada, à perceção de que, sobre um assunto
pode haver várias perspetivas, à capacidade de chegar a conclusões e de defender as opções
realizadas, à capacidade de sintetizar ideias e de as comunicar a outros e de refletir sobre as
aprendizagens realizadas.

Construir novo conhecimento implica realizar uma série de conexões mentais a partir do
conhecimento prévio que cada um tem sobre um assunto e do olhar crítico sobre a informação
encontrada.

Torna-se então fulcral desenvolver competências, tanto a nível cognitivo como das atitudes, para
lidarmos com a informação e para a gerirmos criticamente, com vista à construção de
conhecimento. As escolas estão tecnologicamente apetrechadas, os alunos acedem facilmente à
informação nas bibliotecas escolares, mas isso, por si só, não significa que saibam mais ou
aprendam melhor. O treino das competências e atitudes acima referidas é crítico para a
preparação dos alunos e a escola é o local onde esse processo deve acontecer.

As literacias

Literacia da informação

A IFLA (International Federation of Library Associations/ Federação Internacional de Associações


de Bibliotecas) (2006) define literacia da informação deste modo:

...o conhecimento e as capacidades necessários para identificar corretamente a informação


necessária para realizar uma tarefa específica ou resolver um problema, para procurar
informação eficientemente, organizá-la ou reorganizá-la, interpretá-la e analisá-la, uma vez
encontrada e recuperada (por ex. descarregada), avaliar o rigor e a fiabilidade da
informação, reconhecer eticamente as fontes das quais ela foi obtida, se necessário
comunicar e apresentar a outros os resultados da análise e interpretação feita, e depois
utilizá-la para realizar ações e conseguir resultados.

Literacia tecnológica e digital


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O uso das tecnologias digitais e da Internet está cada vez mais presente na atividade humana,
sendo cada vez maior o número de pessoas que as usam diariamente para se informarem,
comunicarem, conviverem e divertirem, tanto em contexto profissional como em utilização
pessoal. A exclusão social é agora associada também à exclusão digital.

Do ponto de vista da criação de ambientes propícios à aprendizagem, é hoje impossível concebê-


los sem recurso ao digital. Por isso, a literacia digital, a capacidade de usar diferentes programas,
plataformas e aplicações web, tem de atravessar o desenvolvimento de todas as literacias.

Este conceito aproxima-se de outro também referido em muita bibliografia, o de transliteracia.


Sue Thomas do Transliteracy Group define-o assim: “Transliteracia é a capacidade de ler,
escrever e interagir através de uma diversidade de plataformas, ferramentas e media desde os
signos e a oralidade passando pela escrita, pela imprensa, TV, rádio e filmes, até às redes
sociais digitais.”

Literacia da leitura

A leitura é desde sempre condição indispensável de acesso ao conhecimento. A capacidade de


ler de diferentes formas (skimming, scanning, leitura intensiva, leitura extensiva) e com diferentes
objetivos (por prazer, para obter informação, para estudar,…) continua a ser o fulcro da literacia
da leitura. No entanto, confrontamo-nos agora com uma realidade que traz ao treino da
compreensão leitora novos desafios e uma grande exigência de adaptação por parte da escola.

As novas formas de ler e os seus efeitos sobre o cérebro humano são objeto de investigação e
de discussão. Lemos agora em diferentes suportes e já não temos de ter em conta apenas o
texto, mas também o hipertexto. Os e-books começaram por ser réplicas dos livros impressos,
mas estão a tornar-se cada vez mais objetos interativos. Embora os estudos atuais revelem que
se lê agora mais do que nunca, a facilidade de dispersão torna mais difícil a leitura aprofundada.
A leitura deixou de ser apenas um ato individual e tem também uma dimensão social, estando
cada vez mais associada à escrita e à imagem.

Desenhar estratégias que permitam tirar partido desta nova realidade para criar leitores
competentes exige aos professores, às bibliotecas escolares e à escola em geral um grande
esforço, desde logo na capacitação dos docentes (imigrantes digitais) para se moverem com
proficiência nestes novos ambientes.

Literacia dos media

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O conceito de literacia dos media, ou literacia mediática, ou educação para os media tem sido
alvo de ampla discussão.

No Referencial de Educação para os Media, publicado pelo MEC em 2014, considera-se que

A Educação para os Media é um processo pedagógico que procura capacitar os cidadãos para
viverem de forma crítica e interventiva a “ecologia comunicacional” dos nossos dias. Visa
aproveitar os recursos e oportunidades que os meios e redes de comunicação facultam para
enriquecer o desenvolvimento pessoal e social, de modo a que cada pessoa possa conviver,
aprender e trabalhar com mais qualidade.

Literacia da informação e dos media

A educação para os media agrega, por assim dizer, a literacia da informação e a literacia dos
media. De facto as competências para o uso e apropriação da informação são condição para se
fazer um uso crítico dos media, da mesma forma que, para desenvolver a literacia da informação,
se recorre cada vez mais à informação que é veiculada pelos media.

A UNESCO optou então por adotar a designação Media and Information Literacy e engloba nela
as múltiplas literacias que encontramos na literatura atual: para além das literacias da informação
e dos media, também a literacia digital e informática, as competências necessárias para usar a
Internet, para jogar, para interpretar o cinema e a televisão, para descodificar as notícias e a
publicidade, para usar as bibliotecas, para usufruir da liberdade de expressão e de informação.

Aprender no século XXI: competências necessárias ao exercício da cidadania

Vivemos numa sociedade em que o conhecimento está na base de todas as atividades


económicas e que exige de cada indivíduo a capacidade de aprender ao longo da vida e de ser
criativo, crítico e inovador.

A criação de ambientes de aprendizagem colaborativos, significativos, em que as tecnologias e


os media sociais estejam incorporados é crítica para a formação dos alunos que queremos
preparar para os desafios do futuro. De igual modo competências cruciais como a cooperação e
colaboração, a criatividade, a inovação, a capacidade de tomar decisões dependem em muito da
criação destes ambientes.

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A revolução digital tornou diferente a forma como lemos, como acedemos à informação, como
construímos conhecimento, como pensamos. A rapidez que caracteriza a vida na era digital exige
uma cada vez maior proficiência de leitura, competências técnicas e críticas para trabalhar com a
informação e com os media, maior exigência no que se refere às questões éticas e de
responsabilidade intelectual.

Se é verdade que as crianças e jovens se movem de uma forma muito natural no meio de todos
os dispositivos tecnológicos que têm ao seu alcance, como se já nascessem ensinados, está
provado que têm um fraco ou nulo domínio das competências críticas e éticas que lhes serão
exigidas ao longo da vida. Essas têm de ser objeto de uma aprendizagem gradual, sistemática e
estruturada que só a escola poderá proporcionar, redesenhando os atuais ambientes de
aprendizagem, através, nomeadamente, da articulação da biblioteca escolar com o currículo,
baseada num referencial de competências a desenvolver no domínio das múltiplas literacias.

Só o domínio destas competências (pensamento crítico, criatividade, participação, colaboração,


autonomia, responsabilidade) permitirá aos alunos o exercício pleno da cidadania.

Face à sua natureza comportamental e ética, a Educação para a Cidadania implica não só a
aquisição de conhecimentos (saber), mas também o domínio prático de capacidades (fazer) e o
desenvolvimento de atitudes e de valores (ser), sendo nela tão importante o que se aprende,
quanto o como se aprende e o porque se aprende.

As estratégias didáticas e pedagógicas em torno da Educação para a Cidadania têm de ser,


deste modo, consistentes e coerentes com o carácter das aprendizagens pretendidas, usando
neste trabalho as mesmas qualidades que se pretendem estimular e incluindo os alunos na sua
prática ativa.

Referências bibliográficas

Boeck, T. & Thomas S. (2010) Amplified Leicester. Impact on social capital and cohesion. Retirado
de: file:///E:/3-RBE%202016-
17/Forma%C3%A7%C3%A3o%20DT/2%C2%AA%20sess%C3%A3o/amplified_leicester.pdf

IFLA/UNESCO (2005). Faróis da Sociedade da Informação Declaração de Alexandria sobre


literacia da informação e aprendizagem ao longo da vida. Retirado de:
http://www.ifla.org/files/assets/wsis/Documents/beaconinfsoc-pt.pdf

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IFLA (2006). Guidelines on Information Literacy for Lifelong Learning. Retirado de
www.ifla.org/VII/s42/pub/IL-Guidelines2006.pdf

Ministério da Educação e Ciência. Direção-Geral da Educação (2013). Educação para a


Cidadania - linhas orientadoras. Retirado de:
http://www.dge.mec.pt/sites/default/files/ECidadania/Docs_referencia/educacao_para_cidad
ania_linhas_orientadoras_nov2013.pdf

Ministério da Educação e Ciência (2014). Referencial de Educação para os Media para a


Educação Pré-escolar, o Ensino Básico e o Ensino Secundário. Retirado de:
file:///C:/Documents%20and%20Settings/imendinhos/Os%20meus%20documentos/Downlo
ads/dge_referencial_educacao_para_os_media.pdf

Ministério de educação e Ciência. Rede de Bibliotecas Escolares (2012). Aprender com a


biblioteca escolar. Enquadramento e conceção. Retirado de:
http://www.rbe.mec.pt/np4/file/697/aprender_enquadramento.pdf.

UNESCO. Alfabetización mediática e informacional. Retirado de:


http://www.unesco.org/new/es/communication-and-information/media-development/media-
literacy/mil-as-composite-concept/

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