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Culturas Digitais

Cultura digital e
Tecnologias digitais de
informação e Comunicação
CULTURA DIGITAL E TECNOLOGIAS DIGITAIS
DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TDIC)

INTRODUÇÃO

Quando pensamos em tecnologias, logo temos a tendência a imaginar que os nativos di-
gitais (aquela geração que nasceu quase digitando) dominam as Tecnologias Digitais de
Informação e Comunicação (TDICs). Utilizam celulares com maestria, comunicam-se pelas
redes sociais, acessam informações com velocidade e parecem protagonistas e criadores
de tecnologias digitais.

Será verdade? Nossos alunos realmente compreendem as TDICs. Em outras palavras, são
digitalmente letrados?

E nós professores, qual a nossa relação com a TDICs? Em nossas aulas, como nos utilizamos
dessas tecnologias? Elas impactam em nosso cotidiano, de alguma maneira?

Vamos usar como base para um sujeito alfabetizado como aquele que decodifica as estru-
turas. Conhece os códigos e está apto a ler e escrever. Então, o sujeito letrado é aquele que
tem sua relação com a língua escrita mais ampliada, interpretando textos, se utilizando da
língua como instrumento de comunicação crítico e consciente. Essa mesma ideia é aplicável
às tecnologias. Uma pessoa digitalmente letrada modifica sua relação com as linguagens di-
gitais, apropria-se delas e cria seus próprios textos. Sai do âmbito de usuária para criadora.

Nesse sentido, para que se possa falar em letramento digital, é necessário que o estudante
possa se apropriar dos códigos específicos das TDICs, compreendê-los e utilizá-los de manei-
ra a se comunicar, buscar e compreender a relação entre as informações e seus contextos.
Estabelecer relações entre as informações e a vida real, por exemplo. Será que nossos alu-
nos são letrados digitalmente?

No exemplar dedicado à cultura digital, da série Cadernos Pedagógicos, produzida pelo


MEC, a concepção de letramento se refere ao letramento digital como forma de “com-
preender os usos e possibilidades das diferentes linguagens na comunicação, entre elas a
linguagem narrativa verbal: a escrita” (BRASIL, 2020, p.27). Compreender “para analisar e ava-
liar criticamente textos narrativos verbais ou não verbais” (Idem), interpretando os textos
– verbais e não verbais e em diferentes suportes, de modo a:

identificar e problematizar a informação recebida, co-


nhecendo e usando os diferentes tipos de mídias tanto
para identificar situações quanto para transformá-las, de-
pendendo do contexto em especial, em contextos sociais,
como sua escola ou comunidade. (BRASIL, 2020, p.27).

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Quando falamos em letramento digital falamos também em níveis de diferenciação de
tempo, de espaço, de lugar, de acesso. Nem todos nossos alunos conseguem ter acesso ao
mundo digital. Porém, independentemente de fatores de exclusão digital, é preciso tam-
bém discutir as condições de compreensão deste mundo digital. Se hoje temos condições
de nos comunicar, de nos fazer entender nestes ambientes não convencionais, isso é fruto
da nossa interação com essas mídias. A escola precisa ter currículos que permitam aos alu-
nos o acesso responsável e ético às mídias digitais para que possam navegar de maneira
segura e consciente.

Para que nossa interação não seja apenas a de receber e enviar mensagens síncronas ou
assíncronas, precisamos conhecer outros recursos, hoje de fácil acesso e uso, que podem
potencializar nossas condições de interpretação e compreensão, tais como recursos de edi-
ção de imagens, de fotos, de filmes, de músicas. Para essas funções existem softwares livres,
assim denominados pelo fato de serem ferramentas construídas de forma aberta e colabo-
rativa na rede, que podem garantir uma maior familiaridade com o que vemos e ouvimos
nos espaços das mídias digitais e também o discernimento necessário para compreender
nosso mundo da cultura digital.

Mas, o que é cultura digital?

A cultura digital pertence ao campo cultural das práticas simbólicas realizadas pelos gru-
pos sociais que têm como base as tecnologias digitais. Como “um campo vasto e potente,
pois pode estar articulada com qualquer outro campo além das tecnologias, como por
exemplo a arte, a educação, a filosofia, a sociologia etc.” (BRASIL, 2020, p.13)

Esse vasto campo se interconecta aos currículos, pois a escola não está isolada da socieda-
de e das práticas que acontecem para além dela, sobretudo porque como espaço de cultu-
ra, a escola é impactada pelas práticas que se desenrolam por meio das culturas de seus
sujeitos (alunos, professores e todas as equipes). A cultura digital produz novas maneiras de
acessar informações, buscar dados, de se comunicar, produzindo novas formas de aprender:

Esses novos jeitos de aprender, nos dias de hoje, escapam


ao modelo hierárquico, sequencial, linear e fechado em
apenas um turno escolar. Compreendem a ideia de rede
no ato de conhecer, alterando formas e jeitos de apren-
dizagem e interpelando-nos a pensar novas formas de es-
colarização e de fazer cultura. É possível pensar a Cultura
Digital como um tipo de área do conhecimento, aquela
que gestiona, intercruza as informações e conhecimentos
produzidos pela humanidade (BRASIL, 2020, p.13).

A educação já está imersa em processos digitais e não será mais possível deixar a relação
entre sala de aula e computadores. Em função do período de isolamento social, provocado
pela pandemia por conta do novo Coronavírus, as ferramentas digitais ocuparam a pauta
de ações das escolas, cooperando para a educação de crianças e jovens. Porém, nem todas
as crianças e jovens tem acesso a esse ensino remoto. Cabe à escola inserir todas as crian-
ças e jovens em uma cultura digital que não mais sairá do campo educacional obrigando
os currículos a repensarem seus processos de modo a compreender e incorporar práticas
híbridas.

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Quando falamos em letramento digital falamos também em níveis de diferenciação de
tempo, de espaço, de lugar, de acesso. Nem todos nossos alunos conseguem ter acesso ao
mundo digital. Porém, independentemente de fatores de exclusão digital, é preciso tam-
bém discutir as condições de compreensão deste mundo digital. Se hoje temos condições
de nos comunicar, de nos fazer entender nestes ambientes não convencionais, isso é fruto
da nossa interação com essas mídias. A escola precisa ter currículos que permitam aos alu-
nos o acesso responsável e ético às mídias digitais para que possam navegar de maneira
segura e consciente.

Para a escola, o trabalho precisa se ampliar da transmissão de informações para a descen-


tralização das informações, produzindo práticas dialógicas de construção compartilhada de
conhecimento. Portanto, são novas formas de trabalhar que impulsionam aprendizagens
mais complexas, dentro de um conceito dos multiletramentos.

São muitas as possibilidades para um currículo “digital”, com aberturas para outros textos e
outras plataformas com ações de investigação e criação de conteúdos, de textos múltiplos
com potenciais de abertura para novas linguagens e interfaces.

Mas como fica na sala de aula?

Vamos lembrar que a BNCC não é um currículo, mas uma estrutura que estabelece o que
todas as escolas precisam ter como diretriz para criar seus planos de ensino nas escolas.
Isso gera a necessidade de se debruçar sobre ela para pensar em como adaptar práticas já
realizadas nas escolas, alinhando-as aos pressupostos do documento.

Por isso, centros de referência em educação desenvolveram estudos e propuseram estru-


turas curriculares que permitem às escolas realizar desenhos curriculares a partir delas.
Selecionamos duas propostas realizadas pelo Centro de Inovação para a Educação Brasileira
(Cieb) e o Movimento Todos Pela Base.

No Currículo de referência em Tecnologia e Computação, proposto pelo Cieb, o ensino de


tecnologias se estrutura em três eixos: Cultura Digital, Pensamento Computacional e Tec-
nologia Digital. Cada eixo se desdobra em conceitos e habilidades. Esse currículo se baseou
em referenciais da SBC (Sociedade Brasileira de Computação). Desse modo, Cultura digital,
Tecnologia digital e Pensamento computacional, desdobram-se em letramento digital, cida-
dania digital e tecnologia e sociedade.

O Movimento Pela Base detalhou as dimensões e subdimensões propostas da seguinte


maneira:

Dimensão: COMPUTAÇÃO e PROGRAMAÇÃO


Subdimensões: Utilização de ferramentas digitais, Produção multimídia e Linguagens de
programação.

Dimensão: PENSAMENTO COMPUTACIONAL


Subdimensões: Domínio de algoritmos e Visualização e análise de dados

Dimensão: CULTURA e MUNDO DIGITAL


Subdimensões: Mundo digital e Uso ético

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Ambas propostas podem ser encaminhadas de maneira a contribuir para a criação de
currículos nas escolas. Utilizam como referência eixos estruturantes integrando, cultura,
pensamento computacional e práticas com as linguagens digitais.

No eixo cultura cabe pensar acerca da dimensão da ética e da cultura digital, construindo
um modo de estar no mundo relacionando-se com as tecnologias de maneira ética, dentro
de uma dimensão inserida em um contexto cultural, com pessoas se comunicando, se rela-
cionando, vivendo nas instâncias sociais.

O pensamento computacional se relaciona ao modo de pensar próprio das linguagens


computacionais, dominando códigos específicos e desenvolvendo conteúdos a partir do
domínio dessas linguagens próprias das tecnologias.

As práticas estão entrelaçadas aos dois outros eixos. O que fazer? Como fazer? Para quê?

Concluindo

Para desenvolver currículos que possam contemplar a competência Cultura Digital é ne-
cessário pensar para além do uso das tecnologias, para realizar propostas que instiguem
os estudantes a compreender as tecnologias como forma de se comunicar com o mundo
contemporâneo em uma dimensão contextual, refletindo acerca de seu papel social e do
papel que as mídias têm. Os currículos precisam construir possibilidades de indagação e
de uso criativo das tecnologias de uma maneira reflexiva dentro de um pensamento crítico
em suas práticas sociais.

Nesse sentido, as tecnologias ganharão outra dimensão no currículo, passando a contribuir


para a coleta de dados e informaçõess relevantes a serem discutidas em sala de aula de
modo que os alunos possam construir novos conhecimentos em uma prática dialógica,
produzindo significados. O currículo possibilitará aos estudantes que possam ter um aces-
so a comunicação podendo desenvolver seus conhecimentos e tendo sua autoria como o
protagonista dentro dela.

Ao trabalharem com elementos da cultura digital como leitores proficientes, como sujeitos
letrados, os estudantes serão capazes de se deslocar de um papel de usuários para o de
produtores de informação.

Para pensar:

Quais são os melhores conteúdos de tecnologias digitais para serem trabalhados em


minha escola?

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SOBRE A AUTORA

KÁTIA HELENA ALVES PEREIRA


Possui doutorado e mestrado em Linguagem e Edu-
cação pela FEUSP. Especialização em Psicopedagogia
(UNIP). Graduação em Artes Plásticas pela Faculdade
de Belas Artes de São Paulo e em Pedagogia pela Uni-
versidade 9 de Julho. Coordenadora pedagógica da
Digital House Schools. Atuação profissional como co-
ordenadora pedagógica e professora da educação bá-
sica. Coordenadora e docente de cursos de formação
continuada para professores. Autora de livros para
professores. Artista plástica e pesquisadora da cultura
popular brasileira.

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