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RECURSOS DIGITAIS:

SOFTWARES
EDUCACIONAIS

Autores: Wellington Lima Amorim e Everaldo da Silva

UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:


Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Camila Roczanski
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci

Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2019


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

AM524r

Amorim, Wellington Lima

Recursos digitais: softwares educacionais. / Wellington Lima Amorim;


Everaldo da Silva. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.

152 p.; il.

ISBN 978-85-7141-310-8

1. Computação. – Brasil. 2. Softwares educacionais. – Brasil. I. Silva,


Everaldo da. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 004

Impresso por:
Sumário

APRESENTAÇÃO.............................................................................5

CAPÍTULO 1
Globalização, Racionalidade e Sociedade em Redes................7

CAPÍTULO 2
Gestão do Conhecimento e Revolução 4.0...............................51

CAPÍTULO 3
Experiências e Reflexões Sobre Inovações na Educação.....95
APRESENTAÇÃO
É com imensa satisfação que apresentamos o livro da disciplina de Recursos
Digitais: Softwares Educacionais. Sua elaboração é resultado de um longo
processo de discussão e reflexão entre os autores. Sem dúvida, sua origem está
pautada no respeito, na valorização e na credibilidade conferida aos professores e
estudantes da comunidade acadêmica da UNIASSELVI.

Nosso objetivo aqui é fomentar o desenvolvimento do conhecimento científico


e contribuir para a sua disseminação entre as comunidades acadêmicas.

Os textos, as leituras e as atividades aqui apresentados são importantes


para você estudante, principalmente aqueles focados em temáticas que
buscam estabelecer uma parceria entre a empresa, a ciência, a inovação e o
desenvolvimento pessoal.

Ao ler as análises e as discussões promovidas nos estudos apresentados,


é possível perceber o espírito investigativo de seus autores. Além disso,
constatamos releituras sobre temas atuais e polêmicos, bem como proposições e
reflexões que podem contribuir para o incremento de novas práticas nas diversas
áreas do conhecimento científico e no mundo do trabalho.

Nesta obra apresentaremos temas relacionados à Globalização, à Cultura,


à Sociedade em Redes e da Informação, à Inteligência Artificial, à Inovação na
Educação e à Interdisciplinaridade.

Uma boa leitura, e lembrando o que o diz o professor Waldez Ludwig:


“Num mundo em que a diferença será pelo talento, criatividade e capacidade de
reinventar-se, a educação pela “decoreba” está com os dias contados”.

Os autores.
C APÍTULO 1
GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E
SOCIEDADE EM REDES

A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Identificar a relação entre o processo de globalização da informação e da


cultura, seus efeitos nas relações sociais e na educação contemporânea.

• Espírito de cooperação, indispensável para o desenvolvimento social saudável


e sustentável. Capacidade para relacionar teoria e prática numa perspectiva de
desenvolvimento social.
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

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Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Iniciaremos nossa jornada na leitura e discussão de temas relevantes sobre
Recursos Digitais: Softwares Educacionais.

Neste capítulo, nosso objetivo é fazer com que você reflita sobre globalização
e redes, sociedade da informação, cultura e criatividade, tudo isso num processo
de produção sofisticado e bem cuidado.

Publicar e discutir sobre esses temas hoje é fundamental. Isso demonstra


mais uma vez que vale a pena se dedicar à leitura, à escrita e à elaboração de um
texto de acordo com as regras metodológicas que orientam todos os trabalhos da
UNIASSELVI.

2 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE
E SOCIEDADE EM REDES
A sociedade moderna, em permanente mudança, exige estudo constante
de todos nós. A educação convencional não consegue mais atender à demanda
de formação e atualização profissional no atual sistema. Felizmente, a evolução
tecnológica possibilita novas soluções na área da educação. Uma dessas soluções
é o ensino a distância: caracterizado pela separação física entre o professor e
o aluno, que são conectados por uma tecnologia de comunicação bidirecional,
tendo a mídia como uma mola propulsora da elaboração, discussão e divulgação
do conhecimento.

Uma das primeiras mídias conhecidas pela civilização é o livro. Todavia,


existem diversas mídias consideradas de massa, como a imprensa,
Uma das primeiras
o cinema, o rádio, a televisão e, mais recentemente, a internet.
mídias conhecidas
Contemporaneamente, os efeitos que as mídias de massa pela civilização é
passam a exercer sobre o ser humano podem ser analisados o livro. Todavia,
interdisciplinarmente, perpassando transversalmente a Educação, a existem diversas
Psicologia, a Sociologia, a Antropologia etc. mídias consideradas
de massa, como
a imprensa, o
É preciso pensar sobre as diferentes áreas e como elas se
cinema, o rádio, a
conectam e fornecem subsídios para formar identidades no mundo televisão e, mais
contemporâneo a partir dos efeitos da tecnologia em rede e a recentemente, a
globalização. É possível perceber que diferentemente de outras internet.
mídias, a internet exige do indivíduo outra postura, diferentemente da
tradicional que, em geral, nos colocava diante de certa passividade, fragilidade

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Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

e domesticação frente aos meios de comunicação de massa. No paradigma


tradicional, somos seres domesticados, no atual paradigma, somos seres
desinibidos, interdisciplinares, multidisciplinares e líquidos.

Segundo Sloterdijk (2000), em sua obra, As Regras do Parque


Humano, as novas tecnologias provocaram a falência do humanismo
ocidental, uma vez que não conseguem mais domesticar o homem,
desinibindo-o.

No atual estágio de desenvolvimento ocorreu um deslocamento do


humanismo que sempre buscou a última fundamentação das coisas em si
mesmas e que sempre exigiu um alto grau de domesticação para se buscar um
fim, para um plano midiático onde impera o médium, o meio, e não mais um fim
em si.

É importante lembrar que o livro, enquanto mídia, sempre teve a escrita como
método de persuasão para atingir o outro para quem se endereça a obra, o leitor.
A obra literária por mais de 2.500 anos teve a função de domesticar (sinônimo
de civilizar). A escrita exige do indivíduo atenção, foco, monodimensionalidade,
uma técnica específica de capturar amigos através da persuasão da escrita,
de construção de subjetividades. Contudo, serão as redes computacionais que
desinibirão o homem, atiçando a sua vontade de poder.

Saiba mais sobre a Língua Portuguesa no Brasil. Disponível em:


<http://museudalinguaportuguesa.org.br/>.

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Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES

Apesar de reconhecermos a eficácia dos modelos tradicionais


Precisamos mudar,
mecanicistas em um determinado momento da história, temos o mundo mudou,
certeza que estes modelos são ultrapassados para o nosso momento. nossa sociedade
Precisamos mudar, o mundo mudou, nossa sociedade mudou e com mudou e com isso
isso temos que ver e tratar o indivíduo não somente como mão de temos que ver e
obra, ou ser pensante que é, mas também como um ser que sente, tratar o indivíduo
não somente como
que fala, que tem desejos e que está cada vez mais conectado.
mão de obra, ou
ser pensante que
Em pleno século XXI, verificamos mudanças radicais, é, mas também
com uma crescente exigência de um trabalhador polivalente, como um ser que
multidisciplinar, capaz de estar pronto para rápidas mudanças, sente, que fala, que
muitas vezes antecipando-se ao ambiente tecnológico e econômico tem desejos e que
está cada vez mais
e, principalmente, ter a capacidade de trabalhar em equipe, tendo
conectado.
como requisito fundamental um bom relacionamento interpessoal,
capacidade de lidar com as pessoas e vontade de crescer na organização.

A INTELIGÊNCIA CORPORAL DIANTE


DAS EMPRESAS MECANICISTAS

Para entender melhor a grande problemática que afeta os


profissionais no sistema organizacional mecanicista, com seus corpos
inteligentes, é preciso compreender exatamente o cotidiano das
repetições em suas funções, ou seja, entender o que existe dentro do
sistema mecanicista. O potencial corporal humano está voltado para
a rapidez (tempo) e para o controle de tarefas (produção). Assim, o
profissional é uma engrenagem e sua potencialidade corporal neste
momento fica engessada e o raciocínio semibloqueado.

Na vida trabalhista, o problema não está no “não pensar, e


sim no executar”. É um fenômeno paralisante e moderno, pois as
primeiras atividades elaborativas no histórico do mundo chamado
trabalho estão voltadas ao artesanato, vindo depois a industrialização
e, em seguida, a informatização.

No setor Organizacional Mecanicista, a evolução da


industrialização e da informatização proporciona inovações que
impossibilitam os colaboradores de criar e produzir corporalmente.
Talvez nasçam daí o sentimento de frustração em suas atividades
repetitivas e o sentir-se robô da indústria.

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Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

Este robô-orgânico, que pensa, memoriza, enxerga, interpreta,


raciocina e reflete o que se passa em seu meio de trabalho, poderá
encontrar o fracasso em seu trabalho, com a não contribuição de
seus corpos inteligentes. Este efeito em massa mecanicista, do
não crescer intelectual e corporalmente, traz um diagnóstico nítido
para a lupa da Inteligência Corporal na educação/treinamento no
trabalho, no sentido do desenvolvimento humano, não despertando
corporalmente com a psique.

O processo de insatisfação dos funcionários, nesse processo de


controle e de tempo, seria a transformação do ambiente profissional
em um campo de tortura, ou seja, de perda do ciclo de felicidade no
trabalho.

Diante do momento extraordinário do desenvolvimento do


capital humano, o desenvolvimento corporal contribui para o talento
corporal e este referencial passa a obter e a sustentar vantagens
competitivas dentro das organizações mecanicistas.

Para refletirmos sobre nossa apresentação, tentaremos nos


colocar como os funcionários que atuam nas indústrias (sistema
mecanicista), na qual estão acostumados a fazer atividades
repetitivas. Isso dá indícios de que o sofrimento profissional ficou
acima das máquinas, perante esses longos anos e trouxe com ele a
dor da não potencialidade corporal para o ciclo do desenvolvimento
humano, como um ser eficiente e eficaz em suas tarefas profissionais
cristalizadas, ou seja, com uma camisa de força.

Estas “lágrimas” profissionais são importantes para a


reestruturação de novos movimentos corporais e novas execuções
elaborativas, pois elas aparecem como intermediárias, necessárias
para a não submissão do executar, mas, sim, para o senso corporal
de contribuir, dentro de uma visão de reestruturação.

A inteligência corporal assumirá o compromisso de refazer as


imagens corporais, rompendo o gesso, descristalizando o perigo
sobre as máquinas, desmistificando o medo de ser um profissional
com mais talento e mais competente com seus movimentos e gestos.

Fomos educados para controlar e disciplinar o corpo, não


podemos esquecer que nascemos bebê e o corpo é a grande alavanca
para o conhecimento do novo mundo desconhecido, o movimento e

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Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES

os gestos são agentes formadores de nossa psique, lógico que a


mente apresenta seu papel fundamental. A pré-depressão corporal
tornou-se tão comum nas organizações mecanicistas que esta
reação passou a ser chamada de “estado adormecido corporal”.

Acredite mais em sua potencialidade corporal, ela é a melhor


amiga da sua mente e não deixará ser vencida pelos pensamentos
autoritários, solte-se e deixe viver plenamente com o seu maravilhoso
corpo. Lembre-se: seus pés e suas mãos trouxeram você aqui e,
com certeza, o levaram à reflexão e ao encontro do novo caminho
de atividades.

FONTE: MARTINI, M. de. A inteligência corporal diante das


empresas mecanicistas. 2003. Disponível em: http://www.rh.com.
br/Portal/Mudanca/Artigo/3610/a-inteligencia-corporal-diante-das-
empresas-mecanicistas.html. Acesso em: 13 nov. 2018.

Vale destacar que uma das mudanças que temos percebido durante o
atual período de transição das organizações e dos indivíduos é a questão da
contingência. Quando falamos de contingência, estamos falando de algo incerto ou
eventual. São fatores que podem ser tanto internos quanto externos à organização
e podem mudar a estrutura do ambiente organizacional.

Para nós, os seres humanos não são objetos; ou seja,


controláveis por alguma mão invisível ou algum mecanismo,
inatingível e autorregulável, de ameaças. Para nós, o homem é
um sujeito: um ser autodeterminado que é capaz de participar na
transformação de seu mundo. Com sua capacidade criadora, ele
é capaz de transformar estreiteza em profundidade (GARCIA,
1980, p. 16).

Dentre as milhares de teorias que já foram ou ainda serão formuladas em


Administração, há uma que nunca será aposentada por invalidez ou velhice. A
Teoria da Contingência nem é bem uma teoria, mas uma simples questão de bom
senso: ela afirma que nas empresas nada é absoluto, ou, como dizia Einstein, que
tudo é relativo.

A Teoria da Contingência poderia ser chamada, na intimidade, de Teoria do


Depende. Ela está a meio-caminho entre a Verdade Absoluta e o Caos Total. A
Verdade Absoluta prega que, seguindo-se um caminho predeterminado e nunca se
desviando dele, chega-se a um Objetivo. Já o Caos Total garante que, não importa
o caminho a ser usado, nunca se chegará a lugar nenhum. O conceito de Caos

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Total deu à luz uma série enorme de regras metafísicas de Administração, como a
célebre “tudo o que pode dar errado dará”, a Lei de Murphy.

Já a Teoria da Contingência (palavra de origem latina, que significa “dúvida”)


admite que o caminho pode até estar no mapa, mas adverte que a jornada será
acidentada e que alguns dos acidentes do percurso não podem ser previstos
antecipadamente, e se o viajante não estiver preparado para ir enfrentando os
empecilhos, na medida em que eles aparecem, ou se perderá, ou chegará atrasado
ao Destino, ou desistirá no meio da jornada.

Em quanto tempo um determinado projeto será concluído? Segundo as teorias


fundadas na Verdade Absoluta, em dez semanas, nem uma hora a menos. Pelo
conceito de Caos Total, o melhor seria abandonar o projeto, já. De acordo com a
Teoria da Contingência, tudo indica que serão aproximadamente dez semanas.

No coração da Teoria da Contingência sempre cabe mais um conceito, e a


Inteligência Emocional é um deles. Bons executivos são bons porque possuem
a habilidade de enxergar problemas potenciais, contrariando a maioria, para a
qual não há problemas à vista. Os executivos ligados à Teoria da Contingência
conseguem relacionar fatos isolados que, na aparência, não têm nada que ver uns
com os outros. Acreditam na existência de fatores meio etéreos, como o Acaso,
mas não na loteria da Sorte e do Azar. Decidem com dados insuficientes e acertam,
na maioria dos casos. São otimistas, que sempre partem de premissas pessimistas.

É claro que não basta decidir rápido para decidir bem. Muitas decisões
apressadas se revelam catastróficas. Como a única ciência exata que existe em
Administração é a previsão do passado, sempre se saberá com certeza - quando
for tarde demais - por que uma decisão foi errada, e aí qualquer Zé-mané poderá
dizer qual deveria ter sido a decisão correta.

A Teoria da Contingência ensina que maior será a possibilidade de acerto


quanto mais forem as opções de rotas alternativas, e que cada rota alternativa deve
trazer embutidas várias possibilidades imediatas de alteração de rumo. Simples?
Pelo contrário, quando há um confronto entre o que os números e os dados indicam
e o que a experiência e o sentimento recomendam, o resultado tanto pode ser uma
decisão brilhante como uma bruta gastrite. “Arrependimento mata. Indecisão mutila.
Perfeição não existe. A mais complicada das decisões é decidir quando decidir e
quando não decidir. A receita, infelizmente, não está em nenhum livro. Está dentro
da cabeça de cada um” (GEHRINGER, 1998, p. 55).

Dando continuidade, as organizações podem contribuir muito para o


desenvolvimento de projetos tecnológicos e sociais na sociedade, já que elas podem
assegurar a representação equilibrada de diferentes interesses da sociedade civil

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Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES

e buscar formas viáveis de participação. Uma contribuição muito importante que


as organizações podem prestar à sociedade está no aprendizado de uma nova
racionalidade: a racionalidade substantiva, elemento fundamental que possibilita a
transformação e a superação das condições dadas que envolvem o indivíduo, por
meio de sua ação consciente.

Nesse sentido, deve-se dizer que ainda vemos a racionalidade instrumental


(funcional) nas necessidades de eficiência, de qualidade e de competitividade que
representam “critérios de dispensa” de muitas pessoas nas organizações. Nós,
na nossa vida pessoal também deixamos de ser seres substantivos para agir de
acordo com a razão instrumental (funcional).

Os seres humanos trazem idiossincrasias contrárias à racionalidade da


organização. Dessa forma, é mister dizer que para submeter à disposição singular
do ser humano de pensar seus valores e interesses individuais ao propósito da
organização, esta precisa submeter as pessoas a um objetivo comum, e este
objetivo acaba não sendo coletivo e democraticamente determinado; ele é imposto
de maneira legítima, pela direção da organização.

Dentro das organizações, muitos indivíduos sobressaem do mais alto grau de


racionalização e regulação que se alcança a sociedade, ao qual o indivíduo que
participa dela não só recebe prescrita a condução de seus atos e normas reguladas,
mas também a sua liberdade de pensamentos e sentimentos permitidos.

Normalmente, encontramos pessoas relatando algum fato em uma organização


onde o indivíduo se sente oprimido, tendo sua personalidade não aceita. Esses
profissionais geralmente reprimem os traços de sua personalidade, passando a
agir como máquinas e, principalmente, utilizando intensivamente a racionalidade
funcional.

Acreditamos que considerar a personalidade do funcionário para direcionar sua


carreira, em geral, resulta em bem-estar. Porque muitas vezes, de tanto a pessoa
ter a sua personalidade reprimida, ela fica bloqueada, anulando seus valores para
aceitar a demanda externa, gerando sentimentos como o da agressividade e, nesse
caso, acontece o pior, o funcionário acaba sendo reconhecido como um funcionário-
problema.

Precisamos privilegiar a cooperação e a compreensão entre as pessoas,


a emancipação da consciência individual e a preocupação com o bem-estar.
Para tanto, a consciência individual resulta do uso da razão, o que pressupõe
julgamentos, valores e ética. Atualmente, o que temos é a prevalência da
racionalidade funcional (busca do sucesso individual, desprendido do julgamento
ético), fruto de uma sociedade centrada no mercado, com seres humanos induzidos

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Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

por meios de comunicação e de publicidade, que influenciam fortemente o nosso


poder de separar o certo do errado.

O sentido dado à palavra “razão” nos dias atuais é bem diferente do sentido
antigo. Como mostra Ramos (1989 apud KOPELKE, 1998), o que hoje se entende
por razão constitui apenas um “cálculo utilitário de consequências”, ou seja, uma
série de medidas organizadas de forma a levar a um objetivo previamente definido.
Esse conjunto de atos organizados estará em suas melhores condições quando,
para atingir o objetivo, coordena os meios da forma mais eficiente possível, porém,
essa é uma visão parcial do antigo conceito de razão.

Karl Mannheim chama esta razão de funcional, Max Weber de razão


instrumental e Eric Voegelin de razão pragmática. Entretanto, no sentido antigo,
razão era considerada a capacidade humana de distinguir entre o bem e o mal,
entre o falso e o verdadeiro, e a partir desta capacidade, ordenar a sua vida pessoal
e social, isto é, a razão, do ponto de vista antigo, é permeada por um elemento
ético que permite ao ser humano ter percepções inteligentes das inter-relações
dos mais variados acontecimentos de sua vida, o que permite uma vida pessoal
orientada por julgamentos independentes. A esse tipo de razão, Weber chamou de
racionalidade de valor, Mannheim de racionalidade substancial e Voegelin de razão
noética.

Entendemos como substancialmente racional um ato de pensamento que


revele percepção inteligente das inter-relações dos acontecimentos de uma
determinada situação. Assim, o ato inteligente de pensamento, em si, será descrito
como “substancialmente racional”, enquanto tudo o mais que seja falso, ou não
seja absolutamente um ato de pensamento (por exemplo, impulsos, desejos
e sentimentos, tanto conscientes como inconscientes) serão denominados
“substancialmente irracionais” (MANNHEIM, 1962 apud KOPELKE, 1998).

Se na definição de racionalidade funcional for dado ênfase


Uma ação pode à coordenação da ação com referência a um objetivo definido,
ser funcionalmente tudo o que desintegra e interrompe essa ordenação funcional é
racional ou
funcionalmente irracional. Tal interrupção pode ser provocada não só
irracional,
dependendo através de irracionalidades substanciais, como fantasias cerebrais
da situação do e as explosões violentas de indivíduos sem controle, mas também
observador. através de atos perfeitamente intelectuais que não se harmonizem
com a série de ações para que se voltam as atenções. O termo
irracionalidade funcional jamais caracteriza um ato em si, mas somente em relação
a sua posição no complexo total de conduta, do qual faz parte. Uma ação pode
ser funcionalmente racional ou irracional, dependendo da situação do observador.
Por exemplo: as tradicionais queimadas dos campos de cana-de-açúcar em época
de colheita no interior do estado de São Paulo estão sendo muito criticadas pelo

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Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES

elevado grau de poluição atmosférica que produzem ao lançarem no ar diversos


agentes cancerígenos, além de degradarem o solo. Tal situação fez com que
diversas entidades ecológicas e de preservação ambiental pressionassem o
governo do estado para que este tornasse obrigatório a mecanização da colheita
da cana-de-açúcar. Essa lei que obriga a mecanização dentro de um determinado
prazo é considerada funcionalmente racional pelas entidades de preservação
ambiental, mas é, ao mesmo tempo, considerada funcionalmente irracional do
ponto de vista social, pois os trabalhadores agrícolas (boias-frias) perdem a sua
única fonte de sustento.

Da mesma forma, a irracionalidade substancial pode ser relativa.


O irracional nem
Como será demonstrado no decorrer deste trabalho, se a expressão sempre é prejudicial,
de sentimentos, desejos e impulsos fizerem bem à saúde psicológica pelo contrário, está
de uma pessoa, e com isso permitirem que ela cresça e se torne entre as forças
mais madura, responsável e autodeterminada, esses atos podem ser mais valiosas do
considerados substancialmente racionais. Além do mais, o irracional homem, quando
age como força
nem sempre é prejudicial, pelo contrário, está entre as forças mais
motriz no sentido de
valiosas do homem, quando age como força motriz no sentido de finalidades racionais
finalidades racionais e objetivas, quando cria valores culturais pela e objetivas, quando
sublimação ou quando, como puro impulso, intensifica a alegria de cria valores culturais
viver sem romper a ordem social com a falta de planejamento. As pela sublimação ou
sociedades, principalmente a sociedade de mercado, precisam criar quando, como puro
impulso, intensifica
saídas para o desabafo de impulsos, já que a objetividade da vida
a alegria de viver
cotidiana, provocada pela racionalização generalizada, representa uma sem romper a ordem
repressão constante de impulsos (MANNHEIM, 1962 apud KOPELKE, social com a falta de
1998). planejamento.

Tendo claras estas distinções, Mannheim (1962 apud KOPELKE, 1998) afirma
que quanto mais industrializada uma sociedade, mais avançada sua divisão do
trabalho e sua organização, maior será o número de esferas de atividade humana
funcionalmente racionais e, portanto, também previsíveis antecipadamente.
Enquanto o indivíduo nas sociedades antigas, apenas ocasionalmente e em
esferas limitadas, agia de uma maneira funcionalmente racional, na sociedade
contemporânea ele é obrigado a agir dessa forma em um número de esferas de
vida cada vez maior. Isso leva, segundo o autor, a um processo de racionalização
funcional da conduta, que ele chama de autorracionalização.

Por meio da autorracionalização, o indivíduo realiza o controle sistemático de


seus impulsos com o objetivo de planificar a sua vida de modo que toda ação seja
guiada por princípios utilitários orientados para um determinado objetivo.

Por exemplo: se você fosse membro de uma organização de grande alcance,


em que toda ação deve ser cuidadosamente ajustada às demais, seus modos de

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conduta, seu controle e a regulamentação de seus impulsos serão, evidentemente,


muito diferentes do que seriam se você fosse mais ou menos isolado e independente
e pudesse fazer o que lhe parecesse certo. Como trabalhador fabril, terá de
controlar seus impulsos e desejos muito mais intensamente do que como artesão
independente, caso em que sua atividade profissional teria uma organização tão
flexível que poderia, de tempos em tempos, satisfazer desejos que nem sempre
estariam imediatamente ligados ao trabalho em mão (MANNHEIM, 1962 apud
KOPELKE, 1998).

Para Mannheim (1962 apud KOPELKE, 1998), o melhor exemplo dessa


racionalização de tarefas é a Taylorização dos trabalhadores numa fábrica
industrial, mas não só os trabalhadores de nível operacional estão sujeitos a essa
racionalização. O processo também ocorre com todas as pessoas vinculadas
à estrutura de uma organização burocrática. Muitas pessoas têm o seu plano de
vida condicionado por uma carreira, na qual as fases individuais são especificadas
antecipadamente. A preocupação com uma carreira exige um máximo de
autodomínio, pois envolve não só os processos práticos de trabalho, mas também
a regulamentação prescritiva tanto de ideias como de sentimentos que é permitido
ter, e ainda o tempo de lazer de cada pessoa.

Entretanto, pior do que a autorracionalização é quando, por meio da reflexão


e da auto-observação, uma pessoa visa não apenas um treinamento mental para
o ajustamento a um determinado tipo de atividade, mas também uma espécie de
autotransformação interna com o objetivo de remodelar-se mais radicalmente de
forma a se orientar perfeitamente a objetivos puramente utilitários, aceitando a
racionalidade funcional como o padrão fundamental da vida humana.

A industrialização crescente, na verdade, implica na racionalidade funcional,


isto é, na organização da atividade dos membros da sociedade em função de
finalidades objetivas. Não promove, nas mesmas proporções, a racionalidade
substancial, ou seja, a capacidade de agir com inteligência numa determinada
situação à base da percepção própria da inter-relação dos acontecimentos. A
racionalização está, segundo Mannheim (1962 apud KOPELKE, 1998), destinada
a privar o indivíduo médio de reflexão, percepção e responsabilidade, e a transferir
essa capacidade aos que dirigem o processo de racionalização.

O homem médio entrega parte de sua própria individualidade cultural a cada


novo ato de integração num complexo de atividades funcionalmente organizadas.
Torna-se cada vez mais acostumado a ser levado pelos outros e gradualmente
abandona sua própria interpretação dos acontecimentos pela interpretação que lhe
é dada por outros. Mannheim (1962 apud KOPELKE, 1998) afirma que, quando
o mecanismo racionalizado da vida social entra em colapso, em épocas de crise,
o indivíduo não pode repará-lo com sua percepção própria. Ao invés disso, sua

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Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES

impotência o reduz a um estado de abandono aterrorizado. Na crise social, ele


permite que o esforço e a energia necessários à decisão inteligente se percam.

Tal como a natureza era incompreensível ao homem primitivo e seus mais


profundos sentimentos de ansiedade eram provocados pela imprevisibilidade das
forças naturais, assim para o homem moderno industrializado a imprevisibilidade
das forças que atuam no sistema social onde vive, com suas crises econômicas,
inflação e, assim por diante, tornou-se uma fonte de receios igualmente
generalizados (MANNHEIM, 1962 apud KOPELKE, 1998).

A difusão da razão funcional em função da crescente industrialização fez com


que boa parte da ciência social estabelecida também se fundamentasse nesse tipo
de razão, e a teoria organizacional, como filha da ciência social moderna, nasceu
viciada já em seus principais pressupostos, ou seja, que o ser humano não é
senão uma criatura capaz do cálculo utilitário de consequências, e o mercado, o
modelo de acordo com o qual sua vida associada deveria organizar-se. Percebe-
se, portanto, que os modelos de homem utilizado pela teoria organizacional até o
momento, operacional e reativo, são superficiais por não considerarem a dimensão
substancial da razão. A racionalidade substantiva não está necessariamente
relacionada com a coordenação de meios e fins, do ponto de vista da eficiência.
Assim, o comportamento humano que ocorre sob a égide da racionalidade
substantiva pode ser administrativo apenas por acaso, não por necessidade.

A não percepção do caráter duplo da racionalidade, ou seja, a aceitação


da razão funcional como razão geral, tem tornado, segundo Ramos (1989 apud
GEHRINGER, 1998), o debate verdadeiro e racional, uma possibilidade cada vez
mais remota nas sociedades modernas, mesmo nos chamados meios intelectuais.
Para o autor, a ciência social moderna foi um instrumento propositadamente
articulado para livrar o mercado da prisão que o mantinha dentro de limites definidos
para passar a integrar todos os aspectos da vida humana.

Esperar é arriscar-se ao desespero e experimentar é arriscar-


se ao fracasso, mas os riscos têm de ser corridos, pois o
maior risco na vida é arriscar nada. A pessoa que não arrisca
nada, não faz nada, não tem nada, não é nada e não se torna
coisa alguma. Pode evitar o sofrimento e a tristeza, mas não
pode aprender, sentir, modificar-se, crescer, amar e viver.
Acorrentado por suas certezas, é um escravo. Foi privado
do direito de sua liberdade. Somente a pessoa que arrisca
é verdadeiramente livre. Experimente e veja o que acontece
(BUSCAGLIA, 1982, s.p.).

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2.1 GLOBALIZAÇÃO E REDES


A função da indústria cultural, bem como das diversas mídias, é sublimar a
potência do homem através do cinema, da música e dos diversos dispositivos
técnicos. Pode-se dizer que dentre as várias teorias da comunicação, com relação
aos dispositivos midiáticos, existem as apocalípticas e as integradas, conforme
definições a seguir:

• Integradas: pressupõe o otimismo, ordem e pragmatismo com relação


aos benefícios que os meios midiáticos disponibilizam.
• Apocalípticas: pressupõe o pessimismo, o caos, e partem de uma crítica
feroz aos dispositivos técnicos, ressaltando os malefícios que estes
meios midiáticos podem oferecer.

Todavia, entre os extremos existe uma terceira opção, apresentada pela


teoria cibernética. Neste caso, apresentam-se pontos em comum entre as duas
teorias apresentadas. A principal delas está no fato de que as mídias influenciam
decididamente o comportamento humano, modificando, transformando e
produzindo novas atitudes, ou melhor, criando novas identidades ou subjetividades.
Isto se dá porque as redes pressupõem a desinibição e muitas vezes um
empoderamento violento do receptor que não é mais um ser passivo, mas exige
atividade intensa em fluxo em todas as direções possíveis. Desta forma, cai por
terra o argumento de que o indivíduo não é capaz de influenciar, na verdade ele
está sempre em uma relação, onde se é influenciado e influenciador.

Dando continuidade, vale lembrar que rede é um conjunto de transformações


e produção de identidades ou subjetividades que atinge todas as camadas sociais e
territórios possíveis, por meio do entrelaçamento do espaço público com o privado,
entretenimento e profissão, em um fluxo contínuo de aceleração e velocidade
jamais vistas, reestruturando empresas, fluxos de capitais, novas arquiteturas
administrativas etc., que provocam o aumento da produtividade e muitas vezes a
precarização do trabalho. Quais as consequências para o indivíduo diante desta
nova realidade? Bipolaridade, infantilismo, confusões identitárias etc. Entre os
adolescentes, este fenômeno é ainda mais preocupante, uma vez que eles não
sabem definir se estão vivendo uma cultura determinada pela regionalidade ou
suas escolhas estão sob a influência da globalização. McLuhan (1911-1980)
possui uma máxima: “o meio é a mensagem”, sendo possível compreender que
a técnica e seus dispositivos são extensões do próprio homem, como tentáculos
que expandem o poder de atuação do ser humano. Surgem assim duas formas de
ação do homem na rede:

20
Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES

• Utilização das redes como meio para mensagens, notícias, pesquisa,


compras e o exercício profissional.
• Entretenimento, formação de novos relacionamentos na formação de
uma rede tribal de amizades ou relações amorosas (COHN, 1987).

Desta forma, existirão duas grandes correntes interpretativas a respeito dos


benefícios e malefícios destas relações. De um lado a rede pode ser vista como um
meio útil ao desenvolvimento individual e profissional, porém, em um movimento
oposto, pode-se afirmar que a rede é um lócus de fragmentação e de acesso
apenas a dados, não sendo um local onde se produza conhecimento real. Outro
ponto importante é a transformação do comportamento individual no cotidiano a
partir da onipresença das redes. Tornamo-nos dependentes delas desde nossas
atividades profissionais até o entretenimento, ou ainda, na produção de novas
subjetividades e relacionamentos, criando um novo sentido de existência. O efeito
das redes nas culturas locais, em geral, se dá pela homogeneização dos valores,
crenças ou estilos de vida, favorecendo o desaparecimento da diversidade, bem
como os valores tradicionais. Todavia, outros valores também passam a participar
do cotidiano do homem comum, como direitos humanos, democracia, princípio de
igualdade racial, gênero, orientação sexual, liberdades, individualidades, religioso,
relacionamentos amorosos, escolhas profissionais etc., que por outro lado podem
provocar guerras culturais intensas e intermináveis, mas se apresentam como
subjetividades ambíguas e híbridas que transitam entre a regionalidade e a cultura
global, podendo promover uma integração ou crises e conflitos, gerando uma
confusão de identidades que pode gerar marginalização, exclusão, aumentando
razoavelmente os casos de suicídio, drogadição ou, ainda, o surgimento de tribos
fundamentalistas e antiglobalização.

2.2 SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO


É a partir desta linha argumentativa que surge um novo conceito, que
para muitos, passou a ser denominada como sociedade da informação, ou
ainda, sociedade pós-industrial. É importante ressaltar que já se desenvolveu
teoricamente por diversos autores outros paradigmas conceituais, por exemplo:
sociedade fordista e taylorista, mas a sociedade da informação passou a ser o
novo paradigma econômico e tecnológico da sociedade contemporânea, que
aponta para as novas tecnologias e modelos organizacionais diversificados etc.
O início deste movimento se dá em meados dos anos 1980. Por exemplo: a título
de ilustração, quem melhor explicitou este conceito e expressou o espírito de seu
tempo, pelo menos musicalmente, foi a banda americana denominada Information
Society, que trouxe para o cenário musical um grande destaque para este
conceito: música eletrônica. Uma das suas músicas que nos provoca a reflexão

21
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sobre as características da sociedade da informação é “Running”. A presença de


conceitos, como velocidade, fluxo e solidão é uma constante em toda a letra da
música “Aprender a aprender”:

Ouça a música: “Aprender a aprender”. Disponível em: <https://


www.youtube.com/watch?v=CrTJR-SHfsI>.

Letra:
Noite quente sozinho eu espero por você
Manhã fria e frágil sozinho eu choro por você
E quando você finalmente liga
Você encobre seu humor nas sombras.
Esses dias e noites em que fui bom pra você
Não devem ter significado muito
E na noite que eu mais precisei de você
Minhas lamentações caíram em ouvidos surdos
E eu estou correndo muito pra encontrar
E eu estou correndo muito rápido
E eu estou te dizendo agora pra me deixar
Nosso romance não pode durar
E se algum dia eu precisar te ver
Eu voltarei do passado
Eu voltarei e te encontrarei
Eu não vou te abandonar agora
Esses dias e noites em que fui bom pra você
Não devem ter significado muito para você
Na noite que eu mais precisei de você
Minhas lamentações caíram em ouvidos surdos
Agora eu não quero brincar com você
Mas eu não sei o que te dizer
Os dígitos mudam tão lentamente agora
Eu estou indo sozinho
E eu estou correndo muito pra encontrar
E eu estou correndo muito rápido
E eu estou te dizendo agora pra me deixar
Nosso romance não pode durar
E se algum dia eu precisar te ver
Eu voltarei do passado
Eu voltarei e te encontrarei
Eu não vou te abandonar agora.

22
Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES

Na sociedade da informação, a lei básica e primordial é a flexibilidade,


abertura às transformações, uma busca insana pela eficiência e velocidade.
Desburocratização, desregulamentação, ruptura com a tradição. As principais
características da sociedade da informação são:

• A matéria-prima de todo o processo são os dados, unidades de


informação.
• Alta afetação sobre os indivíduos, devido à penetrabilidade na vida
cotidiana dos diversos dispositivos técnicos.
• Predomínio da lógica em rede, considerada complexa.
• Ambiente flexível e plástico, reversibilidade, modificação, reorganização
e reconfiguração.
• Tecnologias convergentes.
O ponto central
da sociedade de
O ponto central da sociedade de informação são as várias informação são as
tecnologias interconectadas, ligadas em rede em um processo várias tecnologias
constante de desenvolvimento e fluxo, produzindo uma interação interconectadas,
complexa que gera criatividade, empreendedorismo etc. O novo ligadas em rede
em um processo
paradigma gera disrupções e contingências, rompendo com a
constante de
lógica do desenvolvimento tecnológico e linear. Muitos são os desenvolvimento e
temores frente às gigantescas transformações que a sociedade está fluxo, produzindo
passando. No entanto, agora as TIC (Tecnologias de Informação uma interação
e Comunicação) se tornaram objetos de fetiches, totens mágicos complexa que
que geram uma fascinação praticamente infantil, criando sonhos gera criatividade,
empreendedorismo
delirantes de um futuro digno de uma ficção científica. Novas utopias
etc.
de sociedade, lazer, acervo informacional ilimitado e, ainda, permite
uma nova forma de educação, mais colaborativa, personalizada, promovendo
uma contínua adaptação dos indivíduos envolvidos, cada vez mais acelerada e
integrada, proporcionando a ação criativa.
No desafio
de buscar
2.3 CULTURA E CRIATIVIDADE uma estrutura
transdisciplinar,
portanto, deve-se
Todo ato criativo se dá, inicialmente, por meio de uma prática ter como aliado o
interdisciplinar. No entanto, ela não pode ser definida, para que não diálogo, possível
se corra o risco de se criar uma nova disciplina, com a função única instrumento de
transformação do
de controlar o conhecimento produzido. Não se pode falar sobre uma
real.
educação criativa sem ter a interdisciplinaridade como condição prévia
para o seu desenvolvimento. É a cooperação entre as disciplinas que
proporciona intercâmbios e possibilita reciprocidades e enriquecimentos mútuos,
possíveis de estimular a transdisciplinaridade. No desafio de buscar uma estrutura
transdisciplinar, portanto, deve-se ter como aliado o diálogo, possível instrumento

23
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de transformação do real. Sem querer correr o risco de definir o conceito de


interdisciplinaridade e o ato criativo, a própria interdisciplinaridade talvez consista
na promoção do diálogo entre as diversas disciplinas. Para isso, é preciso
demonstrar que não há um método, ou uma dialética na educação, mas existe
apenas o diálogo, que é a fala entre duas pessoas; conversação entre muitas
pessoas. No diálogo não há um método definido, há apenas um jogo. O diálogo
pode ocorrer em várias direções e sentidos, criando agenciamentos diversos. A
dialética é uma técnica (techné), ou melhor, um método preciso e teleológico, que
busca um fim, uma resposta. É por intermediação da dialética, que é a arte de
raciocinar, da lógica - dialektiké (techné) discussão, em um constante processo
de racionalização - que somos levados a viver em um mundo dominado pela
técnica moderna, o filho perverso da techné.

Precisa-se, entretanto, cada vez mais de diálogos, de jogos de linguagem,


de relações amorosas solidárias e carismáticas, e não de dialética, que é
estéril, castrada por si mesma. A prática interdisciplinar entre a Sociologia e a
Antropologia consiste neste diálogo, nesse jogo de ilusões, entre as diversas
disciplinas disponíveis, nesse caso, a Sociologia e a Antropologia. Desde a
Antiguidade Clássica, tendo como ponto de partida o pensamento platônico-
aristotélico, o homem apresenta um prazer praticamente solitário em classificar,
organizar e delimitar espaços e territórios.

O progresso, trazido por este pensamento, é um acréscimo dessa


racionalidade, que tem origem nos primórdios da civilização ocidental. Contudo,
aos poucos, foi se percebendo que esta dita racionalidade disciplinadora é
geradora de realidades irracionalizantes. Atualmente, a razão é designada
apenas pelo “cálculo utilitário das consequências”, organizando-se de forma a
levar a um objetivo previamente definido. Essa racionalidade funcional não se
pergunta pelos seus pressupostos e nem pelo seu sentido, agindo na esfera do
como, sem se perguntar pelo porquê. Isso determina um nível de ação teleológica
exclusivamente técnica, interesseira, em que predomina a dominação do sujeito
sobre o real; ao sujeito cabe estabelecer os fins e eleger os meios de toda
ação. Weber descreve a burocracia como empenhada em funções racionais,
no contexto peculiar de uma sociedade capitalista, centrada no mercado e cuja
racionalidade é funcional.

24
Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES

Leia e reflita sobre o texto “Você tem cultura?”. O artigo foi


publicado no Jornal da Embratel, Rio de Janeiro, 1981.
Disponível em: <https://pt.scribd.com/document/274514330/DA-
MATTA-Roberto-Voce-tem-cultura-In-Exploracoes-pdf>.

A razão, com o advento da Modernidade, não consegue possuir tudo o que


se propõe, e “a própria razão técnica, longe de garantir um domínio cada vez
maior sobre a natureza, tinha perdido a capacidade de guiar com competência e
responsabilidade o progresso histórico” (BRUSEKE, 2001, p. 9). Surge então uma
instabilidade na sociedade moderna em meio a surtos irracionalizantes. A razão
que se propõe a ser constituidora de felicidade, na verdade, gera o oposto: medo
e incerteza. “A falta de critério é que aflige o homem livre da alta modernidade”
(BRUSEKE, 2001, p. 15). Então, buscam-se estruturas mais sólidas, uma vez
que muitas haviam desmoronado, “uma ciência experimental nunca poderá ter
como tarefa a descoberta de normas e ideais de caráter imperativo, dos quais
pudessem deduzir-se algumas receitas para a práxis” (WEBER, 1982, p. 5). Outra
marca da Modernidade, segundo Weber, é o processo de desencantamento do
mundo, “Entzauberung der Welt”, que integra o processo de racionalização. Nele
o mundo é visto “nu”, e o ser humano, nessa perspectiva, não vê mais o mundo
como dominado por forças impessoais:

Significa principalmente, portanto, que não há forças


misteriosas incalculáveis, mas que podemos, em princípio,
dominar todas as coisas pelo cálculo. Isto significa que o mundo
foi desencantado. Já não precisamos recorrer aos meios
mágicos para dominar ou implorar aos espíritos, como fazia
o selvagem, para quem esses poderes misteriosos existiam.
Os meios técnicos e os cálculos realizam o serviço (WEBER,
1982, p. 165).

Assim, o véu de mistério que cobria a realidade é retirado, pois o saber


científico avança sem confiar em qualquer valor misterioso ou transcendental,
uma vez que tudo pode ser dominado pelo cálculo e, assim, a ciência procura
libertar a humanidade de qualquer elemento religioso.

Deixa de ver a vida como algo dominado por forças impessoais


e divinas para enxergar a natureza e a sociedade como
passíveis de completo domínio pelo homem. Antes, eram os
deuses que controlavam a vida do homem. Agora é o homem,
através da ciência e da técnica, que desdiviniza a natureza e a
sociedade e passa a controlá-las (WEBER, 1982, p. 128).

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Por esse mister, a técnica parece querer substituir as certezas religiosas.


Dessa maneira, a hegemonia nessa área do conhecimento perde espaço: “cada
esfera de valor, ao se racionalizar, se justifica por si mesma: encontra em si
sua própria lógica interna - uma legalidade própria” (PIERUCCI, 2003, p. 138).
Entretanto, essa fragmentação pode produzir um dândi, que tem como símbolos
a superioridade aristocrática, com certa originalidade, possuindo um caráter de
oposição e revolta contra a trivialidade, a banalidade, o tédio:

O dandismo surge, sobretudo nas épocas transitórias, em que


a democracia não é ainda todo-poderosa, em que a aristocracia
está enfraquecida e desvalorizada apenas parcialmente. Na
confusão dessas épocas, alguns homens, deslocados de sua
classe, descontentes, destituídos de uma ocupação, mas
todos ricos de uma força inata, são capazes de conceber o
projeto de fundar uma nova espécie de aristocracia, tanto mais
difícil de abater quanto estará baseada nas mais preciosas,
nas mais indestrutíveis faculdades, e nos dons celestes que
nem o trabalho nem o dinheiro podem conferir. O dandismo é
o último rasgo de heroísmo nas decadências, e o tipo do dândi
encontrado pelo viajante na América do Norte não invalida, de
maneira alguma, essa ideia: pois nada impede que se pense
que as tribos que denominamos selvagens sejam os resquícios
de grandes civilizações desaparecidas. O dandismo é um sol
poente, como o astro que declina, é soberbo, sem calor e
pleno de melancolia, mas desgraçadamente, a maré montante
da democracia - que invade tudo e tudo nivela - afunda
diariamente esses últimos representantes do orgulho humano
e lança vagas de olvido sobre os traços desses prodigiosos
mirmidões (BAUDELAIRE, 2008, p. 68).

Paradoxalmente, é diante de uma sociedade cada vez mais técnica e


disciplinada que emerge a contingência e, por conseguinte, a liberdade, nascendo
o pesquisador interdisciplinar, que está a princípio fortemente desligado de toda
forma de institucionalização, uma vez que esses são independentes de qualquer
mecanismo regular de organização, diante de uma sociedade composta de
especialistas. A contemporaneidade é marcada por uma sinergia entre o antigo,
ou melhor, aquilo que é considerado arcaico, e o desenvolvimento tecnológico e
esse fenômeno é identificado em diversas leituras, que podem ser consideradas
anacrônicas, que quer dizer fora de contexto, no entanto, ele as adapta,
contextualizando-as (MAFFESOLI, 2004).

26
Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES

O que é sinergia do arcaico para Maffesoli? A palavra sinergia


tem origem grega, que quer dizer synergía, ou melhor, cooperação
(sýn), conjuntamente com a ideia de trabalho (ergon). Esse
fenômeno pode ser considerado como vários agrupamentos que
trabalham coordenadamente realizando uma tarefa considerada
complexa, onde vários dispositivos procuram executar determinadas
funções e que buscam um mesmo fim. Assim, para Maffesoli (2014,
p. 743), “sinergia do arcaico e do desenvolvimento tecnológico.
Esta tecnologia que havia desencantado o mundo está em via de,
curiosamente, reencantá-lo”.

Pode ser entendido como sendo uma forma de rompimento com o relato
antigo ou arcaico, atualizando-o para o atual contexto, inserindo-o no mundo
técnico. Portanto, o paradoxo e um cosmos belicoso se tornam as principais
marcas do drama contemporâneo, criando condições para o surgimento do
pesquisador interdisciplinar, que é chamado para a decisão, reencantando o
mundo. Contudo, esse reencantamento patrocinado por essa nova modalidade
de pesquisa pode apresentar-se ambivalente. Por um lado, se tem a exaltação
do tempo presente, abandonando a linearidade do tempo, na busca por êxtases
contemporâneos e efêmeros, seja de ordem técnica, afetiva, cultural ou musical,
como forma de resistência ao desencantamento do mundo, patrocinado pelas
várias racionalizações do mundo ocidental:

É no quadro tribal que se vai sair de si, explodir-se e, através


desse êxtase, comungar com forças cósmicas ou, muito
simplesmente, navegar nas redes da internet. Onde havia
separação, corte e diferenciação, e isso em todos os domínios,
renasce uma perspectiva global, dando ênfase à “religação”
das pessoas e das coisas, da natureza e da cultura, do corpo e
da alma (MAFFESOLI, 2004, p. 149).

Por outro lado, pode dar origem ao fenômeno fundamentalista dos diversos
grupos de especialistas, que pode ser interpretado como sendo uma forma
de resistência à perda de prestígio dos diversos valores éticos e a constante
profanização das camadas consideradas tradicionais da sociedade, que implica
uma recusa do que podemos chamar de modernidade líquida, ou reflexiva, ou
ainda pós-modernidade. Por isso, o pesquisador interdisciplinar deve se relacionar
com a imagem de um peregrino, um nômade, um dândi, um ser que se abre à
vida contingente. Portanto, de um ponto de vista antropológico, existem várias

27
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definições para o peregrino, ou seja, é um conceito de múltiplas faces e não se


pretende, aqui, neste momento, dar conta de todas essas facetas. Entretanto,
antes de qualquer coisa, é bom deixar claro que a palavra peregrinação nos
remete à ideia de viagem, na andança por terras distantes, em uma romaria por
lugares santos, ou seja, um estrangeiro que possui uma bondade de beleza rara.
É justamente esse aspecto que nos interessa analisar na interdisciplinaridade,
tendo como imagem, um dândi, um filósofo, um místico, um líder que, com o seu
carisma, sustenta que a irracionalidade da vida, em que estamos imersos, pode
promover a transformação da vida humana:

Sua ociosidade é um trabalho e seu trabalho, um repouso, ele


é, alternadamente, elegante e desleixado, veste, a seu bel-
prazer, a camisa do operário, e decide-se pelo fraque trajado
pelo homem da moda, não está sujeito a leis: ele as impõe... ele
O peregrino é é a expressão de um grande pensamento, ele tem elegância e
um aventureiro, vida própria, porque nele tudo reflete a sua inteligência e a sua
glória (BALZAC, 2009, p. 79).
é um sujeito
extremamente
viciado, drogado O peregrino é um aventureiro, é um sujeito extremamente
pela vida, está viciado, drogado pela vida, está sempre em busca do desconhecido,
sempre em busca se volta para o passado e quer parar para salvar os mortos, mas a
do desconhecido, todo o momento é empurrado por uma tempestade em direção ao
se volta para o
futuro, e essa tempestade é o que chamamos de progresso. Assim,
passado e quer
parar para salvar podemos delinear o mundo do peregrino:
os mortos, mas a
Em resumo, há uma confrontação com uma verdadeira procura
todo o momento é
mística desempenhando de um modo mais amplo aquilo que
empurrado por uma foi, stricto sensu, a experiência mística própria de alguns
tempestade em eleitos, ascetas e outros pesquisadores do absoluto que nos
direção ao futuro, e falam a história humana. Para retomar aqui uma análise de
essa tempestade é Cioran, que é um tema recorrente em toda a sua obra, podem-
o que chamamos de se estabelecer uma relação entre o espírito cavalheiroso, o
progresso. amor da aventura e a aventura mística (MAFFESOLI, 2004,
p. 151).

No entanto, o peregrino constata que o homem moderno e burguês perdeu


essa capacidade de rememoração e, nesse mundo em que está imerso, vive
agora vegetando na mera presentificação da vivência. O homem se tornou um
autômato, sem memória, perdendo a sua história. Para o homem que peregrina,
quem não pode experienciar o passado, nunca poderá sonhar com o futuro, e não
pode criticar o presente. É sob essa perspectiva que o pesquisador interdisciplinar
passa a ser visto como um peregrino, que se coloca como crítico da noção dura
de progresso, que disciplina, classifica, organiza, discrimina, o que é visto como
uma ação de decadência. Para o peregrino, é preciso citar os mortos, como
se estivesse citando um texto e como uma forma de trazer o passado para o
presente, de dar uma nova vida aos diversos objetos que são retirados de seu
contexto, promovendo a sinergia entre o arcaico e o contemporâneo.

28
Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES

Na falta de um lugar seguro que o proteja, ele leva a casa nas costas. Como
em um acampamento, ele leva seus apetrechos, a sua barraca e o colchão de
dormir; esse comportamento é o que faz dele o ser mais próximo de um caramujo.
Ele tem inveja dos animais que, por sua irracionalidade, estão no paraíso,
enquanto ele está no inferno da racionalização. Anda por longas distâncias
à procura de novos ares ou novas pastagens e, como na obra Quixotesca, ele
avança, percorrendo vários territórios, como algumas espécies viajantes das
florestas que povoam a nossa imaginação. De vez em quando parece tentar voltar
as suas origens primitivas. O medo, para o peregrino, faz parte do processo, mas
a sua principal virtude é a coragem. Em toda parte, a covardia é desprezada;
em toda parte a bravura é estimada. As formas podem variar, assim como os
conteúdos: cada civilização tem seus medos, suas coragens, mas o que não
varia, ou quase não varia, é a coragem, que é compreendida como sendo a
capacidade de superar o medo. A coragem é a virtude dos heróis, e quem não
admira os heróis? Com o seu espírito empreendedor, com muita raiva do mundo,
da realidade e com baixíssimo medo, o peregrino, este dândi, assume o real com
um sentimento verdadeiro e uma atitude interdisciplinar. Sentimento esse que se
equivale ao amor direcionado à vida, embora muitas vezes necessite andar de
quatro apoios para subir superfícies muito íngremes.

Para ampliar seu conhecimento sobre cultura, leia o texto


“O conceito antropológico de cultura”, de José Lisboa Moreira
de Oliveira. Disponível em: <http://www.ucb.br/sites/000/14/PDF/
OconceitoantropologicodeCultura.pdf>.

O peregrino é um líder que assume o medo como parte de sua vida, assim
como assumimos o sofrimento como parte de nossa existência, possuindo a
incrível capacidade de controlá-lo e de superá-lo. Sua carapaça muda conforme
o ambiente ou o terreno. São espécies andróginas, são híbridas e por isso são as
mais interessantes. Eles possuem a capacidade de transformar qualquer objeto
em extensão do seu corpo, unindo o que se tem de mais arcaico no mundo com a
alta tecnologia. Esse ser, que peregrina longas distâncias, quer apenas chegar a
um determinando ponto, para simplesmente apreciar e contemplar. A melhor forma
de compreendermos o verdadeiro espírito interdisciplinar é a sua capacidade de
vivenciar o real não desprezando os mortos, pois os vivos, ou seja, os peregrinos,
se veem ao meio-dia, numa passagem, numa travessia, em um caminho, onde são

29
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

obrigados constantemente a oferecer um banquete ao passado, convidando os


mortos para a sua mesa (MAFFESOLI, 2004). Portanto, o conceito de recordação
nos remete à compreensão que se deve articular, lembrando constantemente
do que se passou na história e isso não significa reconhecê-lo como ele de fato
ocorreu, mas se apropriar de uma reminiscência, atualizando-a através de uma
sinergia entre o arcaico e o novo.

O homem moderno é um ser incapaz de recordar. A recordação possui a


categoria de um organon para o conhecimento histórico e a noção de História
equivale ao papel exercido pela revolução copernicana. O peregrino assume
a recordação não como profecia, como é o caso da noção de progresso que
possuímos na atualidade. O peregrino assume uma história materialista, imanente
e panteísta, onde a sua arké está na recordação. Como ele faria isso? Levando
o niilismo a sério. A filosofia niilista é a desvalorização de todos os valores, um
verdadeiro movimento de desencantamento e desconstrução do conhecimento
humano. O pesquisador interdisciplinar assume a anarquia como projeto político,
compreendendo a história enquanto declínio, decadência, obedecendo à lógica
do pior. O peregrino apenas aplaina o terreno. O caráter de violência, que é
imposto pela atitude interdisciplinar, quebra com todos os cânones e valores da
civilização, abrindo espaço para uma nova ordem.

Para ampliar seu conhecimento na prática sobre o niilismo,


assista ao filme “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick, criado em
1971. Este filme é um clássico icônico que manifesta um espírito
niilista.

Para o pesquisador interdisciplinar, é necessário assumir a vida como


sendo uma grande viagem. Uma forma de adquirir uma visão de conjunto desse
processo, sem sacrificar a sua dinâmica, é tentar nos aproximar com um breve
resumo do movimento do real. Cabe lembrar que a interdisciplinaridade, que se
apresenta do ponto de vista antropológico, como sendo um peregrino, é antes de
tudo uma passagem. As passagens são como símbolos, arquétipos inconscientes,
os quais não possuem nenhuma técnica. Antes disso, são totalmente dominadas
pelo mito, pelos sonhos, pelo imaginário, pelas fantasias mais inconfessáveis em
que a realidade se transfigura e se transcende na materialidade do mundo. É aí
que aparece a noção da utopia, da terra prometida, que se apropria do sonho. No
entanto, cabe lembrar que, devido a sua incapacidade de transformar o sonho em

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Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES

realidade, a utopia pode surgir como catástrofe. Por isso, a interdisciplinaridade


possui duas formas de lidar com o real, que são ambíguas: o panorama, uma
forma alucinatória de trazer a história e a natureza para um mundo exilado da
história e da natureza, como sendo uma antecipação de uma reconquista real
dessas duas dimensões perdidas, e a ciência, o conhecimento, que são agentes
desencantadores da realidade, da cultura e do símbolo, abolindo as promessas
de um mundo liberto.

Para ampliar seu conhecimento sobre interdisciplinaridade, leia


o texto “O entendimento da interdisciplinaridade no cotidiano”, de
Mafalda Nesi Francischett. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/
pag/francishett-mafalda-entendimento-da-interdisciplinaridade.pdf>.

O pesquisador interdisciplinar é dominado pelo fetichismo, em múltiplas


figuras, contendo em si o desastre e a redenção. O mundo se apresenta como
uma residência ou um quarto mobiliado com objetos de todos os séculos. O
peregrino ou o pesquisador interdisciplinar se torna um colecionador, que mata
os objetos retirando-os do seu contexto, salvando-os, porque esse contexto era
em si mortal. O pesquisador interdisciplinar se torna um espectador da multidão
condenado a ser um observador. O pesquisador que peregrina, que assume o
projeto dionisíaco, o projeto da ruína, no que ele tem de destrutivo e de construtivo,
percorre o espaço e o tempo e é nesse percurso que se percebe que o tempo se
apresenta na forma de um eterno retorno. Assim:

O peregrino vive o trágico no ponto mais alto, ponto em que


a insatisfação jamais encontra uma solução, um lugar, uma
situação em que possa ser absorvida. Poder-se-ia dizer que
a tensão do peregrino sobre a terra é um estado, um estado
de alma sem dúvida, uma sensibilidade incitando a errar, a
sucumbir, a viver o excesso e a escassez, mas, graças a isso,
a reencontrar ou encontrar uma plenitude do ser: plenitude que
dá a intensidade vivida no presente, outra maneira de dizer
eternidade (MAFFESOLI, 2004, p. 160).

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Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

Pesquise sobre a vida e as obras do Sociólogo Michel Maffesoli,


principalmente sobre o que ele pensa da criatividade na sociedade
contemporânea.

Também se apresenta como um presente tenso, capaz de liberar o novo


aprisionado, o arcaico, momento em que o sonho se extingue e as fantasmagorias
se dissipam, sem que o fim do sonho signifique a rejeição do saber do sonho,
e sem que o fim das fantasmagorias signifique a negação da verdade que elas
continham. No entanto, no diálogo que vem travando com a Educação, a partir dos
estudos da hermenêutica filosófica, as “ciências humanas” insistem em importar
o referencial das ciências causais explicativas, como única visão para deduzir
a realidade, e como forma de “fazer progredir” o campo teórico humanístico.
Metaforicamente, a “ciência” é uma simples janela. Há muito a ser dito sobre
o que vislumbramos por esta janela, porém, fica ainda muito por ser dito. Esse
pensamento remete-nos à ideia de binariedade, a separação entre o que pode ser
dito e o que não pode ser dito, ou seja, a binariedade é um pensamento nefasto
que percorre toda a história da Filosofia, na busca pela certeza e pela segurança
metódica - pensamento esse que se origina na Dialética e, posteriormente, na
Ciência, mesmo crendo que o dito não esgota o tema pautado.

Diante desta última atitude, a hermenêutica é promissora, pois esclarece


esses limites, mas ainda permanece delimitando, organizando e discriminando
espaços. Dizer algo, em primeiro lugar, nunca esgota o tema, ou seja, o diálogo
não termina, somente se interrompe. Quando dizemos algo, e esperamos a
interlocução, temos ainda um mundo de coisas a serem ditas. Esse é o radical
limite da finitude. Tentar cercar o ideal, atrás de uma suposta segurança de uma
torrente de argumentos, não nos garante nada. Precisamos falar, mas precisamos
também ouvir, para que o acontecer da vida aconteça, porém, nessa linha de
raciocínio, abrem-se clareiras, onde no encontro de questões essenciais, já
podemos vislumbrar, no caso da educação, a indissociabilidade entre projeto
social e o projeto pedagógico. No entanto, não se pode esquecer que a realidade
é una e indivisível, e o pensamento obedece ainda a binariedade, que é herdada
da tradição filosófica ocidental. Por isso, a manifestação de tais projetos, no
mundo da vida, vem permeada por racionalidades que engessam e dominam a
realidade social.

Pensar a questão da interdisciplinaridade é um desafio que a Educação


vem se esforçando para fazer. Tal afirmação é possível graças a educadores

32
Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES

e educandos que se aventuram em desafiar e transgredir a


Interdisciplinaridade
miopia, a ditadura do método e do pensamento binário. Portanto, é o esforço de
interdisciplinaridade é o esforço de promover uma sinergia entre promover uma
diversas disciplinas, em um único momento de convergência, em uma sinergia entre
total imersão na presentificação do ser. Tal cooperação entre essas diversas disciplinas,
disciplinas proporciona intercâmbios, possibilitando reciprocidades em um único
momento de
e enriquecimentos mútuos. Com esse esforço, pode-se aspirar a
convergência, em
transdisciplinaridade como etapa posterior, com vistas à construção uma total imersão
de um sistema, que incorpore as várias diferenças. Nesse sentido, na presentificação
podemos chegar a uma teoria geral de sistemas ou de estruturas do ser.
generalíssimas, que inclua estruturas operacionais, estruturas
de regulamentação e sistemas probabilísticos. Nesse desafio de buscar uma
estrutura transdisciplinar, deve-se ter como aliado o diálogo, pois este provoca
e consegue ainda formular autênticas e pertinentes perguntas, tendo em vista
sua conexão com o mundo, que não pode ser negado pela visão maniqueísta e
dicotômica. Assim, o diálogo pode ser um instrumento de transformação do real.

A interdisciplinaridade exige uma postura que não seja apenas dialógica;


exige um espaço de abertura, em que ocorrem diversos encontros e
agenciamentos. Para que isso ocorra, é necessária a democratização do
conhecimento, mas em completa sinergia com a “técnica”; porém, cabe
lembrar que o conhecimento não pode passar de um movimento meramente
instrumental. Na busca pela compreensão, abre-se possibilidades promissoras
para a Educação, pois o compreender vai além da “entrega” do conhecimento.
O acontecer da compreensão não pode ser mapeado epistemologicamente,
mas se entende que a retomada da bildung (formação) é um dos caminhos de
acesso para a recuperação da compreensão como categoria fundamental para a
Educação. A compreensão abre o caminho para a articulação do conhecimento,
que só pode ocorrer com a pergunta sendo constantemente posta em evidência. A
pergunta indica sentido, coerência, caminho, abertura, possibilidades, nos move,
gera enfrentamento, questiona, tira-nos da inércia, rompe com a massificação, só
para citar algumas consequências deste processo. A pergunta move o diálogo e
este nos transforma. Depois do diálogo, já não seguimos sendo quem éramos.
Os pretensos intelectuais partem do princípio de que o mundo se divide em
generalistas e especialistas, e que estamos diante de uma escolha entre um e
outro, tornando-nos reféns de suas consequências. Tal questão - um suposto
embate entre o generalista e o especialista - pode ser um falso problema, enquanto
criação de um modo banalizado de pensar a vida, orquestrada pela visão binária
da realidade. Entretanto, se estamos diante de um falso problema, então por que
tratar dessa querela entre generalistas e especialistas? Para se pensar além
deste dualismo é necessário analisar os acontecimentos catastróficos advindos
dessa visão de mundo.

33
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

No processo de fragmentação do conhecimento, as “ciências da


administração” tornaram-se a voz recorrente no debate entre as “vantagens” ou
“desvantagens” de tornar-se um especialista ou generalista. Descartes ofereceu
o arcabouço filosófico para o desenvolvimento da “nova ciência”, e a visão de
“domínio da natureza”, promovida por Francis Bacon, alastrou-se de forma a
tornar-se uma referência para o desenvolvimento e o progresso da humanidade.
A título de alerta não se deve confundir a visão grega de técnica (teckne) com a
visão de técnica que foi difundida na modernidade ocidental. Enquanto na Grécia
se pensava a técnica como possibilidade restritiva de se produzir algo, a partir de
um método que podia ser ensinado e repetido, na modernidade, a técnica torna-
se a representação e o desvelamento do mundo. No horizonte da técnica pautada
pela modernidade, esta se tornou a única via de acesso por onde toda a realidade
poderia ser deduzida. A humanidade, seduzida pela possibilidade de ser redimida
do pecado original, rende-se sem reservas à técnica moderna, acreditando que o
homem será reconduzido ao jardim encantado.

O homem no horizonte da especialização torna-se sagaz para as coisas


próximas, ao lado de uma grande miopia para o longínquo. O especialista está
imerso no pântano da especialização e na desimportância do pensamento
e do conhecimento que ele produz. O especialista é o natural adversário do
gênio. Os livres pensadores têm que lidar com o empecilho dos cientistas
que atrapalham o seu caminho. O termo “especialista”, vinculado à tradição
metafísica, é o especialista que atrapalha Zaratustra em seu caminho. Formar-
se por uma teleologia metafísica é o trabalho que tem sido proposto pela maioria
das instituições e aceito pela maioria dos alunos. A decisão por uma formação
interdisciplinar é a maneira de romper contra o utilitarismo das especializações.
É interessante ainda ressaltar que as diversas “especializações” terão que ser
pautadas por meio do diálogo. Como em tudo na vida, há os perigos dessa
iniciativa. Aquele que não estiver atento será tragado para o manto da “pretensa
segurança metódica”, transformando-se em consciência de rebanho, numa
programação que rouba sua vida e humanidade. A sedução do método estará a
espreitá-lo com o doce discurso das “certezas das ciências causais explicativas”.

Por sua vez, o generalista, por definição, seria alguém que tem um
conhecimento interdisciplinar. Pensar a mudança do especialista para o
generalista esbarra em uma inexorável resistência do humano. Na circularidade,
ou no círculo hermenêutico - o círculo deve ser entendido no sentido virtuoso
e não como vícios - existe uma possibilidade positiva do conhecimento mais
originário, que, evidentemente, só será compreendido de modo adequado quando
se compreender que sua tarefa primeira, constante e última, permanece sendo a
de não receber de antemão, por meio de uma feliz ideia ou por meio de conceitos
populares, nem a posição prévia, nem a visão prévia, nem a concepção prévia,
mas em assegurar o tema científico na elaboração desses conceitos, a partir da

34
Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES

coisa, ela mesma. Em última análise, é preciso estar circunscrito na dinâmica da


compreensão, para que não percamos o foco. Assim, a regra da hermenêutica,
onde tudo deve ser entendido a partir do individual, e do individual ao todo, procede
da retórica antiga. Em ambos os casos, encontramos uma relação circular. O
movimento da compreensão discorre do todo para a parte e novamente ao todo. A
tarefa é ampliar, em círculos concêntricos, a unidade do sentido compreendido. A
confluência de todos os detalhes no todo é o critério para a correta compreensão.
A falta da confluência significa o fracasso da compreensão. Heidegger faz uma
descrição fenomenológica plenamente correta, quando descobre, na suposta
leitura que consta, a estrutura prévia da compreensão. Para explicitar a situação
hermenêutica da questão do ser com relação à intenção prévia, antecipação e
pré-compreensão, examina criticamente a pergunta que ele dirige à Metafísica
em momentos decisivos de sua história.

A compreensão, guiada por uma intenção metodológica, não buscará


confirmar simplesmente suas antecipações, mas tentará tomar consciência delas
para controlá-las e obter, assim, a reta compreensão a partir das mesmas coisas.
Isso seria a forma de assegurar o tema científico. A estrutura circular se manteve
dentro do quadro de uma relação formal entre o individual e o global ou seu
reflexo subjetivo. A anterior teoria da compreensão culminava no ato divinatório
que dava acesso direto ao autor e, a partir daí, dissolvia tudo que era estranho
e chocante no texto. Entretanto, é preciso entender que o sentido interno do
círculo entre o todo e a parte, que está na base de toda a compreensão, deve
ser completado com uma determinação ulterior que ele denomina “antecipação
da completude”. Quando compreendemos, pressupomos a completude e o
sentido do objeto de nosso esforço compreensivo. A antecipação da completude,
que dirige toda a nossa compreensão, aparece, ela mesma, respaldada por um
conteúdo. Não se pressupõe apenas uma unidade de sentido imanente que
orienta o leitor, mas que a compreensão deste é guiada constantemente por
expectativas transcendentes, que derivam da relação com a verdade do conteúdo
intencionado.

Assim, as práticas interdisciplinares buscam ter uma visão unidimensional da


condição do homem, assumindo a postura de abertura, colocando-se à disposição
do diálogo com as diversas disciplinas existentes. Compreender algo através de
uma disciplina tem relação com escolhas metodológicas. A interdisciplinaridade
implica uma escolha em outra dimensão, não abandonando o horizonte
metodológico, ou seja, reconhecendo que ela também tem seus limites. No
entanto, se ampliarmos o círculo concêntrico da compreensão, ao optarmos pela
interdisciplinaridade, saímos do limite demarcado pela disciplina para “ouvirmos”
a outra disciplina, enfim, para dialogarmos. É necessário ficar claro que, para
que a interdisciplinaridade ocorra, é preciso que haja uma linguagem comum.
Convém considerar que a compreensão entre as pessoas cria uma linguagem que

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Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

possibilita a troca, o intercâmbio. O distanciamento entre as pessoas manifesta-


se no fato que elas não falam mais a mesma linguagem. Não podemos escapar
do fato de que o entendimento se torna difícil onde falta uma linguagem comum.
É aqui que a criatividade contribui para a interdisciplinaridade, pois tem a função
de criar uma filosofia platônica, ou um platonismo invertido. A interdisciplinaridade
é uma criação fantástica e surge como acontecimento.

Para que ocorra essa proposta, é preciso que se crie uma linguagem que
seja ao mesmo tempo referente e aberta, que seja necessária e contingente. Uma
linguagem que tenha a capacidade de criar a todo o momento “palavra-valise”. O
que é “palavra-valise”? Para uma aproximação de entendimento do que seja uma
palavra-valise, é interessante entender o que significa o conceito de complexidade.
A linguagem interdisciplinar, que precisa ser uma síntese disjuntiva entre as
disciplinas, tem como tarefa criar espíritos equilibrados. É aqui que o pensamento
interdisciplinar se aproxima da literatura, da poesia e, por sua vez, da linguagem
cinematográfica. O ato criativo nasce no esforço pelo diálogo, ou melhor, na busca
por uma linguagem comum, diante da fragmentação do pensamento científico,
em uma busca constante por uma linguagem interdisciplinar e, por que não dizer,
esotérica. Entretanto, cabe o alerta: ao criarmos uma linguagem comum entre as
disciplinas não podemos tirar toda e qualquer forma de dinamicidade e criatividade
da ação interdisciplinar, criando uma nova disciplina. Afinal, as palavras-valise
são problemáticas e problematizantes. O que isto significa?

Significa que as palavras-valise são respondidas sem serem resolvidas, ou


seja, são determinadas como problema, sem deixarem de ser problematizadas,
ou melhor, são referentes e abertas, portanto, esotéricas. Aqui, esoterismo
deve ser compreendido como sendo aquele que guarda um segredo, certo
mistério, conferindo às palavras uma dimensão de profundidade, produzindo
um reencantamento, sugerindo que a compreensão de um mito ou do real se
dá através do esforço da linguagem que produz um acontecimento, uma espécie
de hermenêutica. Talvez, a grande característica da linguagem esotérica e
interdisciplinar sejam as correspondências simbólicas e reais entre todas as
disciplinas das Ciências Humanas e Naturais, em um princípio de interdependência
universal.

A linguagem que fala do real é o reflexo de um universo como sendo um


grande teatro de espelhos, tendo como referência o signo e o mistério. O princípio
do terceiro excluído, do pensamento linear, do princípio da causalidade, passa
a ser uma visão incompleta do real, onde a referência passa a ser a do terceiro
incluído. O primeiro passo, para a interpretação do mundo, é compreender
que o real é um fenômeno linguístico. A prática interdisciplinar é a prática
da concordância; é possuir o ato de criar, ou de encontrar ou reencontrar
denominadores comuns, palavras-valises, entre duas, três ou todas as disciplinas

36
Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES

possíveis, na busca por um conhecimento, de uma qualidade superior. Não se


trata de simplesmente tolerar ou respeitar os territórios disciplinares, mas trata-se
de concordância criativa, para adquirir um conhecimento que abrace e abrase as
diversas disciplinas, em um conhecimento verdadeiramente interdisciplinar.

2.4 INTERATIVIDADE E RELAÇÕES


SOCIAIS
Este subcapítulo tem a intenção de oferecer os elementos necessários
para uma discussão acerca dos conceitos de interatividade e relações sociais
no espaço educacional. De modo algum, se quer esgotar o assunto. Aliás, isso
seria muita presunção. Cabe lembrar que também não se quer dizer que tudo
o que está nas páginas seguintes seja um reflexo fiel da realidade do sistema
educacional. O que podemos afirmar é que será um recorte da realidade e, como
todo recorte, não é perfeito. Sempre deixa algo escondido, velado. A intenção é
caminhar com certa prudência para um esclarecimento de um dos processos mais
importantes do ser humano: o processo de ensino-aprendizagem. Afinal, o aluno
passa boa parte da sua vida dentro de uma escola. Nesse sentido, temos dois
modos de processos de ensino-aprendizagem, o da Escola Tradicional ou Velha e
o da Escola Nova ou Progressista. Assim, o filósofo americano John Dewey será
o nosso companheiro nesta jornada, nos ajudando nesta discussão.

Por isso, pretende-se analisar os conceitos de interatividade e relações


sociais e como se articulam para um melhor desenvolvimento do processo
ensino-aprendizagem. Em um segundo momento, analisaremos os pressupostos
da Escola Tradicional e da Escola Nova. Por fim, analisaremos os diversos tipos
de experiência educacional. Pedagogia não é uma ciência, é uma arte que,
para funcionar, precisa de outras ciências, como a Filosofia, a Psicologia e a
Sociologia, enfim, as Ciências Humanas e as Ciências da Natureza. Assim, é um
saber interdisciplinar, uma vez que quando se ensina a um aluno não se ensina
somente a ele, mas a toda a sua história, pois aquilo que somos agora é uma
consequência de vários fatores, psicológicos, sociológicos etc., podemos dizer
que somos o resultado de um processo histórico.

Então, ensinar é ensinar a alguém que está inserido em um contexto


histórico e sociológico específico. No âmbito filosófico, poderíamos dizer que, por
detrás de cada ser humano, está uma ideia, mesmo que, num primeiro momento,
isto não esteja tão claro. A partir disso, podemos dizer que estudar essas ideias
filosóficas, bem como as tendências psicológicas e as sociológicas, é uma forma,
entre tantas, de chegarmos até o indivíduo que está aprendendo, o que é muito
importante para o processo de ensino-aprendizagem e avançar na compreensão

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Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

de tais ideias é caminhar na busca da compreensão do ser humano, mas, acima


de tudo, ajudar a refletir sobre o ensino e colaborar para uma reflexão de nossas
práticas pedagógicas.

Portanto, entender essas ideias que perscrutam a condição do aluno e o


contexto educacional em que ele se encontra, bem como o modo como a escola
ensina, é uma boa forma de dar os primeiros passos para remover os obstáculos
que impedem que uma aprendizagem seja educativa, já que há processos de
aprendizagem que são não educativos ou, até mesmo, deseducativos. Todo
processo legítimo de ensino-aprendizagem se dá por meio de vivências e o
nascedouro de toda vivência é o conhecimento sensível. Assim, o discurso
acadêmico sempre tentou desqualificar qualquer forma de conhecimento sensível,
qualificando-o como ordinário, pobre, superficial etc., ou, ainda, como algo que
precisa ser superado, interpretado, ou purificado para que tenhamos algum valor
científico. Portanto, é esta suposta “atitude científica” que se deve questionar:

De minha parte, acredito que seja exatamente isso que


convém pôr em questão. De um modo fenomenológico ou
compreensivo, talvez se deva considerar o senso comum não
como um momento a ultrapassar, não como um ‘pré-texto’
que prefigura o texto verdadeiro que pode ser escrito sobre
o social, mas como algo que tem sua validade em si, como
uma maneira de ser e de pensar que basta a si própria e que
não carece, quanto a isso, de nenhum mundo preconcebido,
fosse qual fosse, que lhe desse sentido e respeitabilidade
(MAFFESOLI, 2001, p. 244).

Existem dois instrumentos que o conhecimento sensível usa: a intuição e


a metáfora. Cabe, então, examinar estes dois conceitos. O que é a intuição?
O que é a metáfora? A intuição e a metáfora possuem algumas características
em comum, entre elas: o caráter contingente e a capacidade de ultrapassar as
mediações para compreender o cerne das coisas mesmas, adentrando ao mundo
da vida, participando de um élan vital. Este conhecimento sensível consiste em
adquirir novamente a capacidade de olhar para o mundo, reaprendendo a olhar,
a participar do mundo, a viver os fenômenos naturais, culturais e sociais. Assim
como os pensadores originários preocupados em desvelar os segredos da physis
foram capazes de empreender e que, atualmente, podemos denominar tal atitude
como um empirismo especulativo, esta atitude consiste em uma preocupação
constante com a última fundamentação do real.

Assim, o empirismo especulativo nos provoca, lembrando que nenhuma


pesquisa possui a capacidade de controlar por meio de leis necessárias, o
início, o meio e o fim. A contingência é a principal característica de qualquer
empreendimento que o pesquisador pode fazer, estando em uma permanente
tensão entre o possível e o impossível. Tales de Mileto, por exemplo, iniciou este

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Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES

processo por volta do século VI a.C.:

Entre os que afirmam um único princípio móvel - por Aristóteles


chamados propriamente de físicos -, uns consideram-no
limitado, assim, Tales de Mileto, filho de Examias e Hipo -
que parece ter sido ateu. Dizem que a água é o princípio. As
aparências sensíveis os conduziram a esta conclusão; porque
aquilo que é quente necessita de umidade para viver, e que é
morto seca, e todos os germes são úmidos, e todo alimento é
cheio de suco; ora é natural que cada coisa se nutra daquilo
de que provém; a água é o princípio da natureza úmida, que
mantém todas as coisas; e assim concluíram que a água é o
princípio de tudo e declararam que a terra repousa sobre a
água (BORHEIM, 1998, p. 22-23).

Qualquer estudante secundarista ou dos primeiros anos do Ensino Superior


pode concluir que tais afirmações de Tales são um completo absurdo. O que
esses estudantes não percebem é que a virtude de Tales pode ser resumida
pela sua criatividade, disciplina e coerência de suas argumentações, tendo como
principal instrumento a intuição sensível. Atualmente, as observações de Tales
não correspondem à veracidade da experimentação científica, do ponto de vista
moderno. Por exemplo, contemporaneamente, sabemos que o universo não é
estático e que a natureza muda constantemente, porém, nem sempre foi assim.
Dentro de diversas variações, muitos pensadores defenderam uma visão estática
e não dinâmica do universo. Isso se dá porque as aparências sensíveis podem
nos enganar. Cabe lembrar, contudo, que ela também pode ter certa sabedoria
oculta, escondida, velada, e que os sacerdotes da Ciência são incapazes de
observar, ou melhor, de intuir.

A preocupação aqui é: como funciona a nossa consciência quando


aprendemos novos conhecimentos? Uma das formas de fazer isso é entender
como se dá a experiência, o conhecimento sensível, ou melhor, um saber
empírico e especulativo. É necessário reconhecer que o ser humano se utiliza
deste tipo de saber para as ditas ciências, para sua conduta pessoal, para a
formação de critérios que ele tem que usar para a formação de crenças, hábitos,
costumes etc. Uma das formas de compreender o que é a experiência é entender
como se dá a recepção dos dados fornecidos pelos sentidos, ou seja, como
acontece a relação do sujeito com o objeto. Assim, o empirismo é uma doutrina
que compreende que a experiência poderá fornecer a luz necessária para guiar
com algum acerto os passos do ser humano. A máxima do empirismo aqui é bem
aceita: os sentidos são avenidas do conhecimento. É interessante notar como
a noção de experiência é importante para o processo de ensino-aprendizagem.
Cabe lembrar que a noção de experiência toca diretamente em uma das diversas
facetas de nossa condição humana. O empirismo é a doutrina pela qual o culto da
razão moderna tenta eliminar, não se atendo mais ao que é, mas ao que deveria
ser. Esta é a verdadeira educação: um retorno às coisas mesmas, ou seja, o

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Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

verdadeiro aprendizado deve estar enraizado ou encarnado no mundo empírico.

Às vezes, é possível pensar em termos de oposições extremadas, de polos


opostos. Costumamos formular as crenças em termos de “um ou outro”, ou
melhor, dicotomias. Não é diferente na educação. Em determinados momentos,
esta dicotomização da realidade é benéfica, principalmente quando se tem uma
realidade que, em si mesma, se apresenta confusa. No entanto, quando esta
discriminação é conduzida sem critério ou distinção, acaba por homogeneizar
o real, negando toda e qualquer forma de vivência. Assim, é preciso analisar
estas duas escolas (Tradicional e Progressista) que permeiam, de certa forma, a
educação, para refletir sobre o processo de ensino-aprendizagem da Escola Nova
que, diferentemente da educação tradicional, buscar manter um vínculo social
com o aluno. A Escola Tradicional é entendida como uma Educação fornecida de
fora para dentro, uma vez que é a pressão externa que ajuda a dominar a natureza
humana, proporcionando o controle sobre nossas paixões e adquirindo bons
hábitos. Ocorre, então, que, nesse tipo de escola, o conhecimento acumulado é
passado adiante, acontecendo uma reprodução e repetição do conhecimento. As
disciplinas, nesta concepção educacional, consistem em acumular informações
e habilidades que se elaboraram no passado e que devem ser transmitidas
às novas gerações. A ideia é preparar o jovem para futuras responsabilidades
e para o sucesso na vida por meio da aquisição de “blocos de informações”
costumeiramente organizados.

Assim, a imagem que temos dessa educação é que as disciplinas estudantis,


tanto quanto os padrões de conduta, vindos do passado, exigem que a atitude
dos alunos, de modo geral, seja de docilidade, receptividade e obediência e, se
porventura o aluno não aprende, é porque o aluno não é dócil, não é obediente
(DEWEY, 1976).

Os livros, nessa perspectiva, seriam os manuais escolares e os professores


seriam os representantes do conhecimento e da sabedoria do passado. O aluno
seria, então, nada mais do que um receptáculo. Esta atitude consiste em um
culto a uma razão abstrata. Nas palavras de Maffesoli (1998, p. 29), “designa
assim a atitude intelectual que depura, reduz, analisa, e seria possível encontrar
infindáveis expressões para designar um pensamento procústeo que, à imagem
do célebre leito, corta, fraciona segundo um modelo estabelecido a priori”. Cabe,
então, perguntar: o que essa atitude significa? Essa atitude pode ser chamada de
pragmática do saber científico.

O saber científico é um ritual que cultua a razão e que se expressa por


enunciados. Estes enunciados apresentam três pontos importantes: remetente,
destinatário e referente. É necessário supor que o remetente fala a verdade
sobre o referente e que ele é capaz de provar, por meio de provas incontestáveis,

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Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES

ou de refutar qualquer enunciado que seja contrário ou contraditório e que,


porventura, o referente enuncie. Temos, como consequência, a aceitação ou
não dos argumentos pelo destinatário, o que nos leva a concluir que ele pode
ser, também, um potencial remetente, sendo convocado a provar ou refutar suas
argumentações. Entretanto, existe uma questão apontada por Lyotard que precisa
ser lembrada: “o que eu digo é verdadeiro porque eu provo, mas o que prova que
a minha prova é verdadeira?” (LYOTARD, 2000, p. 45). Dos ensinamentos de
Lyotard (2000, p. 45), podemos compreender da seguinte maneira: “posso provar
porque a realidade é como eu a digo; mas, quando eu posso provar, é permitido
pensar na realidade como eu a digo”.

Eis, portanto, a conexão necessária entre a razão abstrata da ciência com


a vivência daquele que pesquisa a realidade. Portanto, uma educação que se
baseia nas condições puramente abstratas da razão, sem levar em conta a
vivência do outro, acaba por criar um abismo entre o professor e o aluno. O aluno
aqui, ao contrário do que diria Aristóteles, nunca supera o mestre. A criança,
o jovem, por exemplo, não alcança o professor e seu método e, neste caso, o
aluno não tem condições de lidar com o conteúdo, sendo, por isso, preciso impor.
Imposição que pode vir mascarada. O estudante, nesta explicação, está abaixo
da experiência do professor. Poderíamos contra-argumentar dizendo que isso é
algo óbvio, uma vez que a idade do professor, no geral, é mais avançada e que,
portanto, teve mais tempo para se dedicar e reter as informações.

É necessário subir pela escada do conhecimento. No entanto, diferentemente


do classicismo analítico, é necessário deixá-la para que outros possam também
chegar aonde o educador está, e não a retirar, criando, assim, um abismo
educacional. Daí utilizar métodos que coloquem o aluno no lugar de um sujeito que
conhece, que vive, traz consigo sua história, suas vivências, assim constituindo
um verdadeiro processo de ensino-aprendizagem. O ensino tradicional tenta
levar o conhecimento que está no nível da sensibilidade ou concreto para
o conhecimento abstrato da razão ou, ainda, do singular ao universal, não
respeitando a realidade polissêmica e plural. Os problemas que surgem no
ensino-aprendizagem tradicional consistem na atrofia da inteligência do aluno, ou
melhor, não é questionado o que já se encontra como pronto e acabado. O aluno
se torna um mero espectador da educação, não se inserindo nela.

Prova disso é o hábito, que deixa as experiências, ou seja, o conhecimento


sensível, à margem, e o conteúdo das disciplinas fica intacto, sem examiná-las,
sem retificá-las. Isso pode levar o aluno a ser sempre um expectador da história
e, jamais, um agente de transformação da realidade. Ocorre, de fato, que um dos
problemas da educação atual é que é gerada a possibilidade de que a escola
seja apenas uma reprodutora da máquina do estado, ou seja, cria nada mais do
que operários que laboram, que sempre foram treinados para obedecer. O erro

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Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

da Escola Tradicional está em transmitir o passado como padrão e não como


construção e aprender é adquirir um conhecimento pronto, tão somente o que
está nos livros, eliminando qualquer forma de experiência e vivência.

A atitude científica desenvolve a dicotomia entre o bem e o mal, o verdadeiro


e o falso, tendo como base a discriminação. O saber científico tem como principal
característica a classificação, categorizando toda a realidade na busca por um
saber absoluto e totalizante, eliminando qualquer forma de sensibilidade. O
espírito científico possui algo de doentio, esquizofrênico, que corta, separa,
discrimina, formaliza, ou melhor, ainda, é uma forma sem função, mantendo
separadas as coisas da vida e, por sua vez, das pessoas. Assim ocorreu uma
delimitação de território, entre aquele que é científico e aquilo que é vulgar e que,
portanto, é necessário ser superado. Assim, trata-se de um elemento cultural das
sociedades que supõem que o futuro se assemelharia ao passado.

Enfim, pode-se caracterizar tal educação como um ensino de um


conhecimento estático que, por sua vez, opõe-se à tomada de contato com um
mundo em mudança (DEWEY, 1976). O próximo passo é apresentar de forma
geral a Escola Progressiva, para que depois, confrontando com a tradicional,
possamos refletir sobre qual seria o melhor processo de ensino-aprendizagem.
Esta perspectiva é o outro extremo, oposto à Escola Tradicional, pois a Escola
Nova vê a Educação como um processo feito de dentro para fora, sendo que
educar não significa simplesmente colocar informações na “cabeça” do aluno,
muito pelo contrário. Assim, a educação progressista não se baseia em condições
inatas. O que importa, nesta escola, é o aluno e que o desenvolvimento de sua
individualidade se dá por meio de uma construção permanente, em sua relação
com o real. Aprender é, num linguajar vulgar, “soltar o aluno”. Isso fica bem claro
nas atividades de pesquisas, realizadas pelos educadores, em que o aluno
precisa pesquisar. O que há, na verdade, por parte desta escola, é certa rejeição
à autoridade da escola opositora e, acima de tudo, à tradição.

Leia a matéria “Como ensinar uma geração que vive conectada”.


Disponível em: <http://porvir.org/como-ensinar-uma-geracao-vive-
conectada/>.

42
Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES

Contudo, o que realmente a Escola Nova faz é rejeitar a Escola Velha e


Tradicional, preocupando-se em criticar a positividade da Escola Tradicional,
rejeitando, por exemplo, o controle externo, uma vez que uma de suas críticas
é sobre a liberdade individual. A crítica dos progressistas é que uma educação
que venha de fora leva em conta a liberdade do aluno. A Escola Nova não propõe
um projeto, mas isso não significa eliminar totalmente o controle externo da
Escola Tradicional. Não devemos eliminar os dispositivos de controle, mas, antes,
iluminar. Isso porque ambas as perspectivas fornecem elementos para uma
discussão sobre a formulação da noção de experiência ou vivência, uma vez que
a noção de experiência implica a noção de educação. Por isso, cabe, agora, uma
discussão mais aberta sobre alguns tipos experiência. Tendo como referência as
perspectivas educacionais apresentadas, podemos observar algumas limitações
que podem estar em ambos os tipos de educação. Mesmo que tenhamos, até
aqui, escrito sobre educação e experiência, não significa que estes conceitos
são termos que se equivalem, pois nem toda experiência é educativa. Algumas
experiências são deseducativas, outras não educativas e outras educativas.
“É deseducativa toda experiência que produza o efeito de parar ou distorcer o
crescimento para novas experiências posteriores” (DEWEY, 1976, p. 16).

Neste caso, uma experiência deseducativa paralisaria e inibiria o aluno


para novas experiências. A experiência de uma criança, por exemplo, que vê a
morte de um ser humano ou de uma criança que é vítima de abuso sexual, pode
gerar grandes limitações. Um professor que humilha o aluno diante da turma,
falando de modo grosseiro mediante uma pergunta, demonstrando a sua irritação
frente às constantes interpelações pode inibir e paralisar esse aluno para uma
possível aprendizagem. A experiência deseducativa distorce o crescimento para
novas experiências, impossibilitando experiências mais ricas. Tal experiência
tira o aluno do caminho do prazer pelo estudo. Já a experiência não educativa
é fortuita, é neutra, simplesmente não educa. Como quando se diz uma piada
medíocre, não aumenta o conhecimento nem o diminui. Todavia, a experiência
educativa é aquela que possui um conteúdo que proporciona a abertura para
novas experiências, novos conteúdos, ao contrário do que seria a violência de
uma experiência deseducativa, que trava a possibilidade de novas experiências,
ou seja, tira do aluno a possibilidade de crescer intelectualmente.

De modo algum quisemos dar uma resposta cabal aos problemas


educacionais, mas, sim, oferecer a possibilidade da discussão, de uma reflexão
sobre os moldes educacionais, sobre os quais algumas escolas ou professores
podem estar assentados. Uma vez que a educação é um processo e implica o
movimento, deve o professor se aperfeiçoar para também estar em movimento,
ou seja, estar de acordo com a realidade humana. É preciso olhar para cada
aluno com essa perspectiva, pois de um aluno para outro, há um movimento
e, às vezes, uma evolução. Não tivemos a intenção de mostrar as vantagens

43
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

e as desvantagens da Escola Tradicional, bem como as da Escola Nova, mas,


sim, de servir como ponto de partida para uma reflexão sobre os processos de
ensino-aprendizagem. Aqui não cabem os moldes extremados do “isto ou aquilo”,
servindo esta abordagem apenas para problematizar, levantar questões e ver em
qual escola estamos convivendo.

Contudo, tomar uma posição extremada sobre as escolas analisadas não


parece a melhor coisa a se fazer, mas, sim, retirar de cada uma aquilo que é
melhor para o processo de aprendizagem; retirar aquelas experiências que são
educativas e que, portanto, abrem possibilidades. A realidade era uma contínua
transformação que, em sua finitude, buscamos a infinitude. Com isso, é necessário
entender que não podemos jogar fora alguns princípios de cada escola analisada,
mas, antes, tê-las como referencial. Não significa excluir totalmente a tradição ou
o controle externo, pois uma escola em que não há certo controle acredita numa
realidade em que diz que o aluno já possui as condições inatas desenvolvidas.
Por outro lado, não podemos eliminar a liberdade e a subjetividade do aluno.
Antes, é preciso saber trabalhar com elas, lidar com elas e saber direcioná-las.

Posto isto, finalizamos o Capítulo 1. O próximo capítulo abordará a Gestão do


Conhecimento e a Revolução 4.0, que é um tema relevante para o atual momento
em que se encontra a gestão nas organizações, principalmente no tange aos
impactos da tecnologia e das mídias no engajamento e na retenção das pessoas.

1 A globalização só foi possível pelo fato de ter(em) ocorrido?


a) ( ) A Segunda Guerra Mundial.
b) ( ) As Revoluções Industriais.
c) ( ) O Iluminismo.
d) ( ) A Revolução Russa.

2 Não se baseia unicamente nos avanços tecnológicos atuais, mas


é fruto da construção do pensamento humano em relação aos
fatos que se desenrolaram no decorrer da História. Empoderou um
número muito maior de pessoas a desempenhar transformações
internas e externas. Combinado de tecnologias, estoque de
capitais, conhecimento expandido, bem como instituições que
valorizam intensamente a inovação e a qualidade de vida. A que
se refere essa afirmação?

44
Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES

a) ( ) Infocapitalismo.
b) ( ) Modernidade Global.
c) ( ) Simbolismo social.
d) ( ) Interacionismo na rede.

3 Nossa era é de um ________: nosso fascínio atual pela


criação instantânea, reinvenção e transformação de _______ é,
em um ou outro sentido, elemento da vida contemporânea. Viver na
era global de um novo individualismo requer indivíduos capazes
de projetar e dirigir suas próprias_______, de definir identidades
em termos de autorrealização e de empregar bens sociais e
símbolos culturais para representar a expressão individual e
a personalidade.

As palavras que completam o texto corretamente, na sequência, são:

a) ( ) Individualismo – eus – biografias.


b) ( ) Individualismo – sucesso – vidas.
c) ( ) Capitalismo – eus – vidas.
d) ( ) Novo individualismo – eus – biografias.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao fim desse primeiro capítulo, esperamos que você tenha
aproveitado todo o conteúdo. Como consequências importantes, esperamos que
você tenha discutido e apreendido alguns temas importantes discutidos aqui.
Vamos relembrar alguns deles:

• As diferentes áreas do conhecimento precisam estar conectadas,


realizando um processo magnífico de interdisciplinaridade.
• Devemos buscar solapar o paradigma tradicional de educação, porque
ele acaba criando seres domesticados.
• O novo ambiente tecnológico e econômico exige a capacidade de
trabalhar em equipe.
• A Teoria da Contingência ensina que maior será a possibilidade de acerto
quanto mais forem as opções de rotas alternativas.
• A sociedade moderna buscou delinear o comportamento fundamentando
no uso da razão.

45
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

• O efeito das redes nas culturas locais, em geral se dá pela


homogeneização dos valores, crenças ou estilos de vida, favorecendo o
desaparecimento da diversidade, bem como os valores tradicionais.
• O homem que peregrina, que não pode experienciar o passado, nunca
poderá sonhar com o futuro, e não pode criticar o presente.
• A atitude científica desenvolve a dicotomia entre o bem e o mal, o
verdadeiro e o falso, tendo como base a discriminação.
• A experiência educativa é aquela que possui um conteúdo que
proporciona a abertura para novas experiências, para novos conteúdos.

Por fim, lembramos que o acesso ao conhecimento auxilia no seu


desenvolvimento técnico, cultural e social.

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Capítulo 1 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES

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49
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

50
C APÍTULO 2
GESTÃO DO CONHECIMENTO E
REVOLUÇÃO 4.0

A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Relacionar os efeitos da Revolução 4.0 com a prática interdisciplinar e a ética


na sociedade da informação.

• Capacidade para análise e interpretação dos contextos da sociedade do


conhecimento e da ética. Entender que a vida social é a finalidade de todos os
conhecimentos e práticas.
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

52
Capítulo 2 GESTÃO DO CONHECIMENTO E REVOLUÇÃO 4.0

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Pensar sobre Recursos Digitais automaticamente nos remete ao momento
revolucionário em que estamos passando no nosso cotidiano. Grandes mudanças
em todas as áreas de atuação estão acontecendo. Necessita-se descobrir
que no futuro vivemos o presente. Logo, a Revolução 4.0 exige de nós uma
capacidade cada vez maior de pensarmos de forma inovadora e criativa, atentos
ao ecossistema.

A originalidade, o pensamento crítico e o desejo de aumentar nosso leque de


conhecimento passa a ser uma exigência no mundo do trabalho. Os problemas
agora e no futuro serão cada vez mais complexos e exigirão um novo tipo de
profissional, mais conectado e com uma visão interdisciplinar para poder não
aceitar as verdades absolutas.

Essas habilidades exigidas dos profissionais estão preocupando as


instituições de ensino e as empresas. No Brasil, esses assuntos vêm crescendo
no debate acadêmico. Além disso, outro ponto que merece nosso destaque
nesse capítulo é a questão ética. Pensar sobre esse tema é importante porque
empresas e profissionais de referência têm trabalhado para afirmar que a
sociedade global necessita diminuir a corrupção e a mentira. Nesse sentido, é
visível que o ambiente virtual está contaminado de problemas éticos e isso
precisa ser discutido, são muitos os exemplos de posturas e atitudes que não são
mais aceitas pela sociedade.

Revolução 4.0, interdisciplinaridade, inovação, informação e ética andam


juntas desde sempre. Os temas aqui apresentados nos permitem integrar as
diversas vertentes consideradas com o objetivo de identificar e definir os melhores
caminhos para entender e agir na sociedade e nas empresas.

Bons estudos! Aproveite os textos e as ideias aqui presentes.

2 REVOLUÇÃO 4.0
A vida humana sempre esteve pautada pelo trabalho, tendo uma relação de
dor, sofrimento e tortura. No entanto, o trabalho pode possuir um lado positivo
quando é concebido como sendo de formação, construção, desenvolvimento e
autorrealização. Todavia, contemporaneamente, em pleno século XXI, os grandes
avanços tecnológicos impulsionaram e transformaram as relações de trabalho
e a forma como era concebido nas revoluções anteriores, seja na medicina,

53
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

na produção, nos transportes etc. Isto se deu porque a informação se tornou a


matéria-prima que pode ser armazenada, transmitida, processada e gerada de
diversas formas.

A tecnologia da informação é para esta revolução o que as novas


fontes de energia foram para as revoluções industriais sucessivas,
do motor a vapor à eletricidade, aos combustíveis fósseis à energia
nuclear, visto que a geração e a distribuição de energia foi o elemento
principal na base da sociedade industrial (CASTELLS, 2003).

Existe um fio vermelho que mantém interligada a Primeira Revolução


Industrial com a atual revolução contemporânea, denominada de Quarta
Revolução Industrial. Ela é marcada pelo surgimento de vários dispositivos
técnicos que têm como combustível a informação. Este movimento processual se
desenvolveu após a Segunda Grande Guerra e se acelerou na década de 1970,
concentrando-se significativamente no período da crise do petróleo, ou melhor,
entre 1973-1974, onde se deu a invenção do transistor, que foi o precursor das
modernas tecnologias da informação, sejam elas na microeletrônica, nos sistemas
computacionais ou na infraestrutura das telecomunicações.

As novas tecnologias da informação não são simplesmente


ferramentas a serem aplicadas, mas processos a serem
desenvolvidos. Usuários e criadores podem tornar-se a mesma
coisa. Dessa forma, os usuários podem assumir o controle da
tecnologia, como no caso da internet. Há, por conseguinte,
uma relação muito próxima entre os processos sociais de
criação e manipulação de símbolos (a cultura da sociedade) e
a capacidade de produzir e distribuir bens e serviços (as forças
produtivas) (CASTELLS, 2003, p. 69).

Portanto, a Quarta Revolução Industrial possui cinco características: a)


a informação é a matéria-prima; b) com os dados coletados, em unidades de
informação, a sociedade vem sendo transformada e moldada em novas estruturas
sociais; c) a sociedade passa a se refletir no conjunto do tecido social como um
todo, tendo por base a lógica em redes; d) o conceito-chave é a flexibilidade dos
processos, organizações e instituições; e) integração de todos os dispositivos
técnicos em um único sistema totalizante.

54
Capítulo 2 GESTÃO DO CONHECIMENTO E REVOLUÇÃO 4.0

Todavia, ao falarmos da sociedade contemporânea, é preciso ter em mente


que estamos em uma época neuronal, e que as revoluções industriais anteriores,
que foram superadas, eram consideradas virais, e que acabam de nos introduzir
muitas vezes em um universo patológico:

O século passado foi uma época imunológica. Trata-se de uma


época na qual se estabeleceu uma divisão nítida entre dentro
e fora, amigo e inimigo ou entre próprio e estranho. Mesmo a
Guerra Fria seguia esse esquema imunológico. O objeto da
defesa imunológica é a estranheza como tal. Mesmo que o
estranho não tenha nenhuma intenção hostil, mesmo que ele
não represente nenhum perigo, é eliminado em virtude de sua
alteridade (HAN, 2017, p. 8-9).

Com relação à Quarta Revolução Industrial, vale destacar o


texto de Raquel Melo (2018) sobre os impactos dessa revolução na
sociedade.

A Quarta Revolução Industrial já está entre nós e precisamos


de uma visão holística para entender seus processos. Nossa
relação com a tecnologia é histórica. Pensadores, como o filósofo
italiano Umberto Galimberti, defendem que, sem a tecnologia, não
teríamos sobrevivido à magnitude da natureza, pois teria sido graças
à tecnologia que pudemos caçar, nos abrigar, vestir, nos deslocar
pelo território.

Na linha do tempo desta relação, o intervalo entre as inovações


disruptivas tem sido cada vez mais curto. As transformações
que vivemos são tão velozes que temos a sensação de que não
conseguimos acompanhá-las.

Tal angústia resulta de um fato: o avanço tecnológico é


incontornável.

55
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

FIGURA 1 – O AVANÇO TECNOLÓGICO É INCONTORNÁVEL

FONTE: <https://bit.ly/2Gv4Lzu>. Acesso em: 17 fev. 2019.

A questão é que chegamos a um patamar em que


desenvolvemos tecnologias com características inéditas, como a
autonomia, a capacidade de processamento de dados inalcançável
para os humanos e a compatibilidade biológica.

Inteligência Artificial, Machine Learning, Deep Learning,


impressoras 3D de materiais biossintéticos não são mais ficção, mas
realidade.

As consequências desta transformação digital são imprevisíveis,


no entanto, para compreendermos minimamente o que já está
ocorrendo, precisamos observar atentamente os debates, os
experimentos, os acordos e as transações internacionais, seja no
âmbito político, econômico ou científico.

Os impactos da Quarta Revolução Industrial

Por este motivo, indica-se a leitura de A Quarta Revolução


Industrial, de Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico
Mundial, que coincidentemente, ocorre agora em Davos (Suíça).

No livro, Schwab apresenta reflexões e análises próprias e de


integrantes do Fórum sobre as inovações tecnológicas surgidas com
a digitalização, assim como seus impactos na sociedade.

Entre os impactos negativos, aqueles que causam mais


preocupação são: a exclusão digital, a extinção de profissões,
o desemprego (que certamente afetará mais as mulheres), as
diásporas, os conflitos sociais etc.

56
Capítulo 2 GESTÃO DO CONHECIMENTO E REVOLUÇÃO 4.0

Entre os positivos estão: a inclusão digital, a democratização da


informação, a criação de novos modelos de negócio e de soluções
colaborativas para problemas históricos no campo da alimentação,
moradia, saúde, mobilidade, meio ambiente etc.

FIGURA 2 – INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, MACHINE LEARNING


E DEEP LEARNING NÃO SÃO MAIS FICÇÃO

FONTE: <https://adobe.ly/2GLEQCQ >. Acesso em: 17 fev. 2019.

Entre os desafios estão: a criação de novas habilidades


profissionais e de novos modelos de gestão empresarial, a garantia
da equidade de gênero etc.

O livro não traz respostas sobre “que futuro teremos”, mas


sua leitura é fundamental, pois nos faz refletir sobre “que futuro
queremos”.

Acredita-se que será respondendo a esta pergunta que


conseguiremos pensar e desenvolver tecnologias mais responsáveis
socialmente.

FONTE: MELO, R. Quarta Revolução Industrial: que futuro


teremos? 2018. Disponível em: https://futuroexponencial.com/quarta-
revolucao-industrial-futuro/. Acesso em: 2 dez. 2018.

57
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

Han (2017) classifica as revoluções anteriores como sendo


Han (2017) classifica
as revoluções virais, enquanto na contemporaneidade a revolução digital é
anteriores como neuronal. O filósofo deixa claro que a principal característica
sendo virais, das revoluções industriais até então era a imunologia, em que a
enquanto na diferença e a alteridade são importantes e imprescindíveis para que
contemporaneidade o processo como o todo se desenvolva.
a revolução digital é
neuronal.

A Quarta Revolução Industrial é o exótico e a espetacularização,


que passam a ser os conceitos centrais de todo o processo que não
respeita mais territórios e barreiras, sendo a principal característica
da globalização, na qual a aceleração passa a tomar parte de toda
a vida humana, existindo um excesso de positividade que provoca a
violência neuronal.

Por isso ela é mais invisível que uma violência viral. Habita o
espaço livre de negatividade do igual, onde não se dá nenhuma
polarização entre inimigo e amigo, interior e exterior ou entre
o próprio estranho. A violência da positividade não é privativa,
mas saturante; não é excludente, mas exaustiva. Por isso é
inacessível a uma percepção direta (HAN, 2017, p. 19-20).

Assim, o negativo deixa de existir, e passa a imperar a positividade, onde


o trabalhador passa a ser classificado pelo seu desempenho e produtividade.
A sociedade contemporânea não é mais disciplinar, onde a territorialização
e o disciplinamento eram seus conceitos centrais, mas é o desempenho nas
academias de ginástica, na empresa, no sistema bancário etc., que passam a ser
um novo paradigma.

A sociedade de desempenho vai se desvinculando cada vez


mais da negatividade. Justamente a desregulamentação
crescente vai abolindo-a. O poder ilimitado é o verbo modal
positivo da sociedade do desempenho. No lugar de proibição,
mandamento ou lei, entram projeto, iniciativa e motivação.
Já habita, naturalmente, o inconsciente social, o desejo
de maximizar a produção. Para elevar a produtividade, o
paradigma da disciplina é substituído pelo esquema positivo do
poder, pois a partir de um determinado nível de produtividade, a
negatividade da proibição, tem um feito de bloqueio, impedindo
um maior crescimento (HAN, 2017, p. 24-25).

58
Capítulo 2 GESTÃO DO CONHECIMENTO E REVOLUÇÃO 4.0

Assim, houve uma substituição da sociedade disciplinar pela neuronal,


havendo um crescimento constante em torno da competitividade, aumento da
produtividade e um excesso de positividade na busca pelo poder. A censura deixa
de existir, eliminando impedimentos, barreiras e muros, desenvolvendo-se em
uma sociedade do desempenho, onde o poder se alimenta de mais poder.

A carreira da depressão começa no instante em que o modelo


disciplinar de controle comportamental, que, autoritária e
proibitivamente, estabeleceu seu papel às classes sociais e
aos dois gêneros, foi abolido em favor de uma norma que incita
cada um à iniciativa pessoal: em que cada um se comprometa
a tornar-se ele mesmo. O depressivo não está cheio, no limite,
mas está esgotado pelo esforço de ter de ser ele mesmo. O
que causa a depressão do esgotamento não é o imperativo de
obedecer apenas a si mesmo, mas a pressão do desempenho
(HAN, 2017, p. 27).

Excesso de positividade, responsabilidade, iniciativa, Transparência e


desempenho é o imperativo maior da Revolução 4.0, que nos operacionalidade em
transforma em uma sociedade positiva e transparente, onde a um futuro positivado,
demonstração e a informação assumem um novo significado: em um mero contato
liberdade, o novo fetiche de uma sociedade totalizante. Isso somente imediato entre o
olho e imagem, é
é possível se o negativo, a alteridade e a diferença forem eliminados.
o objetivo maior
Tudo se torna operacional e positivado e, assim, tudo se torna da sociedade 4.0,
pornográfico, a revolução digital nos coloca em contato imediato com que busca acelerar
a imagem e o olho. O novo conceito é a mercadoria, commodities. O excessivamente o
privado se torna público e o público se torna privado. Transparência sistema produtivo.
e operacionalidade em um futuro positivado, em um mero contato
imediato entre o olho e imagem, é o objetivo maior da sociedade 4.0, que busca
acelerar excessivamente o sistema produtivo.

A comunicação alcança sua velocidade máxima ali onde o


igual responde ao igual, onde ocorre uma reação em cadeia
do igual. A negatividade da alteridade e do que é alheio ou
a resistência do outro atrapalha e retarda a comunicação
rasa do igual. A transparência estabiliza e acelera o sistema,
eliminando o outro ou o estranho (HAN, 2017, p. 11).

Desta forma, a perda de significado se dará pela demasiada aceleração,


eliminando qualquer forma de demora ou paciência na formação do sistema
produtivo. O homem acaba por se tornar um animal laborans, não existindo mais
o senhor externo, ele acaba por se internalizar. O escravo se torna senhor, e o
senhor se torna escravo, ambos vigiam e são vítimas e agressores, exploradores
de si mesmos, perdendo significado e sentido e não se reconhecendo mais no
processo final de seu trabalho.

59
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

A produção dos significados e dos sentidos, nas diferentes


abordagens, leva em consideração o papel da cultura e da
sociedade como elementos fundamentais para a compreensão
das significações. Se tratam de fenômenos articulados em
relação aos quais não há como demarcar uma fronteira
clara. Também é evidente que tanto os sentidos quanto os
significados passam por transformações decorrentes de que
são construídos em uma relação dialética com a realidade
(TOLFO, 2014, p. 623).

Como decorrência, o homem laborans se torna multitarefa, aumentando


consideravelmente sua carga de trabalho, perdendo-se na sua capacidade
evolutiva, característica típica dos animais selvagens em estado de sobrevivência:

Essa atenção profunda é cada vez mais deslocada por uma


forma de atenção bem distinta, a hiperatenção. Essa atenção
dispersa se caracteriza por uma rápida mudança de foco
entre diversas atividades, fontes informativas e processos. E
visto que ele tem uma tolerância bem pequena para o tédio,
também não admite aquele tédio profundo que não deixa de
ser importante; e para o processo criativo (HAN, 2017, p. 33).

O homem da Revolução 4.0 não consegue mais estabelecer limites claros


entre seu trabalho e a vida cotidiana, acaba desconectado de si mesmo e de
seu corpo, massificado pela positividade, em uma memória demasiadamente
acumulativa, ou seja, as mídias de comunicação social eliminam a distância entre
o público e o privado, entre o escravo e o senhor, entre o eu e o outro, sob o
imperativo da transparência. As mídias digitais, na Revolução 4.0, nos oferecem a
possiblidade do “não desligamento”, produção 24 horas, onipresença, que nivela
e homogeneíza tudo em nome da produtividade.

As mídias sociais e sites de busca constroem um espaço de


proximidade absoluto onde se elimina o fora. Ali se encontram
apenas o si mesmo e os que são iguais; já não há mais
negatividade, que possibilitaria alguma modificação. Essa
proximidade digital presenteia o participante com aqueles
setores do mundo que agradam. Com isso, ela deriva do
caráter público, a consciência pública; sim, a consciência
crítica, privatizando o mundo (HAN, 2017, p. 81).

Nessa busca incessante de não se desligar do mundo, o ser humano busca


ser feliz o tempo todo. De forma sintomática, o prazer se torna condição sine
qua non para aqueles que levam uma vida mais consumista e menos crítica da
sua realidade. Como nos lembra essa pequena reflexão de Gilles Lipovetsky
(MACHADO, 2017, s.p.): “na vida privada, a busca da felicidade passa por cima
de tudo. O dever tornou-se um peso insuportável. Só o prazer conta. A ética é um

60
Capítulo 2 GESTÃO DO CONHECIMENTO E REVOLUÇÃO 4.0

discurso imponente para consumo externo”.

Na sociedade da transparência e positivada, o homem perde seu telos (fim),


se torna meio, acaba por ser degradado e alijado de sua finalidade. A revolução
digital desumaniza o homem em vez de dignificá-lo, transformando-o em mera
mercadoria, ou um dado informacional.

O elemento social é degradado e operacionalizado como


um elemento funcional do processo de produção, prestando-
se sobretudo à otimização das relações de produção. Falta-
lhe todo resquício de negatividade à aparente liberdade dos
consumidores. Já não se forma qualquer exterior que possa
colocar em questão o interior sistemático. Hoje, a supervisão
não se dá como se admite usualmente, como agressão à
liberdade. Ao contrário, as pessoas se expõem livremente ao
olho panóptico (HAN, 2017, p. 115).

Logo, a Revolução 4.0 produziu uma sociedade do cansaço, pobre em


negatividade, composta de sujeitos dopados, depressivos e dependentes de
recursos medicamentosos:

Precisamente à vida desnuda, que acabou se tornando


radicalmente transitória, reagimos com hiperatividade, com a
histeria do trabalho e da produção. Também o aceleramento
de hoje, tem muito a ver com a carência do ser. A sociedade
do trabalho e a sociedade do desempenho não são uma
sociedade livre. Elas geram novas coerções. A dialética de
senhor e escravo está, não em última instância, para aquela
sociedade na qual cada um é livre e que seria capaz também
de ter tempo livre para lazer (HAN, 2017, p. 116).

Este animal laborans passa a possuir uma consciência maximizada sem


relação com o outro, em completo isolamento diante do esgotamento e cansaço.
Não possui mais a capacidade de ver. A revolução digital tirou do homem sua
capacidade contemplativa, seu descanso, paciência, sendo incapaz de resistir
aos estímulos que lhe oprimem:

Nas doenças psíquicas de hoje, tais como depressão,


burnout, déficit de atenção ou síndrome de hiperatividade, ao
contrário, não se vê a influência do processo de repressão
e do processo de negação. Remetem, antes, a um excesso
de positividade, portanto não estão referidas à negação, mas
antes à incapacidade de dizer não, não ao não ter direito, mas
ao poder tudo (HAN, 2017, p. 51).

61
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

Quem é o animal laborans da filósofa e socióloga Hannah


Arendt?

A Revolução 4.0 deu ao homem contemporâneo a ilusão da


A Revolução 4.0
deu ao homem liberdade. Ele não é mais coagido pela exterioridade, mas ele se torna
contemporâneo sádico de si mesmo, submetendo-se a si próprio, autoflagelando-se,
a ilusão da unificando liberdade e coação, em uma histeria pela sobrevivência,
liberdade. Ele não exigindo cada vez mais habilidades ilimitadas, autorrealizações,
é mais coagido otimizações. Tudo se transforma em mercadoria e comércio, inclusive
pela exterioridade,
as relações sociais.
mas ele se torna
sádico de si mesmo,
submetendo- O veredicto da sociedade positiva é este: “Me agrada”. É
se a si próprio, significativo que o Facebook se negue coerentemente a
introduzir um emoticon de deslike button. A sociedade positiva
autoflagelando-se,
evita todo e qualquer tipo de negatividade, pois esta paralisa
unificando liberdade a comunicação. Seu valor é medido apenas pela quantidade
e coação, em e velocidade da troca de informações, sendo que a massa de
uma histeria pela comunicação também eleva seu valor econômico e veredictos
sobrevivência, negativos a prejudicam (HAN, 2017, p. 24).
exigindo cada vez
mais habilidades
Amizades e relações amorosas se transformam e passam
ilimitadas,
autorrealizações, a ser concebidas como meras transações comerciais, objetos
otimizações. Tudo descartáveis em uma sociedade acelerada, na qual a performance e
se transforma a espetacularização se transformam em apenas fluxo informacional,
em mercadoria e sufoca o eros, exaltando o narcisismo, que passa a ser determinado
comércio, inclusive por uma tecnologia de escolha.
as relações sociais.

A sociedade do desempenho está totalmente dominada


pelo verbo modal poder, em contraposição à sociedade da
disciplina, que profere proibições e conjuga o verbo dever. A
partir de um determinado ponto da produtividade, o dever se
choca rapidamente com seus limites. É substituído pelo verbo
poder para a elevação da produtividade. O apelo à motivação,
à iniciativa e ao projeto é muito mais efetivo para exploração do
que o chicote ou as ordens (HAN, 2017, p. 25).

Para que exista amor e eros, é necessário a exaltação da alteridade, do


outro. O amor contagia, transforma e nos deixa vulneráveis, frágeis, ele está
impregnado de negatividade.

Eros e depressão se contrapõem mutuamente. O Eros arranca

62
Capítulo 2 GESTÃO DO CONHECIMENTO E REVOLUÇÃO 4.0

o sujeito de si mesmo e direciona-o para o outro. A depressão,


ao contrário, mergulha em si mesma. O sujeito de hoje, voltado
narcisicamente ao desempenho, está à busca de sucesso.
Sucesso e bons resultados trazem consigo uma confirmação
de um pelo outro (HAN, 2017, p. 35).

As mídias e os diversos dispositivos técnicos da Revolução 4.0 podem


acabar com os laços humanos, pois está transformando e colocando tudo como
resultado da mercantilização, desobrigando os seres sociais a se sentirem
responsáveis uns pelos outros, não criando mais raízes.

A síndrome de burnout é o exemplo máximo do colapso de


um indivíduo submetido à sociedade do desempenho, que não
aceita o fracasso, exigindo a si mesmo que produza cada vez mais,
concorrendo consigo mesmo, imerso na liquidez, flexibilidade,
afrouxamento das relações sociais, não possuindo mais amigos, mas
apenas contatos.

Em virtude de um fraco “elo de ligação”, é muito fácil retirar


a libido de um objeto e com isso direcioná-la rumo à posse
de novos objetos. O “trabalho de enlutamento” demorado e
dolorido acabou se tornando desnecessário. A “alegria” que se
encontra nas redes sociais de relacionamento tem sobretudo a
função de elevar o sentimento próprio narcísico. Ela forma uma
massa de aplausos que dá atenção ao ego exposto ao modo
de uma mercadoria (HAN, 2017, p. 93).

Por isso, nunca é demais dizer que na revolução digital uma das exigências
da contemporaneidade é a transparência. Ela permeia o discurso público e
privado na atualidade, ao contrário da Antiguidade, quando os espaços público e
privado eram considerados distintos. Igualdade entre os indivíduos era somente
para aqueles que eram considerados cidadãos, nascidos em Atenas, homens e
com a maioridade, todos os demais, crianças, mulheres e estrangeiros (metecos)
não tinham o direito à participação política e não eram considerados cidadãos.
A ágora era o único lugar onde era possível ser explícito, sendo respeitada a
obscuridade e a sombra, ou, ainda, a nebulosidade no espaço privado. Mesmo
os deuses, seu território de atuação e presença, somente se davam no espaço
público.

Todavia, uma mudança radical ocorreria com o surgimento do pensamento


judaico-cristão. Na Antiguidade greco-romana, o mundo era encantado, deuses e

63
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

homens caminhavam lado a lado. De acordo com esta perspectiva, o Deus único,
onipresente no espaço público e privado, coloca luz sob a vida no oikos e passa
a legislar naquele espaço, que antes era dominado pelo poder do pai: pátria
potestas. A filosofia cristã exige transparência, luminosidade na vida privada,
antes obscura e impenetrável. Desde então, a transparência passou a ser exigida
não somente no espaço público, mas também no espaço privado, regulando
costumes e comportamentos devido à positividade do Deus cristão.

Na Modernidade, o desaparecimento gradual da centralidade do Deus cristão,


fez com que a razão passasse a ocupar seu espaço, exigindo luminosidade sobre
todos os cantos escuros que a vida privada possa ter: “assim, a sociedade da
negatividade dá espaço a uma sociedade na qual vai se desconstruindo cada vez
mais a negatividade em nome da positividade” (HAN, 2017, p. 9). A isso chamamos
de iluminismo. É neste sentido que se pode dizer que o movimento iluminista é
pornográfico. O discurso da pornografia é extremamente transgressivo, busca a
máxima visibilidade, consiste em jogar luz sobre tudo o que está fora de cena,
ou melhor, obsceno, ele exige o direito de mostrar, explicitar, colocar tudo nu,
exigindo que todos testemunhem diante de seus olhos a verdade do homem.
Quem pode duvidar de que a Modernidade inaugura e se consolida a partir de
movimentos espetaculares? Exibindo de forma explícita corpos enfileirados
e profanados? Não há como negar como é espetacular a produção em série
realizada pelo fordismo no século XIX.

Muitos experts consideram o fordismo obsoleto. Outros dizem


que suas ideias são dominantes no mercado de trabalho de hoje em
dia.

O princípio central da Modernidade é a positividade/atividade constante e


ininterrupta. Para que este empreendimento tivesse sucesso, a razão moderna
buscou colocar nua toda e qualquer forma de figura que se apresentasse obscura
ou subjetiva. Fez-se necessário profanar e liberar o homem de qualquer influência
da superstição popular ou da religião do antigo regime. A luta que se seguiu foi
entre sádicos e masoquistas, reacionários românticos que se expressaram no
maniqueísmo dos contrarrevolucionários católicos e esclarecidos.

Se a grande Filosofia, representada por Leibniz e Hegel,


descobrira também uma pretensão de verdade nas

64
Capítulo 2 GESTÃO DO CONHECIMENTO E REVOLUÇÃO 4.0

manifestações subjetivas e objetivas que ainda não são


pensamentos (ou seja, em sentimentos, instituições, obras
de arte), o irracionalismo de seu lado isola o sentimento,
assim como a religião e a arte, de tudo o que merece o nome
de conhecimento, e nisso como em outras coisas revela
seu parentesco com o positivismo moderno, a escória do
esclarecimento (ADORNO; HORKHEIMER, 2006, p. 78).

Como consequência, tudo tem a tendência a ser tornar transparente,


raso, plano e operacional, tudo é fruto do cálculo e do controle, em um tempo
presentificado, sem grandes dramatizações ou capacidade interpretativa. O
trabalho do espírito na Modernidade, igual a tudo, homogeneíza, passando a ser
precificado, assim, a transparência coage a tudo e a todos, exigindo aceleração e
modificação sistêmica da vida social:

A pressão pelo movimento de aceleração caminha lado a lado


com a desconstrução da negatividade. A comunicação alcança
sua velocidade máxima ali onde o igual responde ao igual,
onde ocorre uma reação em cadeia do igual. A negatividade da
alteridade e do que é alheio ou a resistência do outro atrapalha
e retarda a comunicação rasa do igual (HAN, 2017, p. 11).

O totalitarismo na Modernidade se apresenta na imposição da


homogeneização e quantificação. Logo, é um mundo de informações, não
havendo mais espaço para o conhecimento ou a paciência necessária à reflexão
espontânea do ser humano, onde somente pode ser concebido como simples
funcionalidade. No entanto: “só a máquina é transparente; a espontaneidade
- capacidade de fazer acontecer - e a liberdade, que perfazem com tal a vida,
não admitem transparência” (HAN, 2017, p. 13). A vida privada é exposta nas
redes e mídias na busca desesperada através de um fluxo comunicativo de
total transparência. A vida passa a ser a exigência de apatia, indiferença, uma
sabedoria demonstrativa que normaliza a nudez e a desinibição. Qualquer espaço
protegido pela discrição é profanado, jogado luz sobre, conquistado e saqueado.
Esta indiferença e apatia são as principais características da Modernidade.

A frustração e o desamparo surgem na mesma tenra idade e nos joga


em um mundo que se expressa ou se desenvolve a partir de princípios
opostos e ambivalentes, que se interpenetram, longe da segurança oferecida
intrauterinamente. Daí porque Freud diz que Deus e as religiões são ilusões
criadas pelo ser humano para suprir a necessidade psicológica do desamparo.
Uma sociedade com máxima positividade é uma sociedade infeliz, uma vez que
a felicidade provém do vocábulo oco, ou, ainda, fortuna. Enfim, uma sociedade
que não admite a fortuna, a contingência ou a negatividade é aquela que não
pressupõe a felicidade. É neste sentido que o trabalho, a Ciência e a técnica
moderna na Revolução 4.0 não são causa, mas um fim do longo processo de
racionalização que não dá espaço para a negatividade e a contingência. Por

65
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

isso, na Modernidade, a sociedade é inimiga do prazer, uma vez que se recusa o


mistério, o véu e a ocultação. A coação destrói qualquer capacidade de sedução
e tudo vira procedimentos e funcionalidades, fonte de sofrimento psíquico.
Todas as patologias contemporâneas, em geral, são derivadas da massificação,
aceleração e exigência de desempenho total dos indivíduos, que se ramificaram
por todos os espaços da vida humana, supervalorizando a informação, cultuando
o desempenho e a espetacularização. Tudo se torna conexões em rede.

Frente ao eu ideal, o eu real aparece como fracassado,


acossado por suas autorreprimendas. A sociedade da
positividade, que acredita ter-se libertado de todas as coações
estranhas, se vê enredada em coações autodestrutivas. É
assim que doenças psíquicas, como o burnout ou a depressão,
que são as enfermidades centrais do século XXI, apresentam
todas elas um traço altamente agressivo a si mesmo (HAN,
2017, p. 14).

A Revolução 4.0 radicaliza a individualidade, eliminando a presença do outro,


quebrando qualquer possibilidade de estabilidade. As condições a priori são a
flexibilização e a inconstância. Isso se dá uma vez que a imaginação passa a
ser antecipada devido ao acúmulo de informações, que nos proporciona imagens
limitadas e infiéis do outro:

A cupidez já não seria determinada pelo inconsciente, mas


por uma escolha consciente. “De maneira constante nas
decisões de escolha e nos critérios dignos de serem desejados
racionalmente”. O sujeito teria sua atenção despertada para
um outro e seria responsabilizado por isso. Além do mais, a
crescente imaginação teria “modificado e elevado os anseios
de homens e mulheres em relação às propriedades desejadas
num(a) parceiro(a). Por isso que, hoje, muito facilmente a gente
se decepciona. A decepção seria uma “conhecida escrava da
imaginação” (HAN, 2017, p. 15).

A revolução digital elimina a fantasia, onde tudo passa a ser editado de


forma idealizada e romântica. Para que haja fantasia, é necessário afastamento,
distanciamento, porém, as modernas tecnologias da informação excluem a
distância, produzindo altas frustrações devido à imaginação e à expectativa
excessivamente aumentadas.

A grande quantidade de informações, sobretudo a visual,


acaba sufocando-a. A hipervisibilidade não pode ser acrescida
e não se coaduna com a força da imaginação. Assim, destrói
a informação visual, e como que maximiza a fantasia erótica.
Diante da enorme quantidade de imagens hipervisíveis, hoje
já não é possível fechar os olhos. Também a mudança veloz
das imagens já não nos concede mais tempo para isso. Fechar
os olhos é uma negatividade da sociedade acelerada de hoje
(HAN, 2017, p. 69-73).

66
Capítulo 2 GESTÃO DO CONHECIMENTO E REVOLUÇÃO 4.0

A hipervigilância das mídias informacionais é outro aspecto coercitivo que


gera esgotamento e cansaço neuronal devido à hiperatividade e à hipervisibilidade
de suas multitarefas, onde o eros e o prazer agonizam.

O thymos é o lugar onde se tocam eros e política. Mas a política


atual, que não está privada apenas de tymos, mas também
de eros, atrofia em mero trabalho. O neoliberalismo aciona
uma despolitização geral da sociedade onde ele, não por
último, substitui o eros por sexualidade e pornografia. Baseia-
se na epithymia. Em uma sociedade do cansaço, de sujeitos
de desempenho isolados em si mesmos, o tymos também
começa a se atrofiar completamente. Torna-se impossível um
agir comum (HAN, 2017, p. 65).

Sobre a vigilância temos a imprescindível análise de Michel Foucault sobre


seus aspectos e sua relação com a sociedade moderna.

“Vigiar e punir: nascimento da prisão” é um livro do filósofo


francês Michel Foucault, que documenta um estudo científico sobre
a evolução histórica da legislação penal e os métodos coercitivos
e punitivos - desde a violência física até instituições correcionais -
adotados pelo poder público na repressão da delinquência. O livro
é dividido em quatro partes (“Suplício”, “Punição”, “Disciplina” e
“Prisão”), em que o autor apresenta, por exemplo, a mudança ao
longo dos anos nas técnicas “corretivas”, o conceito de “delinquente”
e argumentos contrários à ideia de que o sistema prisional é uma
forma humanista de punição.
FONTE: FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. São
Paulo: Vozes, 2013.

A virtualização da vida nos priva do toque, do encontro e do olhar do outro,


nos lançando ao mero viver.

O eros, enquanto excesso e transgressão, nega tanto o


trabalho quanto o mero viver. Por isso, o escravo, que se apega
ao mero viver e trabalho, não é capaz de experiência erótica,
de cupidez erótica. O sujeito do desempenho de hoje equipara-
se ao escravo hegeliano até o ponto em que ele já não trabalha
para o senhor, mas se explora a si mesmo voluntariamente.

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Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

Enquanto empreendedor de si mesmo é, ao mesmo tempo,


senhor e escravo (HAN, 2017, p. 55).

A vida digital elimina o eros e exalta o exibicionismo, transparência em


imagens midiáticas que nos bombardeiam em um fluxo contínuo.

Obscena é a transparência que nada encobre, nada esconde,


colocando tudo à vista. Atualmente as imagens midiáticas
são mais ou menos pornográficas. Em virtudes de suas
características de chamar a atenção, falta-lhes puctum,
intensidade semiótica. Elas nada têm que pudesse tocar ou
ferir; no máximo, apresentam o objeto que diz me agrada - I
like. (...) obscenas são a hiperatividade, a hiperprodução e a
hipercomunicação, que se lançam velozmente para além da
meta. Obscena é essa hiperaceleração, que já não é realmente
movente e tampouco nada leva adiante. Em excesso, lança-se
para além de seu para onde. Obsceno é esse puro movimento
que se acelera por causa de si mesmo (HAN, 2017, p. 64-70).

Enfim, tudo se torna consumo e espetacularização sem sentido ou significado.


O pensamento é substituído pelo cálculo. O outro, a diferença, a negatividade são
excluídos na sociedade do desempenho e aceleração contemporâneos. Somente
o conhecimento pode transformar, a informação não tem essa capacidade, não
possui narratividade, realizando a passagem de uma sociedade do dever para o
poder.

O sujeito do desempenho pós-moderno possui uma psique


bem diferente do sujeito obediente, abordado pela psicanalise
de Freud. O aparato psíquico de Freud é dominado pelo
medo e pela angústia frente à transgressão. Desse modo, o
eu se transforma num local de medo e angustia. Mas isso já
não se aplica ao sujeito de desempenho pós-modernidade.
Esse é um sujeito de afirmação. Se o inconsciente estivesse
necessariamente ligado com a negatividade da negação e da
repressão, o sujeito de desempenho neoliberal já não teria
inconsciente. Seria um eu pós-freudiano. O inconsciente
freudiano não é uma configuração atemporal. É um produto
da sociedade disciplinar repressiva, da qual nós estamos nos
afastando cada vez mais (HAN, 2017, p. 80).

A Revolução 4.0 pode ser caracterizada pela vida digital que perpassa
contemporaneamente as relações sociais, desde o trabalho à vida privada,
instituiu-se a transparência, o consumo e a explicitação. O desvelamento sofre
hoje pelo excesso de positividade que nos dá a falsa ilusão de liberdade. Coação
e liberdade se tornam sinônimos, resultando o colapso psíquico do ser humano.

68
Capítulo 2 GESTÃO DO CONHECIMENTO E REVOLUÇÃO 4.0

2.1 PROPOSTAS
INTERDISCIPLINARES EM UMA
SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
A escola tradicional e a educação moderna como um todo, estão prestes
a desaparecer, a serem substituídas, a cederem lugar a outras práticas
pedagógicas. Há alguns anos os educadores e outras pessoas ligadas à educação
vêm repensando o papel da escola na sociedade.

A afirmativa anterior seria um desdobramento radical de alguns propensos


‘reformadores’. No entanto, seria possível colocar uma “outra” escola no lugar da
escola tradicional? A escola e, mais fortemente a educação, podem ser realizadas
de maneira diferente daquela tradicional que nós, na maioria, vivenciamos?
Haveria outros modos de fazer educação? A estrutura educacional na qual a
escola se insere e sustenta, poderia ser modificada? Seria a escola tradicional
improdutiva? Que outras práticas educacionais existem ou podem existir?

No seio destas dúvidas este livro foi construído, representando a possibilidade


de levar aos seus leitores, alunos e estudiosos da educação uma obra que vai
além da reflexão, construindo uma possibilidade de alternativas de elaboração
e organização de práticas educacionais que vão ao encontro do que está já
estabelecido. As perguntas feitas nesta breve introdução serão tangenciadas ao
longo deste livro e ao invés de respondê-las prontamente, propomos ainda outra
problematização, que esperamos que fique com o leitor ao longo deste estudo:
na necessidade de construirmos outra prática pedagógica devemos implodir o
sistema atual da educação e recomeçarmos do “zero”, ou é possível adequarmos
alguns elementos e realizarmos uma prática diferenciada? A escola ainda é
necessária? Se sim, de que modo ela deve ser fomentada?

Não resta a menor dúvida de que o paradigma mecanicista trouxe avanços


científicos e tecnológicos jamais vistos na história das civilizações. Surgiu num
momento em que era necessário romper com dogmatismos e democratizar o
conhecimento. Contudo, de alguma forma, a ciência e o racionalismo quase se
transformaram numa religião e, como todo radicalismo é doente, o paradigma
mecanicista trouxe também algumas consequências drásticas para a humanidade
(OLBRZYMEK, 2001).

A ciência investe exorbitâncias em armamentos, enquanto uma grande parte


da humanidade vive sem atendimento às necessidades básicas de sobrevivência,
expressa na ineficiência das políticas públicas de saneamento básico, saúde e
educação adequada, falta de condições de moradia e ausência de respeito à

69
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

condição humana. O comprometimento ambiental, causado pelo lixo atômico


e industrial, pelo vazamento de reatores nucleares, pelo uso de agrotóxicos e
pesticidas, pela destruição de florestas etc., degenera em grandes proporções
o ar, a água e os alimentos, atingindo a espécie humana com altos índices de
doenças nutricionais e infecciosas crônicas, cânceres, doenças genéticas e
degenerativas. É o próprio homem destruindo o sistema ecológico do qual
depende e, consequentemente, destruindo a si mesmo e à própria espécie
(OLBRZYMEK, 2001).

É preciso que o humano seja resgatado, em nível planetário e, nesse


momento, faz sentido recorrer a um pequeno trecho da música Cada Irmão, de
Oswaldo Montenegro, que diz:

Cada irmão, todo irmão de cada credo e cor despertai!


Se cada irmão, se todo irmão sem preconceito de credo e cor despertar
Ganhar clareza e força dos elementos,
da força da chuva, do vento e do sol
Diz o ditado, pior cego é aquele que não quer ver a um palmo esse farol...

A industrialização e a tecnologia robotizaram o humano e a valorização


exacerbada de bens materiais levou a uma competitividade sem limites e à idolatria
do ter. As pessoas possuem bens materiais, mas não têm qualidade de vida. A luta
pela sobrevivência diante dos problemas sociais e econômicos caracterizados
pelo desemprego, inflação, má distribuição de renda e esgotamento dos recursos
energéticos naturais, produz consequências, como a violência, o suicídio, o
alcoolismo, as drogas, o desamor e a desunião. As pessoas não se olham mais,
nem para si nem para o outro que convive a seu lado, vivem correndo contra o
relógio, justificando a correria com a crença de que tempo é dinheiro.

Um relance pelas agendas políticas de diferentes países


revela-nos que os problemas mais absorventes são, como
nunca, problemas de natureza econômica. Contudo em
aparente contradição com isso, a teoria e a análise sociológica
dos últimos dez anos têm vindo a desvalorizar o econômico em
detrimento do político, do cultural e do simbólico. Têm vindo a
desvalorizar os modos de produção em detrimento dos modos
de vida (BOAVENTURA, 1997, p. 20 apud OLBRZYMEK,
2001, p. 62).

Além da ciência como instrumento de controle da natureza, o paradigma


mecanicista fragmentou o pensamento humano, supervalorizou o trabalho mental
em detrimento do manual, enfatizou a especialização e o especialismo, produziu
um mundo de certezas e previsibilidades e valorizou o conhecimento utilitário e
funcional. Enfim, produzimos tecnologia tão sofisticada que agora somos movidos

70
Capítulo 2 GESTÃO DO CONHECIMENTO E REVOLUÇÃO 4.0

pelo medo e a impotência de lidar com tudo isso (OLBRZYMEK, 2001).

Na educação e também nas sociedades, embora alguns teóricos e


pensadores já tenham acenado para concepções de mundo, ser humano e
conhecimentos mais dinâmicos, o que vivenciamos na prática tem origens e
permanece de acordo com o pensamento mecanicista - o retalhamento do ser, do
saber e do fazer humanos (OLBRZYMEK, 2001).

A escola reproduziu e ajuda a manter as estruturas dessa sociedade caótica.


No sentido teórico, através da pedagogia tradicional, que valoriza as aptidões
inatas e defende a transmissão e a assimilação do conhecimento acumulado
pela humanidade; ou pela pedagogia humanista, que valoriza o homem no
seu aspecto “integral” e o conhecimento das coisas tal como são na natureza;
ou ainda através de tendências pedagógicas como a tecnicista, que entende o
homem como uma tábula rasa, na qual o comportamento pode ser instalado,
e o conhecimento é visto como instrução programada com objetivo funcional e
utilitário; ou como a interacionista, que privilegia o aspecto cognitivo do indivíduo
e defende a construção do conhecimento pela sua interação com o objeto de
conhecimento, de acordo com a maturação biológica; seja ainda por tendências
sociointeracionistas, que vêm o homem numa dimensão mais dinâmica e, tal
como o conhecimento, construído de forma histórica e social (OLBRZYMEK,
2001).

O que observamos na prática educacional cotidiana é permeado pelos


seguintes aspectos:

Compartimentalização do conhecimento: através da fragmentação das


disciplinas acadêmicas que separam o ser humano em cabeça, tronco e membros;
ensinam a história como fatos isolados vivenciados e construídos apenas por
grandes homens, sem interferência na vida do indivíduo; além disso, privilegiam
as ciências exatas, como a matemática, a física e a química em detrimento das
humanas.

Geração de comportamentos preestabelecidos: que ensinam a não


questionar e não expressar pensamentos próprios, levando à passividade,
incentivando a competição e a reprodução. Também classificam através de uma
avaliação seletiva que premia os “acertos” e pune os “erros”, vinculando-se mais
à geração de comportamentos do que à construção do conhecimento.

Metodologia obsoleta: com aulas expositivas, exercícios de repetição,


decoreba, - o aluno ouve, repete várias vezes e vomita tudo na avaliação,
conteúdo e produto são mais valorizados do que o processo de construção do
conhecimento. A educação é vista como transmissão e assimilação de ideias

71
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

prontas e acabadas, é uma educação bancária e domesticadora. O professor


detém o saber, a autoridade, dirige o processo e representa o modelo a ser
seguido.

Ênfase à racionalidade: estimulando pouco a criatividade, a comunicação


espontânea, bem como a exploração corporal. Aliás, parece que a escola está
“preparada” só para receber a cabeça do aluno, o corpo deve ficar do portão para
fora. Os próprios espaços reduzidos e a sua distribuição levam à imobilidade,
priorizando o aspecto cognitivo. É preciso unir o saber que vem da cabeça com a
sabedoria que vem do mais profundo do nosso corpo.

O que se observa na realidade escolar é o desencantamento do educador,


que continua a reproduzir uma prática que não traz prazer nem a ele, nem ao
educando. Entretanto, como falar de prazer para esse educador, geralmente
fruto de uma formação deficiente, que o levou à reprodução de uma política
educacional que emperra iniciativas, favorece o corporativismo e colabora para a
baixa da autoestima, marginalizando econômica, cultural e socialmente a pessoa
do educador?

Não dá mais para silenciar o fato de que, também em


instituições educativas, há tanta gente encalhada no mero
negativismo que esse até parece ter virado um pretexto frívolo
para a omissão e a estagnação na mediocridade corporativista.
Está na hora de fazermos, sem ingenuidades políticas, um
esforço para reencantar deveras a educação, porque nisso
está em jogo a autovalorização pessoal do professorado, a
autoestima de cada pessoa envolvida, além do fato de que a
privação da educação representa, sem dúvida, na sociedade
do conhecimento na qual já entramos, uma verdadeira causa
mortis (ASSMANN, 1996, p. 19 apud OLBRZYMEK, 2001, p.
64).

A educação hoje acontece de forma muito mais interessante fora da


escola, através dos meios de comunicação e das necessidades reais da vida,
do que dentro da escola, a qual continua a reproduzir modelos antiquados que
se propõem a instruir e adestrar. Enquanto se cumpre tarefas mecanicamente
e segue-se regras sem questionar, atrofia-se a capacidade de pensar, refletir,
comparar, sintetizar e emitir opiniões. Precisamos descortinar o potencial
humano, a tecnologia nos permite alçar voos inimagináveis, mas é preciso
colocá-la a serviço do ser humano com o objetivo de tornar sua existência plena
de prazer e satisfação. A questão é que nem mesmo o aspecto instrucional a está
conseguindo atingir (OLBRZYMEK, 2001). O caso está instalado! Onde buscar
respostas? Que ações devemos desencadear para reverter esse panorama?
Começar pela formação dos educadores, reencantando a função pedagógica?
Que caminhos seguir? A questão é de cunho pessoal, social, político, cultural,
econômico e alcança dimensões planetárias.

72
Capítulo 2 GESTÃO DO CONHECIMENTO E REVOLUÇÃO 4.0

Alunos relatam um
É importante, no entanto, salientarmos que já existem iniciativas distanciamento
que buscam articular a fundamentação teórica com a prática, através entre a escola e
de propostas pedagógicas que visam despertar a totalidade do ser, do seus modos de
saber e do sabor do fazer humanos. Embora essas iniciativas estejam viver. A escola, para
acontecendo de forma isolada e quase anônima, elas nos revestem estes, não possui
nenhum interesse,
de muita esperança. Esperança de um novo tempo para a caminhada
e disso decorre um
(OLBRZYMEK, 2001). grande afastamento
e desistências de
Sem dúvida vivemos hoje uma crise educacional. Alunos alunos das escolas.
relatam um distanciamento entre a escola e seus modos de viver. A Tal fato não será
escola, para estes, não possui nenhum interesse, e disso decorre alterado por nenhum
plano político
um grande afastamento e desistências de alunos das escolas. Tal
assistencialista, pois
fato não será alterado por nenhum plano político assistencialista, este distanciamento
pois este distanciamento se refere ao choque de culturas e à falta de se refere ao choque
atualização da estrutura escolar moderna. De outro lado, professores de culturas e à falta
descrevem estruturas escolares decadentes, planos de salário de atualização da
injustos, alunos que não respeitam nem os “mestres” e tampouco a estrutura escolar
moderna. De outro
organização escolar como um todo.
lado, professores
descrevem
Currículo: o que podemos entender por ele? Mesmo que já estruturas escolares
tenha se discutido as noções básicas e as definições de currículo, decadentes,
retomaremos brevemente sua noção central para articularmos nele planos de salário
o conceito de interdisciplinaridade, a fim de que possamos explorar injustos, alunos
que não respeitam
melhor alguns usos e atribuições de um currículo interdisciplinar.
nem os “mestres”
e tampouco a
organização escolar
como um todo.

É comum nas apresentações e introduções de livros, coletâneas


e artigos que versam sobre currículo, encontrarmos assertivas
na direção de justificar o interesse pelo assunto, e isso das mais
variadas formas. Alguns dizem que esse interesse decorre da
preocupação de professores, estudantes, familiares e governantes
em compreender os processos de formação de sujeitos que serão
os futuros cidadãos de nossas sociedades, merecendo destaque
o fato de que esses interesses ocorrem com distintas ênfases de
acordo com os propósitos de cada indivíduo ou grupo social. Outros
ainda afirmam que “o currículo constitui hoje alvo privilegiado da

73
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

atenção de autoridades, políticos, professores e especialistas”,


privilégio esse atestado “pelas constantes reformulações dos
currículos dos diversos graus de ensino, bem como pela produção
teórica do campo” (MOREIRA, 1997, p. 7). Entretanto, há aqueles
que mesmo entendendo que o currículo esteja “no centro mesmo da
atividade educacional”, afirmam que o currículo é “o primo pobre da
teorização educacional”, visto que o currículo só é lembrado quando
da intenção de incrementá-lo com alguma disciplina nova, sendo
que na maioria do tempo “o currículo é tomado como algo dado e
indiscutível, raramente sendo alvo de problematização, mesmo em
círculos educacionais profissionais” (SILVA, 1995, p. 184). Boa parte
das discussões sobre currículo recorrem, comumente, a explicações
e definições oriundas ora de dicionários ora de manuais de currículo.
Se não nos ativermos a tais definições, podemos problematizar, de
início, a etimologia do termo. Currículo vem do latim curriculum, que
quer dizer ‘pista de corrida’, ou conforme Silva (1999), uma pista na
qual ao percorrermos nos tornamos aquilo que somos.

Para bem compreender a noção de currículo pense em “pistas


de corrida”. Talvez elas sejam boas pistas para entendermos
currículos. É possível dizer que há, em pistas de corrida, uma
delimitação de espaço que resolve por onde aquele que a percorre
deve percorrer, ou seja, há limites, delimitações, seleção de trechos a
serem percorridos. Não se pode, em pistas, sair fazendo o trecho que
se quer, “cortando” o trecho por onde se deveria passar - sem que
isso, se feito, tenha duras penas. Portanto, seleção e delimitação de
trechos a serem percorridos. Numa pista, também, se chega a algum
lugar - ou se pretende chegar! Uma pista te conduz a algum lugar.
Uma pista tem início e fim - ou ainda, o fim não está necessariamente
num final mesmo da pista, mas antes, naquilo que se denomina fim,
e que se denomina por muitos motivos, arbitrários. Por fim, numa
pista, temos aquele que a percorre. A pista é feita para que alguém a
percorra. Alguém que inicia o trajeto delimitado da pista na intenção
de chegar a algum lugar. Um lugar que tanto é um outro lugar, mas
que também é um outro lugar para o sujeito que a percorreu, um
outro lugar de sujeito, uma outra posição para o sujeito, uma outra
posição de sujeito.

FONTE: MANSKE, G. S. Um currículo para a produção de


lideranças juvenis na Associação Cristã de Moços de Porto
Alegre. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006.

74
Capítulo 2 GESTÃO DO CONHECIMENTO E REVOLUÇÃO 4.0

Uma pista, a partir dos argumentos anteriormente citados, é uma seleção


que determina por onde e como ela deve ser percorrida pelo sujeito que a
percorre; é uma forma de organização que busca um fim, que tem uma finalidade;
é uma sistematização que necessita de alguém que a percorra. No entanto, é
preciso estar atento para o fato de que uma pista não é algo transcendente, que
esteja já e desde sempre pronta e à espera de alguém que a percorra. Uma
pista é construída. Uma pista tanto seleciona trechos como é o resultado de uma
seleção de trechos. Uma pista tanto busca um fim quanto há um fim estipulado e
elaborado que produz uma pista para que nele se chegue. Enfim, se pensarmos
num currículo como pista, temos que compreender que um currículo não apenas
seleciona, mas é o resultado de uma seleção. Um currículo tanto tem um fim
quanto há uma finalidade que constrói um currículo.

No que tange a um currículo interdisciplinar, poderíamos fazer estes


mesmos questionamentos. Que conteúdos são pertinentes de serem ensinados?
Deveríamos nos manter em conteúdos tradicionais das diferentes disciplinas ou
poderíamos compor conteúdos transversais a elas, tais como sustentabilidade
social, meio ambiente, culturas de paz, respeito às diferenças, entre outros? Não
poderíamos na seleção de conteúdos privilegiar a condição humana e a partir
dela construir competências humanas desde os conteúdos disciplinares, ou
seja, utilizamos os conteúdos disciplinares tradicionais juntos e articulados como
ferramentas de ensino de uma nova condição humana? Sobre a finalidade do
currículo interdisciplinar, principalmente quanto ao tipo de sujeito a ser formado
e para que tipo de sociedade, as questões que devem nortear sua elaboração,
assim como de suas práticas pedagógicas, devem incorporar as reflexões sobre
nossa atual sociedade e os problemas que ela enfrenta (ou nós enfrentamos),
construída a partir de uma leitura coletiva com os alunos, professores e
coordenadores/diretores no interior do espaço escolar, a fim que as ações sejam
feitas com o intuito de contribuir para a transformação social. De modo semelhante
- e partilhado - o tipo de sujeito que se almeja formar deve incorporar os valores
que percebemos como necessários a uma sociedade mais justa e humanitária.
Assim, questões como: que cultura de práticas gostaríamos de fomentar em
nossos alunos e professores? Que valores são necessários a eles? Afinal, que
Ser Humano queremos formar?

Todas estas reflexões e questões são o início da elaboração do trabalho


interdisciplinar. Não podemos cair aqui na armadilha de tentar descrever ‘receitas
de bolo’ para a educação, mas, sim, o que devemos fazer, é propor reflexões
que orientem ações pedagógicas, sejam elas de construção ou execução
interdisciplinar, pois se fizéssemos receitas prontas, certamente não estaríamos
fazendo propostas interdisciplinares.

A interdisciplinaridade possui elementos da totalidade, mas é, acima de tudo,

75
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

um evento de construção local, comunitária, regional, que atende às necessidades


locais sem perder de vista as exigências globais. É aqui que se insere, talvez, o
cerne da proposição interdisciplinar: tanto a seleção de conteúdos como os tipos
e os modelos de sujeito e sociedade são incompletos se os modos como são
realizadas estas práticas não respeitam o coletivo, a democracia, a diferença, o
debate, a reflexão e os diálogos entre sujeitos, áreas de conhecimento e saberes.
Esta miríade entre diferentes peças é que compõe o quadro que orienta as
práticas pedagógicas interdisciplinares.

Inexiste nas escolas, sejam públicas ou particulares, um trabalho coletivo que


nos coloque diante de uma proposta educacional séria. Cabe analisar quais os
obstáculos que impedem ou dificultam o desenvolvimento de uma educação com
qualidade. Para não radicalizar, poderíamos afirmar que nas escolas particulares
existe um trabalho coletivo que busca atingir as metas de tais instituições. No
entanto, na maioria das vezes, nos deparamos com o ensino que tem como
principal objetivo inserir o educando no mercado de trabalho, com um ensino
puramente tecnicista, e os educadores que permanecem nestas instituições não
podem ir contra tais ideias nestes estabelecimentos de ensino. Se tentarmos
definir o conceito de trabalho coletivo, teremos que desmembrar este conceito em
dois outros conceitos: trabalho e coletividade.

Por trabalho entende-se um esforço de criação, de um fazer não repetitivo,


não é um simples labor. Por coletividade, compreende-se a ideia de grupalidade,
ou melhor, o envolvimento de vários indivíduos que compõem o grupo, sejam
eles, diretores, coordenadores, professores, funcionários, alunos e a comunidade
em geral. As pessoas que compõem esta grupalidade terão como missão articular
e se auto-organizar, buscando democratizar o ensino e construir, desta forma,
um novo conhecimento, através de um esforço intelectual irrepetível. Este
trabalho que a coletividade irá empreender possuirá um início e um fim, um alfa
e um ômega? Não necessariamente. O trabalho coletivo não pode ser uma mera
reprodução serial, estando sempre aberto ao novo.

Para que o trabalho coletivo seja bem direcionado, conceitos, como


educador, professor, aluno, escola, sociedade, objetivos, conteúdos, métodos
de ensino e avaliação devem fazer parte de um contínuo processo de reflexão.
O ecletismo deve fazer parte da vida escolar. A importância do trabalho coletivo
se dá através do fortalecimento da cidadania, democracia e da sociedade civil
em geral. O trabalho coletivo deve estar em consonância com o planejamento
da instituição escolar e que deve ser constantemente analisado, refletido e
criticado, em um constante processo de crítica e autocrítica. Os principais
obstáculos que impedem o bom desenvolvimento do trabalho coletivo são:
individualismo radical, pensamento escolar fragmentado, ou melhor, a ausência
do trabalho interdisciplinar leva o profissional escolar a ter uma prática tecnicista

76
Capítulo 2 GESTÃO DO CONHECIMENTO E REVOLUÇÃO 4.0

ou fragmentária na instituição escolar, inexiste coerência entre os órgãos


educacionais, falta de comprometimento dos profissionais da educação, com alta
rotatividade dos funcionários e professores, inexiste espaços para o diálogo sobre
a prática e a reflexão escolar, profissionais mal remunerados, professores mal
formados, com uma cultura de verniz, superficial, sem nenhum conteúdo. Diante
de tais obstáculos, como coordenar o trabalho coletivo escolar?

Os saberes produzidos pelos veículos de comunicação em massa, como


rádio, televisão, cinema e blogues podem servir para desmistificar as diversas
ideologias que permeiam em nossa sociedade, e são estes os instrumentos que a
maioria das pessoas utiliza como meio de informação. Para isso, eles precisam ser
utilizados mesmo que seja para desconstruí-los, explorando temas transversais,
como ética, pluralidade cultural, meio ambiente, saúde, sexualidade, mesmo que
de forma mais abrangente e superficial. Existem diversos gêneros considerados
não escolares, são eles: propaganda, texto informativo de revista, narrativa,
notícia de jornal, texto de blogues ou site, televisão e rádio. O trabalho com a
propaganda geralmente remete a uma atitude passiva do discente e a mensagem
que sempre vem acompanhada reforça esta ideia. Assim, poderia ser apresentada
revertendo o processo e estimulando a discussão, o debate, a reflexão e a
interpretação frente à propaganda, gerando produções textuais, transformando-
se em elementos poderosos na construção de uma nova sociedade.

Outra atividade é a análise de cartas de opinião ou notícias, sejam de


jornais ou revistas, explorando o cotidiano das pessoas. O site ou blogue pode
também ser uma excelente ferramenta de trabalho, para desmistificar e acabar
com os vários preconceitos arraigados em nosso cotidiano, acabando com o
descompasso que existe entre os diversos livros didáticos escolares e a vivência
do corpo discente.

O advento da era da flexibilização do trabalho exige que


os trabalhadores sejam alfabetizados, mas também que seja
desenvolvido outro tipo de educação para os jovens, diferente do
tradicional/mecanicista.

77
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

Por fim, vale refletir sobre a maneira em que lidamos com a educação,
procurando ter uma visão sociológica, não apenas entendê-la com bases
intelectuais, mas também procurando compreender e atuar em seu seio.

Para Durkheim (apud NOÉ, 2000), a educação denota uma pedagogia que se
baseia na visão do homem e da sociedade. O “postulado” educacional tem como
base a família, a comunidade, a igreja e a escola. Segundo Durkheim (apud NOÉ,
2000), o homem é egoísta e necessita ser preparado para o convívio social. Essa
preparação é realizada em primeira instância pela família, depois pela escola e,
finalmente, pela universidade.

A ação exercida pelas gerações adultas sobre as que ainda


não estão maduras para a vida social, tem por objetivo suscitar
e desenvolver na criança determinados números de estados
físicos, intelectuais e morais que dele reclamam, por um lado,
a sociedade política em seu conjunto e, por outro, o meio
especifico ao qual está destinado (DURKHEIM, 1973, p. 44).

Para Durkheim (1973), nossa sociedade é a sociedade dos fatos sociais,


assim, a educação é considerada um fato social, pois se impõe coercitivamente
apoiando-se como norma jurídica e lei. Durkheim entende os fatos sociais como
coisas, que são caracterizadas pelo modo de pensar de um agir de um grupo
social, que pode se alternar de sociedade para sociedade, e pode transformar-se
com o tempo; ele afirma que a educação adota essas mesmas características,
pois são independentes das vontades individuais, são valores, normas criadas em
determinados momentos da história, que tem como característica a generalidade.

A criança só pode conhecer o dever através de seus pais e


mestres. É preciso que estes sejam para ela a encarnação
e a personificação do dever. Isto é, que a autoridade moral
seja a qualidade fundamental do educador. A autoridade não
violenta, consiste em certa ascendência moral. Liberdade e
autoridade não são termos excludentes, eles se implicam. A
liberdade é filha da autoridade bem compreendida. Pois ser
livre não consiste em fazer aquilo que se tem vontade, e em ser
dono de si próprio, em saber agir segundo a razão e cumprir
com o dever. E justamente a autoridade de mestre deve ser
empregada em dotar a criança desse domínio sobre si mesma
(DURKHEIM, 1973, p. 47).

Dos ensinamentos de Parsons (1964), entende-se a educação como um


mecanismo básico de formação dos sistemas sociais e da sua continuidade. Ainda
destaca que sem a sociabilização, um sistema social é ineficaz. Nessa concepção,
o autor mostra que o equilíbrio entre os limites é fundamental para a sustentação
dos sistemas sociais. Dessa forma, é necessário que os indivíduos assimilem
e internalizem os valores e as normas que delineiam seu funcionamento. Para
Durkheim (1973) é destacado o aspecto coercitivo da sociedade. Já Parsons (1964)

78
Capítulo 2 GESTÃO DO CONHECIMENTO E REVOLUÇÃO 4.0

afirma que tanto o sistema social quanto o de personalidade são caracterizados


por necessidades básicas que podem ser resolvidas de forma complementar.

Na visão de Parsons (1964), o sistema social interage de forma harmônica


com o sistema de personalidade. O indivíduo, quando criança, aceita as normas
e as regras da sociedade ou grupo social, em troca do amor dos pais, assim
traçando um equilíbrio entre o sistema social e de personalidade.

Tanto para Durkheim quanto para Parsons, os princípios básicos que


fundamentam e regem o sistema social são: continuidade, conservação, ordem,
harmonia e equilíbrio. Ele ainda acrescenta que esses princípios regem o sistema
social e os subsistemas. Finalizando, percebemos ainda que, Durkheim e Parsons
veem a educação não como um elemento para a mudança social, e sim como
um elemento fundamental para “conservação” e funcionamento do sistema social
(NOÉ, 2000).

2.2 ÉTICA E DESENGAJAMENTO


MORAL NO AMBIENTE VIRTUAL DE
APRENDIZAGEM
A revolução digital ou 4.0 nos trouxe o debate em torno dos conceitos de
desengajamento moral e princípios éticos que envolvem o comportamento
humano, quando inserido em uma sociedade em rede. Falar em desengajamento
moral pressupõe a desvinculação dos indivíduos de qualquer forma de moralidade
e, ainda, a capacidade que possuem em criar justificativas morais para suas
atitudes imorais, transgressoras e antissociais, retirando de si qualquer forma de
responsabilidade sobre suas ações, culpa ou desconforto psíquico.

[...] processos sociocognitivos pelos quais uma pessoa normal


pode julgar o outro e afastar-se de uma outra ação moral. Esses
desengajamentos servem como uma espécie de desinibidor
por meio do qual o sujeito sente-se liberto da autocensura e da
culpa por agir mal (BANDURA, 2015, p. 251).

A revolução digital criou o ambiente propício para a desinibição, A revolução digital


libertando o indivíduo de sua responsabilidade individual. A atitude criou o ambiente
propício para
desengajada moralmente sempre existiu. Todavia, as sociedades em
a desinibição,
rede democratizaram e criaram as condições necessárias para a sua libertando o
proliferação. indivíduo de sua
responsabilidade
O termo desengajamento moral foi utilizado individual.
primeiramente por Bandura na década de 1970,

79
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

mas o conceito não é novo em si e remete a uma longa tradição


de estudos, já que se trata de uma característica animal e
humana explorada desde muito tanto na ciência quanto na
literatura (BANDURA, 2008, p. 166).

O fundamento teórico para se entender o desengajamento moral está na


teoria social cognitiva. Logo, compreende-se que o indivíduo é responsável pelo
seu próprio desenvolvimento, adaptação ou mudança.

O ser humano não é mero fruto do seu ambiente, embora receba


dele influências significativas. Entretanto, pode assumir mais o
controle de sua vida por meio de mecanismos de autoeficácia,
do estabelecimento de metas e da autorregulação. O ambiente
sempre representa limitações, desafios e obstáculos, mas
um robusto senso de autoeficácia significa a diferença para
a consecução dos objetivos. [...] não é a gravidade objetiva
da situação que causará efeitos deletérios, mas o pareamento
que a pessoa faz entre o peso da dificuldade de origem externa
e sua capacidade de enfrentamento. A ênfase, portanto, está
no papel da agência pessoal ou autorregulação (BANDURA,
2008, p. 12).

Por isso, o ser humano é capaz de construir e influenciar seu desenvolvimento


social, possuindo características, como intencionalidade e antecipação temporal,
criando projetos autorregulados com objetivos definidos, buscando resultados
que possam ser possíveis de serem atingidos, não havendo autocensura, sempre
com a expectativa de eficácia e resultado: “os futuros imaginados servem como
guias e motivadores atuais do comportamento” (BANDURA, 2008, p. 15):

Essas crenças de competência pessoal proporcionam a base


para a motivação humana, o bem-estar e as realizações
pessoais. Isso porque, a menos que acreditem que suas ações
possam produzir os resultados que desejam, as pessoas terão
pouco incentivo para agir ou perseverar frente a dificuldades
(BANDURA, 2008, p. 101).

Diante da eficácia e da busca pelo resultado, a agência moral apresenta-


se ambígua: seja na capacidade que o indivíduo possui em se abster de um
comportamento desumano ou quando age de forma proativa.

Para Bandura (2015, p. 20), “o raciocínio moral é traduzido em ações através


dos mecanismos autorregulatórios enraizados em padrões morais e autossanções
por meio das quais a agência moral é exercida”. É importante ressaltar que o
desengajamento moral está presente em nível individual e coletivo e que pode
possuir oito diferentes tipos:

• A justificação moral: “a conduta prejudicial é transformada em pessoal


e moralmente aceitável ao retratá-la como sendo socialmente válida ou

80
Capítulo 2 GESTÃO DO CONHECIMENTO E REVOLUÇÃO 4.0

com propósitos morais” (BANDURA, 2015, p. 23), ou melhor, a ação


desumana é justificada por um bem maior: “isso possibilita as pessoas
de preservarem um senso de autovalor enquanto causam danos
pelas suas atividades” (BANDURA, 2015, p. 73). Isso se dá para que
a sociedade como um todo não realize cobranças ou condene suas
atitudes. Por isso, muitas ações humanas foram realizadas por pessoas
“comuns e decentes em nome de ideologias justas, princípios religiosos
e imperativos nacionalistas. Os atos violentos, quando vistos de
perspectivas divergentes, são coisas diferentes para diferentes pessoas”
(BANDURA, 2015, p. 24).

• Linguagem eufemística: “opera quando há um mascaramento de


atividades repreensivas na forma como são nomeadas, para diminuir
a gravidade da ação ou conferir-lhe um status mais respeitável”
(BANDURA, 2008, p. 169-170). Logo, o eufemismo é a forma como
o agente busca suavizar suas ações humanas, evitando que seja
repreendido, ou melhor, limpando, saneando, tornando-a limpa, o largo
uso de jargões que se busca para ficar livre de qualquer reprimenda por
parte da sociedade: “para tornar a conduta danosa em respeitável e para
reduzir a responsabilidade pessoal por ela” (BANDURA, 2015, p. 25).

• Comparação vantajosa: “opera quando condutas prejudiciais parecem


ter uma pequena consequência se comparadas com atividades mais
repreensíveis do que elas” (BANDURA, 2008, p. 170). A intenção é
tornar a ação menos prejudicial frente aos supostos benefícios que ela
possa ter: “quanto mais evidente a desumanidade contrastada, maior a
probabilidade que a conduta destrutiva de alguém pareça benevolente”
(BANDURA, 2015, p. 27).

• Deslocamento de responsabilidade: este dispositivo ocorre quando


o indivíduo não se vê como agente de uma ação prejudicial, então “as
pessoas irão se comportar de maneira que elas normalmente repudiariam
se uma autoridade legítima aceitar a responsabilidade pelos efeitos
das suas condutas. Por não serem o real agente de suas ações, elas
[as pessoas] se poupam de reações autocondenatórias” (BANDURA,
2015, p. 29). Por isso, muitas vezes, a autoridade institucional de forma
furtiva autoriza práticas prejudiciais aos seres humanos, aumentando
consideravelmente os níveis de agressão, realizando tal feito
indiretamente.

Nos esquemas prejudiciais, as autoridades agem de forma que


fiquem intencionalmente desinformadas [...]. Perguntas óbvias
que revelariam informações incriminadoras permanecem
não perguntadas, de forma que os oficiais não descobrem

81
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

o que eles não querem saber. Acordos implícitos, arranjos


sociais com intuito de proteger e autorização por vias indiretas
são formas usadas para deixar os altos escalões imunes
(BANDURA, 2015, p. 31).

Isso ocorre porque o indivíduo está preso consideravelmente a alguma forma


de fé ideológica e precisará de um forte senso ético para que seu comportamento
seja humano. É criada uma cultura em que o servidor não pode se sentir
culpado por suas ações prejudiciais, pois estão apenas obedecendo a ordens ou
realizando seu trabalho, por exemplo. A responsabilidade se deslocaria para a
instituição, retirando qualquer forma de responsabilidade individual.

É importante, entretanto distinguir entre dois níveis de


responsabilidade: o dever para com seus superiores e a
responsabilidade pelos efeitos de suas ações. Os melhores
servidores são aqueles que honram suas obrigações para com
as autoridades, mas não sentem responsabilidade pessoal
pelos danos que causam. Eles trabalham obedientemente para
serem bons em sua tarefa de causar o mal. Os subordinados
que não têm responsabilidade, sem estarem envoltos por
um senso de dever, não seriam confiáveis para exercer suas
tarefas quando as autoridades não estivessem por perto
(BANDURA, 2015, p. 32).

• Difusão da responsabilidade: este dispositivo busca difundir e justificar


que a responsabilidade não pode ser imputada, uma vez que se todos
são responsáveis, ninguém pode ser responsabilizado por ações
prejudiciais: “se subdividida, a ação perde seu caráter nocivo, que só é
mais claro em sua totalidade, e assim as pessoas podem se comportar
de maneira muito mais cruel do que quando são individualmente
responsáveis” (BANDURA, 2008, p. 170).

Muitas empreitadas requerem o serviço de muitas pessoas,


cada uma realizando um trabalho fragmentado que parece, por
si, inofensivo. Depois que as atividades se tornam rotineiras
em subfunções separadas, as pessoas transferem a sua
atenção da moralidade do que estão fazendo para os detalhes
operacionais e para a eficiência de seu trabalho específico
(BANDURA, 2015, p. 33).

Este comportamento é sempre decidido em grupo, enfraquecendo a


moral e possibilitando atitudes desumanas e irresponsáveis, uma vez que a
responsabilidade se torna de todos e difusa: “as pessoas agem mais cruelmente
sob a responsabilidade do grupo do que quando elas se julgam pessoalmente
responsáveis por suas ações” (BANDURA, 2015, p. 33). Isso se dá sempre
ideologicamente orientados: “essas práticas socioestruturais criam condições
condutoras ao desengajamento moral. A conduta humana pode ser distinguida em
termos se ela cai no reino do costume social ou no da moralidade” (BANDURA,

82
Capítulo 2 GESTÃO DO CONHECIMENTO E REVOLUÇÃO 4.0

2015, p. 65).

• Distorção ou desprezo das consequências: neste comportamento


o indivíduo ignora as consequências de suas ações: enquanto
os resultados danosos da conduta de alguém forem ignorados,
minimizados, distorcidos ou desacreditados, haverá pouca razão para
que a autocensura seja ativada (BANDURA, 2015):

É mais fácil prejudicar outros quando o sofrimento destes


não é visível e quando as ações danosas têm seus efeitos
física e temporalmente remotos. Nossas tecnologias de morte
tornaram-se altamente letais e despersonalizadas. Estamos
agora na era da guerra sem rosto, na qual a destruição em
massa é remotamente feita com precisão mortal por sistemas
de computador e controlados por laser. Quando as pessoas
podem ver e ouvir o sofrimento que causam, a angústia
despertada vicariamente e a autocensura servem como
autoimpeditivos. As pessoas são menos complacentes aos
comandos prejudiciais das autoridades à medida que a dor das
vítimas torna-se mais evidente e personalizada. Até mesmo
um alto senso de responsabilidade pessoal é um impeditivo
fraco da conduta nociva quando as agressões não veem o mal
que infligem em suas vítimas (BANDURA, 2015, p. 35).

Como sempre, o que se quer é afastar qualquer forma de censura social.

As pessoas se lembram dos benefícios de suas ações, mas


frequentemente se esquecem dos resultados danosos. Elas
encontram meios de evitar tomar conhecimento do mal causado
por seus atos. E podem até tentar desacreditar qualquer fonte
de informações que sugira que suas ações são (ou podem ser)
danosas. Ao não reconhecerem os resultados negativos de
uma ação, elas evitam o processo normal de autoavaliação
ética (BARNES; LEAVITT, 2010, p. 38).

• Desumanização: este tipo de comportamento procura criar uma


imagem degradante do outro perante a sociedade: “perceber o outro
em termos humanitários ativa reações emocionais empáticas por meio
da similaridade percebida e de um senso de obrigação social, ou seja,
é difícil maltratar pessoas humanizadas sem sofrer aflição pessoal e
autocondenação” (BANDURA, 2015, p. 37). No entanto, ao associar o
outro como sendo subumano, bestial, demoníaco, animal, associando a
sua imagem a condição de inferioridade etc., determinados indivíduos
acabam por se sentirem autorizados a realizar ações desumanas contra
eles.

A autocensura por conduta cruel pode ser desengajada ao retirar-se das


pessoas as suas qualidades humanas. Uma vez que são desumanizadas, elas
não são mais vistas como pessoas com sentimentos, esperanças e preocupações,

83
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

mas como objetos subumanos.

Ou ainda:

Elas são retratadas como “selvagens” sem cérebro, “amarelos”


e outros nomes desprezíveis. Se retirar a condição humana do
inimigo não enfraquece a autocensura, ela pode ser eliminada a
se atribuir qualidades demoníacas ou bestiais aos outros. Eles
se tornam “amigos de satã”, “degenerados”, e outras criaturas
bestiais. É mais fácil brutalizar as pessoas quando elas são
vistas como quando os torturadores gregos se referiam às
suas vítimas como “minhocas” (BANDURA, 2015, p. 37).

Ou melhor:

Em estudos experimentais das perversidades do efeito


combinado da desumanização e do diminuído senso de
responsabilidade pessoal foi dado a um time de supervisores o
poder de punir um grupo de solucionadores de problemas com
intensidades variadas de choque elétrico por desempenhos
eficientes. A punição foi administrada tanto pessoalmente
quanto coletivamente aos destinatários caracterizados seja
em termos humanísticos, animalescos ou neutros. Sem o
conhecimento dos supervisores, os choques nunca foram
aplicados aos destinatários. Os indivíduos desumanizados
foram mais punidos do que aqueles que estavam investidos de
qualidades humanas (BANDURA, 2015, p. 38).

• Atribuição da culpa: o dispositivo usado neste tipo de comportamento


é atribuir a culpa à vítima e não ao agente que agrediu: “as pessoas se
veem como vítimas sem culpa, sendo direcionadas a condutas nocivas
por uma forçosa provocação” (BANDURA, 2015, p. 45):

O abuso justificado pode ter consequências humanas


mais devastadoras do que a crueldade reconhecida. O
mau tratamento que não é investido de justiça faz com que
o perpetrador, ao invés de vítima, seja culpável. Porém,
quando as vítimas são de forma convincente culpadas por
suas condições, elas podem até mesmo acreditar nas suas
caracterizações degradantes (BANDURA, 2015, p. 46).

Como em todos os outros dispositivos, a atribuição da culpa busca isentar


o agressor das consequências de suas ações, como se sua ação fosse apenas
reativa, transferindo para a vítima as consequências dos atos do agressor. As
ações morais são os produtos da ação recíproca das influências pessoais e
sociais. Os conflitos surgem entre as autossanções e as sanções sociais quando
os indivíduos são socialmente punidos por cursos de ação que eles consideram
como direitos e justos. Os que divergem dos princípios e os não conformistas
frequentemente se encontram nesta situação. Alguns sacrificam seu bem-estar

84
Capítulo 2 GESTÃO DO CONHECIMENTO E REVOLUÇÃO 4.0

por suas convicções. É também comum as pessoas experienciarem conflitos


quando são socialmente pressionadas a engajarem-se em condutas que violam
seus padrões morais. As respostas a tais dilemas morais são determinadas pela
força relativa das autossanções e sanções sociais e aplicação condicional dos
padrões morais.

Por isso, é muito importante frisar que ao falarmos de moralidade e ética não
podemos desconsiderar o meio em que estamos inseridos. Não é um fenômeno
apenas intrapsíquico, mas também social. “É um fenômeno emergente de grupo
que surge das dinâmicas interativas, coordenativas e sinérgicas entre e dentro
dos sistemas sociais” (BANDURA, 2015, p. 70).

Sprinzak (1986; 1990) mostrou que os terroristas, tanto


com políticas de esquerda ou de direita, ao invés de se
desenvolverem de uma vez para tornarem-se radicais, o
fazem gradualmente. O processo de radicalização envolve um
gradual desengajamento das sanções morais pela conduta
violenta. Começa com processos pró-sociais para mudar
determinadas políticas sociais e oposições a oficiais que estão
intencionados a manter as coisas como estão. O amargo
fracasso para atingir a mudança social e os confrontos hostis
com as autoridades e polícia levam à crescente desilusão e
alienação do sistema como um todo. As batalhas escalonadas
culminam em esforços terroristas para destruir o sistema e
seus governantes desumanizados (BANDURA, 2015, p. 47).

Todo este processo citado por meio destes oito dispositivos comportamentais,
não acontece da noite para o dia, mas surge gradualmente, através de práticas
rotineiras nas redes sociais, violência no trânsito, bullying, assédio sexual e moral
etc., que passam a ser aceitos por determinados grupos como sendo naturais
e banais. Com a Revolução 4.0 ou digital tal processo adquiriu celeridade e
massificou-se, gerando graves problemas morais.

1 Desde o processo de desencantamento do mundo com o


aumento da racionalidade temos visto as pessoas agirem
mecanicamente, ou seja, o indivíduo enfatiza a rapidez (tempo) e
o controle de tarefas (produção). Logo, os profissionais passam a
ser uma engrenagem na empresa e sua potencialidade corporal,

85
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

neste momento, fica engessada e o raciocínio semibloqueado.


Ao refletirmos sobre essa afirmação, estamos nos remetendo a
que tipo de pensamento?

a) ( ) Holístico.
b) ( ) Mecanicista.
c) ( ) Organicista.
d) ( ) Pós-moderno.

2 A partir da leitura do poema de Mário Quintana, “Das ampulhetas


e das clepsidras”, responda à questão.

“Antes havia os relógios d’água, antes havia os relógios de área.


O tempo parte da natureza. Agora é uma abstração – unicamente
denunciada por tic-tac mecânico, como o acionar contínuo de um
gatilho numa espécie de roleta-russa. Por isso é que os antigos
aceitavam mais naturalmente a morte”.

Com relação ao poema, analise as sentenças a seguir:

I- Na Revolução 4.0 aceitar a condição que nos é imposta, de que


devemos obedecer a um relógio, seria ao mesmo tempo aceitar a
vivência natural dos seres em organização social.
II- A interdisciplinaridade possui elementos da totalidade, mas
é, acima de tudo, um evento de construção local, comunitária,
regional, que atende às necessidades locais sem perder de vistas
as exigências globais.
III- Quando pensamos sobre inovação, é inevitavelmente importante
termos a capacidade de olhar para o futuro, observarmos as
tendências, o cenário político, social e econômico, com uma
visão interdisciplinar e que capacite o indivíduo a atuar de forma
proativa no mundo do trabalho.

É CORRETO o que se afirma em:


a) ( ) I, apenas.
b) ( ) III, apenas.
c) ( ) II e III.
d) ( ) I e III.

86
Capítulo 2 GESTÃO DO CONHECIMENTO E REVOLUÇÃO 4.0

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Nesse capítulo foi possível analisarmos algumas tendências que apontam
para um futuro cada vez mais conectado, em que a interdisciplinaridade e a ética
passam a ter um papel cada vez mais importante no campo social, político e
econômico.

Nesse sentido, a prática interdisciplinar, a ética e o conhecimento


influenciarão o comportamento humano nos setores público e privado. Logo, a
criatividade e o desenvolvimento de novas ideias precisarão ser implementadas.

É necessária uma mudança de comportamento, os efeitos da tecnologia


estão atingindo todos os setores, o futuro já chegou, é uma constatação que
atinge o mundo em larga escala, transformando a realidade que conhecemos
agora.

É de ser revelado que a gestão do conhecimento e a Revolução 4.0 não


trazem somente benefícios. Muito se tem discutido sobre os impactos das mídias
e dos dispositivos técnicos no ser humano, a mecanização em excesso é um
deles, algo que foi amplamente discutido nesse capítulo.

Outro ponto que merece destaque é a questão do desengajamento moral,


onde vimos que ele se encontra presente em nível individual e coletivo.

Enfim, esperamos que tenha sido uma leitura prazerosa e que tenha
contribuído para o seu desenvolvimento acadêmico e profissional. Lembre-se de
que entender a vida social e o mundo do trabalho é importante para que a prática
pedagógica nas instituições de ensino seja mais interdisciplinar e ativa.

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pena para esses crimes e definir como causas de aumento de pena o estupro
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93
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

94
C APÍTULO 3
EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE
INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Compreender os elementos da mídia, da tecnologia e do processo de avaliação


presentes na prática pedagógica.

• Aperfeiçoar a atuação profissional com foco no domínio de algumas etapas


inerentes ao saber-fazer da prática educacional contemporânea.
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

96
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Chegamos ao Capítulo 3 da disciplina de Recursos Digitais: Softwares
Educacionais, esperamos que tenha aproveitado a leitura e os estudos apontados
durante os capítulos anteriores.

Você deve ter notado que vivemos em uma sociedade cada vez mais conectada
e com profundas transformações em todas as áreas do conhecimento, bem como
em diversos campos de trabalho. Logo, a exigência é maior do trabalhador quanto
a sua formação e a trilha de estudos que ele determina para sua vida na busca
do conhecimento. Como afirma Carl Jung, “Todos nós nascemos originais e
morremos cópias”, ou seja, somos formatados durante nossa vida, entretanto, com
a Revolução 4.0 as mudanças são rápidas e necessitamos abrir nossa mente para
o conhecimento.

Na era do conhecimento, a prática educacional, a inovação e o mundo virtual


estão entrando com grande força no campo educacional. Novas gerações surgem e
exigem uma educação mais ativa.

Com o conhecimento dobrando de tamanho a cada 12 ou 15 horas, é


impossível que nós saibamos tudo, por isso, devemos estar abertos para entender
novas realidades, perspectivas e orientações. Devemos compreender, aprender ou
fortalecer nossas convicções. Não podemos mais ficar desatualizados e parados
acreditando em verdades absolutas. Esperamos que você se divirta e aproveite o
material desse capítulo, bons estudos!

2 ERA DO CONHECIMENTO E A
PRÁTICA EDUCACIONAL
Além das diferenças sociais é importante também discutirmos sobre a
sociedade da informação e do conhecimento. Para isso, vale também ressaltar
a necessidade de analisarmos as diversas culturas existentes no mundo. Logo,
podemos perceber, por exemplo, que na sociedade oriental, a posição social
é determinada pelas qualificações para a ocupação de cargos mais do que pela
riqueza, nas sociedades capitalistas modernas a posição social é determinada pela
propriedade de certos bens essenciais e como podem ser utilizados no mercado, ou
seja, nas sociedades capitalistas temos a riqueza e as propriedades como fatores
determinantes para a fixação de uma posição social.

97
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

Estudar sobre as culturas e o papel da educação nessa empreitada de


inclusão e de diminuição das diferenças sociais é papel de todas as disciplinas e
cursos. Uma das condutas é objetivar as práticas e, consequentemente, revelar
aos atores sociais os fatores que determinam seus comportamentos, discursos e
os mecanismos de dominação que ocorrem ao longo de todo o desenvolvimento da
sociedade.

Não podemos refletir sobre a vida social sem discutirmos temas importantes,
como poder e dominação, sociedade do consumo e da informação e cultura. Os
intelectuais são mais do que nunca necessários. Eles são os únicos capazes de
desempenhar o papel de ouvidores, de dizer tudo aquilo que o discurso dominante
sufoca e oculta. Por conseguinte, muita coisa nova surge nas áreas da tecnologia,
sobre o comportamento humano e a cultura, tudo isso apontando para uma
transformação no mundo do trabalho, na educação, no campo político e social.

As transformações científicas e tecnológicas desde o século XX trazem


modificações cruciais no mundo do trabalho e na vida cotidiana. A crença de que as
inovações tecnológicas sozinhas seriam suficientes para a melhoria das condições
materiais de vida já não convence.

A tônica das reflexões gira em torno da mudança em todos os níveis sociais.


A sociedade parece viver, em escala global e mais do que nunca, uma série de
profundas e inéditas transformações. Cabe a reflexão, no entanto, de que a
destruição do passado, isto é, a destruição dos mecanismos sociais que vinculam
nossa experiência pessoal a das gerações passadas, tem sido uma característica
neste final de século XX (HOBSBAWN, 1995).

Do ponto de vista da percepção do cidadão comum, desde o século XX


pertencemos ao movimento, ou seja, à mudança. Tanto em extensão, quanto em
intensidade, as transformações envolvidas na Modernidade são mais profundas do
que a maioria das mudanças características dos períodos anteriores. É importante
perceber que tanto a percepção de aceleração quanto de descontinuidade advém
do “descolamento” das relações sociais, isto é, a extração das relações sociais dos
contextos locais de interação e sua reestruturação em outras escalas de espaço-
tempo (GIDDENS, 1990). Assim, para além das mitificações que abundam na
bibliografia atual em Administração, Educação, Tecnologia e Comunicação, a ideia
geral de mudança é crucial para o entendimento da dinâmica da sociedade. Não só
mais mudanças estão acontecendo e mais rápido, mas também nossas percepções
das mudanças se tornam mais agudas pela simultaneidade entre acontecimento e
notícia propiciada pela Tecnologia da Informação e da Comunicação.

Por consequência, as mudanças são descontínuas e não parecem seguir um


padrão (HANDY, 1996). Essas mudanças são particularmente incisivas no mundo do

98
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

trabalho e na educação. A tecnologia está automatizando cada vez mais atividades,


reduzindo as necessidades de pessoal. As empresas estão “terceirizando” cada
vez mais atividades. Os serviços públicos estão sendo privatizados. Nessas
novas condições, algumas profissões estão desaparecendo e as pessoas estão
buscando novas maneiras de trabalhar. A organização está se transformando de
uma estrutura composta de cargos, em um campo de trabalho que precisa ser feito
(BRIDGES, 1995).

O trabalho é profundamente afetado. Uma das transformações mais


importantes ligadas à Revolução Industrial se refere à realidade do tempo de
trabalho pela divisão do tempo em horas e dias “úteis” em contraposição a uma visão
cíclica do tempo na tradição. Nos sistemas industrializados ocidentais, o quadro
temporal do trabalho nas empresas está no centro das questões econômicas,
culturais e tecnológicas, numa tendência à flexibilização e à redução do tempo de
trabalho. A situação atual dessas questões é fruto de uma tendência, iniciada na
década de 1970 com a crise do petróleo, de novas relações entre a organização e o
meio externo, e de mundialização da economia e dos mercados.

Na Era do Conhecimento busca-se o “homem global”, o homem integrado.


Onde o homem global está envolvido, não existe trabalho. O trabalho aparece
com a divisão do trabalho e com a especialização das tarefas. Com a Tecnologia
da Informação, o homem volta a se envolver - como nas sociedades tribais -
completamente em seus papéis. Nessa nova organização, o homem se transforma
em coletor de informações, num conceito inclusivo de “cultura”. Logo, se torna um
homem nômade e sem emprego.

Outrossim, isso leva consequentemente à previsão de que, principalmente


na área de serviços, o emprego desaparecerá e com ele o homem trabalhador,
mudando a visão de classe trabalhadora como entendida até então (SCHAFF,
1995). Pretende-se que, na nova fase das organizações, os problemas sociológicos
clássicos - o trabalhador como apêndice da máquina, o trabalhador como escravo
dos produtos do seu trabalho e o trabalhador sem possuir verdadeiramente os
frutos do seu trabalho sejam superados (LAKATOS, 1997).

A educação também é afetada, na medida em que passa a ser cada vez


mais direcionada para a descoberta ao invés de apenas no sentido tradicional da
instrução (MCLUHAN, 1996). Para as organizações empresariais, atualmente,
isso é uma necessidade. O homem global, munido de uma instrução abrangente
e flexível que lhe conferisse mobilidade social e organizacional, sempre foi uma
utopia. Atualmente, está se tornando uma realidade, através das novas tecnologias
de educação continuada e na ênfase crescente no trabalho intelectual (SCHAFF,
1995).

99
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

Com o advento do homem individual destribalizado, uma nova


educação se fez necessária. Platão delineou esse programa
para os alfabetizados, um programa baseado nas ideias.
Com o alfabeto fonético, o conhecimento classificado tomou
o lugar do conhecimento operacional de Homero e Hesíodo
e da enciclopédia tribal. Desde então, a educação por dados
classificados tem sido a linha programática no Ocidente
(MCLUHAN, 1996, p. 9).

A passagem para a Era do Conhecimento se dá na medida de uma


maior valorização da interconexão entre as áreas de atuação humana e no
“destronamento” da matéria. Na tecnologia, na economia e na política, a riqueza
sob forma de recursos físicos vem perdendo valor e significação. O poder do
conhecimento das pessoas vem ultrapassando a força bruta das coisas (RAY;
RINZLER, 1996).

Assim, a prática educacional também muda, temos visto que a importância do


professor como um educador que incentiva os alunos cada vez mais é necessária.
Assim, deve desafiar os estudantes a melhorarem do ponto de vista pessoal
e profissional. Uma das práticas mais utilizadas até o momento é promover o
autoconhecimento, ou seja, nossos alunos necessitam desenvolver o autocontrole
e a adoção de um comportamento ético perante a sociedade. Entretanto, para isso,
o espaço da sala de aula precisa ser estimulante, propiciando a participação de
todos para que busquem refletir sobre o mundo e as melhorias que podem ser
feitas do ponto de vista social, econômico e político.

O professor não passa, no fundo, de um aluno pelo avesso. Os


alunos vão e vêm; a sua aprendizagem tem um ponto de partida e
outro de chegada. Com o professor, tudo é diferente. Permanecemos
em aprendizagem contínua. O ‘ensino’ é, sob esse ângulo, uma dura
forma de aprendizagem, pela qual entramos em confronto com a
verdade na sala de aula, e como um permanente aluno mais velho. O
professor nunca acaba de aprender e quando pensa que já domina um
assunto, descobre que deveria começar de novo. Espero que não seja
tarde demais para mostrar, como “aluno mais velho”, que o ensino não
separa a vida intelectual, nem das exigências fundamentais da vida,
nem das possibilidades da história em processo.

FONTE: FERNANDES, F. A natureza sociológica da sociologia.


São Paulo: Ática, 1980. p. 11-12.

100
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

Oportuno se torna dizer que um dos problemas principais a ser considerado na


educação é o de ensinar nossos alunos a enfrentarem os problemas fundamentais
e globais que vivemos. Com efeito, esses problemas encontram-se dispersos nas
disciplinas e na efetiva formação dos professores.

A partir do Ensino Fundamental e, principalmente, no Ensino Médio, devemos


permitir que nossos jovens estudem os problemas do passado e de nossa época.
O importante não é apenas ensinar o conhecimento, mas o que é o conhecimento,
que hoje está ameaçado por alguns erros não científicos de interpretação e
reducionismo.

Os jovens precisam conhecer o que é ser o ser humano, como afirma Edgar
Morin e Anne Brigitte Kern (2003) em sua “tripla natureza - biológica, individual
e social”, melhor ainda, ter consciência da condição humana, com os erros e os
acertos, sabendo que todos somos diferentes uns dos outros. Por conseguinte,
mantermos a humildade, a solidariedade e a fraternidade como ações cotidianas.

Nossos jovens precisam compreender o atual momento que a sociedade está


vivendo, as principais mudanças, os riscos e como o processo de globalização tem
afetado nossa vida, por exemplo, na família, na cultura, nas cidades, no consumo,
no lazer, na política e na mídia.

Para esse intento, é válido criar uma prática inovadora com o uso de projetos
de vida (MORAN, s.d.). Nossa vida pode ser percebida como um projeto que se
redefine continuamente com novos conhecimentos, experiências, vivências. Esse
processo pode tornar-se muito mais enriquecedor, quando estamos atentos e o
desenvolvemos intencionalmente em nós mesmos e nos demais.

As instituições mais inovadoras desenham uma política clara de orientação dos


alunos para que se autoconheçam e desenvolvam seus potenciais. Os projetos de
vida são um componente curricular transversal e visam promover a convergência,
de um lado, entre os interesses e paixões de cada aluno e, de outro, seus talentos,
história e seu contexto. Os projetos estimulam a busca de uma vida com significado
útil, pessoal e socialmente e, como consequência, ampliar a motivação profunda
para aprender e evoluir em todas as dimensões.

Projetos de vida são orientações para que cada aluno se conheça melhor,
descubra seus potenciais e os caminhos mais promissores para a sua realização
em todas as dimensões. Falamos de projetos de vida porque eles se refazem,
redefinem e modificam com o tempo. Não são roteiros fechados, mas abertos,
adaptados às necessidades de cada um. São projetos porque estão em construção
e têm dinâmicas que ajudam a rever o passado, a situar-se no presente e a projetar
algumas dimensões do futuro.

101
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

Os projetos de vida olham para o passado de cada aluno (história), para o


seu contexto atual e para as suas expectativas futuras. Isso pode ser trabalhado
com a metodologia de design, focando a empatia, a criação de ambientes afetivos
e de confiança, em que cada aluno pode expressar-se e contar seu percurso, suas
dificuldades, seus medos, suas expectativas e ser orientado para encontrar uma
vida com significado e desenhar seu projeto de futuro.

Todos os professores e todas as atividades de ensino-aprendizagem


podem contribuir para que cada aluno se conheça melhor, se oriente de forma
mais consciente. Alguns o fazem de forma mais institucional, direta e assumem
o papel de mentores, acompanhando mais de perto os alunos no seu dia a dia,
ajudando-os a descobrir seus interesses, talentos e fragilidades e a ir tomando
decisões para modificar sua visão de mundo e desenhar caminhos para seu futuro.
É importante ter uma equipe de mentores com perfis complementares para que
consigam acompanhar as diversas etapas de cada projeto (diagnóstico, design,
implementação, avaliação) e as diferentes visões de mundo dos alunos.

No começo, deve ficar bem claro para o aluno todo o processo, os momentos
mais fortes, os materiais de apoio, os mentores específicos atribuídos. Isso garantirá
que não seja só uma ideia no papel, mas uma ação viva continuada.

Um caminho interessante para o projeto de vida é o da construção de


narrativas, em que cada aluno conte sua história utilizando as diversas tecnologias
disponíveis. Construímos nossas histórias pessoais, nossos projetos de vida num
rico fluir de passagens e linguagens entre os diversos espaços físicos e digitais,
que se entrecruzam, superpõem e integram incessantemente. Nossa vida é uma
narrativa dinâmica com enredo fluido, costurado com fragmentos das múltiplas
histórias que vivenciamos e compartilhamos de diversas formas com alguns
mais próximos, física e digitalmente. Nesta narrativa em construção, nossa vida
adquire mais sentido, quando conseguimos perceber alguma coerência, alguns
padrões importantes, junto a algumas descobertas iluminadoras. Construímos
a vida como uma narrativa, com enredos múltiplos, com diversos atores internos
e externos, que se explicita nessa troca incessante de mensagens, vivências
e saberes. Aprendemos mais e melhor quando encontramos significado para o
que percebemos, somos e desejamos, quando há alguma lógica nesse caminhar
- no meio de inúmeras contradições e incertezas - que ilumina nosso passado e
presente e orienta nosso futuro.

A educação no sentido mais amplo é aprender - e ajudar a que outros


aprendam pela comunicação e compartilhamento - a construir histórias de vida,
que façam sentido, que nos ajudem a compreender melhor o mundo, aos demais
e a nós mesmos; que nos estimulem a evoluir como pessoas, a fazer escolhas,

102
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

nos libertem das nossas dependências e nos tornem mais produtivos e realizados
em todos os campos, como pessoas e cidadãos. “Se as pessoas são aceitas e
consideradas, tendem a desenvolver uma atitude de mais consideração em relação
a si mesmas” (ROGERS, 1987, p. 65 apud MORAN, s.d., s.p.).

Ivor Goodson (2007) pesquisa há anos as histórias de vida como processos de


aprendizagem:

“Ver a aprendizagem como algo ligado à história de vida é entender


que ela está situada em um contexto, e que também tem história
- tanto em termos de histórias de vida dos indivíduos e histórias
e trajetórias das instituições que oferecem oportunidades formais
de aprendizagem, como de histórias de comunidades e situações
em que a aprendizagem informal se desenvolve” (GOODSON,
2007, p. 250 apud MORAN, s.d., s.p.).

O currículo e a aprendizagem são narrativas que também se constroem no


percurso, em contraposição às narrativas prontas, definidas previamente nos
sistemas convencionais de ensino.

A pessoa motivada para aprender consegue evoluir mais e desenvolver


um projeto de vida mais significativo. Por isso, além de saber contar histórias e
estimular os alunos a que contem suas histórias, é importante que os ajudemos a
perceber que a vida é uma grande história que vale a pena ser vivida e que vamos a
construindo em capítulos sucessivos: crianças, jovens, adultos e idosos. Isso amplia
enormemente o potencial motivador para viver, e facilita a percepção de que, no
meio de múltiplas pequenas histórias, estamos construindo uma narrativa silenciosa
que as integra em uma sequência significativa. Costumamos dar muito mais ênfase
a conteúdos específicos do que à construção desta narrativa integradora de vida. O
projeto de vida é a grande história que precisa ser estimulada em cada aluno pelos
adultos.

Professores e pais, nas escolas inovadoras, transmitem mensagens


fundamentais para as crianças: “persigam seus sonhos” e os ajudam a realizá-
los (orientação, apoio), mesmo que depois mudem. O maior desafio que temos
é aprender a transformar-nos em pessoas cada vez mais humanas, sensíveis,
afetivas e realizadas, vivendo de forma simples, andando na contramão de muitas
visões materialistas, egoístas e deslumbradas com as aparências. De pouco adianta
saber muito, se não saímos do nosso egoísmo nem praticamos o que conhecemos.

Infelizmente muitos só navegam na superfície dos acontecimentos, sem


construir um sentido mais profundo para sua existência; desenvolvem intuitivamente
seus projetos, muitas vezes de forma descontínua, fragmentada, não sistemática.
Permanecem, às vezes, no nível da subsistência, de garantir a sobrevivência,

103
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

de percepção no senso comum e de busca de satisfações sensoriais. Com uma


orientação competente podem ampliar sua visão de mundo, diminuir seus principais
medos e obstáculos e construir um futuro mais livre e realizador.

Nesse sentido, não podemos ainda permitir que milhares de pessoas fiquem
sem acesso à educação e ao conhecimento prático.

Dando continuidade, vemos que a economia de um país pode sumir em


uma semana, gerando sérias implicações para os países que não procuram dar
educação a seus cidadãos. Entretanto, o que atualmente importa são as mentes,
a educação e a ciência. Essas mentes devem proteger e vender o conhecimento
ao resto do mundo. Os países que se preocuparam com isso, como China, Coreia
do Sul, Singapura, Canadá, Índia, são os países que provavelmente vão dominar o
planeta.

Um país deve mover não somente sua riqueza física e econômica, mas
também mover a sua riqueza intelectual. Deve proceder de uma forma que as
mentes valiosas que se encontram no país permaneçam ali. Aqueles países
que não prestam atenção nos seus recursos humanos, na educação, nos seus
cientistas, que podem criar patentes e novas ideias, vão acabar quebrando.

Continuamos na prática, por vezes, apenas discutindo se vamos fazer uma


fábrica, um porto, e estamos esquecendo de investir no principal capital que um
país ou uma empresa pode ter, o capital humano, ou seja, as mentes. Não podemos
mais permitir que milhares de pessoas fiquem sem acesso à educação e deixar que
as nossas “mentes brilhantes” fiquem sem estudar.

As instituições de educação superior e as práticas pedagógicas devem


privilegiar o processo de inclusão social e trabalhar de forma a proporcionar a
qualificação profissional e pessoal dos seus alunos. Quanto mais inclusão houver,
melhor. Dessa forma, todos estarão aptos a buscar e a produzir conhecimento, já
que este é inerente a todo ser humano.

3 INOVAÇÃO E O MUNDO VIRTUAL


NA EDUCAÇÃO
É sobretudo importante assinalar que para compreendermos a inovação
temos que primeiro entender o pensamento de Joseph Schumpeter. Ele nasceu
em Triesch, no dia 8 de fevereiro de 1883 e veio a falecer em Taconic, no dia 8 de
janeiro de 1950. Foi um dos mais importantes economistas do século XX. Viveu em
sete países diferentes, o que certamente contribuiu para a visão única que construiu
sobre o que gera a riqueza das nações.
104
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

O economista austro-americano Joseph Schumpeter (1982), em seu livro “A


Teoria do Desenvolvimento Econômico (Theorie der Wirtschaftlichen Entwicklung)”,
afirma que o capitalismo desenvolvia-se em razão de sempre estimular o surgimento
dos empreendedores, isto é, de capitalista ou inventores extremamente criativos, os
inovadores, que quase sempre despontavam em grupos, e eram os responsáveis
por todas as ondas de prosperidade que o sistema conhecia.

A partir do momento que se iniciava uma situação nova, acabava provocando


uma onda geral de mudanças. Primeiramente, aquele que ousava, acabava sendo
compensado por enormes lucros, se estabelecendo o que Schumpeter determinou
como lucro do monopólio, que aos poucos diminuía quando outros empreendedores
exploravam a ideia inovadora. Do ponto de vista de Schumpeter, toda inovação
implica uma “destruição criadora”. O novo não nasce do velho, mas surge próximo
e tende a superá-lo.

Entre vários exemplos, temos a invenção do transporte a vapor, dos trens e


dos navios que fizeram sumir a vasta rede que existia de diligências, de carruagens,
de clippers e demais embarcações à vela, hoje temos a informática e a robotização.

Atualmente, o capitalista é quem reúne a mão de obra altamente qualificada, a


inovação processa-se em laboratórios especiais de cientistas e pesquisadores, que
são os novos agentes do desenvolvimento econômico.

Quando há uma exaustão dos efeitos de inovação, ou seja, um novo produto


chegou ao seu limite extremo do mercado, ficando saturado, os lucros declinam
gerando uma reação negativa na cadeia, fazendo os negócios refluírem. Nunca se
sabe quanto tempo permanece um período desses, quase sempre inflacionário,
mas Schumpeter afirmou que este comportamento da economia capitalista era
cíclico. A respeito, o autor entende que o processo de estagnação somente será
interrompido quando uma outra inovação chegar ao mercado, dando um novo
impulso à retomada do crescimento.

Muitos empresários buscam o progresso fundamentando-se nas teorias


formuladas por Joseph Schumpeter, como mencionado anteriormente, a
da “Destruição Criadora”, que caracteriza-se pelas forças motivadoras de
mudanças criadas pela redefinição de vocações desencadeadas por inovações
revolucionárias na economia, pois esta exalta a relação que os homens têm
entre si na produção de bens e serviços necessários à satisfação dos desejos e
aspirações da sociedade, que são infinitas e ilimitadas. O ser humano, pela sua
própria natureza, nunca fica satisfeito com o que possui e sempre deseja mais,
gerando assim um modelo de acumulação, porém, os recursos produtivos que
estão à disposição da sociedade para a produção têm caráter finito.

105
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

Reflita se sua empresa é inovadora e quais são as necessidades


ou problemas enfrentados por ela atualmente.

Logo, o capitalismo se distingue pelo poder de transformação econômica,


não sendo estacionário, motivado pela criação de novos bens de consumo,
novos métodos de produção e transporte, novos mercados, novas formas de
organização industrial, que são os pilares sustentadores do capitalismo. Acredita-
se que a base do capitalismo está na ideia da capacidade de inovação, em que
toda empresa inserida no meio empresarial deve se moldar ao processo para
assegurar sua sobrevivência.

Gestão, empresa, inovação, depressão e ruptura estão conectadas pelo


fato de movimentar novas ideias, conceitos e transformações, que levarão o ser
humano a um novo processo de crescimento e renovação, e o processo de ensino
e aprendizagem tem sua melhor representação com o momento que passa de
uma estrutura antiga para uma nova.

Assim, vale a pena dar uma lida na entrevista e nas reflexões realizadas no
texto de Clemente Nóbrega sobre o economista austríaco Joseph Schumpeter.

O profeta da inovação

Uma entrevista póstuma com o economista austríaco Joseph


Schumpeter mostra por que as ideias do autor do conceito de
destruição criativa estão mais vivas do que nunca.

Hoje, quando o assunto é geração de riqueza e inovação, só


dá ele. Uma recente biografia sua* mereceu resenhas nas principais
publicações do mundo. Procure saber sobre os debates nos fóruns
internacionais. Pesquise o que os think tanks e formuladores de
políticas estão dizendo. Vá até Davos. Joseph Schumpeter (1883-
1950) está em todas. China e Índia como potências emergentes?
Ele teria algo a declarar. O que o Brasil tem de fazer para que seu

106
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

atual surto de prosperidade não seja apenas um surto? Schumpeter


responderia. Suas ideias são uma inesgotável fonte de inspiração
prática para pessoas, empresas e países. O cara corrigiu Einstein,
sabia? Vou contar a você.

FIGURA 1 – JOSEPH SCHUMPETER (1883-1950)

FONTE: <http://epocanegocios.globo.com/Revista/
Epocanegocios/0,,EDR77929-8382,00.html>. Acesso em: 18 fev. 2019.

Joseph Schumpeter (1883-1950): vaidoso e excêntrico,


adorado pelos alunos, ele proclamava que a força motriz do
progresso era a inovação e seus agentes, os empreendedores.

Certos temas nunca saem da agenda. Por exemplo: “Por que


alguns países são ricos e outros pobres?” Até Einstein andou dando
seus pitacos nessas coisas. Em 1949, num artigo intitulado Por Que o
Socialismo? (corra ao Google), ele escreveu: “A anarquia econômica
da sociedade capitalista é, em minha opinião, a verdadeira fonte do
mal”. Einstein achava que os mercados geram crise, instabilidade e
empobrecimento. A única maneira de eliminar esses males, segundo
ele, seria estabelecer o socialismo - os meios de produção seriam
propriedade da sociedade. Com isso, ele pensava, se garantiria
o sustento de todos os homens, mulheres e crianças. Cada um
segundo suas possibilidades. A cada um de acordo com suas
necessidades.

Bonito, mas errado. Na época, não era evidente que um sonho


aparentemente bacana era, no fundo, um mau sonho (isso ficaria
claro décadas depois). Alguns, porém, já percebiam e não eram os
gênios da ciência, não. Schumpeter já percebia. Sua resposta para a
pergunta que não se cala: “De onde vem a prosperidade de quem é

107
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

próspero?” foi o oposto exato da de Einstein, e era ele quem estava


certo.

Baixinho, careca, gordinho, ele se achava o máximo.


Mulherengo, falastrão, adorava contar vantagem. Vaidosíssimo,
demorava horas para se vestir para jantar (em casa). Excêntrico, ia
às reuniões da Universidade Harvard - onde foi professor - de botas
para montar. Era adorado por seus alunos “de ambos os sexos”,
como diz Thomas McCraw (não sei se entendi bem esse “ambos os
sexos”, mas deixa para lá). Dizia aos amigos que tinha três objetivos
na vida: ser o maior amante da Europa, o maior cavaleiro do mundo
e o maior pensador econômico de todos os tempos. Antes de morrer
declarou que só não estava satisfeito com suas performances
como cavaleiro. Cheio de marra, esse Schumpeter. Lembra aquele
outro baixinho goleador que temos por aqui. Seus esportes eram a
equitação e a esgrima, mas fez pelo menos um gol de placa. Um
golaço que mudou tudo o que se pensava no jogo que nos interessa:
como ficar rico.

Schumpeter nasceu na Áustria e viveu em sete países


diferentes, o que certamente contribuiu para a visão única que
construiu sobre o que gera a riqueza das nações. Seus dois maiores
insights foram os seguintes:

1 A força motriz do progresso econômico é a


inovação. Riqueza, prosperidade, desenvolvimento vêm da
inovação e só dela. Para Schumpeter, inovação tem um significado
preciso: é a substituição de formas antigas por formas novas de
produzir e consumir. Produtos novos, processos novos, modelos de
negócios novos. Essa substituição é permanente, e ele a chamou de
“destruição criativa” - expressão que todo mundo usa hoje. É esse
processo que faz o sistema capitalista ser o melhor que existe para
gerar riqueza e produzir crescimento econômico. O que Einstein
chamou de “anarquia do sistema capitalista” é exatamente sua força,
segundo Schumpeter. Sem “destruição criativa” não há riqueza.

2 Os agentes da inovação são os


empreendedores. Empreendedores são indivíduos (são pessoas,
não instituições, não governos, não partidos) movidos “pelo
sonho e pela vontade de fundar um reino particular”. Por causa
da “destruição criativa”, homens de negócios prósperos pisam
num terreno que está permanentemente “se esfarelando embaixo
de seus pés”. A instabilidade, o não equilíbrio, a desigualdade e a

108
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

turbulência são inevitáveis - o preço a pagar pelo progresso. Ditos


assim, esses dois pilares do pensamento de Schumpeter - inovação
e empreendedorismo - não parecem muito sexy, mas deixe-me
elaborá-los um pouco.

FIGURA 2 – AS ONDAS DE SCHUMPETER

FONTE: <http://epocanegocios.globo.com/Revista/Epocanego-
cios/0,,EDR77929-8382,00.html>. Acesso em: 19 fev. 2019.

Uma conversa com Joseph Schumpeter

Imaginei uma conversa com ele. Eu, no papel de entrevistador,


tentando adivinhar as respostas que ele daria a perguntas de três
tipos de pessoas: o gestor de uma empresa, um jovem que quer
empreender e o formulador de políticas de desenvolvimento de um
país.

Professor Schumpeter, há 25 anos apareceu um livro que


marcou época, In Search of Excellence, de Tom Peters e Bob
Waterman (no Brasil, Vencendo a Crise). Esse livro procurava
identificar os princípios da excelência empresarial sustentável,
digamos. Logo em seguida, porém...

Schumpeter (me interrompendo): Não me chame de professor. Sou


um acadêmico, não um técnico de futebol. Professores são o Dunga e
o Wanderley Luxemburgo. Não sei o que você iria perguntar, mas sei
a resposta. Eu nunca escreveria um livro para identificar empresas
sustentavelmente excelentes porque isso não existe. Se Tom Peters
tivesse me consultado, não teria perdido seu tempo. Toda vantagem
competitiva é temporária. A maior parte das empresas que Peters
e Waterman identificaram como excelentes em 1982 foram para o

109
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

buraco nos anos seguintes, como eu já sabia que iria acontecer.


Eu também não escreveria livros tipo Feitas para Durar, pois
companhias não são feitas para durar, mas para serem substituídas
por outras empresas, que serão substituídas por outras e assim por
diante. Essa é a essência do capitalismo. Essa fermentação é que
gera riqueza.

Quer dizer que, quando alguém cria uma empresa, já pode


ter certeza de que ela vai morrer um dia, por mais que seja
competente e talentoso?

Schumpeter: Isso mesmo. A permanência de empresas é uma


ilusão. O que quer que seja construído será destruído por um novo
produto, um novo processo, uma nova organização, uma nova
estratégia. A competição capitalista engendra e acalenta a destruição
em seu ventre, mas isso não é impedimento para empreendedores
de verdade, pois eles são animais raros, têm uma fé inabalável na
possibilidade de fazer diferença. Veja um exemplo: em 1930, o varejo
americano de alimentos era dominado por cadeias de armazéns -
algo que não existe mais hoje. Naquele ano, um sujeito chamado
Michael Cullen escreveu ao presidente da Kroger - a segunda maior
empresa do ramo - propondo a criação de um novo tipo de “armazém”
que considerava revolucionário, e pedindo uma reunião para explicar
seu conceito. Ele queria falar daquilo que mais tarde seria conhecido
como supermercado. Sua ideia era que seria possível baixar o
preço das mercadorias, se fosse introduzida uma mudança radical:
reduzir drasticamente o trabalho dos atendentes no balcão. Antes
do supermercado (o conceito que Cullen estava propondo), o cliente
não comprava, as coisas eram vendidas a ele. Os preços não eram
colocados nos produtos. Os produtos ficavam armazenados no fundo
das lojas, acessíveis apenas ao atendente. O atendente do balcão
era quem controlava a venda. Nos supermercados, ao contrário, os
clientes ficariam por conta própria. Como os preços eram marcados
nas mercadorias e os produtos ficavam visíveis nas prateleiras, os
consumidores podiam fazer as próprias escolhas, sem pressão ou
sem ter de admitir que não tinham dinheiro para comprar as marcas
mais caras.
Demorou, mas adeus cadeias de armazéns. Conceitos de sucesso
têm sucesso até o momento em que aparece um cara com uma ideia
nova e faz o que é preciso para que seu conceito seja adotado. O que
atrai o empreendedor é a perspectiva de ficar rico (esse cara não é o
CEO. CEOs, em geral, não são empreendedores). Empreendedores
são um tipo psicológico exclusivo. A única maneira de uma empresa

110
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

permanecer por longo tempo é destruindo-se a si mesma antes que


outro o faça. Só permanece o que muda. Jack Welch fez isso o tempo
todo na GE. A Johnson & Johnson faz. A Microsoft tem feito, mas
será que no ritmo adequado? (Olha o Google aí, Bill Gates!) A Xerox
não fez isso e veja como está hoje em comparação ao que já foi. Por
falar em GE, em maio de 2007 ela vendeu sua unidade de plásticos -
uma das joias mais reluzentes de sua coroa. A GE vem tendo receitas
crescentes e lucros excelentes, mas não excita os investidores, e
suas ações estão mal. Por quê? Porque ações só sobem quando há
expectativa de que a empresa estará melhor amanhã do que está
indo hoje. A GE está “apenas” mantendo o legado de Jack Welch.
Está fazendo tudo certo, mas não está gerando dinheiro novo (na
expectativa do mercado). Especialistas já estão dizendo que ela vai
ter de se dividir em vários negócios independentes e focados. Suas
peças separadas valeriam mais do que juntas. Que coisa, hein? Para
permanecer, a GE teria de se destruir. Para mim, faz sentido. Eu
falei disso na década de 1940. Dei até um nome à coisa: “destruição
criativa”.

O senhor diz que o empreendedor é o motor da inovação e,


portanto, do processo de geração de riqueza. Então, todo
mundo deve querer ser empreendedor?

Schumpeter: Não existe isso de todo mundo ser empreendedor, mas


é preciso que se incentive o maior número de pessoas a empreender.
Empreendedorismo é apetite para o risco. É excitação diante de uma
possibilidade não evidente para mais ninguém (lembre-se de Michael
Cullen). A média das pessoas é muito mais inclinada a garantir o
status quo do que a arriscar o novo. Não basta ser simplesmente
criativo - o sujeito que vende sorvete na praia e se dá bem porque
desenvolve relacionamentos um a um com seus clientes, é
empreendedor, mas não é schumpeteriano. O meu empreendedor é
o vendedor de sorvete que não se satisfez com o pequeno sucesso,
e partiu para uma fábrica de sorvete que usa novas tecnologias e
novas matérias-primas, que exporta, que introduz novos formatos
de distribuição, que inventa arranjos novos e diversifica. Ele busca
sucessos grandes. Esse muda o mundo, porque só cresceu por
aceitar correr riscos que a média das pessoas, em sua situação,
não estaria disposta a correr. É claro que, para que o empreendedor
schumpeteriano apareça, é preciso que se incentive a multidão de
pequenos. É preciso facilitar o erro, entende? Uma das razões pelas
quais na Europa não existe um Vale do Silício, com sua explosiva
energia empreendedora, é que na Europa as leis de falência são

111
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

muito duras e difíceis. Na Europa, quebrar é trabalhoso. No Vale do


Silício é fácil quebrar, o que é ótimo para a destruição criativa. No
Japão, empresas como a Sony tentam embutir a inovação em suas
estruturas, atraindo gente boa para trabalhar lá. No Vale do Silício,
os empregados mais talentosos de uma empresa equivalente à Sony
pediriam demissão, pegariam dinheiro emprestado e criariam as
próprias empresas para desenvolver um produto matador, baseado
em alguma nova tecnologia. Correriam o risco de quebrar e perder
tudo. Risco que, em média, seus colegas japoneses não estão
dispostos a correr. Há, proporcionalmente, mais empreendedores
“quebrados” nos EUA do que no Japão ou na Europa, mas há mais
inovadores schumpeterianos também.

Será que entendi? O senhor está dizendo que as sociedades


produzem alguns indivíduos dispostos a correr riscos maiores
que a média, ante a perspectiva de conseguir lucros maiores
também. O senhor introduziu uma dimensão humana na
equação econômica. Quando a gente estuda economia, ouve
falar de preços estabelecidos pela lei da oferta e da procura,
agentes sem rosto, mercados de commodities, tudo impessoal,
homogêneo. Tudo “média”. Sua visão valoriza um tipo que diz:
“Não é tudo igual, não, eu sou diferente”. Sou diferente porque
tenho um produto muito confiável a um preço que você pode
pagar (o Ford do início dos anos 1920), ou porque ofereço
o mesmo que outros oferecem por um preço menor (Toyota
no início do just in time), ou porque inventei um conceito
original que lhe oferece mais valor (Walmart, McDonald's, Dell,
Southwest Airlines, Cirque du Soleil).

Schumpeter: Você entendeu, sim. Basta que não se limite a


inventividade. Não precisa nem incentivar, basta não atrapalhar,
pois em qualquer população, de qualquer país, de qualquer lugar, de
qualquer condição econômica, se não houver empecilhos, algumas
pessoas vão empreender. Em Bangladesh há gente assim. No interior
da África também. Nas favelas brasileiras há empreendedores. Em
Ruanda há. São essas pessoas que fazem a riqueza do país crescer
à medida que elas próprias (correndo riscos) crescem.

O que os governos podem fazer para colocar essa sua ideia de


geração de riqueza em marcha?

Schumpeter: O papel dos governos - dos policy makers - é criar as

112
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

condições para o espírito empreendedor emergir. Cuba só vai crescer


quando criar as condições para que o espírito empreendedor dos
cubanos se manifeste. Se criar essas condições, pode estar certo de
que ele vai emergir. Na China está emergindo. É por isso que todo
mundo fala de mim hoje. Enquanto o Estado chinês não “liberou”
a propriedade privada - ter coisas, poder vender sua produção de
alimentos, poder sonhar em “ficar rico” correndo riscos - nada rolava.
O sonho comunista não dá certo porque não permite a emergência
do empreendedor. A igualdade socialista é mediocrizante. Sem risco
(como no comunismo) é tudo igual e tudo medíocre. O ambiente certo
para o espírito empreendedor é criado pela “regra da lei” - the rule of
law -, como se diz: o respeito aos contratos, o direito à propriedade,
à transparência, às patentes, à competição livre. Um sistema jurídico
acima de qualquer suspeita.

E o Brasil? Como o senhor vê nosso processo de


desenvolvimento? Vamos ficar ricos mesmo?

Schumpeter: Para isso acontecer, o governo deveria ir mais fundo


nas reformas que têm de ser feitas para que o “espírito animal”
aflore para valer, e o empreendedor adormecido perceba que
vale a pena correr risco no país. O sistema político de vocês tem
de ser reformado, o sistema jurídico idem, o previdenciário e o
tributário também. O mercado de trabalho é protegido demais. Há
uma nostalgia contraproducente pelas estatais do passado. Ainda
há um viés antiprivatização que é ruim. Há um anseio infantil pelo
Estado protetor. O ambiente certo é o que incentiva a destruição
criativa, não a proteção do Estado, não o emprego para a vida toda,
não a aposentadoria aos 40 anos. Lembre-se, o empreendedor
schumpeteriano é ambicioso, mas não é burro. Ele não arrisca em
ambientes em que o preço de sua vitória é proibitivo. Há outros
perigos também. Corrupção é um deles, e dos grandes. Em seu país
há Zuleidos demais, Lalaus demais, entende? A regra da lei não é
transparente. A vulnerabilidade do Brasil é essa. Não há país rico
sem isso. Nem um único sequer. O Brasil está atrasado. É só isso
que trava o desenvolvimento de vocês. O resto, com o tempo, o
empreendedor faz.

113
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

*Prophet of Innovation: Joseph Schumpeter and Creative


Destruction, de Thomas K. McCraw, Harvard University Press,
2007.

FONTE: NÓBREGA, C. O profeta da inovação. [s.d.].


Disponível em: http://epocanegocios.globo.com/Revista/
Epocanegocios/0,,EDR77929-8382,00.html. Acesso em: 11 dez.
2018.

No cenário do mundo contemporâneo, o processo de globalização diluiu as


fronteiras econômicas, sociais, culturais, tecnológicas e cientificas do mundo. Por
conseguinte, a exigência de novas competências para o mundo de trabalho: criar,
inovar, planejar, integrar, associar, prever, mobilizar-se em múltiplas direções, não
se restringindo à mera execução de tarefas. Com efeito, a presença da tecnologia
revoluciona as atividades humanas: cada vez mais o mundo real é controlado
pelo mundo virtual.

A realidade é hipercomplexa, ou seja, não há respostas certas.


A realidade é
Há respostas adequadas à determinada pergunta. As organizações
hipercomplexa,
ou seja, não há passaram a entender isso, após as grandes guerras e as grandes
respostas certas. crises.
Há respostas
adequadas à Há disponibilidade de grande volume de dados, mediante o
determinada uso da tecnologia, mas ela por si só não tem levado a melhoras
pergunta. As
significativas no amadurecimento sociopolítico e econômico. Assim,
organizações
passaram a a lacuna de conhecimento formalizado nas empresas faz com que
entender isso, após muitas vezes estas não entendam a necessidade da estruturação do
as grandes guerras conhecimento acadêmico no mundo virtual.
e as grandes crises.
O processo de aprendizagem do conhecimento está diretamente
ligado ao mundo virtual e à necessidade de adotarmos uma nova prática na
educação. Como resultado teremos professores, e estudantes precisam preparar-
se para o desafio de máxima mutabilidade: aceleração das mudanças provocadas
pela velocidade no processamento de informações.

A concepção educativa deve ser aquela que compreende uma mudança de


postura do docente no interior de cada disciplina, assumindo a relação entre teoria
e prática como princípio educativo.

Como exemplo, leia e reflita sobre as dicas de como um professor precisa


estar antenado, o texto é da Professora Maria Queiroz.

114
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

Você é um Professor Antenado?

Quando comecei a escrever sobre informática educacional, lá


pelos anos de 2003, lembro-me que os artigos pioneiros abordavam
a linguagem de chat, linguagem informatizada, depois gestão
tecnológica: o uso da tecnologia como recurso atrativo no cotidiano
escolar, neles, eu tentava mostrar que as ferramentas tecnológicas,
como DVD, TV, som, computadores e a internet poderiam ser
ferramentas poderosas para pesquisa, aprendizagem, interatividade e
aquisição do conhecimento.

De uns tempos para cá, houve a globalização, trazendo a


inovação no mundo tecnológico, no que se refere à tecnologia. No
entanto, no âmbito da escola, notamos uma resistência, um medo ao
novo, ao inovador e isso reflete no ritmo da evolução tecnológica e o
da evolução de nossos processos educacionais e que de certa forma
não é novidade para ninguém: a escola adéqua mudanças de uma
forma mais lenta, ainda que, paradoxalmente, seja uma instituição
que se propõe a ser um fator gerador de mudanças. É por esses
fatores que os professores devem participar e dar seu devido valor às
oficinas de capacitação para o uso pedagógico dos computadores e
da internet como oportunidades somáticas de aprendizagem de novas
metodologias e técnicas de ensino-aprendizagem.

Entretanto, vale salientar que apenas isto não seria suficiente. É


preciso mais, sempre mais. É preciso perder o medo do computador,
pois ele não é um bicho de sete cabeças. É preciso saber o que é, para
que serve, e como podemos fazer bom uso desta ferramenta inovadora
para a aquisição do conhecimento. Professores que só usaram
computadores para bater papo no MSN, no Orkut, no Facebook,
postando algumas coisitas no Twitter, jogar games ou, quando muito,
digitar um texto mal formatado no Word, estão deixando de aproveitar
a oportunidade de serem verdadeiros “professores antenados”.

Em algumas escolas há uma demanda enorme de computadores


para equipar, para formatar, centenas delas que não dispõem de
uma sala de informática adequada, funcional. Em outras escolas há
computadores que já estão ultrapassados, que por sua vez não dão
mais conta de rodarem sistemas operacionais atualizados, modernos. É
preciso suprir todas essas demandas, é preciso inovar, é preciso mudar
máquinas, atualizar softwares, hardwares, o mundo mudou, o mundo está
globalizado e mesmo assim o corpo docente ainda continua o mesmo.

115
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

É preciso também fazer um upgrade nos professores e não apenas


nas salas de informática, e máquinas. Precisamos de professores
antenados. Um professor antenado possui habilidades incríveis
para fazer um bom uso destas ferramentas tecnológicas, é capaz de
usá-lo de forma produtiva, interativa com seus alunos, pois inovar é
preciso. Arrisco-me a listar algumas habilidades para identificarmos ou
chegarmos perto de um professor antenado, vejamos:

• Possuir endereço de e-mail e utilizá-lo pelo menos três vezes por


semana, que ao meu ver, seria ideal fazê-lo diariamente.
• Possuir um blogue, um site, ou uma página atualizada (regularmente)
na internet, onde possa socializar, produzir e trocar ideias com outras
pessoas.
• Participar ativamente de “grupos de discussões”, fórum ou mesmo
comunidades virtuais ligadas à sua área profissional ou áreas afins.
• Participar trocando mensagens, seja no MSN, Twitter, no Facebook,
entre outros, no mínimo com três colegas em sua lista de contatos, e
usá-lo de forma profissional (para fins profissionais) no mínimo uma
vez por semana.
• Assinar uma Newsletter (boletim informativo), mesmo que gratuita,
para receber notícias e novidades relacionadas à educação em geral,
ou ainda sobre sua disciplina específica e, claro, lê-la regularmente.
• Preparar sempre provas, resumos, tabelas, resenhas e materiais
didáticos usando editor de textos (como o Word), uma planilha no
Excel, um vídeo no Movie Maker, uma atividade bem dinâmica no
PowerPoint, e assim sucessivamente.
• Fazer pesquisa na internet sempre para aprimorar suas aulas,
atualizar-se e preferencialmente montar seu banco de dados, tanto de
sites úteis, como documentos baixados da disciplina que você ministra,
como para a educação em geral, e compartilhar de forma interativa
todo esse banco de dados com os colegas de trabalho, alunos e o
mundo virtual.
• Manusear esta ferramenta tecnológica, o computador, pelo menos
uma hora por dia.
• Preparar três aulas no mínimo por trimestre sobre um tema de sua
disciplina onde os alunos irão à sala de informática para pôr em prática
o que aprenderam, construir resumo, montar sua apresentação, ou
mesmo seu vídeo de forma prazerosa e produtiva e não apenas para
passar o tempo.
• Utilizar a tecnologia como recurso atrativo no cotidiano escolar.

Vale salientar que na listagem não foi mencionada a necessidade


de possuir um desktop, netbook ou mesmo notebook para ser um

116
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

professor antenado, pois geralmente o professor tem a máquina e não


tem as habilidades.

Para fazer acontecer e agir, é preciso que o professor esteja


envolvido em oficinas de capacitação ou mesmo curso de informática,
para isso deve haver o uso regular das ferramentas tecnológicas e da
internet.

Você está enquadrado neste perfil de professor antenado? Se


sim, parabéns, está no caminho certo!

FIGURA 3 – PERFIL ANTENADO

Comunidades
on-line

FONTE: <http://mmaqque.blogspot.com/2012/04/voce-e-um-
professor-antenado.html>. Acesso em: 19 fev. 2019.

FONTE: QUEIROZ, M. Você é um Professor Antenado? 2012.


Disponível em: http://mmaqque.blogspot.com/2012/04/voce-e-um-
professor-antenado.html. Acesso em: 18 nov. 2018.

117
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

O profissional do século XXI já é exigido com relação a uma postura mais


ativa, deve aprender a trabalhar em equipe e a respeitar a hierarquia. Logo, precisa
saber lidar com as incertezas dessa sociedade em mutação e conscientizar-
se sobre a importância da educação continuada, porque ela reduz o risco de
desatualização.

Em rápidas pinceladas, podemos afirmar que o profissional que é exigido é


aquele cujo professor Alberto Guerreiro Ramos chama de “parentético”. É aquela
pessoa que está consciente de que carece de consciência crítica, estando ela
relacionada à necessidade além do nível de simples sobrevivência.

[...] o homem parentético é simultaneamente um reflexo das


novas circunstâncias sociais, que ocorrem principalmente
nas sociedades industriais avançadas, como a dos EUA, que
irão prevalecer ocasionalmente pelo mundo inteiro. De fato,
os padrões de comportamentos tendem a se difundir nas
sociedades industriais avançadas e só existem residualmente
em sociedades em estágios anteriores de evolução. Por
exemplo, tais padrões somente puderam ser percebidos em
indivíduos excepcionais, como Sócrates, Bacon e Maquiavel, o
que Lane (1966, p. 654) chama de “diferenciação entre o ego
do ambiente interno e o ego do ambiente externo”, o que lhes
possibilitou perceber suas respectivas sociedades excluindo-
se do ambiente interno, quanto do externo; podendo, dessa
forma, examiná-los com uma visão crítica. Enquanto a massa
da população adotava interpretações convencionalmente
estabelecidas. Na realidade, a exclusão equivale aqui a incluir,
a colocar o ambiente entre parênteses. O homem parentético
está apto a classificar o fluxo da vida diária para examiná-lo
e avaliá-lo como um expectador. Afasta-se do meio familiar,
tenta romper com suas raízes; tornando-se um estranho
em seu próprio meio social, possibilitando maximizar sua
compreensão da vida. Em outras palavras, a atitude parentética
é a capacidade psicológica do indivíduo de separar a si mesmo
de seu ambiente interno e externo. Ele se desenvolve quando
termina o período da ingenuidade social; o que Lane chama
de sociedade “informada”, é o habitat natural do homem
parentético (RAMOS, 1983, s.p.).

O profissional parentético está eticamente comprometido com valores que


conduzem à primazia da razão crítica, tendo uma relação com o trabalho e com
a organização muito peculiar. Esse profissional não se esforça demasiadamente
para obter sucesso, segundo os padrões convencionais. Ele estabelece grande
importância ao eu, e teria urgência em encontrar um significado para a vida. Não
aceitaria acriticamente padrões de desempenho, embora pudesse ser um grande
empreendedor quando lhe atribuíssem tarefas criativas. Não trabalharia apenas
para fugir à apatia ou indiferença, porque o comportamento passivo vai ferir seu
senso de autoestima e autonomia. Esforça-se para influenciar o ambiente, para

118
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

retirar dele tanta satisfação quanto pudesse. Seria ambivalente em relação à or-
ganização, “sua ambivalência seria derivada de sua compreensão de que as or-
ganizações, como são limitadas pela racionalidade funcional, têm de ser tratadas
segundo seus próprios termos relativos” (RAMOS, 1984, p. 9).

O mundo virtual através da tecnologia tem uma força não controlada, pode
ao invés de melhorar a qualidade de vida, colocar em perigo a viabilidade do
homem como criatura racional e, já que isso não é inerente à tecnologia, mas da
estrutura política e institucional, está surgindo um novo nível de conscientização
humana, que estimula as pessoas a adotarem comportamentos reativos.

Desse modo, essas pessoas, principalmente os jovens, se sentem re-


sponsáveis pela redefinição das prioridades e metas, tanto da organização como
do sistema global para desenvolver suas “próprias tendências e inclinações indi-
viduais, para consumir não apenas bens manufaturados, mas a própria liberdade”
(RAMOS, 1984, p. 11). Paradoxalmente, a tecnologia é de fato o principal fator que
contribui para essa revolução na sociedade moderna.

Ademais, a sociedade está cada vez mais se encaminhando em direção a


estilos parentéticos de vida. Muitos indivíduos, acadêmicos e profissionais estão
tentando “derrotar ou desestabilizar” os sistemas administrativos tradicionais. Prin-
cipalmente nas tentativas de projetos de organizações não hierárquicas e orienta-
das para a clientela, em órgãos e políticas voltadas para a proteção dos cidadãos
e consumidores, bem como para o elevado crescimento de preocupações com
questões da qualidade de vida humana no trabalho, preservação ambiental, autor-
realização, desemprego, distribuição da riqueza e liberdade.

Maria Rita Gramigna nos faz refletir sobre a prática de mudar nossa mente
para o futuro do trabalho e da educação em tempos de um mundo cada vez mais
virtual.

Corações e mentes - uma reflexão sobre mudanças

Pausa do cotidiano

Um cotidiano agitado, voltado para a sobrevivência. Lei da selva.


Trabalho, projetos de conquistas de espaço na vida, no mercado,
na empresa. A mente não para, já proclamava Cazuza! Férias ao
normal! Viver o natural!

119
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

O natural na descontração do rir à toa, andar sem destino,


conversar fiado com desconhecidos, pular atrás do trio elétrico, andar
de ônibus (e até gostar!), viajar de barco, fazer nada, acordar tarde,
dançar, cantar, “viajar” ao som de uma viola, guardar para sempre o
momento de êxtase ao fotografar o pôr do sol e o amanhecer, ver o
mar, tomar uma cervejinha gelada sob 40 graus de calor, comer fruta
no pé, andar com os pés no chão, sentir a suavidade da brisa fresca,
alimentar-se de vida!

Pausa interrompida

Fim de feriado e retorno ao cotidiano do trabalho. O retorno fez-


me refletir sobre os “corações e mentes” que habitam em cada um
de nós. Quem é mais poderoso? O coração ou a mente?

Em nossa vida carregada das normas que criamos sem


perceber ou que nos são impostas sutilmente vamos, aos poucos,
deixando nosso lado-coração-de-lado. O descompasso faz com que
nossa vida pessoal, a cada dia, vá descendo graus e graus na escala
da qualidade.

A luta entre os hemisférios cerebrais

Cisão. Separação. A luta entre nossos hemisférios cerebrais é


reforçada a cada dia. Enquanto o direito, do coração, diz “SIM”, o
esquerdo, da mente, retruca “NÃO VAI DAR CERTO!”.

Surgem então as dissociações, tão normais que acabam


tornando-se naturais aos nossos olhos:

• “o discurso é um e a ação é outra”;


• “o sentimento diverge da expressão”;
• “os sonhos não chegam a se concretizar, são interrompidos pela
realidade”;
• “sorrisos amarelos disfarçam insatisfações”;
• “máscaras mostram as mentes e escondem corações”.

Por onde andam a alegria, o lúdico, a satisfação e o prazer de viver?


Roger Sperry, Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1981,
comprovou cientificamente a lateralização dos nossos hemisférios
cerebrais e suas áreas de comando: um dirige a mente e outro o
coração.

120
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

O hemisfério direito, cujas funções são pouco estimuladas nas


culturas ocidentais devido a condicionantes familiares, educacionais
e culturais, é o natural. Ele orienta as ações espontâneas, intuitivas,
prazerosas, lúdicas, cooperativas, éticas e imaginosas. É ele que
nos permite ter emoções e sensações de toda ordem. Sua presença
manifesta-se através da habilidade de perceber o todo, reunir, agir
com sabedoria dentro do paradigma holístico.

O esquerdo, aquele reforçado em nossa cultura é o normal.


Orienta as ações planejadas, lógicas, racionais e competitivas. Ele
comanda nossa habilidade de julgar, medir, classificar, separar,
discriminar. Faz-nos perceber as partes e ignorar o todo.

O homem-razão, o homem-mente predomina até hoje. Batalhas


foram vencidas pelo hemisfério normal, mas, a guerra ainda está de
pé! Observando as principais instituições vigentes no Brasil (escola,
empresa, sindicato, governo) e grupos de interesse, podemos
constatar que a postura dissociativa está presente e a predominância
das ações é do hemisfério esquerdo.

A realidade empresarial no Brasil

As formas de gestão, na maioria das empresas, (públicas ou


privadas) refletem o comportamento do homem-normal:

• A administração participativa é implantada por decretos, ordens de


serviço e normas internas (participamos que daí para frente nossa
nova estrutura será etc.).
• A espontaneidade, a brincadeira, o humor e o lúdico, muitas vezes
são confundidos com “falta de seriedade no trabalho.
• Alguns programas de gestão estão com seu enfoque voltado para
conceitos e instrumentos de padronização e racionalização do
trabalho, relegando, a segundo plano, o investimento na educação e
nos programas de desenvolvimento pessoal.
• A qualidade de vida na empresa é pouco cuidada, resumindo-se a
planos de benefícios e algumas melhorias físicas e materiais.
• “Furar o olho” do colega é considerado até esperteza.
• Raramente encontra-se um clima afetivo e de cooperação entre as
pessoas.
• Áreas atropelam-se no jogo do “vence o melhor” (como se existissem
várias empresas em uma só).
• A competição é interna, prejudicando a competitividade no mercado
e gerando um clima insustentável.

121
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

• Promoções de colegas são contestadas a tal ponto que, mesmo


diante da necessidade de enxugamento de áreas, alguns dirigentes
incham a estrutura com “aspones”, encarregados, supervisores,
auxiliares do encarregado, substitutos dos substitutos”. Procuram
fugir de seus algozes: aqueles que não foram promovidos e querem
a sua cabeça.
• O estresse generalizou-se. Sintomas, tais como colesterol alto,
úlceras, enxaquecas, depressão e desânimo acarretam em um
número significativo de pessoas que buscam o afastamento
temporário do trabalho por motivos de saúde.
• Gavetas estão com planos e projetos não implantados. O processo
decisório é burocrático e lento em função das normas.

É, a situação está pouco animadora!

Em cada uma das ações citadas podemos constatar a influência


da mente sobre o coração. Ainda não conseguimos trabalhar os dois
hemisférios de forma harmonizada e integrada e isto se reflete em
nosso modo de ser e agir.

E nós, onde vamos?

Como reverter este quadro?

É necessário mudar paradigmas e mudar paradigma implica


adotar e acreditar em novos valores construtivos. Tenho identificado
aqui e ali, um novo homem: o homem parentético. Ele apresenta
atitudes e valores contrários aos do homem organizacional
predominante nas últimas décadas. É o que veste a camisa da
empresa, não tem hora para si mesmo e nem para as pessoas ao
seu redor, adoece ou morre, pois nada mais faz a não ser brigar pelo
poder ilusório de seu papel. Sua meta é a ascensão profissional.
Talvez, em sua lápide fique bem a frase: “meu nome é trabalho”.

O homem parentético chega aos poucos e vai ocupando


espaços com fluidez, sensibilidade, conhecimento, sabedoria e já
apresenta vestígios de uma nova consciência.

Quem é o novo homem parentético?

Ele está em todos os lugares e em diversas funções. Tem


consciência crítica altamente desenvolvida das premissas de valor
desenvolvidas no dia a dia. Consegue graduar seu fluxo diário,

122
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

colocando-se tanto como espectador quanto como sujeito ativo,


percebendo-se como parte importante de um todo maior. Romper
raízes institucionais é mais vantajoso do que permanecer onde não
é o seu lugar. Seu compromisso é com resultados. A urgência em
obter um significado de vida faz com que ele busque melhorar sua
qualidade de vida e se esforce continuamente para influenciar no
ambiente. É preocupado com a ecologia ambiental e humana. Luta
contra sistemas rígidos e burocráticos. Suas principais armas são a
fluidez, o desapego, a sensibilidade e um profundo respeito e amor
pelos outros.

Para ousar interferir no ambiente empresarial temos um grande


poder: o poder da transformação. Através do empreendimento de
ações geradoras de resultados vamos obtendo adesões, podemos
formar um exército de agentes multiplicadores de mudança. A
descoberta do homem parentético que habita cada um de nós pode
ser o começo de tudo. Conhecendo-nos podemos enxergar os outros
a nossa volta e percebendo-os vamos trazê-los para o nosso lado.

Esses homens-parentéticos estão em todos os níveis


hierárquicos da empresa. Sem querer se expor muito não se fazem
notar pelos menos perceptivos, mas o homem mente-coração existe
e temos que contar com ele. Tenho a convicção pessoal de que só
vamos conseguir atuar de forma efetiva neste processo quando
começarmos a trabalhar nossa mudança pessoal. Podemos oferecer
somente aquilo que temos e se não melhorarmos nossa qualidade
de vida como acreditar na qualidade “fora de nós?”.

Como enfrentar com pique e motivação este momento real e


normal em nosso dia a dia de trabalho? A força e a coragem estão em
nós. A partir da mudança de posturas, atitudes, filosofia de trabalho,
formas de lidar com os problemas e com a vida, encarando medos e
dificuldades de forma natural e simples, podemos transformar nosso
ambiente. A convivência harmônica e equilibrada de “corações e
mentes” é possível. Temos um potencial ilimitado.

Tudo inicia na própria pessoa!

FONTE: GRAMIGNA, M. R. Corações e mentes - uma reflexão


sobre mudanças. 2001. Disponível em: http://www.rh.com.br/Portal/
Mudanca/Artigo/3189/coracoes-e-mentes-uma-reflexao-sobre-
mudancas.html. Acesso em: 30 nov. 2018.

123
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

Dando continuidade, ainda sobre inovação e o mundo virtual na educação,


podemos trazer à tona um dos exemplos mais concretos e eficazes que tivemos
no Brasil, o da utilização do processo de ensino e aprendizagem a distância, ou
seja, a implementação do uso de tecnologia para a inclusão social, bem como
para o aprimoramento de novas metodologias de estudos.

A utilização de cursos e disciplinas on-line em termos de tecnologias de


ensino e de procedimentos didáticos, apresenta, significativos ganhos aos alunos
e professores, uma vez que as atividades previstas garantirão um aprendizado
consistente e maduro. Conforme sustenta Preti (2000, p. 128):

A EAD coloca-se hoje como uma possibilidade, como uma


alternativa. Um dos traços fortes, distintivos e centrais dessa
modalidade é a capacidade de se organizar para melhor
viabilizar ao aprendiz a construção de sua autoformação, de
sua autonomia de processo de aprendizagem.

As mudanças tecnológicas têm proporcionado a possibilidade de a educação


a distância (EAD), crescer e dar mais autonomia para os estudantes porque ela
tem entre suas características ser um instrumento para facilitar e ampliar o acesso
à educação. Por meio dela, é possível estudar em qualquer lugar onde haja
acesso à internet, eliminando as barreiras de local e tempo.

O ensino a distância surgiu em decorrência da necessidade social, e um dos


principais desafios a ser enfrentado nesse processo de expansão é a busca por
um padrão de qualidade. As novas tecnologias possibilitam maior interatividade
e autonomia do aluno, que deve ser responsável por suas obrigações. Para
enfrentar o mercado de trabalho tão concorrido, o profissional requer atualizações
permanentes, sendo que os cursos de educação a distância têm valor mais
acessível e permitem ao aluno a permanência em seu meio cultural, evitando
mudanças comportamentais, incentivando a educação contínua. Litto (2010, p.
78) fundamenta que:

Com a pressão social e profissional para cada indivíduo se


aperfeiçoar constantemente por meio de aquisição de novos
conhecimentos e novas habilidades, além da flexibilidade, da
conveniência e do alcance global oferecidos pela aprendizagem
a distância, muitos vão optar por essa abordagem prática, seja
através de cursos, seja através de estudos não dirigidos e não
formais.

A EAD proporciona igualdade de oportunidades a pessoas que já nascem


com tantos déficits em sua vida. Na visão de Moraes (2010, p. 91), “a educação
a distância nasceu e se desenvolveu para permitir acesso àqueles menos
favorecidos pelo ensino presencial”.

124
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

Por fim, vale ressaltar que fica o desafio para superação dos preconceitos
vinculados culturalmente à educação tradicional, fato que as novas gerações já
vêm superando e transformando o ensino a distância como uma possibilidade
coerente e dinâmica de aprendizado e de estudos, principalmente através de
metodologias ativas.

4 GERAÇÕES E A EDUCAÇÃO ATIVA


O ingresso de novos talentos com um perfil mais competitivo tem chamado a
atenção no mundo do trabalho. A Geração X, composta pelas pessoas nascidas
entre meados da década de 1960 e início dos anos de 1980 tem enfrentado
dificuldade em lidar com os jovens da Geração Y, que compreende os nascidos
nos anos 1980 e 1990.

Logo, o jovem Y tem uma dinâmica mais apressada e pragmática de ver as


coisas, eles são mais conectados e não têm muita paciência para esperar. Na
tendência de grandes expectativas, a Geração Y busca o emprego que realmente
tem a ver com ela. Quando o jovem Y não se sente confortável na empresa onde
trabalha, não hesita em buscar um novo emprego. Os jovens Y têm dificuldade
em permanecer na mesma função por um longo período de tempo, eles têm uma
elevada autoestima e dificuldades na identificação hierárquica dos gestores. Esse
modo de levar a vida gera surpresas nos tradicionalistas - Geração X -, levando
ao conflito dentro das organizações.

Entretanto, o bom uso das características profissionais dos jovens da


Geração Y tem sido um desafio para os seus gestores, pois eles possuem
facilidade para aprendizado e manuseio de novas tecnologias, facilidade para
realização de diversas tarefas e ambição por crescimento profissional.

A Geração Y possui algumas características distintas, conforme nos


esclarece Lombardia (2008, p. 3):

A nova geração abrange os nascidos nos anos 1980 e 1990.


Os mais velhos estão chegando aos 25; os mais jovens
acabam de sair da adolescência. Trata-se de uma geração de
filhos desejados e protegidos por uma sociedade preocupada
com sua segurança. As crianças Y são alegres, seguras de
si e cheias de energia. A geração dos Power Rangers e da
internet, da variedade, das tecnologias que mudam continua e
vertiginosamente.

Anterior à geração X temos os Baby Boomers que nasceram no pós-guerra,


período em que a população estava preocupada com a perpetuação da espécie.

125
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

Baby Boomer é uma definição genérica para crianças nascidas


durante uma explosão populacional - Baby Boom em inglês, ou,
em uma tradução livre, Explosão de Bebês. Dessa forma, quando
definimos uma geração como Baby Boomer é necessário definir a
qual Baby Boom, ou explosão populacional estamos nos referindo.
Em geral, a atual definição de Baby Boomers, se refere aos filhos
da Segunda Guerra Mundial, já que durante a guerra houve uma
explosão populacional (SERRANO, 2010).

Os gestores das empresas não devem ignorar a tendência atual de buscar


cativar os colaboradores para diminuir o nível de insatisfação no ambiente de
trabalho. Todo gestor precisa, nesse momento, por meio da reflexão, impulsionar,
no ambiente de trabalho, uma relação do saber-fazer, aproveitando os recursos
previstos e disponíveis.

Nas empresas, temos pessoas com pensamentos e idades diferentes. As


relações precisam envolver um processo de negociação integrado e cooperativo
no qual todos ganham, havendo um benefício mútuo entre as partes envolvidas.
O gestor deve ter ações que levem a um processo de humanização dentro da
organização, nos espaços de trabalho, com uma gestão de pessoas que atraia
e retenha os colaboradores. Não é mais concebível, como era antigamente, o
chefe que manda e o colaborador que fica calado, numa gestão verticalmente
estruturada. O colaborar tem limites, e não é mais possível tratar o colaborador
como “escravo”.

A gestão das gerações que antecederam a Geração Y também foi um


desafio, pois, para cada processo de mudança que surge, ocorre a resistência ou
a adaptação ao novo. O exercício da comunicação no ambiente organizacional
pode maximizar o desempenho da gestão dos jovens Y. Para Balian (2009), é
preciso saber ouvir, o que aperfeiçoa a comunicação e permite a compreensão
dos valores e pontos de vista de cada geração. O saber ouvir estreita o
relacionamento na gestão das gerações e promove o aperfeiçoamento da análise
dos pontos vulneráveis de cada geração (SILVA, 2013).

Com relação à utilização de Recursos Digitais e dos Softwares Educacionais,


a situação não é diferente, todas as gerações de alguma maneira estão buscando
adentrar nesse novo mundo da Inteligência Artificial e dos games, inclusive os
governos já estão atentos a isso e procuram investir nessa área nos próximos
anos nos mais diversos setores.

126
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

O ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, divulgou durante o


evento Game XP neste último domingo (9), dados referentes ao 2º
Censo da Indústria Brasileira de Jogos Digitais e aproveitou para
anunciar um investimento de R$ 100 milhões no setor de games
nacional. De acordo com os números divulgados pelo censo, as
indústrias do segmento estão concentradas em São Paulo e Rio de
Janeiro, sendo que o país produziu neste ano 946 jogos, entre eles
de entretenimento, educativos e 43% para dispositivos móveis. Os
dados revelam ainda que o número de empresas no setor cresceu
182% em quatro anos.

O ministro também informou que o Brasil é o 13º maior produtor


de games do mundo e o maior da América Latina. No total existem
2,3 bilhões de jogadores no mundo, e o país ocupa o terceiro
lugar, com 66 milhões de jogadores. Segundo Leitão, os números
representam um grande potencial e o Brasil “está demonstrando
grande vocação para a área”, o que incentivou o investimento de R$
100 milhões para o crescimento dessa indústria, que deverão ser
utilizados em linhas estratégicas de desenvolvimento e produção
de jogos, desenvolvimento e produção de conteúdo em realidade
virtual e realidade aumentada, lançamento de jogos, aceleração de
empresas, festivais, tecnologia, entre outros.

Além disso o projeto também visa à diversidade, sendo que o


censo aponta que apenas 20,7% representam as mulheres que
trabalham na indústria digital. “Determinamos que 50% dos projetos
premiados devem ser de mulheres, 25% devem ser de negros e
indígenas, 50% devem ser de iniciantes e tem também o recorte
regional. Então, 30% têm que ser do Norte, Nordeste e Centro-
Oeste”, explicou.

Para desenvolver a ação foi criado um grupo de trabalho no


CSC (Conselho Superior de Cinema), pois de acordo com o ministro,
jogos são considerados produtos audiovisuais.

FONTE: UOL. Ministério da Cultura vai investir R$ 100 milhões


no setor de games. 2018. Disponível em: https://jogos.uol.com.br/
ultimas-noticias/2018/09/11/ministerio-da-cultura-vai-investir-r-100-
milhoes-no-setor-de-games.htm. Acesso em: 15 set. 2018.

127
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

As empresas e as instituições educacionais que possuem uma boa gestão de


pessoas procuram ouvir vários profissionais para buscar o equilíbrio e o diálogo
entre as gerações que existem no seu interior.

Registra-se, ainda, que gerenciar a Geração Y requer muita clareza e


objetividade dos gestores. Para Porto (2011), algumas situações precisam ser
esclarecidas desde o início, para que a relação com os jovens Y seja transparente
e haja a retenção dos talentos pela empresa. As regras precisam ser claras,
com exposição das expectativas de futuras promoções logo no início da relação
profissional.

Assim, a disponibilidade de desenvolvimento contínuo, a oportunidade de


mobilidade e a remuneração compatível com o segmento da empresa devem
ser postos em prática para evitar rotatividade, incentivando o reconhecimento
e a valorização pessoal e profissional. O gestor deve liderar com respeito, não
utilizando práticas hierárquicas, e propiciar constantes desafios para que tenha
sucesso na gestão das gerações (SILVA, 2013).

A seguir disponibilizamos um texto muito bom sobre educação e a geração


que vive conectada. Boa leitura!

Como ensinar uma geração que vive conectada

O mundo não pode mais se desconectar. Diante do excesso de


informações e da velocidade das transformações, a grande pergunta
é: como a educação se prepara para isso? Para o português Luís
Rasquilha, especialista em futuro, tendências e inovação, o primeiro
passo é refletir sobre a própria definição de educação, que já não
pode mais ser entendida como apenas um conjunto de normas
pedagógicas.

Durante o 1º Seminário de Tendências e Inovação na Educação,


realizado nesta quarta (9), pelo IBFE (Instituto Brasileiro de
Formação de Educadores), em Campinas (SP), Rasquilha afirmou
que o grande desafio da atualidade é tentar manter o foco em um
momento de permanente transformação. “É a primeira vez na história
da humanidade que as gerações mais novas têm mais informações
que as gerações mais velhas. É a primeira vez que o aluno entra

128
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

na sala de aula e sabe tanto ou até mais sobre o tema do que o


professor”.

Com a possiblidade de pesquisar qualquer tipo de informação


por meio de um smartphone, o especialista em tendências disse que
vivemos em um período no qual a vida se mistura com softwares e
hardwares. “Quer a gente goste ou não, o mundo de hoje é o mundo
da conexão”, constatou, ao defender que os educadores precisam
estar preparados para lidar com essa mudança.

Ao traçar um panorama de algumas das principais tendências


para os próximos anos, Rasquilha chamou atenção para a
necessidade de tornar a educação mais interessante. Segundo
ele, esse caminho passa pelo empoderamento dos alunos, criação
de ambientes propícios para o compartilhamento de ideias,
transformação da escola em uma verdadeira experiência engajadora,
integração entre diferentes conteúdos e o uso da tecnologia. “Mais
do que enfiar goela abaixo o que o aluno vai estudar, temos que
trazer ele para perto”, afirmou.

De acordo com Rasquilha, há um descompasso muito grande


entre o que as instituições educacionais oferecem e o que os alunos
precisam para enfrentar alguns desafios da vida, como ingressar
no mercado de trabalho. “As empresas estão pedindo outro tipo de
pessoas, que não são aquelas que estão saindo das escolas ou
faculdades”, explicou. O especialista português ainda mencionou
que se as estruturas não mudarem, o caminho será a substituição
das universidades tradicionais por universidades corporativas.

“Nós entramos na escola, aos seis anos, com 98% de índice


criativo; saímos da faculdade, aos 23 ou 24 anos, com apenas 2%.
Hoje o que as empresas mais procuram são pessoas criativas,
inovadoras e com pensamento fora da caixa e nós, ao longo da
formação deles, estamos tirando isso e colocando todo mundo para
pensar da mesma forma”, refletiu Rasquilha. Segundo ele, diante de
todo cenário apresentado, há cinco recomendações que todos os
professores deveriam ter a obrigação de incorporar nas suas vidas: o
aprendizado mão na massa, estratégias rápidas de dar informações
e promover o engajamento, apresentação de conteúdos relevantes e
a quebra de fronteiras entre as matérias.

Para ilustrar a fala do especialista português, o professor


Marcelo Veras, iniciou a sua apresentação com uma situação

129
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

vivenciada na universidade. Enquanto dava aula de marketing


para uma turma de MBA, ao falar sobre um autor e mencionar que
não tinha certeza se ele ainda estava vivo, um aluno prontamente
pesquisou no seu smartphone e levantou a mão para compartilhar
as informações encontradas. Além de exemplificar a velocidade que
a informação pode chegar até a sala de aula, o caso apresentado
serviu para mostrar que conexão não é sinônimo de dispersão.

Autor e organizador do livro “Métodos de Ensino para Nativos


Digitais”, Veras reuniu algumas das críticas mais recorrentes entre
os professores durante encontros de formação. Entre elas, aparece a
reclamação de que esta geração, composta pelos chamados nativos
digitais, não sabe escrever corretamente e abrevia tudo. No entanto,
segundo ele, a própria palavra “você”, que hoje muitos adolescestes
escrevem com a abreviação “vc”, já representa uma redução de
“vosmecê” e “vossa mercê” na língua antiga.

“Eu estou vendo uma guerra travada por parte dos profissionais
de educação com essa nova geração. As pessoas não estão
entendendo o que está acontecendo”, contou. De acordo com
ele, para engajar os alunos desta geração, quatro pilares devem
direcionar a estratégia pedagógica: a exposição dos projetos
desenvolvidos pelos alunos, a competição, desde que realizada de
maneira saudável, a participação e a colaboração.

Na tentativa de entender como deveria ser a escola do futuro,


Veras participou de um estudo que ouviu alunos, professores e
pais de escolas parceiras do grupo Unità Educacional. Durante
o seminário, ele apresentou alguns resultados da pesquisa, que
traz respostas muito semelhantes entre os atores envolvidos:
um descontentamento com o currículo, os métodos de ensino, a
arquitetura da escola e o sistema de avaliação.

Entretanto, dá para ser inovador dentro de um setor que ainda


mantém estruturas muito conservadoras? Segundo ele, a resposta
é sim. No entanto, o professor deverá se reinventar para assumir
novos papéis, que envolvem a curadoria de conteúdos, o diagnóstico
cognitivo do que cada aluno aprende e a liderança de equipes,
porque o aprendizado deve se tonar cada vez mais participativo e

130
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

colaborativo. “O que está precisando mudar é o método”, concluiu,


ao mencionar que falta de tecnologia ou dinheiro não pode ser uma
desculpa para não inovar dentro da sala de aula.

FONTE: LOPES, M. Como ensinar uma geração que vive


conectada. 2016. Disponível em: http://porvir.org/como-ensinar-
uma-geracao-vive-conectada/. Acesso em: 1º dez. 2018.

Sobre o futuro das profissões também temos visto uma vasta discussão de
como a Revolução 4.0 poderá acabar com algumas profissões no futuro.

Procure pesquisar sobre o que está revolucionando a onda 4.0,


por exemplo, os robôs, as nanotecnologias, os drones, a big data,
a internet das coisas, as neurotecnologias, a inteligência artificial,
a biotecnologia, os sistemas de armazenamento de energia e a
impressora 3D.

Entretanto, o impacto dessa revolução que está em andamento poderá


gerar novas profissões. Fala-se muito sobre o perfil do novo profissional, que
poderá ter uma formação na graduação, mas também deverá ser multidisciplinar,
ou seja, você poderá ser formado em Ciências Sociais, mas também através
da construção de uma trilha de aprendizado poderá desenvolver seu métier
técnico. Assim, o futuro profissional deverá estar aperfeiçoando seu currículo
constantemente, podendo atuar em várias áreas ou inclusive numa só, mas com
um cabedal maior de conhecimento, não somente com aquele adquirido durante
o curso de graduação.

Por iguais razões temos visto também os profissionais da geração Baby


Boomer e X se credenciando e arriscando em jogos virtuais e games, é o caso
dos campeões mundiais de videogame, o time de jogadores formado apenas por
idosos aposentados. Reflita sobre a importância de nos mantermos atualizados
sempre, sem distinção, a idade hoje já não é mais algo negativo para aqueles
profissionais que eram considerados “cabeça branca”, muitos estão sendo
chamados novamente para contribuir nas empresas.

131
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

O time de jogadores de videogame formado


apenas por idosos aposentados

FIGURA 4 – SILVER SNIPERS

FONTE: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-44931632?ocid=socialflow_face-
book>. Acesso em: 19 fev. 2019.

Um time de jogadores suecos de videogame vem atraindo


milhares de seguidores no Twitch, plataforma on-line usada para a
transmissão ao vivo de partidas de games.

A faixa etária média do grupo, formado por aposentados, é de


67 anos - os mais velhos têm 75 anos.

Eles respondem pelo nome de “Silver Snipers” (atiradores


prateados) e foram uma das atrações no festival digital internacional
DreamHack, que aconteceu em junho, em Jönköping, na Suécia.

Viajaram vários quilômetros até Jönköping para jogar Counter


Strike: Global Offensive (CSGO) - um dos jogos de videogame mais
populares do mundo - diante de uma plateia imensa.

O grupo é integrado por Oivind Toverud, conhecido no circuito


como Windy (Ventania, em tradução livre), Abbe Drakborg, ou Birdie
(Passarinho), Inger Grotteblad, ou Trigger Finger (Rápido no Gatilho),
Per-Arne Indefors, ou Young Gun (Arma Jovem) e Monica Indefors,

132
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

ou Teen Slayer (Matadora Adolescente).

Encontro de gerações

FIGURA 5 – PLATEIA DE JOVENS ACOMPANHA PERFORMANCE DE VETERANOS

FONTE: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-44931632?ocid=socialflow_face-
book>. Acesso em: 19 fev. 2019.

O cenário é uma mistura de centro de convenções com


danceteria - grandes ambientes escuros, ao som de house music. De
vez em quando, flashes de luz rompem a escuridão. Vários palcos
encontram-se distribuídos pelas salas. Atrás deles, há telas imensas.

Reunidos em frente aos palcos, estão grupos de jovens - a


maioria, do sexo masculino. A idade máxima dos presentes não
passa dos vinte e poucos anos.

“Essa moçada jovem adora a gente”, diz Inger.

“Por onde andávamos (no DreamHack), eles pediam para tirar


foto. ‘Por favor, podemos tirar uma foto com vocês? Vocês são tão
incríveis, adoramos vocês’. Me senti uma estrela!”, completa.

Tommy Ingemarsson, treinador da equipe, reflete sobre o


fascínio que os veteranos exercem sobre o público jovem.

“Acho que alguns deles têm curiosidade em vê-los jogar.


Outros querem simplesmente se divertir, e outros vêm dar apoio aos

133
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

jogadores”, avalia Ingemarsson, dez vezes campeão do mundo em


Counter Strike, atualmente aposentado.

“Eles pensam: ‘Um dia também vou ficar velho e quero continuar
a jogar videogames’. Acho que há uma combinação de razões”.

Segundo ele, “a competição de games é para todos. Não


importa a idade, o gênero ou a nacionalidade”, acrescenta.

É por pensar assim que decidiu ser o treinador da equipe.

“Eu simplesmente adoro a ideia, e queria fazer parte. Claro que


foi um grande desafio, mas fiquei realmente surpreso, porque eles
tinham tanta vontade de aprender coisas novas. Você podia sentir a
paixão deles logo no primeiro treino”.

Cada um dos “Silver Snipers” tem, por sua vez, uma motivação
para o que faz.

A batalha dos veteranos

Os “Silver Snipers” viajaram para Jönköping para participar de


uma verdadeira batalha de titãs. Foram enfrentar seus arquirrivais, os
veteranos finlandeses “Grey Gunners”. Os dois times se digladiaram
pela primeira vez na capital finlandesa, Helsinque.

“Eles são o segundo time veterano no mundo. Nós somos


o primeiro. Eles jogaram muito bem (em Helsinque)”, disseram os
“Silver Snipers”.

O embate aconteceu diante de uma plateia lotada. Na sala


escura, enquanto as duas equipes jogavam, o público acompanhava
vidrado, em uma tela gigante, cada ação dos jogadores.

Eles acabaram sendo derrotados pelos “Grey Gunners” -


perderam por 16 a 1, mas não se deixaram abalar.

“Eles jogaram muito bem hoje, treinaram muito e nós não


jogamos bem o suficiente. Mereceram ganhar. Eu espero enfrentá-
los de novo, e aí nós vamos aniquilá-los. A gente também aprende
com a derrota”, disse Inger.

134
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

“Não sinto vergonha, me sinto apenas uma avó muito orgulhosa”.

Per-Arne também levou a derrota com bom humor: “Eu disse à


minha esposa: Sabe por que nós perdemos? Porque você não estava
ao meu lado. Da última vez (que jogamos), você estava sentada ao
meu lado”, e prosseguiu: “Mesmo perdendo, me alegra pensar que
conseguimos tocar a alma de uma ou duas pessoas. Eles vêm, nos
abraçam e dizem: ‘Da próxima vez, da próxima vez’, e é isso mesmo.
Pode esperar, estaremos de volta”, disse o veterano.

Eventos como o DreamHack acontecem em vários países do


mundo e acabam sendo um ponto de encontro para esse público
e uma indústria em expansão - um relatório recente mostra que a
indústria global de games gerou mais de US$ 100 bilhões em 2017.

Esse negócio bilionário tem, no entanto, um aspecto


preocupante. No início deste ano, a Organização Mundial de Saúde
(OMS) anunciou que vai incluir o vício por videogame na nova versão
da Classificação Internacional de Doenças (CID) - a lista oficial de
doenças publicada pela entidade, ou seja, o vício passará a ser
tratado como um transtorno de saúde mental.

Por outro lado, alguns estudos indicam que jogar videogame


- em particular, os que envolvem atividade física - pode trazer
benefícios à saúde física e mental, inclusive na terceira idade.

Segundo pesquisadores da Universidade de Montreal, no


Canadá, jogar Super Mario 64 em 3D pode ajudar pessoas de 55 a
75 anos a combater perdas moderadas de cognição e até prevenir o
Mal de Alzheimer.

Não sabemos se podemos dizer o mesmo em relação ao


Counter Strike: Global Offensive, mas Inger afirma que, para ela, o
CSGO apresentou um benefício especial: o game a aproximou da
família.

“Meus netos jogam bem e são meus treinadores pessoais.


Acabamos ficando mais amigos”.

135
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

CSGO: simples de entender

“Um campo de futebol virtual”. É assim que Ingemarsson define


o CSGO.

O jogo consiste em confrontos entre duas equipes, formadas


por “terroristas” e “contraterroristas”. Existem pontos no mapa que
você precisa proteger ou atacar.

Existem regras mais complicadas, mas o mais importante é o


seguinte: “O mais bacana do Counter Strike é que é muito fácil, até
para o espectador começar a curtir o jogo depois de pouco tempo”.

FONTE: BBC. O time de jogadores de videogame formado apenas


por idosos aposentados. 2018. Disponível em: https://www.bbc.
com/portuguese/geral-44931632?ocid=socialflow_facebook. Acesso
em: 1º jan. 2019.

As necessidades, os desejos e as expectativas das pessoas estão ligadas


às motivações, se o estado emocional do ser humano está alterado ou não, isso
tudo influencia no seu comportamento. Assim, atualmente, as gerações mais
novas que já estão adentrando no mundo do trabalho e na academia, buscando
não somente obter uma graduação e parar, ou seja, muitos jovens, diferente das
gerações anteriores (Baby Boomers, X e Y), estão se aperfeiçoando ao realizar
cursos rápidos, treinamentos, cursos técnicos, especializações, aprendendo outro
idioma e também em experiências internacionais, fato que é positivo para as
empresas e também para o desenvolvimento de um país.

Conheça as profissões que não serão


substituídas por robôs no futuro

Embora muitas profissões possam ser substituídas por


máquinas, alguns empregos ainda estão seguros devido a
habilidades essencialmente humanas.

136
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

FIGURA 6 – ROBÔS E IA

FONTE: <https://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2018/09/
conheca-profissoes-que-nao-serao-substituidas-por-robos-no-futuro.html?utm_
source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=post>. Acesso em: 19 fev. 2019.

Para especialistas, robôs e IA não serão capazes de substituir


profissionais em trabalhos que dependem de competências humanas.

De acordo com um estudo de 2017 do instituto de pesquisa


McKinsey Global Institute, 800 milhões de pessoas perderão seus
empregos para a automatização até 2030. Isso representa um quinto
de toda a classe trabalhadora do mundo inteiro. Em âmbito global,
pelo menos um terço dos trabalhadores precisarão se reinventar para
manter seus empregos. Pesquisadores da Universidade de Oxford,
nos Estados Unidos, analisaram as profissões dos trabalhadores
da América e chegaram à conclusão de que 47% dessas pessoas
têm grandes chances de perderem seus empregos para robôs nos
próximos 20 anos.

Por outro lado, pesquisas também apontam que 53% dos


trabalhadores dos EUA e quatro quintos da classe trabalhadora
global podem ficar tranquilos, porque os avanços da inteligência
artificial não serão uma ameaça. A Fast Company listou sete carreiras
que estão seguras das garras da automatização.

Empregos que requerem criatividade, como artistas e


músicos

Para Tom Pickersgill, o fundador e CEO da Broadstone, empresa


que utiliza a inteligência artificial e o aprendizado de máquina para
recrutar candidatos a empregos nos Reino Unido, todas as profissões

137
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

serão impactadas de alguma maneira pela IA, mas algumas não


serão substituídas pela tecnologia.

Pickersgill acredita que um desses empregos que podem estar


seguros do avanço das tecnologias são aqueles que envolvem
criatividade, o que inclui artistas, cantores e músicos. “Humanos
utilizam a sua experiência de vida, suas emoções e sua criatividade
para trazer vida às coisas”, diz. Em contrapartida, os robôs
necessitam de dados para poderem funcionar. “Eu não acredito
que esses tipos de dados podem produzir um trabalho genuíno
de arte que realmente poderá engajar o público, compartilhando
experiências, como uma pintura, uma melodia ou uma voz”, afirma o
CEO da Broadstone.

Trabalhos que envolvam resolução de problemas

As máquinas ainda não aprenderam a resolver problemas


complexos que envolvam soluções criativas e genuínas. “Ainda
que as máquinas tenham a habilidade de serem mais rápidas do
que qualquer ser humano, elas não conseguem fazer análises mais
profundas, nem têm especializações e o conhecimento necessário
para resolver problemas de produção”, conta Mark Williams,
responsável pelo projeto People First, que utiliza um software que
auxilia a produção humana.

Cabeleireiros

Mat Hunter, diretor do Central Reasearch Laboratory, um espaço


de coworking focado em tecnologia e aceleradores para startups de
tecnologia, já viu diversas empresas criarem todos os tipos de novas
tecnologias. A experiência lhe proporcionou uma visão mais ampla
do que as máquinas conseguem e, principalmente, do que elas não
conseguem fazer. Por isso, Hunter acredita que trabalhos como o de
cabeleireiro não serão automatizados, ao menos por enquanto. “Já
tentaram inventar máquinas que cortavam o cabelo sozinhas, mas a
tarefa requer prática e destreza, que é difícil de automatizar”, disse
Hunter.

Psicólogos e profissões que demandem um trabalho social

Outra profissão que será difícil de ser automatizada é aquela


que envolve o cuidado com a mente humana, acredita Pickersgill.

138
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

“As pessoas vão ao psicólogo porque necessitam de ajuda e de


amparo emocional e isso só pode ser feito por meio de uma interação
humana, por alguém que consegue sentir empatia e entender o
outro”, afirma. Segundo Pickersgill, a profissão está segura da
automatização, já que o psicólogo humano é capaz de ajudar a outra
pessoa com o auxílio de experiências compartilhadas e não somente
com uma lógica de base de dados, como as máquinas.

Professores

Ainda que a tecnologia possa servir de auxílio nas escolas, a IA


e os robôs não serão capazes de substituir os professores, afirma
Pickersgill. “As competências essencialmente humanas, empatia e
entendimento do outro são fatores cruciais para criar jovens bem
equilibrados e emocionalmente confiantes, e somente um humano
pode ensinar isso”, enfatiza Pickersgill.

Trabalhadores da área da saúde

A tecnologia vai sem dúvida melhorar a área da saúde cada


vez mais, aprimorando os tratamentos de doenças e aumentando
a expectativa de vida das pessoas. A tecnologia, contudo, não será
capaz de substituir os profissionais do ramo. Isso porque os robôs
não têm a capacidade de se conectar com os pacientes e nem de
fazê-los sentirem-se compreendidos, como os humanos fazem.

“Os trabalhadores da área da saúde necessitam de uma


inteligência emocional para se conectarem com os pacientes. Nem
os robôs mais sofisticados conseguem construir relacionamentos, ter
empatia ou mostrar outras formas de inteligência emocional a fim de
criar conexões pessoais com outros seres humanos”, diz Williams.

Cuidadores

Duvido que alguém deixaria que um robô cuidasse de seu filho,


provoca Pickersgill. Mesmo que os robôs consigam ser tão ágeis
quanto um humano e balancem um bebê chorando até que ele
durma em seus braços ou que ajudem uma pessoa idosa a trocar de
roupa, um ser humano não se sentiria confortável de ser cuidado por
uma máquina, acredita Pickersgill.

139
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

“As pessoas querem ser cuidadas por outros seres humanos. A


solidão é um dos maiores problemas, especialmente para um idoso,
e isso se deve ao fato de que somos humanos e necessitamos desse
tipo de interação”, afirma Pickersgill. Pela própria natureza robótica,
eles nunca seriam capazes de interagir com uma pessoa da mesma
maneira. “Tanto emocional quanto fisicamente os cuidados providos
por humanos são absolutamente vitais para garantir felicidade,
conforto e uma boa saúde mental”, conta.

FONTE: SIMÕES, D. Conheça as profissões que não serão


substituídas por robôs no futuro. 2018. Disponível em:
https://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2018/09/
conheca-profissoes-que-nao-serao-substituidas-por-robos-no-
futuro.html?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_
campaign=post. Acesso em: 12 nov. 2018.

O fato é que no mundo do trabalho e na academia já estamos verificando


esse convívio crescente de gerações, fenômeno que tem gerado novos desafios
às empresas e às instituições de ensino quanto à metodologia que deve ser
adotada para chamar a atenção e diminuir os conflitos no ambiente de trabalho e
na sala de aula.

Assim exposto, o esforço é cada vez maior em torno de criar um


comportamento ativo das pessoas no campo acadêmico e no mercado de
trabalho, deve-se criar estímulos que busquem inspirar para que sejam realizados
e alcançados os objetivos pessoais e profissionais.

Do ponto de vista de Cardieri (2007), as pessoas devem continuamente


reconhecer sua natureza incompleta, falha, mas cheia de potencial para
crescimento contínuo. Em tempos de mudanças constantes é exigido que
todo ser humano se atualize, bem como os gestores das empresas e equipes.
Isoladamente, as pessoas não conseguem fazer muito e, portanto, deve-se
investir na educação e no treinamento profissional, para isso, temos visto o
crescimento na utilização de metodologias ativas, mas o que são elas?

No texto de José Moran, o autor explica de forma didática e explícita sobre


as metodologias ativas e como elas podem transformar o currículo na educação.

140
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

Metodologias ativas para realizar transformações


progressivas e profundas no currículo

As metodologias ativas são caminhos para avançar para


um currículo mais flexível, mais centrado no aluno, nas suas
necessidades e expectativas.

As organizações educacionais que nos mostram novos caminhos


estão experimentando currículos mais flexíveis, mais centrados, em
que os alunos aprendam a integrar conhecimentos amplos, valores,
projeto de vida através de problemas reais, desafios relevantes,
jogos, atividades e leituras individuais e em grupo; presenciais e
digitais.

A maior parte das escolas e universidades quer mudar, mas


está presa na cultura disciplinar transmissiva e paternalista. Como
fazer essas transformações, na prática? Não há uma resposta
única, mas alguns caminhos fazem mais sentido, dependendo de
cada instituição, das condições em que se encontra, do percurso
de mudança já trilhado e da opção por mudanças mais rápidas ou
lentas, mais superficiais ou mais profundas.

Mudanças progressivas

Para a maioria das instituições educacionais, que já têm uma


cultura, história e processos definidos há tempos, as mudanças mais
viáveis são as progressivas. Partem dos modelos disciplinares para
níveis de interligação cada vez mais amplos.

A primeira mudança é dentro de cada disciplina, introduzindo


metodologias ativas, principalmente a aula invertida. Isso já permite
avanços rápidos, com o professor orientando mais atividades de
aprofundamento.

O caminho para avançar na integração é organizando algumas


atividades comuns a mais de uma disciplina: projetos comuns,
atividades integradoras, ampliando as metodologias ativas e os
modelos híbridos. A instituição pode propor o projeto de vida de
forma transversal, ao longo do curso. Esse eixo é importante para o
aluno desenvolver uma visão mais ampla do seu papel no presente

141
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

e no futuro.

O nível seguinte é o da integração entre as diversas disciplinas


através de um projeto mais amplo e outras atividades que façam
sentido. Essa integração também pode ser vertical, por áreas de
conhecimento semelhantes: alunos de semestres diferentes se
juntam em algumas atividades comuns, onde os mais veteranos
podem tornar-se tutores. A hibridização também aumenta com maior
inserção do digital.

A partir daí a instituição já estará mais preparada para


implementar um currículo muito mais integrador, flexível, com
foco em projetos, desafios, aprender fazendo e terá tido tempo de
acompanhar outras instituições que já implementaram currículos
mais ousados e que terão uma avaliação mais precisa do que vale a
pena trazer para a própria instituição.

Mudanças simultâneas

Uma forma de acelerar as mudanças sem pôr em risco a cultura


da instituição é começar a inovação em pequena escala, em uma
área que tem maior abertura, com gestores e professores mais
empreendedores. Esses projetos são acompanhados por todos,
avaliados para depois incorporar mais rapidamente os demais
cursos. Ir da experiência focada e avaliada para a estrutural é um
caminho que tem muitas vantagens: todos aprendem com o grupo
experimental e se preparam melhor para implementar um novo
projeto mais ousado.

O importante neste processo é que a discussão do projeto


inovador seja feita por toda a comunidade antes e acompanhado de
verdade durante a sua implantação.

Um exemplo atual está acontecendo na Catalunha, Espanha,


com o Projeto Horizonte 2020 dos Jesuítas, que após uma
discussão ampla de dois anos, chegaram a um consenso de um
novo modelo educacional, sem disciplinas e o estão implementando
progressivamente em duas séries em cinco escolas. Simultaneamente
continua o modelo convencional com o experimental no mesmo lugar.
Embora possa haver algumas tensões nesta transição, permite que
todos aprendam na prática ou no acompanhamento direto do que
acontece ao lado.

142
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

Transformações profundas

Alguns grupos, liderados por gestores visionários e


empreendedores, propõem mudanças profundas mais rapidamente.
Alguns exemplos são conhecidos no Brasil de escolas públicas
que, apesar das estruturas burocráticas, conseguiram implementar
currículos mais abertos, não disciplinares, baseados em roteiros de
aprendizagem, integração de alunos de vários anos.

O que impressiona nas escolas com desenhos arquitetônicos


e pedagógicos mais avançados é que os espaços são mais amplos,
agradáveis. Há escolas mais em contato com a natureza, que tem
vantagens inegáveis para projetos de ecologia de aprendizagem
mais integral (como o Projeto Âncora) , mas também há projetos
em comunidades carentes como o da Escola Municipal Campos
Salles, em que os alunos desenvolvem roteiros de aprendizagem
personalizados, em pequenos grupos, com o acompanhamento dos
Professores Tutores e o apoio dos dados da evolução de cada aluno,
fornecidos on-line por uma plataforma adaptativa.

Um dos muitos modelos interessantes para pensar como


organizar a “sala de aula” de forma diferente é olhar para algumas
escolas inovadoras. Por exemplo, os projetos das escolas Summit
(Summit Schools) da Califórnia equilibram tempos de atividades
individuais, com as de grupo; sob a supervisão de dois professores, de
áreas diferentes (humanas e exatas) que se preocupam com projetos
que permitam olhares abrangentes, integradores, sem disciplinas.
Acompanham o progresso de cada aluno (toda sexta-feira conversam
individualmente com cada aluno) e cada aluno tem um Mentor, que o
orienta no seu projeto de vida. Os alunos fazem avaliações quando
se sentem preparados. As competências socioemocionais são muito
enfatizadas, assim como o desenvolvimento de atividades e projetos
em organizações fora das escolas.

O ambiente físico das salas de aula e da escola como um


todo também foi redesenhado por estas escolas mais inovadoras,
mais centrado no aluno. As salas de aula são mais multifuncionais,
combinam facilmente atividades de grupo, de plenário e individuais.
Os ambientes estão cada vez mais adaptados para o uso de
tecnologias móveis.

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Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

Outro conjunto de escolas interessantes são as escolas públicas


High Tech High que lembram laboratórios multiuso, onde os alunos
vão da ideia à realização e apresentação dos seus projetos, com
apoio de ferramentas físicas e digitais, entre elas as impressoras
3D. Há uma ênfase na cultura do fazer (cultura maker) e nas
competências socioemocionais.

No Ensino Superior a área de saúde foi pioneira em trabalhar


com solução de problemas (PBL), já na década de 1960 através da
Universidade McMaster, no Canadá e a Universidade de Maastricht
na Holanda (CYRINO; TORALLES-PEREIRA, 2004). Muitos
cursos de Medicina trabalham com problemas e também muitos
cursos de Engenharia adotam a Metodologia de Projetos, como o
Olin College e, no Brasil, o Insper. Instituições inovadoras, como o
Institute of Design de Stanford admitem alunos de todas as áreas
de conhecimento e desenvolvem projetos criativos através da
metodologia do Design Thinking.

Outra proposta interessante é a da UniAmérica, de Foz de


Iguaçu, que aboliu em cursos, como o de Biomedicina, Farmácia e
as Engenharias, a divisão por séries e o currículo não é organizado
por projetos e aula invertida. “Ao tirar a divisão por disciplinas,
orientamos todas as competências necessárias através de projetos
semestrais temáticos. O aluno escolhe um problema real de sua
comunidade ou região para trabalhar os temas daquele período”. As
aulas expositivas também foram abolidas. Agora, os alunos estudam
os conteúdos em casa, ou onde preferirem. São disponibilizados em
uma plataforma on-line vídeos, textos e um conjunto de atividades às
quais os estudantes devem se dedicar antes de ir para a aula. Essas
atividades são de dois tipos: um primeiro de fixação e garantia de
compreensão do conteúdo, e outro de problematização, que estimula
a pesquisa e a transposição do conhecimento para problemas reais.
Com isso, o tempo em sala de aula é usado para que os temas
sejam debatidos mais profundamente e também para a realização
dos projetos do semestre.

FONTE: MORAN, J. Metodologias ativas para realizar


transformações progressivas e profundas no currículo.
[s.d.]. Disponível em: http://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/
uploads/2013/12/transformacoes.pdf. Acesso em: 22 nov. 2018.

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Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

Para saber mais sobre esse assunto, sugerimos o livro


Metodologias ativas para uma educação inovadora, de Moran.
FONTE: MORAN, J. Metodologias ativas para uma educação
inovadora. Coordenação Lilian Bacich. Porto Alegre: Penso, 2017.

Enfim, todo docente deve desenvolver práticas pedagógicas relacionadas às


chamadas metodologias ativas de ensino e aprendizagem contextualizadas com a
realidade do ensino em nível de Graduação, Fundamental ou Médio.

No caso da UNIASSELVI, com a adoção de metodologias ativas nos cursos


de graduação, a Instituição personaliza e humaniza o seu ensino, estimulando
a comunicação, a colaboração, a inovação e o pensamento crítico reflexivo do
seu corpo docente e discente, permitindo em suma correr riscos e se aperfeiçoar
constantemente.

Intencionalmente, várias startups brasileiras já estão desenvolvendo


tecnologias para o mercado da educação nacional, o uso de plataformas on-line
vem crescendo e transformando o modelo tradicional de educação.

De modo geral existem diversas ferramentas que podem auxiliar os docentes


no processo de ensino e aprendizagem, inclusive o computador é um deles, outro
pode ser o celular, que tem sido um excelente aliado em algumas disciplinas,
como nas aulas de Geografia.

Como consequência do uso do computador em sala de aula, os softwares


educativos usados na educação tem possibilitado uma nova realidade,
professores e alunos estão ampliando suas potencialidades de capacitação e
aperfeiçoamento, e isso não ocorre somente na Educação Superior, o Ensino
Fundamental e Médio também já estão com um olhar no uso desses softwares,
por exemplo, com a utilização das aulas de robótica.

Os softwares podem ser considerados programas


educacionais a partir do momento em que são projetados por
meio de uma metodologia que os contextualizem no processo
ensino-aprendizagem. Desse modo, mesmo um software
detalhadamente pensado para mediar a aprendizagem pode
deixar a desejar se a metodologia do professor não for adequada
ou adaptada a situações específicas de aprendizagem
(VESCE, 2018, s.p.).

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Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

No Quadro 1 apresentaremos algumas plataformas que estão sendo


utilizadas no Brasil e em outros países. Aproveite e dê uma navegada em cada
uma delas, não esqueça de pesquisar na plataforma Google o endereço completo
do site.

QUADRO 1 – PLATAFORMAS EDUCACIONAIS


Em português Em inglês
Edmodo Celly
A rede social ajuda os professores a compartilharem É uma rede social na qual o professor pode se
material multimídia, organizar fóruns, gerir projetos comunicar com seus alunos por mensagens de texto,
educacionais, estabelecer calendário de atividades, e-mail ou chat. Com ela, pode fazer enquetes ou até
dar notas e condecorações aos alunos e acompa- mesmo programar lembretes para os alunos.
nhar sua frequência e participação nas atividades.
A plataforma chegou este ano a 12 milhões de Education Labs
usuários. A ferramenta, desenvolvida pela Microsoft, ajuda na
preparação de exercícios variados dentro de uma
Evernote mesma matéria. O professor cria, por exemplo, um
É um aplicativo que pode ser utilizado pelo professor modelo de problema que os alunos precisam resolver
para gerenciar e organizar os temas de cada aula. A e, automaticamente, a ferramenta gera uma série de
partir do próprio celular, ele pode criar notas, salvar exercícios que seguem a mesma lógica e o mesmo
pesquisas, gravar áudios e organizar os materiais nível de dificuldade.
de aula. Além disso, ao adicionar qualquer recurso
a sua conta, a agenda é automaticamente sincroni- Educreations Interactive Whiteboard
zada e disponibilizada em todos os computadores, O aplicativo, disponível para download no iTu-
telefones e tablets que o professor usar. nes, transforma o iPad do professor em uma lousa
digital gravável. Por meio dele, é possível criar víde-
História Digital os, trabalhar animações, gerar gráficos e desenhos
O blogue ajuda professores de História a prepara- ilustrativos que podem ir do recorte de um vulcão em
rem suas aulas a partir de resumos de matérias, erupção até uma estrutura de DNA.
videoaulas, jogos, visitas virtuais em 3D a museus
e outros ambientes, além de exercícios específicos Facing History and Ourselves
para pré-vestibulandos e concurseiros. A plataforma reúne gratuitamente recursos, como
publicações, planos de aulas, vídeos, listas de
Redu livros e outras dicas que auxiliam os educadores a
A plataforma contém materiais de ensino e aprendi- encontrar melhores formas de trabalhar a história
zagem que estão em domínio público e que podem com seus alunos e, especialmente, a lidar com temas
ser utilizados em qualquer disciplina. No site, o relacionados à injustiça.
professor encontra conteúdos educacionais de
Ensino Fundamental, Médio e Superior. O educador Edutopia
também pode criar ambientes virtuais de aprendiza- Neste site, o professor pode encontrar diferentes
gem gratuitos. Em breve, será possível ainda utilizar conteúdos - divididos por níveis de escolaridade (da
diferentes recursos educacionais abertos dentro Educação Infantil ao Ensino Superior) e organizados
desses ambientes. por meio de comunidades (arte, música, teatro,
educação especial, entre outros). A plataforma reúne
ferramentas e recursos, como dicas, conferências,
vídeos, depoimentos, grupos e blogues por áreas
temáticas.

146
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

Rived LearnZillion
A Rived (Rede Internacional Virtual de Educa- A plataforma oferece recursos gratuitos em vídeos que
ção) é uma plataforma desenvolvida pela Seed orientam o professor a aprimorar técnicas para o ensino
(Secretaria de Educação a Distância), do Minis- de Matemática (do Ensino Fundamental ao nível Supe-
tério da Educação, que reúne conteúdos de nove rior), Língua Inglesa e Artes. Os professores também
disciplinas diferentes, como Física, Química ou podem baixar slides com conteúdos ou aprender como
Biologia, desde o nível Fundamental ao Superior. criar calendários para gerenciar suas atividades.
O professor pode pesquisar os materiais por
nível de escolaridade e disciplina ou até mesmo Teachers pay Teachers
por palavra-chave. Além disso, os recursos estão A plataforma é uma espécie de “mercado aberto” que
disponíveis para download. permite aos professores encontrarem gratuitamente,
comprar ou vender recursos educacionais entre si. Os
materiais são diferenciados por níveis de escolaridade e
disciplinas específicas.

FONTE: Adaptado de Lopes (2016)

Encerrando esse nosso último capítulo, gostaríamos de lembrar que o ensino


tradicional está mudando, o professor cada vez mais passa a ter um papel diferente
em sala de aula. Também ao aluno não cabe apenas o papel de memorizar o
conteúdo e depois reproduzir na avaliação, a parceria hoje é fundamental entre
todos os atores que atuam na educação e principalmente em sala de aula.

Nossa missão em discutir sobre o futuro da educação com a revolução digital


que vem ocorrendo não se encerra por aqui, lembramos que as mudanças que
estão ocorrendo na educação e no mundo do trabalho não param, todo dia vemos
novos recursos digitais e softwares sendo desenvolvidos. Não pare de pesquisar,
se atualize, busque acessar e utilizar essas ferramentas, elas podem contribuir em
muito para que uma aula seja bem dada em sala ou posteriormente ao conteúdo
apresentado e discutido na disciplina que estamos estudando. Bons estudos!

1 Com a Revolução 4.0 estamos vivenciando mudanças constantes


no mundo do trabalho. Do ponto de vista da Inteligência Artificial,
da inovação e da criatividade, vários estudos já apontam que
teremos duas tendências mundiais. Sobre o exposto, assinale a
alternativa CORRETA:
a) ( ) As profissões puramente operacionais serão substituídas, mas
a máquina não substitui a capacidade do pensamento humano.
b) ( ) A escrita e os empregos na área de educação desaparecerão.
c) ( ) A capacidade de uma pessoa criar nas empresas e as horas de
trabalho home office diminuíram com o passar dos anos.

147
Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais

d) ( ) As funções operacionais executadas pelo ser humano


aumentarão. A máquina ficará com a função de criar e gerenciar
os empregos.

2 O Relatório do Fórum Econômico Mundial de Davos divulgado


em 2019 aponta algumas habilidades profissionais importantes
para o ano de 2020. Dentre elas, podemos destacar duas
características importantes. Quais são?
a) ( ) Pensamento inovador e criatividade.
b) ( ) Pensamento não crítico e analítico.
c) ( ) Capacidade de resolução de problemas simples e liderança
autocrática.
d) ( ) Ter Inteligência emocional e evitar correr riscos.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Finalizando o Capítulo 3 e o material de estudos da disciplina de Recursos
Digitais: Softwares Educacionais, podemos afirmar que o nosso desafio é gigante
frente aos novos desafios que a velocidade das mudanças tecnológicas provoca
no nosso cotidiano.

Assim, os profissionais e as empresas precisam ficar atentos à transformação


digital. Nesse sentido, o pensamento coletivo deverá predominar no âmbito
universitário e dentro das empresas. A tecnologia tende a incorporar às pessoas, e
as relações sociais e de trabalho exigirão o aprendizado constante, com currículos
mais dinâmicos nas universidades e o surgimento de novas profissões.

As reflexões aqui apresentadas tiveram como objetivo nos tornar melhores


estudantes e profissionais, o desafio foi lançado, cabe a cada um de nós estarmos
atentos e cônscios da necessidade de mudança e do aprimoramento técnico e
científico. Construa sua trilha de aprendizado e busque ser reconhecido como um
profissional interdisciplinar, inovador e criativo, desejamos sucesso. Bons estudos!

148
Capítulo 3 EXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÕES NA EDUCAÇÃO

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