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capítulo 4

PERIODIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO
PSÍQUICO À LUZ DA ESCOLA DE
VIGOTSKI: A TEORIA HISTÓRICO-
-CULTURAL DO DESENVOLVIMENTO
INFANTIL E SUAS IMPLICAÇÕES
PEDAGÓGICAS

Juliana Compregher Posqualini

Introdução
presente exposição foi elaborada para compor a mesa-
-redonda “A análise histórico-cultural do desenvolvimen
to infantil: teoria, pesquisa e implicações pedagógicas’~ no
congresso Infância e Pedagogia Histórico-Crítica, realizado na
Universidade Federal do Espírito Santo (UFE5) em junho de 2012.
A referida mesa teve como objeto o desenvolvimento psíquico in
fantil analisado com base na perspectiva histórico-cultural, bus
cando: apresentar alguns dos princípios fundamentais da teoria
do desenvolvimento infantil sistematizada pelos autores da Esco
la de Vigotski, derivar dessa teorização implicações para a ação
Junana ca~upregJzerPasquaIini Infância epedagogia histórico-crítica

pedagógica orientada pela perspectiva histórico-crítica e refletir processo pedagógico. Psicologia e pedagogia devem, portanto,
sobre os caminhos e possibilidades da pesquisa científica nesse ser pensadas em unidade.
campo. Nossa contribuição especifica, nesse contexto, centrou- Essa proposição se faz importante como ponto de partida
-se na análise do problema da periodização do desenvolvimento dessa exposição dada a necessidade de se combater e superar o
infantil e sua relação com o processo educativo. que chamamos de psicologização da educação. O conhecin3ento
Uma primeira colocação importante a se fazer, nesse sentido, é psicológico não tem primazia sobre outras modalidades de co
compreender que a análise sõbre o problema do desenvolvimento nhecimento no campo da educação e não substitui os conteúdos
infantil implica colocar em questão a relação entre psicologia epe específicos da pedagogia. Ao fazer essa afirmação, estamos de
dagogia. Temos pensado essa relação com base na formulação do marcando uma posição pedagógica e política.
psicólogo soviético S. L. Rub~hstein, citado por Davídov (1988), A defesa da primazia do conhecimento psicológico vincula-
segundo o qual essas duas ciências se relacionam de tal modo que -se a uma concepção naturalizante de desenvolvimento, que
o objeto de uma é condição para a outra. entende o trabalho pedagógico como um acompanhamento do

1 A psicologia não tem como objeto o processo pedagógico e


a organização do ensino. Como explica Rubinstein, o objeto da
psicologia do desenvolvimento são as leis que regem o desenvol
processo natural de desenvolvimento do indivíduo, respeitando
ou adaptando-se a suas fases ou estágios. Nessa concepção, o co
nhecimento das fases naturais do desenvolvimento seria o mais
vimento do psiquismo da criança. O objeto da pedagogia, por sua importante para que o professor pudesse adaptar as atividades
vez, é o processo pedagógico propriamente dito, ou seja, as leis pedagógicas às características de cada fase.
especificas da educação e do ensino. Mas como, então, se relacio A concepção histórico-cultural do desenvolvimento humano
nam essas duas ciências? nos conduz a um questionamento dessa forma de pensar as rela
Não é possível compreender a lógica interna do desenvolvi ções entre desenvolvimento e ensino. Em oposição à tendência de
mento psíquico infantil desvinculado dos processos educativos. esvaziamento da formação docente e de valorização do conheci
mento tácito, defendemos a importância de uma sólida formação
1 Tomar o desenvolvimento psíquico como objeto da psicologia
implica compreender que o processo pedagógico constitui uma teórica desse profissional, apoiada em conhecimentos filosóficos,
condição para o desenvolvimento.psíquico, ou seja, o desenvol históricos, sociológicos e metodológicos. Entendemos o profes
vimento somente se produz como resultado dos processos edu sor não como um prático, mas um intelectual, sendo a ciência
cativos. Ao mesmo tempo, a compreensão das leis que regem o psicológica um dos conteúdos fundamentais que compõem a for
desenvolvimento psíquico constitui uma condição fundamental mação docente.
para o próprio processo pedagógico, na medida em que o ensi A psicologia oferece à educação uma contribuição fundamen
no incide sobre diferentes níveis de desenvolvimento psíquico da tal ao proporcionar a compreensão cientifica do sujeito da edu
criança. Compreender o kncionamento psíquico infantil a cada cação: quem é a criança? Como ela se relaciona com o mundo
período do desenvolvimento e o vir a ser desse desenvolvimen em cada momento de seu desenvolvimento? Como se estrutura
to se coloca como condição para o planejamento e condução do o psiquismo infantil e quais suas possibilidades de desenvolvi-

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Juliona Casnpregher Pasqualini

J Infância e pedagogia histórico-crítica

-guia (salto qualitativo) que caracterizará a transição a um novo


estágio.
Quais seriam, então, as atividades que guiam o desenvolvi
E1 a qual apresentaremos a seguir, tendo como base o texto~”Sobre el
problema de la periodización del desarroilo psíquico en la infan
cia” (ELKONIN, 1987).
mento psíquico em cada período? Quais as principais mudanças Nosso ponto de partida para compreender essa teoria será
qualitativas que marcam o desenvolvimento infantil? o diagrama elaborado pelo professor doutor Angelo Antonio
Abrantes, docente do Departamento de Psicologia da UNE5P/
Bauru, que materializa uma síntese do modelo teórico da peno
Periodização histórico-dialética do dização do desenvolvimento.
desenvolvimento psíquico periodização do desenvolvimento psíquico

Adentramos, neste momento, ao estudo da periodização Primeira infância mESada Adolescência


histórico-dialética do desenvolvimento psíquico. Se assumimos
que o desenvolvimento é um processo histórico-cultural, isto O ±1 ±3 ±6 ±10 ±14 ±17
é, que não segue um caminho natural pré-determinado mas se
produz no interior de condições históricas e culturais particula Primeiro ano
Primeira
- - .
Idade - Idade Adolescênda .
Ado!esceruoa
-
infanoa pré-escolar escolar inicial
res, não é possível identificarmos fases naturais e universais do
desenvolvimento que comporiam nosso “ciclo vital’: A sequên Cnse ~meJ ~c~) ~ ~
cia e o conteúdo dos estágios do desenvolvimento não só se alte
ram mas se produzem historicamente, com a mudança do lugar comun~Q~aO Atividade Jogo de Atividade comunicaçao Atividade
.0 emooonal — objetal - — —. profissional!
pepeis de estudo intima pessoal
ocupado pela criança no sistema de relações sociais. Não é, por •≥
Z
E
direta manipulatoria estudo
tanto, a idade cronológica da criança que determina o período
~Atets~o- lhtelectual- AfetivO iqudectual- Afetiva- 1intelectuaj-
do desenvolvimento psíquico em que ela se encontra, razão pela ~ ~1-emodonal -cogniuvo an~ooon~1 cognit~o~ —esnoopnal - -cogndwo
~.t)eoiv9- Phç5eoi.59- ~PÁ~aecraiip- mi*Mse- asaçae
qual todas as referências que fazemos a idades ao discutir a pe J&dOCt~

1 — ,_,.
riodização são relativas e historicamente condicionadas. Elaborado por: Angelo Antonio Abrantes, Departamento de Psicologia, Faculdade de
Ainda que não seja possível identificar fases naturais e uni ciências,
UNE5P compus Bauru, 2012.

versais, o desenvolvimento psíquico processa-se por períodos Exploremos o diagrama. Nele aparecem os conceitos funda
que se sucedem, ou seja, a periodização do desenvolvimento tem mentais da periodização histórico-dialética do desenvolvimento:
existência real, colocando-se o desafio de se elaborar uma teoria época, período, atividade dominante e crise.
capaz de captar a lógica interna desse processo de um ponto de Podemos visualizar três épocas: primeira infância, infância e
vista histórico e dialético. O psicólogo soviético Daniil B. Ellconin adolescência. Cada época é constituída de dois períodos. Aqui
assumiu esse desafio e elaborou uma teoria da periodização do podemos notar a repetição de alguns termos para nomear épocas
desenvolvimento psíquico à luz da concepção histórico-cultural, e períodos: primeira infância e adolescência. A época primeira in

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Ia)lana Carnpregher Pasqualini Ii~Ji~rcia e pedagogia histórico-crítica
1
fância constitui-se dos períodos «primeiro ano de vida” e «primei
ra infância’: A época infância constitui-se dos períodos “idade pré-
-escolar” e «idade escolar’: Por fim, a época adolescência constitui-
41 senvolvimento intelectual/cogniüvo por meio da apropriação dos
procedimentos socialmente elaborados de ação com os objetos da
cultura. Alternadamente, portanto, ganham relevo para a criança o
-se da adolescência inicial e da adolescência. Essa configuração das “mundo das pessoas” e o “mundo das coisas’ A cada nova época,
épocas constituídas por dois períodos não é aleatória, mas busca a criança novamente se volta para o mundo das pessoas, mas es
captar a lógica interna do processo de desenvolvimento. tabelecendo uma relação qualitativamente superior em função do
Avancemos no entendimento dessa lógica interna. Podemos desenvolvimento de sua atividade e consciência. A criança não é
observar no diagrama, como já indicamos anteriormente, que cada mais a mesma, embora também continue sendo a mesma.
período é marcado por uma determinada atividade dominante. A Resta ainda discutir o conceito de crise, que aparece repetida-
comunicação emocional direta com o adulto é a atividade dominante mente no diagrama. Como vimos no início deste texto, cada novo
no primeiro ano de vida. No período primeira infância, a atividade período do desenvolvimento representa uma mudança qualitativa
objetal manipulatória conquista o posto de atividade dominante. na relação da criança com o mundo. A transição a um novo perío
Os períodos seguintes são marcados pelojogo de papéis e atividade do, que representa um salto qualitativo, configura um momento
de estudo. Por fim, na adolescência, a comunicação íntima pessoal crítico do desenvolvimento. É o momento da revolução, em que
e a atividade profissional/de estudo são as atividades que guiam o mudanças bruscas se processam em um curto período de tempo,
desenvolvimento psíquico. produzindo uma reorganização do psiquismo.
Para entendermos por que cada época se constitui de dois di Olhemos agora mais detidamente para cada período do desen
ferentes períodos, precisaremos atentar para a base do diagrama, volvimento que antecede o ingresso da criança na escola de ensino
que faz referência a duas esferas do desenvolvimento humano, que fundamental, para compreender o processo de desenvolvimento
embora, diferentes, existem em unidade: a esfera afetivo-emocional da atividade da criança e formação de novas atividades que fazem
e a esfera intelectual-cognitiva. A hipótese de Elkonin é que alguns avançar o psiquismo.
períodos do desenvolvimento se relacionam mais diretamente à O o ~ ~

esfera afetivo-emocional, tendo prevalência o sistema de relações ~


U~:f ‘~ 1 ~

criança-adulto social, ao passo que outros se relacionam mais di Pri~mei~rõ ano de vida: a comunicaçao
retamente à esfera intelectual-cognitiva, ganhando prevalência o
sistema de relações criança-objeto social.
emocional direta com o adulto
~ ~ c2j~ O~,-~
Podemos notai a partir do diagrama, que no primeiro período
domo o psiguisii~o se relaciona comornundo ~p_p~meiro
de cada época tem prevaléncia a esfera afetivo-emocional, ocorren
ano de vida? Quais as 4~t~pç~jyçis nesseyeríodo?
do intensamente a formação de necessidades e motivos com base
Ao nascer uma criança, coloca-se a necessidade objetiva de
na apropriação dos sentidos fundamentais da atividade humana, atenção e cuidados por parte dos adultos. Em função da insufi
de seus objetivos, motivos e normas subjacentes às relações entre ciência dos mecanismos de adaptação do organismo ao nascer, a
as pessoas; no segundo período, ocorre mais intensamente o de- satisfação das necessidades do bebê encontra-se na total depen

80 -~ ~ ~

W~;-4o etçy -ççeALvo vrvas. t.cw.o


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Juliana Carnpregher Pasquabui •1
1 ~• o ° ~r ~
Inf~tncja epedngogia~histórjco.crftka —

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dência do adulto. A criança expressa seus estados emocionais e
dessa forma tem suas necessidades atendidas pelo adulto. 14 ‘~ O€vro ~V:tr~~/ ~Jc~CL -ç~Uír~-jjOj2~Â~o’.’(
à expressão mútua de emoções que a criança e o adulLo dirigem
um ao outro (não existindo ainda comunicação verbal entre dois

‘~
Inicialmente o bebê é incapaz de estabelecer uma efetiva co sujeitos), como explica Lísina (1987), colaboradora de Elkonin.
municação com o adulto e apenas manifesta desconforto de forma
difusa ou desorganizada, por meio do choro, de gritos, choramin
4Cz gos, gestos e movimentos. Mas paulatinamente vai construindo
-se outro tipp4ç relação entre o bebe e o adulto Mediante as
1~ Assim sendo, o processo de comunicação entre bebéeadulto não
s~rç~p~sàquflo que o adulto dizpara o bebê, mas às trocas
afetivas entre adulto-bebê de forma mais ampla.
o a~s do adulto dirigidas ao bebê, elevai progressivamente to
mando parte de uma atividade de comunicação corno adulto. 1 Nesse período do desenvolvimento, a base da consciência do
bebê é centralmentep çetivaeemocional Trata-se de um psi
quismo ainda indiferenciado, em que as funções psicológicas se

J
~ ~: 4~~ções do adulto vão introduzindo a criança em uma esfe
apresentam ainda indiferenciadas entre si e atuam de forma im
rade novas inter-relações, em que ela se converte em sujeito de
bricada. Seu funcionamento psíquico caracteriza-se pela unidade
un~arelacão~!ão. O adulto atrai a criança à comunicação e engendra a entre percepção-emoção-ação, ou seja, trata-se de um psiquismo
necessidade de comunicar-se, inexistente como tal nas primeiras
ainda fundamentalmente assentado em funções psíquicas na
‘~emanasdevida o ~ ~_ ~tn_ S~
turais elementares e, portanto, involuntário eç~pontân~p~qye
Se essas condições forem g~rantidas, se fo~mará~no bebê a ati
responde de modo imediato à estimulação do meio. O que fará
vidade de comun~ç~çgo emocional direta como adulto. O chamado
avançarodesenvolvimento&sfuõ~psjqu~s do bebê é jji~t~a
• complexo de animação, ~
mente a atividade de cornunic~ção_como adulto. Elkonin (1987)
pressam o contentamento do bebê diante da~resença do adulto
afirma, nesse sentido, que todas as aquisições da criança nesse
/ cuidador (envolvendo a concentração no adulto, o sorriso, as ex ti
período dependem da influência imediata dos adultos.
clamações e uma excitação motora geral), é ~çpresentativo dessa
O que tem centralidade nesse período do desenvolvimento,
~‘ conquistada criança. Não se trata de uma mera reação ao adulto, portanto, éa relação social entre bebêeadulto (mundo das pes
mas de uma ação comp~~~igidaao outro. Pela primeira vez os
soas): o adulto éocentro da situação psicológica p~aobebê. Ao
atos da criança “estão dirigidos a outras pessoas e [são] modelados
m.ç~emo,sfpo~~çan~ sobre arelaçãpcriança-adufto
por elas” (MESQUITA, 2010, p. 75). 1èp~osaoi4~fpp~çâodaspre-
no primeiro ano devida, facilmente percebemos q~ç ela é media-
missas mais fundamentais da atividade social humana.
da por objetos (seja pela fralda ou pelo brinquedo). O adulto não
Ao analisar o desenvolvimento humano a partir da perspec
somente satisfaz a~ necessidades da criança, mas organiza tam o.
tiva histórico-cultural, tatamos que a comunicação com
bém seu contato com a realidade. No processo de comunicação,
oj duRos c~m o outrg) é a c ondição mais iipportantepara o
o adulto apresenta objetosàcrian5a, os movimenta, estimula su&
p~qçesso de humaniz~ção da criança. No primeiro ano de vida,
a~jpjç~pJp~kaj~o. É no interior da atividade de comunica
começa a formar-se esse processo de comunicação. Mas a comu
~ forma
nicação no primeiro ano tem uma peculiaridade: trata-se, ainda,
a~ç4çssensório-motorns,de orientaçgpjp~anipulação,ou seja,
de uma comunicação~que tem caráter emocional, pois se reduz
as ações com objetos começam a formar-se justamente a partir
- _r~vc/_, ~ .1
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Jziliaiia Campregher Pasqualini Infáncia epedagogia histórico-crítica — ia.
ffljt(McC.<2 OVA~J~VL _~&cLct 4 ,j-/J.~»~~)yJ’) fl,fl., O ~,t-cb_- v~i

-, ~ Y~rccÇL c*r2. ~
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da comunicação com o adulto. Essa é mais uma razão para ca


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convertendô-se em pÇ~ÇÇQÇã6 generalizk~_do mundo: com o ~i~’r(J ~


racterizarmos a comunicação com o adulto como atividade-guia surgimento das primeiras generalizações no campo da lingua- ~~õ&rY
4çprimeiro ano de vida: a partir dela tomam forma outras ativi gem, a criança passa a perceber os objetos no interior de um todo
dades. Mas nesse momento a ação com objetos aparece já como que possui, para além de suas propriedades físicas, um determi- ~‘~“~S~° -

uma linha acessória do desenvolvimento. ~ ~ ~J0~d-~- ‘p~~ nado sentido social. Esse desenvolvimento é guiado pela ativi
A partir da segunda metade do primeiro ano de vida, e~sa li dade objetal nianipulatória, a atividade dominante na primeira ~
nha acessória entra em ascensão, como evidenciado na pesquisa infância. i?
de Magalhães (2011). Com o acúmulo de p~q~enasegraduais Trata-se de um período em ~ue tem preponderância odesen
conquistas da cria~a, ao rimeiro ano de vida se produz volvimento da esfera das possibilidades operacionais técnicas da
uma mudança no tipp de relação da criança com o adulto e com J sri~a.O que está em questão é assimilar os modos socialmente2 ~
os objetos. A comunicação emocional direta “criança-adulto”
elaborados de ações com objç~. Se anteriormente tinha ceií.~ÂM\Cøfl~
cede lugar à indireta «criança-ações com objetos-adulto’
tralidade arelação criança-adulto social, mediada pelos objetos,
A ação com objetos, que nasceu no interior da atividade de co ir agora ganha destaque a relação ~ das
municação emocional com o adulto, desponta agora como ativi
coisas), mediada pelo adulto. ~
dade dominante. A comunicação com o adulto, por sua vez, não
Como vimos, já no primeiro ano de vida se inicia a mani
desaparece, mas muda de qualidade. Ela perde a importância de
pulação primária de objetos, mas naquele momento acrian~ z
guia do desenvolvimento psíquico, mas firma-se como a base do
r~gona-s~~penas com as propriedades externas das coisas
desenvolvimento subsequente (MESQUITA, 2010).
ay~p~arr~flnoviIflema os o~jetos, mas manipula um lapis ~S”~J~
~ Na ~
primeira infância, começa a formar-se uma nova atitude perante ~ -

Primeira infância: a atividade os objetos: estes apresentam-se coo instrumentos que têm uma
objetal manipulatária fprma determinada para seu uso, uma função desig~4gp~laex %~
i
-

social.
A crjança a4ep~raa imeira infância, erío do que vai apro A particularidade da atividade objetal manipulatória é, por- ~ ~
ximadamente dos 3ano~çjeidade. O que caracteriza a si tanto, que por meio dela a criança se aprppr~Àaffinãq~ocial ~
tuação social de desenvolvimento da criança nesse período é o dn~objeto. dç seu sigpffic~o. Num primeiro momento, ou numa
que Vygotski (1996) chama de dependência da situação. Por essa primeira fase dessa apropriação, a criança faz um uso indiscri- -
razão, quando analisamos o funcionamento do psiquismo da minado do objeto, realizando com ele ações quaisquer que ela já
<~-~ criança, Vigotslci afirma ue ela se encontra como se estivesse em
domina (chacoalha, bate etc.); num segundo momento,acria~çà
§ pqder das mipressões externas ou seja, a criança ainda e”refern busca apjgpjj~-se dafraçjq.çspecífica do objetQ. rep~iE~o ~
~ Na medida em que vai apropriando-se ~ via da imi
da linguagem, apç~ç~pç~pj~rian a vai sendo reorg~aad3,
kç~4~~nsij~. Ellconin (1987) afirma que, nesse momento, a
ri
J&jLt~ J~_’ ~ ~rn~i~J ~ LG\~tc~ ~} ~ o~ ~ -~•-~-.-~ ~- ~

84 ,~
- -~ - - —-- - 85
~ ~ ~ot~t~ c~ 1 ~ ~ d o -
Juliana Carnpregher Fasqualini
1 h~fd,zcia e pedagogia histórico-crítica

1
criança reproduz as ações indicadas pelos adultos somente com Por isso, não basta disponibffizaràcriança objetos para li
~ ensi 2 vre e~çp~p~çãoedescoberta. É preciso mediar oyrocesso de
nadas. Seo adulto lhe ensinou a usar o pente para pentear o apfopr ao, transmitindo os modos sociais de ação com os
próprio cabelo, ela usará o objeto a princípio apeng~p~~esse instrumentos culturais.
fim e nessas condic~~. Posteriormente, no entanto, quando al ~
cança o domínio dessas ações, ela se emancipa d~çp~djções riorda ~iyj4~de objetal manipulatória cojpçça a nascer uma
particulares e passa a fazer um uso livre do objeto. Isso acontece nova ~ Quan
psrç,ue as ações se gçp~glizam. Ela passa a usar o pente para do dizemos que, ao dominar a ação com o objeto, a criança vai
\S~ ~pentear não só o próprio cabelo, mas o cabelo da boneca, o pelo emancipando-se das condições particulares da aprendizagem
do cachorro etc. Esse uso livre do obj~pçx ressa uma liberdade na direção de um uso livre, até que surge a substituição do ob
~ jeto, podemos2erceberqueaspsa~jogoaç~~s
~ tal ponto que em algum momento surge, pela primeira vez, a etão sendo formadas. É o início da ação lúdica.
substituicã~~ej~~b eto por outro fato q~gjçp~j~portancia Já nesse período do desenvolvimento, as crianças começam
extraordinária. );-‘c.~fl ~t7’i O7?~~ ~ a envolver-se em jogos protagonizados elementares, centjados
Como explica Elkonin ~l998), a substituição do objeto pode essencialmente no uso de objetos da vida cotidiana. O jogo de
ocorrer quando a criança ttansfere a ação aprendida em uma si papéis nasce, portanto, no interior da atividade objetal ma
4~. tuação determinada para c~utra ou quando sente necessidade de nipulatória, inicialmente como linha acessória do desenvol
completar a ação com algu~p objeto que esteja ausente, elegendo vimento.
~ ~então um substituto. A atividade objetal vai esgotando-se como fonte de desen
‘~> Fazem~çJ~~portantés dois destaques em relacãoaesse_ssepro volvimento: não basta mais à criança se aprop4~o~p~oc~i-
cesso, O primeiro refere-~’e-ao~pip~4p adulto. Vemos aqui que o mentos sociais de ação com o objeto. Ela passa a interessar-se
papel mediador do adulto é fundamental, pois como já nos dizia pelo sentido social das ações com~ ~9s objetos, pe~~l~ç~esso
Leontiev (1978), a atividade humana objetivada não seaw~sen ciaisn~interior das q~j os objçtos da cultura são utilizados
tade forma imediata p~pfop~iação da criança, mas exige a psi~~~dj~jtos. Como explica Lazaretti (2008, p. 155), “o que
medjaç~p4gØ~lto que explicita os traços da atividade humana caracteriza as ações que dão origem ao jogo de papéis são as
Aj~ o~etivada e crist~izada nos objetos da cultura efurman~~~a ações com os obje~os que têm importância social e evidenciam
aativida4ç4~q~da ‘nos objetos, não esta escrito ou mdicado
‘‘ ~33
os ‘modos sociais de utilizá-los que se formaram ao longo
0diretamente os modos de emprego, sendo assim, a criança não historia” Assim ofbco volta-se novament~parao mundo díWÀ1~Jtt Di

2 pode descobri-los por meio de simples manipulações, sem orien p~ç~jazeroueoadultojaz seráomote da brincadeira de
~? tação do adulto, sem um modelo de ação” (LAZARETTI, 2008, papéis, atividade que desponta como guia na transição à idade
p. 155, grifo do original). pré-escolar.
-31 r’

86 ~‘ PC~ftL~t a0 ~ -
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c~’Ur,nr~~ 3 . —
Juliana Cainpregher Pasqualini
Infilncia e pedagogia histórico-crítica

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A idade pré-escolar: o faz de conta como entre eles. Nesse processo, ao desempenhar papéis adultos, ela
atividade dominante apropria-se do sentido social das atividades produtivas humanas,
internalizando determinados padrões sociais que formarão bases
O jogo de papéis é talvez a maior vítima de interpretações na para sua própria conduta.
turalizantes. O brincar de faz de conta é com grande frequên Em termos do desenvolvimento psíquico da criança, a ativi
cia pensado como algo natural da criança, como urna expressão dade lúdica põe em funcionamento toda uma complexidade de
de sua suposta natureza imaginativa. Costuma-se pensar que a funções psíquicas. E é justamente assim que as funções se desen
criança «tem muita imaginaçâo’~ e por essa razão gosta tanto de volvem: quando são demandadas pela atividade, quando a ativi
brincar. Vygotsky (2002) demonstrou com clareza que isso é uma dade exige que entrem em funcionamento e avancem em com
inversão. A imaginação não é a causa da brincadeira, ao contrá plexidade.
rio, a brincadeira é uma atividade que, por sua própria estrutu O traço essencial do desenvolvimento psíquico produzido
ra e finalidade, demanda a criação da situação imaginária pela pela brincadeira é o autodomínio da conduta. Desempenhar ade
criança. quadamente o papel exige que a criança seja capaz de subordinar
A brincadeira de papéis é uma atividade que emerge como sua conduta, controlar os impulsos imediatos. As ações da crian
resultado de uma contradição que se apresenta à criança na tran ça pela primeira vez tornam-se objeto de sua consciência, ou seja,
sição à idade pré-escolar. Por um lado, a criança experimenta pela primeira vez ela se dá conta de suas próprias ações e esforça-
necessidade de fazer o que o adulto faz, de agir com os objetos -se para controlá-las. Essa é uma constataç~o interessante porque,
como o adulto age. Por outro, seus limites operacionais e técnicos
em aparência, a brincadeira é uma atividade na qual a criança
a impossibilitam de executar as operações exigidas pelas ações.
parece tão livre! Essa liberdade é, na verdade, muito relativa, por
Essa contradição só pode ser solucionada pela brincadeira.
que ela está aprendendo a subordinar sua própria conduta. Por
O que caracteriza a atividade lúdica é o fato de que seu foco J isso podemos pensar que o jogo é uma “oficina” de autodomínio
não está no resultado da ação, mas na ação em si mesma, não
da conduta para a criança.
no produto, mas no próprio processo. Por isso dizemos que ela
Em função de tudo isso, o jogo protagonizado eleva o conhe
é uma atividade não produtiva: ela não visa um produto. E des
cimento que a criança tem da realidade social a um nível de com
sa forma a criança brinca sem perceber os motivos da atividade,
preensão consciente e generalizado. Mas precisamos lembrar que
sem ocupar-se dos resultados da ação. A criança pode, com isso,
se esse desenvolvimento será ou não alcançado em sua plenitude
reproduzir as ações do adulto livre do aspecto operacional, que
ela ainda não domina nem pode dominar (LEONTTEv, 200 la). pela criança, é um fato que... Depende. Depende porque não é
Mas qual é o conteúdo da brincadeira infantil? Em síntese, qualquer brincadeira que de fato provoca o desenvolvimento psí
por meio do jogo protagonizado, a criança reproduz as ativida quico.
des sociais dos adultos e relações sociais reais que se estabelecem Valeria Mukhina (1996) afirma que quanto mais ampla for a
realidade que as crianças conhecem, tanto mais amplos e varia-

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Juliana Canzpregher Pasqualini Infância e pedagogia histórico-crítica

dos serão os argumentos de seus jogos. E o inverso também é sor que organiza a atividade da criança e lhe apresenta o mundo.
verdadeiro: quanto mais restrito for o contato da criança com a E sua intervenção se faz fundamental também no contexto da
realidade social, mais pobres e monótonos serão os argumentos brincadeira de papéis.
de seus jogos. O papel do professor não se resume a observar a brincadeira
I Isso significa que o potencial de promover desenvolvimento
psíquico da brincadeira depende da riqueza do acesso ao conhe
infantil, evitando interferências. Essa concepção é fruto de análi
ses naturalizantes do desenvolvimento infantil. A brincadeira de
cimento sobre o mundo que a criança tem (ou não). Significa que papéis no contexto da educação escolar deve estar a serviço da
o conteúdo dos jogos dramatizados das crianças e o desenvolvi apropriação da cultura e do desenvolvimento psíquico, cabendo
mento psíquico que será conquistado por meio dessa atividade ao professor não só ampliar o conhecimento de mundo da crian
dependem de suas condições de vida e de educação. ça de modo que forneça matéria-prima para o faz de conta, mas
Por isso, é tarefa da escola de educação infantil ampliar o cír enriquecer a atividade lúdica e promover sua complexificação.
culo de contatos com a realidade da criança. Ë tarefa do profes Essa intervenção precisa ser cuidadosamente planejada e orien
sor transmitir à criança conhecimentos sobre o mundo, não só tada pelo conhecimento científico sobre o desenvolvimento da
porque a criança tem direito a conhecer o mundo em que vive criança nesse período e suas principais conquistas, e principal
para além dos limites estreitos da sua experiência individual, mas mente sobre a estrutura da atividade lúdica e sua relação com o
porque esses conhecimentos serão justamente a matéria-prima desenvolvimento psíquico.
da brincadeira infantil.
Essa tarefa assume ainda maior relevância quando nos aperce
bemos do quanto a organização social capitalista restringe desde A transição à idade escolar
a mais tenra infância às crianças da classe trabalhadora o acesso
ao conhecimento sobre a realidade social. Isso significa roubar A idade pré-escolar é um período do desenvolvimento em que,
dessas crianças possibilidades de desenvolvimento, e não pode como vimos, se coloca como foco o sentido social das atividades
mos ser cúmplices desse processo. Nós, que assumimos o com humanas. A centralidade está no mundo das pessoas, na relação
promisso político com a classe trabalhadora e com a superação criança-adulto social, ou seja, na esfera das necessidades, o que
do capitalismo, devemos nos opor radicalmente a essa expropria significa afirmar que o desenvolvimento do aspecto afetivo/mo
ção. Devemos garantir às nossas crianças pequenas o direito ao tivacional da personalidade predomina nesse período, por meio
acesso ao que de mais rico a humanidade produziu ao longo do da assimilação dos sentidos fundamentais da atividade humana.
processo histórico. Na análise de Elkonin (1987), todo período do desenvolvi:
Para concretizar esse compromisso, é preciso ter clareza sobre mento que tem essa característica, em que a esfera afetiva/mo
a importância da intervenção intencional e consciente do profes tivacional tem proeminência, “prepara” a passagem ao período
sor como aquele que dirige o processo educativo, pois a criança seguinte, em que terá centralidade a esfera das possibilidades
não pode descobrir e compreender o mundo sozinha. Ë o profes operacionais e técnicas ou intelectuais.

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Julianci cru npregher Pasqualini Infância e pedagogia histórico-crítica
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Esse movimento existe na transição entre a comunicação exemplo, nàsce como brincadeira. As
emocional direta adulto-bebê e a atividade objetal manipula

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garatujas infantis e as primeiras produções figurativas não se re
tória, que constituem uma época do desenvolvimento infantil. vestem ainda de uma finalidade, ou seja, não visam a um resulta
Diante do exposto, já é possível compreender com maior con do: a criança simplesmente brinca ao desenhar. Da mesma forma,
cretude que cada época envolve dois períodos ligados entre si, Leontiev (2001a) afirma que a instrução no sentido mais estrito
sendo que no primeiro se desenvolvem intensamente os moti do termo surge inicialmente no período pré-escolar revestida de
vos da atividade da criança, e no segundo, sobre a base desses um caráter lúdico, ou seja, a criança começa a aprender “como
motivos, a criança avança no domínio das ações e operações brincadeira’: Progressivamente vai acontecendo um processo de
com os objetos da cultura, desenvolvendo suas possibilidades dqerenciação das diversas atividades que nascem como brinca
técnicas operacionais. deiras. r
O jogo de papéis inaugura, portanto, uma nova época do Com isso, vão formando-se na criança as chamadas ativida
desenvolvimento. Mas a transição ao período seguinte, a idade des produtivas. Diferentemente da brincadeira, em que importa
escolar, significa a passagem a um período que ainda pertence o processo e não se visa a um resultado, as atividades produtivas
a essa mesma época. Não há, portanto, uma ruptura entre esses são aquelas que geram algum tipo de produto, como o desenho,
períodos. Ao contrário. Ambos os períodos estão ligados pelo a pintura, a modelagem, a construção, entre outras.
motivo de penetrar no mundo adulto, O que marca a transição Essas atividades constituem uma linha acessória do desen
à idade escolar é o movimento entre o desejo de “fazer o que o volvimento nesse período, mas por meio delas cria-se a pos
adulto faz” para “saber o que o adulto sabe’ Do ponto de vista sibilidade de que a criança se proponha a aprender algo que
psicológico, podemos dizer que é justamente esse o mote da ati
vidade de estudo.
ainda não sabe, desenvolvendo-se a capacidade de estabelecer
fins para suas ações, dado que não emergirá natural ou espon 1
is
Para tanto, a atividade de estudo estrutura-se como ativida taneamente na criança senão como resultado da mediação
de orientada à assimilação de conhecimento. Diferentemente do adulto. Embora não ocupem o lugar de atividade domi
do jogo de papéis, em que não importava o resultado ou pro nante do período pré-escolar, tais atividades têm importân
duto da atividade, agora desponta como guia uma atividade cia fundamental para o desenvolvimento psíquico infantil, e
orientada a um resultado. Mas as premissas para essa atividade o mesmo pode ser afirmado em relação à atividade de estudo,
formam-se no período anterior, isto é, no interior da própria
idade pré-escolar.
que, progressivaffiente, pode ser introduzida já na idade pré-
-escolar, embora ainda geneticamente vinculada à brincadei
1
O jogo de papéis, como vimos, faz a criança avançar em ter ra, atividade-guia do período.
mos do autodomínio da conduta, o que constitui uma condição Ao final do período pré-escolar, a atividade de estudo, que
necessária para a formação da atividade de estudo. Como ativi surge como linha acessória, entra em ascensão, preparando a
dade dominante do período pré-escolar, a brincadeira infantil é transição ao novo período em que a criança se esforçará por “sa
fonte para a formação de novas atividades. ber o que o adulto sabe’
sEi
JL4Iiana Ccunpreglier Pasqualini Infdncia e pedagogia histórico-critica

Implicações pedagógicas da tonomia, interpretando a reivindicação da criança como teimosia


periodização histórico-dialética do ou insubordinação: mas o que o comportamento da criança está
tentando nos comunicar? É importante que consigamos com
desenvolvimento psíquico preender a crise, ou o período crítico, como oportunidade de de
senvolvimento, potencializando as conquistas infantis e promo
Concluída essa exposição que cumpre a função de nos in vendo novas relações que se mostrem desafiadoras para a criança.
troduzir na complexa teorização elaborada por Elkonin (1987), Como terceira proposição, gostaríamos de destacar que as
é importante sistematizar as principais implicações dessa teoria premissas para cada atividade alçada ao posto de dominante são
para a ação pedagógica. Sem a possibilidade de esgotarmos essa gestadas no período anterior do desenvolvimento. Isso significa
análise, destacaremos aqui quatro proposições fundamentais. que não basta conhecer as características do período em que se
A primeira decorre da afirmação do caráter não natural do encontra a criança. Esse entendimento é sem dúvida fundamen
desenvolvimento psíquico. A tese central reafirmada pela obra tal, mas só potencializa de fato a ação pedagógica se esse mo
vigotskiana é que o desenvolvimento não se produz espontânea mento for compreendido como parte de um processo, ou seja, se
ou naturalmente: a aprendizagem é a fonte de desenvolvimento tivermos como horizonte o vir a ser do desenvolvimento psíquico
psíquico da criança por excelência. A criança avança a um novo infantil.
período de seu desenvolvimento na medida em que os processos Pensar o trabalho do professor de educação infantil nessa
educativos promovem a apropriação da cultura e a complexifica perspectiva significa que cabe ao educador promover o máximo
ção de sua atividade. O trabalho do professor mostra-se, portan desenvolvimento da criança pré-escolar apoiando-se na atividade
ii to, crucial para que a criança avance em seu desenvolvimento, já dominante do período, o jogo de papéis, mas ao mesmo tempo
nos períodos iniciais de sua vida. A psicologia histórico-cultural considerando a necessidade de gestar as premissas para o salto ao
é uma teoria que atribui importância decisiva ao trabalho do pro novo período do desenvolvimento, o vir a ser do psiquismo in
4,.
fessor, o que significa valorização do trabalho docente e, ao mes fantil, ou seja, assumindo o desafio de promover a formação das
mo tempo, nos leva a reconhecer nossa imensa responsabilidade. premissas da atividade de estudo já na educação infantil.
A segunda proposição refere-se à compreensão de que a tran Por fim, como quarta e última proposição, diretamente rela
sição a novos períodos do desenvolvimento é marcada por cri cionada às duas anteriores, destacamos a importância de com
ses, saltos qualitativos, ou seja, que o desenvolvimento não é um preender essa teôria e o fenômeno que ela pretende decodificar
processo linear mas envolve evoluções, revoluções e por vezes não como um objeto estático, mas em movimento. Sem a pers
involuções. É fundamental que o professor esteja atento às novas pectiva do movimento, a teoria perde seu caráter explicativo, por
capacidades que se formam na criança e seja capaz de perceber que desenvolvimento é movimento! É preciso atenta}, portanto,
quando a criança sinaliza que já tem condições de ocupar outro para o movimento entre as esferas do desenvolvimento humano,
lugar nas relações sociais. Por vezes insistimos em mantê-la no que se busca representar no diagrama pela seta de dupla dire
modo anterior de relação, resistindo em lhe conceder maior au- ção: ainda que uma esfera esteja proeminente, o movimento entre

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1•
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Jullana Qimpregher Pasqualini Infância e pedagogia histórica-crítica

elas nunca cessa, pois elas existem em unidade: uma realimen y pedagógica en la URSS: antologia. Moscú, Editorial Progreso,
ta o desenvolvimento da outra. Cabe ao professor atentar para pp. 274-298.
o que está sendo gestado como possibilidade de transformação MAGAGNATO, E C. (2011). Fundamentos teóricos da atividade de
do psiquismo e o que está se esgotando como fonte de desenvol estudo como modelo didático para o ensino das disciplinas cient!ficas.
vimento, como condição para que sua intervenção esteja de fato Dissertação (Mestrado em Educação para a Ciência) Faculdade de

comprometida, como propõe Ellconin, com a formação do novo Ciências, Universidade Estadual Paulista, Bauru.
no psiquismo. MAGALHÃES, G. M. (2011). Análise da atividade da criança em seu
primeiro ano de vida. Dissertação (Mestrado em Educação Escolar) —

Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista,


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