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UNIVERSIDADE TECNÓLOGICA FEDERAL DO PARANÁ

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO INFORMÁTICA INSTRUMENTAL

KÁTIA ALVES BEZERRA

As narrativas digitais como nova forma de contar: utilizando


recursos digitais, favorecendo a produção escrita e leitora.

SÃO PAULO-2017
KÁTIA ALVES BEZERRA

As narrativas digitais como nova forma de contar: utilizando


recursos digitais, favorecendo a produção escrita e leitora.

Artigo científico apresentado ao Programa de


Pós-Graduação em Informática pela
Universidade tecnológica Federam do Paraná
como requisito parcial à obtenção do título de
especialista em Informática instrumental
aplicada à Educação sob orientação da
Professora Damares Luiza Silveira De Carvalho

SÃO PAULO- 2017


RESUMO

Neste artigo, reflete-se sobre as novas tecnologias na educação e o papel da


escola em relação a essa nova prática educativa. Após um breve levantamento
bibliográfico sobre os temas leitura, escrita e novas tecnologias e suas
imbricações, percebemos que a questão do desenvolvimento das
competências leitoras e escritoras ainda se apresentam como um problema a
ser superado e, muitas vezes, as novas tecnologias aparecem como
antagônicas neste processo. Diante deste quadro e com o objetivo de contribuir
na construção de práticas escritoras e leitoras utilizando as novas tecnologias e
refletir sobre o uso e possibilidades destas no ambiente escolar, será
apresentado um relato de prática com três atividades de narrativas digitais que
podem ser alternativas de um trabalho pedagógico. Partimos da premissa que
o narrar faz parte da constituição humana e a que a literatura é muito
importante neste processo de humanização. Frente às demandas impostas
pela globalização, mas especificamente, sobre os avanços tecnológicos, faz-
se cada vez mais necessário formar gerações mais conscientes, críticas,
criativas e capazes de lidar com a diversidade e dificuldades deste novo
mundo.

Palavras-chaves: Narrativas digitais; novas tecnologias; leitura e escrita.


ABSTRACT

In this article, we reflect on the new technologies in education and the role of
the school in relation to this new educational practice. After a brief
bibliographical survey on the themes of reading, writing and new technologies
and their imbrications, we realized that the issue of the development of reading
and writing skills still presents as a problem to be overcome and, often, new
technologies appear as antagonistic in this process. In view of this framework
and with the objective of contributing to the construction of writing and reading
practices using new technologies and reflecting on their use and possibilities in
the school environment, a practical account will be presented with three
activities of digital narratives that may be alternatives of one pedagogical work.
We start from the premise that narration is part of the human constitution and
that literature is very important in this process of humanization. Faced with the
demands of globalization, but more specifically on technological advances, it is
increasingly necessary to form more conscious, critical, creative generations
capable of dealing with the diversity and difficulties of this new world.

Keywords: storytelling; new technologies; Reading and writing.


Sumário

1. Introdução.......................................................................................06
2. A importância do narrar na constituição humana....... ...................06
3. A estrutura das narrativas...............................................................06
4. As novas tecnologias na educação................................................09
5. Digital storytelling: narrativas digitais na escola.............................10
6. Relatos de prática...........................................................................12
6.1 Stop-motion......................................................12
6.2 Fotonovela........................................................14
6.3 Retextualização................................................16

7. Considerações finais......................................................................18
8. Referências......................................................................................20
7

1. Introdução

O presente artigo tem como objetivo geral contribuir na construção de


práticas escritoras e leitoras utilizando as novas tecnologias e promovendo a
reflexão acerca do o uso das novas tecnologias e suas possibilidades de uso .
Para tanto, o trabalho será dividido em quatro seções, a saber: 1º) e ntender o papel
das narrativas na constituição humana; 2º elencar os elementos das narrativas;
3º) definir o que são as narrativas digitais e 4º) relatar atividades práticas de
narrativas digitais (Stop-motion, Fotonovelas e Retextualização digital)

O trabalho justifica-se, pois há inúmeras pesquisas e dados de


avaliações externas, divulgados pelos sistemas de ensino que apontam uma
defasagem nas competências leitora e escritora dos educandos do nosso país.

Em contrapartida, há pesquisas que também demonstram que os jovens


nunca leram e escreveram tanto utilizando as redes sociais, principalmente, as
de mensagens.

Partimos da premissa que produzir narrativas digitais no ambiente


escolar favorece as competências leitora e escritora do educando, contribuindo
efetivamente no seu hábito de ler e escrever.

Amparados por SOLÉ (1996) e SOARES (2003) na área de leitura e


escrita e MASETTO, MORAN E BEHRENS autores que discorrem sobre as
novas tecnologias, estes são os principais responsáveis pela difusão e
construção de um referencial teórico atualmente na maioria das dissertações,
teses e pesquisas educacionais brasileiras relacionados ao tema de estudo
deste artigo, é pertinente refletir e pesquisar: Como as novas tecnologias
podem colaborar na formação de leitores e escritores, usuários destas novas
tecnologias?

Despertar o interesse dos educandos pela escrita e leitura é um desafio


diário que vem se tornando cada vez mais complexo diante de uma sociedade
marcada pela tecnologia. Rodeados por imagens, sons e pelas quase infinitas
possibilidades multimídias que o computador e a Internet trouxeram, nossos
alunos têm dificuldade de parar, sentar diante de um livro, se concentrar e,
assim, descobrir o prazer e o conhecimento que a leitura proporciona.
7

2. A importância do narrar na constituição humana

Histórias são o que o homem faz para dar


sentido ao mundo (LAMBERT)

A narrativa desempenha uma influência importante na vida do ser


humano. Ela desperta a curiosidade, a atenção, a emoção, instiga, envolve.

O ser humano se estabelece e se direciona, principalmente, por


intermédio da narração, seja ela no âmbito escolar, seja no familiar, seja nos
relacionamentos afetivos, profissionais, enfim.

A arte de narrar faz parte da cultura geral de uma nação, de um povo


que cultiva seus antepassados e que deixa suas marcas na cultura oral de um
país. Assim sendo, e, tomando por base que a escola é o reflexo da sociedade,
extinta essa arte no meio social, corre-se um grande risco de extinção também
no âmbito escolar.

As narrativas literárias confundem-se com a história da civilização de tão


antiga a sua origem. Praticada por pessoas comuns, a arte de narrar os fatos,
de contar as histórias perde espaço no mundo moderno em virtude da gama de
aparelhos eletrônicos e do avanço da tecnologia. Hoje, vemos novas formas de
narrar por meio da televisão, do jornal, do rádio, das redes sociais, enfim, com
o avanço da tecnologia a sociedade passa por diversas mudanças, sendo que
a escola tende a acompanhar esse novo paradigma.

Conforme Benjamin, as narrativas são histórias contadas de geração em


geração, decorridas de experiência e sabedoria popular que ajudam o homem
a se descobrir na sua verdadeira essência. “A narrativa é uma forma artesanal
de comunicação. [...] Ela mergulha a coisa na vida do narrador para em
seguida retirá-la dele” (BENJAMIN, 1994, p.205). Sendo assim, a narrativa
insere na vida no homem um conhecimento mútuo, já que retira dela sua
própria experiência.
7

A narrativa é como instrumento capaz de modificar o pensamento


humano, de causar reflexão. “A literatura é um fenômeno estético. É uma arte,
a arte da palavra” (COUTINHO, 2008, p. 23).

Desse modo, ao entrar em contato com a obra literária, estamos também


tomando conhecimento da vida e suas múltiplas verdades, visto que a literatura
possui um “poder humanizador” como afirma Candido, pois “quando elaboram
uma estrutura, o poeta ou o narrador nos propõem um modelo de coerência,
gerado pela força da palavra organizada” (CANDIDO, 2004, p. 177).

Essa “força da palavra organizada” age sobre o homem como


estruturação interna de sua vida e as palavras representam um modo de ser e
estar no mundo. A organização da obra literária transfere à vida humana a
capacidade de elevação dos sentimentos e a superação das irregularidades
mentais e visuais que temos do mundo. Logo, a reflexão, a aquisição do saber,
a disposição para com o próximo, o desenvolvimento das emoções, o
entendimento dos problemas cotidianos, entre outros elementos contribuem
para a humanização do homem, que, de posse de todos esses atributos torna-
se uma pessoa melhor e mais integrada ao grupo social ao qual pertence.

Vista por esse ângulo a literatura, ou a produção literária “dispensa


adjetivos, ela é uma expressão de arte que emociona, comove, leva a
experimentar sensações, pensamentos, palavras... A literatura te afeta, você
não é o mesmo depois de ler um poema, um conto, um romance”
(PARREIRAS, 2009, p. 22).

3. A estrutura das narrativas

As narrativas possuem elementos que as caracterizam e que respondem


às questões estruturais como enredo, personagens, tempo, espaço, narrador,
aspectos relevantes para o reconhecimento e o entendimento do texto
narrativo, sendo que cada um desses elementos são fundamentais para o
desenrolar das histórias lidas ou contadas. Classificando e dividindo as
narrativas temos os gêneros literários épico, lírico e dramático que se divide em
romance, novela, conto e crônica, sendo cada um com suas características
distintas e estruturadas sobre os cinco elementos sobrepostos às narrativas.
7

O gênero narrativo, segundo Gancho (2006),é um tipo de texto que


conta, direta ou indiretamente, a história de um acontecimento real ou
imaginário em que o leitor o classifica segundo sua forma e seu conteúdo.

Nos elementos narrativos estão inseridos o enredo, diferenciando um


acumulado de fatos descritos como lendas, fábulas, mitos, intriga, trama,
história, contos, e outros.

A verossimilhança que dá a narrativa a ideia de verdade, ou seja, os


fatos devem ser verossímeis, “isto quer dizer que, mesmo sendo inventados, o
leitor deve acreditar no que lê. Esta credibilidade incide da organização lógica
dos fatos dentro do enredo, da relação entre os vários elementos da história”
(GANCHO, 2006, p. 12).

Fazendo parte do enredo temos a exposição, a complicação, o clímax e


o desfecho, responsáveis pela organização dos fatos, bem como pela estrutura
da obra. Notando as partes do enredo podemos também distinguir se ele se
trata de enredo psicológico, se a história cronologicamente é descrita a partir
do início, meio e fim, ou se é desordenada. O elemento principal que compõe
as partes do enredo é o conflito, pois a partir dele a história ganha sentido.

A personagem é outro elemento de destaque na narrativa é, que “é


sempre invenção, mesmo quando se constata que determinadas personagens
são baseadas em pessoas reais ou elementos da personalidade de
determinado indivíduo” (GANCHO, 2006, p. 17). Dentre as personagens estão
a protagonista, personagem principal, a antagonista, personagem que contraria
a protagonista e as personagens secundárias que são aquelas de papéis
menos importantes na narrativa.

Temos ainda compondo os elementos da narrativa o tempo, o espaço e


o narrador.

O tempo “constitui o pano de fundo para o enredo” (GANCHO, 2006, p.


24), e pode ser cronológico ou psicológico, ou seja, transcorrer na “ordem
natural dos fatos no enredo, ou seja, do começo para o final”, ou transcorrer
“numa ordem determinada pelo desejo ou pela imaginação do narrador ou das
personagens, isto é, altera a ordem natural dos acontecimentos” (idem, p. 25).
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O espaço, segundo Gancho (2006), define-se como sendo o local onde


acontecem os fatos na narrativa. Sendo assim, os espaços mudam ou variam
de acordo com cada história e com os acontecimentos postos no enredo.

Outro elemento estruturador na narrativa é a figura do narrador. Sem ele


não existe narração, não existe história. Contudo, conforme a mesma autora
precisamos fazer a distinção entre narrador e autor, pois ambos são diferentes,
“não se deve levar em conta a vida pessoal do autor para justificar posturas e
ideias do narrador, pois, quando se trata de um texto de ficção (imaginação),
fica difícil os limites da realidade e da invenção” (GANCHO, 2006, p. 30).

Todos esses elementos são importantes na construção de uma


narrativa. É a partir deles que percebemos a estrutura e a organização do
texto, portanto o conhecimento das partes que constituem uma narrativa, dos
seus conceitos, dos elementos estruturais, ajudará na compreensão e
assimilação da leitura literária.

4. As novas tecnologias na educação

Em seu sentido mais geral, pedagogia e tecnologia sempre foram


elementos fundamentais e inseparáveis da educação. Assim sendo, tecnologia
é uma forma de conhecimento. "Coisas" tecnológicas não fazem sentido sem o
"saber como usá-las, consertá-las, fazê-las". Conforme VALENTE (1999,
p.199), “[...] tecnologia é um conjunto de discursos, práticas, valores e efeitos
sociais ligados a uma técnica particular num campo particular”.

A principal razão para a utilização das tecnologias na educação seria a


de melhorar a situação de aprendizagem do aluno e as relações entre este e o
professor. Caso contrário, a integração das tecnologias poderia ser
considerada inútil e ineficaz.

Sabe-se que houve época em que era necessário justificar a introdução


da informática na escola. Hoje já existe consenso quanto à sua importância.
Entretanto o que vem sendo questionado é da forma com que essa introdução
vem ocorrendo.
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Neste artigo entendemos que fazem parte do rol de novas tecnologias:


os computadores pessoais como seus recursos tal como Word e power-point;
as câmeras de vídeo e foto para computador, a gravação doméstica
de CDs e DVDs; os diversos suportes para guardar e portar dados como os
cartões de memória, pendrives, e assemelhados; telefones celulares; a
internet e seus recursos de pesquisa e divulgação de vídeos e os diversos
softwares de edição e produção de vídeos, tal como o Audacity as tecnologias
de acesso remoto (sem fios) como Wi-Fi e Bluetooth;

Portanto, o desafio está em como estimular os jovens a buscar novas


formas de pensar, de procurar e de selecionar informações, de construir seu
jeito próprio de trabalhar com o conhecimento e de reconstruí-lo
continuamente, atribuindo-lhe novos significados, ditados por seus interesses e
necessidades. Como gerenciar seus estudos e qualidade de projetos, como
despertar-lhes o prazer e as habilidades da escrita, a curiosidade para buscar
dados, trocar informações, despertar-lhes o desejo de enriquecer seu diálogo
com o conhecimento sobre outras culturas e pessoas, de construir peças
gráficas, de visitar museus, de olhar o mundo além das paredes de sua escola,
de seu bairro ou de seu país.

Ao educador cabe o papel de estar engajado no processo, consciente


não só das reais capacidades da tecnologia, do seu potencial e de suas
limitações para que, segundo FRIGOTTO (1996), possa selecionar qual é a
melhor utilização a ser explorada num determinado conteúdo, contribuindo para
a melhoria do processo ensino-aprendizagem por meio de uma renovação da
prática pedagógica do professor e da transformação do aluno em sujeito ativo
na construção do seu conhecimento, levando-os, através da apropriação desta
nova linguagem, a inserir-se na contemporaneidade.

5. Digital storytelling: narrativas digitais na escola

Digital Storytelling ou narrativas digitais trata-se de fazer uso de


tecnologias digitais para narrar histórias. A ideia é combinar arte de contar
histórias com recursos das chamadas tecnologias digitais de informação e
comunicação.
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Na perspectiva das linguagens múltiplas as narrativas digitais são


elaboradas, sendo utilizados recursos de multimídia: texto, fotografia, vídeo,
áudio, gráfico etc.
Na narrativa tradicional a forma de comunicação é praticamente a
narração ou contação do contador de histórias, já as histórias digitais são
descritas com recursos das linguagens múltiplas, criadas em computador,
celular e tablets. Assim os elementos das narrativas nem sempre são descritos
com palavras, mas sim com imagens, sons, movimentos e outros.
Na narrativa digital aplicada à educação, temos relatos de eventos
históricos, histórias de vida – pessoal, da comunidade escolar ou do entorno
dela. O essencial é que seja sempre algo que tenha significado para o aluno.
Daniel Meadows, fotógrafo, autor e educador britânico definiu histórias
digitais como sendo “contos multimídia, pessoais, breves, contados com o
coração”. Também disse que as histórias digitais são “sonetos multimídia do
povo”.
Lambert, em seu livro “Digital Storytelling”, afirma que o cérebro que o
leitor está usando para lê-lo, quando descreve sobre histórias (mantenho aqui a
palavra que ele usa originalmente) e o contar de histórias, é muito diferente
daquele cérebro usado se o leitor o ouvisse contar uma história.
Atualmente, no campo educacional, professores e alunos, nas salas de
aula dos anos iniciais até o ensino superior, incluindo a pós-graduação, estão
usando narrativas digitais com diferentes propósitos, em diferentes áreas de
conteúdo e através de uma grande variedade de níveis de escolaridade.
Parece-me uma experiência bem gratificante. Será um tempo para o
exercício da criatividade, um momento para a expressão da estética, deixando
a imaginação dos alunos correr solta. Projetos de narrativas digitais
estimularão os alunos a expressar-se visualmente, o que é uma habilidade
diferente de escrever. Trazer as narrativas digitais para a sala de aula é uma
tarefa difícil, mas não impossível e com certeza gera bons frutos.
6. Relatos de prática

As atividades de stop-motion, fotonovela e retextualização digitais aqui


relatadas foram realizadas entre os meses de agosto e setembro com as
7

turmas dos quintos, sextos e oitavos anos de uma escola municipal de São
Paulo. Este relato de prática tem como objetivo principal compreender como a
construção de narrativas com o apoio de uma ferramenta digital pode ser um
facilitador no processo de letramento, ou seja, da leitura e da escrita.

6.1 Stop-Motion como narrativa digital- descrição da prática

A atividade de stop-motion foi realizada pelos alunos dos três 6º anos de


uma escola municipal de São Paulo.

A ideia desta atividade surgiu da seguinte questão. Por que associar


leitura e escrita com a técnica de stop-motion?

A explicação é que utilizando um recurso audiovisual trabalhamos dois


sentidos da percepção e, aproximamos mais naturalmente a atenção do
público adolescente. Vivemos numa sociedade imagética. Neste sentido, a
visão pode ser um aliado do professor na hora de ensinar. O stop motion é uma
técnica bastante conhecida. Possivelmente, a maioria de nossos alunos já
assistiu a vídeos neste formato, e esta é uma linguagem acessível a eles.

O Stop Motion que pode ser traduzido como “movimento parado” é uma
técnica que utiliza a disposição sequencial de fotografias diferentes de um
mesmo objeto inanimado para simular o seu movimento. Estas fotografias são
chamadas de quadros e normalmente são tiradas de um mesmo ponto, com o
objeto sofrendo uma leve mudança de lugar, afinal é isso que dá a ideia de
movimento.

Seguimos o seguinte roteiro para obter os objetivos desejados:

Pré-produção

Antes de se iniciar a produção é interessante passar algumas animações


que utilizam tal técnica, por exemplo, Minhocas, O Filme (2011) ou A Fuga das
Galinhas (2000). Explicamos para os alunos o tempo de criação de filme em
stop-motion. Mostramos como esta técnica surgiu e como ela é usada.
Os alunos ficam muito ansiosos para chegar na etapa de fotografar as
cenas. Neste momento é preciso ter muita calma e explicar para eles que fazer
7

stop-motion é necessário um planejamento com passos a seguir. Logo abaixo


um check-list básico do que é importante ter antes das filmagens.
 Material: Para criar seu Stop Motion precisamos de uma câmera que
pode ser a do celular, o celular ou o computador com um programa para a
edição de vídeo e áudio.

 Roteiro: Previamente deve ser pedido para os alunos breve


planejamento que contenha as falas, cenário, personagens. Os personagens e
os espaços poderiam ser criados de várias formas, a saber: com papéis,
desenhos, massinhas de modelar, pessoas e objetos. O roteiro deve ser
simples, não é necessário entender de técnica cinematográfica para realizá-lo.
Ele deve ser feito após a leitura e discussão da história que pode ser inventada
ou uma das clássicas selecionada por cada dupla ou trio.
 Planejamento da filmagem – elaboramos um roteiro, espaço de
movimentação dos personagens e cenário para não ter nenhuma surpresa
durante a filmagem e acabar perdendo tempo e trabalho.
Produção
Alguns passos são necessários para se conseguir o produto final:
 Evite movimentar a câmera – quanto menos movimentar a câmera
melhor será o resultado final.
 Aproveite recursos do editor – alguns efeitos de movimentação podem
ser adicionados na edição, o que poupa trabalho e evita erros durante as
filmagens.
 Suavidade de movimentação – para tornar mais real sua animação,
suavidade nos movimentos é essencial.

Pós-produção
Depois das etapas de pré-produção e produção, os filmes ficaram
prontos. Neste momento, há uma apresentação deles para s socialização do
que foi produzido.
Tais projetos viabilizam a integração entre os indivíduos, criam
aprendizagens coletivas, tornam o ambiente agradável e o aprendizado
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prazeroso ao educando e ao educador, fazendo com que ambos sejam


estimulados a construir e reconstruir sua própria prática, hora como indivíduos
que aprendem hora como indivíduos que ensinam dessa forma assumindo
novo papel para cada processo de aprendizagem (HERNÁNDEZ e VENTURA,
1998; SACRISTÁN, 2000).
O aluno, por já nascer em meio às novas tecnologias, o conhecido nativo
digital, certamente tem mais facilidade de integração com essas, muita vezes
viabilizando novos aprendizados ao professor. O Stop Motion na escola aspira
integrar as novas tecnologias ao plano de trabalho a ser desenvolvido ao longo
de um período de tempo, tendo como pressuposto que o individuo constrói sua
aprendizagem de forma colaborativa com os demais membros envolvidos
nesta.
6.2 Fotonovela como narrativa digital-descrição da prática

Ler é uma atividade-meio, que está a serviço de


um projeto que a ultrapassa. Podemos dizer,
portanto, que saber ler é ser capaz de se servir do
escrito para levar a cabo um projeto, quer se trate
de ações a realizar ou de lazeres a enriquecer. O
que permite afirmar que a leitura foi eficaz é a
realização do projeto que a provocou.

(Evelyne Charmeux,1994)

Esta unidade didática tem como objetivo promover habilidades de leitura


e escrita a partir do gênero discursivo: Fotonovela.
Galucho define fotonovela como:
um subgênero da literatura, a fotonovela é uma narrativa mais
ou menos longa que conjuga texto verbal e fotografia. A história
é narrada numa sequência de quadradinhos (como a banda
desenhada) e a cada quadradinho corresponde uma fotografia
acompanhada por uma mensagem textual. (GALUCHO,
2010,s/p.)
As fotonovelas deixaram de ser impressas na década de 80 do séc. XX,
embora tenham ressurgido recentemente na Internet unindo-se à narrativa
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tradicional as manipulações visuais, animações em flash, trailer e sonorização,


ainda, de um gênero desconhecido para a maioria dos nossos educandos. Por
isso, para compreendermos as características estruturais desse gênero do
discurso utilizaremos outro gênero do discurso comum a eles: as Histórias em
Quadrinhos, doravante HQ.
A Fotonovela e a HQ tiveram a mesma origem, por volta de 1500 a.C..
Iniciaram-se com as pinturas rupestres que contavam a sequência das histórias
de caçadas e atividades da comunidade da época por meio de desenhos, como
afirma Baldasso (2010). Logo, faremos uma revisão dos elementos estruturais
que compõe o gênero narrativo, formato de balões, onomatopeias e as
linguagens verbais e não verbais que estruturam o texto imagético HQ e
Fotonovela.
6.3 Fotonovela como narrativa digital-descrição da prática
A atividade de fotonovela foi realizada pelos alunos dos três 8º anos de
uma escola municipal de São Paulo.

Para a realização destas atividades é necessário o computador com


power-point instalado, acesso a internet ou a banco de imagens. É necessário
que o aluno faça um breve roteiro com personagens, espaços, o enredo com
começo, meio e fim.
Em relação à escrita é possível trabalhar com o aluno a questão de
coerência e coesão. Como essa geração de alunos que temos são muito
imagéticos, estes conceitos ficam mais fáceis de serem entendidos.
É possível representar algumas figuras de linguagem necessárias para
um bom enredo e como há uma associação de palavras e imagens, a
percepção e o sentido são claramente entendidos.
Quanto às novas tecnologias, é possível explorar os recursos do
PowerPoint, tal como aplicar áudio, colocar balões, caixas de textos e etc.
Logo abaixo, uma das telenovelas produzidas pelos alunos:
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As duplas de alunos produziram entre oito e dez slides, com histórias


que deveriam ser inventadas. Os personagens poderiam ser humanos,
conhecidos ou não animais ou objetos.
Durante a execução da tarefa, os próprios alunos percebiam quando
havia alguma lacuna ou o que não fazia sentido conjunto da obra (imagem,
texto e som).
Como já dito, é necessário pouco recurso para realização desta
atividade. Somente um computador e internet. Como a internet da escola é
oscilante, para evitar problemas, é interessante selecionar e salvar no
computador um banco de imagens.
É importante que haja sempre uma supervisão do professor, pois se o
aluno inicia sua história e só depois de três ou quatro slides tem um feedback,
se houver muitas correções para serem feitas, pode por descaracterizar a
7

ideia pensada inicialmente pelo aluno e desatualizar o roteiro previamente feito.


Por isso, a revisão das fotonovelas produzidas, deve ser realizada antes do
próximo encontro, pois no retorno do aluno, já era possível alertá-lo sobre
possíveis correções. Muitos feedbacks precisam ser dados de forma individual.
Esse processo de correção e retorno é importante, principalmente, no
início, pois depois os alunos passam a dominar a questão da coerência entre
som, imagem e texto e, eles mesmos já conseguem perceber as lacunas
existentes.
O interessante nesta atividade, que os alunos aprendem tais conteúdos
em um conjunto e na prática. Não haverá uma aula para cada conteúdo. É na
realização e na construção de suas narrativas que os educandos sentem a
necessidade dos conteúdos que servirão de recurso para dramaticidade,
comicidade ou continuidade.
Utilizar a linguagem mista (visual e textual) no contexto educacional, é
importante que haja uma preocupação para que esta experiência somente em
como ensinar os alunos a fazerem uma fotonovela sob uma perspectiva
técnica, mas também utilizar essa linguagem artística para questionar e
analisar o cotidiano e as influências culturais no meio que estão inseridos.
6.3 Retextualização como narrativa digital

Os desafios em se encontrar maneiras que amparem o trabalho com o


texto de uma forma interativa, produtiva e motivadora, procuramos com este
trabalho, relatar uma experiência com uma atividade de retextualização, cujo
objetivo buscava potencializar o trabalho com o texto e com gêneros textuais
em sala de aula, procurando levar o aluno a percebê-los como parte do
processo de promoção da ação e interação na sociedade.

Marcuschi (2008) discorre que o trabalho da escola, ao operar com a


língua como uma atividade interacional situada sociohistoricamente, deve ser o
de inserir o educando em situações reais de produção e utilização da língua.
Assim sendo, ao refletirmos a língua como forma de ação, devemos lembrar
que ela se materializa nos mais diversos suportes, como em livros, em jornais,
em revistas, em sites na internet, e nas mais diversas conversas, fazendo, por
7

conseguinte, que as situações de interação entre texto, autor/falante e


leitor/ouvinte sejam também diferentes.

Figueiredo e Tavares (2007), por exemplo, apresentam uma forma de


trabalhar a produção textual mediada pelo computador. No trabalho das
autoras, um grupo de estudantes participou de uma atividade que envolvia os
gêneros textuais cartão postal impresso e cartão postal digital, cujo objetivo
final foi a produção individual de um cartão postal digital e o seu envio e
compartilhamento com os outros participantes.

Os resultados de Figueiredo e Tavares “A Retextualização como


Recurso Didático para a Produção Textual” mostraram uma possibilidade de se
inserir os gêneros eletrônicos no ambiente escolar, capacitando o aluno a
interagir de forma profícua no contexto eletrônico.

Descrição da prática

Assim como feito por Figueiredo e Tavares (2007), procuramos, por


meio do nosso trabalho, atentar os estudantes pelo fato de que o mesmo texto
pode ser expresso de maneiras diferentes, em diferentes gêneros e suportes,
dependendo do seu público-alvo, seu propósito comunicativo e da situação de
interação em que produtores e receptores estão inseridos.

A atividade de retextualização digital foi realizada em uma escola


municipal de São Paulo durante o terceiro bimestre do ano de 2017 com os
alunos dos quintos A, B, C e D.

Para esta atividade, foi necessário o computador com o Audacity que é


um programa gratuito para gravação e edição de áudio, ideal para quem quer
registrar faixas de música ou realizar modificações nelas. Com suas
ferramentas, é possível acessar funções profissionais de um programa de
edição, como criação de diferentes trilhas, adição de efeitos, renderização e
mixagem.
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Os alunos participaram da produção de um livro digital, lendo e recriando


a história do garoto Lenny, do livro Lenny in the Garden de Ken Wilson Max.

O primeiro passo foi a leitura do livro real. Logo após foi feita a divisão
das falas entre os alunos. A leitura e os ensaios foram feitos durante as aulas
de Inglês. O livro ganhou vida nas vozes das crianças. As gravações das falas
foram realizadas no Laboratório de Informática Educativa, usando o Audacity.

Em um segundo momento, em sala de aula, utilizando folhas avulsas, os


alunos tiveram que fazer uma releitura do livro, utilizando a mesma sequencia,
mas escolhendo novos personagens e um novo cenário, por exemplo, Lenny
no zoológico, Lenny no parque etc.

Retomamos a primeira etapa, digitalizando as sequenciam produzidas


pelos alunos; os ensaios novamente foram realizados durante as aulas de
Inglês. A releitura ganhou vida nas vozes das crianças. As gravações das falas
foram realizadas no Laboratório de Informática Educativa, usando o Audacity.

Considerações finais

Frente às demandas impostas pela globalização, faz-se cada vez mais


necessário formar gerações mais conscientes, críticas, criativas e capazes de
lidar com a diversidade e dificuldades deste novo mundo e, principalmente,
democráticas. Neste sentido a escola possui um papel fundamental. Benevides
(2014, p. 11) pondera sobre a necessidade de formar cidadão que exerçam
uma cidadania ativa que rompa com os paradigmas vigentes e se veja como
portador de direitos e deveres, necessariamente participante da esfera pública
e criador de novos direitos para abrir espaços de participação.

Alves &Pimenta, após pesquisas de campo, perceberam que a escola


não cumpre com o seu papel, pois embora em seus documentos oficiais
constem a necessidade da formação deste novo homem educado para o
mundo globalizado, criativo e protagonista o que temos muitas vezes é uma
escola que não consegue mediar seus conflitos e

se reafirma como lócus de formação para o mercado de


trabalho, sob a concepção fragmentada de cultura como “alta
cultura”, “cultura de massa” e “cultura técnica”, em detrimento
da “cultura ordinária”, ou “comum”. Essa escola desqualifica
seus integrantes, pelo expresso na experiência cotidiana.
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Assim, o ciclo confirma-se, sem que as possibilidades de


transformações sejam percebidas. (ALVES& PIMENTA, 2010,
p. 156)
As atividades propostas tiveram como objetivos romper com práticas
reprodutivas que formatam os alunos ao invés de formá-los, desenvolvendo a
criatividade e o gosto pelo conhecimento. Desejamos que nossa sugestão
metodológica possa ser bem aproveitada e colocada em prática.

A fotonovela, por exemplo, provoca os métodos de ensino tradicionais


ao fornecer oportunidade para que o educando se torne ativo e transformador
do processo histórico através do estímulo e desenvolvimento da sua própria
voz. Ao aproveitar a criatividade do aluno ocorre um processo de construção de
significados, propiciando experiências subjetivas fantásticas e emancipatória.

Em relação à retextualização, notamos que as atividades de


retextualização têm a potencialidade de proporcionar a convivência com a
leitura e produção de textos de uma forma envolvente, motivadora e divertida.

Ressaltamos, especialmente, que a grande maioria dos alunos, ao ter a


oportunidade de pesquisar sobre os gêneros, se apropriou deles com
segurança e competência, o que ficou evidenciado nas apresentações dos
trabalhos.

Os recursos tecnológicos, como ferramentas à disposição do docente e


do estudante, constituem-se em preciosos agentes de mudanças para a
melhoria da qualidade do processo de ensino-aprendizagem. Isto demanda
professores bem formados com conhecimentos sólidos da didática e dos
conteúdos, com desenvolvimento de práticas pedagógicas que utilizem estas
novas tecnologias como ferramenta que atendam às necessidades individuais
e coletivas, que estimulem a construção criativa e a capacidade de reflexão e
que favoreçam o desenvolvimento da capacidade intelectual e afetiva, levando
a autonomia e à democracia participativa e responsável.
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Referências

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usando a técnica. Acesso em 17/11/2017.
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