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AULA 5

TEORIAS DO LETRAMENTO E
PRÁTICAS SOCIAIS DE LEITURA
E DE ESCRITA

Profª Marcia Rakel Grahl Dal Forno


CONVERSA INICIAL

A sociedade do século XXI caracteriza-se, entre outros aspectos, pelas


relações sociais estabelecidas diante de duas dimensões: a virtual e a física, as
quais elucidaram novas perspectivas de ensino em todas as áreas, e com maior
relevância na área da linguagem, pois, ao mesmo tempo que se acentuou o uso da
escrita nas comunicações, se estabeleceram novas formas de escrever próprias do
meio em que se concretizam, o meio digital.
Nesta via de raciocínio, é imprescindível compreender as tecnologias sob o
contexto de letramento, o qual é tratado no tema 1 sob o título de “Letramento e
Tecnologia”. Entretanto, mais do que compreeder as tecnologias, é necessário,
antes de tudo, entendê-las considerando as multimodalidades decorrentes desta
nova realidade, configurando nosso estudo presente no tema 2, que apresenta
discussões sobre o “Letramento e os Multiletramentos”.
A complexidade estabelecida na área da linguagem diante da quebra de
paradigmas relacionados à leitura e à escrita fizeram surgir novas estruturas de
escrita que pudessem atender às demandas existentes diante de uma sociedade
informatizada e hipertextual, definida no tema 3: “Letramento e os Hipertextos”.
O tema 4 trabalha de forma sucinta os conceitos e as novas significações
oriundas do meio digital, apresentando o letramento e o discurso digital. Por fim, o
tema 5 aborda os gêneros digitais, fazendo reflexões sobre as definições
elaboradas por Marcuschi.
É inegável a velocidade com que as tecnologias digitais se estabeleceram
na sociedade e a forma como foram criadas novas formas de relações sociais entre
os indivíduos de diferentes lugares, etnias, línguas e culturas. A comunicação entre
os indivíduos configura-se diante de uma ferrameta que aproxima as pessoas
independentemente do lugar e das condições em que se encontram, da mesma
forma que dissemina informações das mais variadas origens, transitando entre o
senso comum e a ciência de forma paralela, o que desafia todos os educadores do
país. Uma das grandes problemáticas instauradas nas instituições é a de como
ensinar o uso consciete e responsável das informações disponibilizadas na internet.
Neste contexto, objetiva-se, neste material, aprofundar a compreensão das
tecnologias e das linguagens que surgiram dos meios digitais. Como objetivos
específicos, apresentaremos os novos conceitos de letramento oriundos da
teconologia digital e analisaremos as novas perspectivas de trabalho com a
linguagem que emergiu da comunicação virtual.

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CONTEXTUALIZANDO

Néstor García Canclini: “Lemos, mas de outra maneira”


O argentino, um dos principais antropólogos da América Latina, estuda a globalização e as novas
formas de ler.
Que é que hoje se entende por leitura? Até finais do século XIX, a leitura era o núcleo da
educação. Era também uma espécie de cultura geral, obtida através dos jornais e dos livros, que
se tornou cada vez mais acessível. Tinha a ver com o predomínio de uma cultura letrada, onde o
escrito e o publicado organizavam o conhecimento. No século XX, com a afirmação da televisão,
da rádio e do cinema, essa cultura perdeu protagonismo. Pensou-se que a escrita e os livros iriam
acabar. Identifica a cultura letrada com a cultura impressa? É o resultado da cultura publicada
em livros, revistas e jornais, enquanto lugares onde se obtém a informação e se capacita os
cidadãos para agir no mercado e na vida política. A cultura audiovisual deslocou a escrita, mas
não a substituiu. Portanto, a visão apocalíptica não se cumpriu. Houve uma reorganização das
linguagens e da comunicação, o que voltou a acontecer com a digitalização da cultura. O advento
da internet, dos motores de busca e das redes sociais permitiu o acesso a uma informação mais
vasta — em simultaneidade com o momento de produção. E criou a impressão de ameaça da
escrita, fortalecida por evidências parciais, como editoras que fecharam e livrarias que
desapareceram. A partir dos anos 90, nota-se a crise de formas de comunicação como o correio,
os telefones fixos ou as salas de cinema, associada à caducidade de uma etapa do
desenvolvimento cultural. E o que sobreveio a esse momento crítico? Algumas salas de cinema
fecharam, mas surgiram novos modelos. Vê-se cinema em vídeo, na televisão e na internet. Com
o livro passa-se o mesmo? Com o livro, vemos que há partes da indústria editorial que não estão
em crise, tal como a literatura infantil e juvenil e certo tipo de best-sellers. Já o livro académico
perdeu terreno, mas muito desse material está na internet de forma gratuita ou mais barata. Estas
diferenças revelam que há mais do que uma explicação para as mudanças nos hábitos dos
leitores. E o que mudou neles? O que é hoje um leitor? Em 2012, o inquérito nacional à leitura
no Brasil definia o leitor como aquele que leu pelo menos um livro nos últimos três meses. Isso
deixa de lado a forma como se lê: a descontinuidade, a leitura fragmentada e, sobretudo, a que se
faz em suportes como o computador, o smartphone e o tablet. E onde se ‘arruma’ a leitura em
suporte digital? Em lado nenhum. Por isso é necessário reformular os inquéritos, perguntando
como se lê e não quanto se lê. Desta forma, percebe-se que os suportes mudaram, mas não se
deixou de ler. Um estudo recente feito no México e em Espanha demonstrou o contrário — que se
lê mais do que antes, se tivermos em conta as novas formas de nos relacionarmos com os textos.
Que formas são essas? São descontínuas, hipertextuais e de acesso fragmentário — que inclui
materiais em várias línguas. Ou seja, não se lê menos. Persiste o medo de que os jovens da
era digital não desenvolvam o hábito de ler. Mas, segundo diz, não ler livros físicos não
significa a morte do leitor. Não, de forma alguma. Repare: ninguém gosta de ver os jovens a
enviar SMS enquanto a família se reúne ao domingo. Todavia, devemos perguntar porque o fazem.
E o que vemos é que eles estão a ler e a escrever. Como diz a investigadora espanhola Remedios
Zafra, tanto no chat como nos SMS existe o reconhecimento da importância de ser lido e de ler os
outros. A conclusão é que lemos, mas de outra maneira.
Fonte: BORGA, 2017.

Para refletir sobre os novos desafios diante das tecnologias e suas


influências na forma que os indivíduos leem e escrevem, fica interessante analisar
o trecho da reportagem publicada no jornal português, expresso em dezembro de
2017, que traz uma entrevista com o importante antropólogo Nestor Garcia. Nesta
entrevista, fica evidente a grande transformação no âmbito da leitura a partir dos
meios digitais, bem como as possibilidades e os desafios que derivaram desta nova
perspectiva de ler, o que levou a escola, de modo geral, a repensar as formas de

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ensinar e trabalhar com os alunos, pois esta nova fase configura-se sob uma ótica
de leitura hipertextual, que recorre a maneiras diferentes de ler e estudar.
Dessa forma, a problemática instaurada nas escolas de todo país cerceia o
fato de que estamos em um período histórico marcado pelo bombardeio de
informações que nem sempre correspondem a informações cientificas. Há um
emaranhado de conhecimentos que transitam, de forma simultânea, entre o senso
comum e a ciência e que fragmentam o conhecimento, desafiando os educadores
de todo o país a pensar em formas de ensino que ofereçam aos alunos ferramentas
que subsidiem as leituras de modo que consigam diferenciar as informações
cientificamente verdadeiras das inúmeras falácias postadas nos diferentes sites, ou
seja, o grande desafio da escola na atualidade está em desenvolver autonomia de
pensamento. Portanto, a questão que se coloca é: As mudanças ocasionadas, em
grande parte, pela tecnologia digital revolucionaram as formas de ler e aprender, e
a escola ainda se sustenta com base em padrões de ensino conservadores? Os
hipertextos são trabalhados na escola? De que forma?

TEMA 1 – LETRAMENTO E TECNOLOGIA

A sociedade do século XXI é marcada por diversos aspectos emergentes


da revolução do conhecimento, principalmente os relacionados à comunicação
humana, os quais passaram por mudanças de significativo impacto por
consequência da cultura digital.
A revolução tecnológica possibilitou mudanças na forma de o ser humano
se relacionar com os outros, influenciou de maneira bastante relevante na forma
de ler, escrever, aprender e, principalmente, na forma de perceber o mundo à sua
volta, criando, assim, uma cultura globalizada. Essa expressão, utilizada sob a
definição elaborada por Ferreira (2017 p. 35), se conceitua como “[...]o rico,
complexo e imenso conjunto de culturas que se entrecruzam no planeta impondo
suas peculiaridades e diferenças e exigindo respeito aos seus modus vivendi,
formatos e desenvolvimentos”.
Na mesma via de raciocínio, a autora afirma, ainda, que a expressão
cultura globalizada é utilizada por ela para destacar a complexa teia de relações
estabelecidas e que ainda se estabelecem a todo instante numa rede de
informações e inter-relações que “bombardeiam mentes e corações com novos/
velhos valores, ideias, costumes, descobertas, invenções, nomenclaturas

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diferenciadas, contraditórias e díspares povoando conjuntamente todos os
espaços).” (Ferreira, 2017, p. 35)
A característica que se evidencia de forma inseparável à sociedade do
século XXI centra-se nos termos de velocidade, informação, tempo real,
dinamicidade, quantidade, agilidade, pró-atividade. Enfim, as condições a que os
seres humanos estão submetidos hoje são marcadas pelo aceleramento de tudo,
inclusive das relações sociais, que transitam entre duas dimensões: virtual e real.
Isso ocorre de forma simultânea e complementar e, visto com naturalidade, se
configura como um aspecto a ser repensado, pois estão circunscritas a esta
naturalização as posturas de individualismo e de egocentrismo, que conduzem as
pessoas, cada dia mais, a viver isoladamente e se relacionarem muito mais pelas
ferramentas da internet do que por meio da presença física.
No entanto, é imprescindível considerar que as tecnologias trouxeram
inúmeras possibilidades para os indivíduos; o acesso à informação ficou mais
próximo e abrange um número maior de pessoas, o que as tornam indissociáveis
à sociedade de hoje. Porém, é extremamente necessário aprender e ensinar a
todos os indivíduos o uso responsável e saudável destas tecnologias, o que as
tornam muito benéficas às condições de vida dos homens.
Ensinar e aprender a utilizar as tecnologias significa aceitar que elas
modificaram a forma como os seres humanos compreendem os conceitos, como
se apropriam dos conhecimentos, e como a sociedade está sendo ressignificada
a partir destas novas formas de os seres humanos se relacionarem e de
compreenderem o mundo à sua volta.
Neste contexto, também se incorporou, na sociedade e no campo
educacional, a expressão “indivíduos letrados tecnologicamente”, exigindo das
pessoas, além das capacidades de ler, escrever e compreender, conhecimentos
necessários para utilizar as ferramentas tecnológicas de acesso e disseminação
do conhecimento.
Historicamente, o homem vem desenvolvendo tecnologias relacionadas à
comunicação incorporadas à nossa cultura. A exemplo disso, podemos citar a
prensa com tipos móveis, criada por Gutenberg, em 1450, invenção que
possibilitou a milhares de pessoas o acesso a inúmeras informações; em seguida,
surgiram as máquinas fotográficas, o cinema, a televisão, os computadores, a
internet e as redes sociais virtuais, as quais estão incorporadas pela grande
maioria da população mundial.

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Todas estas invenções, fruto do desenvolvimento humano, interferiram
diretamente na dinâmica da comunicação e, consequentemente, no uso e domínio
das competências da leitura e da escrita. O modo como as pessoas leem e
escrevem sofreu mudanças em virtude desse processo de interação derivado das
possibilidades trazidas pelo uso do mundo digital, incorporado às práticas
humanas, transformando-as e modificando, inclusive, a forma como os seres
humanos processam as informações.
Contudo, as maiores mudanças provocadas pelas tecnologias, segundo
Nascimento (2015), não se encontram na materialidade ou na virtualidade do
mecanismo de transmissão e obtenção da informação, mas na forma pela qual os
indivíduos se apropriam e usufruem da comunicação e da informação,
promovendo uma revolução cultural global. De acordo com Lévy (1999), isso
acontece porque as ferramentas digitais ocasionaram mudanças nos hábitos
humanos e, consequentemente, alterou-se a forma como processam a
informação, como pensam, se relacionam e aprendem.
A diversidade de ferramentas, de curiosidades e de informações que a
internet oferece, assim como o grande volume de interações envolvidas e das
múltiplas possibilidades do espaço virtual promovidas pelos hiperlinks, propiciam,
segundo Nascimento (2015), que as pessoas se movimentem pelos caminhos da
virtualidade no instante em que desejarem e à medida que a página em que estão
não lhe seja mais agradável. Isso leva as pessoas a adotarem posturas de estudo
fragmentadas, aligeiradas, contribuindo para aumentar o número de pessoas com
muitas informações, mas com conhecimentos superficiais, ou seja, sem
aprofundamento, um esvaziamento de conceitos científicos.
Nesta conjuntura, a escola encontra-se diante de um dilema estabelecido
contraditoriamente à sua responsabilidade, pois o espaço escolar, como locus do
conhecimento cientifico, encontra-se em condições muito aquém das desejadas e
necessárias frente aos desafios impostos pelas novas tecnologias. Segundo
Prensky (2001), o fato de os avanços tecnológicos dos últimos 20 anos do século
XX terem promovido o surgimento da geração digital evidenciou que o sistema
educacional não está preparado para isso.
A falta de estrutura e de investimentos nos recursos e nas formações dos
professores contribuem para manter a escola em um cenário distante das
demandas existentes, deixando-a em condições de impotência frente aos seus
alunos e aos seus interesses, colaborando, dentre outras coisas, para mantê-los
desmotivados a aprender. Segundo Prensky (2001, p 03), “[...] o maior problema
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que a educação enfrenta hoje é que os nossos instrutores Imigrantes Digitais, que
usam uma linguagem ultrapassada (da era pré-digital), estão lutando para ensinar
uma população que fala uma linguagem totalmente nova.”
Para o mesmo autor, existem, na sociedade, os nativos digitais e os
imigrantes digitais. O primeiro termo diz respeito aos jovens que nasceram em um
mundo cercado pela tecnologia e dela usufruem naturalmente. Já o segundo
termo refere-se àqueles que não nasceram nesse mundo digital, ou só tiveram
acesso a ele mais tardiamente, e trazem resquícios de sua cultura, apresentando
uma estrutura mais linear de aprendizagem. Nesta compreensão, a escola se
insere em um contexto ambíguo e contraditório, pois, enquanto a sociedade está
sob uma emersão de tecnologias, a escola fica à margem dessa realidade,
mantendo-se sob uma estagnação que lhe é imposta devido às condições a que
está submetida.
Desse modo, a educação encontra-se diante de um grande desafio que
transita entre formar os alunos para atuarem ativamente na sociedade em que
estão inseridos e para uma sociedade digital, que, em ambas, exige-se o domínio
de leitura, escrita, interpretação; melhor dizendo, exige indivíduos letrados para
as duas condições. Portanto, a formação dos educandos deve pautar-se em
propostas que promovam o aprendizado no contexto social, mas diante das
mudanças tecnológicas que envolvem, entre outros, o uso da internet e a
interatividade das redes sociais.
A educação constitui-se em um grande desafio. Nas palavras de Moran
(2000, p. 137) “Educar é colaborar para que professores e alunos — nas escolas
e organizações — transformem suas vidas em processos permanentes de
aprendizagem”. Portanto, ainda no pensamento de mesmo autor, é extremamente
necessário reverberar propostas de ensino que gerem mudanças qualitativas no
processo de ensino/aprendizagem, o que, diante deste contexto, deve contemplar
todas as tecnologias, por exemplo, as telemáticas, as audiovisuais, as textuais, as
orais, musicais, lúdicas e corporais, entre outras.
É preciso destacar, ainda, segundo Nascimento (2015), que, apesar de a
maioria dos alunos ter acesso à internet e a usar frequentemente para diversas
intenções e até mesmo para fins escolares, não significa que tenha se apropriado
de uma aprendizagem efetiva que colabore para a aquisição de competências de
letramento.

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TEMA 2 – LETRAMENTO E MULTILETRAMENTOS

A multiplicidade de conceitos emergentes na sociedade digital caracteriza-


se pelas suas inter-relações, configuradas como intercambiáveis e
complementares. O que os aproxima são suas especificidades, que os constituem
como elementos da comunicação humana imbricados sob o mesmo contexto
social.
Neste contexto social em que se situa a escola, configura-se, dentre outros
aspectos, uma multiplicidade de culturas que se misturam e se constituem a partir
das novas relações estabelecidas com o uso das tecnologias digitais, o que
conduz a uma análise do letramento a partir de uma compreensão baseada na
perspectiva de letramentos críticos. Esta teoria foi proposta por Menezes de
Sousa e Andreotti (2007) e se baseia na reflexão crítica e construção dos sentidos.
Sinteticamente, esta proposta intenciona, entre outros elementos, refletir sobre o
lugar em que o educando ocupa socialmente, trazendo alguns aspectos a serem
pensados, por exemplo: por que o indivíduo pensa; como pensa; como pensaria
se estivesse diante de outra situação ou condição social.
Diante desta premissa desenvolvida pelos autores, a compreensão que se
faz sobre letramento passa a ser entendida para além da construção de textos e
sentidos, configurando-se um processo que possibilita o uso da leitura e da escrita
nas mais diversas práticas sociais, e que, de forma autônoma, possa transitar
pelos mais variados tipos textuais. Isso, conscientemente, proporcionará a
elaboração de sentidos que incorporarão a visão de mundo dos leitores.
Esta visão de mundo da atualidade é feita inevitavelmente pela leitura que
das diversas possibilidades de informações disponíveis nas diferentes
tecnologias, e que se configuram como multimodais, ou seja, contemplam e
integram os mais diversos tipos de textos, escritos, imagéticos, sonoros, gestuais
entre outros, em que o processo de letramento deve proporcionar aos aprendizes
conhecimentos necessários para que possam circular entre as multimodalidades.
Segundo Braga (2005), as mudanças da linguagem, oriundas das
adaptações feitas para os meios digitais, desencadearam o surgimento de novos
gêneros textuais, bem como a necessidade de pensar em novas formas de ler e
escrever, pois, segundo a mesma autora, no texto digital, a tela imaterializa o
texto, inviabilizando ao leitor a noção do todo que é possível ao manusear um
texto impresso. Ainda no pensamento da mesma autora, os textos passaram a ser
organizados em unidades menores, os quais são acessados dinamicamente por

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links, levando os autores a “construir segmentos textuais que tenham um sentido
completo e que permitam a construção de relações de sentido, mesmo acessados
em uma ordem diferente”. (Braga, 2005, p. 758).
Sob esta perspectiva de movimento entre textos multimodais, os quais
estão nos mais variados tipos de mídias, surge a necessidade de um novo tipo de
letramento, o qual vem sendo denominado de multiletramento. As práticas
multiletradas se originaram, segundo Dias, com “as mudanças sociais, culturais e
tecnológicas advindas da era do ciberespaço. Com isso, o cidadão
contemporâneo precisa tornar-se aberto à diversidade cultural, respeitar a
pluralidade étnica e saber conviver on-line” (Dias, 2012, p. 8)
Entretanto, Rojo (2012) destaca a necessidade de diferenciar o conceito de
letramentos (múltiplos), que se refere à multiplicidade e variedade das práticas
letradas, do conceito de multiletramentos, que, para a autora, aponta para dois
tipos específicos e importantes de multiplicidades presentes na sociedade: a
“multiplicidade cultural das populações e multiplicidade semiótica de constituição
dos textos por meio das quais ela se informa e se comunica.” (Rojo, 2012, p. 13)
Ainda sob a ótica de Rojo, a multiplicidade de culturas caracteriza-se “pelas
produções culturais letradas em efetiva circulação social, como um conjunto de
textos híbridos de diferentes letramentos de diferentes campos” (Rojo, 2012,
p.13), os quais passam pela escolha pessoal e política e não se constituem
enquanto algo novo, pois vivemos, desde o início do século XX, “em sociedade
de híbridos impuros, fronteiriços.” (Rojo, 2012, p. 14)
Na mesma linha de raciocínio, Canclini afirma que foi a partir das novas
tecnologias que a produção cultural da atualidade passou por um processo de
desterritorialização, de descoleção e de hibridação, permitindo às pessoas que
fizessem suas próprias coleções. Ou seja, com as tecnologias, o acesso à cultura
foi democratizado, aumentando as possibilidades de apropriação dos patrimônios
culturais que antes estavam restritos a uma minoria, o que leva a escola a elaborar
outros gêneros, denominados por Canclini como “impuros de outras e novas
mídias, tecnologias, línguas, variedades, linguagens” (apud Rojo, 2012, p. 14).
Nesta compreensão, Rojo (2012), destaca a importância de haver uma
nova ética baseada não tanto pela propriedade de direitos autorias, mas centrada
no diálogo entre os novos interpretantes e em novas estéticas que emergem com
critérios próprios, o que se diferencia dos critérios de beleza, de apreciação dos
outros.

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No entanto, no que diz respeito à multiplicidade de linguagens, ou, como
se refere a autora Rojo (2012), a modos ou semioses nos textos em circulação,
são os textos compostos de muitas linguagens, contemplando imagens e arranjos
de diagramação, que exigem capacidades e práticas de compreensão e produção
de cada uma delas para sua significação. Para a autora, “é o que tem sido
chamado de multimodalidade ou multissemiose dos textos contemporâneos que
exigem multiletramentos.” (Rojo, 20012, p. 19)
Diante desta nova perspectiva multiletrada presente na sociedade atual, a
mesma intelectual afirma que são necessárias novas ferramentas além do lápis e
papel. É preciso incorporar recursos como áudio, vídeo, tratamento da imagem,
edição e diagramação, os quais exigem conhecimentos de novas práticas de
produção e de análise crítica como receptor. Ainda segundo Rojo (2012), o caráter
que se apresenta com maior destaque no funcionamento destes novos textos não
é a sua característica multi, mas sim hiper, como hipertextos, hipermídias.
Não obstante, é necessário, ainda, apontar algumas características
importantes sobre o sentido da palavra multiletramentos, caracterizada
imprescindivelmente pelo seu caráter interativo, ou, como afirma Rojo (2012),
colaborativo. Além disso, para a mesma autora, eles se fraturam e transgridem as
relações de poder estabelecidas, com especial destaque nas relações de
propriedade, e, por fim, a autora os define como híbridos, fronteiriços, mestiços
de linguagens, modos, mídias e culturas.
Portanto, pensar em multiletramentos é considerar, segundo Barbosa,
(2012 p.11), “que as novas tecnologias possibilitam um circuito de remixagem e
redistribuição de informações, que supõe algum tipo de manifestação diante dos
textos que circulam.” E estas manifestações só podem constituir-se de forma
consciente e crítica se fundamentadas em posicionamentos teóricos, os quais se
tornam possíveis desde que trabalhados na escola a partir de propostas de
multiletramentos baseadas em princípios de usuário funcional (Rojo, 2012). Este
deveria se apropriar de competências técnicas e conhecimentos práticos; o
criador de sentimentos deveria ser entendido como os diferentes textos e
tecnologias que operam; o analista crítico, considerado o entendimento de que
tudo que é dito e estudado é fruto de seleção prévia; e o transformador, como
aquele que usa o que foi aprendido de novos modos

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TEMA 3 – LETRAMENTO E HIPERTEXTO

Concomitantemente e indissociavelmente à chegada dos computadores,


iniciou-se uma nova maneira de ler e ver o mundo. Anterior à informática, os
indivíduos tinham acesso à leitura pelos textos escritos e impressos. Com a
tecnologia, esses mesmos textos ganharam cor, imagens, som, ou seja, o texto
ganhou movimento. Segundo Senna (2012), com a vinda dos computadores, as
pessoas puderam se apropriar de uma nova tecnologia, que as possibilitou uma
autonomia como leitores e autores das suas próprias visões de mundo,
traduzindo-se em textos que poderiam ser compartilhados com qualquer pessoa
e sem autorização ou legitimação do homem científico. Nas palavras do autor,

Fundava-se, finalmente, no interior da sociedade urbana ecológica, uma


nova era de urbanidade, não mais aprisionada no plano fechado de um
texto que sempre traz a voz do outro, e sim liberta, lançada na
simultaneidade do tempo por meio do hipertexto – este modelo de texto
em que todos se significam, segundo o que querem fazer significar.
(Senna, 2012, p. 75)

Nesta afirmativa, Rojo (2012) complementa a ideia de Senna, expondo que


uma das principais características dos novos hipertextos é sua interatividade nos
vários níveis, diferenciando-os das mídias anteriores, pois permite aos usuários
que interajam em vários níveis e com vários interlocutores. Isso nos leva ao
entendimento de que o hipertexto pode ser compreendido como superior ao texto,
no sentido de que contempla mais elementos, estando condicionado a um suporte
dinâmico como o computador.
Entretanto, talvez a definição mais sintética de hipertexto se centra no fato
de designar-se de um processo de leitura e escrita não linear e não hierarquizado,
que permite acessos ilimitados e instantâneos a outros textos. O hipertexto
constitui a base da internet. Segundo Pierre Lévy (1993), tecnicamente, um
hipertexto é um conjunto de nós, que pode ser de palavras, páginas, imagens,
gráficos entre outras possibilidades, ligados por conexões. De acordo com Koch
(2005, p. 63), os hipertextos permitem “ao leitor realizar livremente desvios, fugas,
saltos instantâneos para outros locais virtuais da rede, de forma prática, cômoda
e econômica”.
Nesta via de raciocínio, o hipertexto apresenta-se sob algumas
características relevantes, que segundo Koch (2007, p.25), são:

1. não-linearidade ou não-sequencialidade (característica central) – o


hipertexto estrutura-se reticularmente, não pressupondo uma leitura
sequenciada, com começo e fim previamente definidos. Segundo

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Marcuschi (1999, p.33), o hipertexto “rompe a ordem de construção ao
propiciar um conjunto de possibilidades de constituição textual
plurilinearizada, condicionada por interesses e conhecimentos do leitor-
co-produtor” (grifos do autor); 2. volatilidade – que é devida à própria
natureza do suporte; 3. espacialidade topográfica – por tratar-se de um
espaço não-hierarquizado de escritura/leitura, de limites indefinidos; 4.
fragmentariedade, já que não existe um centro regulador imanente; 5.
multissemiose – por viabilizar a absorção de diferentes aportes sígnicos
e sensoriais (palavras, ícones, efeitos sonoros, diagramas, tabelas
tridimensionais, etc.) numa mesma superfície de leitura; 6. descentração
ou multicentramento – a descentração estaria ligada à não linearidade,
à possibilidade de um deslocamento indefinido de tópicos; contudo, já
que não se trata de um simples agregado aleatório de fragmentos
textuais, há autores que contestam essa característica, preferindo falar
em multicentramento, como é o caso, por exemplo, Bolter (1991) e Elias
(2000, 2005); 7. interatividade – possibilidade de o usuário interagir com
a máquina e receber, em troca, a retroação da máquina; 8.
intertextualidade – o hipertexto é um “texto múltiplo”, que funde e
sobrepõe inúmeros textos que se tornam simultaneamente acessíveis a
um simples toque de mouse; 9. conectividade – determinada pela
conexão múltipla entre blocos de significado; 10. virtualidade – outra
característica essencial do hipertexto, que constitui, conforme foi dito,
uma “matriz de textos potenciais” (Bairon, 1995, apud Koch, 2007,p.26).

Segundo a mesma autora, “o hipertexto tem sido apontado como algo


radicalmente inovador, como um novo paradigma de produção textual” (Koch,
2007, p.67), no entanto, Marcuschi (1999) afirma que “a rigor, ele não é novo na
concepção, pois sempre existiu como ideia na tradição ocidental; a novidade está
na tecnologia que permite uma nova forma de textualidade”. Sobretudo deve
centrar-se no fato de que, independentemente das relações que se façam entre
texto e hipertextos, ambos devem ser pensados como textos, porém com suas
especificidades.

TEMA 4 – LETRAMENTO E O DISCURSO ELETRÔNICO

Certamente, o uso das novas tecnologias proporcionou mudanças


significativas no modo de ler, escrever, e interpretar, no entanto, há que sinalizar
para o fato de que ainda se estabelecem a partir dos mesmos textos, os quais
estão sendo armazenados e transportado nas nuvens, sites, nas ferramentas que
a internet possibilita. Segundo Marcuschi (2004), há outras formas de
textualização que não anulam as antigas, e que devem ser consideradas na
análise de o que vem a ser o denominado letramento tecnológico ou letramento
digital para além da simples reprodução de textos.
Entretanto, estas novas formas de ler e escrever digitalmente
desencadearam diferentes gêneros textuais que se caracterizam pelo uso digital,
e que o tornam relevantes sob três aspectos destacados por Marcuschi:

012
[...] (1) seu franco desenvolvimento e um uso cada vez mais
generalizado; (2) suas peculiaridades formais e funcionais, não obstante
terem eles contrapartes em gêneros prévios; (3) a possibilidade que
oferecem de se rever conceitos tradicionais, permitindo repensar nossa
relação com a oralidade e a escrita. (Marcuschi, 2002, p.1)

Estes aspectos ganham significativa relevância na sociedade e,


consequentemente, na escola devido ao grande número de pessoas que os utiliza
constantemente, corroborando para o que o mesmo autor afirma sobre o discurso
eletrônico: constituir um bom momento para analisar o efeito tecnológico na
linguagem e, da mesma forma, o papel da linguagem nessas tecnologias.
Da mesma maneira que a escrita, quando surgiu, teve grande impacto na
vida das pessoas, a escrita eletrônica conduzirá as pessoas a uma cultura
eletrônica, que, segundo Bolter (1991), traz uma nova economia da escrita, a qual
se caracteriza pelo prefixo “e”, e que Marcuschi afirma ser letramento digital. Para
o mesmo autor, este novo tipo de comunicação “é conhecido como Comunicação
Mediada por Computador (CMC) ou comunicação eletrônica e desenvolve uma
espécie de “discurso eletrônico”. (Marcuschi, 2002, p. 2)
Nesta compreensão, o autor destaca os gêneros textuais emergentes deste
domínio da mídia virtual, enfatizando que ainda são estudos relativamente novos.
Portanto, podem haver mudanças conceituais futuras, mas, neste momento, os
estudos já realizados apontam para este novo domínio discursivo sob a
denominação de “discurso eletrônico”.
Na mesma via de raciocínio, Marcuschi sinaliza que um dos aspectos
essenciais da mídia virtual é a centralidade da escrita, da qual a tecnologia digital
é totalmente dependente:

[...] nessa era eletrônica não se pode mais postular como propriedade
típica da escrita a relação assíncrona, caracterizada pela defasagem
temporal entre produção e recepção, pois os bate-papos virtuais são
síncronos, ou seja, realizados em tempo real e essencialmente escritos.
(Marcuschi, 2002, p. 5, grifo nosso.)

No entanto, questões relativas à linguagem utilizada nos meios digitais


configuram-se sob uma indefinição em neste sentido, Crystal (2001, p. viii)
descreve três aspectos que podem ser frisados:

(1) do ponto de vista dos usos da linguagem, temos uma pontuação


minimalista, uma ortografia um tanto bizarra, abundância de siglas e
abreviaturas nada convencionais, estruturas frasais pouco ortodoxas e
uma escrita semi-alfabética; (2) do ponto de vista da natureza
enunciativa dessa linguagem, integram-se mais semioses do que
usualmente, tendo em vista a natureza do meio;(3) do ponto de vista
dos gêneros realizados, a internet transmuta de maneira bastante
complexa gêneros existentes e desenvolve alguns realmente novos.
(Marcuschi, 2002, p. 5, grifos nossos.)
013
Para o mesmo autor, é incontestável que a Internet e todos os gêneros a
ela ligados são eventos textuais fundamentalmente baseados na escrita, sendo
esta essencial na integração de imagens e sons. No entanto, Marcuschi chama a
atenção para o hibridismo mais acentuado, inclusive com o acúmulo de
representações semióticas não percebido no passado, entretanto, para Crystal
(2001), “o impacto da Internet é menor como revolução tecnológica do que como
revolução dos modos sociais de interagir linguisticamente”.

TEMA 5 – LETRAMENTO E OS GÊNEROS DIGITAIS

Os gêneros textuais decorrem, segundo Marcuschi (2004), de complexas


relações entre um meio, um uso e a linguagem. Neste caso, o meio eletrônico
oferece peculiaridades específicas para usos sociais, culturais e comunicativos
que não se oferecem nas relações interpessoais face a face. E a linguagem
concorre, aqui, com ênfases deslocadas em relação ao que conhecemos em
outros contextos de uso.
A linguagem ganhou novas formas e novas possibilidades diante da
tecnologia da informática e, principalmente, com a internet, que possibilitou a
criação das redes virtual que constituem, na atualidade, uma gigantesca rede
social que liga as pessoas do mundo inteiro numa relação, como denomina
Marcuchi (2004), síncrona, estabelecendo uma nova ideia de interação social.
Aspecto este que o mesmo autor destaca para frisar a natureza social das novas
tecnologias, contrapondo a ideia de que alguns pesquisadores tendem a definir
como antissociais. Para este intelectual, é a partir daí que surgem as
“comunidades virtuais em que os membros interagem de forma rápida e eficaz (o
gênero listas de discussão encarna esse aspecto)”.
Diante destas novas relações sociais, bem como das comunidades virtuais
que surgiram em decorrência das novas tecnologias, emergem novas formas de
escrever, as quais elucidam diferentes estruturas de escrita conforme a
intencionalidade que estabelecida perante a nova realidade. Este novo panorama
proporcionou a quebra de determinados paradigmas no que diz respeito à
compreensão das formas de escrita corretas e impôs uma nova perspectiva de
ver a escrita, bem como de ensiná-la, pois elucidou diferentes gêneros próprios
do meio digital, os quais, segundo Marcuschi (2004), são difíceis de definir e
identificar, devido à natureza própria da tecnologia que os abriga.

014
Nesta ousada tentativa de descrever e nomear os gêneros digitais, o
mesmo autor sinaliza para o fato de a Home-page (portal, página) não ser
considerada um gênero por se constituir como um ambiente específico de
localização de uma série de informações, situando-se muito mais nas
características de suporte textual do que de gênero. Para Marcuschi (2004), a
home-page se caracteriza como um serviço eletrônico que pode ser comparado a
um catálogo ou a uma vitrine. Nesta compreensão, o autor apresenta algumas
possibilidades de descrever os gêneros digitais, que podem ser designados como:

1. e-mail (correio eletrônico n com formas de produção típicas);


2. bate-papo virtual em aberto (room-chat) (inúmeras pessoas interagindo
simultaneamente);
3. bate-papo virtual reservado (chat) (variante dos room-chats do tipo (2)
mas com as falas acessíveis apenas aos dois selecionados, embora vendo
todos os demais em aberto);
4. bate-papo agendado (ICQ) (variante de (3), mas com a característica de
ter sido agendado e oferecer a possibilidade de mais recursos tecnológicos
na recepção e envio de arquivos);
5. bate-papo virtual em salas privadas (sala privada com apenas os dois
parceiros de diálogo presentes). Uma espécie de variação dos bate-papos
de tipo (2);
6. entrevista com convidado (forma de diálogo com perguntas e respostas
num esquema diferente do que os dois anteriores);
7. aula virtual (interações com número limitado de alunos no formato de e-
mail ou de arquivos hipertextuais com tema definido em contatos
geralmente assíncronos);
8. bate-papo educacional (interações síncronas no estilo dos chats com
finalidade educacional, geralmente para tirar dúvidas, dar atendimento
pessoal ou em grupo e com temas prévios);
9. videoconferência interativa (realizada por computador e similar a uma
interação face a face; uso da voz pela rede de telefonia ou a cabo);
10. lista de discussão (grupo de pessoas com interesses específicos, que se
comunicam, em geral, de forma assíncrona, mediada por um responsável
que organiza as mensagens e eventualmente faz triagens);
11. endereço eletrônico (seja o pessoal para e-mail ou para a home-page
tem hoje características típicas e é um gênero).

015
12. weblog (blogs; diários virtuais) são os diários pessoais na rede, uma
escrita autobiografia com observações diárias ou não, agendadas,
anotações, em geral muito praticados pelos adolescentes na forma de
diários participativos. (Marcuschi, 2004, p.28)

Para o mesmo autor, os mais comuns e utilizados com maior frequência


são os e-mails, bate-papos virtuais e listas de discussão. De forma gradativa e
rápida, estão se popularizando as aulas virtuais, devido à disseminação dos
cursos de ensino à distância.
A predominância da escrita é incontestável em todos os gêneros
apresentados por Marcuschi, de modo a comunicação se fundamenta pela escrita.
Porém, nas reflexões do autor, configura-se como uma escrita que apresenta
certa informalidade, pouco monitoramento e cobrança pela fluidez do meio e da
velocidade do tempo em que se estabelecem. Ainda no pensamento do mesmo
autor sobre esses gêneros emergentes, é preciso evidenciar que determinados
gêneros estão condicionados a certos padrões estabelecidos pelos programas a
que estão submetidos. Isso não deve ser confundido como gênero: programas e
gêneros têm especificidades diferentes, pois os padrões e a rigidez de um
programa não se estendem aos gêneros. Nas palavras de Marcuschi, “o que se
deveria investigar é qual a real novidade das práticas e não a simples estrutura
interna ou a natureza da linguagem”. (Marcuschi, 2004, p. 29)

FINALIZANDO

A leitura que se faz diante das possibilidades que as tecnologias digitais


proporcionaram à população é, primeiramente, complexa, pois a quantidade de
novos conceitos oriundos desta nova perspectiva é ainda inviável de descrever e
definir, pois estão em constante movimento e, a cada dia, emergem novas
estruturas, bem como novos mecanimos de comunicação, levando a um
entendimento que, além de complexo, torna-se instável, dificuldando sua definição.
No entanto, alguns conceitos tornam-se imprescindíveis diante da
responsabilidade sob a enxurrada de informações dissemidas na rede virtual.
Aprender e ensinar a usar os conhecimentos disseminados na rede, bem como a
forma de se relacionar diante da vulnerabilidade, também se carcaterizam nas
comunidades virtuais e se tornam aspectos de significativa inportância na
sociedade.

016
Nesta compreensão, entender a tecnologia como possibilidade, mas
também como desafio, faz parte da grande teia de conhecimentos indispensáveis
aos educadores do século XXI. Compreender que estamos diantes de uma
sociedade que lê de forma diferente é indissociàvel à prática educativa, bem como
compreender que viemos de um emaranhado de novos e complexos conceitos que
transitam nas suas novas formas hipertextuais, conduzindo as pessoas a
processarem os conhecimentos de menira nova e diferente, carcaterizada pela sua
não lineariedade.
Neste contexto, também se estabelecem as multifacetas do conhecimento,
pois vivemos hoje em uma soceidade multicultural, caracterizada pela suas
multimodalidades comunicativas, de modo que é inerente ao trabalho educativo
entender os multiletramentos, bem como os novos discusos e os novos genêros
digitais.

017
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