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DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES

MESTRADO EM ESTUDO DE LÍNGUA PORTUGUESA


Tipologias Textuais e Práticas de Escrita – 52044
Docente: Professora Doutora Isabel Seara

MICRONARRATIVAS DIGITAIS COMO ESTRATÉGIA


PEDAGÓDGICA NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
Discente: Gisele Tiago- nº 2202098

SUMÁRIO
Introdução .................................................................................................................. 2
1. Os gêneros emergentes no contexto virtual .......................................................... 3
1.1. Os gêneros digitais .............................................................................................. 3
2. Os gêneros digitais nas aulas de Língua Portuguesa numa perspectiva
multiletrada .........................................................................................................................
............ 4
3. As micronarrativas digitais ..................................................................................... 5
4. Os gêneros digitais como estratégia pedagógica nas aulas de Língua
Portuguesa ..........................................................................................................................
........... 6
4.1 Sequência didática: gênero microconto ................................................................ 7
Conclusão .................................................................................................................... 9
Referências bibliográficas ........................................................................................... 9

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RESUMO
O presente estudo foi pensado após a realização de um trabalho realizado sobre o tema
Gêneros digitais, o que me motivou a pensar neste tema tão atual e emergente que
advém das novas formas de linguagem e comunicação deste mundo cibernético, movido
por pessoas cada vez mais conectadas e que se comunicam cada vez mais de forma
breve e instantânea, consoante a nova realidade social na qual vivemos. Diante desta
nova realidade, surge uma questão: Como podemos utilizar estes novos gêneros
emergentes e este novo tipo de linguagem como metodologia utilizada nas aulas de
Língua Portuguesa?
Por meio de pesquisa bibliográfica e estudos realizados sob a forma de artigos e teses
atuais, o presente trabalho tem como objetivo analisar e propiciar reflexão acerca dos
gêneros textuais emergentes, bem como propor este tema como uma estratégia de
ensino para as aulas de língua portuguesa, por meio de uma apresentação de sequência
didática com micronarrativas digitais.

INTRODUÇÃO
Devido ao avanço das tecnologias digitais e do crescente acesso ao mundo
conectado pela internet, surge uma modificação das formas de comunicação e interação
das pessoas na sociedade atual. Essa nova forma de comunicação acompanha o ritmo/
estilo de vida cada vez mais acelerado da nossa sociedade. Devido a esse ritmo
acelerado, as pessoas comunicam-se cada vez mais de forma breve e instantânea, por
meio de mensagens curtas enviadas e recebidas com o auxílio de recursos digitais
(aplicativos, e-mails, entre outros).
Dessa forma, a internet e os novos recursos digitais modificaram a forma de
comunicação e propagação da informação, ampliando, assim, o conteúdo digital e
modificando as formas de leitura e de publicação de textos para uma nova sociedade
leitora de textos digitais.
Segundo Marcuschi (2010), a frequência com que os jovens utilizam os
aparelhos tecnológicos, tais como celulares, Notebook, tablets, dentre outros, propiciam

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o contato com múltiplas linguagens, semioses, ambientes virtuais e oferecem uma
infinidade de gêneros textuais digitais, que daí emergem. 
Diante deste novo cenário, é importante que o professor tenha uma postura
diferenciada em relação ao conhecimento desses novos gêneros digitais de forma a
aproveitar e articular este conteúdo ao se pensar nas estratégias para as aulas de LP, com
o objetivo de aproximar o ensino da língua e seu uso da realidade social/virtual do
aluno, e consequentemente, tornando o ensino da LP mais significativo.

1. Os gêneros emergentes no contexto virtual


Marcuschi (2004) considera que, no contexto virtual, os gêneros emergentes
permitem-nos trabalhar a oralidade e a escrita, bem como os géneros textuais
tradicionais. Ainda na perspectiva do autor, os géneros emergentes na era digital foram
configurados para um discurso eletrônico e apresentam características particulares e
próprias da mediação presentes na mídia virtual, mas decorrem de uma variação de
géneros antigos, como: o e-mail que veio da carta, o weblog que tem origem no diário, e
o chat que nada mais é do que uma conversa informal.
Segundo Barbosa (2012), “Os novos géneros textuais emergentes surgiram face
a novas práticas sociais, e apresentam semelhanças à géneros textuais já conhecidos e
ensinados na escola, como o bilhete, a carta, a notícia etc, tanto em sua forma de
interação comunicativa quanto na prática da linguagem escrita da sociedade.” A autora
aponta que os géneros se concretizam na dimensão social da linguagem através do
modo de se comunicar e da forma como selecionamos o discurso apropriado no
momento adequado etc. (Barbosa, 2012)

1.1 Os géneros digitais


Em decorrência do expressivo desenvolvimento dos ambientes virtuais, nota-se
um constante aumento de novos géneros digitais, e Marcuschi (2004) considera que há
uma variedade deles, como e-mail, chats, entrevistas, fóruns de discussão e blogs na
internet. O autor aponta três aspectos que tornam a análise dos géneros digitais relevante
(2012):
a) Seu franco desenvolvimento e um uso cada vez mais generalizado;
b) Suas peculiaridades formais e funcionais, não obstante terem eles contrapartes em
gêneros prévios;

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c) A possibilidade que oferecem de se rever conceitos tradicionais, permitindo repensar
nossa relação com a oralidade e a escrita.

2. Os gêneros digitais nas aulas de Língua Portuguesa numa perspectiva


multiletrada
Na perspetiva de letramento e alfabetização, o processo de aquisição da leitura e
da escrita deve ocorrer de forma contextualizada com a realidade social em que o
indivíduo está inserido. Dessa forma, ocorrendo em simultâneo, a alfabetização e o
letramento preparam o indivíduo para ser independente na vida em sociedade, tornando-
o capaz de “participar de práticas sociais discursivas materializadas pelos gêneros
textuais que circulam na sociedade letrada” (SILVA, 2008, p.221).
As práticas de letramento na esfera escolar tem como objetivo oferecer ao
indivíduo situações de práticas sociais e culturais significativas, oferecendo acesso aos
novos conhecimentos e tornando-o apto para atuar na vida em sociedade. Dessa forma,
é importante que o indivíduo vivencie “eventos de letramento”, em níveis variados, na
sociedade em que se insere.
Ao trabalhar os gêneros textuais emergentes nas aulas de Língua portuguesa, é
importante que o professor organize, elabore e desenvolva atividades contextualizadas e
de forma interdisciplinar, considerando as múltiplas manifestações sociais que existem
dentro de uma sala de aula. Para Silva (2019, p.8) essas práticas precisam estabelecer
relações entre cultura digital e cultura escolar, em que a escola possa assumir o papel de
protagonista, criando possibilidades pedagógicas que contemplem políticas de
incorporação das tecnologias em suas práticas formativas. Para a autora, Letramento,
nesse contexto, representa um processo de aprendizagem social e histórica da leitura e
da escrita e destaca:
Esses são novos saberes proporcionados pela cibercultura que exigem o
aprendizado de outros letramentos, além do escolar, pois as ações que
envolvem leitura e escrita, hoje, demandam o uso de diferentes linguagens,
novos estilos de raciocínio e conhecimento, dada a multiplicidade de
significados atribuídos ao letramento. (SILVA, 2019)

Nesse sentido, a metodologia de ensino associada à prática de multiletramento


alinha-se à questões “sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas, linguísticas,

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tanto para o grupo social em que seja introduzida, quanto para o indivíduo que aprenda
a usá-la.

3. As micronarrativas digitais
A expressiva generalização das novas formas de comunicação e de interação
virtual que a internet propiciou às pessoas motivou um amplo desenvolvimento da
produção e de circulação de histórias, gerando novas “linguagens”, que são propícias à
esta nova prática da narrativa breve. Essas novas formas de produção textual permitiram
a criação de formas narrativas minúsculas que estão presentes em livros e na imprensa
escrita, bem como nesses novos meios digitais, como blogs, e-books, redes socias, entre
outros.
Escritores e críticos apontam que a extensão de um conto convencional varia
entre 2.000 palavras e 10.000 palavras. Zavala, (2002) propõe o reconhecimento de três
tipos de histórias abaixo de 2.000 palavras: curtas (1.000 a 2.000 palavras) muito curta
(200 a 1.000 palavras) e ultracurto (1 a 200 palavras).
O autor e pesquisador desta classe de contos Irving Howe, propõe uma tipologia
para dos contos. Para o autor, um conto pode narrar um incidente ou condensar uma
vida, ou pode assumir um tom lírico ou alegórico.
Irene Zahava diz sobre contos muito curtos: são as histórias que alguém pode
dizer como ele bebe apressadamente uma xícara de café, no que dura uma moeda numa
cabine telefónica, ou no espaço que alguém tem ao escrever um cartão-postal de um
lugar remoto e com muitas coisas para contar.
Álvares (2012) recorda que a narrativa breve surgiu muito antes do advento da
internet. A autora cita que a narrativa breve, muito breve e extremamente breve surge
sob a ação do modernismo e do desenvolvimento da imprensa na transição do século
XIX para o século XX.
Diante da multiplicação de narrativas de poucas palavras, o que sabemos sobre
um microconto?
O microconto é uma narrativa breve, é um subgênero em ascensão e, por
diversas vezes, ele é confundido com poemas curtos de autores conhecidos, como o de
Mário Quintana, em o Poeminha do contra: Todos esses que aí estão / Atravancando
meu caminho / Eles passarão… / Eu passarinho! Utilizando poucas palavras, o autor de
microcontos consegue construir uma imagem e gerar muitas dúvidas, sendo assim, um
desafio para quem o lê.

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A internet influencia a produção do microconto, mas ela não é determinante, ela
apenas funciona como um suporte de divulgação. Para Souza, o microconto não é gentil.
É o leitor quem começa, termina ou, simplesmente, aceita a história.
Álvares (2012) sugere que este tipo de texto literário breve e hiperbreve se
define por três constantes: a brevidade, a narratividade e a intertextualidade. Para a
autora, a brevidade acaba por ter uma ação negativizante sobre a narratividade dos
microcontos. Em comparação com o conto, que tem uma estrutura narrativa desenrolada
numa ordem sequencial do tempo, a brevidade de um microconto reduz drasticamente
este tempo, reduzindo, assim, a sucessão de ações a uma ação única contada uma única
vez. Cabe ao leitor fazer inferência a partir do conteúdo compacto de narratividade
presente numa micronarrativa.

4. Os gêneros digitais como estratégia pedagógica nas aulas de Língua


Portuguesa

Diante de tudo o que foi exposto e refletido, é preciso criar práticas pedagógicas
que promovam a apropriação daquilo que é disponibilizado a partir dos ambientes
virtuais, com o objetivo de construir um ambiente educacional mais criativo e
“conectado” com o cotidiano dos jovens alunos.
As aulas de Língua Portuguesa farão muito mais sentido para o aluno se as
sequências didáticas propostas para o ensino da língua pensadas e propostas
pelo professor estiverem “fundamentadas no desenvolvimento da
competência comunicativa, na formação reflexiva e no processo de ensino e
aprendizagem colaborativo, visando à promoção do pensamento crítico, à
intensificação da interação mútua entre alunos e professores”. (SILVA, 2021,
P. 4).

Ao pensar em estratégias pedagógicas nas aulas de Língua Portuguesa que


possam integrar as tecnologias digitais e auxiliar na compreensão das múltiplas formas e
possibilidades de acesso ao conhecimento, de forma crítica, reflexiva e situada,
proponho uma sequência didática a ser desenvolvida com dois gêneros textuais: um
gênero clássico, o conto; e um gênero digital emergente, o microconto.
Tudo isso poderá contribuir para que haja uma relação dialógica (BAKHTIN,
2003), mais significativa entre os principais atores da Educação: professores e alunos,
por meio do uso crítico das tecnologias, as quais devem ser pensadas enquanto processo
de conhecimento.

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4.1 Sequência didática: gênero microconto

DISCIPLINA: Língua Portuguesa


OBJETIVOS:
 Compreender o conceito de micronarrativa digital: microconto e suas
características;
 Desenvolver a leitura e a literariedade nos alunos;
 Praticar a escrita;
 Estudar a gramática a partir das produções textuais dos alunos.
CONTEÚDOS:
 Microcontos: estrutura e características;
 Conto e microconto: diferenças de estrutura.
 Conectivos;
 Pontuação;
 Concordância verbal e nominal.
DURAÇÃO:
 10 aulas (50 minutos cada aula).
TURMA:
 1º ano do ensino médio.
RECURSOS:
 Computador, projetor de tela, impressão do conto Venha ver o pôr do sol e do
microconto Confissão, papel, lápis, caneta e folha.

SEQUÊNCIA DE ATIVIDADES:
1. LEITURA E ORALIDADE:
 No momento inicial, conversar com os alunos sobre conto e microconto, indagar
se eles conhecem este novo gênero textual e o questionar sobre quais contos eles
já ouviram e o que eles sabem sobre o gênero;
 Leitura do conto de Lygia Fagundes Teles, Venha ver o pôr do sol;
 Leitura do microconto de Lygia Fagundes Teles, Confissão.

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 Conversar com os alunos sobre as leituras para, em segundo momento, explicar
em aula expositiva sobre as características do microconto e o que o diferencia de
um conto tradicional.

2. LEITURA E PESQUISA EM GRUPO


 Divididos em duplas e com os recursos da sala de informática, os alunos devem
pesquisar microcontos e escolher um para compartilhar a leitura com os colegas
de turma.
 Após a pesquisa, cada dupla deve socializar o microconto em forma de leitura.
 Após a leitura de cada dupla, levar os alunos a identificarem nos microcontos os
elementos de narrativa e o tipo de linguagem.

3. ESCRITA
 Em dupla, os alunos vão produzir um microconto com tema a ser definido por
eles, que envolva algum fato do seu cotidiano, a ser pensado da seguinte forma:
 Para auxiliar os alunos na escrita, explicar sobre os elementos textuais
necessários de coesão e coerência: conectivos e pontuação.
 Auxiliar os alunos em suas dúvidas sobre questões gramaticais e ortografia,
durante a produção escrita.
 Solicitar que entreguem o microconto produzido ao professor e que apresentem
aos alunos em forma de leitura.

4. COMPARTILHAR A ESCRITA
 Em casa, os alunos devem digitar o microconto e entregar para o professor junto
com o desenho realizado na aula de Artes (trabalho interdisciplinar realizado
com o professor de Artes) para exposição na escola.

5. AVALIAÇÃO
 Participação em todas as etapas da atividade;
 Desempenho;
 Estrutura do microconto, criatividade e originalidade;
 Coesão e coerência na escrita;
 Ortografia.

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CONCLUSÃO
A prática pedagógica baseada na perspectiva de multiletramentos leva-nos a
compreender que as práticas de ensino acerca da leitura e de escrita de textos digitais
podem ser grandes potencializadores pedagógicos para o que o processo de ensino e
aprendizagem seja mais significativo para os alunos, dando mais sentido e
reestruturação a função social da escola.
A partir do que foi exposto e proposto neste texto, considera-se se que, diante
deste novo cenário virtual e cibercultural no qual os nossos alunos estão inseridos, é
importante pensar e criar estratégias de ensino dentro do espaço de sala de aula, de
forma a trazer os novos gêneros digitais emergentes de forma estratégica e organizada,
com o objetivo de promover uma reflexão crítica na produção escrita dos alunos a partir
do ensino e da aprendizagem de Língua Portuguesa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ÁLVARES, Cristina (2012). Quatro dimensões do microconto como mutação do conto:


brevidade, narratividade, intertextualidade, transficcionalidade. Guavira Letras : Revista do
Programa de Pós-graduação em Letras Ufms/campus de Três Lagoas.

BARBOSA, M.F.M. (2012). A emergência de novos géneros textuais na era digital. In: E-
Escrita, Revista do Curso de Letras da UNIABEU Nilópolis, v.3, Número 1 B.

MARCUSHI, L.A. (2010). Gêneros textuais emergentes no contexto de tecnologia digital. Em:
MARCUSHI, L.A & XAVIER, A.C. (orgs.) Hipertexto e Gêneros Digitais: novas formas de
construção de sentido 3ª ed. São Paulo: Cortez.

SILVA, O. S. F. (2017). (Multi)letramentos e formação de professores na sociedade digital:


entretecendo (desa)fios. In: ALVES, Lynn e MOREIRA, J. António.(Orgs.) Tecnologias &
aprendizagens: delineando novos espaços de interação. Salvador: EDUFBA, p. 213-241.

SILVA, O.S.F.; ANECLETO, U.C.; SANTOS, S.P.N (2019). Educação, formação docente e
multiletramentos: articulando projetos de pesquisa-formação. Educ.Pesqui., São Paulo, v. 47,

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e221083, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ep/a/jdfbBkkyqdksKDDRSwHFXLG/?
format=pdf&lang=pt

SOUZA, Fabrina Martinez; RODRIGUES, Rauer Ribeiro (2012). A ascensão do microconto


brasileiro no início do século XXI. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO
SUL, in Alvares, C., & Keating, M. E. (2012). Microcontos e outras microformas: alguns
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ZAVALA, Lauro (2002). EL CUENTO ULTRACORTO BAJO EL MICROSCOPIO.


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Zavala, L. (2017). Principios de teoría narrativa.pdf.


UNAM. https://www.academia.edu/38034410/Principios_de_teor%C3%ADa_narrativa_pdf

OLIVEIRA, Jurene Veloso dos Santos. (2020) Os gêneros textuais digitais como estratégias
pedagógicas no ensino de língua portuguesa na perscpectiva de (multi)letramento e dos
multiletramentos. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/tla/a/KvBDFzBPWtvgs3f3V6h57FJ/?lang=pt> 

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