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PRINCIPAL, et al.

(2022)

A MULTIMODALIDADE NO ENSINO BÁSICO: UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA DO


GÊNERO HQ

RESUMO
Este trabalho objetiva discutir sobre as possibilidades de inserção dos gêneros multimodais no
ensino básico nas aulas de Língua Portuguesa. Considerando a intrínseca relação de novas
demandas sociais com o surgimento de novos textos e agora, permeados de novas semioses
advindas de um contexto tecnológico, faz-se necessário não só compreender a funcionalidade
desses textos, como inseri-los nos textos estudados nas aulas. Os pressupostos teóricos para esta
pesquisa partem nas noções basilares de Sequência Didática de Dolz, Schneuwly (2004), da
noção de gêneros discursivos apresentada por Bakthin (1979) e Marcuschi (2008) e das
pesquisas sobre multimodalidade de Rojo (2012). A partir do questionamento: como inserir os
textos multimodais nas aulas de Língua Portuguesa? Tencionamos pesquisar a inserção desses
gêneros nas aulas de Língua Portuguesa de uma escola pública no Ceará. Metologicamente,
nossa pesquisa está amparada nos pressupostos da pesquisa qualitativa, documental e
interpretativa e nas noções de Sequência Didática e trabalho com os Gêneros. Como resultado,
obteve-se conhecimento dos gêneros mais utilizados pelos alunos em seu dia a dia, bem como
o entendimento de que aspectos mais específicos da composição da HQ merecem ter mais
ênfase para compreensão do gênero e ainda, da importância que pesquisas em sala de aula têm
para o aprendizado dos alunos como também para a prática docente reflexiva.

Palavras-chave: Gêneros Multimodais. Histórias em quadrinhos. Ensino de Língua Portuguesa.

ABSTRACT
This work aims to discuss the possibilities of inserting multimodal genres in basic education in
Portuguese language classes. Considering the intrinsic relationship of new social demands with
the emergence of new texts and now, permeated by new semiosis arising from a technological
context, it is necessary not only to understand the functionality of these texts, but also to insert
them in the texts studied in class. The theoretical assumptions for this research are based on the
basic notions of Didactic Sequence by Dolz, Schneuwly (2004), the notion of discursive genres
presented by Bakthin (1979) and Marcuschi (2008) and research on multimodality by Rojo
(2012). From the questioning: how to insert multimodal texts in Portuguese language classes?
We intend to research the insertion of these genres in Portuguese language classes at a public
school in Ceará. Methodologically, our research is supported by the assumptions of qualitative,
documentary and interpretive research and the notions of Didactic Sequence and work with
Genres. As a result, knowledge of the genres most used by students in their daily lives was
obtained, as well as the understanding that more specific aspects of the composition of the
comic book deserve more emphasis for understanding the genre and also the importance of
research in the classroom. class have for student learning as well as for reflective teaching
practice.

III SIMPÓSIO ON-LINE DE EDUCAÇÃO [1]


PRINCIPAL, et al. (2022)

Keywords: Multimodal Genres. Comics. Portuguese Language Teaching.

INTRODUÇÃO

É inegável que há uma presença maciça de textos multimodais no cotidiano dos nossos
alunos, bem como no nosso. Esse fato pode ser relacionado ao maior alcance das tecnologias
de comunicação e ao próprio uso da língua nas redes sociais, se consideramos um contexto mais
direto. Tendo em vista que o universo textual no qual os alunos estão envolvidos e as
necessidades advindas da nova realidade redirecionam o ensino para incorporação desses
elementos e cientes de que a escola tem um papel relevante na vida dos alunos, o trabalho com
os textos multimodais se faz necessário.
Nesse sentido, este artigo objetiva expor uma pesquisa na educação básica, em nível de
ensino médio, na disciplina de Língua Portuguesa, a partir de uma sequência didática.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Com as transformações ocorridas no final do século XX e o surgimento de novas


necessidades advindas de contextos políticos, econômicos, sociais, tecnológicos, científicos,
educacionais e uma nova abertura política, o ensino de língua precisou ir além de ensinar a
escrever e ler. Para dar conta e acompanhar todas essas transformações, o sujeito precisa ser
participativo e ativo na sociedade. Tão importante quanto saber a ler e escrever e ter
conhecimentos das regras, é necessário fazer uso desse conhecimento e aplicá-lo na
convivência, nas diferentes áreas de sua vida dentro da sociedade moderna.
Segundo Rojo (2012), em meados da década de 90, um grupo de professores e
pesquisadores dos letramentos chamado New Londron Group (Grupo de Nova Londres)
pensaram a perspectiva dos multiletramentos com o objetivo de definir o multiculturalismo
referente a globalização e a multimodalidade dos textos que circulam dentro dessas mídias.
O grupo pioneiro da Pedagogia dos Multiletramentos trouxe à tona muitos
questionamentos sobre o papel da escola diante de uma sociedade globalizada, culturalmente
heterogênea e intolerante as diferenças culturais e sociais. Do mesmo modo, o GNL salienta a
necessidade da utilização de novas ferramentas na aprendizagem dos alunos, uma vez que os

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estudantes já são nativos do mundo globalizado com novas ferramentas de acesso à


comunicação e à informação.
Os multiletramentos se caracterizam pela utilização de práticas pedagógicas que partam
da realidade dos alunos e práticas semióticas presentes no meio cultural em que estão inseridos.
Ainda sobre o exposto, Rojo disserta:
Diferentemente do conceito de letramentos (múltiplos), que não faz se não apontar
para a multiplicidade e variedade das práticas letradas, valorizadas ou não nas
sociedades em geral, o conceito de multiletramentos – é bom enfatizar – aponta para
dois tipos específicos e importantes de multiplicidade presentes em nossas sociedades,
principalmente urbanas na contemporaneidade: a multiplicidade cultural das
populações e a multiplicidade semiótica de constituição dos textos por meio dos quais
ela se informa e se comunica.(ROJO, 2012, p.13)

Com isso, compreende-se que a aprendizagem não parte só da linguagem verbal, mas
também da linguagem não verbal, do uso de imagens, códigos, cores, sons, layout na grafia de
textos diversos tão presentes nas mídias. Essa multiplicidade de linguagem a qual Rojo (2012)
cita é característica de textos que circulam nas mídias digitais e que o alunado tem contato
constante.
Os textos multimodais estão presentes em diversas situações comunicativas do nosso
dia a dia. Seja nas redes sociais, no anúncio publicitário na TV, no encarte do supermercado,
panfleto, nas plataformas digitais diversas, esses textos vêm carregados de sentidos. No que se
refere à multimodalidade textual, segundo Rojo e Barbosa (2020), são os textos que se utilizam
de mais de uma modalidade de linguagem, ou seja, mais de um sistema de signos em sua
composição. Os autores kress e Van Leeuwen, pesquisadores da multimodalidade consideram
as relações semióticas (visuais, escritos, sonoros etc) para a produção/compreensão de sentidos
do texto.
A análise multimodal deve trabalhar com conceitos e métodos que não são específicos
à língua, ou a nenhum outro modo, mas que podem ser aplicados relacionando-se os
diferentes modos. Tais conceitos deverão necessariamente centrar-se nas funções
comunicativas que podem ser realizadas por vários ou todos os modos semióticos.
(VAN LEEUWEN, 2004, p. 15)

O trabalho com os textos multimodais na escola pode contribuir de forma bastante


significativa para os multiletramentos. Com eles as aulas irão proporcionar situações de
aprendizagens que fazem parte da realidade dos alunos. É função da escola propiciar aos
discentes o contato com essas práticas comunicativas de maneira que ele produza, receba e
reflita de forma crítica esses textos.

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A sequência didática é uma estratégia de ensino utilizado e citada em pesquisas e artigos


científicos. Por se tratar de módulos de ensino que objetivam desenvolver uma série de
atividade com os gêneros discursivo em etapas, possibilita ao professor utilizar atividade
diversificadas em torno de um gênero estruturante. Desta forma, os discentes têm a
oportunidade de identificar as características, situações comunicativas, público-alvo e função
dos textos dentro da sociedade.
Desenvolvida pelo grupo de didática da Universidade de Genebra na França, os
pesquisadores Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004) afirmam que a definição dos objetivos de
uma sequência deve ser pensada de acordo com o grau de dificuldade dos alunos envolvidos na
situação de aprendizagem.
Diante do exposto, a atividade a ser descrita no presente trabalho utilizou como
embasamento a sequência didática com o gênero discursivo HQ. Objetiva através desta que os
alunos compreendam o contexto em que circula as histórias em quadrinhos, percebam que os
elementos multimodais envolvidos no gênero são carregados de significados.
Como se pode observar no quadro acima, a sequência didática organiza-se em etapas.
Na primeira, são apresentados os gêneros que serão estudados, onde circulam, quais são os seus
objetivos. Dessa forma, os alunos também irão perceber as etapas de aprendizados com os
gêneros. Na segunda etapa, os alunos irão produzir o gênero estruturante a fim de ser
identificado o que eles já sabem sobre o gênero. As etapas seguintes serão montadas módulos
de ensino, com atividades diversificadas e na última etapa a produção final em que os alunos
irão produzir o gênero em estudo.
Quadro 1: A sequência didática

Fonte: Dolz, Noverraz, Schneuwly (2004)

O trabalho com gêneros textuais na escola como base do ensino de língua portuguesa
tem sido estudado e discutido há muito tempo por estudiosos da Ciência da Linguagem. De
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acordo com Bakthin (1979), os gêneros textuais definem-se como diversos textos sejam eles
orais ou escritos que circulam na sociedade com os quais interagimos. Ainda segundo o autor,
quando os textos são produzidos devem ser levados em conta os interlocutores envolvidos, o
contexto, a situação comunicativa, as questões ideológicas.
No Brasil, essa temática passou a ter ênfase com a publicação dos Parâmetros
Curriculares Nacionais em 1998 em que o documento se refere ao gênero textual como:
A noção de gênero refere-se, assim, a famílias de textos que compartilham
características comuns, embora heterogêneas, como visão geral da ação à qual o texto
se articula, tipo de suporte comunicativo, extensão, grau de literariedade, por
exemplo, existindo em número quase ilimitado. (PCNs EF, 1998, p. 22)

A publicação do documento que norteia o ensino de Língua materna traz várias reflexões
a respeito de um ensino tradicional, descontextualizado e distante das práticas comunicativas
envolvidas na sociedade atual. Os gêneros textuais tomam a forma como os interlocutores
desejam se comunicar, seus sentidos, objetivos e discurso. Ainda sobre os gêneros textuais
Marcuschi (2008) cita:

O gênero textual é o texto que encontramos em nosso cotidiano, apresenta um modo


de comunicação social característico, definido pela composição funcional, objetivos
de expressão e estilo, e se realiza na integração de forças históricas, sociais,
institucionais e tecnológicas. (MARCUSCHI, 2008)

No que se refere às Histórias em Quadrinhos, doravante HQs, são textos que em sua
composição possuem a linguagem verbal e não verbal. Narram uma sequência de fatos através
das imagens e dos balões de fala. Esse gênero circula em revistas, jornais, gibis ou nas mídias.
Algumas dessas histórias foram adaptadas para o cinema.
As histórias em quadrinhos como conhecemos hoje, ficaram conhecidas nos Estados
Unidos em 1894 em uma revista chamada Truth. O americano Richard Outcualt foi autor da
história intitulada “The Yellow Kid” que conta a história de uma criança vestida em uma
camisola amarelo e suas aventuras em Nova Iorque. Na história é possível observar reflexões
a respeito da sociedade de consumo, questões raciais e urbanas. Vale ressaltar que antes das
histórias em quadrinhos surgirem algumas manifestações artísticas que já existiam serviram de
inspiração para a criação das HQs.
No Brasil, as HQs surgiram em 1905 publicadas no periódico “o Malho”. Criada pelo
artista Renato de Castro, a primeira revista chamou-se “O tico-teco” tendo como principal
personagem o garoto Chiquinho. Já a primeira revista em quadrinhos colorida foi publicada em

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1960 de autoria do cartunista Ziraldo. O gibi foi apresentado pela Editora “O Cruzeiro”, tinha
como personagens inspirados na cultura nacional e intitulava-se como A Turma do Pererê. Na
década de 60, também surgiu a história em quadrinhos mais conhecida do Brasil, “a turma da
Mônica”, criada por Maurício de Sousa. Gibi esse que alcançou vasto conhecimento popular e
é publicado em mais de 40 países e traduzida em 14 idiomas.
As HQs possuem características que merecem atenção do professor de língua
portuguesa e são definidas por Ramos (2009) algumas delas como serem utilizadas em
diferentes conteúdos, terem a predominância de sequência narrativa, além de poderem ter
personagens fixos ou não. No que se refere ao formato do gênero, há variação de formas, cores,
sinais gráficos e a narrativa pode ocorrer em vários quadrinhos. Relativo aos traços e estilo, o
autor afirma que a tendência dos quadrinhos é o uso de imagens desenhadas podendo utilizar-
se de fotografias para compor a narrativa.
O autor afirma que as HQs podem ter variações em todos os seus aspectos, e que pela
amplitude da definição do gênero, poderia ser uma nomenclatura para vários subgêneros com
suas peculiaridades, como tirinhas, charges e cartuns. E embora haja uma presença constante
desses gêneros nos diversos espaços em que o aluno “circula”, conforme afirma Ribeiro (ano),
o letramento para acessar a esses gêneros, é uma questão que se impõe.
Baseado no exposto, a sequência didática a ser descrita tem como público-alvo os alunos
de ensino médio de uma escola pública e contou com a seguinte organização:
Quadro 2: A proposta
PROPOSTA NUCLEAR
Contexto: Disciplina eletiva: Textos Multimodais
Tema: Textos multimodais: o estudo das HQs.
Problematização: Explorando a multimodalidade: Como os elementos verbais e
não verbais contribuem para a construção de sentido?
Gênero estruturante: História em Quadrinhos.
Outros gêneros utilizados: Vídeos de curta-metragem, tirinhas, charge, memes, podcast,
anúncio publicitário.
Produções finais: Podcast e História em Quadrinhos.
Fonte: própria (2022).

METODOLOGIA

Para pensarmos a multimodalidade nas aulas de Língua Portuguesa, partirmos de uma


pesquisa documental acerca do estado da arte dos estudos da multimodalidade para nos

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situarmos teoricamente. No que tange à intervenção em sala, foi pensada a elaboração de uma
Sequência didática na disciplina eletiva de Multimodalidade.
A organização da Sequência está disposta no quadro abaixo:
Quadro 3
Etapas da construção da Sequência Didática
1 Apresentação da Sequência Didática e os procedimentos de aprendizagem
2 Produção inicial
3 Atividades de introdução ao tema: conceito de linguagem; linguagem verbal e não
verbal; textos multimodais
4 Apresentação do gênero estruturante: História em quadrinhos e tarefas de compreensão
de elementos constitutivos dos gêneros em estudo.
5 Tarefas preparatórias para a leitura do texto
6 Leitura de histórias em quadrinho: O diário de Anne Frank
7 Leitura e estudo dos gêneros de suporte do projeto (compreensão global, estilo,
construção composicional, reflexão linguística.
8 Sistematização dos elementos constitutivos de outros gêneros do discurso, como
Podcast, Notícias, fotografias.
9 Reescrita
10 Avaliação final do texto e possível publicação do produto (HQ)
Fonte: própria (2022).
A etapa de avaliação final ainda será realizada na escola e com esta etapa, finalizamos
a Sequência Didática para estudo do gênero HQ.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Num primeiro momento, foi apresentada a Sequência Didática e os procedimentos de


aprendizagem. Para o início da SD, a professora introduziu o assunto partindo do cotidiano dos
alunos, partindo de uma dinâmica em que foram levados para a sala de aula vários textos em
uma caixa e feito o questionamento aos alunos: onde esses textos podem ser encontrados? Em
qual situação comunicativas são usados?
Essas reflexões partem da noção de que a escola é o espaço formal onde os alunos devem
conhecer a heterogeneidade dos gêneros, na definição bakhitiana, e o lugar onde eles deverão
enriquecer o conhecimento sociocultural.
Em um segundo momento foram apresentadas aos alunos tirinhas, cartuns, charges, se
possíveis revistas em quadrinhos diversos. Nessa etapa, os alunos ficaram à vontade para irem
escolhendo e fazendo as leituras e suas impressões. Em que foram feitos os seguintes

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questionamentos: “O que esses textos têm em comum?”, “Qual tipo de linguagem podemos
identificar nesses textos?”, “Onde esses textos podem ser encontrados?”, estabelecendo um
diálogo com o estudo de Rojo (2012) sobre a necessidade da escola partir da realidade da
multimodalidade. A partir dos questionamentos elaborados, tencionamos adentrar ao universo
do alunado e partir para a etapa da produção inicial. Nesta etapa da produção inicial, os alunos
produziram uma história em quadrinhos. A partir dessa produção inicial o professor tem acesso
ao conhecimento que os alunos detêm sobre o gênero em estudo.
Imagem 1: produção inicial

Fonte: Própria (2022)


Neste momento, as atividades de introdução ao tema: conceito de linguagem verbal, não
verbal e textos multimodais são apresentados. Os alunos são levados ao entendimento do que
sejam os modos de enunciar, compreendendo o conceito de multimodalidade.
Na etapa de apresentação do gênero estruturante HQs e tarefas de compreensão de
elementos constitutivos dos gêneros em estudo. Como proposta de atividade sugerimos a ida
dos discentes até o laboratório de informática da escola e solicite aos alunos que pesquisem
sobre os seguintes pontos “Origem das histórias em quadrinhos”, “Principais características e
elementos que compõem uma história em quadrinho”, “A diferença entre tirinha, charge,
cartum e HQs”.
Em seguida, preparou-se os alunos para a leitura de História em quadrinhos “O diário
de Anne Frank”. Apresentou-se a obra, foi feita uma breve contextualização dos escritos da
Anne Frank e os alunos foram encaminhados para a acessarem à biblioteca virtual. Eles
navegaram no site da biblioteca e foram olhando os livros disponíveis.
A leitura da obra foi estimulada e foram feitas perguntas sobre os elementos da narrativa
encontrados na HQ, bem como foi discutido enredo da história em questão numa das aulas após

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o contato com a obra. Chamou-se atenção para a riqueza de detalhes imagéticos da obra, em
referência à história real da narradora-personagem do livro “O diário da Anne Frank”. Nesse
ínterim, analisou-se os quadrinhos, a imagem do anexo e o estilo de composição do desenho do
secreto bem como a diferença dessa HQ especificamente para outras com personagens fictícios,
marcados pela simplicidade nos detalhes e cores diversificadas.
Em outra etapa do trabalho, utilizamos o gênero podcast com a mesma temática “guerra”
discutida na HQ “o diário de Anne Frank. Para a atividade do podcast, foi apresentado de
maneira geral o gênero, seu objetivo e esfera de circulação. O objetivo do estudo do tema aa
partir desse gênero é levar os alunos a discutirem sobre quais forma suas impressões e
experiência com a leitura da HQ “O diário Anne Frank”. Quais links podem ser feitos com o
conflito atual entre Rússia e Ucrânia.
Para a produção final das Histórias em Quadrinhos, estimulou-se os discentes a
produzirem um painel com diversas HQs, apresentando as características já estudadas do
gênero, como ser organizado em tirinhas, mesclarem aspectos gráficos à linguagem verbal, e
organizar as produções de modo a dialogarem com os textos apresentados. Produção de uma
História em Quadrinhos.
Após a etapa de produção final, foi pedida a reescrita do texto, a fim de alcançar um
melhor resultado para seguirmos para a etapa da avaliação final e possível publicação do
produto. Foi pensada uma exposição dos trabalhos feitos e disponibilizada na biblioteca da
escola para que outros alunos tenham acesso.

CONCLUSÕES

O trabalho com os gêneros discursivos passou a ser o centro das aulas de Língua
Portuguesa a partir de novas concepções advindas da Linguística, especialmente, no que se
refere ao entendimento do funcionamento da linguagem. Isso repercutiu não só nos materiais
teóricos quanto em aspectos práticos no dia a dia do professor de Língua Portuguesa.
Além disso, vive-se uma época de intensas transformações tecnológicas, o que afeta
diretamente os usos que se faz da língua e a forma como ela se relaciona às inovações, em
virtude de seu potencial criativo. Nesse sentido, esse trabalho buscou inserir numa disciplina
eletiva, os gêneros multimodais com ênfase ao trabalho com as HQs. E para esse trabalho,
desenvolvemos uma Sequência Didática, nas definições de Schnewly e Dolz (2004), trazendo
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a concepção bakhtiniana de gêneros e ainda noções do trabalho com o gênero disccursivo HQ


conforme feito por Ramos (2009).
Pudemos compreender que a inserção de gêneros multimodais se faz urgente no ensino
de Língua Portuguesa. Principalmente, por se fazerem presente no cotidiano dos alunos através
das redes sociais em gêneros comumente consumidos por eles como os memes. Desta maneira,
obtivemos como resultados parciais, a noção de que esses gêneros multimodais são presentes
nos usos que eles fazem da linguagem.
Um outro ponto a se destacar, se refere aos aspectos específicos do gênero HQs, ponto
em que percebeu-se que embora os alunos conheçam o gênero, é necessário fazer um estudo
dos vários modos de composição na HQ, como por exemplo, os aspectos gráficos e seus
significados, bem como do uso de cores e imagens com fins de significação, o que reafirma a
relevância de um trabalho como este.
Por fim, salientamos que todo projeto de pesquisa em sala de aula tem sua importância
para os sujeitos envolvidos por que tanto contribui mais pontualmente para a aprendizagem
quanto aproxima o professor da formação continuada, o que sabemos que é de grande
importância para uma prática docente reflexiva.

REFERÊNCIAS

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