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EXCELENTISSIMO SENHOR DESEMBARGADOR 1º VICE-PRESIDENTE

DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Processo: 1.0000.20.012499-8/000
Ação de Mandado de Segurança (competência originária)
Comarca: Manhumirim
Cartório da 2ª Câmara Cível – Unidade Afonso Pena

LUCIANO MACHADO DA SILVA, atual prefeito municipal de


Manhumirim, por seu advogado adiante assinado, nos autos da Ação
de Mandado de Segurança, não conformando, data vênia, com o v.
Acórdão da colenda 2ª Câmara Cível desse eg. Tribunal de Justiça, que
decretou a perda de objeto da impetração, condenando-o, porém, à
pena de litigância de má-fé, vem, respeitosamente, interpor o
presente
RECURSO ORDINARIO
o que faz tempestivamente, exibindo, desde logo, o comprovante do
pagamento do preparo, e duplamente fundamentado no art. 105,
inciso II, “b” da Constituição Federal de 1988, pelos fatos e razões a
seguir expostos:
Para melhor exposição desta matéria, confira-se o

I – OBJETO DESTE RECURSO


É obter a reforma do v. acórdão desse do Egrégio Tribunal de Justiça,
por sua Segunda Câmara Cível que proferiu a seguinte decisão:
a) declarou a perda de objeto do Mandado de Segurança, ante ao
término do processo político-administrativo questionado;
b) condenou o Impetrante à multa por litigância de má fé em 06 (seis)
salários mínimos
A reforma do v. acórdão recorrido que ora se requer, como se
depreende, está fundamentada na hipótese de cabimento do recurso
ordinário contempladas na Constituição Federal:
“Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:

II - julgar, em recurso ordinário:
(...)
b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos
Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito
Federal e Territórios, quando denegatória a decisão;
O v. acórdão recorrido está assim ementado:
EMENTA: Processo político-administrativo - Julgamento - Perda
superveniente de interesse processual - Perda de objeto - Alteração da
verdade dos fatos - Litigância de má-fé - Configuração - Multa - Valor
da causa irrisório - Fixação em salário mínimo - Possibilidade - Artigo
81, § 2º, do Código de Processo Civil.
1. Subsiste a perda superveniente do objeto do mandado de
segurança, quando julgado o processo político administrativo, cuja
invalidação se pretendia com a ação constitucional.
2. O litigante que alterar a verdade dos fatos deve ser condenado ao
pagamento de multa por litigância de má-fé.
3. O valor da multa será fixado em valor superior a 1% e inferior a
10% do valor corrigido da causa, podendo ser arbitrado em até dez
salários mínimos quando o valor atribuído à causa for irrisório”.

Isto posto, vejamos a

II – EXPOSIÇÃO DOS FATOS


Cuida-se de mandado de segurança impetrado pelo ora Recorrente
Luciano Machado da Silva contra ato do Presidente da Comissão
Processante do Processo Administrativo 1/2019 e do Presidente da
Câmara Municipal de Manhumirim.
Em despacho proferido à ordem 50 foi determinada a intimação das
partes para manifestarem sobre a possibilidade de ser reconhecida a
perda superveniente de objeto da presente ação.
Isso porque houve o encerramento do processo político-administrativo
em questão e a matéria da nulidade foi suscitada em outro processo.
Todavia, as autoridades coatoras manifestaram-se à ordem 52 pela
perda de objeto e pleitearam a condenação do impetrante por
litigância de má-fé.
Assim, a colenda 2ª Câmara Cível do TJMG, conforme acórdão cuja
ementa já foi transcrita, muito embora reconhecera a perda de objeto,
acabou condenando o Impetrante ao pagamento de multa por
litigância de má-fé no valor vultoso de 06 (seis) salários
mínimos, enquanto o valor da causa foi de apenas R$ 1.000,00
(um mil reais).
Daí, o presente recurso especial, sendo imperioso o exame do EFEITO
SUSPENSIVO AO PRESENTE RECURSO ESPECIAL, até o seu
julgamento pelo c. Superior Tribunal de Justiça, uma vez que o acórdão
recorrido fixou o prazo de 10(dez) dias para pagamento da ilegal
e abusiva multa processual, data máxima vênia.

III- DO ACÓRDÃO RECORRIDO

Diz o voto condutor do acórdão recorrido, acompanhado pelos


integrantes da 2ª Câmara Cível do TJMG, na parte relacionada ao
objeto da impugnação no presente Recurso Ordinário, qual seja
a condenação do Impetrante por litigância de má fé:
Em detida análise dos autos, observa-se que houve o julgamento do
Processo Político Administrativo em 9.2.2020 e que o impetrante
perdeu o interesse processual, havendo a perda do objeto da ação
mandamental.
Deste modo, não mais se afigura útil nem necessária decisão de mérito
nestes autos porquanto não surtirá nenhum efeito.
Quanto ao pedido de condenação do impetrante ao pagamento
de multa por litigância de má-fé, razão assiste às autoridades
coatoras.
Em sua inicial, o impetrante narra que não teria sido
devidamente intimado da sessão de julgamento do Processo
Político Administrativo 1/2019.
Contudo, ao examinar os autos constata-se que servidor da Câmara
Municipal de Manhumirim dirigiu-se ao endereço do impetrante para
dar-lhe ciência pessoal da sessão de julgamento, contudo, recusou-se
a receber o ofício, sob o argumento de que a intimação deveria
ocorrer na pessoa de seu procurador (ordem 38 - p. 2).
Ora, o artigo 5º, IV, do Decreto-Lei 201 de 1967 prevê que o
denunciado será intimado de todos os atos do processo, pessoalmente,
ou na pessoa de seu procurador.
A fim de reforçar a sua alegação no feito administrativo, o impetrante
juntou declaração assinada pelos vereadores Elaine Aparecida Teixeira
Freire e Roberto Belarmino Fagundes, que declaram que o denunciado
não teria sido intimado da sessão de julgamento.
Entendendo que a declaração falsa emitida pelos referidos vereadores
pode caracterizar crime de falsidade ideológica, foram protocolados
pedidos de cassação de mandato de ambos por ato contrário à
dignidade da Câmara Municipal e falta de decoro parlamentar, além de
ter sido protocolada notícia crime perante o Ministério Público.
Após essas medidas, a vereadora Elaine Aparecida Teixeira Freire
compareceu espontaneamente na 2ª Promotoria de Justiça da Comarca
de Manhumirim com o intuito de firmar acordo de não persecução
penal. Declarou que assinou a declaração elaborado pelo impetrante
sem buscar informações acerca da efetiva intimação do
denunciado, tampouco consultando o Presidente da Casa Legislativa,
o Presidente da Comissão Processante ou qualquer outro colega
vereador. Também constou do documento de ordem 49:
(...) que a depoente reconhece que efetivamente assinou o documento
sem saber se aquilo era verdadeiro ou não; que a depoente não sabia
que a sua declaração junto com a do vereador "Bob" seria usada para
suspender a CP (comissão processante), que em nenhum momento
isso foi dito tanto por Luciano Machado quanto por Ruan (...).
Nesse contexto, patente a alteração da verdade dos fatos pelo
impetrante, que deve ser condenado, nos termos dos artigos
80, II, e 81, ambos do Código de Processo Civil, ao pagamento
de multa por litigância de má-fé.
Cediço que a hipótese não se revela como simples versão diferenciada
dos fatos, mas verdadeira modificação intencional daqueles a fim de
conseguir a suspensão da sessão de julgamento do Processo
Administrativo 1/2019 prevista para o dia seguinte à impetração.
No que tange ao valor da multa, o artigo 81, caput, do Código
de Processo Civil determina a sua fixação em valor superior a
1% e inferior a 10% do valor da causa.
Entretanto, quando o valor atribuído à causa for irrisório, como
ocorre na espécie (R$1.000,00), a multa poderá ser arbitrada
em até dez salários mínimos.
Feitas essas considerações, fixo o valor da multa em seis (6)
salários mínimos, valor que entendo justo e adequado para
sancionar a repercussão e alcance da litigância de má-fé
constatada nos autos.
O valor deve ser recolhido no prazo de 10 (dez) dias úteis,
mediante depósito judicial à disposição deste juízo, a partir da
publicação deste acórdão, sob as penas de lei.
Por fim, registre-se que a multa ora aplicada não implica bis in
idem quando considerada a sanção imposta ao impetrante no
Agravo Interno 1.0000.20.008530-6/001 porquanto foram
apurados atos de litigância de má-fé provenientes de condutas
processuais ímprobas distintas naqueles autos, a exemplo da
alteração da verdade acerca da convocação da sessão de
julgamento pela autoridade competente; quando, neste
mandado de segurança, houve afirmação falsa acerca da
intimação do denunciado para a sessão de julgamento.
Mediante tais fundamentos, julgo prejudicado o presente
mandado de segurança ante a manifesta perda de objeto e
condeno o impetrante ao pagamento de multa por litigância de
má-fé, que fixo em seis (6) salários mínimos (grifos nossos).
Assim decidindo, o voto condutor do acórdão contrariou o
entendimento consagrado nesse c. STJ, daí porque cabível o Recurso
Ordinário.

IV-DO CABIMENTO DO RECURSO ORDINÁRIO

Conforme já assentado na jurisprudência do c. STJ, mesmo a decisão


em mandado de segurança de competência originária de
Tribunal de Justiça que importa em sua PERDA DE OBJETO, é
cabível o Recurso Ordinário. Confira-se:
“CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL. MANDADO DE SEGURANÇA.
MATERIA PENAL. COMPETENCIA. DECISÃO QUE JULGA PREJUDICADO
O PEDIDO. SIGNIFICADO. RECURSO ORDINARIO. 1. Compete as
turmas da seção criminal julgarem, mediante recurso ordinário,
mandado de segurança em matéria penal, decidido em única instancia
pelos tribunais regionais federais ou pelos tribunais dos estados, do
distrito federal territórios. 2. Cabível o recurso ordinário, tanto da
decisão denegatória em mandado de segurança, quanto daquela que
o considera prejudicado ou indefere o pedido. A prestação
jurisdicional, pouco importa o termo empregado, foi negada. 3.
Mandado de segurança visando a entrega provisória de aeronave
apreendida. Apelação desprovida confirmando a sentença que
confiscou o bem (art. 34, da lei 6.368-76). Decisão julgando
prejudicado o pedido. 4. Recurso ordinário conhecido e improvido”.
(STJ, RMS 163-SP, Rel. Min. Jesus Costa Lima, DJ 21.03.1990).

V-DO PEDIDO DE REFORMA DO ACÓRDÃO RECORRIDO


Assim, tem-se que o acórdão deve ser reformado por sua manifesta
contrariedade ao ordenamento jurídico e à jurisprudência do c. STJ.
O Código de Processo Civil de 2015 (CPC/2015), em seus artigos 79,
80 e 81, estabelece a configuração da litigância de má-fé e as sanções
que podem ser aplicadas para quem age de maneira desleal.
O Ministro OG FERNANDES, desse c. STJ já acentuou com rara
propriedade acerca do tema:
“Somente em um sistema recursal como o brasileiro, em que a
sucessão indefinida de recursos e ações incidentais é a regra, é que se
admite esse tipo de reiteração de conduta, porque, em verdade,
inexiste qualquer sancionamento legal efetivo para esse
comportamento processual, salvo eventuais condenações por recurso
protelatório ou litigância de má-fé, as quais são, no mais das vezes,
da mais clara ineficiência prática, diante de valores irrisórios atribuídos
à causa” – afirmou o ministro ao julgar agravo no MS 24.304.
Esse c. STJ também entende que, para caracterizar a litigância de má-
fé, capaz de ensejar a imposição da multa prevista no artigo 81 do
CPC, é necessária a intenção dolosa do litigante. Nesse sentido,
voto do eminente Ministro Marco Buzzi no Aglnt no AREsp 1.427.716.
No mesmo sentido, decisão do c. STJ no AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL n. 1233.075-SP, rel. Min. OGG FERNANDES, j. 28.08.2018.
A inexatidão dos argumentos utilizados pelo Impetrante no caso, por
si só, não configura litigância de má fé, conforme decidiu esse c. STJ
no REsp 1.641.154, relatora ministra Nancy Andrighi.
Por outro lado, o v. acórdão recorrido contrariou expressamente o
disposto no artigo 24 da Lei n. 12.016/2009, EIS QUE SOMENTE
SE APLICA AO MANDADO DE SEGURANÇA AS REGRAS
PROCESSUAIS ATINENTES AO LITISCONSÓRICO, sendo o
mandado de segurança uma ação personalíssima, de status
constitucional, com lei e rito próprios, não havendo previsão expressa
na Lei do Mandado de Segurança, sua aplicação constituiria analogia
in malam partem (em prejuízo do impetrante).
Diz o voto condutor do acórdão recorrido, verbis:
“A fim de reforçar a sua alegação no feito administrativo, o
impetrante juntou declaração assinada pelos vereadores Elaine
Aparecida Teixeira Freire e Roberto Belarmino Fagundes, que
declaram que o denunciado não teria sido intimado da sessão de
julgamento” (grifo nosso).
Ora, induvidoso e incontroverso que não houve intenção dolosa do
impetrante, confira-se:

a) Não foi o impetrante o autor da declaração;


b) A declaração foi subscrita por dois vereadores;
c) A declaração foi utilizada a bem de sua defesa em processo
político-administrativo no âmbito da Câmara Municipal, e
trasladada para esses autos de mandado de segurança;
d) Basta ser uma das peças que instruem a inicial – defesa
preliminar escrita no processo político-administrativo- em
que consta ser a INTIMAÇÃO PESSOAL DO DEFENSOR
TÉCNICO, a partir da defesa escrita, a ÚNICA FORMA
VÁLIDA E ADMITIDA PELA DEFESA;
e) A Câmara Municipal de Manhumirim e a Comissão Processante,
por seus presidentes e autoridades coatoras tanto ACEITARAM
E ADMITIRAM COMO ÚNICA INTIMAÇÃO VÁLIDA A DO
DEFENSOR TÉCNICO, que por diversas vezes se
deslocaram até a capital mineira, sede do escritório
profissional do defensor constituído;
f) A declaração – BASTA UMA LEITURA, eminente Ministro Relator
– diz que “NÃO FOI EFETIVADA (sic) A INTIMAÇÃO”. Logo,
não há dolo, não há falsidade, NÃO SE EFETIVOU PORQUE DE
FATO O IMPETRANTE SE RECUSOU EXATAMENTE PORQUE EM
SUA DEFESA ESCRITA PRELIMINAR CONSTOU
EXPRESSAMENTE – COM ANUENCIA DOS IMPETRADOS –
QUE A ÚNICA INTIMAÇÃO VÁLIDA ERA A DO DEFENSOR
TÉCNICO CONSTITUÍDO;
g) Inexiste, pois, dano processual, dolo da parte a ensejar sua
condenação em litigância por má fé.

VI – PEDIDO
Ante o exposto, requer seja recebido o presente Recurso Ordinário em
seu efeito suspensivo, bem como requer sua imediata remessa ao c.
Superior Tribunal de Justiça, onde espera seja o mesmo conhecido e
provido para o fim de reformar o Acórdão recorrido, decotando-se a
condenação do Impetrante por multa de litigância de má fé

Nestes termos, pede e espera deferimento.

Belo Horizonte, 16 de julho de 2020.

Pp/Mauro Jorge de Paula Bomfim


OAB MG n.43.712

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