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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

Camila Renata Dalla Libera

Análise de Jurisprudência - Atividade de Pesquisa e Registro

Nº 70085262301 (Nº CNJ: 0039783-57.2021.8.21.7000)

2021/Crime

RECURSO ESPECIAL. PECULATO. negativa de prestação jurisdicional. ausência.


fundamentação per relationem. validade. configuração do tipo penal. reexame de
provas.enunciado nº 7 da súmula do stj. habeas corpus julgado anteriormente. delimitação da
sentença. indicação incorreta do dispositivo violado. violação aos artigos 502 e 506 do cpc.
razões dissociadas. enunciado nº 284 da súmula do stf. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL.
HABEAS CORPUS. PARADIGMA. NÃO CONFIGURAÇÃO. recurso não admitido.

No processo em questão, Viviane da Costa era funcionária pública, lotada no gabinete do


Vereador Márcio Ferreira Bins Ely. Porém registrava o ponto normalmente na câmara de
vereadores, e em seguida era levada para prestar serviços ao CRECI/RS todas as tardes e duas
manhãs por semana. O órgão é presidido pelo Vereador Márcio, que aparece em diversas
imagens ao lado de Viviane em datas e horários em que ela deveria estar trabalhando no
gabinete da câmara de vereadores. Todas essas informações foram julgadas em 1º grau no
Processo: 0220493-59.2017.8.21.0001, da Comarca de Porto Alegre.
O crime de Peculato, ao qual tanto Viviane, quanto Márcio são imputados está previsto
no art. 312, CP, “Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem
móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito
próprio ou alheio”. Na situação fática os dois réus se aproveitam do dinheiro público, que paga
o salário de ambos para prestar serviços a outras instituições.
Ambos interpuseram recursos especiais contra o acórdão da Quarta Câmara Criminal
deste Tribunal de Justiça que julgou a Apelação Criminal 70083105577.
Viviane alega que o referido acórdão negou vigência aos artigos 386, inciso III, do Código
de Processo Penal e 312 do Código Penal, e também o artigo 105, inciso III, alíneas a e c, da
Constituição da República. Em síntese a ré indica que a conduta fática não se enquadra no tipo
penal de Peculato.
Márcio fundamenta seu recurso nos artigos 315, § 2º, inciso IV, 381, inciso III, 619, do
Código de Processo Penal, 489, § 1º, incisos III e IV, 502 e 506 do Código de Processo Civil e
312 do Código Penal. O réu fundamenta da seguinte forma sua defesa: “(I) não está
fundamentado o acórdão que se limita a “colacionar os exatos termos do parecer do Ministério
Público e juntar precedentes, sem qualquer fundamento próprio” (fl. 564), (II) incorreu em
negativa de prestação jurisdicional ao desacolher os embargos declaratórios, (III) “ao invocar a
decisão do referido habeas corpus, (...), procura estabelecer a obrigatoriedade da observância
pelo juiz de primeiro grau do entendimento manifestado naquela ação mandamental, o habeas
corpus, ainda que em momento distinto, qual seja, a sentença” (fl. 898), e (IV) a conduta não
se enquadra no crime de peculato”.

Rio Grande do Sul


UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
Camila Renata Dalla Libera

Dados recursos são analisados separadamente, sendo que, no caso de Viviane da Costa:
A recorrente não indicou corretamente dispositivos legais que justificassem a demandas
descritas. pois invocou o artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal para fundamentar
o pedido, o qual versa sobre a sentença absolutória por não constituir o fato infração penal.
Já, no que diz respeito a tipicidade da conduta, consta que “a reconstituição probatória, até então
produzida, é no sentido de que formalmente conduta descrita na exordial acusatória adequa-se
ao tipo penal do art. 312 do Código Penal”. Isso pode ser afirmado devido a produção probatória
ocorrida na formação do processo:
‘(...) In casu, a denúncia afirma que VIVIANE e MARCIO, em comunhão de
esforços, no período de janeiro de 20161 aos dias atuais, teriam desviado, em proveito
próprio, R$ 478.419,09, referentes aos vencimentos mensais da primeira demandada.
Isso porque a demandada, embora cedida para trabalhar no gabinete do réu na
Câmara de Vereadores, desempenhava outras funções, não cumprindo com a carga horária
semanal de 40 horas.
Ocorre que, conforme se verifica pelas próprias alegações do Ministério Público, os
valores recebidos por VIVIANE, desde o momento do pagamento, eram de seu domínio, uma
vez que dizem respeito ao seu próprio vencimento mensal.
Dessa feita, a suposta atitude dos réus não encontra previsão legal, não sendo,
portanto, típica, tornando a improcedência da ação a medida impositiva (...).’
Em outro âmbito, é julgado também recurso em habeas corpus, chegando à conclusão de
que não se prestam à configuração do dissídio jurisprudencial, nos moldes do art. 266 do RISTJ;
devem, obrigatoriamente, ser oriundos de recurso especial.
Assim, o recurso não foi provido.

Em seguida vai ser julgado o recurso de Márcio Ferreira Bins Ely:


Não é necessário que o Magistrado transcreva ou responda a toda sorte de alegações
realizadas no decorrer do processo penal no momento de fundamentar uma ação judicial. É
suficiente que as circunstâncias fáticas e jurídicas relevantes sejam transcritas ou respondidas,
podendo ser apresentadas teses doutrinárias ou jurisprudenciais além das provas já produzidas.
O essencial é que seja demonstrado o embasamento da teoria, e que todos se convençam daquele
ponto de vista.
Consoante a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, “No processo penal, vigora
o princípio do livre convencimento motivado, em razão do qual pode o julgador livremente
absolver ou condenar, desde que sua decisão seja suficientemente motivada e apoiada sobre as
provas produzidas sob o contraditório judicial, conforme verificado nos autos” (HC
337.809/SC, Rel. Ministro Rogério Schietti Cruz, Sexta Turma, julgado em 19/11/2015, DJe
03/12/2015).
Incide, portanto, o verbete nº 284 da Súmula do Supremo Tribunal Federal, segundo o
qual “É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua fundamentação não
permitir a exata compreensão da controvérsia”.
Quanto a análise de tipicidade da conduta, aplica-se o mesmo argumento utilizado no
recurso de Viviane. Sendo que, de acordo com a súmula 7, STJ, a simples pretensão de reexame
de prova não enseja recurso especial, por isso, pela alínea c do artigo 105, inciso III, da
Constituição da República tal recurso não pode ser provido.
Dessa forma, não é conhecido recurso especial de Márcio. Assim, ficam mantidas as
condenações de ambas as partes.

1
Em que pese a denúncia afirme que os fatos ocorreram a partir de 26 de fevereiro de 2015, o Parquet se retratou
em sede de memoriais, afirmando que os atos foram praticados a partir de janeiro de 2016

Rio Grande do Sul

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