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AO JUÍZO DE DIREITO DA 17ª VARA CRIMINAL DA CAPITAL - ALAGOAS

Autos nº 0732991-27.2018.8.02.0001

KLEITON COSTA DE MOURA, já qualificado nos autos do processo em epígrafe,


por seus advogados que abaixo subscrevem, nos autos do processo que lhe move o
Ministério Público, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência apresentar

ALEGAÇÕES FINAIS EM FORMA DE MEMORIAS

o que faz com supedâneo no artigo 403, §3º do Código de Processo Penal e nos demais
normativos de regência, pelas razões de fato e direito a seguir expostas.

I – DA BREVE EXPOSIÇÃO FÁTICA

1. Ab initio, trata-se de ação penal movida em desfavor do Kleiton Costa


de Moura, acusado de ter praticado os delitos de falsidade ideológica (Art. 299, caput
do CPB), falsificação de documento particular (Art. 298, Caput do CPB), uso de
documento falso (Art. 304 do CPB), ocultação ou dissimulação de bens e valores (Art.
1º da Lei 9.613/98) e integrar organização criminosa (Art. 2º da Lei 12.850/13).
2. Segundo os termos da denúncia ministerial, o Sr. Kleiton estaria
integrando organização criminosa liderara por Thaisy, sua ex namorada. Conforme fls.
29, Kleiton figurava como “ponto de equilíbrio do casal”, em razão da Sra. Thaisy
Davilla gastava dinheiro em baladas, tendo a suposta função de guardar o dinheiro
auferido por Thaisy para “possível” investimento em ramo empresarial.
3. Após fase de instrução processual, fora apresentado pelo Órgão
Ministerial, alegações finais em forma de memoriais pugnando, no tocante ao Sr.
Kleiton Costa, de modo totalmente genérica e inepta, sem descrição das supostas
condutas para ensejar em tais tipificações e ausência de delitos antecedentes , por
sua condenação nos delitos supracitados no parágrafo 1º da presente alegações finais.

Em apertada síntese, eis os apontamentos necessários.

II – DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA –

FALSIDADE IDEOLÓGICA – ART. 299, CAPUT CPB – NEGATIVA DE


AUTORIA – ABSOLVIÇÃO – ART. 386, IV, V E VII DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL

4. Douto Juízo, é cediço que o crime de falsidade ideológica esculpido no


art. 299 do Código Penal, sendo uma infração penal que se caracteriza pela
manipulação fraudulenta de documentos ou declarações, com o objetivo de induzir a
erro autoridades públicas, particulares ou o próprio sistema jurídico, visando obter
vantagem indevida, prejudicar terceiros ou alterar a verdade sobre fatos juridicamente
relevantes.
5. Um dos elementos essenciais para a configuração desse crime é o dolo,
ou seja, a intenção deliberada de praticar a fraude. O agente deve agir com o fim
específico de prejudicar direitos alheios, criar obrigações inexistentes ou distorcer a
verdade sobre fatos importantes do ponto de vista jurídico. Assim, a conduta do agente
deve ser consciente e voluntária, buscando atingir os objetivos ilícitos por meio da
falsificação das informações.
6. Contudo, denota-se na exordial acusatória, que em fls. 14-15 que o que
sustenta a acusação de falsidade ideológica seria que a Sra. Thaisy teria supostamente
transferido o valor de R$ 28.000,00 (vinte e outo mil reais) para a conta do Sr. Kleiton.
Douto Juízo Colegiado, em mais de 1.600 folhas do processo, somente essa
afirmação de transferência bancária é todo o embasamento jurídico para sustentar
a acusação de falsidade ideológica em relação ao Sr. Kleiton e a suposta vítima
Maria Telma Aprigio Filha.
7. Dessa forma, mesmo que presumíssemos veracidade na acusação
ministerial em relação a suposta prática criminosa da Sra. Thaisy por ter realizado
empréstimo fraudulento, é manifestamente desarrazoado, inepto, sustentar que o Sr.
Kleiton, de nenhum modo, tinha conhecimento prévio ou posterior, participou,
cooperou, promoveu ou incentivou qualquer suposta ação delituosa. Logo, é
clarividente que não havia liame subjetivo com os demais réus para a prática de
qualquer ato delituoso proposto pelo Ministério Público.
8. Nesse sentido, ao compulsarmos o Art. 299 do Código Penal, destaca-
se:

Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular,


declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou
fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser
escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação
ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:

9. Destaca-se o que colaciona o brilhante entendimento do TJPR – 4ª


Câmara criminal:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO


CRIMINAL. CRIME DE ESTELIONATO SIMPLES.
ART. 171, CAPUT, CÓDIGO PENAL. SENTENÇA
ABSOLUTÓRIA. INSURGÊNCIA DO ASSISTENTE
DE ACUSAÇÃO. PLEITO DE CONDENAÇÃO POR
ESTELIONATO. IMPROCEDÊNCIA.
INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. AUSÊNCIA DE
ELEMENTOS SUFICIENTES PARA JUSTIFICAR
UMA CONCLUSÃO CONDENATÓRIA.
ACUSAÇÃO QUE NÃO CUMPRIU SEU ÔNUS
PROBATÓRIO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DO IN
DUBIO PRO REO. MANUTENÇÃO DA
ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA DE PROVAS
(CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, ARTIGO 386,
INCISO VII). RECURSO DO ASSISTENTE DE
ACUSAÇÃO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (TJPR
- 4ª Câmara Criminal - 0005928-52.2013.8.16.0131 -
Pato Branco - Rel.: JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO
EM SEGUNDO GRAU PEDRO LUIS SANSON
CORAT - J. 16.02.2023) 1

10. Dessa forma, tendo em vista o verbo nuclear do tipo penal, os


depoimentos colhidos durante fase de inquérito policial, instrução processual, bem
como a ausência de conduta, acordo de vontades para praticar o suposto delito
imputado, o Sr. Kleiton deve ser absolvido, nos termos do Art. 386, incisos IV, V e
VII do Código de Processo Penal.

II.I – DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR – ART. 298, CAPUT CPB


– NEGATIVA DE AUTORIA – INSUFICIÊNCIA DE PROVAS -
ABSOLVIÇÃO – ART. 386, IV, V E VII DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

11. O crime de falsificação de documento particular é uma infração penal


que consiste na criação, alteração ou uso de um documento particular falsificado com o
objetivo de enganar, ludibriar ou obter vantagem ilícita. Esse delito é previsto em
diversos ordenamentos jurídicos, incluindo o brasileiro, onde está tipificado no artigo
298 do Código Penal.
12. Segundo a exordial acusatória, com interceptação telefônica do terminal
usado por THAISY, verificou-se que teria supostamente esta teria se passado por
Maria Telma e teria ligado para o Banco do Brasil para simular um empréstimo,
fornecendo todos os dados da suposta vítima.
13. Novamente, de forma totalmente genérica, desfundamentada e
desarrazoada, o Ministério Público pugna pela condenação do Sr. Kleiton pelo crime
de falsificação de documento particular. Isso porque, segundo o Órgão Ministerial, a
senhora Thaisy teria transferido o valor de R$ 28.000,00 (vinte e oito mil reais) para
conta do, à época namorado, Kleiton, segundo as transcrições:

1
https://portal.tjpr.jus.br/jurisprudencia/j/4100000022684411/Ac%C3%83%C2%B3rd
%C3%83%C2%A3o-0005928-52.2013.8.16.0131;jsessionid=eded61218de0b71df02b80c799ea
Chamada do Guardião: 04/12/2018 08:10:18 Mídia:
55(82)999790818 Alvo: THAISY 9583213.WAV
Telefone do Interlocutor: 82999929244 Comentário:
THAISY x HNI: Depósito bancário. Transcrição:
THAISY diz que depositará um dinheiro na conta de
HNI. HNI pergunta quanto é o valor. THAISY diz que
falará pelo "WhatsApp".

14. Vejamos, na própria transcrição é nítido perceber que no que pese a


senhora Thaisy comunicar sobre uma suposta transferência, não informa sobre a
origem do dinheiro, mas que somente iria precisar transferir o valor. Dessa forma,
entende o Ministério Público, que, porquê o Sr. Kleiton recebeu transferência da sua
namorada (à época do fato), sem saber a origem do valor, deve ser condenado pelos
crimes imputados ao defendente.
15. Em análise minuciosa dos depoimentos dos réus, da própria Thaisy,
verifica-se que o Sr. Kleiton não possuía qualquer vínculo com os demais acusados,
além de Thaisy, que era sua namorada na época. Logo, sem qualquer ato delituoso, de
nenhuma maneira o Sr. Kleiton praticou o delito de falsificação de documento
particular da senhora Maria Telma.
16. Dessa forma, ante a ausência de provas propostas pelo Órgão
Ministerial, não merece prosperar a manifestação pela condenação do Sr. Kleiton no
delito de Falsificação de documento particular, devendo ser absolvido, nos termos do
art. 386, incisos IV, V e VII do Código de Processo Penal, tendo em vista que sequer
sabia do que estaria supostamente sendo praticado pelos acusados, bem como ausência
de provas para demonstrar que o Sr. Kleiton praticou o ato criminoso.

II.II – DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA


USO DE DOCUMENTO FALSO – ART. 304 DO CPB – NEGATIVA DE
AUTORIA – INSUFICIÊNCIA DE PROVAS - ABSOLVIÇÃO – ART. 386, IV,
V E VII DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

17. O crime de uso de documento falso é uma infração penal que ocorre
quando alguém utiliza um documento falso, sabendo de sua falsidade, com o intuito de
obter vantagem indevida, enganar terceiros ou prejudicar direitos alheios. Esse tipo de
delito é previsto em diversos ordenamentos jurídicos, incluindo o brasileiro, onde está
tipificado no artigo 304 do Código Penal.
18. Na denúncia ministerial, o que se percebe é que, em razão da
transferência do valor supracitado de R$ 28.000,00 (vinte e oito mil reais) que a Sr.
Thaisy realizou para o Sr. Kleiton, este teria incorrido para praticar todos os crimes que
suporta à acusação do Ministério Público. Não há, no presente processo, qualquer
elemento de informação ou prova que possa corroborar ou entender que o Sr. Kleiton
teria praticado o crime de uso de documento falso em relação ao suposto empréstimo
fraudulento que tinha como vítima a Sr. Maria Telma.
19. Como anteriormente fora dito, na própria transcrição da interceptação
telefônica é dito pela Sr. Thaisy que iria transferir um valor para conta do seu namorado
Kleiton, contudo, sem explicar a origem e proveniência dos valores.
20. Douto Juízo, não há prova substancial que demonstre que o Sr. Kleiton
incorreu para o delito, ou que tinha conhecimento e acordo de vontades com qualquer
um dos acusados no processo. Não se deve prosperar a condenação do Defendente, em
respeito ao princípio constitucional in dubio pro reo, emanado na nossa Carta Magna de
1988.
21. Logo, o princípio "in dubio pro reo" é um importante fundamento
jurídico que significa, em tradução livre, "na dúvida, a favor do réu". Em resumo, o
princípio "in dubio pro reo" visa proteger os direitos e garantias individuais do acusado
em um processo criminal. Ele reforça a presunção de inocência, a ampla defesa, o ônus
da prova da acusação e a proporcionalidade no sistema de justiça penal, assegurando
que a dúvida seja interpretada em favor do réu e evitando condenações injustas.
22. Não é outro o entendimento do Superior Tribunal de Justiça ao firmar
jurisprudência a respeito do princípio supracitado, vejamos:

VOTO VENCEDOR (DES. RELATOR): RECURSO EM


SENTIDO ESTRITO - RECURSO EM SENTIDO
ESTRITO - IMPRONÚNCIA - NECESSIDADE -
AUSÊNCIA DE PROVAS ACERCA DA AUTORIA
DELITIVA - PREVALÊNCIA DO PRINCÍPIO DO
IN DÚBIO PRO REO - RECURSO PROVIDO. Deve-se
impronunciar o agente quando inexistir prova robusta
acerca da acusação que se leva a efeito, ou seja, prova
concreta da materialidade do delito e elementos
contundentes da autoria. VOTO VENCIDO (DES. 2°
VOGAL):. Para o juízo de pronúncia, que é precário e
provisório, basta que se extraia dos autos um juízo de
certeza da materialidade e indícios suficientes de autoria,
não sendo necessário que o julgador se aprofunde no
exame das provas, eis que se trata de mera
admissibilidade de acusação. Até porque, nesta fase,
prevalece o principio in dúbio pro societate, de forma que
qualquer dúvida acerca dos fatos deve ser resolvida no
Tribunal do Júri - juizo constitucional dos crimes dolosos
contra a vida (fl. 576).2

23. Nesse entendimento, o que se espera na forma de justiça criminal, é a


absolvição do Sr. Kleiton do delito imputado e esculpido no art. 304 do Código Penal,
nos termos do Art. 386, incisos IV, V e VII do Código de Processo Penal.

II.III – DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

2
https://www.stj.jus.br/websecstj/cgi/revista/REJ.cgi/MON?
seq=103888831&tipo=0&nreg=201900965553&SeqCgrmaSessao=&CodOrgaoJgdr=&dt=20191202&for
mato=PDF&salvar=false
OCULTAÇÃO OU DISSIMULAÇÃO DE VALORES – ART. 1º DA LEI
9.613/98 ATIPICIDADE DA CONDUTA – ABSOLVIÇÃO – ART. 386, INCISO
III, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

24. O crime de lavagem de capitais, também conhecido como "lavagem de


dinheiro", é uma infração penal que consiste em ocultar ou dissimular a origem ilícita de
bens, direitos ou valores provenientes de atividades criminosas, de modo a conferir uma
aparência legítima a esses ativos. Esse tipo de delito tem como objetivo principal
integrar os recursos obtidos de maneira ilícita na economia formal, dificultando a
identificação da origem criminosa e permitindo que sejam usados livremente.
25. Nos termos da denúncia em relação ao Sr. Kleiton, este seria
supostamente um “sócio oculto” da empresa Só Parafusos, do seguimento de venda de
material de construções, e aplicaria valores supostamente oriundos fraudes, na empresa
em que seria sócio.
26. Contudo, apenas em sede de “achismos”, é o que se sustenta na relação
do Sr. Kleiton como sócio “oculto” da empresa. No entanto, mesmo com os extratos
bancários do Sr. Kleiton juntados ao processo, com interceptações telefônicas, nada fora
possível demonstrar que o Sr. Kleiton, dolosamente, ocultou ou dissimulou valores com
intuito de praticar o delito de lavagem de capitais.
27. Em verdade, a conduta-se torna-se atípica no momento em que, Kleiton,
como namorado, sem ter conhecimento prévio da origem dos recursos, permite que sua
namorada (à época), transferisse valor para sua conta bancária.
28. Ainda, em análise minuciosa do extrato bancário do Kleiton, não foi
possível identifica-lo como “sócio oculto” da Só Parafusos, ou ainda, qualquer
investimento realizado nessa empresa, com intuito de integrar recurso de origem ilícita
na economia formal. Dessa forma, a própria intitulada como líder da suposta ORCRIM,
manifestou-se a dizer que o Kleiton não participava de nenhuma operação nem de
nenhuma organização.
29. Noutro sentido, a testemunha Kefle Costa de Moura (fls.302),
proprietário da Só Parafusos, demonstrou ainda mais, que é descabida a acusação de que
o Sr. Kleiton é algum sócio oculto, tornando meras conjecturas sem provas e
fundamentos concretos.
30. Nesse ínterim, tendo em vista que o crime de lavagem de capitais
consiste em ocultar ou dissimular a origem ilícita de bens, direitos ou valores
provenientes de atividades criminosas, conferindo a eles uma aparência legítima. Sua
tipificação tem como objetivo coibir a integração de recursos ilícitos na economia
formal, preservando a integridade do sistema financeiro e combatendo a impunidade.
No presente caso, não se deve prosperar tal acusação, tendo em vista a atipicidade da
conduta, pois somente recebeu valores que sua namorada solicitou que recebesse em
sua conta, sem ter prévio conhecimento da origem do recurso, bem como não ter
PROVA de que investiu valores ilícitos em economia formal para tornar lícito
qualquer proveniência financeira.
31. Por outro lado, juridicamente se faz necessário que para que se configure
o tipo penal de lavagem de capitais, o delito pressupõe a existência de um crime
antecedente. A falta de comprovação deste inviabiliza a condenação pela suposta
ocultação de capitais ou pelo seu pretenso branqueamento. Nos presentes autos, está
plenamente demonstrado que o Sr. Kleiton, de nenhum modo, praticou qualquer
infração penal. Em grande suma, é equivocado e falho a peça ministerial acusatória que
NÃO DESCREVE qual teria sido a ação do Sr. Kleiton para praticar os crimes
imputados, somente baseado em afirmações e meras conjecturas.
32. Douto Colegiado, se estamos falando de condenação penal de um ser
humano, o mínimo que o titular da ação penal pode fazer é fornecer informações
fundadas em atos concretos, o que se distancia do que realmente aconteceu nessa
persecução penal. Não é simplesmente afirmar: “fulano praticou o crime de falsidade
ideológica” e sem nenhuma prova, sem nenhum elemento de informação, demonstrar
qual ato “fulano” praticou para ensejar no tipo penal.
33. Não é outro o entendimento do Superior Tribunal de Justiça em que o
Ministro Joel Ilan Paciornik, no julgamento do AREsp 2.150.905/SP3, do Superior
Tribunal de Justiça, absolveu quatro homens que haviam sido condenados por lavagem

3
https://www.conjur.com.br/2023-abr-27/crime-antecedente-ministro-stj-absolve-lavagem
de dinheiro supostamente oriundo do tráfico de drogas e de organização criminosa
destinada ao comércio de entorpecente.

"Forçoso reconhecer que não há elementos suficientes


declinados pelas instâncias ordinárias para
constatação do crime antecedente de tráfico de drogas
praticado por J. (um dos réus), que pudesse justificar a
condenação por lavagem de dinheiro objeto da
denúncia", destacou o ministro.

https://www.conjur.com.br/2023-abr-27/crime-
antecedente-ministro-stj-absolve-lavagem

34. Logo, em razão à ausência de tipicidade para praticar tal delito, merece e
deve ser absolvido da acusação de lavagem de capitais, nos termos do Art. 386, inciso
III do Código de Processo Penal, bem como também do inciso VII do mesmo
dispositivo legal.

II.IV – DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

INTEGRAR ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA – ART. 2º DA LEI 12.850/13


ATIPICIDADE DA CONDUTA – ABSOLVIÇÃO – ART. 386, INCISO V E VII,
DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

35. O crime de organização criminosa, também conhecido como "quadrilha",


é uma infração penal que se caracteriza pela união de quatro ou mais pessoas com o
objetivo de cometer crimes, geralmente de forma estruturada, reiterada e organizada,
com divisão de tarefas, visando a obtenção de benefícios financeiros, poder político ou
outros objetivos ilícitos.
36. Para ser enquadrado no crime de organização criminosa, é necessário que
os seguintes requisitos estejam presentes:
37. Pluralidade de Pessoas: Deve haver a participação de no mínimo quatro
pessoas na organização criminosa. A união dessas pessoas pode ocorrer por meio de
acordo prévio ou por associação de fato, desde que haja uma estrutura organizada e um
propósito comum de cometer crimes.
38. Estabilidade e Permanência: A organização criminosa deve ser
caracterizada pela estabilidade e permanência, ou seja, não se trata de uma simples
reunião ocasional de indivíduos. A estrutura da organização deve ser duradoura e
possuir uma hierarquia ou divisão de funções.
39. Objetivo de Cometer Crimes: A finalidade da organização criminosa é
cometer crimes. Esses crimes podem ser variados e incluir desde delitos patrimoniais,
tráfico de drogas, corrupção, lavagem de dinheiro, entre outros, cujas penas máximas
sejam superiores a 4 (quatro) anos.
40. No presente caso, verifica-se a insuficiência de informações da exordial
acusatória sobre a suposta participação do Sr. Kleiton na suposta Organização
Criminosa. Tudo o que se narra pelo Órgão Ministerial, é tão somente que o Sr.
Kleiton chegou a receber da sua namorada, alguns valores em sua conta bancária. Isso,
para o Ministério Público, é o suficiente para requerer a condenação em inúmeros
crimes, bem como classificar o Sr. Kleiton como integrante de Organização
Criminosa.
41. Contudo, deve-se valer o fundamento jurídico estabelecido para
configuração do tipo penal imputado, quais sejam: divisão de tarefas, estrutura
ordenada e hierarquizada, qual seria a participação do Sr. Kleiton, liame subjetivo
para praticar infrações penais. Enfim, inúmeros requisitos essenciais para que se
sustente no mínimo, uma condenação.
42. Noutrora, com as informações que estão na atual persecução penal, não
há nada que se possa demonstrar que o Sr. Kleiton integrava qualquer organização
criminosa para praticar crimes. Não há descrição das condutas, não há enquadramento
terminológico do tipo penal. Sendo assim, corroborado com os extratos bancários,
depoimentos de acusados e testemunhas, como por exemplo o proprietário da Só
Parafusos, não há nenhuma informação suficiente para pugnar, ou ainda mais, para
condenar o Sr. Kleiton pela prática de integrar organização criminosa.
43. Em tese, seu crime teria sido permitir que sua namorada transferisse
valor para sua conta bancária, sem ter conhecimento da origem desses recursos. Como
visto, soa desarrazoado e desproporcional sustentar a presente persecução penal. Não
merece prosperar.
44. Na brilhante jurisprudência firmada pelo Superior Tribunal de Justiça,
no julgamento do AgRg no Habeas Corpus Nº 471.155 - RJ , compartilhamos do
mesmo entendimento. Vejamos:

AGRAVO REGIMENTAL MINISTERIAL NO


HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS E
ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. AUSÊNCIA DE
PROVAS SUFICIENTES DA ASSOCIAÇÃO.
LOCALIDADE DOMINADA POR ORGANIZAÇÃO
CRIMINOSA. PRESUNÇÃO DE ESTABILIDADE E
PERMANÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE.
INEXISTÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO
CONCRETA DO VÍNCULO E ESTABILIDADE.
ABSOLVIÇÃO MANTIDA. AGRAVO IMPROVIDO.
1. Firmou-se neste Superior Tribunal de Justiça
entendimento no sentido de que indispensável para a
configuração do crime de associação para o tráfico a
evidência do vínculo estável e permanente do acusado
com outros indivíduos.

2. Ainda que seja de conhecimento o domínio da


localidade por facção criminosa e a quantidade de drogas
denotem envolvimento com atividades criminosas, não há
na sentença ou no acórdão qualquer apontamento de fato
concreto a caracterizar, de forma efetiva, o vínculo
associativo estável e permanente entre o paciente e a
organização criminosa, requisito necessário para a
configuração do delito de associação para o tráfico,
imperiosa é a absolvição. 3. Agravo regimental
improvido.4

45. Nesses termos, com base e fundamentos em todos os autos da


persecução penal que se encontra guerreada no presente momento, o que se espera
como medida de justiça criminal é a devida absolvição do Sr. Kleiton, não só do crime
de integrar organização criminosa, mas de todos os crimes escupidos na denúncia
ministerial, que se encontra genérica no que se refere ao Sr. Kleiton. Nos termos do
Art. 386, incisos V e VII do Código de Processo Penal, requer-se a necessária e justa
absolvição.

VI – DOS REQUERIMENTOS
Diante todo o acima exposto, requer:

a) Em respeito ao que preceitua a Constituição Federal de 1988, em seu inciso


LVII, bem como em respeito ao princípio in dubio pro reo, a ABSOLVIÇÃO
DO SR. KLEITON COSTA DE MOURA, da acusação imputada no Art.
299 do Código Penal, nos termos do Art. 386, incisos IV, V e VII do Código de
Processo Penal, em razão a ausência de conduta, por estar provado que o réu não
concorreu para a infração penal imputada e principalmente, por não existir
provas suficientes para a condenação;

b) Seja ABSOLVIDO da acusação imputada no Art. 298 do Código Penal, ao


acusado, nos termos do art. 386, incisos IV, V e VII do Código de Processo
Penal em razão a ausência de conduta, por estar provado que o réu não
concorreu para a infração penal imputada e principalmente, por não existir
provas suficientes para a condenação;;

c) Seja ABSOLVIDO da acusação imputada no Art. 304 do Código Penal, ao


acusado, nos termos do art. 386, incisos IV, V e VII do Código de Processo
Penal em razão a ausência de conduta, por estar provado que o réu não

4
https://www.stj.jus.br/websecstj/cgi/revista/REJ.cgi/ITA?
seq=1849867&tipo=0&nreg=201802515547&SeqCgrmaSessao=&CodOrgaoJgdr=&dt=20190822&format
o=PDF&salvar=false
concorreu para a infração penal imputada e principalmente, por não existir
provas suficientes para a condenação;

d) Seja ABSOLVIDO da acusação imputada no Art. 1º da Lei nº 9.613/98, ao


acusado, nos termos do art. 386, inciso III do Código de Processo Penal em
razão da atipicidade da conduta, por estar provado que o réu não concorreu para
a infração penal imputada e principalmente, por não existir provas suficientes
para a condenação;

e) Seja ABSOLVIDO da acusação imputada no Art. 2º da Lei nº 12.850/13, ao


acusado, nos termos do art. 386, incisos III, V e VII, ambos do Código de
Processo Penal em razão da atipicidade da conduta, por estar provado que o réu
não concorreu para a infração penal imputada e principalmente, por não existir
provas suficientes para a condenação;

f) Em respeito ao princípio da eventualidade, em eventual condenação, QUE


SEJA FIXADO A PENA NO MÍNIMO LEGAL, nos termos do art. 59 do
Código Penal;

g) Em respeito ao Processo Penal Constitucional, que qualquer decisão deste juízo


observe o que estabelece o Art. 93, inciso IX da Constituição Federal c/c Art.
315, §2º do Código de Processo Penal.

Termos em que, pede deferimento.

Maceió – AL, 10 de agosto de 2023.

DOUGLAS BASTOS THYAGO SAMPAIO


OAB/AL 8.012 OAB/AL 7.488
RODRIGO MONTEIRO
OAB/AL 9.580

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