Você está na página 1de 8

COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA

- PARTE II

Prof. Rafael Tomé


Objetivos

Ao final desta aula você deverá ser capaz de:

→ Compreender o conceito de comunicação não-


violenta para vida prática e aplicada na mediação
social.

→ Reconhecer a aplicação dos princípios básicos


de comunicação não-violenta durante a atuação
profissional do Extensionista Universitário e em
sua abordagem profissional.

→ Identificar os principais conjuntos de mediação


de conflitos.

→ Relacionar as ações do Extensionista


Universitário com as técnicas da comunicação
não-violenta.
Justificativa

O estudo desse tema é importante para


promover a compreensão de que a atuação do
Extensionista Universitário deve ser orientada
por ações que respeitem os direitos de cidadania
que a sua conduta seja baseada na comunicação
não-violenta durante as abordagens e no
convívio com os colegas de trabalho, podendo
estender esse conhecimento para o foro íntimo.
COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA - PARTE II 4

COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA - PARTE II

De acordo com o que foi lecionado na aula anterior, Marshall B.


Rosenberg ressaltou a importância da aplicação da Comunicação Não-
-Violenta (CNV) em todas as relações que, porventura, se desenvolve-
rem. Desse modo, as ferramentas apresentadas pela CNV podem ser
aplicadas - por aquele que fala e também, por aquele que escuta -, em
todos os âmbitos em que atuamos, seja na relação familiar, nas rela-
ções de conflito em que estejamos inseridos ou não, nas relações de
trabalho, entre outras. Entretanto, é sabido que a cultura em que esta-
mos inseridos nos coloca em uma posição defensiva, e, assim, quando
o conflito se apresenta, muitas vezes, respondemos automaticamente
com uma postura defensiva ou combativa, levando a um agravamento
de conflito, ao invés de sua resolução. Quando colocamos em prática
os princípios apresentados pela CNV, é possível criar um espaço de
evolução e, consequentemente, maior resolução de conflitos.

Ao passo que compreendemos que a existência humana se dá


em grupo, e não individualmente, podemos perceber como aquilo que
falamos e aquilo que ouvimos afeta a nossa vida em sociedade e quem
somos individualmente. É possível encontrar, em cada vivência indivi-
dual, ao menos um momento - senão vários - em que o emprego de
uma palavra, frase ou texto, causou um desequilíbrio na harmonia do
ambiente em que estávamos ou foi capaz de resolver conflitos que pa-
reciam não ser possíveis, apenas com o diálogo e/ ou a escuta.

Considerando o grave panorama socioeconômico e a incapaci-


dade de atender a algumas demandas básicas da população, os con-
COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA - PARTE II 5

flitos emergem por múltiplas razões, resultando em mais um problema


para a máquina estatal: o demandismo processual. Além disso, há uma
certa inaptidão do Poder Judiciário para lidar com questões advindas
de grupos sociais marginalizados. Diante disso, a mediação de confli-
tos pode ser uma solução mais viável, acessível e eficaz para a resolu-
ção de conflitos.

1. Desenvolvimento
Marshall B. Rosenberg fundou em 1984 uma organização não-
-governamental para difundir a CNV ao redor do globo. Hoje, com a
compreensão de que a comunicação afeta direta e indiretamente as
relações de trabalho e o próprio funcionamento das empresas e insti-
tuições, as técnicas de CNV se estenderam ao meio empresarial, ob-
tendo importantes e significativos resultados.

A CNV e a mediação estão intrinsecamente ligadas, ainda que


não sejam sempre associadas e, ainda, a grande difusão que a CNV
obteve se deve à atividade profissional de seu criador na mediação de
conflitos. Esse trabalho foi aplicado, pessoalmente pelo psicólogo, no
treinamento de mediadores de Estados em guerra, utilizando técnicas
da mediação de conflitos aliadas aos componentes da CNV que de-
senvolveu, de acordo com dados, Rosenberg ajudou a instituir a paz
em mais de sessenta países que viviam situações de grande violência.

Nesse sentido, a mediação social ganhou força, ao passo que o


Poder Judiciário não consegue, efetivamente, garantir os direitos so-
ciais de grupos marginalizados. Ressalta-se que essa ineficácia não é
COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA - PARTE II 6

um ônus exclusivo do Poder Judiciário, mas decorre de uma já antiga


estrutura social que se formou ao longo do tempo.

Nesse contexto, a mediação vem obtendo cada vez mais suces-


so na resolução de conflitos, reduzindo o demandismo processual e
obtendo resultados mais satisfatórios para todos os pólos envolvidos
no conflito. Isso se deve ao fato de que a mediação é um meio não
adversarial, e tem como ferramenta de resolução a existência de um
mediador (terceiro imparcial), capaz de desenvolver um diálogo con-
junto com as partes, informando sobre os direitos envolvidos na lide e
buscando o melhor resultado para todos os polos envolvidos, através
do diálogo.

A mediação destina-se à resolução de conflitos entre pessoas


com vínculos duradouros. O papel do mediador é promover o restabe-
lecimento do diálogo entre as partes (mediandos) através de técnicas
específicas, em busca de uma solução pacífica e, principalmente, atra-
vés do diálogo. Enquadra-se como um MASC (Meio Adequado de So-
lução de Conflitos), a ser realizada por um terceiro imparcial, dotado de
técnicas e ferramentas adequadas, que deve colaborar para que haja
uma resolução pacífica sobre o conflito apresentado. Essa atividade é
regulamentada pela Resolução 125/2010 do CNJ (Conselho Nacional
de Justiça) e suas emendas, pela Lei de Mediação (Lei nº 13.140/2015)
e pelo Código de Processo Civil Brasileiro (Lei nº 13.105/2015).

A técnicas para a mediação de conflitos dividem-se em: a) téc-


nicas procedimentais (aquelas que dizem respeito à condução da me-
diação como procedimento, em si); b) técnicas negociais (a busca do
mediador pela composição entre as partes) e c) técnicas comunica-
COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA - PARTE II 7

cionais (promovem a melhoria da comunicação entre as partes).

O Novo Código Civil (2015) tratou em diversas passagens sobre


a mediação, e atribuiu aos mediadores e conciliadores a qualidade de
auxiliares da justiça (art. 149), incluiu no procedimento comum uma
audiência de conciliação ou mediação, que só poderá ser cancelada
mediante vontade expressa dos envolvidos, entre outras providências
que o legislador tomou a fim de deixar clara sua intenção de fortalecer
a mediação como método de resolução de conflitos alternativo ao po-
der judiciário.

2. Considerações finais
Ante o exposto, a CNV não se restringe a relações pessoais, tra-
balhistas, ou qualquer outra relação, mas sim, pode e deve ser aplica-
da a qualquer relação. Na última aula, aprendemos, contudo, como o
uso das ferramentas da CNV desenvolveram uma atividade profissio-
nal que tem obtido sucesso como meio alternativo ao judicial e, prin-
cipalmente, tem obtido sucesso em dirimir a desigualdade social de
forma mais eficaz e pacífica. O uso de uma metodologia de mediação
de conflitos, com ferramentas da CNV, tem se mostrado um caminho
não judicial efetivo para efetivação dos Direitos Humanos e diminuição
dos efeitos da desigualdade social, ao passo que facilita, dissemina
informações que, sem esse mecanismo, ficam restritas a uma camada
social. Além disso, a mediação cria um espaço de não imposição e diá-
logo, emancipando grupos marginalizados e garantindo materialmente
o acesso à justiça.
COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA - PARTE II 8

3. Referências
CARBONARI, Cindy (palestra online). Comunicação Não-Violenta
com Cindy Carbonari. Disponível em: https://youtu.be/qBVkx-fGp8k .
Acesso em: 06 de jun. 2022.

FERREIRA, Allan. A COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA EM AM-


BIENTES DE TRABALHO. Repositorio.animaeducacao.com.br, 2022.
Disponível em <https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/
ANIMA/11787/1/TCC%20-%20Artigo%20-%20A%20CNV%20em%20
ambientes%20de%20trabalho.pdf> Acesso em 06 de junho de 2022.

JANELA COGNITIVA (podcast). Trabalho autoral com base no li-


vro de Marshall Rosenberg. Disponível em: https://open.spotify.com/
episode/6cuN9NjqgnAcPFL5RSKzJK?si=nNlYdo2YRmiw 17DV3Jf-
QUA. Acesso em: 06 de jun. 2022.

ORSINI, Adriana Goulart de Sena e DA SILVA, Nathane Fernandes.


A MEDIAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS
HUMANOS E DE PROMOÇÃO DA CIDADANIA. Disponível em: <http://
www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=92262bf907af914b>. Aces-
so em 06 de junho de 2022.

ROSENBERG B., Marshall. Comunicação Não-Violenta: técnicas


para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. São Paulo,
ed. Ágora, 2006.

Você também pode gostar