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Restaurativa
INTRODUÇÃO
A mediação é uma forma diferente de analisar o evento crime. Ela traz os implicados para o cerne da discussão a fim de
que participem do processo de justiça e troquem experiências, e com isto auxilia as partes a compreenderem a dimensão
social do crime (conflito).
A mediação na Justiça Criminal não se apresenta como uma prática simples, mas sim como algo que demanda muito dos
que dela participam, porque exige que os indivíduos encarem e reconheçam os interesses dos outros como
condicionantes das suas próprias ações ou omissões.
Assim, ao contrário do procedimento da justiça penal tradicional, que respalda e reproduz os mitos sobre o autor do crime
pela seleção de informações dirigidas à acusação e à sentença, na mediação o enfoque está nas informações que
possam aproximar as partes em conflito a fim de chegarem a um acordo.
Com o uso da mediação, pretende-se desfazer os mitos e estereótipos relacionados tanto à vítima (alguém frágil e sem
poder) quanto ao ofensor (criminoso), o que decorre da participação ativa de ambos no processo restaurador.
Não há dúvida de que, dentre as inúmeras práticas restaurativas existentes, a mediação é a mais utilizada. É também a
que possui mais tempo de aplicação.
OBJETIVOS
MEDIAÇÃO
Existem diversas mediações, não admitindo um conceito fechado deste instituto. Vários países desenvolveram diferentes
tipos de mediação.
Uma terceira parte, imparcial, ajuda duas ou mais pessoas a compreender o motivo e a origem do problema, a confrontar
seus pontos de vista e encontrar uma solução consensual, muito mais sob a forma de reparação simbólica do que
material.
A mediação tem o objetivo de restabelecer o diálogo entre as partes, realizando a reorganização das relações, visando a
um resultado mais satisfatório possível.
A Recomendação do Conselho da Europa (glossário) número R(99) 19 define a mediação, particularmente, a desenvolvida
na área penal, como todo processo no qual vítima e autor do crime, desde que concordem, podem participar ativamente
da resolução dos conflitos que surgem a partir do cometimento do ato delituoso, por intermédio da ajuda de um terceiro,
o mediador.
A mediação
Baseia-se no consentimento das partes e na confidencialidade das discussões. Os fatos que são trabalhados na
mediação não podem ser usados para outros fins, apenas com a concordância das partes;
Oferece a possibilidade para uma abertura de espaços comunitários, reconstruindo o processo de regulação social por
meio da negociação. Na área criminal, pode ser considerada uma reação penal, cujo desenvolvimento pode afetar a
própria pena;
Considera o conflito como parte integrante da vida do homem. O conflito é um problema a ser resolvido. A mediação
permite que as pessoas adquiram uma compreensão sobre si mesmas e se relacionem com as outras a partir do trabalho
com o conflito.
O conflito
Por provocar sofrimento e ser vivido como uma ameaça, muitas vezes, é evitado. A evitação, em geral, não é possível
porque as consequências do conflito são pesadas na vida das pessoas, outras vezes evitar o conflito significa renunciar
aos próprios direitos e à dignidade.
Desenvolvemos, no decorrer do tempo, várias possibilidades de gestão de conflitos, umas fundamentadas na força,
outras no diálogo. Todas estas formas têm em comum a vontade de resolver um problema. O que as diferencia é a forma
de ação e suas consequências mais ou menos violentas.
A imparcialidade dos mediadores não diz respeito apenas aos interesses das partes, mas também, às relações de poder
entre elas. A mediação, a partir da escuta das emoções, permite que as partes revelem e reconheçam suas necessidades
e valores, aumentando as possibilidades de acordo.
O acordo
A mediação representa uma via de construção de um novo modelo de justiça penal e um elemento importante de
superação do modelo punitivo. Apresenta um objetivo diferenciado do enfoque dos projetos da Justiça que visam a
desafogar o Judiciário, como se esse fosse o seu único problema.
A proposta da mediação, de acordo com Bush; Folger (2006), é a sua capacidade para transformar o comportamento das
partes e da sociedade.
A informalidade e a consensualidade permitem que os participantes tenham mais respeito, reconheçam as suas
autodeterminações e aumentem sua capacidade de lidar com os problemas. O diálogo na mediação possibilita a
capacidade relacional, que não existe na Justiça penal, onde a regra no processo penal é o distanciamento.
Como a mediação vem sendo utilizada em diferentes contextos, é importante criar uma base própria para a mediação
penal. Dentro do Direito, o Direito Penal parece ter criado um mundo próprio, fechado e isolado dos outros saberes.
Transformou-se em mais penal e menos Direito.
A teoria criminal tenta se isolar da realidade social, quando não dá atenção ao intrincado conflito entre a vítima e o
ofensor. A mediação penal deve estar localizada entre a não intervenção e a punição. É claro que o controle estatal do
crime sempre vai ser importante, mas deve ser apenas uma parte do sistema de controle social.
De acordo com Mannozzi (2003), citado por Sica (2007, p. 52-3), a mediação penal pode ser entendida da seguinte forma:
A mediação pode ser considerada, em primeiro lugar, como uma mera técnica de intervenção social, em que
um sujeito terceiro e neutro, tende a promover a superação do conflito existente entre dois indivíduos, por meio do
encontro e do confronto;
Em segundo lugar, a mediação emerge na sua função de modalidade de solução de conflitos que tem
interseção com o processo penal, na perspectiva mais ampla da justiça restaurativa;
Em terceiro lugar, a mediação põe-se como nova abordagem de dinâmicas sociais, que consente em prescindir
da resposta judiciária em relação a alguns conflitos interpessoais ou entre grupos.
ATENÇÃO
, É importante destacar a desvinculação da mediação com o acordo como resultado final. A mediação penal não é um meio e, sim,
um fim, uma atividade que pode ter como resultado uma solução que revele a não necessidade da pena.
REQUISITOS GERAIS
As mediações apresentam características comuns quando aplicadas em seus vários contextos. Podem ser destacados:
As partes em conflito;
Não é uma atividade exercida pelo juiz e acontece fora das salas de audiência, usando instrumentos diferenciados da
Justiça, como:
SAIBA MAIS
, Não existe a finalidade de identificar a verdade dos fatos ou estabelecer culpa ou inocência, mas sim, construir uma comunicação
entre as pessoas.
Os requisitos para qualificar a mediação penal são, segundo Sica (2007, p.55):
Voluntariedade — a participação livre e consentida das partes caracteriza uma confiança e um reconhecimento
muito maior no ordenamento legal do que a ameaça da pena. No entanto, esta aceitação voluntária não impede a
possibilidade do retorno do caso para o sistema judicial formal;
Confidencialidade — é a garantia de que os fatos relatados na mediação infrutífera possam ser usados em
juízo;
Oralidade;
Informalidade;
Neutralidade;
Envolvimento da comunidade;
Autonomia da vontade.
Tipos e métodos
A mediação atua em vários contextos, com a possibilidade de mediação penal nos seguintes casos:
Violência doméstica;
Conflitos entre estudantes e professores, entre estudantes, entre professores e corpo administrativo;
Conflitos em prisões;
Conflitos étnico-raciais.
Fase preparatória para a mediação, na qual os mediadores estabelecem contato com as partes, dão as informações necessárias e
colhem o consentimento para a participação;
Sessões de mediação;
A mediação penal pode ser considerada uma categoria próxima do penal, desenvolvida a partir da necessidade de novas
respostas sociais às infrações.
O acordo restaurativo, construído a partir do consenso das partes, permite o reconhecimento emocional dos valores
envolvidos na situação. Sem este reconhecimento emocional não é possível a norma ser internalizada e sua valorização.
No que diz respeito ao método podem ser identificadas duas metas diferentes:
No campo penal, a mediação pode ser:
Indireta Direta
Em que as partes se encontram,
é preferível, mas nem sempre
possível. Quando ela ocorre,
pode ser articulada em seis
etapas, segundo Sica (2007,
p.59):
O ASPECTO COMUNICATIVO-RELACIONAL
Os métodos de mediação, sejam quais forem, indicam o papel primordial do componente comunicacional.
É a partir deste componente que a mediação se diferencia de outros métodos e, além disso, é por meio deste componente
que se pode redefinir o objetivo da justiça penal.
A mediação se funda em uma comunicação diferente da linguagem jurídica, que pela sua formalidade e complexidade, se
torna inatingível ao cidadão leigo. Além disso, a comunicação nas Varas Criminais não aceita a expressão das emoções
das partes.
A linguagem jurídica transforma os problemas das pessoas em acontecimentos jurídicos. O controle do juiz, em relação à
comunicação, faz com que ele escolha as informações conforme a sua necessidade para decidir o processo, afastando-
se da realidade e simplificando temas extremamente complexos.
Essa comunicação unilateral, realizada pela Justiça Penal, faz com que o jurisdicionado tenha pouca oportunidade de
comunicar livremente os fatos.
No segundo caso, o diálogo é bloqueado, de um lado pela supressão da vítima, que ganha fala por intermédio do
Promotor Público, e por outro lado, pela opressão sobre o ofensor, que tenta apenas demonstrar que não praticou o ato
ou, se o praticou, foi de forma justificada. E, quanto mais severa a acusação, maior a tendência do ofensor para neutralizar
a situação argumentando que está sofrendo uma injustiça.
É por esta razão que a mediação deve ser considerada como um fim. Deve ser encontrada uma linguagem comum que
leve à resolução do conflito. A vítima e o ofensor devem chegar a uma interpretação comum do crime, sob uma dimensão
humana, podendo levar a um acordo de reparação-conciliação.
A mediação considera o crime como uma ruptura nas relações, mesmo nos casos em que ofensor e vítima não se
conheçam.
O crime não é um ato isolado e abstrato que é praticado por um sujeito alheio às normas. Em uma leitura relacional, o
comportamento criminoso é fruto de um conflito que provoca o rompimento de expectativas sociais compartilhadas.
Por isso, o objetivo da Justiça Penal deveria ser o restabelecimento da harmonia e a estabilização das expectativas
rompidas.
A mediação apresenta um potencial para redefinir a missão da Justiça Penal. Ela oferece a possibilidade de uma solução
negociada para o conflito que contenha a reparação-conciliação, restabelecendo as relações de reconhecimento e
reciprocidade mútuas.
O reconhecimento pode funcionar como um mecanismo preventivo, maior do que a ameaça da pena.
Na Justiça Penal, a mensagem da norma é transmitida pela aplicação da pena. O raciocínio estímulo-resposta não dá
conta na nossa sociedade tão complexa. É inadequado pensar que ao aplicar o estímulo (a pena) teremos uma resposta:
o comportamento conformado à norma.
O encaminhamento de um caso para a mediação penal e o consentimento das partes para participar é um sinal de que a
norma está sendo confirmada.
SAIBA MAIS
, O acordo restaurativo retorna o equilíbrio e estabiliza as expectativas, fazendo com que a pena se torne desnecessária e não
legítima. Por meio de sua gestão comunicativa do conflito a mediação pode agir como fator de estabilização social, veiculando o
consenso., , Esse esforço de interação pode ser considerado como um fator fundamental para a convivência pacífica., , A proposta da
pacificação das relações sociais a partir do Direito, a partir de uma participação social, não pode ser atingida pelo Direito Processual
Penal., , No aspecto relacional, o Direito Penal está limitado à atribuição da pena, manifestada como um ato de autoridade porque
alguém desobedeceu a lei., , Segundo Sica (2007), a mediação penal e outras práticas restaurativas aumentam a sensação de
segurança, isto é, a confiança no ordenamento jurídico e na efetividade da justiça.
O mediador
O mediador não exerce poder sobre as partes ou sobre o procedimento. A mediação é um instrumento de
empoderamento das partes, fundamentado em autonomia e participação.
Após o consentimento das partes, ele decidirá pelo método direto ou indireto. Nas sessões, independente do seu método,
o mediador deverá permanecer neutro.
No início da sessão de mediação, dentro de um enfoque transformativo, o mediador deve deixar claro que as partes não
devem se concentrar na realização de um acordo. Seu papel principal é:
No enfoque transformador, segundo Bush; Folger (2006), o êxito da mediação é determinado quando:
As partes estão esclarecidas quanto às metas, alternativas e recursos para tomar uma decisão livre e refletida;
O caráter comunitário da mediação é estabelecido pelo fato de os mediadores não serem, em geral, juízes, promotores ou
defensores, dando um caráter comunitário ao método.
As possibilidades de comunicação entre o mediador e as partes são muito maiores e facilitam o encontro de uma
linguagem comum, compreensível para todos.
1. É um terceiro neutro, facilitador da comunicação, que não impõe ou sugere uma solução;
2. Atua para atingir dois objetivos:
• reconstruir o espaço de comunicação e,
• ajudar réu e vítima a encontrarem uma base comum de interpretação sobre o crime que os levem a superar o
conflito.
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ondemand_videoVídeo.
A Justiça Restaurativa está fundamentada em princípios que podem ser realizados pela mediação penal, que se torna a
alternativa mais viável e adequada a este novo modelo de justiça.
O conceito de Justiça Restaurativa é mais restrito do que o de mediação, uma vez que este tipo de justiça está delimitado
à área criminal. No entanto, há uma relação estreita entre os dois conceitos.
A mediação penal diminui a estigmatização do ofensor e recupera o papel ativo das partes. Uma questão importante na
relação entre a mediação e a Justiça Restaurativa é a possibilidade da mediação conferir modernidade à Justiça
Restaurativa.
Nos tempos atuais, pós-modernidade (glossário), há um declínio dos valores tradicionais da sociedade e aumentam as
necessidades de autoafirmação das normas.
Essas necessidades estão sendo negociadas, porque na nossa sociedade, o foco do problema tornou-se a comunicação.
Segundo Sica (2007), a mediação penal é mais recomendada para os grandes centros urbanos do que para pequenas
comunidades. A preocupação da mediação é abrir um espaço comum e estabelecer uma linguagem compartilhada, daí a
sua importância nos grandes centros onde as relações são cada vez mais complexas.
O enfrentamento de um caso com sucesso por meio da mediação penal pode interferir na relevância penal do problema
atenuando-a ou eliminando-a.
Uma confusão é o reconhecimento da mediação penal com as medidas e penas alternativas ou os substitutivos penais.
Diferentemente da mediação penal, estes têm como objetivo uma diminuição da resposta punitiva em favor do réu (que
não é o objetivo da mediação) e não considera a posição da vítima como essencial. Como se percebe, a lógica ainda é
punitiva.
Mosconi (2000), citado por Sica (2007, p. 79-80) estabelece uma sistemática entre a mediação e o Direito Penal:
Relação de total estranheza da esfera de mediação em respeito à esfera penal, verificada em hipóteses onde é possível até o
autoencaminhamento das partes diretamente à mediação, cuja estrutura recebe o caso e não tem qualquer vinculação com o reenvio
ou envio ao sistema de justiça, normalmente, não se tratam de mediação penal propriamente dita, embora possa ocorrer;
Complementariedade estrutural ou alternativa onde há uma divisão de competência definida por matéria jurídica, verificando-se uma
convivência pacífica entre as esferas;
Complementariedade funcional, vale dizer, onde não funciona um instrumento, entra outro e o funcionamento de um é, pelo menos
indiretamente, orientado à boa operatividade do outro; aqui há uma constante tensão entre a mediação e o sistema formal.
Temos uma problemática para esse elo entre a mediação e o Direito Penal.
A Justiça Restaurativa e a mediação penal são formas complementares de reação penal e não substitutos penais. A
mediação penal encontra-se em uma fronteira com o processo penal, apresentando uma perspectiva mais humanista,
centrada na participação da sociedade na administração da justiça.
ATIVIDADE
A partir da charge apresentada faça uma reflexão sobre a eficácia dos pedidos expostos nos televisores.
Resposta Correta
EXERCÍCIOS
Questão 1: Sobre os conceitos gerais de Conciliação, de Mediação de Conflitos e de Justiça Restaurativa, assinale a
alternativa correta.
A Mediação somente pode ser utilizada em processos cíveis e, invariavelmente, deve ocorrer em audiência designada para este
fim.
A Conciliação deve ser feita necessariamente pelo juiz responsável pelo processo, o qual tem o dever de alcançar a composição
entre os litigantes.
A Justiça Restaurativa visa a obter a punição mais severa ao ofensor porque se baseia justamente na necessidade de restaurar a
dignidade do ofendido.
A Mediação é uma forma de solução de conflitos na qual uma terceira pessoa, neutra e imparcial, facilita o diálogo entre as partes,
para que elas construam, com autonomia e solidariedade, a melhor solução para o problema.
A Justiça Restaurativa somente pode ser aplicada em delitos considerados leves.
Justificativa
Justificativa
Propõe o crime como ato que viola a norma estatal, considerando a pena como reação correta à conduta delitiva.
Centraliza, no Estado, o papel definidor do tipo penal, cabendo a ele a atribuição da sanção segundo a norma instituída.
Pensa o crime pelo viés comutativo na atribuição de pena proporcional ao mal praticado, considerando o processo intimidatório
como primordial no controle da conduta do infrator.
Considera a infração pela lógica distributiva, destinando serviços e benefícios a cada infrator de forma desigual, visando recuperar
o infrator e reintegrá-lo à sociedade.
Concebe o crime como violação à pessoa e às relações interpessoais, valorizando a reparação dos danos causados à vítima, à
sociedade, ao ofensor e às relações interpessoais.
Justificativa
Questão 4: A Justiça Restaurativa é uma corrente surgida há cerca de 40 anos nas áreas de Criminologia e Vitimologia.
Assume-se como um novo paradigma de justiça, caracterizado essencialmente pela:
Dificuldade encontrada pela vítima em se reequilibrar psicossocialmente após o sofrimento de qualquer tipo de crime.
Promoção da efetiva participação dos interessados − vítimas e infratores − na solução de cada caso concreto.
Justificativa
Glossário
CONSELHO DA EUROPA
PÓS-MODERNIDADE
É o estado ou a condição de ser pós-moderno. Depois ou em reação àquilo que é moderno, como na arte pós-moderna. A
modernidade é definida como um período ou uma condição largamente identificado com a Revolução Industrial, a crença no
progresso e nos ideais do Iluminismo.