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CASOS PRÁTICOS

No dia 30 de setembro de 2020, é publicada uma lei da Assembleia da República, que


estabelece a sua entrada em vigor no dia 30 de novembro de 2020, sobre a compra e venda a
prestações de automóveis, determinando:

Art. 5.º: “Cada prestação vence juros de 2% ao ano, a favor do vendedor.”, revogando
regime em que nenhuns juros seriam devidos.

Art. 6.º: “Celebrado o contrato, cada prestação é acompanhada de documento de recibo


assinado pelo vendedor”, revogando regime em que nada se estabelecia quanto a tal matéria.

Art. 7.º: “O art. 5º tem eficácia retroativa à data de 30 de setembro de 2020.”

Antónia comprou automóvel a Benedita, no dia 1 de outubro de 2020, estipulando-se, nessa


data, que o preço seria pago no prazo de 24 meses, 2.000€ por mês, devendo a 1.ª prestação ser
paga no dia 31 de outubro de 2020.

i - Antónia tem de pagar juros? Qual a 1.ª prestação a que se aplica a nova lei?

ii - Benedita tem de emitir recibo escrito?

O DL n.º 60/2000, de 3 de março, regula o regime jurídico do direito real de habitação


periódica. Em 1 de Setembro de 2021 entrou em vigor a alteração legislativa seguinte:

Artigo 3.º, n.º 1: “O contrato de constituição do direito real de habitação periódica só é válido
se for celebrado por escritura pública”.

Artigo 5.º: “A falta de apresentação do relatório de vistoria à fração não é causa de nulidade
do contrato de constituição do direito real de habitação periódica”.

Artigo 7.º: “O titular do direito real de habitação periódica tem direito a resolver o contrato
de constituição do direito real de habitação periódica em caso de falta de realização de obras
extraordinárias anuais pelo proprietário”.

i - Os contratos de constituição de direito real de habitação periódica celebrados antes da


entrada da alteração legislativa permanecem válidos?

ii - No Tribunal de Faro, encontram-se para decisão, de momento, dois casos em que se alega
a nulidade do contrato de constituição do direito real de habitação periódica. No Tribunal da
Relação de Évora encontra-se um outro caso, em recurso de uma decisão daquele Tribunal de
Faro, em que foi julgada a nulidade. Existem ainda três casos judicialmente fechados em que,
em todos eles, se declarou a nulidade do contrato.
De que modo a alteração legislativa afeta as referidas decisões judiciais?

iii - Durante 2019, o proprietário da fração X não realizou as obras a que estava obrigado. No
entanto, o DL n.º 60/2000, de 3 de março, não conferia ao titular do direito real de habitação
periódica o direito a resolver o contrato, como faz agora depois da última alteração legislativa.

Tem o titular do direito de habitação periódica direito a resolver o contrato, por falta de
realização de obras extraordinárias pelo proprietário?

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Em virtude de uma polémica em torno do comissionamento bancário, o Parlamento aprovou
uma lei com o seguinte conteúdo:
Artigo Único: A remuneração do Banco nos contratos de crédito à habitação não pode
envolver comissões de processamento da prestação.
Carlos e Dalila contraíram um crédito à habitação no ano passado, em cujo contrato se previa,
nomeadamente, uma comissão de processamento da prestação, pelo que se questionam agora
se a nova lei se esta nova lei se aplica ao seu caso concreto. Quid juris?

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Analise as seguintes hipóteses práticas e determine a lei aplicável para cada situação em curso:
i. Os artigos 1098.º e 1108.º do Código de Seabra, aprovado em 1867, estabeleciam que o
regime supletivo de bens para casamentos era o da comunhão geral de bens. Entretanto, o artigo
1717.º do Código Civil, que entrou em vigor ocorreu em 1967, estabelece que o regime
supletivo é o da comunhão de adquiridos. Asdrúbal e Berta casaram-se em 1960, não tendo
celebrado qualquer acordo ou convenção antenupcial, e estão com dúvidas acerca do regime
de bens que lhes é aplicável atualmente. Quid juris?
ii. A Lei X/2020, que entrou em vigor a 1 de janeiro, previa que a taxa de juro não podia exceder
os 8% nos contratos de mútuo bancário. Sucede que, a 1 de maio, entrou em vigor a Lei Y/2020,
que estabelece o seguinte: «A taxa de juro máxima nos mútuos bancários é de 6%, aplicando-
se esta regra a contratos celebrados previamente à sua entrada em vigor». Diamantino celebrou
um contrato de mútuo bancário com o Banco EDNA a 1 de fevereiro de 2020, tento sido
acordada uma taxa de juro de 7%. Quid juris?
iii. Suponha que, a 5 de abril de 2020, foi aprovada a Lei Z/2020, que alterou o artigo 1245.º
do Código Civil, no sentido de os contratos de jogo e aposto passarem a ser válidos e fontes
de obrigações civis. Fátima participou num concurso publicitário a 20 de fevereiro de 2020 e
pretende saber qual o regime aplicável a esse contrato. Quid juris?
iv. Suponha que, a 1 de janeiro de 2019, foi aprovado o Decreto-Lei n.º 1/2019, que alterou os
artigos 1316.º e 1317.º do Código Civil, retirando a usucapião, a ocupação e a acessão como
modos de aquisição do direito de propriedade. Gabriel adquiriu a propriedade de um terreno
por usucapião a 20 de outubro de 2017, mas tem receio que a nova lei implique uma extinção
desse direito de propriedade. Quid juris?
v. A Lei n.º 1/2020 entrou em vigor a 3 de janeiro de 2020 e alterou o artigo 882.º, n.º 2 do
Código Civil, retirando a referência aos “frutos pendentes”. Suponha que Henrique comprou
uma herdade, na qual existia um pomar de macieiras, a Isabel, em dezembro de 2019, tendo,
porém, sido acordada a entrega apenas em fevereiro de 2020. As maçãs que não tivessem sido
ainda colhidas tinham de ser entregues a Henrique?

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A 1 de janeiro de 2010 entrou em vigor a Lei n.º x/2010, a qual continha os seguintes preceitos:
Artigo 1.º Os contratos de aquisição de ações celebrados por menores de dezoito anos são
nulos.
Artigo 2.º Salvo disposição em contrário, o comprador de ações tem quatro dias, contados a
partir da data da celebração do contrato, para pagar o preço estipulado.
Artigo 3.º As ações de sociedades que tenham por objeto a produção de material militar não
podem ser adquiridos por quem seja nacional de Estado que integre lista a elaborar, por
regulamento, pelo Ministério da Defesa.
A 1 de abril de 2011 entrou em vigor o Decreto-Lei n.º x/2010, o qual continha os seguintes
preceitos:
Artigo 1.º Salvo disposição em contrário, o comprador de ações tem dez dias, contados a partir
da data da celebração do contrato, para pagar o preço estipulado.
Artigo 2.º Por «comprador», nos termos do artigo 2.º da Lei n.º x/2010, deve entender-se
qualquer sujeito que, por contrato oneroso, adquira direitos sobre ações
Também a 1 de abril de 2011 entrou em vigor o Regulamento n.º x/2010, o qual continha os
seguintes preceitos:
Artigo 1.º Não podem adquirir ações de sociedades que tenham por objeto a produção de
material militar os cidadãos nacionais do Irão, da Síria e da Coreia do Norte.
Artigo 2.º Por «sociedades que tenham por objeto a produção de material militar», entende-
se, nos termos deste Regulamento e da Lei x/2010, quaisquer sociedades que se dediquem ao
fabrico ou comercialização de armas, veículos militares ou de quaisquer produtos que sejam
essenciais para a utilização destes.
Tendo presente o referido enunciado, pronuncie-se sobre as seguintes questões:
i. Pode, a 1 de dezembro de 2009, GERVÁSIO, aplicar uma pequena parte da vasta fortuna
que herdou em ações da Zimpor, S.A.?
ii. A sua resposta seria diferente se GERVÁSIO celebrasse o contrato de compra e venda de
ações a 31 de março de 2011?
iii. Admitindo a validade do contrato referido na questão anterior, qual o prazo de Gervásio
teria para pagar o preço das ações?
iv. A sua resposta às duas questões anteriores seria diferente se, em vez de GERVÁSIO ter
comprado as ações em causa, tivesse adquirido onerosamente usufruto sobre as mesmas?

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