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CASOS PRÁTICOS 2024

Aplicação da Lei no Tempo

I
A 25 de maio de 2012, foi aprovada a Lei n.º 1, que regulava a caça ao javali. Dada a
pressão dos movimentos pelos animais, um ano depois foi aprovada a Lei n.º 2, sobre a
mesma matéria. Se o Senhor Joaquim quiser ir caçar hoje, por que lei se deve pautar?

II
O artigo 1.º da Lei n.º 1/2001, de 1 de janeiro determina que “o arrendatário tem o direito
de fazer todas as obras que entenda necessárias no imóvel arrendado”.

O artigo 2.º do Decreto-Lei nº 2/2002 de 2 de fevereiro determina que “o arrendatário


apenas pode realizar obras no imóvel arrendado com o consentimento do senhorio”.

1 – Imagine que o artigo 3.º do mesmo Decreto-lei determina que “nos contratos de
arrendamento celebrados antes da entrada em vigor da presente lei e que perdurem no momento da entrada
em vigor desta, assiste ao arrendatário o direito de fazer obras no imóvel arrendado, desde que tal seja
necessário devido a imperiosas razões de segurança”.

2 - Imagine que o artigo 3.º tinha a seguinte redação: “aos contratos de arrendamento
celebrados antes da entrada em vigor da presente lei e que perdurem no momento da entrada em vigor desta,
aplica-se o regime constante da Lei n.º 1/2001”.

III
Nos termos do artigo 143.º do Código Penal, “Quem ofender o corpo ou a saúde de outra
pessoa é punido com pena de prisão até três anos ou com pena de multa”.

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A 1/1/2019, a Lei n.º 1/2019 veio alterar a redação do mesmo artigo passando a ser
esta “Quem ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa é punido com pena de prisão até dois anos ou com
pena de multa”.

A 10/10/2018, A agride violentamente B com vários socos. É julgado a 2/2/2019 e em


julgamento todos os factos ficam provados. Qual a pena a que deve ser sujeito?

Variante – suponha que A foi julgado a 1/12/2018 e condenado a 3 anos de prisão. Admita
que a sentença já transitou em julgado. Quid iuris?

IV
A Lei n.º x/2019, de 1 de janeiro, prevê, no seu artigo 145.º, no quadro das políticas
de restrição orçamental a que Portugal se encontra sujeito, o seguinte:
“1 – É criado um imposto extraordinário e transitório sobre a respiração.
2 – O imposto é devido anualmente em taxa fixada em tabela anexa, por todos os seres humanos
maiores de 18 anos e com residência em Portugal.
3 – O imposto relativo a cada ano deve ser pago em dezembro do ano a que se reporta.
4– Esta lei aplica-se a partir de 1de janeiro de 2009”.
Quid iuris?

Variante – Suponha que a 1 de janeiro de 2020 entra em vigor o DL y/2020 que contém o
seguinte artigo único:
“1 – Os asmáticos ficam isentos do imposto criado pela Lei n.º x/2019.
2 – Esta lei entra em vigor no dia da sua publicação”.

Face ao que se dispõe nesse diploma, SIMBA, asmático, que consegue fazer prova dessa
situação clínica, pretende hoje (março de 2020) saber se pode exigir à administração fiscal a
devolução do imposto que pagou em 2019, relativo a esse mesmo ano.

V
A Lei n.º x/2007, de 14 de abril, entrou em vigor a 1 de maio de 2007 e aprovou
normas para a proteção dos cidadãos à exposição involuntária ao fumo do tabaco. Nos
termos do seu artigo 17.º:

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“1 – O preço de venda ao público das embalagens de cigarros não pode ser inferior a 10 Euros por
unidade.
2 – Pelos prejuízos associados à retração da procura dos seus produtos que o disposto no número
anterior pode provocar, as empresas tabaqueiras têm direito a uma indemnização compensatória a pagar
anualmente pelo Ministério da Economia”.

A 1 de agosto de 2008, a Lei n.º a/2008 revogou o disposto no artigo 17.º da Lei n.º
x/2007. No seu artigo 2.º este diploma considera-se “aplicável desde a data de início de vigência da
Lei n.º x/2007”. Em 2 de janeiro de 2008, nos termos da Lei n.º x/2007, a sociedade
Português Levezinho, Lda., recebeu do Estado português uma indemnização compensatória
de 5.000 Euros. Com a entrada em vigor da Lei n.º a/2008, estará obrigada a devolver esse
montante?

VI
Suponha que, nos termos do artigo 7.º da Lei x/2019, entrou em vigor dia 10 de
janeiro de 2019, “são nulos os contratos de compra e venda de armas de fogo celebrados por menores de 18
anos”. No dia 7 de janeiro, SAMUEL, jovem de 17 anos, que residia num bairro problemático
de Lisboa, comprou uma arma de fogo.

VANESSA, mãe de SAMUEL, assustada com esta compra por parte do filho, ficou
aliviada com a entrada em vigor da Lei x, porque entende que o contrato celebrado por
SAMUEL se tornou inválido. SAMUEL não concorda, visto que, ao abrigo da Lei y/2019,
em vigor a 1 de fevereiro de 2019, “são nulos os contratos de compra e venda de armas de fogo celebrados
por menores de 16 anos”. Quid iuris?

VII
Nos termos do artigo 10.º da Lei n.º x/2010, de 1 de janeiro – que revogava o artigo
875.º do CC –, “o contrato de compra e venda de bens imóveis só é válido se celebrado por escritura pública”.
Diferentemente, o artigo 10.º da Lei n.º x/2014, de 1 de março determina “à forma do
contrato de compra e venda de bens imóveis aplica-se o disposto no artigo 219.º do Código Civil”.
No dia 2 de fevereiro de 2010, já com a Lei n.º x/2010 em vigor, AMÉLIA vendeu
a BRUNO uma fração de prédio urbano sita em Carrazeda de Anciães. O contrato foi
reduzido a escrito através de um simples documento “word” elaborado por BRUNO e as

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assinaturas das partes não foram notarialmente reconhecidas. Apesar disso, assinado o
contrato, AMÉLIA recebeu o preço e o comprador passou a habitar no imóvel.
Hoje CLOTILDE oferece a AMÉLIA um preço mais vantajoso pelo mesmo imóvel,
que passa a entender que o negócio celebrado em 2010 não é válido e que pode vender o
prédio a CLOTILDE. O que lhe parece?

VIII
Suponha que a Lei X/2019, de 1 de janeiro, vem alterar o artigo 122.º do Código
Civil dando-lhe a seguinte redação: “é menor quem ainda não tiver completado 21 anos de idade”.
DINAMENE, nascida em Portugal em 2000, completou 18 anos em 1 de dezembro
de 2018 e inscreveu-se na escola de condução “Sobre Rodas, Lda.”, para “tirar a carta” de
ligeiros. Em face do disposto na Lei X/2019 e tendo em conta outra legislação, nos termos
da qual só poderão frequentar escolas de condução alunos maiores de idade, os responsáveis
da “Sobre Rodas, Lda” afirmam que DINAMENE não pode prosseguir o “curso” (embora
se disponham a devolver o dinheiro que já pagou). Quid iuris?

IX
Na sua versão original (de 1966), o artigo 1585.º do Código Civil dispunha: “a afinidade
determina-se pelos mesmos graus e linhas que definem o parentesco e não cessa pela dissolução do casamento”.
A Lei n.º x/2008, de 31 de outubro, que entrou em vigor a 30 de novembro desse
mesmo ano, veio, no entanto, dar a seguinte nova redação a esse preceito: “a afinidade
determina-se pelos mesmos graus e linhas que definem o parentesco e não cessa pela dissolução do casamento
por morte”.
ROMEU casou com JULIETA em novembro de 2001, da qual se divorciou dois
anos depois. Ficou, no entanto, muito amigo da “sogra”, HELOÍSA e, no início de 2009,
ambos começaram a namorar. Pretendem agora casar. Só que, tendo em conta a versão
original do artigo 1585.º, receiam ainda ser “afins”, não podendo por isso casar-se, nos
termos do artigo 1602.º d) do Código Civil. Perguntam-lhe, por isso, a si, se é capaz de
tranquilizá-los.

X
Nos termos do DL y/2019, de 1 de fevereiro, “os proprietários de bens imóveis não os
poderão alienar antes de decorridos dois anos sobre a data da respetiva aquisição”.

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Semelhante exigência não existia, até aí, no Direito Português.
ANA comprou a BENTO, no passado dia 15 de janeiro de 2018, uma fração de
prédio urbano, sita no Bombarral e pretende em março de 2019
doá-la ao filho, CARLOS. Mas, tendo em conta o disposto no citado DL, não sabe se o
poderá já fazer. Que lhe responderia?

Variante – Suponha que um DL z/2020, de 1 de maio, vinha alterar o DL y/2019, de 1 de


fevereiro, exigindo um prazo de três anos para ser possível a alienação de bens imóveis.
Admita que ANA adquiriu o prédio em 2 de fevereiro de 2018. Quando poderá doar
a CARLOS?

Variante II – Suponha que o DL y/2019 dispunha, em vez do citado, o seguinte: “os


proprietários de bens imóveis adquiridos por usucapião não os poderão alienar antes de decorrido um ano
sobre a data da respetiva aquisição”.
BENTO adquiriu, por usucapião, em dezembro de 2018, a propriedade de um
terreno cuja posse tinha desde 1990. Poderá em março de 2019
vendê-lo a CAETANA?

XI
Imagine que a L1, publicada a 11 de junho de 2015, veio estabelecer que: “caso as
partes no contrato de mútuo não estabeleçam a taxa de juro, está será de 5%”.
A 22 de dezembro de 2018, entra em vigor uma L2, a qual vem determinar que “caso
as partes no contrato de mútuo não estabeleçam a taxa de juro, esta será de 8%”.
A celebrou com B um contrato de mútuo a 3 de março de 2017. Qual a taxa de juro
que deve ser paga por A a B durante o ano 2024?

XII
O DL n. x/2019, de 1 de janeiro, veio alterar o Código do Trabalho, introduzindo os
seguintes preceitos: “(i) o empregador deve garantir a realização de testes médicos a todos os trabalhadores
da empresa, com frequência anual. (ii) é obrigatória a contratação, por parte do empregador, de um seguro de
acidentes de trabalho que cubra os riscos dos trabalhadores”.
Até à data não existiam tais exigências.

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Neste sentido, a sociedade “Tudo ao molho e fé em Deus, Lda.” que tem no seu
quadro de pessoal 20 trabalhadores, o último dos quais contratado em janeiro de 2015,
pretende saber se a nova lei se aplica apenas aos trabalhadores que venham a ser admitidos
a partir do seu início de vigência, ou também aos que já fazem parte do quadro. Quid iuris?

XIII

Nos termos do artigo 20.º da Lei n.º 1/1966, de 1 de janeiro: “(i) os cônjuges estão
reciprocamente vinculados pelos deveres de respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e assistência; (ii) a
violação culposa de qualquer destes deveres, por parte de um cônjuge, constitui fundamento de divórcio litigioso,
a requerer pelo outro cônjuge”.
Suponha que a Lei n.º 2/2022, de 1 de janeiro de 2022 vem alterar o artigo 20.º da
Lei n.º 1/1966, de 1 janeiro, dando-lhe a seguinte redação:
“(i) os cônjuges estão reciprocamente vinculados pelos deveres de respeito, coabitação, cooperação e
assistência; (ii) a violação culposa de qualquer destes deveres, por parte de um cônjuge, constitui fundamento
de divórcio litigioso, a requerer pelo outro cônjuge.”
MARÍLIA e BOCAGE, muito apaixonados, casaram em Setúbal no dia 25 de abril
de 2010.
Porém, BOCAGE tem um coração enorme onde cabe sempre mais alguém… e em
março de 2022 iniciou uma relação adulterina com OLGA, embora não pretenda divorciar-
se de MARÍLIA a quem ainda ama muito!
MARÍLIA descobriu tudo este ano e pretende
divorciar-se de BOCAGE, mas este afirma que não lhe assiste tal
direito. Quid iuris?

XIV

Até ao ano de 2017, a atividade de intermediário de crédito era de acesso livre.

O Decreto-Lei n.º 81-C/2017, de 7 de julho veio dispor o seguinte:

Artigo 12.º

À apreciação do requisito de idoneidade é aplicável, com as devidas adaptações, o artigo 30.º-D do


RGICSF.

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Artigo 30.º-D RGICSF

(...)

4- No seu juízo valorativo, o Banco de Portugal deve ter em consideração (...):

5 b) A acusação, a pronúncia ou a condenação, em Portugal ou no estrangeiro, por crimes contra o


património, crimes de falsificação e falsidade, crimes contra a realização da justiça, crimes cometidos no
exercício de funções públicas, crimes fiscais, crimes especificamente relacionados com o exercício de atividades
financeiras e seguradoras e com a utilização de meios de pagamento e, ainda, crimes previstos no Código das
Sociedades Comerciais.

1) Sara, na sua juventude, foi condenada por burla relativa a seguros, vindo agora
alegar a inconstitucionalidade da norma, por configurar uma norma penal retroativa: se ela,
à época, soubesse que praticar a burla a impediria de vender óculos a crédito nunca o teria
feito.

2) Imagine que Samuel, um ex-autarca filiado num partido influente com um passado
controverso com a justiça, entretanto apresentava um requerimento para exercer a função de
I.C. e, no dia seguinte, era publicada uma lei interpretativa com o seguinte conteúdo:

Onde se lê “À apreciação do requisito de idoneidade é aplicável, com as devidas adaptações, o


artigo 30.º-D do RGICSF” deve ler-se: “À apreciação do requisito de idoneidade é aplicável, com as
devidas adaptações, o artigo 30.º-D do RGICSF, salvo se tiver ocupado cargos políticos no passado”.

Samuel pode aceder à profissão?

XV

Júlio tem uma fábrica de gelado e Sílvio uma gelataria. Para regrarem as suas relações
comerciais, concordaram aplicar o regime supletivo relativamente ao prazo do pagamento
do fornecimento, de 30 dias corridos.

Todavia, em janeiro entrou em vigor o Decreto-Lei n. x/2019, de acordo com o qual


o prazo foi estendido para 90 dias.

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Nesta senda, Sílvio absteve-se de pagar o valor em falta até ao momento no qual
julgava vencer-se a obrigação, resultando na insolvência de Júlio, uma vez que este estava a
contar com os fundos de Sílvio para pagar as suas contas.

Quid Juris?

2) Imagine que no dia seguinte à publicação do DL em apreço, o Parlamento


publicava uma lei interpretativa com a seguinte disposição:

Artigo único

“A presente lei procede ao aditamento de uma disposição interpretativa ao Decreto-Lei n.º x/2019:

O presente diploma dever-se-á aplicar aos contratos celebrados ao abrigo da lei anterior”.

Quid Juris?

XVI

Imagine que o artigo 1605.º CC dispunha o seguinte:

“O impedimento do prazo internupcial obsta ao casamento daquele cujo matrimónio anterior foi
dissolvido, declarado nulo ou anulado, enquanto não decorrerem sobre a dissolução, declaração de nulidade ou
anulação, cento e oitenta ou trezentos dias, conforme se trate de homem ou mulher.”

Contudo, a 10 de janeiro de 2020 entrava em vigor a seguinte alteração legislativa:

Artigo 1605.º (Prazo internupcial)

O impedimento do prazo internupcial obsta ao casamento daquele cujo matrimónio anterior foi
dissolvido, declarado nulo ou anulado, enquanto não decorrerem sobre a dissolução, declaração de nulidade ou
anulação, cento e oitenta dias.

Sara divorciou-se a 10 de novembro de 2019, querendo agora saber quando é que


pode tornar a casar.

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XVII

Ana arrendou o seu apartamento na Avenida do Brasil a Carlos e Daniela, casados


em 2010. Porque eram pessoas muito informais no trato e não conheciam o regime aplicável,
foi tudo acordado oralmente.

Em 2012, quando o casal adotou Edgar, o artigo 10.º da Lei x/2000 sujeitava a relação
entre pais e filhos ao princípio do superior interesse da criança, artigo que veio a ser
substituído, em 2021, pelo princípio do superior interesse dos pais.

A isto veio a somar-se o facto de o artigo 1069.º, que antes estabelecia que “o contrato
de arrendamento urbano deve ser celebrado por escrito”, ter sido revogado com vista a
flexibilizar o mercado de arrendamento.

Tomando consciência da invalidade, o casal predispôs-se a exigir a devolução das


rendas pagas ao longo dos anos por ser ao abrigo de um contrato nulo.

1) Sabendo que a adoção data de 2012, que regime disciplina a relação entre estes
adotantes e adotado?

2) Deve Ana devolver algum montante?

XVIII

Em atenção aos elevados preços dos combustíveis e às manifestações dos


automobilistas, a Lei n.º x/2020, de 1 de fevereiro, veio dispor o seguinte:

Artigo 5.º

“1 - Os compradores de combustíveis beneficiam de um cupão de desconto imediato de 5€ por cada


50€ gasto em combustível.

2 - Os vendedores serão reembolsados no final do ano pelo Estado”.

Baltazar, dono do restaurante ‘O Rei do Churrasco’, passou a exigir ao seu fornecedor


de carvão que aplicasse o desconto. Confrontado com a exigência e com a lei, Carlos viu que

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de facto a lei estabelecia um novo regime de descontos em relação aos combustíveis e o
carvão era um combustível, razão pela qual aplicou o desconto também.

Porém, uma vez que no final do ano não foi reembolsado, dado que o entendimento
do Estado era que apenas se tratava de combustíveis na forma líquida, a partir de 1 de janeiro
de 2021 deixou de aplicar o desconto, apesar da reclamação continuada do cliente Baltazar.

Em virtude da elevada procura, a 1 de fevereiro de 2022, foi publicada a Lei n.º


y/2022, que estabeleceu o seguinte:

“Artigo 1.º Objeto

A presente lei clarifica o regime de financiamento extraordinário de combustível, através de uma


norma interpretativa da Lei n.º x/2020, de 1 de fevereiro.

Artigo 2.º Norma interpretativa

1 - A expressão «combustíveis», prevista no artigo 5.º da Lei n.º x/2020, de 1 de fevereiro, deve
ser interpretada por forma a abranger apenas os combustíveis na forma líquida.

2- A expressão «comprador», prevista no artigo 5.º da Lei n.º x/2020, de 1 de fevereiro, deve ser
interpretada por forma a abranger apenas pessoas entre os 18 e os 40 anos.”

Quid Juris?

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