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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE

DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO.

Autos nº 1042857-04.2019.8.26.0576

LETICIA DAIANE BORGES DOS SANTOS SANTUCI


Já qualificado nos autos do processo epigrafado, vem,
respeitosamente perante Vossa Excelência, por seu advogado que esta
subscreve, tempestivamente, atendendo intimação, apresentar suas
CONTRARRAZÕES AO RECURSO ESPECIAL, que requer que sejam
recebidas, autuadas e atendidas as formalidades de estilo, remetidas ao exame
do Egrégio Superior Tribunal de Justiça.
Termos em que pede deferimento.
São José do Rio Preto, 2 de fevereiro de 2022.

Assinatura digital
______________________________________________
MARIANA OSTI ALVES DE SOUZA CARDOSO
OAB-SP: 342-224
EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
CONTRARRAZÕES AO RECURSO ESPECIAL

RECORRENTE: AUTOPOSTO ANDORINHAS RIO PRETO LTDA

RECORRRIDA: LETICIA DAIANE BORGES DOS SANTOS SANTUCI

7ª VARA CIVEL DA COMARCA DE SÃO JOSE DO RIO PRETO


Proc.: 1042857-04.2019.8.26.0576

EMÉRITO MINISTRO RELATOR.


EMÉRITOS MINISTROS JULGADORES.
NOBRE CORTE.
1. TEMPESTIVIDADE
A r. decisão para as Recorridas apresentarem
manifestação ao Recurso Especial interposto pelo Recorrente foi publicada no
Diário Oficial no dia 15 de dezembro de 2021 e o artigo 1.003, § 5º do Código
de Processo Civil prevê que o prazo para interpor e contrarrazoar é de 15 dias.
Conforme disposto no artigo 219 do Codex supracitado, na
contagem de prazo deverão ser computados somente em dias úteis.
Logo, considerando que o início do prazo para oposição
inicia-se no dia 16 de dezembro de 2021, o prazo para apresentação deste
recurso encerra-se no dia 08 de fevereiro de 2022, razão pela qual sua
apresentação nesta data resta devida e completamente tempestiva.
2. BREVE RELATO
Trata-se de recurso de Apelação interposto em face da
sentença proferida nos autos originários, que a pretensão da Recorrida quanto
ao pedido de indenização pelos danos estéticos e moral causada pelo
Recorrente.
Em análise do pleito, a 33ª Câmara de Direito Privado do
Tribunal de Justiça de São Paulo negaram provimento ao recurso. V. U., de
conformidade com o voto do relator, para confirmar a sentença de 1º grau,
onde as provas carreadas nos autos são suficientes para que se possa concluir
pela existência de prejuízos e inexistência de excludente da responsabilidade,
acarretando, portanto, dano passível de indenização a Recorrida.
APELAÇÃO Nº 1042857.04.2019.8.26.0576APELANTE:
AUTOPOSTO ANDORINHAS RIO PRETO LTDA
APELADA: LETÍCIA DAIANE BORGESDOS SANTOS
SANTUCCI
ORIGEM: COMARCA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO –
7ª VARA CÍVEL
RELATOR: Des. LUIZ EURICOVOTO Nº 45292
ACIDENTE DEVEÍCULOS AÇÃO INDENIZATÓRIA
AUTORA, LOCATÁRIA DESALA COMERCIAL NAS
DEPENDÊNCIAS DO POSTO DE GASOLINA, AO SAIR
DO ESTABELECIMENTO EM SUA MOTOCICLETA,
COLIDIU COM A CORRENTE QUE FAZIA O
FECHAMENTO DO LOCAL CERCEAMENTO DEDEFESA
AFASTADO CULPA DO PREPOSTO DARÉ - DANOS
COMPROVADOS INDENIZAÇÃO DEVIDA MONTANTE
INDENIZATÓRIO CONDIZENTE COM OS DANOS
ESTÉTICO E MORAL SENTENÇA MANTIDA - RECURSO
NÃO PROVIDO
Inconformado com os termos do v. acórdão, o Recorrente
interpôs o Recurso Especial, com fundamento no artigo 105, III da Constituição
Federal, alegando suposta violação ao artigo 373, I do CPC.
No entanto, o v. acórdão de fls. 218/222 não merece
nenhum reparo, devendo prevalecer pelos seus próprios fundamentos,
conforme razões de direito a seguir expostas.
3. DA PRELIMINAR
Antes de adentrarmos às questões de mérito, importante
destacar as razões preliminares que prejudicam a admissibilidade do Recurso
Especial interposto pelo Recorrente.
3.1 REQUISITOS DE ADMISSIBILIDDE DO PRESENTE RECURSO
ESPECIAL
O artigo 1.029 do Código de Processo Civil estabelece os
ordenamentos que a parte deve atentar quando da interposição dos Recursos
Especiais e Extraordinário:
Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso especial,
nos casos previstos na Constituição Federal , serão
interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do
tribunal recorrido, em petições distintas que conterão:
I - a exposição do fato e do direito;
II - a demonstração do cabimento do recurso interposto;
III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da
decisão recorrida.
§ 1º Quando o recurso fundar-se em dissídio
jurisprudencial, o recorrente fará a prova da divergência
com a certidão, cópia ou citação do repositório de
jurisprudência, oficial ou credenciado, inclusive em mídia
eletrônica, em que houver sido publicado o acórdão
divergente, ou ainda com a reprodução de julgado
disponível na rede mundial de computadores, com
indicação da respectiva fonte, devendo-se, em qualquer
caso, mencionar as circunstâncias que identifiquem ou
assemelhem os casos confrontados.
Analisando a peça recursal do Recorrente, é possível
verificar que não foi atendida a exigência estabelecida no § 1º do artigo 1.029
do CPC, o que por si só já enseja a não admissibilidade do Recurso
Da leitura das razões recursais, constata-se a mera
referência aos acórdãos, limitando-se a discorrer de forma genérica tal
divergência, sem fundamentação para tanto.
Neste caso, como o Recorrente fundamenta a propositura
do REsp no art. 105, III, c da Constituição Federal, tal fato lhe acarreta prejuízo
acerca da admissibilidade do recurso.
3.2 - DA AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO
Nobre Relator, o recurso especial interposto pelo
Recorrente não preencheu os requisitos essenciais para análise do mérito. Por
esse motivo, não deverá ser conhecido. Vejamos:
O prequestionamento é requisito indispensável na
interposição do Recurso Especial, que exige o pronunciamento judicial
específico, nesse sentido:
Ementa: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO
ESPECIAL. PREQUESTIONAMENTO FICTO.
INADMISSIBILIDADE. PREQUESTIONAMENTO DE
MATÉRIA CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE. 1.- A
jurisprudência desta Corte Superior não admite o
prequestionamento (ficto) pela simples interposição de
embargos de declaração, fazendo-se necessário o efetivo
debate da questão controvertida nas instâncias ordinárias.
2.- A intenção de prequestionar matéria constitucional, para
a interposição de eventual Recurso Extraordinário, não se
coaduna com a estreita via dos Embargos de Declaração.
3.- Embargos de Declaração rejeitados. (STJ –
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO
REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL EDcl no AgRg
no REsp 1403904 RJ 2013/0309330-5).
Ao contrário do que fora alegado pelo Recorrente, as
questões relativas aos preceitos federais NÃO foram debatidas, nem tratadas
expressamente no acórdão recorrido.
Portanto, requer o acolhimento da preliminar alegada com
o não conhecimento do recurso interposto.
4. DO MÉRITO
Não obstante a preliminar supramencionada, passemos às
infundadas questões de mérito apresentadas pelo Recorrente.
4.1 – DA INEXISTÊNCIA DE DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL
Alega o Recorrente que o v. acórdão, ao determinar a impenhorabilidade do
bem de família caucionado, contrariou os artigos 322, § 2º, 491, 493 e 1.022,
inciso I do CPC, artigos 113 e 42 da Lei nº 10.406/2002 (Código Civil) e artigo
3º, inciso V, da Lei nº 8.099/1990, bem como divergiu de jurisprudência em
caso semelhante.
Com relação à divergência jurisprudencial, o Recorrente indicou em suas
razões de Recurso Especial, o seguinte julgado que o v. acórdão supostamente
teria contrariado:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA. EXECUTADA QUE FIGUA NO CONTRATO DE LOCAÇÃO
COMO GARANTE. BEM IMÓVEL DADO EM CAUÇÃO. PRETENSÃO DE QUE
SEJA ANULADA A CLÁUSULA CONTRATUAL DE GARANTIA. COM
ARGUIÇÃO DE QUE SE TRATA DE BEM DE FAMÍLIA. IMPOSSIBILIDADE.
Inexistindo dúvidas de que segunda executada se obrigou, garantindo a
locação com bem imóvel, dado em caução por ocasião da celebração do
contrato, não pode posteriormente invocar uma proteção legal que não lhe
alcança já que ostenta a condição de garantidora e não locatária. Existência de
cláusula contratual expressa no sentido de que as caucionantes conhecem as
disposições e consequências da garantia ofertada, em ato irrevogável.
RECURSO IMPROVIDO. (TJ-RJ – AI: 00644209220128190000 RIO DE
JANEIRO CAPITAL 40 VRA CIVEL, Relator: JOSE CARLOS DE
FIGUEIREDO, Data de Julgamento: 06/03/2013, DÉCIMA PRIMEIRA CÂMARA
CÍVEL, Data de Publicação: 15/03/2013).

Conforme exposto, entende o Recorrente que “a XXª Câmara Cível do Tribunal


de Justiça do Rio de Janeiro (Agravo de Instrumento nº 0064420-
92.2012.8.19.0000) proferiu entendimento completamente divergente do ora
recorrido no sentido de deferir a possibilidade de penhora de imóvel ofertado
como caução, mesmo sob a alegação de bem de família”.
Ocorre que o acórdão indicado pelo Recorrente não se adequa a hipótese dos
autos, posto que o acórdão julgado em março de 2013, apresenta
entendimento já superado pelo E. STJ.
Conforme se depreende, inclusive, do site oficial do STJ [doc. 1], fora noticiado
em 25/02/2021 (abaixo), que a 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça
entende que o bem de família oferecido como contrato de aluguel é
impenhorável, entendimento extraído do REsp 1873203 [doc. 2], vejamos:
4.2 DA CONFORMIDADE DO ACÓRDÃO COM LEI FEDERAL – DA
IMPOSIBILIDADE DE PENHORA DE BEM DE FAMÍLIA
Alega o Recorrente violação aos artigos 322, § 2º, 491, 493 e 1.022, inciso I do
CPC, artigos 113 e 42 da Lei nº 10.406/2002 (Código Civil) e artigo 3º, inciso V,
da Lei nº 8.099/1990, por entender ser possível efetivar os atos de
expropriação no imóvel caucionado, sob a argumentação de preservação da
boa-fé objetiva das relações negociais, bem como o pedido de indenização por
dano material.
Ocorre que, o caso vertente NÃO se enquadra no artigo 3º da Lei nº 8.009/90,
tampouco em seu inciso V, que cuida de hipoteca sobre o imóvel oferecido
como garantia, pois as exceções previstas no referido rol são taxativas, não
comportando interpretação extensiva, ressaltando ainda que a penhora do bem
de família com base no artigo 3º, V, da Lei 8.009/1990 só é possível em caso
de hipoteca dada em garantia de dívida própria, e não de terceiro. Neste
sentido é a jurisprudência:
DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO
EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL. CONTRATO DE LOCAÇÃO. CAUÇÃO. BEM
DE FAMÍLIA. IMPENHORABILIDADE.
1. Ação de execução de título executivo extrajudicial – contrato de locação.
2. Ação ajuizada em 05/08/2019. Recurso especial concluso ao gabinete em
16/07/2020. Julgamento: CPC/2015.
3. O propósito recursal é definir se imóvel – alegadamente bem de família –
oferecido como caução imobiliária em contrato de locação pode ser objeto de
penhora.
4. Em se tratando de caução, em contratos de locação, não há que se falar na
possibilidade de penhora do imóvel residencial familiar.
5. Recurso especial conhecido e provido. (STJ – Resp: 187320 SP
2020/0106938-8, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento:
24/11/2020, T3 – TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 01/12/2020).
No tocante ao pedido de indenização, este não prospera, pois além de sequer
fazer parte dos pedidos iniciais nos moldes estipulados pelo caput do artigo
322 do Código de Processo Civil (ser certo), tampouco fora juntado aos autos
laudo de vistoria inicial, enquanto que o laudo juntado posteriormente, trata-se
de prova unilateral.
Portanto, o v. acórdão deverá ser mantido pelos seus próprios fundamentos,
mantendo-se o reconhecimento da impossibilidade de penhora do bem de
família, com a consequente proibição em seguir adiante com atos
expropriatórios do referido bem, além de desconfigurar a situação de
indenização material por avarias no imóvel locado.
5. DO PEDIDO
Diante de todo o acima exposto requer seja INADMITIDO o Recurso Especial
interposto, e na hipótese de sua admissibilidade, lhe seja NEGADO
PROVIMENTO, mantendo-se a decisão do v. acórdão de fls. XX, posto que
não houve a alegada violação aos artigos mencionados, tampouco restou
comprovada a alegada divergência jurisprudencial, além de majorar os
honorários sucumbenciais das partes Recorridas fixados em instância anterior.
Termos em que pede deferimento.
São Paulo, XX de março de 2021.
Advogado
OAB/UF

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