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João Espírito Santo

DIREITO COMERCIAL I
CASOS PRÁTICOS – Ano Letivo 2021/2022 – Turma B
ELABORADOS PARA O PROGRAMA DO PROFESSOR LUIS MENEZES LEITÃO

PRIMEIRO GRUPO TEMÁTICO: ATO DE COMÉRCIO E COMERCIANTE; ESTATUTO


PASSIVO CENTRAL DO COMERCIANTE

Questão 1
A., que tem como única atividade profissional a docência universitária em Lisboa, perfilhou B
[art. 1847 do CC19661].
Classifique, fundamentadamente, o ato jurídico de perfilhação para efeitos da sua regulação
jurídico-privada.

Questão 2
A., que tem como única atividade profissional a docência universitária em Lisboa, comprou em
Coimbra um conjunto de trajes académicos ao preço unitário de 150,00 € admitindo que os
poderia revender a estudantes de Lisboa pelo preço unitário de 200,00 €.
Classifique, fundamentadamente, a compra para efeitos da sua regulação jurídico-privada.
Explicite a relevância da classificação efetuada para efeitos do regime jurídico da compra.

Questão 3
A dedica-se profissionalmente ao aluguer de automóveis sem condutor. Em janeiro comprou um
lote de 10 novos automóveis para substituição parcial da sua frota. Logo depois avariou-se a
máquina de café colocada no seu estabelecimento e usada tanto por clientes como por
funcionários, pelo que A comprou uma nova máquina.
Classifique, fundamentadamente, a compra dos automóveis e a da máquina de café para efeitos
da sua regulação jurídico-privada.

Questão 4
A é filho de B e estudante de Direito. B dedica-se profissionalmente ao aluguer de automóveis
sem condutor. Numa aula prática, o docente solicitou a A que qualificasse B, em função do seu
exercício profissional, para efeitos jurídico-privados.
Quid iuris?

Questão 5
B, que se dedica profissionalmente ao aluguer de automóveis sem condutor, casou, em janeiro,
com C.
Classifique, fundamentadamente, o negócio jurídico de casamento para efeitos da sua regulação
jurídico-privada.

Questão 6
A, que se dedica profissionalmente ao aluguer de automóveis sem condutor, comprou uma
máquina de café.
Variantes:
i. a máquina foi comprada numa pequena loja de eletrodomésticos perto do
estabelecimento de A e, no ato da compra, toda a comunicação ocorrida com o
vendedor limitou-se a uma troca educada de “boa tarde”;
ii. a máquina foi comprada numa pequena loja de eletrodomésticos perto do
estabelecimento de A, cujo proprietário é um velho conhecido de A, tendo este
solicitado que a máquina fosse entregue no seu domicílio;

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Artigo 1847.º (Formas de reconhecimento): O reconhecimento do filho nascido ou concebido fora do
matrimónio efetua-se por perfilhação ou decisão judicial em ação de investigação.

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iii. a máquina foi comprada numa pequena loja de eletrodomésticos perto do


estabelecimento de A, cujo proprietário é um velho conhecido de A, e, duramente
a celebração do ato de compra, ambos conversaram animadamente sobre como
as máquinas elétricas de hoje duram pouco, mas que tem que se satisfazer os
clientes.
Classifique, fundamentadamente, a compra da máquina de café para efeitos da sua regulação
jurídico-privada.

Questão 7
Considere a classificação doutrinária suportada pela separação analítica do art. 2.º do CCom1888
[atos de comércio objetivos/atos de comércio subjetivos]
Nesse contexto, classifique os atos jurídicos que, nos casos anteriores, tiver considerado
como atos de comércio.

Questão 8
Considere as diversas classificações doutrinárias dos atos de comércio objetivos (tricotómica,
numa certa perspetiva; em vários “pares” dicotómicos, noutra perspetiva).

Nesse contexto, classifique os seguintes atos legalmente previstos no CCom1888:


i. o tipificado no art. 463 (compra e venda);
ii. o tipificado no art. 480 (escambo ou troca);
iii. os tipificados nos arts. 394 (empréstimo) e 403 (depósito)
iv. O endosso de uma letra de câmbio (arts. 11-13 do LULL).

Questão 9
A fiança (arts. 100 e 101 do CCom1888) e o aluguer (arts. 481 e 482 do CCom1888) podem
constituir atos de comércio? Justifique.

NE[2]: atentar nos diversos modos de construção dos tipos; ex. penhor (art. 397) e reporte (art.
477)

Questão 10
Considere que A se dedica à produção de concertos musicais (articulando músicos, publicidade,
design, etc.), realizados, em tempo de Inverno, numa sala, da sua propriedade, com capacidade
para 5.000 pessoas.
Como classifica, para efeitos da regulação jurídico-privada, a venda dos bilhetes ao
público?

Questão 11
Variante 1: Aos fins de semana, A, docente universitário, dedica-se à agricultura biológica,
vendendo os produtos que não consome aos seus vizinhos.
Variante 2: Aos fins de semana, A, docente universitário, dedica-se à produção de pequenos
artefactos de cortiça, que vende a proprietários de lojas de souvenirs.

Como classifica, para efeitos da regulação jurídico-privada, as vendas realizadas por A?

Questão 12
No enquadramento do art. 13 do CCom1888 determine a qualificação jurídico-privada dos
seguintes sujeitos:
a. A, estudante a tempo inteiro;

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Nota de ensino.

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b. B, estudante de Direito, que trabalha em part-time numa empresa [franquiada]


MacDonald´s;
c. A, professor universitário e proprietário de uma papelaria;
d. TAP, S.A.;
e. APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vítima;
f. Cheua - Cooperativa De Habitação Económica Unidos Da Ameixoeira, Crl.
g. Câmara Municipal de Lisboa;
h. C, médico;
i. D, advogado,
j. E, proprietário de uma empresa de mediação imobiliária;
k. F, proprietário de uma empresa de consultoria fiscal.

Questão 13
Identifique o tipo comercial das seguintes sociedades:
a. Teixeira Duarte – Engenharia e Construções, S.A.;
b. Arlete Teixeira & Filhos;
c. Antunes e Fernandes – Comércio de material elétrico, Lda.
d. Bento Maria Fino, Carlos Maria Grosso e Companhia;
e. Lighthouse, Lda;
f. Abílio Teixeira & Comandita.

Questão 14
Abílio António Teixeira Lopes, professor universitário de Engenharia, acaba de adquirir,
por trespasse, um estabelecimento comercial de papelaria.
Abílio foi informado de que deve adotar uma firma, mas está indeciso quanto ao que
adotar, parecendo-lhe adequada a seguinte:
Lopes, Papelaria do Estádio de Alvalade

Esclareça-o quanto à admissibilidade legal de tal firma, bem como sobre outras
possibilidades da composição da mesma.

Questão 15
Considere, de novo, os dados da questão 2
A., que tem como única atividade profissional a docência universitária em Lisboa,
comprou em Coimbra um conjunto de trajes académicos [3] ao preço unitário de
150,00 € admitindo que os poderia revender a estudantes de Lisboa pelo preço unitário
de 200,00 €.

Considerando, adicionalmente, que os trajes foram adquiridos a B, estudante universitário em


Coimbra, ao qual os trajes haviam sidos doados por três amigos, recém-licenciados, como
qualifica o negócio, para efeitos jurídico-privados, em relação a cada um dos intervenientes?

Questão 16
A é comerciante de móveis e casado com B sob o regime da comunhão de adquiridos. No
dia 1 do mês passado, A acordou com a Transporadora Raio Laser, Lda., o transporte de trinta
cadeiras para o Porto, ficando clausulado que o pagamento seria feito 10 dias após a apresentação
da fatura.
O transporte foi efetuado no dia 3 do mesmo mês e a fatura apresentada no subsequente
dia 5.

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Não tendo A pago o preço do transporte, a Transporadora Raio Laser instaurou ação
judicial, contra A e B para obter a condenação dos mesmos no pagamento do mesmo.

Variantes:
i. Os móveis transportados foram doados por A a uma associação desportiva com
sede na Cedofeita;
ii. A e B estão separados de facto há três anos.
Quid iuris?

SEGUNDO GRUPO TEMÁTICO: REGIME GERAL DO ATO DE COMÉRCIO

Questão 17
A e B, irmãos, ambos comerciantes, vivem em economia comum. No dia 1 do mês
passado, A e B adquiriram um frigorífico, tendo pago, no ato da compra, 50% do preço, ficando
acordado com o vendedor que o remanescente seria pago 10 dias após a entrega do frigorífico.
O frigorífico foi entregue, na casa de A e de B, no dia 10 do mês passado; os compradores
ainda não pagaram o remanescente do preço.

Variantes:
i. O vendedor é um comerciante de eletrodomésticos; no ato da compra ficou claro
que o frigorífico é para uso pessoal de A e B;
ii. O vendedor é C, um professor universitário frequentador de leiloes, que, pela
primeira vez se deparou com um lote em venda correspondente a todo o recheio
de uma casa (incluindo o frigorífico), a preço tão baixo que o decidiu comprar
para revender individualmente cada um dos bens; no ato da compra ficou claro
que o frigorífico é para uso pessoal de A e B;
iii. O vendedor é D, um funcionário diplomático de Marrocos, que, tendo cessado a
sua comissão de serviço Lisboa, vendeu o recheio da casa em que habitava
(incluindo o frigorífico); A e B são cashconverters e compraram o frigórico com
o objetivo de o revender numa das suas muitas lojas de Lisboa.
O vendedor pretende saber em que termos pode suscitar responsabilidade civil de A e B pelo
incumprimento do contrato.

Questão 183
Variante 1: Em de fevereiro de 2021, A, comerciante de material elétrico, vendeu B,
empreiteiro, mil caixas de interruptores e tomadas, pelo preço de 2.000 €, tendo ficado
convencionado o pagamento a três meses e o vencimento de juros.
Uma semana depois de instalado o material elétrico na obra a que se destinavam, B teve,
finalmente, tempo para verificar as suas faturas, tendo dúvidas sobre qual a taxa de juro a que está
obrigado.
Esclareça-o.
Variante 2: Em de fevereiro de 2021, A, comerciante de material elétrico, vendeu B,
empreiteiro, mil caixas de interruptores e tomadas, pelo preço de 2.000 €, tendo ficado

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N.E. Notar o regime especial de juros aplicável a instituições de crédito, financeiras, etc. – DL 58/2013,
de 8 de maio

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convencionado o pagamento a três meses e o vencimento de juros, à taxa de 10%; na fatura ficou
manuscrito o seguinte: “vence juros à taxa de 10% ao mês”, subscrito por A e B.
C, irmão de B, disse-lhe que a taxa em causa é superior à legalmente fixada e que esta
constitui o máximo que terá de pagar a A.
Quid iuris?
Variante 3: A, docente universitário, emprestou ao seu colega B a quantia de 1500,00 €
para que este adquirisse um lote de trajes académicos em Coimbra, que tencionava revender com
lucro em Lisboa.
O contrato foi celebrado em 1 de fevereiro de 2021, pelo prazo de três meses, tendo ficado
convencionado que o empréstimo venceria juros.
Quid iuris?
Variante 4: A, docente universitário, emprestou ao seu colega B a quantia de
1500,00 € para que este adquirisse um lote de trajes académicos em Coimbra, que tencionava
revender com lucro em Lisboa.
O contrato foi celebrado em 1 de fevereiro de 2021, pelo prazo de três meses, tendo ficado
convencionado que o empréstimo venceria juros à taxa de 18 %, em escrito assinado por ambos.
Quid iuris?

TERCEIRO GRUPO TEMÁTICO: ESTABELECIMENTO COMERCIAL

Questão 19

i. A, desempregado no ano de 2018, quis dedicar-se à exploração de um café/pastelaria.

ii. Para o efeito, celebrou com B, proprietário do prédio sito na rua X, em Lisboa, um
contrato de arrendamento de uma loja do referido prédio, em 1 de junho de 2018.

iii. Seguidamente, durante os meses de julho e agosto de 2018, A adquiriu vários


equipamentos para o café/pastelaria: um balcão, mobiliário, maquinaria (v.g.,
frigoríficos, torradeiras, máquina de café), celebrou contratos de fornecimento de
eletricidade, água, Internet, bebidas gaseificadas, pão, etc. O estabelecimento abriu
ao público no dia 1 de setembro de 2018, com a denominação “Tias da Linha -
Pastelaria Fina”.

iv. Em junho de 2019, pretendo passar no Brasil uma temporada de 3 meses, A celebrou
com C um contrato nos termos do qual lhe cedia onerosamente a exploração da
pastelaria/café, passando C a fazê-la em seu nome e por sua conta, mediante a
retribuição mensal de 5.000.00 €, devida a A.

v. Terminado o prazo do contrato, A retomou a exploração da pastelaria/café. Em março


de 2020, A celebrou com D um contrato, por escrito, denominado “trespasse”, tendo
ficado clausulado, entre outras coisas, que:

a. O objeto do contrato era o estabelecimento “Tias da Linha - Pastelaria Fina”;

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b. O preço do trespasse era de 150.000,00 €;


c. Excluía-se do âmbito do contrato a maquinaria, que A retiraria do local.

vi. Em setembro de 2020, A adquiriu uma loja na rua X, em Lisboa, com dois quarteirões
de diferença relativamente ao “Tias da Linha - Pastelaria Fina”, passando a explorar
aí um outro estabelecimento de pastelaria/café, no qual instalou a maquinaria que já
tinha.
Quid iuris?

Questão 20 [em aberto]

QUARTO GRUPO TEMÁTICO: CONTRATOS COMERCIAIS (“CLÁSSICOS”)

Questão 21

Considere os seguintes negócios:

(i) A, residente em Lisboa, acaba de herdar 3 imóveis rústicos em Bragança, tendo


proposto ao seu primo B, residente em Braga, que lhe ficasse com os imóveis, em
troca de um automóvel antigo que A há muito desejava; B aceitou a proposta, não
porque pensasse conservar os imóveis, mas porque os tencionava vender pelo dobro
do valor do automóvel [A e B são ambos funcionários públicos];
(ii) A, funcionário público, celebrou com o Banco Verde-Alface SA um contrato de
mútuo para aquisição de uma casa de habitação;
(iii) A e B, funcionários públicos, celebraram com o seu amigo C, docente universitário,
um contrato de mútuo, para aquisição de um lote de móveis de uma massa insolvente,
que pensam conseguir vender por valor superior; A e B não reembolsaram o valor
mutuado a C, tendo este dúvidas sobre se terá que demandar judicialmente ambos
para se ver ressarcido da totalidade do montante mutuado;
(iv) A adquiriu a B um lote de 5 guias de transporte de mercadorias 4 pelo valor unitário
de 1.000,00 € cada, tendo ficado acordado entre ambos, simultaneamente, que B
revenderia a A as mesmas guias pelo valor unitário de 1.500,00 € no prazo de três
meses;
(v) A, comerciante de material elétrico no Porto, celebrou com B, importador de
eletrodomésticos, com estabelecimento em Lisboa, um contrato, mediante o qual se
obriga a vender, nas suas lojas no Porto, e pelo período de um ano, um lote de
frigoríficos da marca X, importados por B, em nome e por conta deste, sendo A
remunerado com uma percentagem fixa do valor de cada peça vendida;
(vi) A, comerciante de material elétrico no Porto, celebrou com B, importador de
eletrodomésticos, com estabelecimento em Lisboa, um contrato, mediante o qual se
obriga a vender, nas suas lojas no Porto, e pelo período de um ano, um lote de
frigoríficos da marca X, importados por B, em nome próprio (de A.), sendo A
remunerado com uma percentagem fixa do valor de cada peça vendida;
(vii) B é proprietário de uma loja na Baixa Lisboeta, na qual se dedica à atividade de
“colocação” de turistas nos alojamentos locais de proprietários que lhe solicitam este
serviço, remunerado a A, mensalmente, em função do número de turistas colocados;

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Arts. 369 e ss. do CCom1888.

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(viii) A é sócia e única gerente da sociedade “Vão de escada – rendas e bordados”


Unipessoal, Lda.
Pretendendo reformar-se em poucos anos, A tem o objetivo de que a sua filha, B,
venha a assumir a gerência da sociedade nessa altura. Sabedora de que B tem, desde
já outras solicitações profissionais, e para tentar que a mesma não se desinteresse do
negócio, A propôs-lhe a celebração de um contrato nos termos do qual esta receberia
30 % dos lucros produzidos pela sociedade, pelo prazo de 3 anos, ficando ainda
acordado que, se, nesses anos, a sociedade originasse prejuízos, B assumiria apenas
a responsabilidade por 10% dos mesmos.

Qualifique os negócios descritos em termos jurídicos-privados, procurado solucionar as


questões jurídicas que algum dos enunciados apresente

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