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HIPÓTESES PRÁTICAS E EXAMES

DE

DIREITO COMERCIAL

MATERIAL DE APOIO ÀS AULAS PRÁTICAS
(INCLUINDO ENUNCIADOS DE EXAMES)

EQUIPA: PAULO OLAVO CUNHA

(COORDENAÇÃO E REGÊNCIA)
FRANCISCO BARONA, JOSÉ ESTACA,
MARTA MARTINS DA COSTA
(TURMAS PRÁTICAS)

1º CICLO

ANO LETIVO 2022/2023


1º SEMESTRE
NOTA PRÉVIA

Compilam-se, nestas duas dezenas de páginas, casos práticos elaborados ao longo de diversos
anos letivos, os quais contaram seguramente com a colaboração de todos quantos serviram nesta
disciplina, designadamente nos anos letivos de 2018/2019 e seguintes, quando retomámos a
respetiva regência.

Os casos práticos, entretanto, compilados podem ter beneficiado do contributo de todos quantos
lecionaram a disciplina de Direito Comercial nos últimos anos.

Para além dos Mestres Francisco Barona, José Estaca e Marta Martins da Costa, colaboraram
comigo no ensino de Direito Comercial na Faculdade de Direito da Universidade Católica
(Escola de Lisboa) as Mestres Rita Barbosa da Cruz e Mariana Ferraz Viveiros.

Mais longinquamente, a disciplina foi também lecionada, na última década, pela Prof. Doutora
Maria de Fátima Gomes – inicialmente como minha colaboradora e posteriormente como
regente –, atual juíza conselheira do Supremo Tribunal de Justiça (de 2011/12 a 2016/17), e
pelo Prof. Dr. Evaristo Mendes (em 2017/18).

Todos contribuíram, de algum modo, para os casos práticos que se seguem. Os exames escritos
são da responsabilidade das minhas equipas e visam ilustrar como a avaliação se processou no
último ano letivo (2021/22).

Lisboa, setembro de 2022


Pela equipa de Direito Comercial,
Paulo Olavo Cunha

2
QUALIFICAÇÃO E ESTATUTO DO COMERCIANTE.

1
Alberto é educador de infância estando casado com Elvira, que trabalha como manicure num
espaço cedido dentro de um supermercado. Como as suas vidas não andam a correr muito bem,
decidiram abandonar a sua anterior profissão e tornarem-se empresários de pastelaria. Alberto
é um excelente pasteleiro e tem um amigo de infância que vive na província produzindo cereais
de todo o tipo, muito apetecíveis nas pastelarias lisboetas. Esse seu amigo (Cristiano) vem
todos os dias a Lisboa trazer os cereais encomendados por Alberto.

a) Cristiano é comerciante (ou sujeito de Direito Comercial)?


b) E Alberto?

2
António é proprietário de um táxi e exerce a atividade de taxista, juntamente com um filho.
1. Os contratos que celebra com os clientes são comerciais? Justifique.
2. A resposta seria diferente se ele tivesse uma frota de táxis? Neste segundo caso:
a) Suponha que António comprou os livros necessários à exploração do seu negócio.
Comprou também dois táxis e contratou um financiamento bancário para financiar
essa aquisição.
Esses atos são comerciais? Justifique.
b) Suponha que António, num local distante do seu negócio e sem referir que era
empresário, celebrou um contrato de arrendamento de um andar, por um mês, durante
o período normal de férias.
Este ato é comercial? Justifique.
c) Suponha agora que António, sem aludir à qualidade de comerciante mas perante quem
sabia que ele era comerciante, encomendou pelo telefone um computador.
O ato é comercial? Justifique.

3
3
António, empresário mercantil, e Carlos, agricultor, compraram a um particular (Bernardo)
uma carrinha por 50 000 euros. Duarte ficou fiador de António. Se nada for pago, quanto pode
Bernardo exigir de cada um?

4
António, comerciante singular de automóveis usados, casado sob o regime da comunhão de
adquiridos com Berta, contraiu um empréstimo bancário no valor de 100 000 euros para
ampliar as instalações do seu estabelecimento. Não tendo sido pago o empréstimo, qual a
garantia patrimonial do crédito do banco?

5
Belindo tem uma empresa que se dedica à instalação de sistemas de vigilância de habitações.
Recentemente conseguiu ficar como representação de uma empresa nacional, titular de uma
marca muito conhecida. Considerando que o pontual cumprimento do contrato o obrigava a
fazer alguns investimentos iniciais, resolveu constituir com o cônjuge uma sociedade e mandou
fazer uma página de internet da sociedade, ABC - Sistemas de Vigilância, Lda, a Carlitos.
Celebrou depois, já com a sociedade constituída, como gerente desta, um contrato de
arrendamento de um espaço situado num Centro Comercial da cidade e pediu a um Banco 2000
euros, a título de financiamento, entregando ao banco uma livrança por si (Belindo) subscrita,
em nome da sociedade e a título pessoal, como avalista.

a) Como qualificaria o contrato celebrado entre Belindo e Carlitos relativo à realização da


página de internet da ABC, Lda? É um contrato civil ou comercial?
b) Como qualificaria o contrato de arrendamento do espaço situado no Centro Comercial?
c) Como qualificaria o contrato de financiamento realizado com o banco?
d) Como qualificaria a subscrição da livrança?
e) O contrato de financiamento está sujeito a forma especial?
f) Belindo é comerciante (ou sujeito de Direito Comercial)?
g) Se o financiamento não for pago na data devida qual o valor dos juros?

4
6
Alfredo, marceneiro de profissão, montou uma loja de pronto a vestir, para comercializar
vestuário e acessórios da conhecida marca Treneton, líder de mercado em Itália. Para o efeito,
arrendou um espaço na Av. da Liberdade, em Lisboa, contratou um arquiteto, do conhecido e
premiado atelier Viza Sieira, que projetou o lay-out da loja, encomendou o respetivo recheio e
equipamentos, contratou uma responsável para a loja (Hermengarda) e três trabalhadores
(Diogo, Eduarda e Felisberto), importou o vestuário e os acessórios para vender e contratou a
uma empresa de eventos, chamada Sempremfesta, Lda., para organizar a inauguração da loja,
o que aconteceu em 10 de janeiro de 2019.
Ao iniciar a sua atividade, Alfredo contratou com a CSR - Companhia de Seguradoras
Reunidas, S.A., as apólices necessárias ao exercício da atividade, incluindo o seguro de
incêndio da loja e o seguro de acidentes de trabalho dos seus colaboradores.
Alfredo pagou metade da conta do atelier de arquitetura, suportou na íntegra os salários dos
seus colaboradores até ao mês de junho (inclusive), financiou a aquisição do recheio e
equipamento junto do BIP - Banco Industrial Portuense, S.A., a quem ficou a dever €
100.000.

1. Identifique os atos e operações descritos e qualifique-os. Refira, nomeadamente, se os


mesmos estão sujeitos ao regime comercial.
2. Identifique e qualifique os sujeitos mencionados no texto e refira o respetivo
enquadramento legal.

PROPRIEDADE INDUSTRIAL E CONCORRÊNCIA

1
Uma empresa de produtos de cerâmica (A) lançou no mercado uma peça que, contra as
expectativas, porque a peça não tinha nada aparentemente de especial, foi um êxito de vendas.

5
B, concorrente de A, levou a peça a um fabricante de moldes da Marinha Grande, mandando
fazer um molde para a mesma e lançou-a também no mercado.
Quid iuris?

2
A empresa de colchões, almofadas e artigos (M) semelhantes fez registar em Portugal a marca
Molaflex e mais uma série de outras marcas todas com o elemento flex. As empresas
concorrentes B e C solicitaram em momentos diferentes o registo das seguintes marcas:
Flexsuper e Lusoflex.
O registo foi em ambos os casos contestado. Quid iuris?

3
Em março de 2010, a SIC, a PT Multimédia e a TV Cabo celebraram um Acordo de Parceria,
por um prazo de 10 anos, renovável, que atribui à SIC um direito de preferência no fornecimento
de canais temáticos, produzidos em português e para Portugal, para o pacote básico da TV
Cabo. O mesmo contrato prevê a atribuição ao Grupo PT Multimédia da comercialização
exclusiva dos canais de acesso não condicionado produzidos pela SIC. A Autoridade da
Concorrência condenou estas empresas por terem celebrado entre si um contrato que contém
cláusulas restritivas da concorrência.
Comente esta condenação.

4
As administrações de duas empresas produtoras de refrigerantes celebraram um acordo em que
estabelecem as bases de um entendimento comum que, entre outros aspectos, lhes permitirá:
(a) distribuir os respectivos produtos preferencialmente em determinadas zonas do país, (b)
controlar os preços de venda dos refrigerantes gaseificados, e (c) estabelecer um preço mínimo
comum para a aquisição de vasilhame.
Pronuncie-se sobre o acordo em causa e sobre as cláusulas enunciadas, nomeadamente sobre a
respectiva legalidade e validade.

5
Zeferino é um jovem empresário que se dedica à produção, engarrafamento e comercialização
de vinho de mesa “Quinta Petrus”. Nos festejos de Natal do ano passado, Bernardo, que

6
comprara o vinho num supermercado, ao abrir uma garrafa, feriu-se com gravidade na
gargantilha (invólcuro da rolha) e pretende exigir uma indemnização de Zeferino. É Zeferino
responsável?

6
A empresa transformadora de Zeferino festeja um ano no próximo mês de abril e pretende
promover, por essa ocasião, vendas de vinho por metade do seu preço habitual. Pode fazê-lo?

ESTABELECIMENTO COMERCIAL E EMPRESA.


TRANSMISSÃO

1
A, titular de um pequeno motel, com 8 empregados, situado em local de que C é o locador,
vendeu-o a B, com todo o activo e passivo, por 20 000 euros, apesar de a situação líquida ser
ligeiramente negativa. C, notificado do negócio, propôs ação de despejo contra B, alegando que
o negócio fora simulado, e deduziu como pedido subsidiário a entrega do imóvel, por se
considerar titular de um direito de preferência.
Quid iuris?

2
Alberto, industrial de sumos e refrigerantes, casado com Berta, adquiriu em 31 de Julho de
2018 a Carlos, agricultor e fornecedor de matérias-primas, 100 toneladas de frutas para a
produção de sumos naturais, pelo preço de 50 000 euros, que o adquirente ficou de pagar em
cinco prestações iguais.
Entretanto, e para distribuição dos seus sumos, Alberto celebra com Etelvino, dono de uma
pequena mercearia, situada num imóvel pertencente a Felisberta, um contrato pelo qual
Etelvino lhe cede o gozo da loja (incluindo o respectivo activo e passivo), a título definitivo,
mediante o pagamento de 100 000 euros.
a) Suponha que Felisberta pretende intentar uma ação de despejo contra Alberto, invocando
que houve uma cessão não autorizada da posição de arrendatário. Quid Iuris?

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b) Caso Irene tivesse um crédito contra Etelvino resultante de um fornecimento de bebidas
que não foi pago, contra quem poderá Irene fazer valer agora o seu crédito?

3
A, titular de uma papelaria na cidade de Braga, relativamente conhecida mas já com certo
aspecto «fora de moda» - chamada «papelaria da arcada» -, vendeu-a a B, com todo o activo e
passivo, por 50 000 euros. No momento da venda, da contabilidade constava um activo de 30
000 euros e um passivo de 20 000.
Passados dois meses, foi aberta pela sociedade C, a 50 metros do local, uma outra papelaria,
designada «papelaria moderna». A sociedade pertence maioritariamente a A.
Quid iuris ?
A resposta seria diferente se a segunda papelaria tivesse sido aberta pelo próprio A? e pelo
cônjuge ? E se fosse o cônjuge o sócio maioritário da sociedade?

4
A, titular de um estabelecimento a funcionar em local arrendado, vendeu-o por 50 000 euros,
assumindo o comprador, ainda, um passivo líquido de 20 000 euros. Executado o negócio e
notificado do mesmo, o senhorio propôs uma ação de despejo, invocando que, como os próprios
valores indicavam, o contrato era simulado; apenas haveria a transmissão da posição de
arrendatário, encoberta por certos bens sem valor económico apreciável.
Quid iuris ?
E se, em vez da simulação, tivesse havido mudança de ramo (compreendida no âmbito
abstractamente definida pelo contrato de arrendamento)?

5
A, marceneiro com estabelecimento aberto ao público em local arrendado e exercendo
directamente a profissão sem quaisquer ajudantes e conforme práticas ancestrais, vendeu-o, em
2018, a B, tendo notificado da transmissão o senhorio, juiz de profissão. Este pretende exercer
o direito de preferência. Quid iuris?

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INSOLVÊNCIA

1
António, Bernardo e Carlos, gerentes da sociedade “Devedores e companhia Lda.”, foram
interpelados por Dionísio, trabalhador da sociedade, para procederem ao pagamento de salários
em atraso há mais de 6 meses dos 50 trabalhadores da sociedade. Nessa data, Carlos constatou
que:
(i) Bernardo, que tinha o pelouro financeiro da sociedade, não procedia ao pagamento dos
impostos da sociedade há mais de um ano e acabara de fugir para Espanha com a sua
mulher, levando boa parte dos saldos das contas bancárias;
(ii) António tinha escondido num armazém de uma propriedade sua no Alentejo grande parte
da maquinaria que deveria estar nas instalações fabris da sociedade;
(iii) O passivo da empresa há muito que havia superado o activo.

Pergunta-se:
a) O que poderá ou deverá fazer Carlos perante aquela situação?
b) Bernardo e António poderão vir a sofrer pessoalmente pelos factos que praticaram?
c) Suponha que Bernardo, dois anos antes, havia alienado parte substancial do património
da empresa a dois sobrinhos, ao primo e à sogra. O que poderá suceder a estes negócios?

2
A sociedade comercial Granja Amarela, S.A. (“GA”) já viveu melhores dias. O empréstimo
hipotecário a 20 anos que contratou com o Banco Hércules (“BH”) faz sentir mensalmente o
seu peso, bem como a pressão dos fornecedores, face ao constante atraso nos pagamentos. O
seu único activo é a herdade amarela, cujo potencial agrícola diminuiu muitíssimo, após a
construção de uma incineradora gigantesca, no terreno vizinho. Há quem sugira que a herdade
agrícola deixou de ter valor comercial.
Podem os credores da GA requerer a declaração de insolvência? Qual a ordem de satisfação
dos seguintes créditos: o crédito do BH; os honorários do Dr. Coelho, que foi nomeado

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administrador da insolvência; o crédito da Sementes Ilíada, S.A. (“SI”), pela venda de sementes
de girassol à GA?

CONTRATOS DE DISTRIBUIÇÃO

1
Diana está convicta de ter descoberto a pólvora. Uma pequena pastelaria em Chaves faz umas
deliciosas empadas de perdiz, totalmente desconhecidas em Lisboa. Diana comprometeu-se
perante a Empada Transmontana, Lda (“ET”) a encontrar restaurantes e pastelarias em
Lisboa, assim como boas charcutarias que comprem as deliciosas empadas. Em contrapartida,
a ET partilhará com Diana 10% do valor faturado em Lisboa. Mal Diana começou a sua
atividade, o sucesso foi estrondoso. A ponto de duas semanas volvidas, a ET deixar de atender
os telefonemas de Diana, ou fornecer dados precisos sobre os transportes de empadas. A ET
tinha contratado uma outra entidade, com mais recursos humanos e técnicos, para conquistar
os mercados nacionais e internacionais e não quer saber mais da nossa amiga.
Diana está desolada. Não formara ainda uma clientela estável para a ET, mas investira muito
nesta nova atividade: um arrendamento no centro de Lisboa, um computador, cartões-de-visita,
entre outros dispêndios. Menos mal que continua a conduzir o belíssimo carro que a ET lhe
emprestara, para visitar clientes.
Quid iuris?
2
Suzana, Tamara e Úrsula combinaram entre si desenvolver um negócio de criação e
comercialização de um colar, a que atribuíram a marca “STU”, a qual registaram
imediatamente. O colar seria produzido, segundo as indicações das três amigas, pela titular de
uma fábrica de ornamentos, a ABC, Lda.
Considerando o sucesso da peça, em Portugal, as três amigas pensaram em internacionalizar a
sua empresa.

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Nesse sentido, Suzana fez um périplo pela Europa à procura do local ideal, identificado no
Luxemburgo. Passados alguns meses depois de se instalar por lá, Suzana reconsiderou a sua
participação no negócio e decidiu dedicar-se ao lazer apenas.
Suzana, Tamara e Ursula, confrontadas com a decisão de Suzana, decidiram vender o seu
negócio a Vanessa, que assumiu o encargo de pagar as dívidas vencidas (100 000 euros) e
vincendas (50 000 euros), no prazo de 1 ano.
Decorrido o prazo combinado, continuam por regularizar 75 000 euros de dívida a um único
fornecedor, Armando.
Entretanto, Suzana arrependeu-se da sua decisão e resolveu criar no Luxemburgo uma nova
empresa dedicada à criação e comercialização de pulseiras, sob a marca “SuzLUX”.
Tendo em conta a experiência adquirida com o negócio anteriormente exercido com as suas
amigas, Suzana, conseguiu colocar as suas pulseiras à venda junto das lojas onde anteriormente
se vendiam os colares “STU”. Ao mesmo tempo, Suzana mandou fazer uma página de
publicidade online, igual à usada pela Vanessa.
Simultaneamente, Suzana celebrou um contrato com a XY, SA, com vista à comercialização
das pulseiras no mercado norte-americano. O contrato foi celebrado oralmente de acordo com
as seguintes condições: obrigação de comprar 500 pulseiras por ano; obrigação de revender as
pulseiras no mercado escolhido, de acordo com um plano de marketing definido e revisto pela
Suzana, e com os custos repartidos entre Suzana e a XY, SA; direito de revenda das pulseiras
com caráter de exclusividade pela XY, SA.
1. Caracterize o contrato celebrado entre Suzana, e a XY, SA.
2. Admita agora que Suzana não está satisfeita com a promoção das suas pulseiras no
mercado norte-americano, devido ao mau desempenho da XY, SA, e pretende dar por
terminado de imediato o contrato celebrado.
a) Acha que a XY, SA tem algum fundamento para reclamar uma indemnização?
b) E Pode a XY, SA, exigir a Suzana que lhe recompre todas as pulseiras detidas em
stock que não possam ser vendidas depois do termo do contrato?

3
Suponha que a Padaria Portuguesa celebra um contrato com Cristiano nos termos do qual
este, que vive na província produzindo cereais de todo o tipo, muito apetecíveis nas pastelarias
lisboetas, forneceria cereais à Padaria e se vinculava a comprar bolos e pão da Padaria

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Portuguesa, que iria revender ao público na sua região, assumindo o compromisso de o fazer
de acordo com a política comercial da Padaria Portuguesa e sujeito ao controlo desta.
Como qualificaria o contrato celebrado entre Cristiano e a Padaria Portuguesa?

Títulos de crédito e Valores Mobiliários

1
ARMINDO, cartoonista de profissão, casado com BELA, comerciante de cristais decorativos,
ilustrou, em co-autoria com CRISTINA, escritora, um livro de anedotas. Querendo publicá-lo,
os dois autores acordaram com a sociedade “Charlie, Lda” a edição de 500 exemplares, tendo
ficado combinado que eles suportariam todos os custos relativos à produção e à distribuição do
livro, no montante de 8 000 euros, a pagar na data da edição.
Para garantir o compromisso, ARMINDO e CRISTINA firmaram uma livrança, avalizada por
BELA, sem indicação do beneficiário, com a data de vencimento por preencher.
Admitindo que, antes de a edição estar concluída, a editora preencheu e descontou a livrança
num banco, apondo nela uma data de vencimento a 3 meses da data (altura em que previra
terminar a edição), por necessitar de liquidez para satisfazer compromissos urgentes, refira:

a) Quem é hoje o portador do título de crédito? Identifique e descreva a relação subjacente à


aquisição da livrança pelo actual portador.
b) Caso a livrança não seja paga no vencimento, o que pode o portador fazer?
c) Supondo que CRISTINA paga a livrança ao portador, que direitos lhe assistem contra
ARMINDO?
d) E se o pagamento for feito por BELA?
e) Explique em que consiste o aval, em favor de quem ele é dado e a sua diferença
relativamente à fiança.

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f) Se, em vez de uma livrança, fosse uma letra, sacada por Charlie, Lda e aceite por
ARMINDO e CRISTINA, com aval de BELA, sem indicação do avalizado, a resposta d)
seria igual?

2
AXL, Lda, titular de uma empresa de confeções, encomendou à ZCK, SA 6 rolos de fio de
algodão egípcio, com pagamento a 90 dias, no valor de 50 000 euros. Para representação do
negócio, a Z sacou sobre A uma letra de câmbio neste valor, com vencimento a 90 dias da data.
A letra foi aceite e descontada no banco XLI, SA.
No momento do vencimento, A não pagou, porque o fio tinha defeito, partindo facilmente e
não permitindo que o tecido ficasse completamente liso.
Quid iuris? Caindo a letra no regresso, qual a taxa de juros moratórios aplicável?

3
Sentido que estava próximo da morte, A doou a um de três filhos, B, um lote de ações tituladas
nominativas de uma sociedade da qual B era administrador, assinando um documento nesse
sentido, informando-o de que os títulos estavam depositados no banco Z. Falecido A, os irmãos
de B incluíram as ações na partilha, por considerarem que elas não estavam «endossadas» a
favor deste e portanto o papel que ele exibia não tinha valor.
Quid iuris?

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EXAMES FINAIS ESCRITOS

DIREITO COMERCIAL
2019/2020

Exame Final 13 de janeiro de 2020


I
Almerinda, casada com Belmiro, professor universitário, explora com grande êxito uma
lavandaria, que opera em Campo de Ourique – no centro de Lisboa – sob a designação “Ciz
Asseque” (6àSec).).
Dado o seu espírito conservador, Almerinda – que é natural de Beja – sempre recusou associar-
se com outras pessoas, apesar de o seu estabelecimento ser de dimensão razoável, empregando
permanentemente dez pessoas.
No ano de 2019, de entre os muitos negócios celebrados por Almerinda, importa salientar os
seguintes:

(a) Renovação da utilização do logótipo e exploração comercial da lavandaria com a


empresa francesa que montou as lavandarias em diversos países.
(b) Importação do Reino Unido, de duas máquinas de limpeza a seco, no montante de €
80.000.
(c) Aquisição de duas viaturas da marca Citroen: uma furgoneta e uma carrinha, pelo valor
global de € 85.000.
(d) Celebração de um contrato-promessa de aquisição de um prédio urbano sito em Algés,
pelo preço global de € 500.000 (quinhentos mil euros), tendo acordado no pagamento
de um sinal correspondente a metade do preço.
(e) Contratação de cinco novos trabalhadores para o seu estabelecimento.

1 – Qualifique as entidades referidas no texto, referindo, nomeadamente se Almerinda,


Belmiro e a 6àSec são sujeitos de Direito Comercial.

2 – Sabendo que Almerinda tem um filho – Carloto, a quem ofereceu a carrinha Citroen – e
que, quando se casou, não celebrou qualquer convenção antenupcial, optando por não
regular o seu regime matrimonial de bens; e que, relativamente a todos os negócios (já)
executados, Almerinda apenas pagou a pronto metade do respetivo preço, devendo o
remanescente ser pago do seguinte modo:

– A importação das máquinas, através de uma letra aceite por Almerinda, que se venceu no
início de 2020 sem ter sido paga.
- A dívida resultante da compra dos Citroen deveria ter sido liquidada no passado dia 5 de
janeiro.
- As restantes aquisições foram pagas pelo banco, ficando Almerinda devedora deste.

Qualifique (todos) os negócios celebrados e refira quem é responsável pelo pagamento dos
valores em dívida.
…/…

14
3 – Imagine que Almerinda havia liquidado o preço remanescente dos dois Citroen com um
cheque que, sacado na data da celebração do negócio, se encontrava datado de 5 de janeiro
de 2020.

Pergunta-se:
a) Poderia a Citroen ter apresentado o cheque a pagamento no decurso do mês de dezembro
passado logo após concluir o negócio?
b) Se a Citroen ainda não tiver apresentado o cheque a pagamento na data de hoje, pode
Almerinda, entretanto, instruir o Banco para não proceder ao pagamento, alegando que
um dos carros tinha um defeito de fabrico?

4. – Entretanto, o titular do logótipo e da marca “5àSec” vem reagir contra a utilização do nome
“6àSec”, opondo-se à sua utilização. Almerinda alega que o nome “5àSec” não está
registado no INPI, mas apenas em França. Quid juris?

5 – Caso Almerinda venha ter dificuldade em efetuar pagamentos no ano em curso, o que lhe
pode vir a suceder? O que deverá fazer, caso o negócio conheça um revés que impossibilite
a sua subsistência?

Pode Almerinda vir a ceder a exploração da lavandaria que detém num imóvel arrendado
a Gustavo, sem a autorização deste?

II
As empresas Novas Construções, S.A. e Soluções Técnicas, Lda. celebraram um contrato
para participarem num concurso para a construção de um novo hospital em Lisboa, tendo
vencido o mesmo. Nos termos desse contrato, a Novas Construções, S.A. seria a entidade
responsável por todos os trabalhos de construção civil, cabendo à Soluções Técnicas, Lda.
fornecer todo o equipamento médico e informático, sendo que a prestação da sua atividade
dependia da conclusão da tarefa de construção. Acontece que os trabalhos de construção do
hospital atrasaram-se e, por essa razão, o dono da obra quer aplicar uma pesada multa.

Qualifique fundamentadamente o contrato celebrado entre as empresas Novas Construções,


S.A., e Soluções Técnicas, Lda., e determine se a obrigação de pagamento da multa é solidária
ou conjunta?
•••••

Cotações das diversas questões (e duração estimada para cada resposta) e observações:
I: 2,0 valores (15mn); 2: 6,0 v. (45mn); 3: 3,0 v. (22,5mn); 4: 2,0 v. (15mn); 5: 3,0 v. (22,5mn).
II: 4,0 valores (30mn).

1. Duração (total): 2h 30mn (150mn).


2. Antes de iniciar as suas respostas (que deve fundamentar, referindo, sem transcrever, as
disposições legais que forem aplicáveis, e as hipóteses pertinentes), leia com atenção o enunciado
do teste.
3. Faça uma letra legível.
4. Durante a prova não se pode ausentar da sala. Se o fizer, mediante autorização pontual, o motivo
deverá ficar registado na folha do exame, bem como a duração da ausência.
5. O telemóvel deve permanecer desligado (em off, e não apenas em silêncio).
6. Pode utilizar legislação (Códigos e diplomas legais) não anotada, sem prejuízo de anotações pessoais,
que são admissíveis.

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DIREITO COMERCIAL
2019/2020

Exame Final 30 de janeiro de 2020


I
António, casado em regime de comunhão de bens, dono de uma loja de bicicletas elétricas,
no Porto, denominada “Biclas Invictas”, contraiu um empréstimo no Banco dos
Empreendedores das Ilhas, S.A. (BEI), no valor de €600.000,00, com vista a expandir a
sua atividade. Com essa finalidade – e sem prejuízo de manter a exploração da sua loja –,
para captar mais capital para o desenvolvimento do negócio, constituiu uma sociedade,
denominada BiclasOnFire, S.A. (BOF), com mais dez amigos.
No inicio da sua atividade, a sociedade comprou um imóvel em Lisboa, onde instalou uma
loja denominada “Biclas Lx”. O negócio corria bem e a BiclasOnFire, S.A., celebrou com
a Cardoso – Duas Rodas, Lda, um contrato pelo qual esta se comprometia a comercializar
em certos locais pré-determinados em todo o território nacional (e especificamente
escolhidos para o efeito), excluindo as cidades do Porto e Lisboa, a venda e o aluguer de
bicicletas com a designação “BiclasOnFire” e respeitando uma série de procedimentos de
segurança, manutenção, de venda e de aluguer, bem como se comprometia a promover por
conta da BiclasOnFire, S.A., o negócio de venda de bicicletas elétricas fora daqueles locais
de venda pré-determinados.
António, por seu turno, celebrou com a empresa Dois-Pedais-Elétricos, Lda, um contrato
em que esta ficava com a obrigação de vender anualmente 100 bicicletas “Biclas Invictas”
que devia adquirir previamente à loja de António no Porto (a “Biclas Invictas”).

1. Qualifique os sujeitos e todos os negócios jurídicos mencionados na hipótese.

2. Supondo que nada foi pago por António ao Banco dos Empreendores das Ilhas, S.A.,
qual a garantia patrimonial do crédito?

3. Suponha que Fernando encomendou à DoisPedaisElétricos, Lda, o fornecimento de


15 bicicletas Biclas Invictas por mês, a serem entregues durante um ano em vários locais
turísticos, pelo preço de €5.000,00 mês. Não tendo a DoisPedaisElétricos, Lda
procedido à entrega das Biclas Invictas, Fernando pretende demandar diretamente
António. Tem razão? Justifique.

4. Suponha ainda que Fernando se propõe fornecer as mesmas bicicletas a vários locais
turísticos, mas agora sob uma designação sua – a “Biclas-a-Motor” – que pretende
registar com a mesma imagem gráfica da “BiclasOnFire”. O que pode a BiclasOnFire,
S.A., fazer?

5. Suponha agora que a sociedade BiclasOnFire, S.A., alienou a loja “Biclas Lx” a
Matilde e a Nina, novatas neste ramo de negócio, pelo preço de €200.000,00, a ser pago
em quatro prestações mensais, iguais e sucessivas. Matilde e Nina não pagaram as duas
últimas prestações e, passados 6 meses, sem que recebesse o remanescente do preço, a
BiclasOnFire, S.A. abriu uma nova loja sob a designação “BiclasOnFire” num imóvel
arrendado a poucos metros do local da antiga loja. A quem pode a BiclasOnFire, S.A.,

16
exigir o pagamento do preço em falta e qual a taxa de juros aplicável? Poderiam Matilde
e Nina reagir à abertura da nova loja, caso tivessem pago o preço em falta?

6. Sabendo que o imóvel onde está situada a loja do Porto pertence a Gisela, cunhada de
António, e que este pode estar interessado em ceder a loja ao seu irmão, Horácio,
assegurando, assim, a comercialização das mesmas bicicletas, pergunta-se de que forma
pode fazê-lo, dado que depara com a oposição de Gisela a essa transmissão?

II
Para permitir a Irene usar de um crédito comercial junto do Banco Bonança, S.A., mediante o
desconto de uma letra, Jacinto aceitou uma letra sacada por Irene. Esta, porém, não descontou
a letra junto daquele Banco, mas endossou-a a Leonardo, para pagamento de um serviço que
este lhe fizera. Na data de vencimento, Leonardo exigiu de Jacinto o pagamento da letra,
pagamento este que Jacinto recusou, invocando que o aceite foi dado de favor, pois não existiu
entre ele e Irene qualquer negócio que permitisse a esta dar-lhe uma ordem de pagamento, pelo
que o aceite é nulo por falta de causa.

Identifique e qualifique os sujeitos da hipótese e analise fundamentadamente a situação,


determinando se assiste ou não razão jurídica na recusa de pagamento da letra por parte de
Jacinto?

•••••

Cotações e duração máxima estimada para cada resposta


I: 1. 4,0 valores (30mn); 2: 2,0 v. (15mn); 3: 2,0 v. (15mn); 4: 2,0 v. (15mn); 5: 4,0 v. (30mn); 6: 2,0
v (15mn).
II: 4,0 valores (30mn).

Observações
1. Duração (total): 2h 30mn (150mn).
2. Antes de iniciar as suas respostas (que deve fundamentar, referindo, sem transcrever, as
disposições legais que forem aplicáveis, e as hipóteses pertinentes), leia com atenção o enunciado
do teste.
3. Faça uma letra legível.
4. Durante a prova não se pode ausentar da sala. Se o fizer, mediante autorização pontual, o motivo
deverá ficar registado na folha do exame, bem como a duração da ausência.
5. O telemóvel deve permanecer desligado (em off, e não apenas em silêncio).
6. Pode utilizar legislação (Códigos e diplomas legais) não anotada, sem prejuízo de anotações pessoais,
que são admissíveis.

DIREITO COMERCIAL

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2020/2021
Exame Final 12 de janeiro de 2021
I
André, artesão de profissão, abriu uma joalharia de luxo no Chiado, no Natal de 2019, para
comercializar relógios, pulseiras, colares e brincos de luxo. Para o efeito, arrendou um espaço,
contratou um empréstimo com o BDP – Banco dos Depositantes Portugueses, S.A., e um
seguro com a Fiável – Companhia de Seguros, S.A., contratou Guiomar para ficar responsável
pela loja e dois trabalhadores (Carla e Duarte); e encomendou o respetivo recheio.
Emília desenha e produz pulseiras em prata e, em face do sucesso da loja de André, contactou-
o para propor que este comercializasse as suas pulseiras na loja.
O contrato foi celebrado oralmente de acordo com as seguintes condições: obrigação de
comprar 400 pulseiras por ano; obrigação de revender as pulseiras em Lisboa, de acordo com
a estratégia comercial definida por Emília e direito de revenda das pulseiras, com caráter de
exclusividade, por André.
Decorrido um ano, o contrato celebrado entre André e Emília cessou por motivo imputável a
Emília.
Entretanto, em janeiro de 2020, Guiomar vendeu um colar de pedras preciosas a Irene, a qual
ficou de o pagar em 4 prestações, tituladas por três letras de câmbio, avalizadas em seu favor
pelo marido, Leonardo – e a vencerem-se, respetivamente, no último dia do 2º, 3º e 4º
trimestres deste ano –, já que a primeira prestação foi imediatamente liquidada.
Para além do pagamento inicial, cada uma das letras, sacadas por André sobre Irene, tinha o
montante de € 5.000,00.

Questões:
1. Qualifique os contratos enunciados na hipótese e os sujeitos nos mesmos intervenientes, e
diga, nomeadamente, se estes são sujeitos de Direito Comercial; ou não.
2. Em face da cessação do contrato celebrado com Emília, André pretende saber se tem
direito a alguma indemnização e qual o destino a dar às pulseiras que foram por si
adquiridas, mas que ainda não foram vendidas.
3. Entretanto, André endossou as letras a Miléne, por conta da aquisição de um automóvel
em segunda mão. Na data do vencimento da última letra, Irene, não obstante ter aceite a
letra quando a mesma foi sacada, recusou proceder ao pagamento a Miléne, informando
que descobrira que o colar tinha joias falsas. Quid juris? Qualifique, de um ponto de vista

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cambiários, os sujeitos envolvidos na letra de câmbio e na sua circulação e refira
nomeadamente: (i) qual a espécie de vencimento das letras em causa; (ii) se a recusa de
pagamento da última letra é legalmente admissível; (iii) quem é responsável pelo
pagamento da letra; e (iv) o que deveria ter feito o portador na data do vencimento.

II
Renato abriu uma loja para comercializar acessórios de moda e criou o logótipo “Pourtoi”,
tendo também requerido o registo da marca com a mesma designação e sob a qual pretende
comercializar acessórios de moda.
A empresa titular da marca “Parfois” quer opor-se, alegando que as expressões em causa são
muito semelhantes foneticamente (“purtuá” e “parfuá”), pelo que o logotipo e a marca
“Pourtoi” devem ser recusados, apesar de a “Parfois” não se encontrar registada em Portugal,
no INPI. Quid juris?

Cotações das questões (e tempos aconselháveis para resposta, em minutos):


I. 16 valores, distribuídos do seguinte modo: 1– 6 valores (45m); 2– 4 valores (30 mn); 3– 6 valores
(45mn).
II. 4 valores (30mn).

DIREITO COMERCIAL
2020/2021
Exame Final (2ª época) 29 de janeiro de 2021
I
António, proprietário de um supermercado, casado com Hortense, celebrou, juntamente com
o seu amigo Carlos, produtor de frutas, um acordo com Dalila e Egídio, ambos donos de uma
conhecida marca internacional de chocolates – a Nestchoc –, tendo em vista o fornecimento
continuado e exclusivo de produtos para o supermercado em Lisboa. António e Carlos
entregaram a Dalila e Egídio uma letra com o montante por preencher para garantir os
fornecimentos futuros. A letra foi avalizada por Fernando, Juiz Conselheiro do STJ e pai de
António, tendo sido descontada no BCA – Banco do Comércio Alfacinha, S.A.

Justificando sempre as suas respostas, responda às questões que se seguem:

19
1. Qualifique os sujeitos em causa, referindo, nomeadamente, se são sujeitos de Direito
Comercial.
2. Qualifique os vários atos e negócios enunciados no texto e diga se estão sujeitos ao regime
comercial.
3. Supondo que António e Carlos não pagaram os últimos dois fornecimentos de chocolates,
qual a garantia patrimonial de Dalila e Egídio?
4. Supondo que a letra não foi paga no vencimento, que direitos assistem ao respetivo
portador?
5. Supondo que António e Carlos haviam vendido grande parte do stock do supermercado a
Gustavo, seu amigo de infância, por um preço simbólico, diga o que pode o BCA fazer,
dado que a letra não foi paga, e o que poderá acontecer à venda do referido stock.
6. Supondo agora que Dalila e Egídio pretendem deixar de fornecer os seus produtos para
Portugal, através de António e de Carlos, pretendendo, por isso, pôr fim ao contrato que
os une, e contratar Gonçalves como concessionário exclusivo para a venda dos chocolates
Nestchoc, terão António e Carlos algum direito relacionado com os clientes que
angariaram?

II
Os conselhos de administração de duas empresas produtoras de cerveja celebraram um acordo
que permitirá às empresas: (a) distribuir os respetivos produtos preferencialmente em
determinadas zonas do país e (b) controlar os preços de venda da cerveja.
Pronuncie-se sobre o acordo em causa e sobre as cláusulas enunciadas, nomeadamente sobre a
respetiva legalidade e validade.

Cotações das questões (e tempos aconselháveis para resposta, em minutos):


I. 17 valores, distribuídos do seguinte modo: 1 – 2,5 valores (20m); 2 – 2,5 valores (20mn); 3
– 2 valores (15mn); 4 – 2 valores (15mn); 5 – 5 valores (35mn); 6 – 3 valores (20mn).
II. 3 valores (20mn).

DIREITO COMERCIAL
2020/2021

20
Exame Final (3ª época) 9 de fevereiro de 2021
I
Anabela, pretendendo abrir uma loja de mediação imobiliária, negociou com a ERA – Real
Estate, S.A., um contrato mediante o qual podia exercer a sua atividade usando a marca ERA,
beneficiando de toda a rede de contactos e imóveis angariados pelos seus membros, mas
obrigando-se a compartilhar com esta empresa as receitas das comissões sobre as vendas. Para
o efeito, Anabela arrendou a Bernardo um espaço na Avenida da República, em Lisboa,
adquiriu diverso material de escritório, decorou o espaço com os elementos característicos dos
estabelecimentos da ERA, adotou os formulários dos respetivos contratos e contratou Carlota
para responsável da loja e vendedora.
Tudo corria bem até que Anabela adoeceu gravemente e, por conselho da sua médica, Diana,
resolveu passar a exploração da loja a Felismino, o qual se comprometeu a pagar àquela uma
determinada quantia fixa mensal, assumindo todos os encargos com o exercício da atividade.
Entretanto, Felismino decide por fim ao contrato celebrado com a ERA – Real Estate, S.A.,
passando a usar uma marca própria.

Responda fundamentadamente às seguintes questões:


1. Qualifique os intervenientes na hipótese, referindo quais são sujeitos de Direito Comercial
(“comerciantes”); e fundamente.
2. Qualifique o contrato celebrado entre Anabela e Felismino, explicite quais os direitos de
Bernardo perante a sua conclusão.
3. Qualifique o contrato celebrado entre Anabela e a ERA – Real Estate, S.A., explicitando
se Felismino podia terminar o mesmo.
4. Imagine que Felismino, descobrindo que a ERA, não obstante ser de reputação mundial, não
se encontrava inscrita no INPI, requereu a esse Instituto o registo da marca “JÁ ERA – Estado
Real, S.A.”, para a sua atividade de mediação imobiliária. Quid juris? Pode a ERA reagir?

II
As três grandes empresas que exploram os maiores laboratórios clínicos existentes em Portugal,
para melhor poderem exercer a sua atividade junto do público, concentrando recursos humanos
e evitando a dispersão de meios materiais (equipamentos, utensílios, etc.), acordaram que cada
uma delas se dedicaria exclusivamente a uma zona territorial do país, ficando a empresa A com

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a zona Norte, a empresa B com a zona Centro e a empresa C com a zona Sul. Para não
prejudicarem os utilizadores dos seus serviços, acordaram ainda numa tabela de preços comum
às três empresas.
Pronuncie-se sobre a legalidade dos acordos celebrados por estas três empresas.

III
Alberto, titular de uma loja de vestuário, adquiriu à Fatos e Vestidos, Lda., empresa de
indústria têxtil, em setembro de 2020, uma coleção de peças de roupa para a estação
Outono/Inverno, acordando aqueles que o pagamento seria feito em 8 de fevereiro de 2021.
Para o efeito, Alberto aceitou uma letra de câmbio a favor da Fatos e Vestidos, Lda., pagável
à vista, e avalizada por Deolinda.
Entretanto, necessitada de liquidez, em outubro de 2020, a Fatos e Vestidos, Lda. procedeu ao
desconto da referida letra junto do BMC – Banco Mundial do Comércio, S.A., o qual, por sua
vez, apresentou a letra a pagamento no passado dia 31 de dezembro de 2020, sem sucesso,
porque Alberto se recusou a pagá-la, alegando que não estava obrigado a fazê-lo naquela data.
Identifique cambiariamente os sujeitos da hipótese, diga se a defesa apresentada por Alberto
seria procedente e refira a quem pode agora o portador da letra exigir o seu pagamento e o que
deverá fazer para o efeito?

Cotações das questões (e tempos aconselháveis para resposta, em minutos):


I. 13 valores, distribuídos do seguinte modo: 1 – 3 valores (20m); 2 – 3 valores (20mn); 3 – 3 valores
(20mn); 4 – 3 valores (20mn). II. 3 valores (20mn). III. 5 valores (40mn).

DIREITO COMERCIAL
2020/2021

Exame Final 13 de setembro de 2021


I
Ambrósio construiu uma adega na sua propriedade, que inaugurou ainda em 2019 e na qual
produz o vinho – para exportação para o Reino Unido e venda nos supermercados portugueses
– com as uvas que vindima na sua herdade com 40 hectares.

22
Entretanto, e porque a capacidade instalada da adega era suficiente para produzir e engarrafar
três vezes mais vinho, Ambrósio usa a adega para transformar as uvas provenientes de vinhas
pertencentes a outros agricultores e proceder ao engarrafamento do vinho.
No início de 2021, Ambrósio havia adquirido um lote de terreno com 5 hectares de vinha, que
pagou, aceitando uma letra com o valor de €20.000, avalizada pelo seu pai, Januário, juiz
conselheiro, a vencer no dia 31 de julho de 2021.
Ambrósio pretende agora, em setembro de 2021, constituir uma sociedade comercial, sob
forma anónima, para explorar a produção e engarrafamento do vinho, mas tem algumas
dúvidas.

1. Diga se Ambrósio pode constituir a sociedade, qual o número mínimo de sócios para o
efeito e qual o número mínimo de pessoas para ocupar os respetivos órgãos sociais, no
modelo de governação cujos órgãos sociais exigem um menor número de membros.
2. Sabendo que a letra foi oportunamente apresentada a pagamento – por Carlos, a quem a
vendedora do terreno, Belo Horizonte – Compra e Venda de Imóveis, Lda., a havia
endossado para pagamento de uma viatura de gama alta, mas em segunda mão –não foi
paga, refira o que poderá, e deverá, o portador da letra fazer no vencimento? Diga quem é
responsável pelo pagamento da letra perante o sacador?
3. Sabendo que Ambrósio é casado com Dália, médica em prática individual, no regime de
comunhão de adquiridos, refira se os bens comuns do casal podem ser chamados a
responder pela dívida da letra.
4. Qualifique os sujeitos envolvidos, incluindo a empresa produtora do vinho e a respetiva
adega.

II
Nuno arrendou um espaço, em 2015, onde montou um restaurante especializado em carne.
Pretendendo agora suspender a sua atividade durante dois anos – para poder dar uma volta o
mundo –, mas sem perder o investimento efetuado, gostaria de ceder ao seu irmão, Miguel,
famoso chef, a exploração desse restaurante.
Sabendo que o senhorio, Otávio, não está de acordo, diga se, ainda assim, poderá fazê-lo? Em
caso afirmativo, de que forma?

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Refira se Miguel é sujeito de Direito Comercial e se Nuno pode recuperar o restauarante
quando regressar da sua viagem, volvidos dois anos.

III
Teodósio montou uma loja de eletrodomésticos para comercialização da conhecida marca
italiana, Smeggi.
Diga qual a espécie contratual, ou espécies contratuais, que melhor satisfaz(em) os interesses
de Teodósio e da Smeggi; e diga por quê.

Cotações das questões (e tempos aconselháveis para resposta, em minutos)


I. 13 valores / 85 mn, desdobrados do seguinte modo:
I. 3 valores / 20 mn.
II. 4 valores / 25 mn.
III. 3 valores / 20 mn.
IV. 3 valores / 20 mn.
II. 4 valores / 25 mn.
III. 3 valores / 20 mn.

DIREITO COMERCIAL
2021/2022

Exame Final 10 de janeiro de 2022


I
António explora há alguns anos a famosa galeria de arte “Vintage”, tendo para o efeito
arrendado uma loja no Príncipe Real, em Lisboa, a Bento, Juiz Conselheiro do STJ.
Cansado da vida intensa que levava, António alienou a referida galeria de arte a Carlota,
casada com Diogo, no regime matrimonial de bens supletivo, pelo valor de € 100.000,00 (cem
mil euros), a pagar em suaves prestações de € 1.000,00 (mil euros) cada durante 100 meses,
tendo Eduarda como fiadora.
Carlota, para dinamizar o negócio, aproveitou a galeria de arte para também realizar a atividade
de leiloeira, acordando com a Christie’s ser sua representante em Portugal.

Responda fundamentadamente às seguintes questões:

1. Qualifique os sujeitos da hipótese, esclarecendo se estes são ou não sujeitos de Direito


Comercial (comerciantes); e qualifique os atos praticados, indicando se são ou não
comerciais.

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2. Bento toma conhecimento através de um anúncio publicitário que a loja no Príncipe Real,
em Lisboa, por si arrendada a António está a ser explorada por Carlota, sendo agora,
simultaneamente, uma galeria de arte e uma leiloeira. Indignado, pretende resolver o
contrato de arrendamento. Quid iuris?
3. Indique quem é responsável pelo pagamento do valor do negócio celebrado entre António
e Carlota.

II
Eduarda, sendo particularmente dotada para as artes manuais, desde cedo se habituou a
elaborar peças decorativas em cerâmica, que tinha a gentileza de oferecer à sua família e amigos
mais próximos. Impulsionada por estes, resolveu criar uma página na rede social “Instagram”
onde iniciou, em 23 de março de 2021, a sua venda ao público, apondo-lhes a marca “Minimal
Ceramics” que não teve a iniciativa de registar.
Francisca, que bem conhecia o advento do movimento minimalista e de regresso às origens na
decoração de interiores, procurou registar, em 3 de janeiro de 2022, a marca “Minimalistic
Ceramics”. Quid iuris?

III
A Fastfood, S.A., explora uma dezena de restaurantes todos instalados em diversos centros
comerciais do país. Em virtude da pandemia COVID-19 e do consequente encerramento
temporário daqueles espaços comerciais, a Fastfood a deixou de pagar atempadamente os
salários aos seus trabalhadores, as rendas devidas às empresas que administram os referidos
centros comerciais, bem como os impostos e contribuições para a Segurança Social,
acumulando já uma dívida total superior a € 1.000.000,00 (um milhão de euros).

Responda fundamentadamente às seguintes questões:

1. O que deve a administração da Fastfood, S.A. fazer perante a situação descrita na hipótese?
2. Quais as consequências legais de uma eventual inércia da administração da Fastfood, S.A.
se nada fizer?
3. Qual poderá ser a intervenção dos credores da Fastfood, S.A. para receber o que lhes é
devido perante a situação descrita na hipótese?

IV
Ana fez, em setembro de 2021, uma encomenda de brinquedos para vender na sua loja, na
época Natalícia, a um seu fornecedor, a Sobrinca, Lda., no valor de € 50.000,00 (cinquenta
mil euros), tendo esta sacado sobre aquela uma letra pagável a três meses, avalizada por
Bernardo.
Entretanto, em outubro de 2021, a Sobrinca, Lda. descontou a referida letra junto do Banco
do Comércio, S.A., entregando-lhe a mesma.

Responda fundamentadamente às seguintes questões:


1. Diga quem pode exigir o pagamento da letra e quem está obrigado a efetuar esse
pagamento?

25
2. Pode Ana eximir-se ao pagamento da letra, invocando que a maioria dos brinquedos
vinham com defeitos, que impediram a sua comercialização?

Cotações das questões (e tempos aconselháveis para resposta, em minutos):

1. 10 valores / 75m. (1. 4v.; 2. 3 v.; 3. 3v.)


2. 3 valores / 22,5m.
3. 3 valores / 22,5m.
4. 4 valores / 30 m. (1. 2v.; 2. 2v).

DIREITO COMERCIAL
2021/2022

Exame Final 28 de janeiro de 2022

I
António, locatário de uma fração autónoma destinada a atividades de transformação de
produtos variados, situada no rés-do-chão de um prédio urbano pertencente a Irene, instalou
no mesmo espaço, em 2 de dezembro de 2020, uma unidade de embalamento de vinho em
pacote.
Em 10 de setembro de 2021, António vendeu a unidade de embalamento de vinho a Carlos,
casado com Daniela. O preço acordado, de € 100.000, a pagar em duas prestações iguais,
metade a pronto e o remanescente no prazo de 4 meses, foi parcialmente representado por uma
letra aceite por Carlos e avalizada por Eduardo; a qual foi, de imediato, descontada pelo Banco
Comercial do Saldanha, S.A. (“BCS”).
Carlos, viria, ainda em 2021, a vender a referida unidade de embalamento, agora denominada,
“Vinho a Pacote”, à “Litros de Vinhos, Lda.” – da qual é sócio maioritário o seu irmão
Fernando –, tendo esta pago a pronto € 1.000.000 pela unidade de embalamento (“Vinho a
Pacote”), perante o protesto dos respetivos trabalhadores e fornecedores que tinham salários e
dívidas em atraso há mais de um ano.
Entretanto, António – que continuara a embalar vinho – expandiu a sua atividade para o norte
do país, tendo contratado Guilherme para promover os seus negócios nessa região do território
nacional. Todavia, os negócios não estão de feição, dada a crise pandémica, e António pretende
cessar a atividade, deixando Guilherme altamente preocupado sem saber o que fazer com os
elevados investimentos que efetuou e os camiões de transporte que António lhe emprestou para
transportar as mercadorias.
1. Qualifique os sujeitos e os negócios envolvidos na situação descrita e diga quais são
comerciais.
2. Suponha que, executados os negócios e notificado dos mesmos, Irene pretende propor uma
ação de despejo. Procure identificar os fundamentos que poderiam justificar a sua
propositura. Diga se, em alternativa, Irene tinha alguma outra forma de defender o seu
interesse ou direito.

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3. Sabendo que a letra não foi paga, diga quem é o portador da mesma no vencimento, que
direitos tem e contra quem. Refira se Daniela pode vir, de algum modo, a ser
responsabilizada pelo pagamento da letra.
4. Supondo que Hélder é titular da marca registada “Vinho de Pacote”, o que pode ele fazer
perante o titular da unidade de embalamento denominada “Vinho a Pacote”?
5. Os trabalhadores e fornecedores da Litros de Vinhos, Lda., poderão desencadear alguma
medida contra esta sociedade pelas dívidas não pagas? E poderá o negócio de aquisição da
unidade de embalamento subsistir ou poderá ser desencadeada alguma medida que vise
repor o preço que saiu da empresa para pagamento da aquisição?
…/…
6. Qualifique o negócio celebrado entre António e Guilherme e diga que meios tem
Guilherme ao seu alcance para ser ressarcido ou compensado e o que pode fazer com os
camiões de transporte.

II
A Vinovida, Lda., produtora de diversos vinhos, acordou com as cinco principais cadeias de
distribuição nacional que a comercialização dos seus vinhos seria efetuada por todas elas
segundo os mesmos preços previamente fixados.
Aprecie a legalidade do referido acordo e diga quais as consequências legais da respetiva
celebração.

Cotações das questões (e tempos aconselháveis para resposta, em minutos):

V. 17 valores
5. 4 valores / 30m
6. 2 valores / 15m
7. 3 valores / 22,5m
8. 2 valores / 15 m.
9. 3 valores / 22,5 m
10. 3 valores / 22,5 m

VI. 3 valores / 22,5mn

DIREITO COMERCIAL
2021/2022

Exame Final (3ª chamada) 14 de fevereiro de 2022


I
Amélia, casada com Belmiro, no regime de comunhão de adquiridos, proprietária de uma loja
de pronto-a-vestir – a “Moda Intemporal” –, em que vende vestidos de alta costura fabricados
pela “Haute Couture, Lda.”, localizada na zona do Chiado, em Lisboa, decidiu, ao fim de

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longos anos de enorme sucesso, dedicar-se em exclusivo à sua família; e alienou a Carlos o seu
negócio, subscrevendo, para o efeito, um documento escrito.
A loja sempre funcionou num imóvel do qual Daniel, médico cardiologista, é proprietário; e a
quem Amélia havia arrendado o espaço com o intuito de lá desenvolver a sua atividade,
indicando Emília como sua fiadora.
Com parte do dinheiro que recebeu, a que acrescentou um financiamento feito pelo Banco do
Rossio, S.A., no montante de € 500 mil, Amélia adquiriu um imóvel na Lapa, para recuperação
e revenda.
Não obstante o sucesso de vendas que Amélia sempre logrou alcançar, em certo momento no
tempo, deixou de pagar as rendas devidas a Daniel, encontrando-se em dívida o montante de €
15 mil na data da cessação da sua atividade.

Responda fundamentadamente às seguintes questões:


1. Qualifique os sujeitos da hipótese, esclarecendo se estes são, ou não, comerciantes; e
qualifique os atos praticados, indicando se são, ou não, comerciais.
2. Daniel, passeando na zona do Chiado apercebe-se que a loja que aparentemente permanece
idêntica, já não pertence a Amélia, mas sim a Carlos. Indignado, Daniel pretende resolver
o contrato de arrendamento. Quid iuris?
3. De quem pode Daniel exigir o montante de € 15 mil que se encontra em dívida? Considera
que o montante em dívida pode vir a ser exigido a Carlos?
4. Caso Belmiro aceite uma letra, sacada por Daniel em favor de Gualter – seu fornecedor
de equipamento médico –, no montante em dívida, quem é que no dia do vencimento se
deve apresentar a cobrar o valor da letra. Pode o sacado recusar-se a pagar o montante de
€ 15 mil, se o mesmo já tivesse sido pago num acordo celebrado com Daniel? Identifique
os sujeitos cambiários.
5. Diga se Belmiro, ou os bens comuns do casal, podem ser chamados a responder pela
satisfação da dívida junto do Banco do Rossio.
6. Imagine agora, e alternativamente, que Daniel, passeando na zona do Chiado, se apercebe
que o negócio em funcionamento no seu imóvel é uma loja de bicicletas, a “Your bike
shop”. Quid iuris?

II
A Black Angus Portugal, Lda. (“BAP”), empresa industrial de criação de gado bovino que
exerce atividade na zona do Ribatejo, pretende diversificar o seu mercado e potenciar os seus
lucros. Para o efeito, contactou uma conhecida empresa especializada do sector sediada no
Porto – a Distribuição de Carne, Lda. (“DC”) –, a qual acordou montar um estabelecimento
de transformação e embalamento e acedeu, no âmbito de um contrato de concessão, a
comercializar, sob a marca BAP, a carne que lhe adquirisse, no mínimo de 5.000 kg por mês;
procedendo à sua distribuição na zona do norte do país, em conformidade com a política
comercial da BAP em face da integração da DC na sua rede comercial, no âmbito do acordo.

Responda fundamentadamente às seguintes questões:


1. Caracterize o negócio jurídico celebrado entre a BAP e a DC, refira se o mesmo é válido
e indique qual o respetivo enquadramento normativo.

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2. Imagine que, decorridos três meses do início da execução do contrato, a BAP se apercebe
que a zona norte do país revela um potencial de angariação de clientela que justifica a
existência de mais do que um distribuidor, celebrando um negócio jurídico idêntico ao que
havia celebrado com a DC com uma outra empresa especializada do setor: a Grossistas de
Carne, Lda. (GC). Quid iuris?
3. Entretanto, para os bons resultados da DC, muito contribuiu a sua política agressiva de
vendas, que passou por vender carne a um preço inferior ao custo durante os três primeiros
meses do contrato. Quid iuris?
4. Caso o contrato entre a BAP e a DC venha a cessar, por iniciativa de BAP, pode DC
acionar a BAP para obter uma indemnização que a compense pelo negócio gerado para a
BAP. Esta (BAP) considera que a DC não tem direito a qualquer indemnização na medida
em que não ocorreu nenhum incumprimento contratual. Quid iuris?

Cotações das questões (e tempos aconselháveis para resposta, em minutos):

VII.13 valores, distribuídos do seguinte modo: 1. 3 valores (22:30); 2. 2 v. (15:00), 3. 2 v.


(15:00), 4. 2 v. (15:00), 5. 2 v. (15:00), 6. 2 v. (15:00).
VIII. 7 valores, distribuídos: 1. 1 valor (7:30); 2. 2 v. (15:00), 3. 2 v. (15:00), 4. 2 v.
(15:00).

DIREITO COMERCIAL
2021/2022

Exame Final 12 de setembro de 2022

Américo, casado com Berta, advogada (em prática individual), no regime de comunhão de
adquiridos, é dono de um estabelecimento de mercearias finas – Charcutaria Ideal da Palma de
Baixo (CIPB) –, localizado junto à Universidade Católica.
Dado o seu espírito individualista, Américo – que é originário dos Açores – sempre recusou
associar-se com outras pessoas, apesar de o seu negócio ser de dimensão razoável, empregando
permanentemente vinte cinco pessoas.
No ano de 2022, de entre os muitos negócios celebrados por Américo, saliente-se os seguintes:
(f) Importação de Itália, da fábrica da Perugina, de produtos de mercearia, no montante de
€ 500.000.
(g) Aquisição de duas viaturas da marca Ford: uma furgoneta e uma carrinha, pelo valor
global de € 200.000.
(h) Compra, na Euronext Lisbon, S.A. (Bolsa de Valores), de 50.000 ações da Modelo
Continente SGPS, S.A.
(i) Celebração de um contrato-promessa de aquisição de um prédio urbano na zona de
Marvila, destinado a revenda, pelo preço global de € 500.000,00, tendo acordado no
pagamento de um sinal correspondente a metade do preço.

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1. Qualifique a empresa (CIPB) e refira se Américo e Berta são comerciantes (sujeitos de
Direito Comercial).
2. Sabendo que Américo ofereceu a carrinha Ford e que, relativamente a todos os negócios
(já) executados, Américo apenas pagou 50% do respetivo preço, pelo que o remanescente
deveria ser pago do seguinte modo:
(i) No que respeita à importação dos produtos de Itália, Américo havia aceitado uma letra,
que se venceu no início de setembro de 2022 sem ter sido paga.
(ii) A dívida da compra dos Ford foi liquidada por Américo, no final de agosto passado, com
um cheque datado de 1 de outubro de 2022.
(iii) As restantes aquisições foram pagas pelo banco, ficando Américo devedor deste.
Qualifique os negócios celebrados e refira quem é responsável pelo pagamento dos valores
em dívida.
3. Sabendo que Elísio pretende recriar no Porto o conceito de mercearias finas explorado com
êxito por Américo, com a imagem e os métodos por este adotados no seu estabelecimento,
qual a forma jurídica adequada para o efeito? Dê a sua opinião no melhor interesse de
Américo.
…/…
4. Pode a Ford apresentar a pagamento no próximo dia 17 de setembro de 2022 o cheque
datado de 1 de outubro de 2022? E pode o banco pagar?
5. Sempre que Américo procede a uma importação de Itália que contratos (comerciais) tem
ele de celebrar, sabendo que é responsável pelas mercadorias à porta da fábrica? Identifique
os sujeitos desses contratos e refira qual a forma das declarações negociais e como as
mesmas se designam tecnicamente.
6. Caso Américo venha a ter dificuldade em efetuar pagamentos no ano em curso, o que lhe
pode vir a suceder? O que deverá ele fazer, caso o negócio conheça um revés que
impossibilite a sua subsistência?

Indicações úteis

Cotações das questões (e tempos máximos aconselháveis, por resposta, em minutos):


11. 2 valores / 15 m.
12. 8 valores / 50 m.
13. 2 valores / 15 m.
14. 2 valores / 15 m.
15. 4 valores / 25 m.
16. 2 valores / 15 m.

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