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Não é fácil dar uma noção de direito real. Muito debatida é a questão sobre qual é essa
noção. Ao longo da história vemos que houveram várias tentativas de conceptualizar o direito
real, temos as teorias clássica, moderna, e mista, sendo a última um “mix” entre as duas
primeiras.
Este problema vê-se desde logo na estruturação do Código Civil, normalmente no ínicio
de cada livro do Código há uma parte geral, no entanto tal não acontece no Livro III. O
legislador entendeu ser preferível dar um enquadramento geral deste livro nos artigos sobre a
posse1, mas a posse não configura porém o enquadramento disciplinador da matéria.
Desenvolveremos sobre esta temática neste caderno após tratarmos da questão das três teorias
que existem sobre o conceito de direito real.
Teoria Clássica
A Formulação ou Teoria Clássica dos direitos reais diz-nos, resumidamente que o direito
real é visto como um poder directo e imediato sobre uma coisa. Traduz-se numa relação
que existe entre uma pessoa e uma coisa, que não é uma relação intermediada por outra pessoa.
Este direito serve para satisfazer as necessidades de uma pessoa, mediante o aproveitamento
das utilidades de uma coisa: usar, fruir e dispor; satisfazer o crédito; estar afectada para a
constituição potestativa de outro direito.
Poder “directo” pois o titular tem o domínio ou o senhoria sobre a coisa. Poder
“imediato” pois há desnecessidade da colaboração de um terceiro no aproveitamento das
utilidades de uma coisa2. Para Henrique Sousa Antunes estas duas noções, “directo” e
“imediato” são muitas vezes confundidas numa só, na opinião deste professor erradamente,
sendo também para este professor esta a teoria que hoje se deve usar para definir direito
real.
O professor Henrique Sousa Antunes entende por isso que a concepção clássica é
suficientemente virtuosa para explicar o direito real, não sendo no entanto esse o
entendimento geral da doutrina portuguesa.
Um dos argumentos do Professor para defender esta teoria prende-se com o facto de ser
da opinião que muitos não entendem a diferença entre “directo” e “imediato”. É entendimento
do Professor Henrique Sousa Antunes que o poder directo se traduz na ideia de domínio e
que o poder imediato se traduz na desnecessidade da colaboração de terceiro para o
aproveitamento das utilidades da coisa.
Assim o poder directo tem expressão na susceptibilidade de opor o direito real a
qualquer terceiro que interfira com esta titularidade, com este domínio, com esse
senhorio, sendo que estará então na parte directa do poder a intersubjectividade, o lado
1
Vamos estudar a posse mais adiante.
2
Ler parágrafo seguinte.
externo do direito real.
A vertente imediata será por isso o lado interno do direito real, a relação com a coisa
apenas.
Assim, para Henrique Sousa Antunes, a definição de direito real será: “O poder
atribuído pela ordem jurídica para a satisfação dos interesses de uma pessoa determinada
mediante o aproveitamento direto e imediato das utilidades de uma coisa corpórea.”
O contraste com o direito de crédito será que este é excercido sobre uma prestação e não
uma coisa.
Teoria Moderna
Esta concepção esquece a dimensão coisa. A coisa corpórea fica apagada da concepção de
direito real, porque parece que direito real é uma relação entre pessoas. Isto é visto como uma
crítica a conceptualização do direito real pois se assim é podemos admitir que todos os direito
devem ser respeitados. Ou seja, não é a apenas defensável o dever geral de respeito seja apenas
um traço do direito real, o resto dos direitos que existem devem também ser alvos de um
dever de respeito geral por parte do resto do mundo. Todos os sujeitos devem ser
respeitados por todos os sujeitos. Esta é a maior crítica à Teoria Moderna, falha pois o que é
atribuído como característica única/principal do direito real pode também ser dito como
característica dos restantes direitos.
São críticas como esta que levaram a uma terceira formulação. A Teoria Mista.
Teoria Mista
Defende-se aqui que o direito real tem duas dimensões, não pode ser construído
apenas na ideia da relação da pessoa com a coisa, mas também não pode ser apenas construído
na ideia da oponibilidade erga omnes. Tem de ser um misto. Portanto, o direito real teria um
lado interno que consiste no aproveitamento imediato das utilidades da coisa e um outro
lado externo que se refere à oponibilidade erga omnes. A doutrina portuguesa em geral
prefere esta teoria mista.
A teoria mista diz-nos então que o direito real é um poder direto e imediato sobre a
coisa exercido num contexto relacional de natureza absoluta.
Sendo a concepção que a doutrina portuguesa segue, Henrique Sousa Antunes discorda
dela pois entende que existe alguma obscuridade na doutrina face à definição do conteúdo
do poder direto e imediato, sendo que como já vimos, para Henrique Sousa Antunes, o lado
externo, intersubjectivo, dado pela Teoria mista e Moderna já está precavido pela Teoria Clássica
no facto de estar dar o direito real como um poder direto.3
No entanto, Menezes Cordeiro e Paulo Cunha indicam que dizer que um poder é “direto”
e “imediato” é um pleonasmo, que a designação “direto e imediato” é fundamentalmente a
mesma realidade. Estes autores dizem que o poder em causa atinge a coisa pela simples
vontade do seu titular, independentemente de qualquer colaboração de terceiros.
Verdade seja dita a posição de Henrique Sousa Antunes de que com “direto” se está a
englobar o lado externo no conceito de direito real pode ser vista quase como uma interpretação
muito extensiva da Teoria Clássica ao ponto de roçar numa Teoria Mista. Isto pois a definição
dada pelo Professor Henrique Sousa Antunes é “O poder atribuído pela ordem jurídica para a
satisfação dos interesses de uma pessoa determinada mediante o aproveitamento direto e imediato
das utilidades de uma coisa corpórea” e pela defesa que este professor faz à interpretação que
“direto” deve ter poderíamos dizer que a sua definição é equivalente a dizer “O poder atribuído
pela ordem jurídica para a satisfação dos interesses de uma pessoa determinada mediante o
aproveitamento oponível a qualquer terceiro que interfira com o mesmo e imediato das
utilidades de uma coisa corpórea”.
Vemos por isso que, se é verdade que as Teorias Mistas misturam a vertente clássica da
relação com coisa e da vertente moderna da relação com os terceiros, o mesmo é verdade na
definição de Henrique Antunes. Por isso, no nosso entender, das duas uma: ou a posição da
Teoria Mista sempre foi a mesma que a Clássica e a Clássica é que é mal interpretada, ou então a
interpretação de Henrique Antunes alarga a Teoria Clássica ao ponto de estar ser uma mista,
qualquer que seja a escolha, o resultado é que Henrique Antunes afinal de contas não se afasta
assim tanto da maioria da doutrina Portuguesa.
Há três tipos de direitos reais, que se distinguem pela sua função, isto é, têm finalidades
diferentes. No entanto, em todos eles temos uma oponibilidade erga omnes e uma coisa envolida:
1)Temos os Direitos Reais De gozo – São direitos que atribuem ao sujeito a faculdade
de uso, fruição e disposição da coisa. Ilustrativo disto é o artigo 1305º.
3)Direito Real de Aquisição –É um poder jurídico que é atribuído pela ordem jurídica,
mas o interesse do sujeito que recebe esse poder não é o de usar a coisa ou de fruir dela,
ou utilizar a coisa como satisfação de crédito, mas sim o de poder vir a constituir
sobre a coisa um outro direito, sendo essa possibilidade um direito potestativo. Ou
seja, não é possível haver oposição ao exercício desse poder que é atribuído pela ordem
jurdica. Assim, quando alguém é titular de um direito real de aquisição, esse titular
beneficia de um direito potestativo de aquisição de poderes reais ou pessoais sobre
a coisa. Exemplo: contrato promessa com eficácia real ou direito de preferência de
natureza legal ou convencional com eficácia real, nestes casos o direito é oponível erga
omnes e o titular desse direito pode perseguir a coisa de modo a tornar-se titular de um
direito sobre essa coisa tendo prevalência sobre outros que tenham adquirido
posteriormente ou sem ser por direito real4. Portanto, o titular do direito real de
aquisição pode ir atrás da coisa para se tornar titular de um outro direito, que será em
principio um direito real de gozo.
Portanto, quando falamos de Direitos reais podemos nos estar a referir a três tipos de
direitos, no entanto vamos concentrar o nosso estudo nesta cadeira apenas na categoria dos
direitos reais de gozo5.
Generalidades
Dito isto, a partir daqui vamos procurar o que há de comum a estas várias categorias
para que possamos agrupa-las num grupo mais genérico que é o grupo dos direitos reais. Muito
do que vai ser dito aqui agora será desenvolvido posteriormente sendo que o que vai ser
explicado é a mero título introdutório.
Há normas do Código Civil, que não tendo sido expostas como sendo uma parte geral dos
direitos reais, pois como já referimos, não há parte geral dos direitos reais, no entanto
funcionam como parâmetro da generalidade dos direitos reais, o que nos vai permitir aliás fazer
um ensaio de uma parte geral dos direitos das coisas mais adiante neste caderno. Como exemplo
destas normas temos:
4 Ver matéria de Obrigações. O Incumprimento de um direito legal de preferência, tem que a forma de reacção
é a ação de preferência, esta que está disciplinada no artigo 1410º.
5 Direitos reais de aquisição já foram trabalhados em obrigações, agora em Cumprimento e Não Cumprimento
O artigo 1305º não é uma disposição generalizável, não é replicável em relação aos
outros direitos. A lei diz expressamente que o proprietário goza de modo pleno e exclusivo, daí
não ser replicável porque os direitos reais menores não são direitos em que o titular goze de
modo pleno e exclusivo das faculdades de uso, fruição e disposição da coisa.
Quando a lei fala em plenitude está a falar de algo que não é replicável nos demais
direitos reais, e não o é porque a lei também diz que esse direito é exclusivo. A exclusividade
significa que não se pressupõe nenhum outro direito para existir outro determinado direito. Ao
contrário do usufruto por exemplo, que também dá a possibilidade de usar plenamente uma
coisa de uma forma temporária, mas ao contrário do direito de propriedade não é um direito
exclusivo pois pressupõe que exista um direito de propriedade. Sem um direito de propriedade
não pode existir um direito de usufruto.
1)Execução específica
2)Acção de preferência
Nos direitos reais de garantia atua a sequela vendendo a coisa, para depois se poder
pagar em satisfação do meu crédito, vimos isto na cadeira de Direito das Obrigações no semestre
passado e veremos melhor este semestre na cadeira de Cumprimento e Não Cumprimento das
Obrigações.
6
Exemplo disso é o artigo 1346º. Iremos estudar adiante as limitações aos direitos reais (de gozo).
Já nos direitos reais de gozo, a sequela atua através da acção de reivindicação que está
prevista no artigo 1311º. Este artigo tem uma dupla vertente, o tribunal reconhece que a pessoa
é titular do direito de propriedade e ordena ao detentor da coisa a devolver a coisa ao
proprietário. A ação de reivindicação é imprescritível, mas tem limites. Pode acontecer que do
lado de lá esteja um sujeito que ilegitimamente se apossou sobre a coisa, mas que a veio a
adquirir a mesma por usucapião, iremos estudar isso adiante.
Portanto, é a partir do direito de propriedade que o sistema dos direitos reais de gozo é
construído e é construído a partir do princípio da tipicidade. Isto é, existe o direito de
propriedade e se as partes pretenderem constituírem direitos diferentes daqueles que a lei
prevê a partir do direito de propriedade construiu, então esses não podem ter mais do que
natureza obrigacional. Veremos isto melhor, mas uma coisa é então certa: os particulares não
podem construir direitos mais amplos do que de propriedade. O direito de propriedade é o
direito real rei e só poderá ter súbditos, isto é, só é possível haverem direitos menores ao de
propriedade nos direitos reais7.
Logo, se nós queremos encontrar algum sítio para encontrar normas de alcance geral
para os direitos reais de gozo é no direito de propriedade.
A distinção dos direitos reais dos direitos de crédito é feita com o recurso ao que já
falamos aqui anteriormente e ao que estudamos em várias cadeiras de Direito Civil nos anos
anteriores. Pegando na diferença dada pelo professor Henrique Antunes entre o poder direto e o
poder imediato podemos dizer que o direito de crédito não é um poder direto, o poder de
crédito é um direito relativo, não há oponibilidade erga omnes. Além disso, não há poder
imediato, o crédito depende sempre da colaboração de um terceiro. É um direito relativo, que
depende da prestação do colaborador.
Ao longo da história, houve orientações que tiveram uma perspectiva diferente, que
procuraram olhar para as duas realidades e ver pontos de contactos de forma a ser possível
dizer que ambos participariam das mesmas características. Haveria uma única realidade que
seria a dos direitos patrimoniais. A esta teorias chamam-se Teorias Monistas. Temos em
especial duas teorias monistas.
O Monismo realista de Gaudemet e o Monismo pessoalista Demogue. Em comum
têm o facto de ser monismos, isto é, ao comparar duas realidades chegarem à conclusão que
7Como já foi dito, aqui nesta cadeira trataremos dos direitos reais de gozo. Por isso ao referir-mos apenas
“direitos reais” estamos a referir os direitos reais de gozo. Ter por isso em atenção o contexto em que se usa a
expressão “direito/s real/is”.
estas não se distinguem. Portanto serão parte de uma única categoria. Ainda assim a perspectiva
dos autores e respectivos seguidores é diferente.
Gaudemet considera que não há distinção entre direitos reais e direitos de crédito pois
encontramos em ambos um poder imediato e direto sobre a coisa; o direito de crédito seria
considerado um direito real.
Demogue defende que não há distinção porque nos direitos de crédito encontramos
também uma obrigação universal de respeito que, de acordo com a doutrina
moderna/pessoalista, caracteriza também os direitos reais, há uma dimensão pessoalista nos
direitos de crédito que os aproxima dos direitos reais.
Ambas teorias monistas mas com perspetivas diferentes. Sobre estas teorias há a dizer
que, embora tenham mérito, não apresentam uma resposta correta para o problema da
distinção entre direitos de crédito e direitos reais, como hoje é assente na lei e doutrina e
jurisprudência.
No entanto é preciso dizer que a lei pode perturbar este raciocínio. Apesar da ideia de
que, nos direitos de crédito, não há inerência e sequela, há um instituto que permite descobrir os
direitos de crédito, na relação que eles têm com o património do devedor, essa ideia da
perseguição e da ligação. Trata-se da impugnação pauliana, presente nos artigos 610º e
seguintes. Em termos simples o instituto é um meio conservatório da garantia patrimonial. Serve
para conservar o património do devedor para que o credor possa satisfazer o seu crédito. Um
exemplo será quando A é credor de B e este começa a fazer doações a C,D e E pode acontecer que
B, devedor, na data prevista para o cumprimento não tenha património para satisfazer o crédito
de A. Assim a lei concebe um instituto que permite que o credor possa ir atrás dos bens que são
transferidos para garantir que, no momento da obrigação, o devedor tem património suficiente
para satisfazer o seu crédito. Poder-se-ia dizer que isso é o contrário do que se disse no início, e
em bom rigor até seria verdade. Mas se atentarmos ao regime da impugnação pauliana
verificamos que há fortes limitações e que não existe a sequela que identificamos nos
direitos reais. As limitações são: não se pode atacar qualquer ato do credor, tem de haver
certos requisitos (ao contrário do que se verifica no direito real, pois em principio pode sempre
ir-se atrás da coisa), estando esse requisitos previsto desde logo no artigo 610º:
a) Ser o crédito anterior ao ato ou, sendo posterior, ter sido o ato realizado dolosamente
com o fim de impedir a satisfação do direito do futuro credor;
Destaque para o último elemento da alínea b), pois o devedor pode fazer o que quiser
desde que tenha património suficiente para satisfazer o crédito. Não se pode impedir o devedor
de praticar atos, apenas se estes puserem em causa o crédito. Acrescenta-se ainda que mais
facilmente se admite mais facilmente uma impugnação pauliana de atos gratuitos (pois não
entra nada no património) do que atos onersos. Daí a lei entender acrescentar que, no caso dos
atos oneroso, é preciso haver má-fé de terceiro e devedor (612º nº1), enquanto, nos casos de
atos gratuitos, procede independentemente da estarem de boa-fé. Este direito caduca ao fim de 5
anos contados da data do ato impugnável, como diz o artigo 618º.
Estes vários factos demonstram que a relação credor-património não é igual à relação
detentor do direito real/coisa pois esta ultima relação é tão intensa que justifica a possibilidade
de ir atrás da coisa sem limitações, como estabelece para o crédito. Estas limitações existem
pois, em bom rigor, o objecto do direito do credor é a prestação e não o património, o objeto
central é a prestação. Há alguma relação entre a coisa genérica mas não é suficientemente forte
para que não se distinga o direito real do direito de crédito. Consideramos pois esta teoria
errada.
Chegamos à conclusão de que, embora haja traços comuns que levaram à construção de
teóricas monistas, nos direitos reais existe a inerência (o titular satisfaz o seu interesse
mediante o aproveitamento das utilidades dessa coisa) e sequela (acompanha-a onde quer que
ela esteja), por isso não se pode igualar aos direitos de crédito.
Convém dizer que há algumas figuras que têm relevância e que permitem também
relacionar os direitos reais com os direitos de crédito: obrigações reais, ónus reais e
pretensões reais. De comum a estas figuras existe a relação entre direitos reais e direitos de
crédito.
Quando falo em obrigações e ónus reais falo do seguinte: o legislador determina que em
razão da titularidade de certo direto real esse titular tenha deveres de prestar. É muito simples,
aqui a relação entre direitos reais e direitos de crédito é o facto de alguém ser titular de um
direito real determina por isso que esse tem deveres de prestar determinada conduta em
benefício de terceiro. O direito real determina o dever de prestar que nasce na esfera
jurídica do próprio titular do direito real. Por exemplo, se A é comproprietário ele tem, por
isso mesmo, deveres de prestar. Aqui o titular do direito real é um devedor da prestação. O
aspeto que importa destacar em relação a estas obrigações é que estas nascem da titularidade do
direito real, que está ligado à coisa, e se isso é assim o direito está onde a coisa está tudo o que
estiver ligado a esse direito está também ligado à coisa, o que significa que essas obrigações
estão também ligadas à coisas. Por exemplo, se A empresta a B uma bicicleta. Se A vender a C
este tem de respeitar o contrato de comodato anteriormente feito? Classicamente dir-se-á que
não pois o seu direito prevalece, o que significa que a obrigação não acompanhou a transmissão
da titularidade não acompanhou o direito real (o comodato não acompanhou a transmissão)
pois as obrigações são estabelecidas na relação entre duas pessoas e não acompanham o direito
que justificou esse mesmo dever. No caso das obrigações e ónus reais são obrigações não
autónomas, que nascem da titularidade de um direito real, e se assim é é normal que participem
de uma caraterística especial: são obrigações ambulatórias, ou seja, acompanham a
transmissão do direito real.
8 Nota: quando falamos em obrigações reais é também costume dizer obrigações propter rem (em razão da
titularidade da coisa)
Pretensões Reais
Quando falamos em pretensões reais também estamos a falar de uma relação entre
direitos reais e direitos de crédito na medida em que, em razão da titularidade de um direito
real, vai nascer um dever de prestar na esfera jurídica de um terceiro. Aqui o titular do direito
real é credor. O que acontece é que nós apuramos a existência de uma violação de um direito
real. Dessa violação resulta o “ ter de responder” ou “estar obrigado para com o titular” é a dita
pretensão real, que se traduz em, por exemplo, exigir a restituição da coisa através de uma ação
de reivindicação. Pela sua violação o titular do direito real tornou-se também credor da
recomposição da situação anterior e isso pode traduzir-se numa ação de reivindicação, numa
indemnização. São também direitos de crédito associados a direitos reais mas aqui beneficiam o
próprio titular do direito real, que passa a ser credor em razão da violação do seu direito real. É
a reação que existe à interferência do seu direito
Apesar de vermos que há uma distinção entre direitos reais e direitos de crédito estes
andam “de mãos dadas”, desde logo porque são direitos patrimoniais mas também pois o direito
real pode justificar a existência de direitos de credito em benefício de terceiros (ónus e
obrigações reais) ou do próprio (pretensões reais) quando há violação do direito de crédito.
Características Tendenciais
As características tendenciais, que como já referimos chamam-se assim pois não existem
sempre nos direitos reais são:
1) A afetação total da coisa - queremos dizer que o direito real respeita à coisa e aos
seus elementos componentes ou partes integrantes e abrange todas as coisas que com aquela se
vierem a unir ou que nela se vierem a incorporar. Esta característica é apenas tendencial.
O exemplo mais comum de uma excepção é a propriedade horizontal. Aqui acontece que
o condómino é titular exclusivo da habitação e comproprietário das partes comuns. O titulo
constitutivo pode afetar algumas partes comuns a certos condóminos, sendo que o exemplo
clássico são os terraços de cobertura. Embora seja parte comum está afetada a uso exclusivo
daquele condómino, significando que há parte da coisa que não pode ser utilizada pelo titular do
direto real. Aqui o direito real não afeta a totalidade da coisa
Outro exemplo é a hipoteca, a lei permite hipotecar separadamente partes de um prédio
sucetiveis de propriedade autónoma sem perda da sua identidade imobiliária como resulta do
artigo 688º nº2. Outros exemplos são: o direito de superfície, os direitos de uso e de habitação.
2) A permanência - podemos distinguir dois sentidos: perpetuidade, não se extinguem
pelo decurso do tempo nem por nenhum evento a que a lei associasse a extinção do direito.
Neste sentido direito como o usufruto, a habitação e a superfície podem ser ou são
necessariamente temporários (não há usufruto para além da vida do usufrutuário), e aqui vê-se
logo que a permanência como perpetuidade é característica tendencial. O outro sentido é de que
os direitos reais não se extinguem pelo seu não exercício. Quando alguém é titular de um
direito de crédito e o exerce este extingue-se, nos direitos reais não é assim. Se usar ou fruir não
estou a extinguir o meu direito. Mas a verdade é que se olharmos para os direitos reais de
garantia ou direitos reais de aquisição esses extinguem-se pelo seu exercício, pois estes estão lá
para garantir ao credor a satisfação do seu crédito com preferência sobre os outros credores. O
direito real de garantia vai ser exercido através da venda executiva, e se vende a coisa esse
extingue-se pois o credor é satisfeito. Embora se pode dizer que os direitos reais de gozo não se
extinguem pelo seu não exercício o mesmo não se pode dizer dos direitos reais de aquisição e de
garantia. Daí a permanência ser tendencial.
1) A Inerência – A inerência é uma característica dos direitos reais que permite ao seu
titular a satisfação de interesses determinados pelo aproveitamento imediato das utilidades de
uma coisa corpórea. Ou seja o titular do direito pode satisfazer interesses determinados, sem
que estes sejam intermediados por ninguém, das utilidades de uma coisa corpórea. O direito está
ligado à coisa, e a inerência é isso mesmo, é a razão pela qual o ordenamento jurídico teve de
construir um sistema que permitisse ao titular defender o seu direito contra intervenções
alheias podendo por isso mesmo exercer-se sempre sobre a coisa que é seu objecto. Daí que a
segunda característica dos direitos reais que vamos referir seja a manifestação dinâmica da
inerência, a chamada sequela.
2) A Sequela – A sequela traduz-se na tutela dada pelo ordenamento jurídico nos termos
da qual o titular pode acompanhar a coisa onde quer que esta se encontre. Isto faz com que a
sequela tenha traduções diferentes consoante o direito real em causa, por exemplo nos direitos
reais de aquisição a acção de preferência e a execução específica são as formas de o titular
poder acompanhar a coisa que é objecto do seu direito, já por exemplo nos direitos reais de
garantia a sequela manifesta-se através da venda executiva9. No fundo, o ordenamento jurídico
dá aos titulares de direitos reais outros direitos reais ou direitos de crédito de modo a que este
possa acompanhar a sua coisa de forma potestativa.
Nos direitos reais de gozo a sequela manifesta-se através da acção de revendição,
regulada nos artigo 1311º e seguintes, e este tipo de acção é a expressão mais visível e
relevante da sequela nos direitos reais pois permite ao titular obter a restituição daquilo que lhe
pertence. Apesar disto há outras formas da sequela fazer valer os direitos reais de gozo como os
meios de defesa possessórios, os meios de defesa possessórios são instrumentos previstos na
lei que têm muita relevância prática pois não obrigam à demonstração do direito de
propriedade correspondente permitindo a restituição da coisa mais facilmente. Neste
ponto do estudo interessa fundamentalmente saber que a lei prevê a respeito da posse nos
artigos 1276º e seguintes três meios de defesa: 1) Acção de Prevenção 2) Acção de
Manutenção 3) Acção de Restituição. Pelos nomes das acções enumeradas percebemos desde
logo que são meios que pretende defender um controlo material da coisa que já está
estabelecido. Por exemplo se tenho um terreno que possuo e cada vez que vou lá apanhar
batatas o meu vizinho me atira pedras posso propor uma acção de manutenção que pretende
parar com o comportamento do meu vizinho de modo a que este pare de atirar pedras, ou ainda
uma acção de restituição se chegar ao ponto de já não conseguir sequer entrar no terreno
ficando privado da coisa.10
No entanto, a sequela não é uma característica absoluta, isto é não é ilimitada. Não se
pode dizer sem mais que o titular do direito real possa sempre acompanhar a coisa onde quer
que ela se encontre sem que a lei tenha previsto limitações para esse efeito, ou seja, a sequela
também tem limitações. Estas limitações são diversas mas temos desde já quatro:
b) Aquisição Registal
Sendo que falaremos de cada uma destas limitações individualmente mais tarde, vamos
agora focar-nos na quarta limitação dando apenas uma breve introdução às restantes.
13 Para compreender agora melhor, agora de forma simples, a diferença entra uma acção de revindicação e
uma acção de restituição da posse é que se eu propuser uma acção de revindicação para a tutela da
propriedade ou eu beneficio de uma presunção do direito de propriedade ou vou ter de fazer prova da
minha propriedade o que é difícil de provar, chamada até de “diabolica probacio”, é preciso fazer prova de
uma aquisição originária (que não esteja viciada por nenhum vicio anterior) designadamente esta prova pode
ser feita por aquisição originária pelo usucapião que será a hipótese mais fácil dentro desta prova difícil. Já na
acção de restituição da posse, apesar de não se reconhecer o direito de propriedade mas apenas a posse,
(que também é no fundo o que está aqui em causa pois o objectivo prático é que o objecto retorne ao meu
controlo material, e a posse é conseguida quer pela acção de revindicação quer pela acção de restituição da
posse) o cenário é mais simples, pois só é preciso provar que eu era a pessoa que controlava materialmente a
coisa e não que era proprietário, só preciso de provar que foi esbulhado.
14
Ver artigo 1281º nº2
15 Nos direitos reais de garantia, temos também a regra da prioridade temporal, e, por isso, se o legislador
não disser nada, o direito que se constituiu em primeiro lugar prevalece sobre o direito que se constituiu
em segundo lugar. Mas aqui, prevalecer não significa necessariamente uma condição de existência, como
acontece nos direitos reais de gozo, mas é sim uma prioridade com uma condição de exercício.
Portanto, a hipoteca, que se constituiu em primeiro lugar, não afasta a hipoteca, que se constituiu em
segundo lugar, mas a primeira é exercida em primeiro lugar. Mas, por vezes, é o próprio legislador a dizer
tiver mais data, ou seja, que mais cedo se tenha constituído.
Há discussões doutrinais teóricas sobre esta característica, Luís Pinto Coelho diz que não
se pode falar em prevalência ou prioridade de um direito contra o outro porque na realidade
não há outro direito constituído, ou pelo menos não o poderá haver em bom rigor, quando já
existe um direito sobre essa coisa. Para este professor só existirá prevalência num campo
específico dos direitos reais, os direitos reais de garantia. Por exemplo, nas hipotecas é
perfeitamente possível A hipotecar a casa a B e a C e o direito de B e C coexistir, simplesmente
quem terá prioridade caso os dois usem a hipoteca será o credor que primeiro tenha constituído
o seu direito com o devedor A. Assim, se B tiver constituído um direito sobre a hipoteca de A
antes de C, este tem prioridade sobre C, mas o direito de C existe na mesma para a visão de Luís
Pinto Coelho, pois C continua a ter prevalência sobre os outros credores ou sobre futuros
credores, não há por isso um “não direito” como acontece nos outros casos.
O Professor Henrique Antunes dá no entanto razão à visão de Mota Pinto. Diz Mota Pinto
que em bom rigor há que distinguir na prevalência dois tipos de prevalência (ou
prioridade): uma é prevalência como condição da existência de um direito e outra é
prevalência como condição de exercício. Neste ultimo caso está Carlos Alberto Mota Pinto a
falar naquilo que Pinto Coelho refere quando fala sobre os direitos reais de garantia, primeiro
tem prevalência o direito que se constituiu mais cedo e só depois os outros por ordem
cronológica. A divergência entre Mota Pinto e Pinto Coelho está naquilo que o primeiro chama
de prevalência como condição de existência do direito, porque enquanto Pinto Coelho diz que
não há prevalência nem deixa de haver porque na verdade há é um “não direito” Mota Pinto
pensa que só se pode falar num “não direito” depois de ter feito actuar o primeiro direito. No
fundo Mota Pinto diz que Coelho Pinto só pode julgar sobre a existência de um direito ou “não
direito” depois de ter usado regras de prevalência, às quais chama para esses casos de
prevalência das condições de existência.
A segunda temática sobre esta característica da prevalência é a compatibilidade, pois
há direitos reais em que a questão da prevalência nem se deve por pois os direitos são
compatíveis entre si, como é o caso do direito usufruto vs. direito de (nua) propriedade. É
preciso que haja um conflito entre os direitos em questão para que a definição de preferência
entre eles seja sequer falada.
que, independentemente da constituição dos direitos reais de garantia, pela natureza dos direitos reais de
garantia, há um que prevalece sobre o outro. Temos, como norma exemplificativa, o artigo 759º nº2, que
trata do conflito entre um direito de retenção e uma hipoteca, sendo que a lei diz que prevalece o direito
de retenção.
estará já em vantagem por ter esta presunção causada pela publicidade espontânea. O mesmo
acontece no registo, o artigo 7º do CRP, dá esta presunção de titularidade do direito de
propriedade na publicidade provocada.
Em termos processuais/substantivos isto é muito importante porque quem quiser
provar que tem o direito de propriedade terá o ónus, como já vimos em certos casos complicado,
de afastar a presunção.
No caso de a publicidade causada pela posse ir contra a publicidade provocada
pelo registo, no conflito de presunções, temos a regra do 1268º que diz a presunção
proveniente do registo é mais forte prevalecendo sobre a da posse, desde que o registo seja
anterior à data do inico da posse. Se forem duas presunções nascidas na mesma data
prevalece a presunção possessória.
A publicidade será um grande tema da nossa cadeira, em especial o funcionamento do
artigo 5º do CRP com o 17º do mesmo código e com o 291º do Código Civil, bem como em
respeito a matéria da posse. De seguida iremos pois tratar das nuances do registo, isto é, da
publicidade provocada.
O Registo
Efeitos da Publicidade
Efeito Constitutivo
16
Como iremos ver de seguida ambos os tipos de publicidade têm vários efeitos sendo que têm efeitos
considerados “principais”. Mas nem na publicidade provocada nem na espontânea temos o efeito constitutivo
como o principal efeito.
constitutivo relativamente ao direito que nasce. A posse tem um efeito constitutivo
através do instituto da usucapião.
Haveria ainda um terceiro plano em que se podia falar de publicidade espontânea com
efeito constitutivo, era o caso de se no nosso ordenamento jurídico acolhêssemos o princípio
“Posse Vale Título”. Se assim fosse, sempre que ocorresse a situação que está descrita no artigo
1301º do Código Civil como vimos anteriormente.
Efeito Enunciativo
Efeito principal da publicidade espontânea que é um efeito que também está presente
na publicidade provocada embora de forma excepcional. O principal efeito da posse é o
enunciativo, quando eu exerço posse estou a declarar aos outros que tenho um direito sobre
uma coisa, mas estou apenas a declarar que sou titular de um direito.
Efeito Consolidativo
Principal efeito da publicidade provocada, esta vem consolidar, tornar mais sólido,
aperfeiçoar um direito. Isto percebe-se pelo artigo 5º nº1 do CRP de onde se extrai que um
facto sujeito a registo que não tenha sido registado não vai produzir efeitos contra terceiros e
portanto padece de uma incompletude.
Se A vende a B e B não regista e posteriormente A vende a C e C regista, B não vai poder
opor o seu direito a A apesar de pelo plano do direito substantivo a propriedade já se ter
transmitido para B por força do artigo 408º. No fundo é este efeito de tornar um direito mais
forte que já vimos várias vezes que é o efeito consolidativo, B ao não registar não consolidou o
seu direito e caso tivesse registado esse registo teria então o efeito consolidativo no seu direito e
B poderia então opor-se a C.
17
Figura que iremos estudar, mas por agora ficam as breves notas: as servidões são direitas reais de gozo, de
onde se distinguem as servidões aparentes e as servidões não aparentes, sendo que as aparentes são aquelas
que se distinguem por serem públicas e notórias para os outros.
Efeito Aquisitivo
Este efeito não se verifica na publicidade espontânea e tal faz sentido uma vez que não
há hipótese de operar também o efeito consolidativo que é necessário ter lugar para que se dê o
efeito aquisitivo.
Sem prejuízo do estudo que vamos fazer na usucapião onde a posse tem um efeito
constitutivo vamos agora olhar para os efeitos aquisitivo e consolidativo da publicidade
provocada no registo predial dada a importância prática desta temática.
O contraste que vamos agora estudar entre os dois efeitos é feito à luz de três normas:
artigo 5º e artigo 17º nº2 do CRP e artigo 291º do Código Civil.
A primeira restrição que temos que fazer no artigo 5º é que quando a lei neste artigo diz
“terceiros” tem de ser terceiros interessados, ou seja, terceiros que invoquem uma situação
jurídica que é incompatível com a situação jurídica que não foi registada. Por exemplo A é
proprietário de um apertamento mas não o registou após aquisição e arrendou o apertamento a
B, supondo agora que A por razões de incumprimento do contrato pretende despejar B, B não
pode usar o facto de A não ter registado como defesa, isto é assim porque o registo da
propriedade nada tem a ver com o arrendamento, B aqui não é um terceiro aos olhos deste
artigo, desde logo porque a situação de B não é incompatível com a situação não registada.
Mas, além disso, como já temos vindo a referir não basta que o terceiro esteja apenas
interessado e numa situação incompatível, é preciso ainda ter registado pois se isso não
acontecer não faz sentido falar na aplicação do artigo 5º nº1.
Vamos supor agora outra relação em que A tinha uma dívida com C
e não a pagou. C, como já sabemos, tem o património do devedor como
garantia geral, e vamos supor que o que está no património do devedor é
um terreno que A vendeu a B, pois B não registou tal terreno, e por isso
quando for promovido o registo da penhora19, C regista sobre os bens que
existem no património de A que inclui o terreno vendido a B, o que pode
acontecer pois no registo não se encontrará a propriedade em nome de B pois este não a
registou. B verá um bem que é seu a ser penhorado. A questão que se coloca é se se deverá
aplicar a concepção restrita de “terceiros” e consequentemente o artigo 5º nestas situações que
não são relações “triangulares” e é uma questão muito debatida na doutrina e jurisprudência,
havendo até muita jurisprudência contraditória.
Neste caso da penhora temos então a opção de aplicar a concepção restrita de
“terceiro” ou não, e se escolhermos essa opção, “terceiros” são apenas aqueles que
adquirem a coisa de um autor comum e por isso quem ficará com a coisa será B pois C não
é terceiro e não pode opor o seu registo a B ficando C prejudicado. Já se seguirmos a opção de
não aceitar apenas a concepção restrita mas aceitar uma concepção mais ampla de
“terceiro” incluindo então C aí este já ficaria com a coisa pois teríamos duas situações
jurídicas incompatíveis entre si e C tinha registado e B não.
O que se extrai deste exemplo da penhora é que no artigo 5º para além do facto
registado, adquirido em boa fé e a título oneroso temos de determinar com que “terceiro”
estamos a lidar, com um de uma concepção ampla ou de uma concepção restrita, clássica
defendida por exemplo por Manuel de Andrade.
Por esta matéria ser alvo de tantas opiniões divergentes o Supremo Tribunal de Justiça
veio proferir um acórdão de uniformização de jurisprudência, o acórdão 15/97 onde vai ser
Foi então que logo dois anos depois veio outro acórdão do Supremo mudar o rumo da
questão, o acórdão 3/99. Diz o acórdão, adoptando a concepção restrita de “terceiro”, são
“para efeitos do disposto no Código do Registo Predial são os adquirentes de boa fé de um
mesmo transmitente comum21”.
O legislador reagiu a este acórdão e no mesmo ano veio consagrar um preceito que
parece acolher o conceito restrito de “terceiros”, o artigo 5º nº4 protegendo os titulares do
direito22 contra os credores que tenham registado uma penhora.
20 Desde que, aplicando a doutrina de Lisboa, tivesse também de boa fé. (Venda judicial só implica título
oneroso se o crédito que B devia a C tivesse sido adquirido a título oneroso, pois foi em função desse crédito
que houve lugar à penhora.)
21
Temos aqui então de ter uma relação “triangular”.
22
Neste caso da penhora o B.
sujeito que tem o dever de registar possa garantir que assim aconteça a 100%, pois na realidade
quem vai realizar o registo é o advogado/notário que autentica o documento particular. Isto
quer dizer que em bom rigor prático quem tem a obrigatoriedade de registar é o
notário/advogado e ficamos numa situação quase esquizofrénica de desconfiança, pois se o
notário/advogado não o fizerem a tempo e entretanto outro sujeito registar esse bem teremos
aqui um problema grave de desconfiança no ordenamento, no caso dado da penhora B ficaria
nas mãos do notário/advogado que poderia por desleixo não registar antes de C e B ficaria a
perder.
Para ultrapassar isto, Henrique Antunes dá a solução de que o ordenamento vai ter de
dar importância à publicidade espontânea mediante a posse. No caso da penhora, se B tem
o controlo material da coisa, pode usar o bem e dar a conhecer a terceiros, por isso isto poderá
ser um meio de defesa contra C, ficará sobre o efeito da presunção possessória e que como já
vimos anteriormente quando contemporânea ao registo é até mais forte que a presunção
registal. Assim Henrique Antunes acha que se deve proteger B apesar de seguir o conceito amplo
de terceiro pois se este não pode publicitar através do registo (porque o advogado não registou a
tempo) pode publicitar através da posse.
Além disto, em termos práticos se C quiser registar além ter de ir ao Registo Predial para
o fazer vai ter também de ir ao local, ir ao bem imóvel e lá vai verificar que lá está alguém, e se C
não se abastem de comprar depois disso podemos entender que está em má fé. Por estar em má
fé podemos dizer que o terceiro não adquire pois o artigo 5º como, já vimos, só funciona se C
tiver adquirido de boa fé.
Recapitulando:
Boa fé – Alguma doutrina em Coimbra refere que introduzir a boa fé como requisito de
tutela do terceiro, é trazer um fator de incerteza à ordem jurídica. No entanto, na opinião do
Professor Henrique Sousa Antunes isto é respondível sobre duas perspetivas:
1º- Não deve haver um prémio a quem age de forma consciente violando um direito de
terceiro, daí a boa fé dever ser um requisito de tutela do terceiro
2º - Não há assim tanta incerteza porque se havia posse anterior ao registo, nós temos aí
a possibilidade de fundar uma presunção inilidível de má fé, que torna as coisas mais
certas para o juiz.23 Se existir uma posse anterior a um registo de terceiro, para o este
professor há uma presunção inilidível de má fé, que faz com que a tutela do terceiro não
ocorra. A publicidade espontânea, a publicidade fundada na posse pelo titular do direito,
veio excluir a existência da boa fé de que depende a tutela do terceiro. Aliás, na prática,
ao registar, tem de ser ir ao terreno e ao ir-se a terreno se houvesse posse veria-se que
estava lá alguém tomando conhecimento da situação só se poderia estar de má fé.
Título oneroso - Também alguma doutrina põe em causa a aquisição a título oneroso,
porque também não está no artigo 5º do CRP, está apenas no artigo 291º do CC e 17º nº2 do
CRP. Como é que se justificará então?
Ex: A vendeu a B, e depois A doou a C, B não registou.
Esta doutrina diz que a aquisição a título oneroso não é necessária para a tutela do
terceiro, porque embora B tendo pago pela aquisição do seu direito e C tenha recebido em
doação C merece proteção, porque B tinha o ónus de registar e não o fez. Isto é, a ideia de que o
terceiro pudesse ser protegido apesar de ter sido uma aquisição gratuita, está casada com a ideia
de que o titular do direito tem o ónus de registar e não registou.
Portanto, embora um terceiro receba alguma coisa sem dar nada em contrapartida, o que
acontece é que esse terceiro deve ser protegido em detrimento do titular do direito que deu
23
Ver referencias ao efeito presuntivos que já aqui falámos
alguma coisa para adquirir o direito, porque esse tinha a possibilidade de ter registado e não
registou.
Em Suma:
1º- Nós temos uma sucessão jurisprudencial, que conduziu o legislador em 99 a adotar a
conceção restrita de terceiros. Porém a obrigatoriedade registal, deve levar-nos a interpretar o
artigo 5º nº4 não no sentido da concepção restrita, mas sim no da concepção ampla.
2º - Temos de proteger o titular do direito em virtude dos termos em que a
obrigatoriedade registal foi consagrada e como é que protegemos? Exigindo ao terceiro que
tenha adquirido de boa-fé e a título oneroso. E na boa fé, joga um papel fundamental a existência
ou não, antes do registo, de uma posse do titular do direito. Se essa posse existir haverá má fé do
terceiro.
2º- Objecto do negócio jurídico tem de respeitar a bens imoveis, ou bens moveis sujeitos
a registo
Substancialmente é o mesmo que no artigo 17º nº2, porque temos um titular do direito
(A) que de acordo com as regras do direito substantivo continuaria titular do direito porque o
negócio jurídico que celebrou é anulável ou nulo.
O 291º é uma norma de inoponibilidade da invalidade a terceiros de boa fé. Isto significa,
que o A não pode opor a invalidade do negócio jurídico obtendo os efeitos da retroactividade da
invalidade, a terceiros de boa fé. Se eu tiver um terceiro que regista antes do registo de
invalidade do negócio entre A e B, adquiriu a título oneroso e de boa fé. Prevalece a posição
jurídica de C. Parece que as condições de tutela do terceiro no 17º nº2, com interpretação
baseada no elemento sistemático e 291º são sempre as mesmas: Registo, titulo oneroso e boa fé.
Embora as condições de aplicação sejam distintas:
O 291 nº2º diz anda que a acção de declaração de nulidade, ou de anulação do negócio
jurídico, for proposta nos três anos posteriores à conclusão do negocio, mesmo que o terceiro
tenha registado, adquirido a titulo oneroso e de boa fé, a posição jurídica que vai prevalecer é a
de A (titular originário), ou seja o terceiro não prevalece.
Isto não é assim no 17ºnº2 onde temos o terceiro mais protegido, porque a aquisição
dele é imediata. Não tem de esperar três anos anos, é uma aquisição que não está dependente de
nenhum prazo em que a possa perder como no 291º. A situação de A é mais desprotegida pelo
17º nº2.
No artigo 17º nº2 temos casos em que há título falso, não há nenhuma vontade de A
nem sequer uma vontade viciada, já no 291º a declaração de nulidade é fundada na falta de
forma ou em vícios de A. Isto levanta questões, pois os vícios são mais graves no previsto
pelo 17ºnº2 mas é no 17º nº2 que o terceiro será mais protegido, o que parece
contraditório.
A doutrina pronuncia-se sobre a questão:
O Professor Oliveira Ascensão diz que o artigo 291º não exige no seu texto nenhum
registo de B (intermediário). Isto é, C poderia adquirir de um B que não beneficiaria de um
registo. No entanto, só tem razão de ser proteger um terceiro, quando ele beneficia da
confiança que o registo anterior lhe dá, não podemos proteger C, que foi adquirir de B que
não tem registo em seu favor. Nem poderíamos falar de boa fé do C, se não há registo a favor
de B, porque ou foi ao registo e sabe que não registo a favor de B ou nem se deu ao trabalho de o
fazer, não cumpriu aquilo que é um mínimo. Depois aplica o prazo de três anos ao 17º nº2.
Assim o Professor Oliveira Ascensão diz duas coisas que são importantes:
2º - Defende que o prazo de 3 anos que vem estabelecido no 291º nº2, é aplicável
analogicamente por maioria de razão ao 17 nº2, porque se o vício no 17º nº2 é mais
grave, por maioria de razão então o terceiro tem de esperar três anos para poder
adquirir sem que o titular originário lhe possa “retirar” a coisa.
Depois temos o Professor Carvalho Fernandes que defende que no artigo 291º não
tem de existir registo intermédio, e o facto de não exigir faz com que tenhamos nesse artigo
um negócio jurídico nulo ou anulável.
O Professor Carvalho Fernandes defende que os três anos estão lá, precisamente porque
o terceiro adquiriu a quem não tem registo a seu favor, não pode invocar a seu benefício a
confiança que o registo lhe daria, por isso os três anos estariam lá para tornar mais exigente a
aquisição do terceiro que fundou essa aquisição em coisa diversa da existência de um
registo.
Para Carvalho Fernandes as situações em que o 291º se aplica, são as situações em que
não há um registo intermédio, assim se justificando a espera de três anos.
Mas, isto cria um problema, seguindo Carvalho Fernandes exemplo: imaginando que B
registou, o 291º não exige registo, mas também não afasta a existência do registo. Como o B
registou, o Professor Carvalho Fernandes já não pode dizer que os três anos são razoáveis,
pois para ele os três anos só se aplicam na falta de registo.
1º - Artigo 17º nº2 aplica-se quer às situações de invalidade registal isto é às do artigo
16º do CRP, quer às situações de invalidade substantiva em que existe um registo
intermédio.
Assim se A com negócio jurídico nulo ou anulável transmite a B, que regista a aquisição e
depois esse transmite a C, que regista também a aquisição. Nesta hipótese, que é a única que o
Professor Oliveira Ascensão admite no artigo 291º, para Menezes Cordeiro e Carvalho
Fernandes esta situação é regida não pelo 291º, mas sim pelo 17º nº2 do CRP.
O Professor Henrique Sousa Antunes observa que não se encontra referência à
situação de A, que é o verdadeiro titular do direito em nenhuma destas doutrinas. Ninguém fala
se o A registou ou não. Ou seja, que ninguém olha para o “início” da cadeia de suposta
transmissão.
Se A registou ao fazê-lo consolidou o seu direito, tornou o seu direito plenamente
oponível a qualquer terceiro. Não há aplicação do 17º nº2, e não há aquisição do terceiro. Não
há inoponibilidade do direito, esse é plenamente oponível ainda que o terceiro apresente as
condições que o 17º nº2 exige.
Não faz sentido, dizer-se que o 17º nº2 se aplica, sem mais às hipóteses em que A
nada fez e registou, mas aparece um título falso de transmissão a favor de B, que depois regista,
e depois B aliena a C. Neste tipo de hipóteses, para Sousa Antunes, quem é protegido é A, apesar
de C reunir os 3 requisitos para ser protegido: titulo oneroso, registo e boa fé.
Quanto ao artigo 291º o Professor defende que este artigo pressupõe um registo
intermédio, discordando do Professor Carvalho Fernandes e Menezes Cordeiro. Para Sousa
Antunes o artigo 291º aplica-se às situações em que há um negócio jurídico nulo ou
anulável, há um registo intermédio, e depois há um registo de boa fé, oneroso tendo em
conta o prazo de três anos
Qual a diferença entre a situação do 17º nº2 em que A registou e, portanto, o terceiro não
é protegido e a situação do 291º em que A registou, e, no entanto, o terceiro é protegido nos
termos em que o 291º permite? É que nas hipóteses do 291º, o A tem vontade. O A quer
transmitir o seu direito, este A fez algo para por em causa o seu direito, alienou-o. Mesmo que o
vício fosse incapacidade acidental, há uma vontade mínima. Se se aplicar o 291º a esta
hipótese vamos tutelar o terceiro, mas atenção, o titular do direito vai ter em seu benefício os
três anos.
1º– o artigo 17º nº2 só se pode aplicar quando A25 (o titular do direito) não
registou, quando A não operou o seu efeito consolidativo. Só se aplica também quando
há nulidade do registo (que B faz), e quando temos registo do terceiro a título oneroso e
de boa fé.
4º - Se A não tiver registado, aplica-se o 17º nº2 que vai ter de ser aplicável
analogicamente por maioria de razão, às hipóteses em que havendo um negócio jurídico
nulo ou anulável A não registou e ainda por cima participou num negócio com B. Por
essa razão não deve beneficiar dos três anos, ele nem consolidou o seu direito.
A diferença do artigo 17º nº2 e do 291º é que o 291º mesmo que o A tenha registado o
terceiro pode adquirir. No 17º nº2, se o A registou o terceiro não adquire. Mas, para
Henrique Antunes se tivermos perante um caso do 291º e o A não tiver registado, o
regime que aplico é do 17º nº2.
25Estamos a usar o exemplo A-»B-»C, mas claro que se generaliza o que está ser dito: titular-»intermediário-
»terceiro
Qual a razão para a posição do professor Carvalho Fernandes e Menezes Cordeiro não
ser a melhor? Os professores Carvalho Fernandes e Menezes Cordeiro estão a por em causa o
principio da legitimação registal e o principio do trato sucessivo. Não pode haver negócio
jurídico celebrado entre B e C, nem pode haver registo a favor de C, se não houver registo a favor
de B.
Mas, esta mesma crítica pode ser feita à tese do Professor Henrique Sousa Antunes, pois,
o professor esta a sugerir que o 17º nº2 se possa aplicar a um caso onde tenho o A que não
registou e o B consegue por títulos falsos registar, e depois alienar ao terceiro que regista. No
entanto aqui é menos criticável porque há títulos falsos. Portanto, entre A e B o título foi
falsificado, por isso haveria uma impossibilidade de acordo com o princípio do trato sucessivo
(não havia impossibilidade com o principio da legitimação registal). Assim a posição de
Henrique Antunes é menos criticável pois não mete tanto em causa a legitimação registal pois
esta está a ser, nos casos em que aplica o 17º nº2, aldrabada por alguém.
Coloca-se agora a questão de saber o que acontece ao direito do titular nas relações
triangulares quando há dupla alienação. Isto o que acontece quando se aplica o artigo 5º do
CRP. Exemplo da dupla alienação26: C registou, titulo oneroso, boa fé.
A dúvida que se coloca, é se o C for protegido pelo artigo 5º, o que é
que acontece à situação jurídica de B? Temos várias posições na
doutrina:
O Professor Oliveira Ascensão defende que quando o terceiro (C) é protegido em face
das regras do registo predial, o titular do direito (B)27 vê o seu direito extinguir-se porque
opera um facto resolutivo desse direito. Se C voltasse a vender a A ou alienasse a um terceiro
que está de má fé, o B podia dizer que já não há razões para a tutela do registo predial, só
que segundo Oliveira Ascensão B não pode fazer isto porque o seu direito extinguiu-se.
Os Professores Menezes Cordeiro e Henrique Sousa Antunes falam num direito real
inoponível. Dizem que há dois direitos, o de C e B. Só que o de B é inoponível.
26 Relação triangular
27 Estamos a assumir que segundo o plano substantivo o direito passou de A para B legitimamente e
eficazmente. Assim o titular é agora B no plano substantivo.
jurídica registal considerava para que o terceiro fosse protegido. Portanto, a diferença entre a
posição do Professor Oliveira Ascensão e estas últimas é:
Há ainda a dizer que Menezes Cordeiro dá quatro exemplos em que para ele há
revivescência do direito de A:
4) renúncia do direito por parte do terceiro a quem o registo dava protecção jurídica
28
Aqui já estamos a falar do plano possessório, não é a temática aqui, porque ai o direito de B extingue-se sem
dúvida.
Tipicidade
Encontra se assente no artigo 1306º do Código Civil. A sua letra não é isenta de
dúvidas. A sua epígrafe “numerus clausus” denota que estamos aqui no âmbito de uma categoria
fechada. Este artigo vem fechar as categorias de Direitos Reais que são admissíveis na ordem
jurídica Portuguesa, as partes não têm por isso a liberdade para criar Direito Reais
diferentes daqueles que o legislador prevê em qualquer diploma. O legislador reserva
para si a atribuição de eficácia real privando os particulares dessa escolha.
Este artigo 1306º diz então que a constituição com carácter real de direitos não
previstos na lei não é permitida, ficando esses com natureza obrigacional se forem criados. O
artigo fala em restrições e figuras parcelares do Direito, sendo que estabelece na parte final esta
conversão legal, dizendo que se as partes tiverem criado por negócio jurídico uma restrição
que não esteja nestas condições29, essa figura que tenha sido criada pelas partes por negócio
jurídico terá carácter obrigacional e não real. É uma conversão legal por isso não tem de
obedecer aos pressupostos da conversão comum do 293º.
Este artigo é também utilizado como argumento para defender a eficácia relativa dos
Direitos de crédito30, dizendo que aqui está a demonstração de que a natureza obrigacional é
diversa da natureza real.
Esta conversão legal é uma primeira fonte do problema que vamos tratar porque
refere-se apenas a restrições, sendo que a primeira parte da norma se refere a dois tipos de
criação: 1)às figuras parcelares, 2) às restrições.
O problema que se coloca agora em primeiro lugar é então se esta conversão legal se
aplicará quer à restrição quer à figura parcelar do Direito, pois na segunda parte da norma
lê-se “toda a restrição resultante do negócio jurídico, que não esteja nestas condições tem
natureza obrigacional” e não “toda a restrição ou figura parcelar resultante do negócio jurídico,
que não esteja nestas condições tem natureza obrigacional”.
Figura Parcelar
Uma figura parcelar significa dividir e dar poderes idênticos a pessoas. Estamos a pensar
em figuras que por referência ao direito de propriedade, dão ao seu titular poderes idênticos aos
do proprietário. Um exemplo histórico é da enfiteuse.
Exemplo: O Direito de Superfície consiste na faculdade de construir ou manter uma
obra em solo alheio ou de nesse solo, plantar e manter plantação. Quando olhamos para o artigo
1524º, que nos dá a noção de Direito de Superfície, e para o seu regime jurídico, percebemos
que o que acontece é que o solo pertence a uma pessoa, por exemplo o Sr. A, que aí podia
perfeitamente ter construído, mas que este deu em benefício do B, o Direito de construir nesse
solo. O Sr. B vai por isso construir determinada obra no solo do Sr. A, sendo que sobre esse
29
Nesta condições diga-se: previstas na lei.
30
Como vimos o semestre passado em Direito das Obrigações.
edifício que ele constrói em solo alheio, ele vai ter os mesmos poderes de um proprietário.
Ou seja, ele não depende da autorização de ninguém para agir sobre a construção que ele fez.
Sobre o edifício, ele pode agir como bem entender, o solo é de uma pessoa, o edifício é de outra.
Por isso se diz que neste direito vamos ter uma figura parcelar do Direito de
Propriedade. É atribuído a um terceiro os mesmos poderes que um proprietário teria (gozar,
fruir e dispor) com plenitude da coisa que é objeto do seu Direito, embora se deva considerar
que se trata de um Direito Real menor, já que não é um Direito exclusivo.
No Usufruto também se diz que o usufrutuário tem o Direito de gozar temporariamente
de uma coisa ou Direito alheio. Mas também se diz que nesse gozo não se pode alterar a forma
ou substância da coisa. O que significa que esta sua atuação é limitada, por respeito devido ao
Direito de Propriedade.
Ora, o superficiário na relação com a coisa pode alterar a sua forma ou substância. Ou
seja, ele tem em relação à coisa poderes de um proprietário, e daí estarmos a falar de uma
figura parcelar porque há destaques de faculdades próprias de um Proprietário em benefício do
terceiro.
No Usufruto talvez tenhamos a restrição mais importante ao direito de
propriedade. Já não é contudo, uma figura parcelar deste direito de propriedade porque
não estamos a destacar poderes de um proprietário, porque os usufrutuários não pode agir
relativamente à coisa como se fosse dele. Tem uso e fruição plenos, mas não pode alterar a
forma e a substancia, coisa que se fosse proprietário podia fazer. Daí que se diga que
quando há um usufruto, o proprietário tem um Direito de nua propriedade, ou seja, existe aqui
uma propriedade despida porque os poderes de uso e fruição foram atribuídos a terceiros, o
usufrutuário não pode deitar a baixo um edifício, coisa que um superficiário já pode.
Alcance
A pergunta que se coloca é se a conversão legal se aplica quer à restrição, coisa que
está prevista expressamente no artigo 1306 nº1 parte final, quer também à figura
parcelar.
Ou seja, se as pessoas quiserem parcelar o direito de propriedade em termos tais que
não seja configurável como um Direito Real típico, será que a conversão vale também para a
figura parcelar ou valerá apenas para a restrição?
A este respeito, os Professores Pires de Lima e Antunes Varela vêm dizer que a
conversão legal apenas é compatível com a restrição, e por isso quando na lei se diz que toda
a restrição resultante de negócio jurídico que não esteja prevista tem natureza obrigacional,
essa letra está de acordo com o seu espirito, isto é, na referência à restrição, temos o
âmbito exclusivo31 de aplicação da conversão legal, sendo assim se duas partes tentarem
fazer um negócio de que resulte uma figura parcelar o sanção será o 294º, com a possibilidade
de conversão mas nos termos do 293º. Este é também o entendimento do Professor Carvalho
Fernandes, apesar de não concordar com a possível aplicação do 293º.
Henrique Sousa Antunes acha que a referência da parte final do artigo 1306º não
abrange apenas a restrição mas também as figuras particulares.
31
As figuras parcelares estão excluídas, podem ser criadas sem estar previstas.
Os primeiros três autores referidos dizem que havendo uma figura parcelar, a coisa
que foi desmembrada passará a ser própria. Por isso, qual será o sujeito passivo da obrigação?
Por exemplo no Direito de Superfície a relação que o superficiário tem no exercício do Direito é
uma relação com uma coisa. Ele tem o poder de alterar, modificar ou destruir a coisa. O que a
conversão faz é alterar uma relação que as partes pretenderam que fosse real, numa relação
obrigacional... O que dizem este Professores é que tal não é possível em relação às figuras
parcelares, porque quando existe este parcelamento existem dois direitos que convivem
paralelamente, mas em que não é possível estabelecer uma relação obrigacional32, pois a
relação ou relações que existem são entre os respectivos titulares e a coisa, e se assim é,
não seria possível operar uma conversão legal numa figura de natureza obrigacional, porque
sendo uma figura parcelar os poderes não são entre pessoas, mas entre o titular e a coisa.
Já o Professor Henrique Sousa Antunes acha que não é bem assim já que se olharmos
para o regime da superfície é verdade que existe um Direito de agir sobre a coisa como se fosse o
proprietário, mas este direito de superfície não deixa de ser um direito real menor, ou seja, não
se trata de um direito exclusivo, e pressupõe um direito prévio para que ele possa existir33. Se
assim é, é evidente que a lei ou as partes teriam que disciplinar os direitos e obrigações
recíprocos34. Por exemplo no caso do direito de superfície, não pode o proprietário do solo
interferir com o exercício do direito de superfície, há lugar ao pagamento de uma quantia por
cada período de utilização do direito de superfície. Tal como consta do regime do direito de
superfície35, onde está pensada uma relação de natureza obrigacional. Estamos a tratar de uma
figura parcelar na qual existem direitos e obrigações. Estas figuras não vivem à margem de uma
relação obrigacional.
Embora num direito real tenhamos um poder directo e imediato sobre uma coisa,
o direito real menor é ainda uma realidade intersubjectiva por estar a afetar um direito que
é exclusivo e não apenas uma relação entre a pessoa e a coisa. A ideia de que não se pudesse
aplicar a conversão legal às figuras parcelares porque nelas nunca poderemos ter uma relação
de natureza obrigacional é errada para Henrique Antunes por isto mesmo. Precisamente porque
existe sempre uma relação intersubjetiva entre o proprietário e o titular do Direito parcelar, é
possível estabelecer uma relação obrigacional.
Na opinião de Henrique Sousa Antunes então: a parte final do 1306º quando se refere
à conversão legal, e a associa à restrição, deve ser interpretada não só abrangendo a restrição
mas a figura parcelar do Direito de propriedade.
Numerus Clausus
A tipicidade parte da ideia de que os direitos reais têm uma natureza absoluta, e os de
crédito são reltiva. Por isso, o 1306º opera a conversão legal num direito que as partes
pretenderam que fosse real, num direito de natureza obrigacional.
Será mesmo assim? Todos os direitos de crédito são de natureza relativa, e portanto, não
é possível identificar neles a natureza absoluta dos direitos reais?
32
As relações obrigacionais sendo necessariamente entre pessoas
33
O direito de superfície por exemplo sem direito de propriedade alheio não poderia existir
34
Que encontramos no Direito de Superfície
35
1524º e seguintes 1530 a 1535 em especial
uma característica idêntica à dos Direitos Reais, a natureza absoluta.
Esta característica da natureza absoluta está também presente nos direitos pessoais de
gozo. Exemplo: Comodato, o Sr.A emprestou ao Sr.B uma casa. Trata-se neste caso de um Direito
de crédito ou pessoal de gozo, porque embora haja uma relação entre credor e devedor, os
poderes desse credor são exercidos diretamente e de imediato sobre uma coisa corpórea, que é
aquela que é emprestada ao titular desse direito. No nosso Direito até existe uma figura em que a
natureza absoluta do Direito Pessoal de gozo está perfeitamente clara, que é a locação. Diríamos
que por ser um Direito pessoal, seria um Direito de crédito e que por força do Princípio da
tipicidade nunca poderia ter a força de um Direito Real de gozo. No entanto, no regime da
locação, nos artigos 1057º e 1037º resulta que, se por exemplo: O Sr. A arrendou uma casa ao
Sr. B e depois vendeu essa casa ao Sr. C. Se o direito de crédito não tivesse necessariamente
natureza absoluta, diferente de um direito real, este direito de crédito seria um direito relativo, e
assim sendo valia apenas na relação entre as partes. Por isso, a partir do momento em que A
vende a casa ao C o contrato de locação cessaria. No entanto, o que este artigo 1057º diz é que o
arredamento acompanha a transmissão da propriedade da coisa. Ou seja, o adquirente do
Direito (C) com base no qual foi celebrado o contrato, vai suceder nos Direito e Deveres do
locador (A), sem prejuízo das regras do registo. Isto significa que C vai suceder a A na relação de
locação que este tinha estabelecido com B. Não há aqui por isso a ideia de que o direito real
prevalece sobre o direito pessoal. Porque o direito pessoal de gozo foi constituído em tempo
anterior, vai prevalecer sobre o direito real, ou seja, vai acompanhar o direito de propriedade.
Já no artigo 1037º nº2, ainda em matéria de locação, diz que “ O locatário que for privado
da sua coisa ou que perturbar o exercício dos seus Direitos, pode usar mesmo contra o locador dos
meios facultados ao possuidor”.
Vamos supor que o Sr. B verifica que o Sr. G se tinha instalado na sua casa e mudado a
fechadura. Se não houvesse este artigo 1037º ele (B) teria que ir ao Sr. A e dizer que alguém
tinha entrado na casa e que o tinha impedido de poder utilizar e fruir aquilo que lhe foi dado em
arrendamento. E por isso, ele teria que reagir contra esse sujeito, propondo uma ação de
reivindicação ou de restituição da posse. Era isto que resultaria de uma dimensão relativa do
Direito de crédito, que só valeria entre A e B. No entanto, o que diz a lei é que o próprio
locatário pode gozar de uma ação de restituição da posse contra um terceiro que o proíbe do
exercício do seu Direito. Está a permitir que este Direito seja oponível a terceiros.
36 Ao arrendamento
diga que se o Sr. A emprestou ao Sr. B e depois vendeu ao Sr. C e que o C esteja obrigado a
respeitar o contrato de comodato. Assim, C pode desrespeitar este direito anterior e prevalece
este direito real posterior sobre o comodatário.
A primeira conclusão Henrique Sousa Antunes a que chega é por isso a de que o
Princípio da Tipicidade não nos pode levar a dizer que não hajam direitos de
crédito/pessoais que não possam ter a mesma natureza absoluta.
Com isto não se quer dizer que os direitos de crédito sejam direito reais, não se está a
dizer que é possível adquirir por usucapião um direito de locação ou de comodato, isso não é
possível porque essas características são reservadas aos Direito Reais.
Mas também não equivale a dizer que estes direitos são de tal forma distintos que os
direitos pessoais são necessariamente direitos relativos.
O que o Professor Henrique Sousa Antunes propõe é que quando estejamos a falar de
direitos pessoais de gozo, eles acompanham a transmissão da coisa desde que o exercício desse
direito já ocorra, havendo por isso publicidade desse direito. Para defender que os direitos
pessoais de gozo participam da natureza absoluta dos Direitos Reais o Professor utiliza alguns
argumentos:
1) O artigo 406º nº2 é um dos argumentos que se utiliza normalmente para afastar a
ideia de que se pudessem reconhecer aos Direitos pessoais de gozo uma natureza
absoluta idêntica à dos direitos deais de gozo. Um primeiro argumento é dizer que de
acordo com este artigo, o contracto só produz efeitos relativamente a terceiros nos
casos e termos especialmente previstos na lei. Assim, se por exemplo, no comodato
não existe norma alguma a dizer que este acompanha a transmissão coisa isso
significa que o comodato não acompanhará a transmissão da coisa. Há no entanto
que perceber a distinção entre o contrato e o direito que nasce desse mesmo
contrato, e aqui está-se a falar de um direito que já nasceu do contrato e a
pergunta é em que medida é que esse direito tem de ser respeito por terceiros. Não
se fala do contrato, mas sim do direito pessoal de gozo que nasce do contrato. A ideia
de que o artigo 406º nº2 inviabilizaria falar da oponibilidade do Direito a
terceiros é errada, porque este artigo apenas fala do contrato que nada mais é
do que uma fonte das obrigações e não se trata do direito propriamente dito.
2) Depois há um segundo argumento que diz que na verdade nunca se pode deixar de
fazer a diferença, porque os direitos pessoais de gozo, ainda que não sejam um
contrato, estão sempre dependentes dele, os termos que as partes definiram para a
utilização da coisa, ou seja, é sempre a relação entre duas pessoas. Assim, não se
pode dizer que o direito acompanha a coisa porque não existe aqui um direito sobre
a coisa, mas sim sobre uma pessoa nos termos em que com ela foi definido. Ao
passo que os direito reais nascem e libertam-se da sua fonte, não havendo uma
relação intersubjetiva, entre partes. Isto é errado, porque os direito reais têm
também uma dimensão obrigacional e intersubjetiva. Não se trata apenas de
uma relação entre uma pessoa e uma coisa, embora seja essa a característica
dominante. Exemplo: Os direitos reais extinguem-se pelo não uso, tal como consta
do artigo 298º nº3. Mas este artigo remete depois para cada direito real em especial,
pedindo que cada um deles se pronuncie sobre isto: Se se extingue ou não pelo não
uso. Depois encontramos uma série de normas37, o artigo 1476º por exemplo diz
que este usufruto se extingue pelo seu não uso durante 20 anos qualquer que seja o
3) Outro argumento que o Professor utiliza para justificar que o direito pessoal deve
acompanhar a transmissão da coisa, é, como já referido, o facto de haver publicidade.
Se há um direito pessoal existe um poder direto sobre a coisa, ainda que esse direito
tenha uma natureza pessoal porque existe uma forte dependência do contrato, a
verdade é que as pessoas o conhecem. Na jurisprudência temos muitos destes
casos, em que as pessoas estão em comodato e depois com a transmissão da
propriedade a terceiro são obrigadas a restituir a coisa. O Professor não concorda e
prefere tomar os direitos pessoais, como direitos de natureza absoluta. Até se podia
prever alguma forma de publicidade para lá da espontânea no seu entender. O
registo tem grandes potencialidades e até pode estender-se á descrição de direitos
que por incidirem sobre a coisa justifica que sejam inscritos no registo, embora
sejam qualificáveis pela doutrina como meros Direitos Pessoais. Em relação a vários
Direitos Reais, encontramos a menção que no registo têm de lá estar qualificados os
direitos e obrigações que existem entre as partes, para que toda a gente o saiba,
nomeadamente para quando a coisa seja vendida. O Professor acha que chegamos à
conclusão que apenas por razões históricas estamos a dizer que se é direito real é
“assim” se for pessoal é “assado”
38
E as obrigações e Direitos entre eles
Deveres
Existe a ideia de que o Princípio da Tipicidade seria de tal forma fechado que só
admitiria os direitos e deveres que estejam escritos na Lei, ou em relação aos quais a lei
permitisse a autonomia das parte.
Ao falar de tipicidade devemos distinguir entre tipos abertos e tipos fechados39.
Será que posso construir uma servidão como um direito real? Uma servidão, para que seja um
direito real, tem de ser uma servidão predial40. O Sr.A e B são vizinhos e o Sr.A para chegar à
estrada precisa de passar pelo prédio do Sr.B, posso conceber a constituição de um direito real,
que é um direito de servidão predial porque para que o prédio A possa ser utilizado vai
beneficiar da afectação das utilidades do prédio B, que é a passagem por este primeiro.
Mas se o Sr. A gostar muito da vista na casa do seu vizinho B, e com ele contratar um
direito real de servidão, por virtude do qual todos os dias tem direito a ir ver o pôr-do-sol a casa
do vizinho a partir das 18h, diríamos que não pode este contrato ser considerado válido,
porque a lei só prevê como Direito Real a servidão predial41. A servidão predial não é em
benefício de uma pessoa mas sim da utilização de um prédio. Ou seja, se estamos neste caso
apenas a falar da vontade que ele tem de ir ver o pôr-do-sol, isso é um direito que pode valer na
relação entre as partes, mas por força do artigo 1306º terá natureza obrigacional, não terá
uma natureza real. A tipicidade serve para excluir do catálogo dos direitos reais aquilo que
o legislador queria que fosse apenas obrigacional.
Mas dito isto, os tipos legais podem ser fechados42 ou abertos como é a regra no
sistema jurídico Português no entender de Henrique Antuens. Ou seja, trata-se de um tipo e por
isso têm de lá estar estipulados os elementos característicos do Direito Real, mas depois
os direitos, as obrigações e as vicissitudes são abertas. Basicamente, pode haver ali a
definição em concreto pelas partes dos termos em que o direto real vai ser exercido.
O professor Henrique Sousa Antunes acha que no nosso ordenamento, os tipos são em
regra abertos, existindo uma liberdade das partes para definir o conteúdo desde que não
descaracterizem esse direito. Acha que mesmo para lá dessa liberdade das partes, o Princípio
da Tipicidade não veda que possam ser estabelecidas obrigações ou deveres propter rem43
em razão da titularidade do Direito Real, desde que não descaracterizem o direito real.
O Professor diz isto porque na base de todas estas reflexões considera que a tipicidade
de nada serve. Poder-se-ia dizer que esta existia para garantir que as pessoas saibam qual a
situação jurídica de um determinado prédio, e para conter as partes sabendo efectivamente
aquilo que pode ou não ser criado. No entanto, Henrique Sousa Antunes acha que o que
cumpre esta função será a publicidade sendo que a tipicidade não tem uma função útil como
tinham antigamente.
O nosso ordenamento jurídico poderia por isso aderir a um princípio de atipicidade
em que as pessoas criariam direitos reais a seu belo prazer, já que não há nada que
justifique que este princípio da tipicidade continue consagrado.
Mais ainda, em muitos ordenamentos jurídicos assistimos ao regresso da enfiteuse,
39
Nos tipos fechados as partes não têm autónima para definir o conteúdo do direito real
40
Como havemos de estudar adiante.
41
Que aqui não seria o caso, pois não tínhamos uma servidão predial como está prevista na lei.
42
Ou seja, em que lá está tudo previsto: quais são só Direitos e obrigações das partes, casos de extinção, etc..
43
É uma obrigação real, que decorre da relação entre o devedor e a coisa. Difere das obrigações comuns
especialmente pelos modos de transmissão. Propter rem significa “por causa da coisa”. Assim, se o direito de
que se origina é transmitido, a obrigação segue-o, seja qual for o título translativo. A transmissão é automática,
independente da intenção específica do transmitente, e o adquirente do direito real não pode recusar-se a
assumi-la.
que no nosso ordenamento tem apenas uma dimensão histórica. Porque é que não há-de
regressar de novo ao sistema Português se porventura for conveniente para a exploração de um
determinado prédio? O que tínhamos de garantir é que os terceiros que estão no comércio
jurídico, conheçam a situação jurídica do prédio, mas isso é feito pela publicidade e não pela
tipicidade. Assim, na opinião de Henrique Sousa Antunes mesmo sem tocar no princípio da
tipicidade tal como ele existe é possível prever deveres para lá daqueles que a lei prevê,
desde que não se descaracterize o direito real, já que se assim for existe uma violação do
princípio da tipicidade. Assim o é porque existe o CRP.
Analogia
Conclusão final de Henrique Antunes: Mais vale deixar cair o Princípio da Tipicidade e
por isso, no plano do Direito a constituir há que estabelecer a garantia de que a publicidade seja
suficiente para que todos os terceiros que estão no comércio jurídico conheçam a situação
jurídica do prédio.
Não há uma parte geral dada pelo legislador para o Livro III como acontece por exemplo
no Livro II do Código Civil. Assim a construção pela doutrina e pela jurisprudência de uma parte
geral é várias vezes tentada, e aqui vamos fazer o mesmo. O que queremos saber é até que
medida certas disposições do Código Civil são generalizáveis.
Podemos dividir de acordo com as seguintes classificações as disposições gerais:
Limitações
É o próprio legislador a dizer que, embora o direito de propriedade seja o direito real
máximo, se reconhece que é preciso estabelecer algumas limitações ao exercício deste direito de
propriedade.
Mas porquê descobrir as imitações ao exercício dos direitos reais olhando ao direito de
propriedade? Devido ao que já vimos principio da tipicidade. Se estas limitações se
aplicam ao direito de propriedade não poderão deixar de se aplicar aos direitos reais
menores. Os direitos menores são todos baseados na propriedade, a propriedade é o direito
real44 por excelência, por isso se descobrirmos os limites a este direito descobrimos os limites
gerais aos restantes direitos reais.
a. Limitações intrínsecas
b. Limitações extrínsecas
44
Relembramos que nesta cadeira estamos a estudar os direitos reais de gozo acima de tudo, e por isso ao
referirmos “direitos reais” estamos a referir estes direitos.
a. Intrínsecas:
i. Confluência de direitos da mesma natureza e espécie sobre uma coisa;
ii. Função social do direito;
iii. Especificidade do conteúdo do direito real.
b. Extrínsecas:
i. Em razão do interesse publico;
ii. Por razoes de interesse particular:
Limitações Intrínsecas
Têm a ver com o próprio conteúdo do direito em causa, não é uma limitação que vem de
fora, vem de razões internas, é o direito que é limitado por ser de uma certa forma e não há uma
limitação externa a restringir esse direito, simplesmente o direito não chega a um certo âmbito
porque não faz parte do próprio direito chegar a esse âmbito. Se quisermos fazer uma
comparação básica, as limitações intrínsecas são as limitações “genéticas” do direito. O direito
nasceu de uma certa forma e há certas coisas que não pode mudar, se quisermos, é o mesmo que
um corpo humano de um atleta, a sua estrutura óssea, genes, e altura são limitações intrínsecas,
por muito que o atleta treine não consegue mudar nenhuma das características referidas, está
limitado pela como nasceu.
Vamos ver as três situações referidas de limitações intrínsecas, onde nos deparamos log
como a confluência de direitos da mesma natureza e espécie sobre uma coisa, onde como
veremos, apesar de termos direitos autónomos não estamos em limitações extrínsecas, pois a
actuação individual sobre uma coisa é, geralmente, dependente da concordância ou ausência
de discordância dos demais titulares, deliberando por maioria ou por unanimidade, e da
contribuição de todos para a conservação e fruição da coisa comum. É o que acontece no regime
da compropriedade.
Quais são estas manifestações de coletividade? Podemos dizer que esta dimensão
coletiva, estas limitações de confluência de direitos da mesma natureza e espécie sobre uma
coisa ao exercício dos direitos que, sendo da mesma natureza e espécie, incidem sobre a coisa,
aparecem em três planos:
3) Dimensão colectiva revelada pela quota45, dimensão colectiva que tem por base a
quota.
1) No uso da coisa comum: Poder-se-ia aqui pensar exactamente o oposto, uma vez que no
artigo 1406º até se diz que este é um exercício isolado, diz-se que qualquer pessoa pode
utilizar a coisa de que é comproprietária sem necessidade do conhecimento dos demais.
Mas a verdade é que após melhor analise, vemos que não podemos interpreta-lo assim.
Começa por dispor “Na falta de acordo sobre o uso da coisa comum, a qualquer um dos
comproprietários é licito servir-se dela...”, o que significa que este poder está subordinado
à inexistência de um acordo. O professor Henrique Sousa Antunes defende que
aqui, ao contrário dos professores Pires de Lima e Antunes Varela que entendem
que haveria necessidade de um acordo unanime, quanto ao uso da coisa comum, isto é
uma matéria de administração da coisa, logo de artigo 1407º, e por isso este acordo está
subordinada à maioria. Claro que neste acordo da maioria não pode o comproprietário
ficar privado totalmente do direito de usar, tendo de ser compensado se isso acontecer,
sob pena do acordo ser invalido. Há, portanto, uma subordinação à coletividade na
medida em que esta dispõe, por maioria, sobre o uso da coisa comum. Contudo,
mesmo que não haja acordo sobre o uso da coisa comum, há outra dimensão colectiva
45
Quando nós temos uma situação de compropriedade, por ex. se sobre determinado prédio, incidem dois
direitos de propriedade, o de A e o de B, não se pode dizer que o A tem direito à parte Norte e o B tem direito
à parte Sul (como se fosse 50/50 para cada um). O que nós queremos saber é qual é a medida da participação
de cada um dos comproprietários nessa propriedade. Isso está expresso no arigo 1403º e no nº2 do mesmo
artigo que diz que os direitos são “qualitativamente iguais” ou seja, as faculdades que as pessoas têm sobre as
coisas são iguais porque são direitos da mesma espécie; mas é preciso não desconhecer que podem as pessoas
ter uma participação diferente. Isto vai ter importância para determinar o poder que o comproprietário tem
sobre a coisa. O que a lei diz, todavia, é que as quotas se presumem quantitativamente iguais na falta de
indicação em contrário do titulo constitutivo (quando se constitui a situação de compropriedade).
muito importante que resulta da parte final do artigo 1406º nº1 (“...contanto que a não
empregue para fim diferente daquele a que a coisa se destina e não prive os outros
consortes do uso a que igualmente têm direito."), ou seja, quando se diz que não pode usar
a coisa para um fim diferente daquele a que se destina, significa que, se quiser alterar o
destino, vai ter de colocar a questão aos outros proprietários novamente segundo a
regra da maioria, de acordo com a visão do professor Henrique Sousa Antunes.
2) Fruição da coisa comum: A dimensão colectiva está na fruição, uma vez que resulta do
regime da propriedade, artigo 1405º nº1, a fruição é determinada por critério
quantitativo, 1403 nº2, que eu não posso fruir da coisa na integralidade, visto estar
numa situação de contitularidade.
“ 1.Na falta de convenção em contrário, todos os sócios têm igual poder para administrar.”
Isto significa que, quando o artigo 1407º remete para o 985º está a dizer-nos que cada
proprietário, na falta de convenção em contrário, pode sozinho, administrar a coisa: gerir
a coisa, fazer contratações para reparação, fazer o pagamento de despesas relativa à reparação
da coisa etc…
Ou seja, a ideia que se retira é que cada um pode administrar na ausência de convenção
em contrário, porém, um outro comproprietário pode opor-se a este ato praticado e aí quem iria
decidir sobre o mérito da contratação era a maioria, isto obviamente é um fenómeno de
colectivização.
É importante ainda ter atenção à última parte do artigo 1407º acerca da maioria que
diz que a maioria tem que representar, pelo menos, metade do valor total das quotas.
46Exemplo: Um comproprietário (A) que queria contratar a empresa X, tem 75% e os outros
dois (B e C) teriam cada um 12,5%. Mesmo que eles se queiram opor à contratação da empresa
X, que o comproprietário A pretende, de acordo com o artigo 985º, a maioria tem de
46À maioria acresce a maioria do valor das quotas, assim é preciso que: 1) sejam a maioria dos consortes 2)
essa maioria tenha mais de metade das quotas.
corresponder também a uma maioria de quotas, segundo o artigo 1407º. Portanto estes dois
que seriam a maioria dos comproprietários, mas não têm a maioria das quotas, não conseguem
impedir a contratação da empresa A. O mesmo acontecia vice-versa, se B e C quisessem
contratar uma empresa Y, A não poderia opor-se pois apesar de ser maioria do valor das quotas,
não faz maioria do número de comproprietários (2>1). Temos aqui uma dupla maioria.
2) Saber que não basta a maioria dos consortes, mas é ainda necessário que essa
maioria corresponda a, pelo menos, metade do valor total das quotas.
47
Esta convenção em contrario não é no sentido de impedir que a maioria decida mas no sentido de dizer que
a administração deve ser feita conjuntamente por todos ou alguns administradores, decidindo-se que a
administração da coisa comum pertence aos comproprietário A e B, por ex. Neste exemplo, A não pode sozinho
realizar um ato de administração, tem de ser A e B. Neste caso não é já um ato de oposição, mas uma
legitimação para a ação, só se pode agir com maioria.
48
Diz o artigo que a casa está vaga, é preciso que todos os comproprietários concordem no arrendamento.
Para o professor Henrique Mesquita estaria assim provado que quando estamos a alterar o destino
económico da coisa (inovar) é exigido o consentimento de todos. Seria este artigo uma regra geral aplicável a
todos os atos de inovação.
expressão do que está no artigo 1408º
O artigo 1408º é uma norma que se refere à disposição e alienação da quota. Quando se
tem uma quota, há uma expressão em abstrato, uma expressão intelectual, do seu direito sobre a
coisa. Se cada um tem 50% da coisa, o que cada um pode vender sozinho, livremente, é a sua
quota, não está dependente do consentimento dos outros comproprietários para alienar a sua
quota. Mas não pode hipotecar o terreno, nem poderia vender todo o terreno a terceiro, porque
o direito dele não é um direito sobre uma coisa específica, apenas a uma quota relativamente a
essa coisa corpórea. Ele pode alienar a quota mas não pode estar a alienar uma parte específica
da coisa comum e muitos menos pode alienar a coisa comum que não pertence só a ele. O
professor Henrique Sousa Antunes conclui que, quando a lei exige o consentimento de todos os
comproprietários no 1024º, é porque a locação, em bom rigor, não deixa de ser um ato de
oneração. Esta norma do 1408º é a que vem assim legitimar o artigo 1024º: é necessário
unanimidade porque estamos a onerar a coisa comum e não porque o 1024º é um
argumento a favor de que todos os atos de inovação requerem unanimidade.
Acabamos de ver a disposição e antes disso vimos a administração. Vamos agora ver a já
referida renúncia liberatória. O artigo 1411º do Código Civil diz que “os comproprietários
devem contribuir, em proporção das respetivas quotas, para as despesas necessárias à conservação
ou fruição da coisa comum, sem prejuízo da dificuldade de se eximirem do encargo renunciando ao
seu direito”. Portanto:
- para não pagar, como nasceu esta obrigação e o comproprietário se quer eximir ao
pagamento desta quantia, ele pode extinguir o seu direito por vontade própria, exclusiva.
Como justifica Henrique Antunes que isto esteja liga à coletivização? Resulta do nº2
deste artigo que “a renúncia, porém, não é válida sem o consentimento dos restantes
consortes, quando a despesa tenha sido anteriormente aprovada pelo interessado, e é revogável
sempre que as despesas previstas não venham a realizar-se”. Portanto se o interessado tiver
aprovado uma certa despesa já não pode renunciar a não ser que haja o consentimento dos
restantes consortes.
Isto é uma forma de estudar a compropriedade. Para o professor, o que está presente
no regime de compropriedade é claramente um fenómeno de colectivização. Em bom rigor
então, não se pode ver a compropriedade como forma de limitar o exercício de um direito.
Exemplo: Se, havendo dois comproprietários, B vender a coisa. O que acontece? Artigo 1408º
nº2 diz que é havida como disposição de coisa alheia. Negócio é considerado nulo. O professor
Carvalho Fernandes diz que, quando há uma venda nestes termos, a venda é nula mas por
recurso à conversão e, eventualmente, à redução podemos aproveitar o negócio. Quem tem
interesse em aproveitar este negócio é o outro comproprietário porque se operarmos
simultaneamente com a redução e conversão (no caso reduzia-se para 50%, não se vendia a
totalidade, e convertia-se para quota, porque não se pode vender parte especifica da coisa
corpórea) pode exercer o seu direito de preferência em relação à alienação que o B fez para
terceiro.
Em suma:
1) Podemos concluir que existem aqui vários direitos diferentes, autónomos, mas sobre
a mesma coisa.
2) No entanto Henrique Antunes, considera que temos uma limitação intrínseca e não
extrínseca, pois os direitos encontram-se amplamente interdependentes, e por isso
temos de olhar para a compropriedade como um macro direito, isto é, apesar de
serem vários direitos autónomos, o referencial para a limitação intrínseca é como se
fosse apenas um direito, um “macro” direito.
O direito de propriedade foi-se funcionalizando ao longo dos tempos, está hoje ao serviço
de uma determinada função diferente da que estava em tempos anteriores. No Código Civil de
1867 o direito de propriedade servia os interesses do titular, “faculdade que o homem tem, de
aplicar à conservação da sua existência e ao melhoramento da sua condição, tudo quanto para esse
fim adquiriu e de que, portanto, pode dispor livremente”.
Hoje dificilmente poderia ser defensável uma definição destas, há muitas limitações ao
direito de propriedade e limitações ditadas em razão da sua função social. Exemplo: O direito
de propriedade não pode ser exercido de tal forma que venha a interferir com o ambiente ou
com direitos de personalidade alheios ou com o direito de propriedade de outrem.
Em bom rigor temos uma expressão muito importante da função social do direito que
está no artigo 334º.
Não existem normas específicas que digam que o direito de propriedade tem uma função
social, retira-se esta função de diferentes regimes:
Artigo 1382º: Permite agrupar pequenos terrenos num grande terreno, para com isso
melhorar a produção agrícola.
Mais fáceis de verificar e unanimes são as restrições que a definição específica do tipo
determina. São limitações intrínsecas. O usufrutuário tem de respeitar a forma ou substância do
objecto no exercício do seu direito de gozo temporário e pleno sobre a coisa ou direito alheio,
artigo 1439º. O usuário não pode não pode fazer seus os frutos que excedam a medida das suas
necessidades ou do seu titular, artigo 1484º. As servidões prediais são inseparáveis dos prédios
a que pertencem, artigo 1545º. Entre outros exemplos que podíamos dar.
Limitações Extrínsecas
49
E como resulta também aliás do texto Constitucional.
50
Aliás como vamos ver também o direito de indemnização não se fica só por estes dois casos de limitações em
razão do interesse público, alargando-se até à generalidade das limitações extrínsecas.
A distinção da expropriação comparativamente à requisição faz-se em primeiro lugar
pelo seu objecto, sendo que a expropriação diz respeito a bens imóveis, enquanto a
requisição pode ter por objecto tanto as coisas imóveis como móveis.
Depois temos também uma diferença relativamente aos seus efeitos na ordem jurídica, a
expropriação estingue o direito privado do titular da coisa imóvel (o expropriado). Já na
requisição esta destina-se fundamentalmente a permitir o uso da coisa por uma
determinada entidade pública (entidade requisitante) mas não extingue o direito que
existia antes, isto é, o direito real que existia sobre a coisa mantêm-se, sendo que na requisição
o que acontecerá será apenas que se suspende durante um determinado período de tempo o
direito real para que a coisa possa ser utilizada pela entidade requisitante para prosseguir o
interesse público.
Mas a verdade é que as limitações extrínsecas dos direitos reais em razão do interesse
público não se limitam à expropriação e requisição havendo outras figuras dentro deste tipo
de limitação. É o caso das figuras do confisco, da nacionalização, da colectivização e das
servidões administrativas, estas figuras prosseguem também fins de interesse público daí
serem limitações extrínsecas em razão do interesse público. Analisando agora cada uma destas
figuras:
51
Vamos ver estes conceitos melhor adiante.
52
Essas utilidades podem ser as mais diversas: por exemplo se no prédio dominante houver um curral de vacas
e no prédio serviente um pasto e se constituir uma servidão predial em que as vacas podem ir ao prédio
serviente pasta. Outro exemplo é o exemplo da servidão de passagem.
necessariamente destinadas a outro prédio, podendo ser destinadas a uma
coisa ou a uma entidade. Portanto ao falar de servidões administrativas estamos a
falar da afectação das utilidades de um prédio em benefício de uma coisa ou de uma
entidade por razões de utilidade pública como a segurança, a celeridade, higiene
etc… É de referir também que ao contrário do confisco, da expropriação e da
colectivização esta servidão não extingue direitos reais limitando apenas o seu
exercício.
Analisemos agora o segundo motivo que existe como limitação extrínseca por razões de
interesse particular: as relações de vizinhança.
Nas relações de vizinhança temos dois proprietários de direitos reais que são vizinhos, o
que leva a que, pela proximidade a que estão os vizinhos deva existir boa convivência entre
estes. O legislador podia ter-se ficado pela norma do artigo 334º para resolver estas questões,
mas optou por não o fazer.
Exemplos de problemas que se podem dar neste âmbito são por exemplo: a árvore de um
terreno deixar cair frutos para o terreno vizinho e o dono da árvore querer ir lá apanha-los ou
por exemplo as raízes da árvore começarem a entrar pelo terreno do vizinho, pode o vizinho
corta-las? O legislador quis regular várias destas situações concretas não se ficando pelo 334º, e
isto não foi só legislador português, mas também os legisladores dos restantes países de civil law
da Europa Ocidental.
Assim temos desde logo uma norma que tem forte aplicação nas áreas urbanas do país e
que diz respeito à emissão de fumo, de ruídos, de trepidação e de factos semelhantes, o artigo
1346º. É óbvio que este artigo está muito preso a casos de violação de direitos de personalidade,
mas nestes casos não é necessário haver uma violação de um destes direitos. As várias
situações do dia-a-dia da vizinhança e a sua amplitude fazem com que este seja muitas vezes
aplicado na nossa ordem jurídica, mas há aqui duas notas relativamente à interpretação que
deve ser feita ao artigo 1346º:
1ºnota “prédio vizinho” – o que é que é um prédio vizinho? Pires de Lima e Antunes
Varela consideram que esta expressão se refere a prédios contíguos, o que não é a
orientação dominante na doutrina nem parece ao Professor Henrique Antunes a
mais adequada. Para o resto da doutrina e para o Professor Henrique Antunes o outro
prédio até pode estar a quilómetros de distância, desde que um prédio for seja afectado
pelas trepidações, pela emissão de ruídos, pelo fumo etc… então o “prédio vizinho”
aplica-se aqui. Por isso para esta segunda parte da doutrina basta que a produção de um
dos factos enumerados prejudique outro prédio para estarmos perante um “prédio
vizinho”. Fazendo um parênteses nesta nota interpretativa, não quer esta noção ampla de
“prédio vizinho” dizer que não haja limitações que só se aplicam nos prédios
53
Que resulta da lei:, o direito de usufruto é o poder de usar plenamente a coisa sem poder alterar esta no
entanto. Artigo 1439º
54
Artigo 1490º
contíguos. Temos o exemplo do direito de demarcação previsto no artigo 1353 e
seguintes, e dos artigos 1366º e seguintes que trata da plantação de árvores e
arbustos e da apanha dos frutos desta.
2ª nota “sempre que tais factos importem um prejuízo substancial para o uso do
imóvel ou não resultem da utilização normal do prédio de que emanam” – O
professor Menezes Cordeiro propõe que esta parte final da norma seja interpretada
não no sentido alternativo que a norma sugere mas sim num sentido cumulativo ou
seja que onde se lê “.. imóvel ou não resultem…” se lesse “…imóvel e não resultem…”. Para
o professor este artigo está por isso condicionado por dois requisitos: a utilização
anormal55 + prejuízo substancial. Menezes Cordeiro baseia a sua interpretação em
direito comparado, olhando sobretudo ao Direito Alemão, mas usa também o argumento
de se não houvesse este elemento cumulativo isso significaria que alguém podia usar
este artigo contra alguém que utilizasse um prédio de forma anormal mesmo que dessa
utilização não resultasse um prejuízo para os vizinhos, e é óbvio porque é que isto não
seria razoável. O mesmo podia acontecer se alguém comprasse um prédio perto de uma
fábrica já ali construída há muito tempo e de forma legitima, se não aplicássemos a
interpretação de Menezes Cordeiro qualquer pessoa que ali perto construísse ou
comprasse casa poderia opor-se à emissão de fumo da fábrica, suspendendo por isso a
laboração da fábrica, baseando-se simplesmente no prejuízo substancial deste, isto seria
também desrazoável, pois a pessoa ao comprar/construir/adquirir a casa já sabia ou
devia saber que a fábrica existia ali e emitia fumo. O Professor Henrique Antunes acha
que o Professor Menezes Cordeiro não tem razão, pegando neste caso da fábrica por
exemplo, diz que qualquer juíz não iria dar satisfação à pretensão do adquirente do
terreno por esta ser uma tentativa de um comportamento abusivo, sendo por isso
ultrapassável com o 334º. Quanto ao primeiro exemplo, relativo à utilização anormal,
Henrique Antunes concorda com Menezes Cordeiro, apesar de achar que não preciso
adoptar uma regra de cumulação (“e”) mas ler o artigo adequando-o ao seu espírito, isto
é ler o artigo para que deste resulte que quando se fala de uma “utilização normal” só
pode o vizinho opor-se se essa utilização importar um “prejuízo substancial”. Seguindo
esta ordem de ideias de Henrique Antunes então nos casos de “utilização anormal” já só
se poderá opor com a “apenas a existência de prejuízo”. A crítica de Henrique Sousa
Antunes a Menezes Cordeiro neste caso é que se seguisse a regra de cumulação
então nos em que exista apenas uma utilização normal com prejuízo grave não se
poderia opor a essa utilização um vizinho prejudicado, e Henrique Antunes acha que este
resultado, além de fugir demasiado à letra da lei, vai resultar em situações injustas pois
alguém vai ficar prejudicado (gravemente).
-MC: acha que é preciso que haja um prejuízo substancial + utilização anormal
55
Não estar a prosseguir a finalidade económica do prédio do qual o sentido se retira ao observar prédio.
Mas além desta norma do artigo 1346º há outros exemplos de normas que são limites
extrínsecos aos direitos reais em razão de interesse particular por causa de relações de
vizinhança que agora vamos continuar a ver.
É o caso dos artigos 1347º, 1348º e 1349º onde encontramos três títulos de
comportamentos que o legislador fortemente limita de modo a não prejudicar prédios vizinhos.
Aqui a lei permite realização de escavações, passagens forçadas momentâneas e instalações
prejudiciais desde que não prejudiquem o vizinho destas formas, prevendo que se tal acontecer
haverá responsabilidade civil. Assim, estamos perante casos de responsabilidade civil sobre
casos lícitos.
Entre outros exemplos de relações de vizinhança temos ainda o 1351º e 1352. Mas
talvez mereçam particular destaque, além do destaque já dado aos artigos supra, os artigos
1360º a 1365º. Estas normas prevêem regras técnicas, como distâncias mínimas a existir entre
prédios ou parte de prédios, para evitar tanto o devassamento como o gotejamento56 para
outros prédios.
Mas e se alguém ao construir prédio ou parte deste não respeitar as regras dadas? Por
exemplo não respeita o metro e meio exigido no artigo 1360º nº1? Nesse caso ocorre um
fenómeno de servidão de vistas que tem por consequência, por exemplo, a inversão da
limitação de um vizinho para o outro como se observa no nº2 do 1362º. Coisa semelhante
acontece relativamente ao gotejamento, se não se respeitar a distância de 5 decímetros imposta
pelo 1365º nº1, diz o nº2 do mesmo artigo que se constitui então uma servidão de estilicídio
invertendo também a limitação. Exemplo: Construção em desrespeito ao 1360º nº1 a situação
permanece sobre anos e anos, a pessoa não cumpre o metro e meio de distancia na construção
então constitui-se uma servidão de vistas, artigo 1362º quando há uma servidão de vistas
então se A desrespeita a distancia em relação a B então o ónus de respeitar esse metro e meio
recai sobre este último, a limitação passa de um proprietário para outro. O mesmo acontece nas
servidões de estilicídio, o prédio que foi construído em desrespeito, a água vai cair sobre o
prédio vizinho, se passar algum tempo constitui-se a servidão.
iii. Limitações que se determinam pela tutela de direitos ou interesses alheios que
têm um fundamento diverso (autónomo segundo Henrique) das relações de vizinhança
Se acidentalmente, uma bola, saco, etc, for parar a prédio alheio, diz a Lei que a pessoa
que é proprietária dessa coisa que acidentalmente vai parar a terreno alheio, pode apoderar-se
da sua coisa, embora o proprietário desse prédio possa impedir a entrada fazendo ele próprio a
entrega da coisa que no seu prédio acidentalmente se encontra. Uma vez mais, não se trata de
dirimir um conflito quanto ao exercício de um direito de propriedade sobre prédios que sejam
vizinhos, isso é matéria que diz respeito às limitações extrínsecas que tenham por fundamento
razões de vizinhança, tratasse antes de restringir ou limitar o exercício do direito de
propriedade para permitir que o proprietário de uma coisa alheia ou que o titular de
56
Isto é, por exemplo, a água da chuva por bater num prédio cair sempre noutro indo para este
outro Direito Real sobre coisa alheia, possa ir buscá-la a um prédio onde ela
acidentalmente se encontra
Portanto, quer no artigo 1322º, quer no artigo 1349º nº2, encontramos situações em
que o direito de propriedade é limitado, não porque se trate de regular relações de vizinhança
entre prédios, mas para permitir que alguém vá buscar uma coisa que é sua e que está em prédio
alheio.
Uma das limitações principais que existia em relação ao direito de propriedade, e por
isso aos direitos reais menores, que se enquadrava neste contexto das limitações extrínsecas
com fundamento nas razões de vizinhança, era o regime dos atravessadouros, dos já referido
1383º e 1384º. Ou seja, a possibilidade de se passar por prédio alheio para se chegar a
determinado destino. Historicamente estes atravessadouros eram uma limitação
importantíssima ao direito de Propriedade com um fundamento que se desprendia das relações
de vizinhança. Era, no fundo, uma zona de passagem que não podia ser impedida pelo
proprietário.
Sucede que se olharmos hoje para o regime dos atravessadouros, o artigo 1383º veio
aboli-los, o Código estabelece um princípio geral de que passar por prédio alheio (aí caminhar)
para chegar a um certo destino, deixou de ser possível pois aquilo que a lei reconhece é apenas a
possibilidade de passar por prédio alheio em razão de uma servidão predial. Ou seja, para que
se possa passar sobre prédio alheio é necessário que essa passagem se mostre constituída em
favor de um prédio determinado, e nesse caso constituindo uma servidão predial.
Mas ainda importa dizer a este respeito duas coisas: Há alguns atravessadouros
(passagens por prédio alheio) que a Lei continua a reconhecer, sem ser sob a forma de uma
servidão predial, ou seja, um atravessadouro que não tem por fim satisfazer a utilização de
determinado prédio. Mas a sua finalidade também está bem identificada, já que não se destina a
ser uma simples passagem sem mais… Não se destina a permitir a utilização de certo prédio, que
se mostre estabelecida a favor de outro, e não pode ser uma qualquer passagem. A este respeito
diz o artigo 1384º que “São, porém, reconhecidos os atravessadouros com posse imemorial, que se
dirijam a ponte ou fonte de manifesta utilidade, enquanto não existirem vias públicas destinadas à
utilização ou aproveitamento de uma ou outra, bem como os admitidos em legislação especial.” Se
olharmos para este artigo, admite-se que a passagem pelo atravessadouro, mesmo não
constituindo uma servidão predial, possa ser considerada pela Lei como uma limitação ao direito
de propriedade, mas é necessário que essa posse seja imemorial57, mas que tenha um objetivo,
isto é, é um caminho que leve a uma ponte ou fonte de manifesta utilidade, e desde que não
exista via publica para o efeito. Diz ainda o legislador que também podem haver disposições
legais expressas que reconheçam atravessadouros que não constituam servidões prediais.
57
mais de 50 anos até
dos atravessadouros, o que quer dizer que também não têm de ter a utilidade que o artigo
1384º exige. Não se destinam apenas a permitir o acesso a uma fonte ou ponte de manifesta
utilidade, colocando-se então a questão de qual a sua diferença em relação aos atravessadouros.
Neste contexto, embora esta tenha sido uma tarefa bastante complicada na jurisprudência, existe
um Acórdão da relação de Coimbra que referindo um acórdão do STJ diz que “no conceito
tradicional, os atravessadouros ou atalhos são caminhos pelos quais se faz passagem com o fim
essencial de encurtar o percurso entre determinados locais. Os caminhos públicos, por sua vez,
destinam-se a estabelecer ligações de maior interesse, em geral entre povoações”.
Na prática, pode um proprietário reagir contra o facto de haver ali uma zona em que
existe uma passagem regular de pessoas e onde é normal que ele a tente enquadrar essa
passagem nos atravessadouros para pode beneficiar da sua proibição e assim libertar o prédio
da limitação que estes constituíam. É verdade que alguns atravessadouros são admitidos, mas
também é verdade que eles têm finalidades específicas, e portanto, o mais desejável para este
proprietário era que aquele percurso fosse qualificado como um atravessadouro e portanto,
proibido. No entanto, se vier a ser classificado como um caminho, e de acordo com a
Jurisprudência, para que o seja, tem que se tratar de uma passagem que tenha como
finalidade ligar localidades58, ou seja, ligações de maior interesse, em geral, entre povoações,
já não pode o proprietário reagir contra essa passagem, precisamente pela natureza publica do
caminho e pela ausência de proibição relativa aos atravessadouros.
Trata-se da vida dos Direitos Reais. Será que conseguimos encontrar alguns traços que
sejam comuns aos vários direitos reais de modo a criar uma lista de vicissitudes dos
direitos reais em geral?
Quando olhamos para os direitos reais menores, às vezes percebermos que existem
divergências quanto às causas invocadas, nomeadamente para a extinção, porque encontramos a
respeito do usufruto, do direito de superfície e das servidões, e outros, normas que nos dizem
quais as causas de extinção desses Direito Reais e a pergunta que se coloca é em relação a um
desses Direitos Reais não existir uma causa que está identificada em relação aos outros Direitos
Reais menores. Por exemplo, a respeito do direito de superfície não se prevê a extinção pelo
não uso, mas esta é normalmente uma causa de extinção dos Direitos Reais menores se eu
for usufrutuário e não utilizar o meu usufruto durante 20 anos, o meu direito real extingue-se
fazendo com que haja uma extensão do Direito de propriedade. Será que isto valerá também
para o Direito de superfície?
Outro exemplo: Não há também nenhuma norma no Código que diga que o Direito de
Propriedade sobre coisas imoveis se pode extinguir por renúncia, ou seja, por vontade do seu
próprio titular. No entanto, quando vamos aos Direito Reais menores, vemos que a renúncia59 é
uma forma de extinção dos direitos reais menores muito comum. Mas será que isso se pode
aplicar ao Direito de propriedade?
58
e não apenas encurtar percursos
59
Dita abdicativa
Isto são dois exemplos que beneficiariam em muito da construção de uma teoria geral no
que toca a vicissitudes. Vamos então analisar a questão e ensaiar uma teoria geral.
É preciso não perder que a escolha do legislador pode ser criticável, mas que no entanto,
o que se encontra consagrada na nossa lei civil, em conjugação com a norma anterior, faz com
que haja aqui uma perspectiva que não podemos perder quando construímos a nossa teoria
geral: está-se aqui a referir o artigo 1306º a propósito do princípio da tipicidade.
Significa que o legislador, ao consagrar o princípio da tipicidade tomou por referência o
Direito de Propriedade dizendo que o sistema dos Direitos Reais é baseado nele, que é a
matriz/referência. Este facto, conjugado com o artigo 1305º a propósito do conteúdo do
Direito de Propriedade vai-nos dar um critério/orientação para o caminho que vamos seguir
nas próximas páginas. O critério é que o direito de propriedade só pode ser restringido nos
termos em que a lei o preveja. Isto significa que eu não posso criar direito reais menores
diferentes daqueles que a Lei preveja.
Mas, a forma como este princípio da tipicidade foi construído faz com que nós tenhamos
ainda que considerar que não se trata apenas desta proibição, porque a Lei diz ainda que o
proprietário tem de poder e usar e fruir plenamente do seu Direito excepto quando a Lei
disponha diversamente. Assim sendo, não podemos no processo interpretativo, ou seja,
quando estivermos a interpretar as normas relativas e aplicáveis às situações jurídicas reais,
utilizar a analogia quando ela restrinja o direito de propriedade60. O que significa que eu
não posso estar a aplicar analogicamente factos constitutivos ou modificativos de sentido
ampliativo dos direitos Reais menores, pois a consequência disso é a restrição do direito de
propriedade. Ou seja, se olhar para um direito real menor se perceber que existe aí uma norma
que não prevê determinado facto constitutivo ou modificativo no sentido de ampliar o conteúdo
desse Direito Real menor, eu não posso por analogia ir buscar instrumentos aos outros direitos
reais menores, já que ao fazê-lo eu estarei a restringir o direito de propriedade para lá daquilo
que a Lei permite. Mas já posso fazer uma aplicação de normas que prevejam causas de
extinção de direito reais menores. Se considerar que por analogia a um determinado Direito
Real, se aplica a causa de extinção que identifico em outros Direito Reais menores, o que
estou a fazer é a permitir que este Direito Real menor se extinga e ao fazê-lo, estou a
alargar o Direito de Propriedade. Assim no entender de Henrique Antunes é a própria
conjunção dos artigos 1306º e 1305º que vai permitir esta analogia que alargue o direito de
propriedade.
Constituição
Olhando para todos este modos de constituição dos Direitos Reais, sem prejuízo de
algumas menções particulares que aparecem em alguns deles, ocupação e acessão no direito
de Propriedade, a destinação do Pai de Família nas servidões prediais, sem prejuízo de
algumas menções particulares que aparecem em alguns direito Reais, podemos extrair em
tom de teoria geral, que há desde já 3 modos que são inequivocamente comuns ainda que
possa um deles não estar presente em todas as formas de constituição dos Direitos Reais.
Aqueles que são generalizáveis são desde logo o contrato, o testamento e a usucapião. Vamos
então olhar para estas formas de constituição:
O contrato foi identificado nos vários Direitos Reais, mas em alguns deles, vimos a
referência somente ao negócio jurídico (propriedade horizontal). Será que só se pode construir
Direito Reais por negócio jurídico bilateral em que existe acordo de vontades ou de forma mais
abrangente devia ter a Lei falado apenas de negócio jurídico, abrangendo contratos e negócio
jurídico unilaterais? Na verdade, quando na propriedade horizontal se fala em negócio jurídico,
há uma razão de ser, porque a propriedade horizontal, em regra, a prática mais frequente de sua
constituição é a declaração unilateral de vontade do seu proprietário.
Ou seja, enquanto o prédio está a ser construído e o edifício é propriedade de um sujeito,
esse sujeito, terá de constituir sobre o edifício a propriedade horizontal, só que esta pressupõe
uma coisa para existir, que é que haja mais do que um proprietário. O que acontece é que a
teoria, e sobretudo a prática, têm admitido que a propriedade horizontal possa ser adquirida
por declaração unilateral do proprietário, em regra, na fase de construção do edifício, e
depois, a constituição do regime da propriedade horizontal já verificada, vai ficar com os efeitos
em suspenso até à alienação de uma das fracções.
Sendo assim, percebe-se que no artigo 1417º a Lei faça referência a negócio jurídico e
não a contrato, admitindo este negócio jurídico unilateral.61
A questão está em saber se onde a Lei não preveja e fale apenas de contrato, como no
direito de superfície e nas servidões prediais, será possível dizer que o que queria a Lei dizer era
que incluía negócio jurídico unilateral? A Henrique Sousa Antunes parece que não. Vimos o
ano passado que os negócios jurídicos unilaterais estão sujeitos a uma regra de tipicidade.
Ora, uma razão importante para que os negócios jurídicos unilaterais sejam típicos, é para evitar
que alguém por manifestação unilateral de vontade fique irrevogavelmente vinculado a essa
mesma manifestação, quer-se por isso proteger a pessoa contra atitudes que ela possa ter e que
a façam ficar irrevogavelmente a ela vinculada. Henrique Sousa Antunes acha que esta ideia que
existe face à produção dos efeitos obrigacionais, é ainda mais premente para a produção de
Direitos Reais. A ideia de que se admitisse que por vontade exclusiva do sujeito em causa, ele
pudesse vincular-se à constituição de um Direito Real que tem uma natureza mais perene do que
61
Esta forma de constituição é também admitida em relação a um Direito Real que está em diploma autónomo
que é o Direito Real de habitação periódica.
a obrigação, parece de facto de rejeitar. E por isso, na opinião de Henrique Sousa Antunes,
quando o legislador falar em contrato, fá-lo de um modo intencional.
É também preciso ter presente que a Lei fala no fenómeno da transmissão mortis
causa, empregando ora a expressão de sucessão por morte, ora a de testamento e há que ter
presente que estas expressões não se confundem.
Na maioria das formas de constituir direitos reais menores o legislador fala em
testamento, e no entanto, no artigo 1316º fala-se em sucessão por morte. Porque é que o
legislador faz esta distinção? Quando nós falamos em sucessão por morte, estamos a falar quer
da sucessão por Testamento, que é uma forma voluntária do de cujus dispor dos seus bens para
depois da sua morte, quer de se não houver testamento a distribuição do património faz-se de
acordo com a Lei, havendo uma sucessão que é a chamada sucessão legítima.62 No fundo,
quando falamos de sucessão por morte podemos estar aqui a pensar em dois caminhos,
na vontade do falecido que dispôs sobre os seus bens, ou se ele nada dispuser ou dispondo,
havendo uma parte do património em relação a qual ele não pode dispor, porque há sucessores
que a existirem fazem com que a sua vontade não possa ir tão longe (sucessores legitimários),
mas quando haja esse testamento e até onde esse possa a ir, a sucessão por morte dá-se pela
vontade do falecido, mas pode também dar-se por Lei. Isto é, na ausência de disposição do de
cujus ou quando ele disponha sobre uma parte em relação à qual não pode dispor, é a Lei a
intervir e a dizer como é que se faz a distribuição do património.
Por isso, a referência à sucessão por morte, abrangendo testamento e sucessão
fundada na Lei, aparece consagrada no 1316º, e no entanto, no caso do usufruto só aparece o
testamento. Mas porquê? Será que no usufruto não será admitida a sucessão fundada na Lei? A
resposta é afirmativa porque diz o artigo 1443º que: “Sem prejuízo do disposto nos artigos
anteriores, o usufruto não pode exceder a vida do usufrutuário, sendo constituído a favor de
uma pessoa colectiva, de direito público ou privado, a sua duração máxima é de trinta anos.”
Quando o titular morrer esse Direito extingue-se, só se fala em testamento para se constituir
e não para transmitir, por isso não fala na Lei, porque não seria esta a constituir mas a
transmitir. O usufruto não pode ser transmitido mortis causa, e por isso, é evidente que a única
forma de constituição de usufruto há-de ser o testamento, porque é uma forma de
constituição e não de transmissão.
Falta-nos então a usucapião. Aparece regulada nos artigos 1287º e seguintes: “A posse
do direito de propriedade ou de outros direitos reais de gozo, mantida por certo lapso de tempo,
faculta ao possuidor, salvo disposição em contrário, a aquisição do direito a cujo exercício
corresponde a sua actuação: é o que se chama usucapião.”
Já sabemos que esta é uma forma genérica de constituição de Direitos Reais, uma
62
Ver matéria de sucessões
vez que só relativamente aos Direitos de uso e habitação esta foi afastada (1293º b)), sendo
certo que há uma forma de servidão predial que também não pode ser adquirida por
usucapião. Este artigo 1293º diz quais os direitos reais que estão excluídos da usucapião: as
servidões prediais não aparentes. Temos depois dois outros aspectos que importam destacar
em relação anda a este artigo:
1) Em primeiro lugar, estamos aqui a falar de direitos reais de gozo e por isso a
usucapião não aparece referida nos demais direitos reais, nos de garantia ou de
aquisição.
2) Em segundo lugar, a Lei fala em posse. Tal como vamos ver adiante no estudo, a
Lei fala em posse do Direito de Propriedade, e o que vamos ver é qual a
diferença entre a posse e a detenção. Ou seja, se eu emprestar o meu Código
Civil, a outra pessoa fica com o controlo material sobre esse meu Código Civil, só
que não é possuidora do meu Código Civil e não o vai poder adquirir por
usucapião, porque se começou logo por dizer que se emprestou o Código Civil. A
outra pessoa não tem um direito real sobre a coisa mas apenas um direito
pessoal, e assim sendo, está excluída a ideia da posse. Se por exemplo, uma
pessoa está a cultivar um terreno, fazendo-o no interesse do dono do negócio, tal
como existe na gestão de negócios, não é possuidora de forma tal que o venha a
adquirir por usucapião, ele é apenas um mero detentor. Ele tem o controlo
material da coisa sendo que esse controlo vai durar por algum tempo, mas não é
possuidor. E por isso, a distinção entre posse e detenção é fundamental, desde
logo para efeitos de usucapião. Porque o possuidor pode adquirir por usucapião
o Direito correspondente à sua atuação e o detentor já não.
Casado com isto é interessante olhar para o artigo 1291º que diz que: “A usucapião por
um compossuidor relativamente ao objecto da posse comum aproveita igualmente aos demais
compossuidores.” Esta norma deve ser trata em conjunto com outra norma, a do artigo 1406º
nº2 que diz que: “ 2. O uso da coisa comum por um dos comproprietários não constitui posse
exclusiva ou posse de quota superior à dele, salvo se tiver havido inversão do título.”
Ou seja, vamos supor que o prédio A é uma coisa que está em compropriedade entre os
Senhores A, B e C, e vamos supor que durante 25 anos só o B é que utiliza a coisa. O que diz a Lei
no 1406º nº2 é que o uso da coisa comum não constitui posse exclusiva. Isto é, o facto de ele
utilizar a coisa sozinho sem os outros comproprietários não significa que ele tenha
adquirido por usucapião a propriedade exclusiva do terreno, porque ele é possuidor do
seu Direito, mas é detentor dos Direitos de A e de C. A Lei diz que ele pode usar sozinho mas
ainda assim, o que ele fizer é algo que respeita à compropriedade e não algo que lhe aproveite
exclusivamente, excepto se tiver havido inversão do titulo, aí ele considera-se como exclusivo
possuidor da coisa. Isto é, tem de haver alguma vontade de oposição. Só assim se poderia
considerar que ele seria possuir em exclusivo. Não tendo havido, isto significa que ele está a
fazê-lo em beneficio de todos e não em beneficio de si próprio. Ele é possuidor da sua
quota mas detentor da quota dos demais e quando assim o é, não pode adquirir por
usucapião o resto das quotas.
Diz o artigo 1291º que se o possuidor agir sozinho, o seu comportamento aproveita
igualmente aos demais compossuidores. É a mesma lógica porque a pessoa ao agir está a fazê-lo
em seu nome mas também em representação dos outros, beneficiando todos. O que acontece é
que se ele estiver a agir sozinho, supondo que há alguém que age sozinho numa situação de
contitularidade, o que diz este artigo 1291º é que ao agir sozinho esse alguém vai permitir a
aquisição por usucapião em benéfico dos três. Se ele estiver a agir de boa-fé, mesmo que
alguém esteja de má fé63, o prazo que se utiliza é o de boa fé porque está tudo centrado na
pessoa que age, e essa está a agir não apenas em seu beneficio mas em beneficio de todos, isto é
o que se extrai do artigo 1291º.
No entanto, em relação a usucapião, não está tudo nos artigos 1296º e seguintes,
designadamente não estão lá as classificações da posse. Este certo lapso de tempo, é uma
referência às classificações da posse. Porque este tempo é variável em função das classificações
que vamos estudar, e vamos estudar quatro classificações legais e quatro doutrinais, e em função
disso vamos ver que os prazos para adquirir por usucapião são diferentes.
Importa reter agora que à usucapião se aplicam os direitos da prescrição, por força
do artigo 1292º, o que significa que esta tem de ser invocada em processo judicial. Já que se
assim não for, a pessoa não se pode valer dela.
Outro aspeto importante é que a usucapião tem efeito retroativo, o que resulta do
artigo 1288º. Ou seja, quando a pessoa adquire legitimou o seu comportamento desde o
início da posse e portanto, se porventura o titular do direito lhe viesse pedir uma restituição de
frutos, ele poderia dizer que seria considerado proprietário não 20 anos depois do início
da posse mas desde o seu início.
O artigo 1290º reitera aquilo que foi dito entre a posse e a detenção.
Vimos quais são os modos em geral de aquisição de direitos reais, sendo que vamos
agora ver os factos específicos à aquisição do direito de propriedade. Em bom rigor vamos
falar de dois fenómenos:
1º OCUPAÇÃO e 2º ACESSÃO
63
Como vamos ver na posse interessa a boa ou a má fé para os tempo do usucapião
estava anteriormente neste artigo acabou. A lei legitimava a destruição dos animais ferozes,
maléficos e a ocupação desses animais. Com a revogação não se está dizer que a pessoa não
poderá reagir, porque isso está coberto desde logo pelo regime de auto tutela que a nossa lei
prevê. Por ventura quererá dizer é que não haverá o reconhecimento do direito de
propriedade por ocupação. Mas a verdade é que essa é uma forma de garantir a segurança, isto
é, se se conseguisse efetivamente enclausurar o animal, a circunstancia de a propriedade ser
atribuída, seria com certeza um estimulo para a defesa da segurança de todos, mas na verdade
esta norma já não esta em vigor.
Quando se trata de uma coisa que tem dono mas que está perdida ou escondida pelo seu
dono, por exemplo, se eu encontrar uma concha na praia e levar, ela é minha por ocupação,
temos de ter em conta que este é uma forma de aquisição do direito de propriedade
relativamente a uma coisa que nunca teve dono ou foi abandonada pelo antigo dono, e nesse
caso há uma ocupação em sentido estrito.
Temos ainda de ter presentes os artigos 1323º e 1324º que determinam alguns casos
específicos de ocupação. A lei vai exigir que o anunciador anuncie o achado pelo modo que se
considere mais conveniente.
Para o artigo 1323º nº1 e para o artigo 1324º nº2, o segundo passo para se poder falar
do direito de propriedade relativamente a uma coisa achada (achamento), é, se o achador não
souber a quem pertence o animal ou coisa móvel perdida ou escondida, anunciar o achado ou
avisar as autoridades. Neste segundo momento também ainda não há aquisição do direito de
propriedade.
Artigo 1324: Se olharmos para o regime do artigo 1324º vemos uma diferença
importante entre os dois regimes, isto é, se eu estiver no âmbito do artigo 1323º o achador faz
seu o direito de propriedade de forma integral de forma completa, no caso do regime dos
tesouros, das coisas que tenham sido escondidas, a lei estabelece que metade é para o
achador e a outra metade pertence ao proprietário da coisa móvel ou imóvel onde o
tesouro estava escondido ou enterrado.
Depois vamos encontrar disposições que não estão no artigo 1324º, mas também são
aplicáveis analogicamente em regime de tesouros, e quais são essas disposições? Olhando para o
artigo 1323º na hipótese em que o achador não fique com o direito de propriedade sobre a
coisa, em que o achador restitua a coisa porque sabe quem é o dono ou restitui porque fez o
aviso ou fez o anuncio e o dono apareceu, se ele tiver que restituir a lei diz que ele tem o
direito à indemnização do prejuízo havido e das despesas realizadas.
Na verdade este regime é o regime que estava também na versão anterior do artigo
1323º nº3, só que também estava outra coisa que também desapareceu em 2017, e a nosso
entender não se consegue perceber o porquê, porque no regime anterior, além da indemnização
pelo prejuízo que o achador tivesse tido e a compensação das despesas que tivesse feito, a lei
estabelecia ainda um prémio. Assim, o achador entregaria um premio, já que este não fez seu o
direito de propriedade, teve de entregar, restituir a coisa ao seu dono, e por isso, a lei estabelecia
o premio e definia como esse se calculava. Isto era uma forma de incentivar à restituição da
coisa, sendo um pouco aquela lógica da promessa pública quando o proprietário pede alguma
coisa e anuncia alguma coisa para que a coisa seja entregue, não se consegue perceber o porquê
da actualização da norma neste sentido de ficar sem prémio.
Com a revisão de 2017 aparece uma coisa nova e estranha ainda no nº7. A crítica que o
Professor Henrique Sousa Antunes faz ao legislador, está no facto de falar em retenção,
porque tratar esta faculdade que se dá como um direito de detenção não tem qualquer sentido
tendo em conta a noção de detenção, e tendo em conta a ausência de qualquer relação deste
fenómeno como o fenómeno do direito de retenção. Mais valia que o legislador tivesse usado
outra expressão em vez de “reter”, poderia ter utilizado por exemplo: “pode conservar o animal”
ou eventualmente pudesse até ter ido mais longe e ter permitido a ocupação. Para o professor
falar aqui em detenção não parece apropriado.
Quanto à acessão, é definida no Código pelo legislador no artigo 1325º Este é um tema
altamente complexo. O que é que acontece no fenómeno da acessão?
Basicamente nós temos duas coisas que pertencem a proprietários distintos, mas por
uma razão natural ou industrial, isto é, por razão da natureza ou por razão do homem vem
unir-se ou incorporar-se noutra. Exemplo: Alguém constrói num terreno alheio, está a unir, está
a incorporar em terreno alheio, coisas que não pertencem ao proprietário desse terreno ou
vamos supor que alguém se apropria de um objecto de outro e o funde com outros objectos.
Naturalmente que a coisa perde a sua autonomia e é unida a outras, e estamos por isso a falar de
fenómenos que há como diz a lei no artigo 1325º uma “união ou incorporação”. Qual é o
problema que se coloca? Se alguém constrói em terreno alheio, a pergunta que se vai colocar é: o
que é que acontece relativamente a propriedade do edifício, relativamente à propriedade do
terreno? Isto é, será que a pessoa que é proprietária do terreno vai também ser proprietária do
edifício dado que o edifício foi construído no seu terreno? Ou uma pessoa que construiu o
edifício poderá vir a adquirir a propriedade do terreno visto ter construído o edifício?
Na verdade, existe um principio “superfícies solo servi”, que nos diz que todo o que se
viesse a incorporar na coisa inicial passaria a integrar o direito de propriedade sobre
essa coisa inicial sem ter de olhar para as características dessa incorporação. Esse
princípio é um principio clássico que tem tradução no nosso organismo na norma do artigo
1327º.
Por força do artigo 1327º, quando uma coisa inicial se vier a juntar uma outra, o
proprietário da coisa inicial passaria a ser proprietário também da coisa que foi incorporada.
Tudo aquilo que fisicamente se incorporasse na coisa inicial seria integrada no direito de
propriedade, sem que estivéssemos a olhar para as características do ato de incorporação.
Se na verdade o legislador tivesse estabelecido este principio nós tínhamos o nosso
problema resolvido, isto é, sempre que houvesse um fenómeno de acessão nós concluíamos pela
atribuição do direito de propriedade ao dono da coisa onde essa união ou incorporação veio a
ocorrer relativamente à coisa que veio a ser unida ou incorporada. A questão estaria fechada.
Mas a verdade é que há vários fenómenos de acessão e o legislador não veio a
estabelecer este princípio, senão em termos pontuais. Em primeiro lugar é interessante
olhar para a classificação que o legislador estabelece relativamente aos fenómenos de acessão e
relativamente aos fenómenos de acessão, a acessão pode ter expressões muito diversas, a
acessão em primeiro lugar pode ser natural ou industrial.
1) Boa ou má fé do agente
2) Saber em que medida é o agente acrescentou, apreciar o valor relativo das coisas: O
que existia e o que foi trazido para conseguir determinar quem é que se vai tornar
proprietário da coisa modificada.
1) A pessoa que é proprietária da coisa onde outra foi construída adquire a construção
se se seguir o princípio do artigo 1327º, mas isso nem sempre se verifica. Pode a
pessoa que construiu adquirir, e não a que é proprietária da coisa onde o edifício foi
construído. O que contraria a ideia de haver uma expansão do direito de propriedade
da pessoa que é proprietária da coisa onde a outra foi construída.
2) Portanto, podemos ter que o agente, a pessoa que constrói o edifício pode vir a
adquirir a propriedade do solo. Isto só acontece se:
a) O agente tem de ter agido de boa fé, assim, exclui-se que uma pessoa de má fé
que constrói em terreno alheio possa adquirir esse terreno mas que o valor
que esse traga ao terreno seja superior ao valor que o terreno tem. Porém, se
a pessoa tiver agido de boa fé e se tiver trazido um valor superior ao que a
coisa inicialmente tinha, então a pessoa que construiu o edifico adquire a
propriedade do solo. O artigo 1340º nº 4 dá-nos a ideia do que se trata de
boa fé para efeitos de acessão, é aplicável a outros regimes de acessão.
Na base de tudo está a ideia de que o proprietário tem o direito de decidir o que quer
fase com as suas coisas, e portanto, a ideia de que ninguém pode interferir na minha
propriedade. Se alguém vem e constrói e com isso cria um dever de prestar para mim, há aqui
alguma coisa estranha e é ainda mais estranho quando no regime da acessão industrial
mobiliária vemos que existem dois regimes aplicáveis por analogia a fenómenos de acessão
imobiliária e que pretendem salvaguardar a hipótese do dono do terreno dizer que não quer
adquirir a propriedade sobre a coisa unida ou incorporada. Ou seja, tem de haver esta
possibilidade, tenho um problema de haver uma intervenção alheia numa coisa que me pertence,
e portanto tenho dois agentes a querer reivindicar o direito de propriedade. Porém, de base o
que acontece é que a incorporação foi feita no terreno, e portanto houve uma intervenção no
direito de propriedade, por isso, ele tem que ter oportunidade, mesmo que segundo o 1340º
adquirisse a propriedade, de se pronunciar.
A este respeito quando vamos ao regime da acessão industrial mobiliária, nos regimes
dos artigos 1333º nº4 e 1336º, vemos que:
1) 1333º nº4: Trata da união ou confusão de boa fé “Nos casos previstos nos números
anteriores” (são casos que têm por base a boa fé e o que varia é a o valor relativo da
coisa). Ou seja, se o valor da coisa onde houve essa intervenção for maior que o valor
trazido, a ideia é que a pessoa está de boa fé, mas não trouxe mais, portanto, a
propriedade pertence à pessoa que vê o seu objecto transformado e no 1333º nº3
isto está claro. O que diz este artigo 1333 nº4, é que nesta hipótese, o autor da
confusão fica com a coisa adjunta, se o dono da coisa inicial onde essa intervenção
foi feita preferir ficar com a indemnização em vez de ficar com a propriedade da
coisa alterada, então a propriedade é atribuída por vontade do dono da matéria
transformada, ao outro e será esse que tem que indemnizar o dono da matéria. Esta
mesma ideia é replicada no artigo 1336º.
2) Se o dono da matéria tem uma matéria que vale tanto ou mais que o valor da
especificação, nesse caso o dono da matéria fica com a coisa. Mas não é isto que
não se quer? A expressão empregue neste artigo é: “tem direito a ficar com”. Isto é,
ele pode escolher, tem a faculdade de optar diversamente. A lei não diz que fica com
a coisa, não lhe atribui o direito de propriedade como resulta no artigo 1340º nº3,
a lei diz que pode ficar com a coisa. Se ele tem o direito de optar é ai que encontro o
fundamento para divergir do estipulado no 1333 nº4
O principio que se extrai é que: para alem da boa fé e valor relativo da coisa é
ainda critério para a atribuição do direito de propriedade a vontade do titular da coisa
transformada, o proprietário da coisa onde houve união e incorporação.
b) Objecto: É possível substituir a coisa que é objecto do direito real sem que com isso
se extinga o direito real? 1545º servidões prediais: não podem ser separadas dos
prédios a que pertencem ativa ou passivamente. O principio geral aplicável aos
direitos reais: se a coisa for substituída por outra o direito extingue-se sem
prejuízo da constituição de um novo direito da mesma natureza, a alteração da
coisa termina a extinção do direito em razão da substituição do objecto. Assim
o 1545º é a expressão deste principio geral sem prejuízo, porém, de encontrarmos
regimes em que o legislador veio reconhecer a manutenção do direito apesar da
substituição do objecto: Situações de substituição do objecto do direito por
determinação da lei, sub-rogação real, casos em que por estipulação da lei o objecto é
alterado e nesses casos a consequência vai ser a manutenção do direito apesar da
substituição do objeto. Um exemplo típico é artigo 1536º quando a respeito do
direito de superfície o legislador diz que admite que a coisa inicial possa ser
substituída por uma obra coisa sem que o direito e extinga, modificação do objecto
sem conduzir à extinção do direito.
Transmissão
O princípio que vigora e que importa na construção de uma teoria gral dos direitos reais
é que os direitos reais pela sua patrimonialidade são transmissíveis e essa
transmissibilidade é afaimada em vários momentos:
a) Propriedade Horizontal
b) Usufruto: Artigo 1444º o legislador diz que o usufruto é transmissível. O direito de
usufruto extingue-se coma morte só usufrutuário portanto não se pode extingue por
morte e isto significa que não é transmissível sem restrições.
c) Superfície: Artigo 1534º É um direito que é transmissível sem restrições Existem, no
entanto, direito não transmissíveis: direitos de usos e habitação não são
transmissíveis nem por morte nem inter vivos.
Defesa
Já vimos alguns deles e outros vamos ver na Posse tratada neste caderno. Temos a
defesa de direitos reais:
1)Acção de reivindicação
3)Acções de simples de apreciação – Instrumento de processo civil, que são ações que
se limitam a declarar a existência, ação de declaração no sentido positivo; ou inexistência do
direito, acção de declaração no sentido negativo.
4)Acção de demarcação - 1353º e seguintes: Não é uma ação que tenha por propósito
afirmar ou não a existência de um direito. É uma acção de defesa, mas destina-se apenas a
fazer uma delimitação dos prédios que estejam envolvidos no caso, basicamente quer que
se faça o estabelecimento de uma demarcação entre prédios, sem que essa acção tenha como
objectivo a afirmação da existência de um direito de propriedade sobre os terrenos. Isto é,
pressupõe essa propriedade, e em função dessa demarca-se o terreno, determina-se a fronteira.
Não se discute o título, mas a medição dos prédios a que os títulos respeitam.
Chegando ao fim das vicissitudes vamos concluir com o “final da vida” dos direitos reais.
Quais são então essas formas de extinção dos direitos reais?
Para começar a perda da coisa. A lei reconhece em relação a alguns direitos reais, a
perda da coisa como forma de extinção desses direitos. Exemplo: Usufruto; Direito de superfície.
No entanto, na opinião do Professor Henrique Sousa Antunes o silêncio do legislador
quanto aos demais direitos reais é irrelevante porque obviamente o direito real só existe
quando a coisa permanece, ou seja, faltando a coisa, o direito perde o seu objecto, e,
necessariamente, extingue-se. Se a coisa se perde, que objecto poderia ter o direito real?
Nenhum, como tal, o facto da lei não falar da perda da coisa relativamente aos outros direitos
reais, não significa que a perda da coisa não seja uma forma de extinção genérica dos direitos
reais. Estamos a falar da perda total, casos em que a coisa se perde na sua integralidade. Se
a coisa se perder parcialmente, então o direito não se extingue: Artigo 1476º nº1 alinea d) e
1478, o legislador reconhece a perda das coisas como forma de extinção do direito de usufruto,
mas se a perda for parcial o direito permanece. Isto é valido para os restantes direitos reais.
Há direitos que não são necessariamente temporários são direitos que podem ser
perpétuos ou temporários. Por exemplo direito de superfície, artigo 1524º, retiramos da
noção que é um direito que pode ser perpétuo ou temporário.
Em quarto lugar como causa de extinção dos direitos reais temos a constituição
originária de um direito totalmente incompatível com o direito existente. Basta pensar no
exemplo da usucapião, sendo este exemplo replicável para a expropriação de utilidade pública,
ou acessão. Todos eles fenómenos de constituição originária de um direito que poderá ser
incompatível com o direito anterior.
Exemplo: A lavrou o terreno do senhor B durante 20 anos, mesmo sabendo que o
terreno pertencia ao senhor B. Posse pacifica, publica e efectiva ao fim de 20 anos, mesmo sendo
de má fé, adquire por usucapião, a consequência para o direito anterior é que se extingue
pela constituição originária de um direito totalmente incompatível com o direito
anterior.
Em quinto lugar, a confusão. Direito real extingue-se pela comunhão do direito real
menor e do direito de propriedade na esfera da mesma pessoa. Quando o direito real menor vem
ingressar na esfera jurídica do proprietário, ocorre a sua extinção (do direito real menor), pelo
facto de na mesma esfera jurídica o proprietário receber o direito real menor.
Professor Henrique Sousa Antunes – acha que tem autonomia relativamente ao não
uso, e isso é claro no artigo 1571º que trata autonomamente a impossibilidade de exercício
relativamente ao não uso. Nas servidões prediais também se prevê o não uso como forma
de extinção da servidão, 1569º d), no entanto, o legislador veio distinguir o não uso da
impossibilidade no 1571º. Isto só é dito nas servidões prediais e parece contrariar o que é dito
em matéria de usufruto, mas a ver do professor é um princípio geral.
Como justificar que o prazo de impossibilidade de exercício não seja contínuo e o prazo
de não uso seja contínuo? Porque o não uso – é não quero, e a impossibilidade – é não posso.
Outra coisa a notar é que Henrique Antunes defende que a propriedade não se
extinguem pela impossibilidade de exercício do direito.
1) Abandono: Ocorre quando o titular se separa da coisa que constitui o objecto do seu
direito, mediante um acto voluntário com o objectivo de fazer extinguir o direito.
Exemplo: Se estiver farto de um objecto e mandar para o lixo, haverá extinção do
direito de propriedade, estou a separar-me por acto voluntário de uma coisa, que
tem como objectivo extinguir o direito traduzindo-se na separação entre o titular e a
coisa. Segundo a lei parece que o abandono é uma forma de extinção do direito de
propriedade sobre coisas moveis ou animais. O Professor Henrique Antunes acha
que também deve ser uma forma de extinção de direitos reais menores porquê?
Artigo 1267º nº1 a), sabemos que a posse é um direito autónomo, mas tem as
características do direito que corresponde ao seu exercício. A posse em termos de
propriedade, usufruto etc… se pode ser tudo isto, e, uma vez que a lei não distingue, e
diz que a posse vai se sempre extinguir por abandono, independentemente do direito
a que essa posse se refira. Em relação ao usufruto, por exemplo, que pode ter como
objecto coisas moveis, é possível abandonar e fazer extinguir o direito do usufruto
assim? Se o legislador diz que o abandono é uma forma de perda da posse. Se eu
abandonar a coisa de que sou usufrutuário, estou a extinguir a posse correspondente
ao usufruto. Será legitimo dizer-se que nesse caso a posse se extingue, mas o direito
de usufruto correspondente se mantém? O professor acha que não, parece-lhe
que coerente é que quando uma pessoa faça extinguir a posse, faça extinguir
também o direito correspondente a essa mesma posse. Se o 1267º não distingue
em relação a que direitos se aplica, então isto significa que o abandono é aplicável
não apenas ao direito de propriedade, mas também aos direitos reais menores
desde que o objecto seja coisa móvel ou animal.
Liberatória – Temos uma obrigação, eu vou fazer extinguir essa obrigação mediante
a entrega do meu direito real a um terceiro.
Isto não vai dar ao mesmo, uma vez que estamos a fazer extinguir o direito? Não,
porque eu posso extinguir a obrigação real sem necessariamente estar a
extinguir o direito real porque algumas das obrigações têm como credor um
terceiro que não é titular do direito real maior relativamente à coisa, em
relação à qual eu tenho essa divida.
Sintese:
1º - Renuncia liberatória pressupõe uma obrigação real, uma vez que se destina a
extinguir essa; Renúncia abdicativa é independente de uma obrigação real.
O que nos diz o artigo 1574º é que o proprietário do prédio está onerado com essa
servidão pode opor-se ao exercício da servidão e, com isso, adquirir a liberdade do seu prédio
(aquisição derivada restitutiva). O que acontece é que ao extinguir-se direito real menor, em
virtude da elasticidade da propriedade, a propriedade fica desonerada. Assim, o proprietário do
prédio serviente impede o titular da servidão do exercício do seu direito real menor e, assim,
consegue fazer extinguir esse direito real menor. E consegue fazer extinguir quando? Por
exemplo, tratando-se de uma servidão de passagem, vamos supor que o titular do prédio
serviente fecha o acesso do prédio dominante a um prédio serviente, a partir desse momento dá-
se a extinção da servidão? No artigo 1574º trata-se de aquisição por usucapião, mas, atenção, o
proprietário não vai adquirir um novo direito, é um fenómeno de aquisição derivada restitutiva
porque ele readquire a totalidade/ plenitude da propriedade. Pois, até então, esta estava
onerada com a servidão. Assim, há semelhança com a usucapião, ele adquire alguma coisa/ a
plenitude do direito que já tinha. Quando a lei diz que se dá a extinção pela usucapio libertatis, a
lei diz é que: a partir do momento em que há oposição vamos ter de começar a contar o prazo
para efeitos deste fenómeno. E que prazo é este? São os prazos que encontramos nas normas
relativas à usucapião. Muitas vezes, aplicaremos a norma do artigo 1296º porque a oposição
não é fundada no titulo e registo correspondente e, muitas vezes, será feita de má fé porque não
se desconhece a existência do direito existente.
Assim sendo o prazo para efeitos de usucapio libertatis será, em regra, o de 20 anos.
Assim, quando falamos em oposição eficaz falamos de uma oposição que se prolonga por 20
anos, ao fim de 20 anos dá-se extinção do direito real menor que onerava direito de propriedade
por usucapio libertatis.
Porque é que a lei veio estabelecer a usucapio libertatis se, na verdade, é um fenómeno
que extingue o direito om o decurso do prazo (na maioria das vezes) de 20 anos?! Ou seja,
porque é que a lei não silenciou o fenómeno da usucapio libertatis e não deixou cair isto no
fenómeno do Não Uso65?
Reparemos, o que acontece quando há usucapio libertatis (quando temos uma oposição
eficaz): o titular do direito real menor não consegue exercer o seu direito porque há uma
oposição eficaz. Então, se há um não uso do direito porque é que se prevê uma outra forma de
extinção que é a usucapio libertatis? É que, embora falemos do não exercício durante 20 anos, o
facto de ser uma oposição e portanto, o facto de a lei remeter para as normas usucapião, faz com
que as regras a aplicar sejam as da prescrição; diferentemente, ao não uso se aplicam as regras
da caducidade. Diferença disto: se aplicarmos da prescrição então aplica-se também as
regras da suspensão e interrupção da prescrição, logo, o tal prazo de 20 anos pode não
ser suficiente para extinguir por usucapio libertatis. Assim, não é a mesma coisa estarmos
perante a usucapio libertatis e o não uso porque as normas aplicáveis a uma e a outra são
diferentes.
Henrique Sousa Antunes defende que esta norma aplicável às servidões prediais é
generalizável; é transformável numa forma geral de extinção dos direitos reais menores.
64
Servidão predial é atribuir a um prédio as utilidades de outros prédios- passagem, vistas, água. Estas
utilidades não esta descritas na lei – há um atipicidade- é preciso é que haja uma relação de forma tal que um
dos prédios esteja a servir outro prédio com as suas utilidades.
65
O não uso também é uma forma de extinção dos direito s reais menores.
Não parece que se restringe às servidões prediais e esta aplicação analógica não viola o principio
da tipicidade porque este está estruturado para a defesa do direito de propriedade. Ora, ao
falarmos de extinção de direito s reais menores, no fundo, estamos a falar ampliação dos
fenómenos de recuperação da plenitude do direito de propriedade.
O Não Uso
Previsto no artigo 298º nº3, não é esta a norma que diz que estes direitos se extinguem
por não uso porque, como a própria norma indica “podem extinguir-se nos casos previstos na lei”.
Assim, é apenas uma lei habilitadora.
Então se relativamente a um direito real menor indicado no artigo 298 não existir
uma norma que indique o não uso como forma de extinção dos direito s reais, então,
estamos impedidos de dizer que esse direito se extingue pelo não uso?
Quanto ao direito de propriedade, o artigo 298º nº3 não é suficiente para permitir falar
de extinção do direito de propriedade pelo não uso. Porquê? Porque da leitura do artigo
1305º e 1306º, sabemos que só podemos afetar o direito de propriedade quando essa
afetação esteja especificamente prevista na lei. Assim, não posso dizer que direito de
propriedade se extinga por não uso se no houver norma que o diga. Relativamente ao
direito de propriedade, só há uma norma que prevê a extinção desse direito pelo não uso:
o artigo 1397º em matéria de águas. Logo, posso ficar sem usar o que sou proprietário durante
50 anos sem que o perca. Só posso ficar sem ele, se houver um direito, através de usucapião por
exemplo, que se constitua e seja incompatível com o meu.
Não podemos dizer o mesmo quanto aos direitos reais menores. Estes são direitos que
oneram o direito de propriedade. Logo, se eu admitir que, mesmo no silêncio de norma especial,
esse direito real menor se extinga por não uso, a consequência vai ser de o direito de
propriedade ser ampliado/ adquirir a sua plenitude.
Aplicar analogicamente a norma aos outros direito s reais menores não ofende o
princípio da tipicidade porque ele está estruturado em defesa do direito de propriedade.
Quando o artigo 298º nº3 , referindo-se aos direitos reais menores, diz que tem de haver
disposição especial, essa disposição especial só interessa para direito de propriedade? Não,
também tem interesse para os direitos reais menores. Qual, qual é o interesse da exigência de
uma disposição especial do artigo 298º nº3 relativamente aos direito s reais menores? Fixação
de prazo. Porque o artigo 298º nº3 fala em extinção por não uso, mas a pergunta que surge é:
não uso ao fim de quanto tempo/ ao fim de quanto tempo é que se extingue?
Se é verdade que 298/3 pode ser interpretado no sentido de exigir uma disposição
especial da lei a respeito dos direito s reais menores para a fixação de prazo para a extinção por
não uso, a verdade é que, para direitos reais menores em relação aos quais o legislador se
pronuncia pela extinção pelo não uso, o legislador fixa sempre o mesmo prazo, que é de 20
anos. Porque é que a coisa deve ser diferente quanto ao direito de superfície por
exemplo? Logo, em bom rigor, a disposição especial da lei é inexigível porque havendo normas
que estabelecem a extinção pelo não uso ao fim de 20 anos para os direitos reais menores,
estas normas têm vocação de aplicação analógica às situações em que essa norma inexista em
razão, precisamente, do facto de essa extensão analógica não brigar com o principio da
tipicidade.
Desnecessidade
A única norma que se refere à desnecessidade como forma de extinção dos direitos
reais diz respeito à servidão predial. Vamos à servidão predial buscar a norma para a
generalizar aos direitos reais menores.
Está prevista no artigo 1569º nº2 e 3. O número 3 para agora não importa porque
refere-se ao tipo de servidões que são as legais, estudaremos isto depois. Mas a norma do nº2
tem interesse agora e essa sim tem uma vocação generalizável.
Deste preceito resulta que não estamos a falar de um direito real menor que tenha
constituído voluntariamente. Estamos a falar de um direito real menor que foi imposto através
de uma aquisição por usucapião contra a vontade do proprietário. Contra a vontade do
proprietário porque, se houvesse colaboração do proprietário/ se fosse um direito real menor
constituído pela vontade do proprietário, não seria legítimo que ele viesse invocar a
desnecessidade porque ele aceitou limitar o direito de propriedade. No fundo, se ele abdicou
voluntariamente, devia desinteressar-se sobre o que se passa do “lado de lá”/ das faculdades na
medida do direito real que foi constituído. Portanto, quando estamos a falar da constituição
voluntária do direito real menor, não faz sentido que haja a desnecessidade como forma de
extinção dos direitos reais.
Mas, quando estamos a falar de uma constituição por usucapião, a lei vem, relativamente
às servidões prediais, dizer que se o direito real menor foi constituído por usucapião,
quando o proprietário conseguir demonstrar que a servidão já não tem necessidade para
o prédio dominante, essa servidão deve extinguir-se. Ou seja, a usucapião está associada à
tutela de interesses com relevância colectiva, isto é, não se está a pensar especificamente
naquele sujeito, mas sim no sistema, o proprietário desinteressou-se no exercício de faculdades
sobre a sua coisa e houve alguém que veio ocupar esse espaço vazio, contra aquilo que o sistema
determinaria, e criando uma aparência, ao fim de um dado tempo a lei tutela essa aparência, ora
bem, a verdade é que está fundado na ideia de que, estamos com isso, a permitir a utilidade da
coisa, ou seja, se o proprietário se desinteressou da coisa e alguém vem utilizar essa coisa, então,
haja reconhecimento dessa utilidade e, por isso, do direito correspondente à utilidade que se
está a extrair da coisa. Por isso, a partir do momento em que deixa de haver utilidade, deixa
de fazer sentido que se mantenha.
Logo, esta causa que aqui está quanto às servidões prediais é generalizável aos direitos
reia menores. Assim, é possível demonstrar-se que havendo falta de utilidade no exercício do
direito real menor deixou de fazer sentido que a propriedade continue onerada pelo direito
constituído por usucapião. Mas, atenção, isto só acontece porque estamos a falar de constituição
forçada do direito real menor por usucapião.
A Posse
3. Valor económico que a posse tem enquanto realidade autónoma: (valor económico
intrínseco da posse, independentemente do direito correspondente). O facto de haver
um regime que tutela a posse permite trazer uma vantagem económica que se traduz no
reconhecimento de que a circunstância da coisa estar a ser utilizada tem um
benefício económico claro em relação às situações em que o bem não é explorado.
Por isso, vamos encontrar normas em que, independentemente da pessoa ser o titular ou
não do direito correspondente à posse que faz, vai beneficiar da circunstância de ter
posse.
Exemplo: regime dos frutos, a lei vai fazer com que alguém que age de boa fé (está
convencido que tinha legitimidade para atuar assim) seja beneficiário dos produtos mesmo que
não seja o titular do direito correspondente, porque agiu de boa fé.
O que significa que aqui a lei está claramente a dissociar o direito correspondente à
posse, da própria posse. É a própria posse (mesmo que desacompanhada do direito) que tem
vantagem: permitiu que o em fosse explorado e não ficasse inutilizado.
O professor Henrique Antunes considera que a posse é um direito real autónomo 66.
Defende que, ao percorrer o regime da posse, encontramos aí a satisfação de interesses
pessoais mediante a concessão de poderes diretos e imediatos sobre uma coisa corpórea.
O possuidor pode usar a coisa, pode fruir da coisa, pode defender a sua situação, pode
dispor da coisa que é objeto dessa posse. Tudo isto são faculdades que demonstram que na
posse temos um direito configurável como autónomo.
Concepção de Posse
Quando estamos perante uma situação possessória? Quando é que há posse? Estamos a
falar de uma realidade que é protegida autonomamente, mas que assume sempre a roupagem de
outro direito e, portanto, esta ambivalência torna o estudo da posse mais difícil.
Temos depois a concepção subjectiva, segundo a qual também tem de haver corpus,
também tem de haver a utilização de uma coisa para satisfação de interesse pessoais. Mas isso
66
Podemos encontrar noutros autores uma orientação diferente, considerando que a posse não assume a
natureza de um direito real autónomo.
não basta. Tem de haver um animus, isto é uma intenção. Não basta demonstrar o controlo
material, é preciso demonstrar ainda uma intencionalidade.
Esta é uma intencionalidade, uma vontade correspondente ao exercício de direitos reais.
Ou seja, alguém tem de demonstrar que controla materialmente a coisa e que se comporta
como sendo proprietário67.
Na prática, o que vemos na concepção subjetiva é que a pessoa que quer demonstrar que
tem posse, tem de provar que, além de usar a coisa, o faz de forma correspondente ao
exercício de um direito real68, que se comporta como um titular de um direito real, o que
significa que aqueles exemplos do comodato e da locação, que nos permitem dizer que há posse
de acordo com uma concepção objetiva, já não nos permitiriam dizer que houvesse posse de
acordo com uma concepção subjectiva, porque tem de haver a intenção de se agir como se fosse
titular de um direito real, impossível nos casos precisamente porque estamos perante direitos
de natureza obrigacional.
Assim:
No ordenamento português
1) Atua
67A História alargou depois o animus de propriedade para os demais direitos reais de gozo.
68Ver nota de rodapé anterior.
69 Há alguma controvérsia doutrinal na questão de saber se estamos aqui a falar de direitos reais de gozo
apenas. No tocante a usucapião a questão está resolvida porque é a própria lei a dizer que estamos a falar de
direitos reais de gozo, no artigo 1287º. Mas a posse não se esgota na usucapião. O professor Henrique Sousa
Antunes considera que, na medida em que seja compatível a posse aplicar-se a outros direitos reais, não vê
nenhum impedimento a fazê-lo. Há direitos reais de garantia, por exemplo, em que o titular controla
materialmente a coisa (penhor, direito de retenção...) e a verdade é que a lei não distingue.
intenção de exercer um direito real seria irrelevante. Mas pelo próprio artigo 1251º
percebemos que não é isto que acontece.
O artigo 1253º é uma norma que desqualifica. Vem dizer quais são os casos em que
não estamos perante uma situação de posse, apesar de podermos estar, num primeiro
momento, vocacionados para identificar naquele caso uma situação de posse. Vem dizer que
quando estivermos numa das situações que a norma descreve, não estamos perante uma
situação de posse mas sim de detenção, que não conduz à aplicação do regime da posse.
Há uma referência à intenção na alínea a). À primeira vista está claro que a lei atribui
relevância à intenção, ao animus. Porque diz que são meramente detentores os que agem sem
ter intenção de agir como beneficiários. Seríamos levados a retirar daqui que o animus é um
elemento necessário para haver posse. Parece que poderíamos dizer que o animus está na
norma para dizer que se não houver animus, não há posse, mas sim detenção.
Porque se falaria então de uma perspetiva subjetiva mitigada? Temos de atentar a
como é que o animus está configurado. Está configurado de uma forma negativa.
Ou seja, quando alguém quer ser qualificado como possuidor, tem de provar não só o
corpus, como também o animus? Não porque na nossa lei, havendo prova de um corpus,
presume-se a existêncpia de posse, porque o artigo 1253º no fundo serve como afastamento
desta presunção70. No fundo estamos a ler a norma ao contrário para retirar essa conclusão. O
animus está presente mas não o está como determinava a concepção subjetiva. De acordo com
a nossa lei basta a demonstração do corpus para que alguém possa ser qualificado como
possuidor. Portanto o animus é trazido como um elemento a comprovar que não há posse.
Na prática, a logica da conceção objetiva está aqui ser seguida, basta a prova do
corpus para haver posse e basta que a lei diga que não há posse para se afastar. Uma das
formas da nossa lei desqualificar a posse é precisamente a intenção, quando diz que não há
posse quando não há animus. Por isso é que não podemos dizer que o ordenamento jurídico
português consagrou uma concepção objetiva, porque para esta o animus é irrelevante e
como estamos a ver, para o direito português não é irrelevante.
Logo o Código Civil adopta uma concepção subjectiva de posse com a nuance de que
basta termos corpus para provar posse pois o animus presume-se.
Exemplo: Gestão de Negócios71. Se o A lavrar a terra durante 20 anos mas lavra a terra
no interesse e por conta do respectivo dono do negócio. Pode agora por usucapião adquirir o
terreno? Ele tem corpus porque lavrou a coisa durante 20 anos mas não tem posse porque o
outro vai conseguir demonstrar que ele não agiu para interesse próprio, como titular de
70 Ao dizer que são havidos como detentores ( = não são possuidores) aqueles que se demonstre que agiram
sem intenção de ser beneficiados pelo direitoo de propriedade ou outro direito real.
71 Ver matéria de direito das obrigações.
um direito real mas apenas como gestor de negócios. Como a intenção não está presente a sua
acção é qualificada como de um mero detentor, e não há aquisição por usucapião.
Há um acórdão nesta matéria que vai usar este raciocínio, mas a respeito de uma outra
norma, que o professor Henrique Sousa Antunes acha desnecessário, porque entende que a
leitura conjugada dos artigos 1251º e 1253º é suficiente para perceber que há aqui uma
presunção de posse quando há o controlo material da coisa.
Existe ainda um Acórdão Uniformizador de Jurisprudência de 14 maio de 199672
que vem sendo utilizado pela jurisprudência para fundamentar esta presunção possessória
quando existe um poder de facto, quando existe um corpus. Vem dizer que podem adquirir
por usucapião se a presunção de posse não for ilidida, os que exercem o poder de facto
sobre uma coisa, aqueles que controlam materialmente a coisa. Conclui-se que:
2. Aqui não é apenas um “silenciar”, é uma situação em que o titular do direito concede
permissão para a utilização de uma coisa que é sua. Mas é uma permissão concedida
no contexto de relações de cortesia, de amizade, familiares, etc. Tem relevância
jurídica mas não se traduziu na atribuição de um direito à outra parte. É dada apenas
por relações de vizinhança, cortesia, familiares, portanto livremente revogáveis.
Por último temos a c) do artigo 1253º. É a que tem maior aplicação prática.
Há um poder de facto que é exercido sobre uma coisa e esse poder de facto é legitimado.
Não é legitimado pelo direito real correspondente ao poder de facto mas por um direito real
que está na esfera jurídica de um terceiro. A pessoa tem o direito de agir mas esse direito de
agir sobre a coisa advém de uma legitimação dada por alguém alheio, algum terceiro que é o
titular de um direito real. Exemplo: O A é locatário de B. A é detentor. Ele exerce um poder de
facto sobre a coisa, podia ser presumido possuidor (porque há corpus, logo há posse). Porém,
como já sabemos, deixaremos de ter posse onde se verifica uma situação do artigo 1253º. Ele
pode agir sobre a coisa (porque tem um poder de facto autorizado por alguém que é titular do
direito de propriedade sobre a coisa). A é detentor porque possui em nome do proprietário,
exerce um poder de facto, não em nome próprio, mas em nome do titular (que é um terceiro).O
comodatário, o depositário, etc, são pelas mesmas razões apenas detentores.
Mas não se fala apenas em poderes de facto que se traduzam em direitos pessoais,
também podemos falar de direitos reais.
Aqui tem de haver outro direito real que legitime esse poder de facto assente num
determinado direito real. Exemplo: Se A for usufrutuário de uma coisa que pertence a B, ele é
detentor nos termos do artigo 1253º c) mas quando falamos de alguém que exerce um poder de
facto sobre a coisa sendo esse correspondente ao exercício de um direito real podemos estar
perante uma situação mais complexa. Ele é possuidor do direito de usufruto (ele age sobre a
coisa de forma correspondente ao exercício de um direito real). Por isso não há nada que
desqualifique a sua situação possessória. É possuidor do direito de usufruto mas em relação à
propriedade é um detentor. Ele controla materialmente a coisa em nome do proprietário. Mas
controla materialmente a coisa enquanto usufrutuário em nome próprio e controla
materialmente a coisa enquanto proprietário em nome de outrem. O usufrutuário é
simultaneamente possuidor do direito de usufruto e detentor do direito de propriedade.
Conclui-se então que qualquer titular de um direito real menor é possuidor do seu
direito real menor e detentor do direito de propriedade.
A relevância disto é enorme. Supondo que alguém está durante 25 anos a comportar-se
como usufrutuário, esse alguém não adquire o direito de propriedade porque o comportamento
dele correspondeu ao direito de usufruto e não ao direito de propriedade. O que ele poderá
adquirir por usucapião é o direito de usufruto porque em relação ao direito de propriedade é
apenas detentor.
Pode acontecer, contudo, como estudaremos adiante, que alguém que é detentor possa
tornar-se possuidor. Exemplo: um titular de uma servidão (possuidor da servidão e detentor da
propriedade) pode tornar-se possuidor da propriedade, com inversão do título da posse.
Classificações da Posse
A lei estabelece quatro classificações e a doutrina identifica outras quatro. Temos por
isso oito classificações possíveis de posse.
Classificações Doutrinais
a) posse efetiva vs posse não efetiva: Posse efetiva é aquela que é acompanhada da
prática de atos materiais sobre a coisa. Se não houver a prática de atos materiais sobre a
coisa, podemos estar em presença de posse mas essa é não efectiva.
b) posse civil vs posse interdital: Posse civil é boa para todos os efeitos de direito civil,
inclusivamente para a possibilidade de adquirir por usucapião o direito correspondente
à posse. A posse interdital é boa apenas para alguns efeitos, designadamente em matéria
de meios de defesa da posse. Se estivermos perante uma situação de posse interdital não
se produzem todos os efeitos possessórios mas apenas parte dos efeitos, por exemplo
não se pode adquirir uma coisa por usucapião.
Classificações Legais
a) posse titulada vs não titulada, artigo 1259º:A posse titulada é a que se funda num
modo legítimo de adquirir, mesmo que o transmitente não o tenha feito com
legitimidade ou que o negócio jurídico seja substancialmente invalido. Exemplo: A vende
coisa alheia a B. B tem posse titulada. Exemplo: negocio jurídico praticado com coação
moral. Ainda assim dir-se-á que à luz do 1259º estamos perante uma posse titulada73.
Mesmo que o negócio seja afectado por erro, incapacidade acidental, ou porque de facto
a pessoa não tem legitimidade para transmitir, a posse que se adquire é uma posse
titulada. Para que a posse seja titulada é preciso que haja uma regularidade formal do
título. Ou seja, se o A vendeu ao senhor B um terreno de que até é proprietário mas essa
venda foi por documento particular (não preenche a forma que a lei exige), o B adquire
uma posse não titulada. A lei no 1259º prescinde da legitimidade do transmitente,
prescinde da validade substancial do negócio jurídico, mas não prescinde da aparência.
(aparência que só é dada pela regularidade formal)
73
O professor Henrique Sousa Antunes diz que isto é dificilmente entendível porque a posse que ele tem ate
pode ser qualificada como uma posse titulada, mas, em bom rigor é uma posse violenta.
b) posse de boa fé vs posse de má fé, artigo 1260º: A posse titulada presume-se de boa fé
e a não titulada de má fé. Esta presunção é ilidível. A posse é de boa fé quando o
possuidor ignorava, ao adquiri-la, que lesava o direito de outrem, nº1 do artigo
mencionado. A presunção do nº3 também é relevante. Significa que quando vimos que
A exerce coação moral sobre o B para adquirir uma coisa, a posse pode até ter posse
titulada mas é uma posse violenta e portanto, é considerada de má fé (esta
presunção já é inilidível).
d) posse pública vs posse oculta, artigo 1262º: Publica é aquela que é exercida de modo
a poder ser conhecida pelos interessados. Oculta é a que é escondida dos interessados.
Uso
No contexto da posse, o beneficiário da posse usa a coisa. Será que a qualificação dessa
posse tem consequência nessa faculdade de usar a coisa?
Sim. A respeito do uso há uma disposição importante que é o artigo 1269º.
Aqui temos uma das primeiras consequências das classificações possessórias: em
matéria de uso, a lei estabelece que o possuidor de boa fé74 tem o direito de usar, pois, nos
termos do artigo 1269º, as desvantagens/ prejuízos associados ao uso da coisa só são
ressarcidos na medida em que o possuidor tenha agido com culpa. Exemplo: A (titular do
direito) e B (possuidor desse direito), B, usando coisa alheia, fazendo-o de boa fé , não responde
pela desvalorização normal associada à utilização da coisa. Exemplo: Se A usa o automóvel
alheio, convencido de que é seu, a perda de valor do automóvel durante esse tempo não gera
para o possuidor de boa-fé o deve de o ressarcir. Claro que ficam ressalvadas as situações em
que haja culpa do possuidor.
Do artigo retira-se que o possuidor de má fé tem então de ressarcir o proprietário da
74Associada a esta distinção “ boa fé VS. Má fé”, estão as classificações dadas anteriormente das quais tiramos
presunções de boa ou má fé (por exemplo, posse titulada presume-se de boa fé; posse não titulada presume-se
de má fé OU a posse violenta gera uma presunção inilidível de má fé. Aqui temos uma primeira consequência
prática dessas distinções.
coisa, isto retira-se de uma leitura pela negativa do artigo. Exemplo: Se o A usa, de má fé, um
automóvel alheio, a desvalorização desse automóvel é um prejuízo que tem de ser compensado
pelo utilizador pelo simples facto de estar de má fé, mesmo que não haja culpa na origem dos
danos / mesmo que os danos não são sejam causados por um comportamento culposo do
utilizador. A simples utilização é, só por si, gerador do dever de indemnizar para o possuidor de
má-fé.
Frutos
Mais uma vez releva a distinção posse de boa fé vs. posse de má fé, pois o possuidor de
boa fé faz seus os frutos percebidos , segundo o artigo 1270º nº1, os frutos naturais ou civis que
a coisa produza durante o tempo em que a possui ficam seus, ao passo que o possuidor de má fé
deve restituir os frutos ou valor correspondente ao titular do direito.
Estamos a falar de situações em que a posse é formal, ou seja, não é acompanhada da
efetiva titularidade do direito.
Além disso, o possuidor de má fé até está obrigado a mais nos termos do artigo 1271º,
além da restituição dos frutos, o possuidor de má fé responde pelo valor daqueles que um
proprietário diligente poderia ter obtido o pagamento do valor correspondente aos frutos
que o proprietário conseguiria obter.
Benfeitorias
Uma vez mais, a classificação da boa fé/ má fé é relevante, mas só é relevante em relação
a um dos tipos de benfeitorias. Quando interpretamos as normas relativas às benfeitorias, vemos
que há um momento em que esta distinção é relevante, mas apenas num dos tipos.
3) Ação de restituição - Artigo 1278º, são situações mais graves em que a pessoa foi
privada da posse. Aqui temos a ação de restituição da posse.
4) Restituição provisória da posse - Quando o esbulho foi praticado com violência, pode
ser pedida a intervenção do tribunal para que a coisa seja, até saber se há ou não direito
à restituição, que seja destituída provisoriamente. Esta providência, por ter sido
regulada especificamente pelo legislador, foge à regra de que quando se decreta uma
providência cautelar ouve-se sempre a outra parte. A ideia desta providência é ser
decretada sem que a outra parte seja ouvida, artigo 1279º diz mesmo “sem audiência do
esbulhador” precisamente porque se trata de uma situação grave. Quando dizemos “a
pessoa é esbulhada, se o esbulho tiver sido violento, pode recorrer-se à restituição
provisória da posse sem audiência do esbulhador”. Então, se a pessoa é esbulhada,
porque é que não é imediatamente decretada a restituição? Porque é que o
procedimento não é mais rápido? Porque quando estamos a falar da posse, estamos a
falar de um instrumento que pode ser útil a quem seja efectivamente titular do direito
correspondente à posse; de facto, provar a propriedade é uma diabolica probatio. Assim,
muitas vezes, os proprietários preferem recorrer aos meios de defesa possessórios
75 Matéria de obrigações
76 Porque sabemos que existe um regime geral que é aplicável sem distinção das matérias, ver matéira de IED
porque são mais expeditos. Isto tudo porque quem tem posse pode não corresponder a
quem tem titularidade do direito e é preciso não perder isso de vista.
5) Embargos de Terceiro – Forma que o possuidor tem de se defender contra uma ofensa
à sua posse praticada pelo tribunal. Ou seja, se há uma medida judicial que interfere no
exercício da posse pelo seu titular, o titular tem um instrumento para ir a tribunal dizer
que essa ofensa não é legítima, artigo 1285º.
Mas estes meios de defesa possessórios não estão acessíveis apenas à pessoa que é
efectivamente proprietária. Se o A for esbulhado pelo B e o B esbulhado pelo C. Pode o B por
uma ação de restituição da posse contra o C? Sim, porque o que ele está a defender é a posse e,
na verdade, B adquiriu posse, a forma de adquirir é o apossamento. Quando esbulhou adquiriu
posse através do apossamento. Tem posse porque tem um corpus, do qual se extrai a posição de
animus. Se ele é possuidor, tem o direito de defender a sua posse, ainda que a sua posse seja
formal.
No entanto, pode acontecer que o C se venha defender dizendo que, entretanto, adquiriu
por usucapião. Assim, o C faz prova que, apesar de ter esbulhado o B, já pode haver usucapião77.
Se o Tribunal chegar à conclusão que C é proprietário, a ação de restituição de B vai improceder
porque se demonstra que há uma razão legítima para que C mantenha a coisa na sua esfera
jurídica. Logo, a ação de restituição serve para proteger a posse, mas é vencida pelo direito
correspondente quando ele está na esfera da pessoa contra quem a ação foi proposta. Por isso se
diz, no artigo 1278º nº1, que se o tribunal perceber que o direito correspondente à posse que
se exerce não corresponde à pessoa que pretende a manutenção/ restituição da posse, então, a
ação vai improceder porque a titularidade do direito é determinante para o sucesso desse meio.
Além disso, no artigo 1282º, na letra da lei se diz que se a posse é uma posse oculta a
caducidade da ação de manutenção ou restituição da posse só começa a correr/ o prazo
de 1 ano para a caducidade da ação só começa a correr a partir do momento que haja
conhecimento do esbulho.
Ou seja, se a posse for oculta, em vez de começar a correr 1 ano a partir da perturbação
ou esbulho, para que a ação caduque, esse 1 ano só começa a contar a partir do momento em que
a pessoa esbulhada tenha conhecimento que foi esbulhada.
O artigo 1282º silencia um aspeto, mas uma interpretação sistemática leva-nos a uma
norma artigo 1267ºnº2 que equipara à posse oculta a posse violenta. Neste artigo, também se
estabelece que a quanto à posse violenta, o prazo de perda da posse só ocorre quando a violência
cesse. Esta lógica que está no artigo 1267º nº2 tem de estar no artigo 1282º, ou seja, quando
77PODE haver, é preciso atentar se a posse é civil ou interdital, pois se for esta ultima a posse não dá aquisição
por usucapião. Ver o que vai ser dito a seguir neste caderno e ver artigo 1297º
falamos de caducidade das ações de manutenção ou restituição, estamos a dizer que só se
começa a contar o prazo quando a posse é oculta a partir do conhecimento da perturbação ou
esbulho, mas, embora a norma não o diga, também está lá que: se a posse for violenta. Por
exemplo, A perdeu a posse para B porque B esbulhou com violência A, nesse caso, imaginemos
que temos um contrato de compra e venda celebrado sob ameaçada/ coação moral, aí A pode
reagir e não se aplica a regra de 1 ano a contar do esbulho porque, embora o 1282º nada diga,
deve ser interpretado no sentido de que, 1 ano para que caduque a acção de restituição só
começa a correr a partir do momento em que cessa a violência (exemplo: quando B morrer).
Quando B morrer, numa ação proposta contra os herdeiros, esse prazo de caducidade só começa
a contar a partir da morte e não do esbulho.
Logo, temos aqui um regime em que a posse oculta/ publica e pacifica/ violenta
releva.
O artigo 1284º diz que o possuidor mantido ou restituído tem direito a indemnização.
Usucapião
Quando falamos em usucapião, temos de perceber que tipo de posse está em causa. Nas
regras da usucapião, percebemos que o registo é relevante78. O Registo é relevante porque
contribuirá para reduzir os prazos de aquisição por usucapião, porque nesse caso temos
duas publicidades, a da posse, publicidade espontânea e a do registo, publicidade provocada.
Sendo certo, no entanto, que o registo, só por si, pode não ser relevante.
Designadamente, há outra caracterização da posse que anda naturalmente associada ao registo,
a da posse titulada. Portanto, quando pensamos numa posse registada, esta contribuirá
para a redução dos prazos mas, com excepção que se prevê no artigo 1295º, que trata do
registo da mera posse, ou seja, é uma situação em que se permite que o seja registado seja
apenas o mero facto de possuir e, por isso, não se fala em título de aquisição. O registo de mera
posse é a publicidade dada à simples situação de a pessoa estar a possuir.
Mas, quando falamos em posse registada, na maior parte dos casos, estamos a pensar no
registo do direito correspondente àquele que se possui, no registo do título de aquisição.
Imaginemos que A vende um terreno ao B e B regista a aquisição da propriedade. Este registo
que B foi fazer não é o registo da mera posse, ele está a registar é a propriedade que adquire pela
compra e venda. Ora, este registo de B é relevante, só por si, para usucapião? Não, este
registo é relevante sendo acompanhado por uma pose titulada, artigo 1294º.
Neste artigo, temos a conjugação de 3 classificações: 1) posse titulada e registada e de
boa fé então a aquisição é dada em 10 anos 2) posse titulada e registada e de má fé então o prazo
é 15 anos.
78 Uma das classificações doutrinais que vimos foi a Posse Registada e Posse não registada
Então, o que é que acontece se faltar o título? Ou o que acontece se faltar o registo
da mera posse? A consequência será que, em vez de aplicarmos artigo 1294º, somos
transportados automaticamente para o artigo 1296º. É uma norma subsidariamente aplicável.
Aplicando o artigo 1296, ou seja, numa situação em que falta o registo ou o título, os
prazos aumentam: por exemplo , o 1294º dá 10 anos para a boa fé e o 1296º dá 15 anos para a
boa fé. O 1294 dá 15 anos para a má fé e o 1296º dá 20 anos para má fé. Temos assim um
exemplo em que a distinção entre Posse titulada/ Não titulada E Posse registada/ Não
registada E Posse Boa fé/ má fé é relevante.
Vicissitudes
Aquisição Originária
Podemos ter uma aquisição originária da posse por apossassamento, artigo 1263º a)
Quando é que estou a falar de apossamento? Se o A furta o B ou se o A assalta a casa do B para
lhe roubar o quarto, evidentemente, o A vai ser considerado possuidor pois exerce um poder de
facto sobre a coisa. Assim, não havendo nada que permita destruir a presunção de que ele se
quer comportar como proprietário da coisa, tem posse. Portanto, sendo ele possuidor vamos
ver as consequências desta posse em matéria de uso, frutos, benfeitorias, usucapião nos termos
falados anteriormente neste caderno.
79 Possibilidade do possuidor de juntar à sua posse a posse do anterior. A importância da junção de posses é
relevante para efeitos de usucapião: vamos supor que B só possuiu durante 10 anos. Ora, supondo que
estamos no contexto do artigo 1296º (para efeitos de usucapião a Posse registada anda de mãos dadas com a
Posse titulada; assim, se ele não registar, o regime que lhe é aplicável é o do 1296º), ele só adquire passados 20
Essa junção, a acessão, dar-se-á em que termos? No caso em nota de rodapé, foi
relevante classificar as posses de A e B porque 10 + 15 dá 25 e o prazo máximo para se adquirir
por usucapião é 20. Mas as classificações podem ser relevantes para efeitos de acessão da posse
porque posso estar perante um prazo inferior ao máximo e preciso de determinar qual o
prazo aplicável àquele prazo para efeitos de aquisição por usucapião. Neste caso, como é que
determino o prazo que deriva da acessão da posse?
Não é só juntar o tempo de um e do outro. Porquê? Porque quando chego às regras da
usucapião, estas vão-me perguntar o tipo de posse. No caso de acessão o que vou fazer para
classificar aquilo que resulta da acessão das 2 posses é aplicar o artigo 1256º nº2, a posse
pior80 é aquela que irá ser predominante, a que irá determinar o regime aplicável.
O apossessamento é dado pela formulação da lei, mas esta é algo equivoca: “prática
reiterada de atos materiais”, mas então, quando é que se adquire? O que significa Reiterada? Mas
quando é que se adquire? A partir de 1 mês de praticas reiteradas? Ou 2 meses?
É preciso de saber quando começa a posse porque é a partir daí que se pode começar a
contar o prazo para a aquisição por usucapião. Logo, este regime tem de ser interpretado de
forma inteligente. Isto é, em bom rigor, porque estamos a falar da constituição, o que a lei exige,
em bom rigor é a materialidade (controlo material da coisa), sendo que para a posse civil
é necessária publicidade ( controlo com publicidade) pois só aí tenho uma posse civil/
boa para todos os efeitos que será útil para usucapião.
Então, quando a lei fala em “reiteração”, quer dizer o quê? Isto diz respeito a outra coisa.
Diz respeito ao que está no artigo 1267º nº1 d). Este artigo está casado com o artigo 1263º a).
No fundo, é isto: o B furtou a A, o B adquiriu a posse por apossamento. O que acontece a A? A
perdeu a propriedade? Não, só perderá a propriedade quando o B adquirir por usucapião. E a
posse (como a nosso ver é um direito real autónomo), perdeu-a? O artigo 1267º diz a posse do
A mantém-se durante 1 ano; quando passe 1 dia e um 1 ano, a posse de A extingue-se. Assim,
podemos ter situações em que há uma sobreposição de posses.
Qual a consequência pratica dessa extinção? O A já não pode recorrer a meios de
defesa possessório como a ação de restituição da posse porque deixou de ser possuidor apesar
de poder ainda ser o proprietário.
Henrique Sousa Antunes considera que a “reiteração” que o artigo 1263 a) refere diz
respeito à perda da posse posterior e não à constituição da nova posse. Henrique Sousa Antunes
considera que a “reiteração” é relevante para dizer que se a posse for exercida de forma pública,
com reiteração, então sim começa a contar o prazo de 1 ano.
Logo, em bom rigor, Henrique Sousa Antunes acha que não se pode falar da perda da
posse do A pelo simples decurso do prazo de 1 ano se a nova posse não for uma posse que,
além de tomada publicamente, se continue a exercer publicamente.
Assim, a “reiteração” que está no artigo 1263º não se refere à constituição da nova
posse, mas sim à perda da posse anterior. Isto faz sentido porque, em bom rigor, o outro tem que
perceber que, como o sujeito que lhe furtou o relógio está a atuar publicamente como dono, o A
anos. Então, se ele só possui 10 anos, não conseguiria ser proprietário por usucapião. Mas, se a acessão da
posse for permitida, se o antecedente já estiver a possuir há 15 anos; 10+15=25 , logo, B pelo facto de ter
beneficiado de uma aquisição deriva e de assim poder ter recorrido á acessão da posse, vai adquirir por
usucapião.
80 Diga-se, a que requerir maior prazo
tem a possibilidade de reagir e conhece essa necessidade de reagir. Assim, é um elemento
relevante para a perda da posse.
O que foi dito até agora foi dito a respeito da a) do artigo 1263º da aquisição originária
da posse por apossessamento. Mas há ainda outra forma de aquisição originária. A inversão
do título da posse, prevista na d).
No artigo 1265º vemos que a inversão do título de posse pode dar-se por um de dois
fenómenos:
1) Por um lado, por oposição do detentor do direito contra àquele em cujo nome
possuía.81
Antunes Varela e Pires de lima dizem que não basta haver a exteriorização de um
comportamento que desqualifique a situação anterior, ou seja, não basta exteriorizar
comportamentos que denunciem a posse. Porquê? Porque a inversão do título da posse é um ato
recipiendo, isto é, é uma vontade que tem de ser comunicada ao anterior possuidor. Não basta
comportar-se daquela forma, é preciso que haja uma comunicação, que pode ser extrajudicial,
para que haja oposição. “ Opor-se” significa comunicar ao anterior possuidor que afinal, agora a
posse passou a estar na esfera deste, até então, detentor.
Por outro lado, a inversão pode dar-se por ato de terceiro, é um ato de terceiro, não um
ato do anterior possuidor. Se A (proprietário da casa onde está o B como arrendatário), se o A
vender a casa ao B (arrendatário), eu não estou perante uma forma de inversão do título de
posse/ aquisição originária. Aqui estou perante uma transmissão, logo, tenho uma forma de
aquisição derivada. Tem de ser um terceiro a transmitir ao detentor e nunca o anterior
possuidor para que possamos estar num caso de aquisição originária por inversão do título da
posse.
Exemplo: Imaginemos que aparece o C, com títulos falsos, a dizer que o A morreu e
vende-lhe a casa. Tenho uma inversão do título da posse por ato de terceiro, porque não é o
possuidor que transmite a posse. Então, o detentor passa a comportar-se como possuidor por
um ato de terceiro.
81 Ele possuía em nome de alguém, daí ser um detentor e não “possuir” em bom rigor.
Aquisição Derivada
Temos uma aquisição derivada nos casos das alíneas b) e c) do artigo 1263º. Esta pode
ser feita pela tradição ou por constituo possessório. Considera-se ainda uma aquisição
derivada os casos previstos no artigo 1255º, a sucessão. Nas aquisições derivadas é onde há
possibilidade de acessão da posse nos termos do 1256º. Tal já não acontece nas
originárias nem na aquisição por sucessão em que em bom rigor a posse é a mesma.
A b) trata da tradição.
Podemos ter uma tradição material, uma entrega da coisa (se o H vende o relógio à V, o
que esta aqui a acontecer é uma transmissão da posse por tradição material da coisa82).
Podemos ter também uma tradição simbólica, uma traditio brevimano. Esta é uma das
formas que tem relevância prática. Nesta, ocorre um fenómeno, o detentor passa a possuidor por
ato do anterior possuidor. Exemplo: proprietário e arrendatário, aqui há fenómeno de tradição
simbólico, quando o proprietário vende a casa ao arrendatário, o arrendatário vai adquirir a
posse através de um traditio brevimano, ele já está a controlar materialmente a coisa, ele já é
detentor da coisa e vai tornar-se possuidor por ato do anterior possuidor, já houve uma entrega
da coisa e só agora posteriormente se vai transmitir a posse.
Exemplo: O A compra uma jóia para a mulher, mas para evitar que a mulher descubra,
combina com o joalheiro que a jóia fica guardada na loja 1 mês, até à data do evento que
justificou a compra. Aqui, houve um contrato de compra e venda, mas quem continua a controlar
materialmente é o vendedor. No entanto, ocorreu um fenómeno de constituto possessório
porque o anterior possuidor transmitiu a posse, apesar de continuar a controlar
materialmente a coisa.
No fundo esta figura do constituto possessório é o contrário da traditio brevi manu, como
se percebe com a leitura do artigo 1264º. Neste há um possuidor que passa a ser detentor
enquanto na traditio há um detento que passa a ser possuidor.
Há uma Polémica doutrinal. O Professor Henrique Sousa Antunes tem uma posição
minoritária.
A lei diz “ por qualquer causa continue a deter a coisa”. O Professor considera que a
“causa” não é em sentido técnico jurídico, mas pode ser tão simplesmente uma condição
negocial do contrato. Por exemplo: A vendeu a B e combinou o prazo de entrega de 15 dias.
Durante aquele prazo, a doutrina maioritária diz que, apesar de a propriedade ter sido
transmitida, enquanto não entregar a coisa, como não há outra causa, o possuidor é o vendedor.
Diversamente, Henrique Sousa Antunes considera que se o contrato foi celebrado e a
propriedade transmitida, a simples circunstância de não haver uma outra causa, mas haver uma
cláusula que estabelece que a coisa permanece na esfera do vendedor até ser entregue, essa
cláusula é suficiente para estarmos perante um Constituto Possessório. No exemplo que demos
de A comprar uma jóia para a mulher no joalheiro a discussão não se abria pois o que havia
como causa era um contrato de compra e venda seguindo de um contrato de depósito.
A Perda
Acerca da perda da posse dispõe o artigo 1267º. São fenómenos com o efeito da perda
de posse os inumerados nas alíneas desse artigo.
Já tocámos na d). A nova posse de outrem, mesmo contra a vontade do antigo possuidor
se tiver durado por mais de um ano extingue a antiga posse perdendo-se esta. A alínea
compreende os casos em que o esbulhador conserva a posse, adquirida em virutde de
apossessamento ou inversão do título da posse.
Propriedade Horizontal
Tipo autónomo, vem regulada na lei no capítulo VI, artigos 1414º e seguintes. No
entanto, a propriedade horizontal não deixa de ser tratada como um capítulo de um título, e o
capítulo tem por epígrafe “direito de propriedade”. Isto significa que a propriedade horizontal
é uma propriedade especial, é uma propriedade que é exclusiva, mas é uma propriedade
em que a plenitude tem características particulares.83
Ou seja, quando Henrique Sousa Antunes fala de autonomia, está a referir-se ao regime.
Porque, de facto, a propriedade horizontal não deixa de ser uma forma da propriedade, uma
forma do tipo que é o direito de propriedade
“Uma forma de um tipo que é o direito propriedade”? Importa ficar claro que quando
falamos em direitos reais menores e em direitos de propriedade, quando falamos em
propriedade horizontal estamos a falar do direito propriedade, mas não deixa de ser uma
propriedade especial. Daí que Henrique Sousa Antunes tenha falado em “tipo autónomo” não
em sentido técnico porque, em bom rigor, é uma propriedade especial. Logo, é um direito
exclusivo, ainda que a plenitude tenha características especiais.
-Frações autónomas
-Partes comuns.
Artigos 1420º nº1 e 1422º nº1: Se falamos em fração autónoma e em partes comuns,
no fundo, estamos a falar em:
83
Não é um direito real menor.
propriedade horizontal, os poderes que condomínios têm não são plenamente idênticos aos que
o proprietário de coisa tem (sendo em exclusivo).
Especificidades na Compropriedade
Ora, se o central é a parte autónoma e as partes comuns estão afectas ao exercício que se
tem sobre a fracção autónoma, então, dificilmente se pode dizer que haja uma importação em
bloco do regime da compropriedade. Porquê?
Além disto, o condómino não pode pedir a divisão das partes comuns, diversamente,
no regime da compropriedade, o comproprietário pode pedir a divisão, na lógica de que a
compropriedade tende para sua extinção. Aqui não há divisão de partes comuns porque elas não
existem por si só, elas estão funcionalizadas as frações autónomas. Logo, não posso dizer que
1/10 do terreno ou 3 degraus passam agora a ser meus, o terreno e as escadas estão lá,
pertencendo a todos, de forma a garantir que ninguém, em exclusivo, possa usar o terreno,
podendo com isso afetar o exercício dos outros. Assim, a lei diz: não há divisão. Na
impossibilidade de divisão temos a segunda “machadada” no regime da compropriedade.
Artigo 1420º nº2: o condómino não se pode desonerar das despesas necessárias à
conservação ou fruição renunciando à parte comum.
Já o artigo 1411º, acerca da renúncia liberatória, permite que comproprietário possa
desonerar-se das despesas que tenha com a propriedade, renunciando à sua quota na parte
comum84. Aqui no regime da propriedade horizontal, como vimos nos outros pontos, não há
preferência, não há divisão e agora vemos que não há renúncia. Porque é que não há renúncia?
Mais uma vez, a funcionalização.
De onde é que está essa funcionalização/ essa acessoriadade das partes comuns? Há
alguma tradução jurídica disso? Artigo 1420º nº2, 1º parte: nenhum dos direitos pode ser
alienado separadamente. O que é que, na prática, isto significa?! Posso alinear uma quota na
parte comum sem alienar direito que tenho sobre fração autónoma? Não porque o conjunto
dos direitos é incindível. O inverso é verdade. Não posso fazer isto por causa da fração
autónoma.
84
Renúncia liberatória: ato de vontade destinado a extinguir a obrigação real que existe e que tem como efeito
a transmissão do direito do comproprietário
que falamos nos pontos atrás é o que não se aplica do regime da compropriedade, mas
extrai-se do facto de haver compropriedade, por exemplo:
1) As despesas com a coisa, seja de conservação seja de inovação e estas têm de ser
pagas pelos condóminos;
2) Extrai-se do Regime da Compropriedade o facto de, como as partes são comuns,
haver pronunciamento colectivo sobre elas quando se quer, por exemplo, fazer uma
alteração material às partes comuns.
Partes Comuns
As partes comuns estão no artigo 1421º. No nº1 estão as partes que são
imperativamente comuns. Ou seja, quanto a estas, o título constitutivo da propriedade
horizontal não pode trata-las como fração autónoma ou partes integrantes de fração
autónoma. Estas não podem ter outra qualificação que não a de “partes comuns”. Estas estão
sujeitas à administração da propriedade horizontal.
O nº2 estabelece as partes presumidamente comuns. Isto significa que, no momento
da constituição da propriedade horizontal ou em alteração subsequente do título constitutivo, é
possível mudar esta qualificação e as partes que são presumidas comuns podem vir a ser
qualificadas como fração autónoma ou parte integrante de fração autónoma.
No nº3, em qualquer dos casos (nº1 e nº2), o legislador permite que o título constitutivo
da propriedade horizontal possa afectar ao uso exclusivo de um condómino uma parte
comum. Ou seja, o título constitutivo pode dizer que uma dada parte comum está afectada ao
uso exclusivo de um certo condómino. Aliás, podemos até dizer que não é preciso que seja o
título constitutivo a dizer isto, pode ser a própria estrutura material do edifício que nos obrigue
a dizer que há uma parte comum que está afectada ao uso exclusivo de um dado condómino.
Exemplo: os terraços no último piso/ terraços de cobertura. Esse terraço é uma parte este
terraço é uma parte imperativamente comum, artigo 1421º nº1 b). Ou seja, quando compro a
fração autónoma que comunica com o terraço, o terraço pertence a todos. É assim porque, em
bom rigor, é um elemento material do edifício e é importante que pertença a todos para evitar
que o proprietário da fração autónoma do último andar se comporte relativamente a essa parte
autonomamente/ tomo decisões sobre ela autonomamente. Impedindo-o, assim de, por
exemplo, decidir retirar a cobertura do terraço e levar a infiltrações em todo o prédio, afetando a
utilização das frações dos outros proprietários. É por razões desta ordem que a lei diz que é uma
parte imperativamente comum.
Ora, se é parte comum, seria suposto que pudesse ser utilizado por todos. Todos podem
usar uma coisa que é comum. Isto significa que os proprietários das restantes fração autónoma
podem bater à porta todos os finais de tarde para assistirem aos finais de tarde do terraço,
invocando que este é uma parte imperativamente comum? Não, e se o titulo constitutivo nada
disser? Se o titulo constitutivo não disser que o terraço é de uso exclusivo da última fração.
Pois, se o título constitutivo nada disser, além dele, temos de valorizar a própria estrutura
material da coisa e é evidente que é um espaço que só tem acesso através da última fração (da
fração do 6º piso no prédio com 6 andares).
É de se notar que continuar a considerar o terraço parte autónoma é de toda a relevância
prática: que se proprietário decidir intervir sobre o terraço? Pode fazê-lo? Como o terraço de
cobertura é uma parte imperativamente comum, embora o terraço possa estar afetado ao uso
exclusivo do proprietário da 6º fração autónoma, será sempre parte comum. Assim, a alteração
que se faça, nunca é uma alteração livre. Para intervir materialmente no terraço, ele está
dependente da autorização da Assembleia de Condóminos porque neste caso, o que acontece é
que há uma inovação, nos termos do artigo 1425º.
Quando estou a atuar sobre a fração autónoma, não há limitações? Mesmo quanto às
frações autónomas não há forma de agir tão plena, comparativamente quando ajo com
propriedade plena relativamente a uma coisa onde não haja propriedade horizontal.
Quanto ao artigo 1422º nº3, há distinção entre alínea a) do nº2, que se refere a
prejuízo, e este nº3. Assim, quando a intervenção do condómino sobre a fração autónoma
constitui prejuízo nos termos do disposto no nº2 a), essa ação é proibia. Diferentemente, se for
modificação sem prejuízo, pode faze-lo, mas esta dependente de aprovação da Assembleia
nos termos do artigo 1422º nº 3. No nº4 temos mais uma demonstração de que, mesmo
tratando-se de propriedade exclusiva, há limitações.
Vicissitudes
Constituição
Quanto ao objeto: O artigo 1415º determina que, para que se possa constituir
propriedade horizontal, é preciso que existam fracções que constituam unidades
independentes e sejam distintas e isoladas entre si, com saída própria para uma parte
comum do prédio ou para a via pública.
Quando olhamos para esta norma, percebemos que temos de identificar pelo menos
duas unidades que sejam independentes, distintas e isoladas. Isto significa coisas
diferentes:
b. Unidades distintas e isoladas – acrescentamos que não basta esta aptidão para a
satisfação de interesses sociais, essas unidades têm que ser delimitadas fisicamente, ou
seja, são distintas. E ainda, como a lei diz, têm de ser isoladas, têm de ser separadas
materialmente, tem de haver um ato de separação material dessas unidades.
Se se constituir propriedade horizontal sem haver, pelo menos duas frações que tenham
estas características, a falta destes requisitos legalmente exigidos implica a nulidade do título
constitutivo da propriedade horizontal e a sujeição do prédio ao regime da
compropriedade, artigo 1416º nº1. Extrai-se deste artigo que, se a propriedade horizontal for
constituída sem que os requisitos do artigo 1415º estejam preenchidos então o que acontece é
que o título constitutivo da propriedade horizontal é nulo e a lei opera conversão legal
determinando que o prédio fica sujeito ao regime da compropriedade, podendo o titulo
constitutivo servir como acordo do uso da coisa comum.
Quanto ao procedimento: O artigo 1418º refere que o título tem de ter dados requisitos
para que, do ponto de vista do conteúdo, seja considerado válido. Portanto, quando
constituímos a propriedade horizontal, temos de olhar para o objecto, ver se temos as frações
autónomas independentes, distintas e isoladas entre si, e se o título constitutivo preenche os
requisitos que o artigo 1418º define:
2) Menções facultativas artigo 1418º nº2: São referências que não têm de estar no
título constitutivo, mas que podem integrar este título85:
85
Quando pensamos na constituição da propriedade horizontal, podemos estar a pensar nos vários modos que
o artigo 1417º prevê - negócio jurídico, usucapião, decisão administrativa ou decisão judicial – mas, em regra,
pensamos em negócio jurídico.
Uma situação típica em que de facto, o proprietário do edifício (o individuo que decide promover a construção
de um determinado edifício), mesmo antes de haver já outros proprietários, acaba por constituir a propriedade
horizontal, por escritura.
E aí é uma constituição em que ele está sozinho, apesar de se tratar da constituição de um regime que
pressupõe, pelo menos, dois proprietários. Este negocio de constituição de propriedade horizontal irá ficar
condicionado até à aquisição por um terceiro (não há aqui ainda a pluralidade de indivíduos que depois vai
caracterizar a propriedade horizontal).
Modificação
O artigo 1419º, que tem por epígrafe “modificação do título” denuncia que o regime não
é imutável: a propriedade horizontal, uma vez constituída, pode sofrer modificações. Pode sofrer
modificações de vários tipos, algumas modificações estritamente jurídicas e outras têm uma
base física.
Há um regime geral, que não surpreende. Uma vez que foi constituía a propriedade
horizontal, parece claro que a modificação do regime que estrutura essa propriedade careceria
do acordo de todos os condomínios.
As deliberações não são tomadas, em regra, por unanimidade, a unanimidade é
excepcional. A regra é de que a deliberação é pela maioria do capital investido, ou seja, somar
o valor relativo de cada fração e perceber se a deliberação é tomada por uma maioria desse
capital, artigo 1432º nº3. Embora se preveja também, no número seguinte deste artigo, que,
se não houver o número de condomínios suficientes, convoca-se nova reunião para uma semana
depois, se outra data não tiver sido fixada, na mesma hora e local, podendo neste caso a
assembleia deliberar por maioria de votos dos condomínios presentes desde que representem
pelo menos 1/4 do valor total do prédio. Portanto, a regra é de que:
-em segunda convocatória, a deliberação pode ser tomada com o voto dos condóminos
presentes que representem 1/4 do valor total do prédio.
Administração
Falemos de administração das partes comuns do edifício. É assim que abre a secção IV,
que no artigo 1430º, estabelece que a administração compete à assembleia e ao
administrador.
Será possível uma assembleia de condóminos deliberar sobre o uso que se faça de fração
autónoma? Exemplo: pode deliberar que não é permitido haver cães nas casas do edifício? Se
falo de uso da fração (ter um cão numa fração), estou a dizer que a assembleia está a tomar
uma iniciativa que diz respeito não a parte comum, mas a fração autónoma, e essa deliberação
não pode deixar de ser inválida.
É deliberação que em bom rigor não deve ser apenas anulável, porque as deliberações
da assembleia de condomínios que são contrárias a lei são anuláveis como resulta do
artigo 1433º, mas as que incidam sobre as frações autónomas e não sobre as partes
comuns, são nulas. Caso contrario, poderia haver convalidação da deliberação anulável, seja
por decurso do tempo, isto é não foi arguida a anulabilidade durante período em que podia ter
sido feito, seja porque houve confirmação do ato.
Não quer isto dizer que não se possa ter uma regra sobre os usos na propriedade
horizontal mas esta regra tem de constar do título constitutivo. Pode haver
regulamentação do uso das frações autónomas, impedindo ao condómino uma certa
utilização, mas essa limitação tem de constar sempre do título constitutivo artigo 1418º
nº2, al b).
Então, no fundo, isso é permitir que os condóminos possam intervir na utilização
das frações? A verdade é que este regulamento, que pode disciplinar o uso das frações
autónomas, está no título constitutivo. Logo, está ab initio, ou seja, a propriedade horizontal
começou assim. Se eventualmente, os condóminos quiserem alterar o titulo constitutivo para
introduzir no regulamento uma proibição como esta, essa deliberação é de modificação do título
constitutivo, e obedece à regra da unanimidade. Sendo uma modificação por unanimidade, o
título pode ser alterado e o regulamento passar a disciplinar de forma diferente o uso das
frações autónomas.
O regulamento do artigo 1418º está na escritura pública, daí a lei dizer que pode
disciplinar o uso das partes comuns e das frações autónomas. Já o artigo 1429º-A diz que o
regulamento só pode disciplinar uso, fruição e conservação das partes comuns, o que
significa que está confirmada a ideia que a assembleia de condomínios pode deliberar pela regra
da maioria do capital investido quanto as partes comuns, mas não quanto as frações autónomas,
a não ser que seja para alterar titulo constitutivo (aí a regra tem de ser da unanimidade).
Usufruto
c. Tem alcance pleno. O problema do gozo pleno, é que há autores, como o professor José
Alberto Vieira, que entendem que, como a lei diz que o usufruto é direito de gozo pleno,
não é possível restringir as faculdades que o usufrutuário tem, ou seja, não seria possível
dizer que a fruição seria limitada ou não existiria mesmo de todo. Qualquer diminuição
dos poderes que o usufrutuário tem de uso/fruição/transformação seria inválida em
razão do princípio da tipicidade. Henrique Antunes discorda. Apesar do professor José
Alberto Vieira admitir que, com alcance obrigacional, a diminuição possa existir o que
estamos a falar aqui é da alteração com efeito real, Henrique Antunes diz que o que a lei
quer é impedir que possa haver afetação dessas faculdades sem o concurso da
vontade do usufrutuário. Mas isto não será uma imposição do direito, apenas uma
faculdade que pode depois ser modelada pelos interessados. Ou seja, quando a lei fala em
plenitude não quer dizer que o usufruto tenha de ser necessariamente pleno, trata-se de
permitir, com o concurso da vontade do usufrutuário, definir em termos
concretos, qual o alcance dessa plenitude.
Quando José Alberto Vieira fala de tipicidade, Henrique Antunes considera que está a
dar-lhe um instrumento para poder defender coisa diversa. Repara-se, o princípio da
tipicidade foi consagrado à luz do direito de propriedade, a ideia é que não podemos
restringir o direito de propriedade se não nos termos em que a lei o prevê. Quando
estou a diminuir o direito de usufruto o que estou a fazer é a alargar o direito de
propriedade86. Se não houver convenção das partes a limitar a plenitude do usufruto,
então o uso e fruição pertenceriam de forma plena a um usufrutuário. O proprietário
conservaria na sua esfera jurídica apenas o direito de propriedade, mas sem
qualquer poder material sobre a coisa. Na verdade, se admitirmos que pode haver
convenção entre usufrutuário e proprietário para reservar parte dos frutos, por exemplo
86
Não esquecer que o direito de usufruto é um direito menor e, por isso convive sempre com o direito de
propriedade. Quando está a onerar o direito de propriedade passa a designar-se direito de nua propriedade.
ao usufrutuário estou a alargar o direito de propriedade, e não se fere o principio da
tipicidade (que pretende proteger o direito de propriedade).
Olhando para estas duas normas posso perceber que há aqui alguma coisa que não bate
certo. O professor Alberto Vieira diz que o destino económico é a expressão da forma do
artigo 1439º mas a verdade é que o artigo 1439º não fala em destino económico mas
apenas em forma e o 1450º já vem distinguir forma e destino económico. Além de que o
artigo 1446º vem na sequência de uma outra norma, é uma norma supletiva. Diz que é
o título constitutivo do usufruto que regula direitos do usufrutuário, e só na insuficiência
deste se aplicam essas disposições. É uma norma supletiva e assim estaríamos a usar o
que resulta de norma supletiva para caracterizar o tipo (que tem de ser uma norma
imperativa).
Henrique Antunes diz que forma não é destino económico, o destino económico é
supletivo, ou seja, posso acordar com o proprietário que a coisa tem destino
económico diferente. Acrescenta Henrique Antunes que, se percorrermos o regime do
i) Artigo 1478º nº2, que tem como epígrafe “perda parcial”, o nº2 diz que o
disposto no numero anterior (a ideia de que usufruto continua) é
aplicável quando a coisa se transforma noutra, que ainda tenha valor,
embora com finalidade distinta. Portanto, vamos supor que o usufruto
era sobre uma manada de vacas. As vacas morreram, podemos aproveitar
para vender a carne, fazer produtos de cabedal, etc. O usufruto mantem-
se? Diríamos então (como o prof. Alberto Vieira) que, se o destino
económico é uma característica do tipo, então o direito de usufruto
extinguir-se-ia com a morte das vacas. No então, a lei vem dizer que se a
coisa se transforma noutra com valor, embora finalidade distinta, o
usufruto continua.
ii) Artigo 1479º. Se o usufruto for em prédio urbano e ele se destrói, tem o
usufrutuário direito a desfrutar o solo e os materiais restantes. Aqui já
não está em causa o destino económico do prédio urbano mas o destino
económico dos materiais e do solo.
Segundo Henrique Antunes, o que a lei pretende é que a substância seja mantida, ou
seja, que a materialidade da coisa seja mantida. O que se pretende é que o objecto, tal
como ele existe no momento em que se constitui o usufruto, seja mantido. Henrique
Antunes diz que forma e substancia não são coisas diversas. O legislador utiliza,
portanto, ambos porque o usufruto pode ter objeto duplo, pode ser coisa corpórea ou
um direito. Aliás, tendo por objeto um direito, o que acontece é que não estamos
verdadeiramente perante um direito real, mas apenas perante um direito de crédito. A
lei fala de coisa ou direito, daí, segundo Henrique Antunes, a lei falar de forma ou
substância, falamos de contornos do objeto, a forma refere-se à coisa, e a substância
ao direito, contrariando Menezes Cordeiro que pretende ver no artigo 1439º apenas
destino económico88.
a. Diz que a lei admite que o direito se extingue quando morre o usufrutuário.
Quando o usufruto é transmitido só temos um usufrutuário que é C, e portanto,
como a lei diz que o usufruto se extingue com a morte do usufrutuário, com a
morte de C, o direito de usufruto extingue-se e o direito de propriedade expande-
se.
88 que, como já vimos, para o prof. Henrique Antunes trata-se apenas de uma realidade supletiva
b. A lei prevê ainda, no artigo 1444º nº2 que quando há trespasse de usufruto a
terceiro, o usufrutuário responde pelos danos que as coisas padecerem por culpa
da pessoa que o substituir. Ou seja, se B transmitiu o usufruto ao C, o B responde
conjuntamente com C pelos danos que C venha a causar na coisa que é
propriedade de A.
Carvalho Fernandes diz que não é razoável que B viesse a responder pelos danos
causados por D, E e F na coisa (herdeiros de C) se admitíssemos a tese de que há
transmissão do usufruto para herdeiros. (3.)
b. A ideia do artigo 1444º nº2 é proteger o A (e não o B), e portanto, o direito até
podia ser retransmitido, se C retransmitisse o direito de usufruto a D, por
exemplo, e B teria de continuar a responder conjuntamente pelos danos. Logo, a
solução razoável para Henrique Antunes é a da transmissão sucessória.
Sobre constituição e extinção não há nada de novo a dizer. Não vamos falar dos modos
de aquisição, e extinção do usufruto porque já estudámos na teoria geral dos direitos reais.
No usufruto a única coisa nova agora é a questão do mau uso. Uma das obrigações que o
usufrutuário tem é a de administrar a coisa que tem, a coisa que lhe foi entregue vai ter de se
manter com os contornos com que lhe foi entregue e portanto, ele vai ter de atuar de forma que
a coisa se mantenha, artigo 1472º e artigo 1473º. Tem um conjunto de deveres que se
destinam a que, no final do usufruto, a coisa que vá ser restituída ao proprietário seja a coisa que
89
Se B tem 20 e C tem 90, e se ao fim de 2 ano C morre, a solução do prof. CF será a que o direito de
propriedade expande-se, readquire a sua forma inicial.
Mas A constitui o usufruto em favor de B que tem 20 anos e é isso que tem de ser visto, de acordo com HSA.
foi entregue, sem prejuízo que o usufruto também possa ter como objecto coisas deterioráveis e
coisas consumíveis, como veremos.
Se o usufrutuário deu mau uso à coisa, não fez despesas necessárias para que a coisa se
conservasse em bom estado. O mau uso não é uma forma de extinção do usufruto. É uma
razão para se tomarem providências, mas não é forma de extinção do usufruto.
Henrique Antunes discorda que não seja nunca uma forma de extinção. Também é
essa a orientação do professor José Alberto Vieira. Não será forma de extinção quando não foi
feita, por exemplo, a administração correta, mas apenas quando falamos de situações em que há
a violação do tipo. Exemplo: usufrutuário partiu/destruiu parte do edifício. Em vez de ter
edifício de dois andares, queria um edifício plano, alterou forma da coisa e já sabemos que
usufrutuário não pode alterar forma da coisa. Isto é mau uso. A solução aqui deve ser apenas a
do artigo 1482º, em que se pressupõe a manutenção do usufruto ou deve ser a extinção do
usufruto? Henrique Antunes diz que a lista de causas de extinção do usufruto não é exaustiva, e
se se altera da forma da coisa ou a substanciado direito então está a alterar-se o tipo e há mau
uso. Mau uso este que é forma de extinção de usufruto para Henrique Antunes.
Direitos de Uso e da Habitação
Hoje em dia estes direitos têm muita relevância por serem direitos pelos quais se
tutelam, por via de regra, os casados ou unidos de facto aquando de separação. Não são direito
que tenham apenas uma sobrevivência histórica, são direitos que são impostos pela lei em
benefício de determinados interesses muitas vezes, como é este caso das separações, tendo por
isso uma grande actualidade.
Os traços que distinguem são em primeiro lugar o facto de o direito de usufruto poder
beneficiar tanto pessoas físicas como colectivas, os direitos de uso e de habitação, por sua
própria natureza, só podem beneficiar pessoas físicas. Isto porque, como resulta da lei, estes
direitos são direitos de conteúdo limitado, definidos pelas necessidades do titular e da sua
família. Quando olhámos para o artigo 1486º, na conjugação com o 1484º percebemos que de
facto estamos perante um universo restringindo desde logo porque a lei nesses artigos se reger à
família do titular e depois diz-nos a lei que os direitos são em função das necessidades pessoais
do usuário fixadas segundo a sua condição social. Estas duas características são obviamente
características que só podem ter as pessoas físicas, estando por isto aqui o argumento de
estes direitos não se aplicarem às colectivas.90
O usufruto é um direito real de gozo pleno, confere a plenitude de gozo ao seu titular.
Nos direitos de uso e de habitação, além do uso está incluída a faculdade de fruir, no entanto o
que é certo é que de modo nenhum os poderes atribuídos pelo uso e habitação são tão amplos
como os que são atribuídos aos direitos de usufruto, e isto resulta do artigo 1484º e também
90 As pessoas colectivas não têm família nem necessidades fixadas pela condição social, como é lógico.
um pouco do 1486º, norma da qual parece resultar que os direitos terão conteúdos diferentes
consoante a classe social da pessoa que sejam titular. No fundo há uma ideia de limite de
necessidade destes artigos.
Contudo, para o Professor Henrique Sousa Antunes, esta “condição social” do artigo
1486º não pode ser interpretada se não como um limiar mínimo, isto é, a imposição de que do
direito de uso e habitação tem de resultar condições que tornem a vida do titular dignas. A partir
daí, o direito ser melhor, isto é, beneficiar uma pessoa de classes social mais baixa, não afectará a
validade dos direitos de uso e habitação. O Professor Henrique defende isto por força do
Princípio Constitucional da Igualdade, se assim não fosse as classes sociais inferiores seriam
sempre prejudicadas face às outras superiores no que toca a este tipo de direitos.
Os direito de uso e de habitação são intransmissíveis, para além daquilo que resulta das
aplicações das regras do usufruto que se aplicam aqui, que nos dizem que o direito não é
transmissível mortis causa, também temos ainda nos direitos de uso e habitação o artigo 1488º
que diz que estes são intransmissíveis inter vivos.
Em bom rigor aqui temos de ver três “momentos” essenciais: a questão do objecto do
direito, uma referência aos direitos obrigações das partes91, e as especificidades das vicissitudes
do direito de superfícies.
O direito de superfície só foi recebido no direito português por volta do ano 1948, apesar
de ser um direito do tempo do Direito Romano. Foi instaurado no ordenamento português com
fim de beneficiar o Estado (e das autarquias locais e demais pessoas colectivas de utilidade
pública administrativa) em relação a terrenos privados. Assim quando vem a ser regulado ao
tempo no direito português tem um alcance limitado. No entanto o direito de superfície tornou-
se mais lato com o Código Civil de 1946, sendo desde então um direito que é tratado como um
direito real de gozo de alcance geral, não apenas beneficiando entidades colectivas públicas
mas qualquer entidade colectiva ou física que esteja interessada na constituição de direito de
superfície.
Temos aqui várias dimensões que importam considerar. Em primeiro lugar podemos
dizer que o direito de superfície pode consistir na faculdade de construir uma obra sendo que
essa pode ser feita em terreno alheio ou em edifício alheio.
O artigo 1524º dá uma noção de direito de superfície. Pela leitura deste artigo vamos
encontrar o objecto, construir uma obra em terreno alheio. No entanto isto não esgota toda a
dimensão do direito de superfície. Do 1524º conseguimos retirar também que o direito de
superfície é um direito real menor, pois pressupõe sempre uma propriedade (alheia), não
é por isso um direito exclusivo. É verdade é que o titular do direito de superfície vai ter os
poderes próprios de um verdadeiro proprietário sobre a obra, vai poder usar fruir e dispor da
coisa que é objecto do seu direito tal com um proprietário pode fazer. No entanto o direito de
superfície não deixa de ser um direito menor pois tem sempre de nascer num direito de
propriedade sobre um terreno. 92
Extrai-se ainda do preceito referido que o direito de superfície pode ser perpétuo ou
temporário.
Porém, vemos no artigo 1526º que a obra não se limita a precisar de estar num terreno
alheio, pode tratar-se de construção feita em edifício alheio93. Esta construção pode ser feita na
lógica do direito de superfície como resulta do 1526º.94
Por outro lado diz o 1524º que o direito de superfície consiste ainda na faculdade de
plantar. Aqui já estaremos a falar necessariamente da existência de um terreno alheio. Para
Henrique Antunes, aqui cabem apenas as plantações com carácter mais durador, como as
Há mais uma dimensão do objecto do direito de superfície, mas que não se apresentam
normalmente como sendo uma dimensão “central”, pois diz respeito aos objectos acessórios
do direito de superfície. Nestes casos temos o artigo 1529º, esta norma no fundo vem
estabelecer uma servidão: o solo está onerado pelas condições necessárias para a utilização do
edifício, nomeadamente, será preciso passar pelo solo96 para chegar ao edifício por exemplo,
quando se constitui um direito de superfície é necessário constituir também as servidões
necessárias.
Este artigo prevê uma oneração imposta num prédio pela própria lei, isto é, o título
constitutivo desta oneração é a lei, é a lei que diz que quando se constitui o direito de
superfície terá de ser constituída uma servidão. Temos aqui uma verdadeira e própria
servidão legal.97
Não nos ficamos por aqui no entanto no que diz respeito a estes “objectos acessórios” do
direito de superfície. Além das servidões temos o artigo 1525º que prevê que possa o direito de
superfície abranger uma parte do solo que não sendo necessária à sua implantação, tenha
utilidade para o uso da obra.
95 No fundo o primeiro momento é a construir e o segundo é gozar e usar a construção que se fez.
96
Literalmente é preciso andar em cima do solo até chegar à porta do edifício.
97
Veremos quando estudarmos as servidões prediais que as servidões legais não são definidas como sendo
servidões constituídas pela lei apesar da terminologia “servidões legais”. Daí estarmos aqui a ressalvar que
temos uma verdadeira e própria servidão legal.
Temos por isso aqui dois objectos acessórios que alargam em certa medida aquilo que à
primeira vista parecia ser o âmbito do direito de superfície.
Há ainda uma questão que tem sido tratada mais do ponto de vista teórico do que prático
no que diz respeito ao direito de superfície. Na prática, construir um edifício sobre terreno
alheio permite colocar no mercado habitações a preço mais baixo, porque em vez de se comprar
o terreno todo compra-se apenas o direito de superfície. Isto aconteceu muito na zona de
Telheiras em Lisboa. Quando tal acontece, na prática também acontece muito que se queira
depois constituir propriedade horizontal sobre os edifícios para que depois se possa alienar as
fracções autónomas do edifício98.
O problema que se coloca mais na teoria é se saber se se pode constituir propriedade
horizontal sobre um edifício que está sobre terreno alheio, que está em superfície. Isto levanta
problemas desde logo porque se é um edifício implantado em solo alheio isto parece não ser
conjugável com o que resulta do regime da propriedade horizontal em que se diz que o solo é
uma parte necessariamente comum. Neste caso não poderá haver compropriedade99 do solo
porque a propriedade do solo não pertence a quem vendeu o edifício (dono do edifico
implantado) não poderá por isso o dono do edifício implantado vender uma coisa que não é sua
(o solo). Se pensarmos nos casos em que temos um edifício que não esteja sobre o regime do
direito de superfície100, em que sejam constituídas fracções autónomas o terreno em que está
esse edifício será sempre parte comum dos condóminos, para que se faça algo no terreno será
preciso que tal seja aprovado e passe pela Assembleia dos Condóminos. Não se mete aqui este
problema. O que a doutrina tem entendido é que quando a lei fala de parte necessariamente
comum no regime da propriedade horizontal não fala necessariamente de compropriedade:
pode ser que os condóminos sejam superficiários relativamente ao solo e portanto não ser
comproprietários do solo, são no fundo “consuperficiários”.
Ao contrário desta doutrina, Henrique Sousa Antunes defende que se considera que
temos “consuperficiários” temos de aplicar o artigo 1533º, e o uso e a fruição do subsolo
pertencem ao proprietário do solo. Isto é para Henrique Antunes incompatível, porque
quando a lei estabelece partes comuns no regime de propriedade horizontal fá-lo para evitar que
a decisão sobre essas partes sejam aprisionada por alguém que não pertença à comunhão dos
condóminos, e pelo 1533º vemos que os condóminos não poderiam nestes casos fazer
absolutamente nada em relação ao subsolo pois este ainda pertence ao fundeiro101. Para
Henrique Antunes deveria haver aqui um alteração legislativa que permitisse atribuir aos
condóminos de um edifício em direito de superfície o poder de decidir sobre o subsolo, ao
contrário do que acontece no 1533º.
98
Se tal não fosse o que se podia vender num prédio eram quotas, e ao vender quotas estar-se-ia a entrar
numa situação de compropriedade, o que afastaria compradores por tudo o que a compropriedade implica.
99
Entre as pessoas que detém a titularidade da propriedade das várias fracções autónomas do prédio.
100
O dono do edifício e do terreno é a mesma pessoa.
101
O fundeiro é o dono do solo em que é constituído direito de superfície.
Obrigações das Partes
Temos depois a questão da fruição do solo antes do início da obra, artigo 1532º, até a
obra ser construída, diz o artigo mencionado que o solo pode ser fruído e usado pelo seu
proprietário.
O subsolo pode ser também usado e fruído pelo proprietário, como acabámos aliás de
ver no 1533º, pelo proprietário mesmo depois a obra estar implantada ou a árvore plantada.
Estas normas têm no intento de ser lidas de forma actualista, pois como vimos, em 1991
numa revisão ao Código Civil o direito de superfície passou a ter como objecto também a
possibilidade de implantar obra no subsolo, hipótese que não parece estar incluída ao ler artigos
como 1533º, e do 1532º que parece pressupor que a obra será implantada sobre o solo e não
sob o solo, temos de ler esta norma do 1532º no sentido de permitir o uso e a fruição do
subsolo antes da construção da obra, o mesmo acontece no 1533º onde caso a obra seja
construída sob o solo devemos ler como se tivéssemos a tratar do solo, ou seja, que o 1533º
nesses caso de direito de superfície no subsolo permite é o uso e a fruição do solo.102
O não uso não está previsto como uma forma de extinção do direito de superfície, apesar
disso é uma das formas de extinção do direito de superfície porque o artigo 298º nº3 enumera
direitos reais pelos quais é possível haver extinção por não uso nos caso especificados na lei.
Este artigo quer por isso dizer que para o direito de superfície104 basta haver uma norma que
permita que este se extinga pelo não uso e que o objectivo dessa norma fosse indicar o prazo
para a extinção por não uso, o prazo é normalmente de 20 anos, logo não é necessário que para
direito como o de superfície haja uma norma que faça a indicação explicada, logo o direito de
superfície pode se extinguir por não uso por 20 anos pois apesar do silêncio da lei, deve
102
No fundo o 1533º é lido de forma actualista como se fosse “fruição do solo” em que se lê, na forma
actualista: “O uso e a fruição do solo pertencem ao proprietário; este é, porém, responsável pelo prejuízo
causado ao superficiário em consequência da exploração eu dele fizer.”
103
Ver matéria das vicissitudes dos direitos reais, aqui vamos só dizer algumas coisas específicas.
104
E para os outros direitos reais menores.
fazer-se a aplicação analógica do prazo de 20 anos consagrado para todos os outros direitos
reais menores que se extinguem pelo não uso.
105
O professor invoca este princípio pois se se permitisse que não fosse possível renuncia estriar-se-ia a fugir a
tipicidade no sentido em que era permitido fazer algo que na lei não prevê.
Servidões Predias
Artigos 1543º e seguintes. Quando se fala de servidões prediais está se a querer falar
de uma transferência de utilidades de um prédio, em benefício de outro prédio, ou seja, estamos
a falar de um gozo que é efeito através de um prédio.
Não é possível estabelecer transferência de utilidades de um prédio para uma pessoa
procurando atribuir a essa transferência a natureza de direito real.
Artigo 1543º, está clara neste artigo a relação entre prédios, portanto quando falamos
de servidões prediais, estamos a falar de encargos impostos a um prédio, a benefício de outro
prédio. Quando se refere que os prédios têm de pertencer a donos diferentes. Se pertencerem ao
mesmo dono, não poderemos falar da constituição de uma servidão predial.
Qual o conteúdo da servidão predial? Será que esse encargo imposto num prédio
em benefício de outro prédio, sê-lo-á nos termos descritos pela lei. Isto é, o encargo que o 1543º
descreve é um encargo que aparece descrito na lei?
Nos artigos 1550º e seguintes vemos dois grandes grupos de encargos, as servidões de
passagem, que têm dois tipos: a passagem de um terreno para se conseguir chegar à via publica
e 1556º, a passagem que tem como propósito chegar à água para poder utiliza-la em gastos
domésticos e depois a partir do artigo 1557º encontramos as servidões de águas,
aproveitamento de aguas para gastos domésticos, agrícolas e industriais.
Uma coisa é certa no artigo 1544º, apesar de haverem estas várias servidões que
aparecem reguladas nos artigos 1550º e seguintes, é o próprio legislador no 1544º a dizer que
podem ser objecto da servidão quaisquer utilidades.
Ora, isto permite formular uma característica essencial que consiste na atipicidade
do conteúdo.
Ou seja, o conteúdo não é típico, as partes apenas têm de criar uma servidão que revele
algum tipo de utilidade. Temos de verificar a existência de um proveito, agora esse
proveito/utilidade não tem de assumir nenhuma forma descrita na lei.
Essas que nem têm de ser utilidades presentes como retiramos do 1544º. Mas, enquanto
essas utilidades não surgirem (utilidades futuras) haverá contagem do prazo de não uso para
a extinção da servidão predial106
Portanto, a lei permite que havendo utilidade, mesmo que ela não aumente o valor do
prédio, mesmo que não tenha uma repercussão económica, seja suficiente para a validade da
constituição da servidão predial.
Artigo 1545º diz que as servidões não podem ser separadas dos prédios a que
pertencem, ativa ou passivamente, ou seja, não posso transmitir o direito da servidão para outro
prédio, e também esse encargo não pode ser transferido para outro prédio.
O que a lei fala é de uma separação jurídica, é consagrado aqui um princípio da
inseparabilidade jurídica. Não se pode separar juridicamente a servidão predial, seja pelo lado
activo ou pelo passivo, dos prédios a que pertence. Não é transmissível para outros prédios.
Mas, isto não significa que não possa haver uma separação material, discutiu-se o que é
que aconteceria às chamadas servidões de fruição. São servidões em que a utilidade consiste na
recolha material de utilidades do prédio serviente para essas utilidades serem utilizadas no
prédio dominante. Dir-se-á que como a lei fala de inseparabilidade que não seria possível retirar
essas utilidades do prédio serviente. Será que o principio da inseparabilidade impede que se
possa retirar as utilidades do prédio serviente e leva-las para serem usadas diretamente no
prédio dominante? Não. O que a lei refere é à separação jurídica, não à separação material.
Portanto, podemos ter uma servidão predial onde as utilidades são retiradas do prédio serviente
e levadas para o prédio dominante para serem gozadas por esse.
106
Professor Henrique Sousa Antunes . Essas utilidades nem têm de aumentar valor, podemos estar a falar de
benfeitorias voluptuárias.
Conteúdo das servidões
Mais específico no que diz respeito à forma de exercício. À semelhança do que nós
viemos a dizer a respeito do usufruto, e também por isso a respeito do uso e habitação. A lei
estabelece de uma forma clara no 1564º que: Compete às partes definir quais são os direitos e
obrigações emergentes da servidão, e só na insuficiência dessa estipulação é que a lei disporá.
Mas, parece que o artigo 1565º não pode ser entendido como uma norma supletiva. É uma
norma imperativa, as indicações legais que encontramos neste artigo não podem ser de natureza
supletiva, estamos a falar de juízos de proporcionalidade que estão relacionados com as
caracterizações das servidões prediais, e que, por isso, não podem ser tratados como
juízos supletivos.
Ao contrário do que acontece de facto, com as normas seguintes:1566º a 1568º. Destes
artigos conseguimos fazer algumas conclusões:
1) A lei permite que o proprietário do prédio dominante faça obras no prédio serviente.
Essas obras serão custeadas pelo proprietário do prédio dominante, embora
outro regime possa ser convencionado.
Essa mudança pode dar-se para sítio diferente do primitivamente assinado. Portanto
o titular do prédio serviente pode exigir a mudança da servidão de passagem de sul
para norte, mas pode até exigir a mudança para outro prédio. Associado a isto vem a
parte final do 1568º nº1, podemos chegar à conclusão que nos termos do nº1
porque o proprietário do prédio serviente veio demonstrar que a mudança lhe é
conveniente e não prejudica os interesses do proprietário do prédio dominante, pode
a servidão ser mudada para outro prédio. Nestes casos termos uma exceção à
inseparabilidade das servidões, aqui está a ser separada do prédio que pertence
passivamente para um outro prédio, mas apenas quando a mudança é conveniente
para o proprietário do prédio serviente e quando se prove que não há prejuízo para
os interesses do proprietário do prédio dominante. Esta mesma faculdade é atribuída
ao proprietário do prédio dominante nos termos do 1568º nº2.
Prevê se ainda que a servidão possa ser alterada quanto ao modo e tempo de
exercício, desde que se verifiquem os requisitos exigidos nos artigos anteriores –
1568º nº3 ( Aqui não estamos a afectar a inseparabilidade das servidões).
Há normas das quais se podem extrair a existência de vários tipos de servidões prediais:
1547º nº2 – Deste extraímos que: A servidão legal é uma servidão que pode ser
imposta, instituída de forma coativa, mesmo que não haja colaboração do proprietário do prédio
serviente.
Chamamos servidões legais, mas o título constitutivo não é a lei, o que estamos a
dizer é que a lei vai identificar os casos de servidões que podem ser constituídas sem o
concurso da vontade do proprietário do prédio serviente, mas o título constitutivo será ou
uma sentença judicial ou decisão administrativa. Exemplo: Prédio A e dentro desse o prédio B. O
prédio B está encravado, então é preciso arranjar alguma maneira do seu proprietário chegar à
via pública. A lei prevê a possibilidade de constituir uma servidão de passagem, que por sua vez
é uma servidão legal, artigo 1550º. Porque é prevista pela lei e pode ser imposta coativamente,
caso o proprietário do prédio serviente não colabore voluntariamente. As servidões legais têm
a especificidade clara da constituição, porque podem ser constituídas coactivamente se não
houver colaboração do proprietário do prédio serviente. Mas têm também especificidades a
respeito da extinção porque nos termos do 1569º nº2 e nº3, as servidões legais podem ser
declaradas extintas pelo tribunal, desde que se demonstre a desnecessidade dessas servidões.
Se se conseguir demonstrar que a servidão deixou de ser necessária para o prédio dominante a
consagração da servidão legal, e, por isso, podem ser declaradas extintas. Isto para as servidões
legais e constituídas por usucapião. O mesmo não se passa com as servidões voluntárias, para
estas a desnecessidade não é causa de extinção, pois houve uma participação da vontade
nessa mesma servidão.
1569º nº4: As servidões para aproveitamento de águas para gastos domésticos ou fins
agrícolas, quando o prédio dominante não tem agua para os gastos domésticos ou para os fins
agrícolas. Este artigo diz que aqui há uma outra forma de extinção que é particular das servidões
legais, e muito em especial é particular destas duas servidões legais.
Depois há a Remição, que traduz-se no facto do proprietário do prédio serviente
demonstrar ao tribunal que pretende fazer daquela água um aproveitamento que é justificado,
precisa daquela agua. Nesse caso pode a servidão legal extinguir-se por remição. Só pode ser
exigida decorridos 10 anos da constituição da servidão.
Artigo 1548º nº2. As servidões aparentes são as que se revelam por sinais visíveis e
permanentes, as servidões não aparentes não se revelam por sinais visíveis e permanentes.
Quando a lei fala em sinais visíveis estará a falar da publicidade que identificamos a
respeito da posse, têm de se tratar de traços que sejam susceptíveis de conhecimento pelos
interessados. Sinais permanentes, não é apenas comportamento reiterado, implica mais do que
isso, implica uma ligação física entre os prédios que garanta essa estabilidade. Não é uma ligação
feita pela reiteração do comportamento, mas pela ligação que eu sei que é permanente em
relação dessa ligação física ou material que existe entre os prédios.
1)Servidão ativa – estamos a falar das faculdades de que beneficia o titular do direito,
isto é, uma servidão ativa é uma servidão que é vista do lado do prédio dominante.
Esta distinção é relevante porque onde haja distinção por referência a servidão ativa ou
passiva, aí está a demonstração da importância da classificação.
No 1460º o usufrutuário pode constituir servidões ativas, ou seja, servidões que vão
beneficiar o seu prédio. O usufrutuário vai constituir uma servidão, o prédio que está em
usufruto é o prédio dominante. Não lhe é licito onerar, constituir um encargo, relativamente ao
prédio sobre o qual tem direito de usufruto que exceda a vida do usufruto, aqui estamos a olhar
para a servidão passiva, e a olhar para o prédio do usufrutuário como sendo o prédio serviente.
Servidões positivas, negativas e desvinculativas
1)Positivas – são aquelas em que o beneficiário pratica actos materiais sobre o prédio
onerado. Exemplo: Imaginando que há um prédio dominante, e o seu proprietário cria gado
nesse prédio. Constitui com o proprietário doutro prédio, a possibilidade de levar o seu gado
apascentar no outro prédio. Tem uma servidão positiva, pois vai praticar atos materiais sobre o
outro prédio. Servidão de passagem também é uma servidão positiva.
É relevante devido ao 1570 nº1 quando diz “servidões para cujo o exercício não é
necessário o facto do homem” está a falar das servidões continuas.
c) Haja uma separação do domínio dos prédios ou das frações em causa, ou seja, tem de
haver um acto de separação do domínio/propriedade dos prédios ou frações.
Hipótese I
“Em Junho deste ano, A vendeu a B a sua carteira Birkin por 5.000,00 euros. Dois dias
depois, A vendeu a mesma carteira a C, que ofereceu 6.000,00 euros por esta. Tanto B como
C pagaram o preço acordado a A e a carteira foi entregue a C. Quem é hoje a proprietária da
carteira?”
Este exercício é muitíssimo introdutório, vamos por isso tocar em vários pontos de
matérias que estudaremos a fundo no seu devido tempo:
Temos de saber se B terá adquirido o direito de propriedade uma vez que não foi
entregue a coisa ou se o direito foi adquirido por C direito a coisa foi entregue a coisa. Com base
no 408º, que consagra o princípio do consensualismo a propriedade ter-se-ia transmitido
pelo mero acordo das partes. Portanto, quem é hoje o proprietário da carteira é B.
O que acontece a C no plano dos direitos reais? Compra e venda entre A e C é nula por
venda de bens alheios. B pode ir atrás da coisa. Não vale no nosso direito o princípio posse vale
título. O direito português nega o direito propriedade pelo simples facto de possuir. O artigo
1301º permitiria a posse vale título e só assim é que C adquiriria (não teve tempo para se
verificar usucapião “junho deste ano” teriam de ter passado 3 anos). Como o princípio “posse
vale título” não foi consagrado na lei, C não pode ficar com a coisa. Mas, para o 1301º se aplicar
A teria que ser comerciante e ainda comercializar coisas do mesmo género, no caso uma carteira.
O 1268º nº1 fala sobre a presunção de propriedade de C, mas é vencida esta presunção
pelo facto do direito de propriedade estar em B. O proprietário é B, adquiriu a propriedade nos
termos do 408º. A entrega da coisa não implica a transferência da propriedade (a posse não vale
título no nosso ordenamento jurídico). Por isso, mesmo que C estivesse de boa fé, e para valer o
1301º A teria que ser comerciante, o que não se verifica. Para além de que, B estaria limitado na
sequela se o 1301º se aplicasse e teria que pagar o que 3º tivesse dado para a aquisição desta
coisa (pagar duas vezes). Como o 1301º não se aplica, B não tem limitações. C tem a posse
titulada, daí se poder supor a boa fé. A posse titulada de acordo com a lei, presume-se de boa fé.
Portanto, hoje o proprietário da carteira é B.
Hipótese 2
2.1. Um mês depois, A vendeu o mesmo imóvel a C. O registo desta compra e venda foi
efetuado. Quid iuris?
2.2. A morreu e sucede-lhe C. O registo é efetuado em proveito de C. Quid iuris?
2.1 Neste caso, temos uma relação claramente triangular. Temos de olhar para este
problema segundo três planos: o plano possessório, o plano registal e o plano substantivo.
Do ponto de vista do direito substantivo, temos B como proprietário da coisa imóvel.
Nos termos do artigo 408º nº1, a constituição ou transferência de direitos reais sobre coisa
determinada dá-se por mero efeito do contrato. Isto significa que a propriedade do prédio
urbano pertence a B, que a adquiriu por contrato de compra e venda (874º e seguintes). Segundo
o artigo 892º, quando A vende o mesmo bem a C, estará em causa uma venda de bens alheios
(venda ineficaz), e, como tal, nula. Conclusão: O proprietário é B no direito substantivo.
Do ponto de vista do direito registal, nos termos do artigo 2º, nº1 do Código do
Registo Predial, a compra e venda está sujeita a registo, sob pena de ser inoponível
relativamente a terceiros, nos termos do artigo 5º, nº1 e 4 do CRP. A legitimação registal é
uma limitação à sequela (B não podia ir atrás da coisa, uma vez que C registou).
Assim os requisitos para a aplicação do artigo 5º , diga-se para o direito ser oponível a
um “terceiro” são:
3) Aquisição a título oneroso: verifica-se, uma vez que se trata de uma compra e venda e
de Boa-fé (subjectiva ética), se assim entendermos consoante a doutrina que adoptarmos. O
professor Henrique Antunes entende que aqueles que propõem a aplicação analógica dos
requisitos da aquisição a título oneroso e da boa-fé, artigos 291º do CC e 17º do CRP, têm razão.
Ou seja a onerosidade e a boa-fé são requisitos. Já o professor Carvalho Fernandes considera
que, para efeitos do artigo 5º, a aquisição a título gratuito é bastante.
107a) Direitos da mesma natureza: refere-se às categorias (direitos reais, direitos de crédito…)
b) Direitos da mesma espécie: dentro da categoria de direitos reais, são, neste caso, ambos direitos reais
de gozo e ambos direitos de propriedade
Resta saber se C, que registou, adquiriu de boa-fé. Como nada é dito na hipótese, até
poderíamos assumir que C agiu de boa-fé. E, de facto, na prática, a boa-fé basta-se com o facto de
ele ter consultado o registo.
Conjugando as duas coisas, podemos dizer que o C estava de boa-fé, uma vez que
adquiriu a posse com base num modo legítimo de adquirir- compra e venda- (e atenção que
estamos a falar da posse e não da propriedade, sendo que a posse é para nos considerada como
um direito autónomo, podendo ser uma posse tutelada independentemente do direito do
transmitente ou da validade substancial do negócio jurídico, e, portanto, tratando-se de uma
posse titulada, presume-se de boa-fé. Logo, de facto, verificados os pressupostos, C adquire.
Conclusão: Ou concluímos que C não é terceiro para efeitos de registo significa que B
pode validamente opor o seu direito em relação a ele por não se verificar a previsão do artigo 5º
do CRP. Ou concluímos que C é terceiro e por isso B não pode opor o seu direito.
2.2. Está em causa a venda de um bem imóvel. Nos termos do artigo 408º nº1 do
Código Civil, a constituição ou transferência de direitos reais sobre coisa determinada dá-se por
mero efeito do contrato. Isto significa que de acordo com as regras substantivas, a propriedade
do imóvel pertence a B. Neste caso, não se verifica uma aquisição, porque quando C sucede a
A, assume a sua posição e temos uma relação entre partes.
O artigo 4º nº1 do CRP prevê que os factos sujeitos a registo, ainda que não registados,
podem ser invocados pelas próprias partes e os seus herdeiros. É o artigo 4º nº1 que
resolve esta hipótese. Não há espaço para nenhum efeito consolidativo do registo neste
caso. C coloca-se na posição de A, portanto, temos a relação entre C e B. Nos termos do artigo 4º
nº1, B pode opor ao herdeiro de A, o seu direito de propriedade mesmo não o tendo registado.
O facto sujeito a registo, ainda que sem registo, desde que seja anterior, prevalece sobre essa
aquisição. Não é terceiro quem é parte ou quem é herdeiro da parte108. B pode opor o seu
direito a C.
2.3. Este caso prático versa sobre o tema do direito de superfície, sujeito a registo
consoante o artigo 2º nº1 a) do CRP. Como a própria lei indica no artigo 1524º do Código
Civil, este corresponde à faculdade que é atribuída a uma pessoa de construir e/ou manter uma
construção em terreno alheio.
Nesta hipótese, temos direitos da mesma natureza (são ambos direitos reais) mas de
espécie diferente (são ambos direitos reais de gozo, mas um é direito de propriedade e o outro é
um direito de superfície). Trata-se de uma incompatibilidade entre direitos parcial e não
total, uma vez que se mantém o direito de propriedade. B vai continuar a ser proprietário.
A questão está desde logo relacionada com o princípio da prevalência, saber de que
maneira o direito de propriedade de B, transferido nos termos do artigo 879º do CC, é
incompatível com o direito de superfície, nos termos do artigo1524º, que onera a propriedade.
O problema estará em saber de que maneira é que C poderá ser considerado terceiro para
efeitos de registo, nos termos do artigo 5º nº4 do CRP, sendo que, no caso em questão, C
adquire um direito incompatível com o de B, porque a propriedade deste se encontra onerada,
do mesmo autor, estando C de boa fé e tendo registado esse direito de superfície. Deste modo, a
posição de C prevalece, na medida em que apenas A figura no registo como titular do
direito, e tendo sido o direito de superfície registado, A é ainda o proprietário do imóvel,
nos termos do direito registal, prevalecendo o mesmo sobre o direito substantivo. Vamos
averiguar se C é um terceiro, ou seja, se cabe no conceito de terceiro abrangido pelo artigo 5º
nº4. Esta é uma norma excepcional, onde há uma excepção à regra do direito substantivo. Para
que se aplique, é preciso que os requisitos estejam verificados. Não estando todos verificados,
então o terceiro não é protegido. Deste modo, B é protegido e tem a propriedade do imóvel
livre de ónus e encargos. Se C fosse protegido, B não deixava de ter a propriedade, mas
seria uma propriedade onerada com um direito de superfície. Depende a resposta da
consideração de incompatibilidade ou não do direito de superfície com o de propriedade.
Hipótese 3
Dito isto, e uma vez que estamos perante um verdadeiro terceiro para efeitos do artigo
5º do CRP. É importante referir, que este artigo tem de ser interpretado em conjugação com o
artigo 17º nº2 do CRP e 291º do CC segundo a doutrina de Liosboa, pois, esses dois artigos
vêm estabelecer duas condições: que o terceiro tenha adquirido de boa fé e a titulo oneroso. De
acordo com a doutrina da escola de lisboa, que me parece a mais correcta, que efectua uma
interpretação analógica e sistemática com os artigos referidos, além de ser preciso ter registado,
o terceiro tem de estar de boa fé no momento da aquisição do direito e tem de ter adquirido tal
direito a titulo oneroso. Por isso, para a doutrina de lisboa, não se encontrariam preenchidas as
condições de aplicação do artigo 5º, e C não será um terceiro protegido, por isso será B quem
é protegido pelo ordenamento jurídico, mesmo que não tenha registado.
Assim:
1) Se o direito de B prevalecer, temos C, proprietário, com o seu direito onerado
com usufruto, fica com o seu direito amplamente limitado, é um direito que se
reduz apenas à nua propriedade.
Hipótese 4
A diferença entre a concepção ampla e restrita, não está no adquirente que venha
a adquirir por venda forçada. O que faz com que com dificuldade se consiga perceber a decisão
do STJ de 2008. O supremo em 2008 veio dizer que o conceito restrito de terceiros é aquele que
determina que o C não seja terceiro porque adquiriu com base numa alienação forçada. Já o
acórdão de 99 vem dizer que C é terceiro, numa concepção restrita, mesmo tendo adquirido
numa alienação forçada.
O professor Henrique Sousa Antunes defende que hoje em dia o ordenamento jurídico
tem de ser interpretado acolhendo a concepção ampla de terceiros e foi por isso que
aconteceu no acórdão não se considerar C um terceiro, ou seja, fazer uma interpretação que
actualize aquilo que foi opção do legislador tomada em 99. Porque, 9 anos depois
introduziu-se a obrigatoriedade registal e essa só é compatível com um conceito amplo de
terceiros, pois este dará mais peso ao registo e o fim principal do registo é a segurança do
comércio jurídico, logo dar mais peso ao registo faz todo o sentido.
Daí o professor tentar depois arranjar métodos para proteger o titular do direito,
através da exigência da boa fé, do titulo oneroso, e da relevância da posse que ele tenha tido
antes do registo, de modo a depois limitar um pouco esta força que alguns poderiam dizer
“bruta” do registo. Por isto tudo é que Henrique Antunes acha que é relevante a diferença entre
“autor comum” e transmitente comum, autor comum é mais abrangente, inclui todos os casos,
transmitente não, faz uma interpretação actualista.
Hipótese 41
Houve uma doação, nesse caso, parece desequilibrado que uma pessoa que recebe sem
nenhum sacrifício económico possa ter prevalência sobre quem tinha adquirido a título oneroso
(ainda que não tenha registado). Porquê? Porque o Legislador diz que para haver tutela no
artigo 291º e no artigo 17ºnº2 é preciso que haja aquisição a titulo oneroso. Logo, se houve uma
doação a terceiro e não uma compra e venda, esse terceiro não vai ser tutelado pelo 17º nº2 e
291º, logo D não cabe nestes artigos.
Não adotando esta orientação temos de ver o que resta a B fazer. Importa agora analisar
a situação de B em face de D. Voltamos então à questão: qual é a norma que poderá impedir o
direitoo de B produzir plenamente os seus efeitos, considerando que ele adquiriu por força do
artigo 408? Qual a norma (registal) que permitirá dizer que D merece tutela em detrimento de
B? B não pode defender‐se com base no artigo 5º CRP porque, mesmo adotando um
conceito amplo, nunca estaremos a falar de pessoas que estão em conflito porque
acreditaram no mesmo registo, não há uma relação triangular entre B e D, B funda o seu
direito na legitimidade registal de A, ao passo que D funda o seu direito na legitimidade registal
de C. Quando fundam em registos diferentes, isto nunca poderá caber no artigo 5º do CRP. Logo,
em teoria, só resta a B ou o 17º nº2 ou o 291º.
Mas o 17º nº2 e o 291º exigem que haja uma aquisição a título oneroso, o que não
aconteceu aqui. Logo, D não vai ser protegido no plano registal. B vai, pois B prevalece em
relação a terceiro C.
Hipótese 44
No plano substantivo pelo artigo 408º, a propriedade transmitiu-se para B, por mero
efeito do contrato, pois o registo não tem efeito constitutivo. Mesmo não havendo registo a
propriedade já entrou na esfera jurídica de B.
Não é isto que se passa aqui, o C porque a penhora já levou ao resultado final que é a
venda. Digamos que o C já não interessa na hipótese porque o C não tem nenhuma posição que
se pudesse autonomizar que justificasse a sua inserção no esquema, o resultado final da
penhora foi a venda a D.
Não podemos analisar a situação de E sem mais, porque como vimos há um autor que
sustenta que quando há protecção por força das regras registais, essa protecção leva à extinção
do direito no plano substantivo, o Professor Oliveira Ascensão.
Embora eu saiba que a situação de E é uma situação que eventualmente carece de tutela,
se porventura, houver antes da aquisição do direito pelo E, uma extinção do direito de B, é
evidente que E não tem de invocar as normas do 17/2 ou 291 porque já está protegido em
resultado da extinção prévia do direito de B. D é a única pessoa que podia ter posto em causa
a existência do direito de B, de acordo com a tese do Professor Oliveira Ascensão. Se D fosse
protegido, B via o seu direito extinguir-se.
De acordo com a tese do Prof.MC e CF, haverá uma paralisação do direito de B, mas tal
não significa que não possa haver renascer este direito quando um terceiro não tenha melhor
posição que B.
Será que D é tutelável pelas regras registais, de forma tal que pudesse o Prof.OA dizer
que o direito de B se extinguia? D está de má fé, e embora não haja nenhuma referencia há
necessidade da boa fé do terceiro, a verdade é que de acordo com a orientação dominante em
Lisboa, a boa fé é um requisito da tutela do terceiro. Portanto, falhando 1 dos requisitos, deixa de
haver a possibilidade de tutelar o 3º. Logo, por esta posição D não merece tutela e não haverá
extinção do direito de B, pela situação do D.
Mas, se D estivesse de boa fé, continuaria a não merecer tutela? Mesmo que não se
considerasse que fosse possível ter uma concepção ampla, mesmo numa concepção restrita, o
terceiro que adquire na sequência de uma venda executiva, é terceiro para efeitos do registo
predial.
Em termos práticos, há má fé, como tal, se entendemos que a boa fé é requisito de tutela
do terceiro, havendo má fé, D não é tutelado.
Qual a consequência de D não ser tutelado? Nunca se pode por em causa a posição de B,
mesmo que acompanhássemos a posição do Prof.OA. Não há extinção do Direito de B, este
permanece, a não ser que seja paralisado por alguma norma que tutela o direito de E. Resta
saber se há alguma norma que tutela ou não o interesse de E.
Prof.OA – Diria que com base no artigo 291º este mereceria tutela porque a hipótese diz
respeito a um bem imóvel. O E adquiriu a titulo oneroso, registou, está de boa fé e finalmente
não houve a propositura de uma ação de declaração de nulidade do nj celebrado entre A e D no
prazo de 3 anos – D adquiriu em 98. A aquisição com registo de E dá-se em Abril de 2008,
portanto, 3 anos já passaram e também essa condição está verificada.
Prof.Henrique Sousa Antunes – Aplicaria o artigo 17/2, uma vez que não há registo,
não consolidou o seu direito. A pessoa que utilizaria como referencia para a norma a aplicar
seria B, pois é B que pretende defender a sua propriedade. O A praticou um acto de má fé, e
alienou aquilo que já não é seu. Mas, o professor admite que nós falemos do A, desde que
saibamos concluir que se este tivesse registado seria 291º, não registando 17/2. O professor
admite que se fale do A porque o paradigma é tomado como um esquema horizontal. Entre A e B
o negócio jurídico nulo ou anulável, ou A nada fez e B a títulos falsos.
Prof.OA – 291º
Prof.CF e MC – 17/2
Falta justificar porque é que há boa fé . Posse titulada, que ele adquire na sequencia de
uma compra e venda, modo legitimo de adquirir, posse titulada de boa fé, logo está de boa fé.
Adquirido por vias do registo, não produz os mesmos efeitos que adquirido por via da
posse. Basta pensar: Se E tivesse adquirido pela via do registo, só o Prof.OA é que defende que o
direito de B se extinguiria. Se E adquirir o direito por via de usucapião, o direito de B extinguir-
se-ia, e permite uma aquisição por efeito retractivo, dando se a aquisição na data do início da
posse.
2º- Como é que ele adquire a posse? Por forma de Tradição simbólica – alguém que é
detentor e passa a possuidor. E era detentor, pois era arrendatário, e passou a possuidor por
transmissão do anterior possuidor. Será que podemos dizer que D não é possuidor, mas um 3º?
Nós para fundamentarmos esta resposta que demos, vamos ter de demonstrar que D é
possuidor. D é possuidor porque comprou o terreno, como tal, é possuidor – Se é, o que faz é
transmitir a posse ao E – Tradição simbólica.
3º - Classificar a posse do E – Posse civil, posse registada, posse formal (o direito
está em B), posse efectiva, posse titulada (se há registo, há titulo, logo se há titulo há posse
titulada. Isto é verdade em grande medida, mas há a possibilidade de o conservador estar
desatento e ter registado uma posse que não é titulada. Neste caso é de facto titulada porque
temos uma CV e nada se fala quanto à sua falta de forma), posse presumida de B.fé.
Começamos a contar a partir de quando? A lei manda contar a partir da data do registo,
mas isto é presumir que nessa data a posse já é efectiva. Por isso, se a posse for efectiva apenas
em momento posterior, só a partir daí. Por isso, Março de 98 é quando se dá o registo, mas a
posse efetiva só começa em maio de 1998.
E nestes casos, em que há este aproveitamento do tempo da posse que antecede a lei
impõe que fiquem também sujeitos às características da posse que antecede. Portanto, E
tem uma posse de má fé. Juntou à sua uma posse de má fé, passando a sua a ser de má fé –
1256/2 “menor âmbito”.
E adquiriu por via registal, e adquiriu por usucapião, pondo assim em causa um
direito que no plano substantivo era de A.
E foi esbulhado por F, e foi interrompida a posse – de acordo com o artigo 1283º, é
ficcionado como se não tivesse sido esbulhado porque houve judicialmente restituição da
coisa
Hipótese 5
“A, com inscrição no registo, em seu nome, de um facto aquisitivo do direito de propriedade,
vendeu um prédio urbano a B. O referido contrato foi outorgado por celebração da
escritura pública em que esteve presente C, amigo de A. A aquisição não foi registada.
Aproveitando-se da falta de registo de B, A alienou, de seguida, a mesma coisa a C. O registo
desta compra e venda foi efectuado. Quid iuris?”
O caso em questão trata um problema relativo a uma dupla alienação de direitos, temos
uma situação triangular. Temos de olhar para este problema segundo três planos: o plano
possessório, o plano registal e o plano substantivo.
Do ponto de vista do direito substantivo, temos B como proprietário da coisa imóvel. Nos
termos do artigo 408º nº1, a constituição ou transferência de direitos reais sobre coisa
determinada dá-se por mero efeito do contrato. Isto significa que a propriedade do prédio
urbano pertence a B, que a adquiriu por contrato de compra e venda. Segundo o artigo 892º,
quando A aliena o mesmo bem a C, estará em causa uma venda de bens alheios (venda ineficaz),
e, como tal, nula. Assim neste plano de direito substantivo o proprietário é B.
- Boa-fé do terceiro: Mas C não está de boa fé- esta boa fé aqui em causa é uma boa fé
subjetiva ética, ou seja, o desconhecimento, sem culpa, por parte do terceiro da primeira
alienação. Deste modo, C, sendo amigo de A e estando presente na escritura pública do NJ
celebrado com B, conheceria a primeira alienação. Deste modo, não se advinha razoável
que a tutela de C, quando de má fé, se revele maior do que a de um sujeito que é o
verdadeiro titular do direito, não devendo o não registo ser visto aqui como uma
negligência menos tutelada do que a do terceiro de má fé.
Deste modo, nos termos do artigo 5º não poderia ser considerado terceiro, sendo-lhe por
isso oponível a primeira alienação, e sendo B o verdadeiro titular do direito. É sobretudo a
respeito do requisito aqui em apreço que existem várias divergências doutrinais sobre o que se
tem de verificar para que C seja tutelado no âmbito do artigo 5º nº1 do CRP.
Para o Professor Carvalho Fernandes, assim como para Escola de Lisboa, mesmo
discordando acerca da necessidade da aquisição ser ou não a título oneroso, entendem que a boa
fé é um requisito exigível na aplicação do regime decorrente do artigo 5º nº1 do CRP. Assim o,
defendem, porque admitir que quem conheça uma realidade diferente daquela de que está no
registo, possa valer-se desse registo, é premiar quem pela ordem jurídica em regra não merece
tal benesse. Para reforçar esta posição também se pode invocar o constante dos acórdãos de
uniformização de jurisprudência, sendo que o de 3/99 exige esta mesma boa fé. No que ainda a
respeito deste requisito se pode dissertar, é de referir que apenas a Escola de Coimbra entende
que o registo e a aquisição a título oneroso são suficientes para que C venha a ser tutelado. No
entendimento da Escola de Coimbra, o requisito da boa fé cai de modo a garantir a segurança
jurídica do comércio imobiliário. O que acaba por colidir com algumas das opções do legislador
em sede de registo predial, nomeadamente com o consagrado nos artigos 17º nº2 do CRP e
291º do C.C. onde não se faz cair a boa fé.
Seguindo o entendimento do Professor Carvalho Fernandes e da Escola de Lisboa, e
estando C de má fé, não se aplica o artigo 5º nº1 do CRP, e o direito de C não é oposto ao direito
de B. Consequentemente, aplicam-se as regras de Direito Substantivo segundo as quais, a venda
entre A e C é uma venda de bens alheios, que é nula nos termos do artigo 892º do CC. Já se
seguirmos o entendimento da Escola de Coimbra, sabendo que C registou e adquiriu a título
oneroso, este seria tutelado. E por isso, o direito de B não poderia ser oposto ao direito de C,
operando em favor de C um efeito aquisitivo deste registo.
Hipótese 6
“A, com inscrição no registo, em seu nome, de um facto aquisitivo do direito de propriedade,
alienou um prédio urbano a B. A aquisição não foi registada. Posteriormente, C, credor de A,
no decurso de acção executiva movida contra este, obtém registo de penhora sobre o bem
alienado a B. Quid iuris?
O Acórdão 15/97 diz nos que terceiro para efeitos do registo predial são todos aqueles
que tendo obtido o registo do direito sobre determinado prédio, viram esse direito ser arredado
por qualquer facto jurídico anterior registado posteriormente ou não registado. C será terceiro
e B não poderá opor a sua posição com base no 5º nº1. Não é necessário que haja
transmitente comum, pois A pode ser um sujeito passivo relativamente à forma como C adquire
o seu direito e B não será protegido.
Temos aqui uma diferença apenas, “autor” e “transmitente”, a lei não seguiu a mesma
escolha de conceito. Será que há diferença? Para Henrique Sousa Antunes uma interpretação
actualista à luz da obrigatoriedade registal diz que sim. Vejamos.
Autor vs Transmitente: transmitente é dinâmico e activo, mas autor é ainda mais
activo por pressupor vontade, tomando-se como causante de uma ação. Logo, não se
pressupõe a vontade de A, então B pode opor o seu direito a C por este não ser terceiro,
prevalece o direito de propriedade sobre o direito do credor.
Esta diferença do 3/99 para a lei é importante para a conclusão do caso pois
transmitente e autor seria um sujeito com vontade de transmitir/ transmissão activa. Síntese:
Por ser adoptado o conceito restrito de terceiros reconhece que a posição de B prevalece sobre
C, o credor poderá em tribunal invocar e o direito de propriedade prevalecerá sobre a penhora.
Logo, na lei está uma concepção restrita.
Se adoptar-mos uma a concepção ampla por ser qualquer pessoa com direito
incompatível com B, C neste caso seria terceiro, logo B não poderia opor o seu direito em razão
da adoção da obrigatoriedade registal de 2008. Deve prevalecer o credor sobre B, mesmo com
base na lei actual. Admite-se tutela do credor, porque estamos perante o mesmo “autor” comum.
Autor é mais abrangente que transmitente.
Se não houvesse princípio da obrigatoriedade registal não seria discutível, porque é dito
no preâmbulo da lei que trouxe o nº4 que se invoca a concepção restrita, porém foi introduzido
este princípio posteriormente, o que significa confiança e revela o que e obrigatório no registo,
envolve sanções e tutela se a confiança. Logo autor não pode ser meramente o transmitente no
conceito restrito, mas sim causante no que toca ao surgimento de direitos incompatíveis.
Enquanto o legislador não fizer nada à interpretação do autor como causante não é
incompatível. Não se quer com “autor” dizer necessariamente uma ação, mas a causa de toda a
situação, autor pode não ter ação voluntária, logo deve, depois da obrigatoriedade, ser adoptado
um conceito amplo de terceiro. O que é impossível fazer é invocar esta interpretação sem referir
a introdução do princípio obrigatoriedade registal, senão nada se teria alterado desde a
introdução do artigo 5º nº4, a interpretação defendida não é incompatível com a letra lei.
Assim:
Antes da obrigatoriedade: conceito restrito e não haverá razões para não aplicar este
conceito e B prevaleceria e não haveria razões para interpretar de maneira diversa à que o
legislador defende.
Depois da obrigatoriedade: sistema só é compatível com um conceito amplo de
terceiros e o artigo 5º nº4, mais concretamente, “autor” não pode ser o transmitente, tem de ser
a razão, causa e fundamento para na existência dos direitos incompatíveis, adoptando portanto
um conceito amplo de terceiros. Isto porque se o registo passou a ser obrigatório então passou a
ter mais peso e a ter maior confiança e é dito no artigo 1º que o registo predial se destina à
segurança jurídica do comércio imobiliário, algo que só se terá com a clareza do registo, e
que por isso quem regista deva prevalecer sobre quem não regista, isto é C prevalece
sobre B pois registou.
Quanto à segunda parte da resposta: Adquirente de uma venda judicial é terceiro para
efeitos de registo mesmo num conceito restrito de terceiros? Sim, apesar de haver
jurisprudência a dizer que não a reposta tem que ser sim porque o aritog 5º nº4 dá o conceito
restrito de terceiros como Manuel de Andrade desenhava abrangendo transmissão voluntária e
transmissão forçada. Artigo 824º diz que a venda executiva é feita livre dos direitos reais que
não tenham sido registados anteriormente, se é livre os direitos de B extinguiram-se B não pode
opor a C. Cabe na concepção restrita e o 824º dispõe neste sentido.
Hipótese 7
“Com base em títulos falsos, A obtém inscrição, a seu favor, no registo predial, de um facto
aquisitivo do direito de propriedade sobre a coisa imóvel X, que, no plano do direito
substantivo, pertence a B. Aproveitando-se da circunstância de figurar no registo como o
titular do direito de propriedade sobre a coisa imóvel X, A alienou-o a C, que registou a
aquisição. Quid iuris?”
Estamos perante um caso de aplicação do artigo 17º nº2 do CRP, e por isso não há
que falar nas propostas dos Professores Carvalho Fernandes e Menezes Cordeiro quanto à
delimitação do âmbito de aplicação do 291º do CC e do 17 nº2 nem referir o conceito amplo
vs. conceito restrito de terceiros no artigo 5º do CRP, dado que a relação é horizontal e não
triangular. É sim de se referir a proposta do Professor Oliveira Ascensão na aplicação
analógica do prazo de 3 anos (291º) ao 17ºnº2.
É muito importante referir também a posição tomada pelo Professor Henrique Antunes
no que toca à distinção entre haver ou não haver registo do B. Para o Professor Henrique
Antunes só há possibilidade de tutelar o terceiro (C) pelo artigo 17º nº2 se B, titular inicial
não tiver consolidado o seu direito mediante o registo.
O Professor Henrique Antunes não vai por isso ao ponto de defender, como as
Professoras Clara Sottomayor e Mónica Jardim, que o terceiro nunca poderá adquirir com base
numa situação originada por títulos falsos, pois na verdade se B adquiriu e consolidou,
mediante registo, o seu direito e depois não teve qualquer vontade na saída deste direito da sua
esfera jurídica, sendo esta da vontade exclusiva de A mediante o uso um título falso, então C
jamais poderá adqurir com base no artigo 17º nº2. No fundo para o Professor Henrique
Antunes o artigo 17º nº2 parte do pressuposto que B não consolidou o seu direito, pois se
tiver consolidado não se aplicará este artigo que tutelará C. A ideia por trás desta proposta do
Professor Henrique Sousa Antunes é no fundo de que se B não registou então expôs-se a esta
desvantagem, pois devia ter cumprido a obrigatoriedade de registar o seu direito, e C,
adquirindo a título oneroso, de boa fé e registado não tem responsabilidade de A ter falsificado e
a responsabilidade de A é perante B e não C, daí que C mereça ser tutelado.
Se assumirmos que B não registou, e que por isso, seguindo a proposta do Professor
Henrique Anuntes, C possa ser tutelado, é preciso que C além de registar tenha adquirido o bem
a título oneroso e de boa fé. Na hipótese nada diz, mas podemos partir do princípio que os dois
pressupostos estão verificados, em especial em relação à boa fé, onde como temos uma posse
titulada de A109 presume-se de boa fé.
Assim, a resposta depende do registo ou da falta de registo de B.
Hipótese 8
“A, com inscrição no registo, em seu nome, de um facto aquisitivo do direito de propriedade,
alienou um prédio urbano a B, que registou a aquisição, padecendo o negócio de um vício
substantivo. Posteriormente, B alienou o mesmo prédio a C. A compra e venda entre B e C foi
registada. Quid iuris?”
Aqui estamos perante uma situação de aplicação do artigo 291º pois temos um
negócio inválido que remete para este artigo não havendo razões para excluir a tutela do
terceiro, designadamente pelo facto de existir um registo intermédio.
Há autores que nesta hipótese aplicariam não o artigo 291º mas o 17º nº2,
acabamos de aplicar apenas uma das doutrinas sobre o tema, e por isso vale a pena ao
responder a este tipo de questões explicar o porquê da delimitação da aplicação do artigo 17º
em detrimento do 291º. Para isso devemos explicar a resolução da hipótese à luz das diferentes
doutrinas que existem sobre o tema, tendo 3 abordagens diferentes :
110 A primeira pessoa na “sucessão” da transmissão da propriedade tinha registo. Isto acontece nesta
hipótese em que A tinha sido o primeiro a ter registo.
111 Há hipóteses de fronteira entre as duas situações. Isto é hipóteses em que a vontade do titular inicial de
propriedade é escassa no negócio, e nesses casos há que abrir a dúvida entre se vamos aplicar o 17ºnº2
ou 291º. Mas um caso típico em que não há falta/pouca vontade de negociar é caso do vício de forma,
onde em princípio a vontade é plena à partida.
112 Pois é neste artigo que se exige o prazo de 3 anos.
para defender a aplicação do 291º é o facto de A ter registado, pois se o A não tivesse
registado seria admitida a tutela de C, mas ao contrário do que faria o Professor
Oliveira Ascensão que determinaria a aplicação do 291º por haver um registo em B,
a tutela de C é determinada por existir registo em A, porque se não houver registo em
A mas B tiver registado a norma que se aplicaria era o 17º nº2, pois como A não
consolidou o seu direito não faria sentido que beneficiasse do prazo de 3 anos. Assim,
na visão de Henrique Antunes, este caso seria resolvido com base no 291º por haver
um registo em C e em A, já se não houvesse um registo em A113 então a norma a
aplicar era a do artigo 17º nº2, e se não houvesse registo em B não haveria qualquer
tutela de C, nem pelo 17º nem pelo 291º
Assim, com os dados que a hipótese fornece teríamos três soluções possíveis: 1)
Professores Carvalho Fernandes e Menezes Cordeiro, onde se aplicaria o artigo 17º nº2 porque
há registo em B; 2) Professor Oliveira Ascensão aplicaria o 291º porque há um registo em B; 3)
Professor Henrique Antunes defende a aplicação do 291º porque há registo em A (sendo preciso
haver também em B, mas o que determinará a norma a aplicar será o registo de A)
Hipótese 9
“A, com inscrição no registo, em seu nome, de um facto aquisitivo do direito de propriedade,
alienou um prédio urbano a B, padecendo o negócio de um vício substantivo. A aquisição
não foi registada. Posteriormente, B alienou o mesmo bem a C. Esta compra e venda foi
registada. Quid iuris?”
Temos três soluções possíveis, sendo que esta hipótese é igual à anterior com diferença
em quem registou e não registou:
2) Para o Professor Oliveira Ascensão a posição protegida seria a do A, pois como não
há um registo intermédio C não terá qualquer tutela.
Esta hipótese é diferente das vistas até agora, porque o que está aqui em causa é saber
se, quando há um registo, este registo faz com que a primeira alienação, feita a favor de B , se
extinga ou se permanece na ordem jurídica. Ou seja, pretende saber-se qual em que estado fica o
direito de B.
No plano substantivo, e de acordo com o artigo 408º, não há dúvida de que quem é
titular do direito é B. No entanto já sabemos que este plano não é o único a que olhamos, temos
de verificar o plano registal e possessório.
Do ponto de vista registal, verificamos que C registou, e presumindo que este registo
tenha sido feito a título oneroso e de boa-fé. Estarão então verificados os requisitos para que
possa haver tutela do terceiro, C, nos termos do artigo 5º nº4 do CRP. Assim sendo, o direito de C
é protegido. Resta saber qual o efeito disto relativamente a B, será que B ao não ser protegido vai
ficar sem direito? A questão é d relevo para saber o que acontecerá em casos em que C transmite
de novo ou perde a coisa como nesta hipótese. Temos várias doutrinas sobre esta questão:
Professor Oliveira Ascensão: Fala num efeito resolutivo. Quando C regista, estamos
perante um facto resolutivo do direito de B. Extingue-se a posição jurídica/direito anterior de B.
A partir do momento em que há aquisição registal e efeitos aquisitivos, B desaparece do ponto
de vista dos direitos reais. Ou seja, o direito de B tinha-se extinguido quando C adquiriu o prédio
urbano por força do artigo 5º. Nesse caso a situação de B deixa de ser oponível porque se
extinguiu.
Se o direito de B se extinguiu, tudo o que se passe daí para a frente não sofre qualquer
invalidade, tudo o que venha a suceder não tem qualquer vício. São tudo actos praticados com
legitimidade.
Assim, de acordo com a tese do Professor Oliveira Ascensão, quem seria protegido
seria A, pois o direito de B extinguiu-se na ordem jurídica.
2. Transmissão a terceiro de má fé
4. Renúncia
Hipótese 12
Uma hipótese como esta coloca a questão de se terá, ou não, havido extinção do direito
de A. O Professor Oliveira Ascensão defende que quando há tutela registal há extinção do direito
de A. Mas aqui vamos sempre concluir em sentido negativo, mesmo defendendo a posição do
Professor Oliveira Ascensão, ou seja que não haverá extinção do direito de A pois C está de má
fé.
Na posição de Henrique Sousa Antunes precisamos de olhar neste caso para o A, ou seja,
ao resolver a hipótese o nosso centro de referência deverá ser o A. O critério de Henrique Sousa
Antunes é o seguinte: quando há uma invalidade substantiva e no início da cadeia não há um
registo então aplicamos o 17º nº2. Para o professor Henrique Antunes se em vez de tomarmos
por referência o A tomássemos o B a resposta já não seria tão certa, aí olhando para a tese de
Henrique Sousa Antunes já aplicaríamos o artigo 291º. Por isso ao usar a tese deste Professor
temos de tomar o A por referência.
Aqui era também de relevo referir que há direitos incompatíveis, mas que não são da
mesma natureza e espécie. O que torna aqui os direitos incompatíveis é o simples facto de um
direito restringir o outro (direito a servidão de passagem restringe o da propriedade), se a
hipótese dissesse que o terreno não tinha sido vendido livre de ónus e encargos aí já não
existiria este problema de incompatibilidade entre os direitos. Se a hipótese lesse “terreno
onerado” já haveria compatibilidade e não havia problema nenhum.
Hipótese 13
Assim, a questão não é uma questão de presunção mas fáctica. O nosso sitema está
fundado na usucapião, para ver isto basta olhar ao artigo 5º nº2 a) que é uma consagração
muito clara do princípio usucapo contra abulas, isto é a usucapião prevalece sobre a aquisição
registal. Podemos extrair isto de vários artigos, a começar pelo artigo 5º nº2 a). O registo tem
em regra efeito consolidativo mas a usucapião faz com que o registo tenha efeito
meramente enunciativo. Do 1268º também se extraí esta ideia, pois se existir registo contra
posse, o registo só prevalecerá se for anterior ao início da posse.
B tem o que se chama uma posse causal, adquiriu por compra e venda mas não
registou, uma posse que vem por uma compra e venda. Mas aqui B não está a invocar a compra
e venda contra C, está sim a invocar a sua posse por usucapião, isto levanta algumas dúvidas na
doutrina: uma pessoa que adquire por compra e venda (já tendo adquirido a propriedade de um
modo) pode invocar outro modo de aquisição de propriedade a seu favor (também adquiriu por
usucapião)?114 O Professor Henrique Sousa Antunes entende que obviamente que sim, mal seria
que uma pessoa que não adquire por compra e venda não pudesse beneficiar da usucapião mas
outra que não tivesse comprado pudesse. Assim uma pessoa que tenha adquirido um imóvel
de duas formas pode invocar a que quiser.
Hipótese 14
“A, convidado para visitar o atelier de B, famoso pintor, apodera-se, durante uma falha de
energia, de algumas telas que estavam enroladas a um canto do espaço artístico, levando-
as ocultamente para sua casa. Pergunta-se:
a) Qual a situação de B?
114Repare-se que isto tem toda a relevância prática pois se B invocar a compra e venda não prevalecerá
uma vez que não a registou e o registo nesse caso tem efeito consolidativo, por isso resta-lhe invocar a
usucapião.
b) As telas foram furtadas a A por D. Quid iuris?
Antes de começarmos por resolver a a) vamos fazer um alínea “extra”: Qual é a situação
de A?
A esbulhou, logo tornou-se possuidor por apossessamento, tendo posse. Sabemos que A
é possuidor pois teve o apossessamento material da coisa, podemos presumir isto dado o artigo
1252º, onde é ditado quem a posse se presume naquele que exerce o poder de facto sobre a
coisa. Assim o que se diz nesta norma é que quando há corpus o animus se presume.
O nosso sistema é subjectivo, logo para a posse é necessário que haja tanto um corpus
como um animus, mas o animus não tem de ser provado, presume-se. O que acontece no
nosso sistema jurídico é que se pode provar a inexistência de animus e nesse caso então prova-se
a inexistência de posse.
Se se verificar uma situação das descritas nas alíneas do artigo 1253º então não há
posse, pois o controlo material vai levar a uma situação de mera detenção, também chamada
de posse interdital. A posse interdital pode levar a que nasçam direitos ou ter efeitos no nosso
direito, mas uma coisa que quem tem esta posse dita interdital não adquire é bens por
usucapião. A posse interdital não serve para a aquisição por usucapião.
No entanto, o apossessamento exige dois requisitos, um dele é a materialidade e outro
é a publicidade. Neste caso não há publicidade, pois é dito que ele levou as telas para sua casa
de forma oculta, por isso como é que se pode dizer que A adquiriu por apossessamento?
O 1263º quando fala de aquisição da posse está a referir uma posse que releve para
todos os efeitos do direito civil, assim não podemos em bom rigor dizer que houve
apossessamento pois o 1263º não fala em posse interdital. Assim, só podemos dizer que houve
apossessamento por parte de A de uma posse interdital, isto é, uma posse que não poderá
legitimar todos os efeitos da posse civil, sendo eficaz apenas para alguns efeitos do direito civil, e
podemos dizer isto pelo artigo 1297º. Uma posse oculta não é então uma posse “boa” para os
efeitos de direito civil pois não permite a aquisição por usucapião, assim a não é uma posse
civil, é uma posse interdital.
A situação jurídica de A é então de posse, mas de posse interdital. Podemos por isso
dizer que A adquiriu por apossessamento, mas temos de clarificar que é uma posse interdital
que este adquire.
Alínea b) Posse de D tem corpus porque há controlo material da coisa. É uma posse não
titulada, em contraposição ao 1259º, isto é, não se funda em modo legítimo de adquirir, logo
presume-se de má fé 1260º nº2. É pacífica, o 1261º diz nos que é assim porque não houve
roubo, senão há elementos na hipótese para depreender o carácter violento ou oculto da posse,
tratamos a posse como sendo pacífica e pública e é pública 1262º.
Em relação às classificações doutrinais, temos uma posse que é civil, boa para todos os
efeitos. É efetiva porque há prática de atos materiais sobre a coisa que é objeto da posse e é
formal porque exercida sem a titularidade do direito correspondente.
Portanto, temos 3 possuidores: A, B e D. Os meios de defesa disponíveis para B seria ação
de restituição da posse contra D, 1281º nº2 e 1282º. A também pode recorrer a uma ação de
restituição da posse contra D 1278º nº2.
Ora 2 anos é superior a 1 ano, se o prazo mínimo de usucapião excede o prazo da perda
da posse a situação de B nestes casos é de quem já perdeu a posse pelo que não poderá
intentar uma ação de restituição, mas sim uma ação de reivindicação. A posse que
realmente interessa nestes exercícios é a de D, as outras apenas completam a resposta.
Ambos A e B podem propor ação de restituição da posse porque D está de má fé. Porém,
há aqui um problema. A ação de restituição 1281º nº2 pode ser contra o esbulhador ou contra
quem tenha conhecimento do esbulho, D tem conhecimento do esbulho que fez a A, mas D não
conhece o esbulho que A fez a B. A norma interpreta-se não relevando apenas conhecimento
do esbulho, mas sim situações em que se está de má fé porque é esbulhador de um
esbulhador, logo o esbulhado inicial pode propor ação ainda que este não tenha
conhecimento do esbulho inicial que é invocado.
Só se aplicam estas normas se a posse do esbulhado não tiver mais do que um ano.
1278º nº2 este terceiro está de má fé. D adquiriu a posse por apossamento, é uma posse não
titulada presumida de má fé, logo contra ele pode ser proposta uma ação de restituição da posse.
Alínea c) 3 possuidores possíveis: A, B e E. Posse de E: civil, efetiva, não registada.
titulada, boa fé fundada num modo legitimo de adquirir, tradição simbólica, pacífica e pública.
Alínea d) 1281º nº2, uma ação de restituição pode ser proposta contra o esbulhador ou
seus herdeiros. E Se esta norma não existisse? Tinhamos o artigo 1255º há apenas uma posse,
a posse continua nos sucessores. O sucessor recebe a posse do de cujus com o tempo e
características dessa posse. Isto não significa que não haja impacto no facto de ter havido esta
transição física, na medida em que a lei atribua relevância à alteração das características
sucessórias.
Não há relevância desta alteração das circunstâncias para efeitos da usucapião 1294º
em conjugação com o 1260º nº1, só releva o momento da aquisição que foi de boa fé, não
há um regime misto de contagem dos prazos, pois esta alteração não é relevante. Se a posse
passar de violenta para pacífica já será relevante para usucapião. Se há mais que uma pessoa a
exercer a posse, posse do sucessor é a do de cujus mas na medida em que se admite relevância
das alterações na posse esta releva para certos efeitos.
Hipótese 15
“A foi acumulando dívidas ao longo dos últimos anos. Estando agora a ser pressionada
pelos seus credores e não tendo como pagar, furtou a B um quadro original de Graça
Morais, que entregou a C, com vista a solver uma dívida. Esta última, dona de uma galeria
de arte, vendeu-o em menos de uma semana a D, que, muito satisfeita com a aquisição,
decidiu dar uma festa para o mostrar aos seus amigos e conhecidos. A festa foi amplamente
Hipótese 16
“A é proprietário de um automóvel de coleção que emprestou a B, em julho de 2007, a fim de que este
o usasse, com a sua mulher, durante as férias. Uma vez regressado, B não devolveu o automóvel ao
proprietário, passando a utilizá-lo como veículo de aluguer para turistas. Quanto instado por A a
restituir o veículo, B ameaçou-o com a prática de atos de violência física se aquele promovesse
qualquer ação judicial contra si. Atemorizado, A nada fez. Em junho de 2017, A morreu. C, seu único
herdeiro, pretende agora saber que direitos lhe assistem quanto à propriedade do automóvel, aos
rendimentos de que B beneficiou e aos danos sofridos com a deterioração do veículo. Quid iuris?”
Quando B se recusa a entregar o carro A há aqui aquisição da posse, e de que forma? Será que
pode ser inversão do titulo da posse 1265ºCC? Para haver inversão do título da posse tem de existir um
detentor, e isso já sabemos que acontece. Mas não basta isso, tem de haver uma oposição. Neste caso
concreto, há três situações que em abstracto poderiam configurar uma oposição:
Não devolveu o automóvel ao proprietário – este facto não pode ser considerado como um ato
de oposição pois quando se fala em oposição estamos a falar de uma demonstração de uma nova
vontade do detentor, este passa a comportar-se em relação à coisa não apenas como detentor mas
assumindo um comportamento equivalente ao de um possuidor. Esta não devolução do
automóvel não é um facto do qual eu possa extrair uma nova vontade – a única coisa que extraio é
que existe uma obrigação que está a ser incumprida.
Passou a utilizar o veículo como veículo de aluguer a turistas – de facto denuncia a vontade,
mas a doutrina diverge quanto a saber se existe aqui de facto uma oposição ou não. O professor
Menezes Cordeiro diz que basta B passar a utilizar o veiculo como veiculo de aluguer a turistas
porque há publicidade e dá-se a cognoscibilidade da oposição. Já os professores Pires de Lima e
Antunes Varela consideram que só há oposição quando essa vontade é comunicada ao anterior
possuidor – por exemplo, quando alguém tem um terreno, e emigra ou desloca-se para outra
localidade e deixa de vigiar a situação em que o terreno está, nós sabemos que se alguém vier
lavrar o terreno durante 20 anos, ainda que proprietário do terreno jamais tenha sabido disso,
perde o direito pela aquisição originaria por usucapião daquele que lavrou o terreno – mas aqui
há um abandono do terreno, o indivíduo assume o risco. Quando empresto algo a alguém, eu
confio que essa coisa vai ser utilizada no contexto dos poderes que eu lhe atribuí, não assumo
qualquer risco. Por isso o professor Henrique Sousa Antunes considera que a pessoa que
empresta uma coisa não deve ser colocada na mesma posição daquela que simplesmente
abandona, pelo que para haver uma inversão do titulo da posse é preciso que o detentor em quem
confiei me dê a saber que a minha confiança já não é merecida, ou seja, concorda com os
professores Pires de Lima e Antunes Varela quando estes dizem que para haver oposição é
preciso que a vontade seja comunicada.
B ameaça A com a pratica de atos de violência física após A o ter instado para restituir o
veículo – aqui, seguindo a visão dos professores Pires de Lima e Antunes Varela, já termos de
facto uma oposição e portanto, há uma inversão do titulo da posse – B passa neste momento a ser
possuidor. Aliás, se não seguíssemos esta visão colocava-se um problema que era: se a oposição se
desse num momento anterior a esta ameaça, significa que a violência seria apenas posterior, ou
seja, não teríamos uma violência originária mas sim superveniente. Por força da letra da lei, a
violência superveniente nem sequer conta para a classificação da posse como violenta, no
entanto, podemos tentar equiparar a violência superveniente à violência originária (ainda assim
não resolveria todos os problemas). Imagine-se uma situação em que temos 2 anos de posse
pacifica, 11 anos de violência posterior e ao fim dos 11 anos cessa a violência – quanto tempo tem
o titular do direito para reagir de acordo com o regime da usucapião? Poderia reagir no prazo de
8 anos (1297º CC).
Considerando que a posse só passou a existir com a ameaça, quando é que esta cessa? Com a
morte de A.
C é possuidor? Sim, pois nos termos do artigo 1267º/1 alínea d) conjugado com o número 2 do
mesmo artigo, e por força do artigo 1255º.
O prazo só se começa a contar a partir do momento em que cessa a violência, logo, A podia
intentar uma acção de restituição 1281º. Mas e quanto à propriedade? Como a posse é violenta, não
começou logo a contar o prazo 1297ºCC para B adquirir por usucapião, começando apenas a contar a
partir da morte de A, logo, B ainda não adquiriu o direito de propriedade sobre o automóvel por
usucapião.
Quanto aos rendimentos, B tem uma posse de má-fé e portanto os frutos vão ter de ser
restituídos a A, 1271º e quanto à deterioração aplica-se o artigo 1269º a contrario logo também teria de
responder por uma eventual deterioração da coisa.
1311º a acção de revindicação é ainda indicada neste caso para reconhecer a propriedade do
interessado e ordenar à restituição do que lhe pertence
Hipótese 17
Assim sendo, J tem posse e esta foi adquirida por inversão do titulo da posse por
ato de terceiro. Quanto à classificação, pode-se dizer que esta é uma posse:
Civil
Não registada
Efetiva
Formal
Titulada
Presumida de boa-fé
Pacifica
Pública
Hipótese 18116
Hipótese 19 117
Temos duas pessoas em conflito: B e E. Isto faz com que tenhamos de analisar a situação
destes. Situação de B, não parece haver grande dúvida. O apartamento pertence a B. E o contrato
é feito com cláusula de reserva de propriedade. Mesmo após a c/v, o imóvel permanece na
propriedade de B. Há toda uma sucessão de eventos, o A já estava a habitar a casa, pagou um
montante do preço, entretanto vendeu a D e o comprador de A morre sucedendo-lhe E. É preciso
procurar as pessoas que estão em conflito. E depois olhamos para trás para perceber o que é
determinante para este conflito. Para E adquirir por usucapião, tem de usufruir do regime da
posse. Como é que a coisa se processa a este respeito? E é possuidor? Temos de ver qual a sua
situação concreta. A de alguém que é herdeiro de um sujeito anterior. Para alguém adquirir a
posse por sucessão é preciso que a pessoa que tenha morrido seja possuidora. O que resulta da
hipótese é que D celebrou contrato de c/v com A. Logo, não há nada que pudesse destruir a ideia
de que há u controlo de propriedade a título do proprietário. Estamos de facto perante um
possuidor. Como é que D adquire a posse? Vamos ter um problema: tenho de classificar também
a situação de A, pois foi este que lhe vendeu. A é um possuidor? Se é um possuidor, teria havido
uma cedência. E até poderíamos equacionar se não haveria aqui um constituto possessório -
fenómeno que alguém, sendo possuidor, transmite a sua posse, apesar de continuar a controlar
materialmente a coisa. A celebrou contrato de c/v com B, mas o imóvel foi arrendado ao próprio
A. A vende mas continua lá - fenómeno de constituto possessório.
Entre A e B houve a tal transição simbólica. Agora vou classificar a posse de B: civil. É
posse não registada (não há referência ao registo). É uma posse por intermédio de A, posse
efectiva. Posse formal ou causal? É ou não acompanhada de titularidade do direito? Não, posse
formal. Posse não titulada, a forma não está preenchida. Posse presumida de má-fé, passiva e
pública. Resumindo: qual o prazo para que E possa adquirir por usucapião? 20 anos - é a pior das
posses, não titulada e de má-fé. 20 anos a contar do início da posse do D. Deu-se em Dez de 1996
quando A lhe transmite a posse. A questão está a ser colocada em 2010, ainda não adquiriu por
usucapião. Porém, pode haver acessão. O sucessor está a juntar a sua posse o antecessor do
decuius. A posse do A. Será necessário qualificar a posse do A? Não há posse que possa ter piores
características do que a do E? Não, então não é preciso qualificar a posse do A. Começou quando
pagou a segunda prestação, mais ou menos em Março de 1990. Ao A adquirir a posse, começa a
contar o prazo para a aquisição por usucapião. Até 2010 passaram 20 anos, logo adquiriu por
usucapião. Só há um problema: entre Abril de 90 e Janeiro de 91 esteve ocupado. Só em 91 a
posse foi restituída. Há alguma norma para esta preocupação de interrupção da posse? Saber se
efectivamente não terá havido uma paragem que perturba a aquisição por usucapião? Quando
abusivamente ocupa está a possuir em seu nome, 1252º não se pode invocar. Pode se invocar
1283º. Desde que tenha havido esbulho e tenha sido restituída a coisa, é como se a pessoa a
quem se restitui não conta a paragem é como se a posse tiver sido continuada. B perdeu a
propriedade porque A adquiriu por usucapião. E as rendas? Norma que justifique que entre 96
celebração do arrendamento e 2010 aquisição por usucapião, as rendas pertencem ao novo
proprietário e não ao antigo proprietário. Como é que eu posso justificar que as rendas
pertencem ao novo? 1288º - a usucapião é retroactiva.
Pág. 334 Manual - entendimento do prof. Henrique. E se as rendas não eram de 96 mas
de 92 em diante. Qual o problema que se coloca? 96 é a data que começa a posse do D. E é
também a data do contrato de arrendamento. Retroage a usucapião à data do início da posse. A
posse do D começou em 96. E se o contrato de arrendamento começa em 92. Contamos o início
da posse do 1288 desde o início da posse do A, antecessor? A retroactividade é desde a posse da
pessoa que beneficia por usucapião? ou desde a posse que se juntou? Desde D ou desde A? O
prof. defende que a posse deve ser apenas desde D. Deve contar desde a posse daquele que
beneficia da aquisição por usucapião.
Hipótese 45
No Plano registal: Quem está no final da cadeia é D, que pretende ter um direito que é
totalmente incompatível com o direito de B. A ida ao C só tem importância porque há um autor
que defende que quando há aquisição registal, o direito de B extingue-se.
Vamos analisar a posição de D, reconhecendo porém que no percurso há um C que
poderá ter sido protegido pela ordem jurídica num plano registal, e, como há doutrina, Professor
Oliveira Ascensão que defende que a aquisição registal provoca a extinção do direito no plano do
direito substantivo, então podemos analisar a situação de C.
Analisando a situação de C, este adquire a titulo oneroso, de boa fé e registou, é um
terceiro tutelado, e pelo Professor OA o direito de B extingue-se. Todos os actos praticados por C
a partir daí são actos legítimos, plenamente válidos. Os Professores Menezes Cordeiro, Carvalho
Fernandes e Henrique Sousa Antunes consideram que a tutela registal paralisa o direito num
plano substantivo, mas não o extingue. Temos de ver qual a posição do D. Será a posição de D
vista à luz do arigo 5º do CP? Não, esse adquire de C, enquanto B adquire de A. Logo, a posição de
D nunca pode ser vista à luz do artigo 5º. A posição de D tem de ser vista à luz do 291º ou 17º
nº2. Portanto no plano registal teria adquirido também, e ao ter adquirido, estava legitimado
ainda ao direito de uso. Se o direito de propriedade está tutelado pelas regras registais, o direito
de uso também o está. Ao proteger o D, estamos a proteger o direito de uso.
Plano possessório: Aqui ter em conta que se D for considerado proprietário tem
legitimidade para a constituição do uso, a situação do uso perde autonomia, aqui no plano
possessório a situação do uso perde totalmente autonomia, por maioria de razão.
Porquê? Porque o direito de uso não pode ser adqurido por usucapião, como tal, não
vamos analisar a situação possessória do C relativamente ao direito de uso. C só vai ser no plano
possessório indiretamente protegido através da aquisição do direito de propriedade de D. O D
enquanto proprietário é protegido, e o C enquanto usuário pode valer-se dessa pretensão
registal do D? Imaginando que C não registo, ou estava de Boa fé.
D tem um direito de propriedade onerado com um direito de uso, que está a opor a B, B
iria opor a sua situação para ficar com pelo menos um direito de uso sobre a coisa.
2º - Adquiriu como a posse? Temos uma tradição simbólica, e não temos constituto
possessório – pode parecer porque alguém está a possuir, e vai continuar a controlar
materialmente a coisa, mas perde a qualidade de possuidor e passa a ser um detentor – Isso
acontece a C, que passa a ser usuário. Constituto possessório está pensado para que o titular do
direito real transmita o direito real, ora, C não é um titular do direito real. Para ser constituto
possessório, tudo isto tinha de ser feito por quem é titular do direito real, e C não é titular do
direito real.
Desde julho de 2009 não passaram 10 anos. Por isso temos de recorrer à acessão, quem
tem a posse anterior é C, desde Maio de 2000, adquiriu a posse de tradição material.
Como é que classificamos a posse do C? Posse civil; Posse registada; Efectiva; Formal;
Titulada; Boa fé; pacifica e publica. Continuamos no 1294 a) com prazo de 10 anos, e o prazo
começa a contar a partir de 2000, como tal já adquiriu por usucapião.
Como as duas posses são de boa fé, porque o regime dos frutos na posse da boa fé
determina que o possuidor de boa fé faça seus os frutos percebidos até ao dia em souber que
está a lesar o direito de outrem. Não pode B pedir uma indemnização pelos frutos.
1º - Plano substantivo – B é o proprietário da coisa, pois adquiriu por CV, o registo não
tem efeito constitutivo, tem apenas um efeito consolidativo. A transmissão do direito real dá se
por mero efeito do contrato, nos termos do artigo408º do CC + 892º + Doação alheia
2º - Plano Registal – B está em conflito com D, mas dado ter havido uma primeira
relação, importante perceber se C não terá adquirido por via do registo, visto que há doutrina
que diz que havendo uma aquisição registal, produz-se no plano substantivo a extinção do
direito existente. Como tal temos de recorrer ao artigo5º para ver se se encontram preenchidos
os seus requisitos, e, consequentemente C é protegido.
2)Prof.CF e MC – Procuram dar sentido aos 3 anos do 291º, dizem que esses se
justificam pela inexistência de um registo intermedio. Havendo registo intermédio, aplicam o
artigo17/2.
3)Prof.HSA – Professor defende que a justificação dos 3 anos do 291º deve-se ao facto
da pessoa que é tutelada no plano substantivo ter registado. Uma vez que B não registou, não
merece beneficiar do prazo de 3 anos do 291º, como tal aplicaria o 17/2.
Classificar a posse de D – é uma posse civil, registada, efectiva e formal. No plano legal é
uma posse titulada, presumida de boa fé, publica e pacifica.
Qual o prazo para adquirir por usucapião? 1294 a) há titulo e registo e boa fé, logo
10 anos. Mas, esses não seriam suficientes porque são contados a partir de fevereiro de 2009.
Como tal, se D se vier a opor com a aquisição por usucapião vai ter de recorrer à posse do
antecessor, o que nos obriga a qualificar a posse de C, e pode recorrer à acessão porque a sua
aquisição é derivada.
Como adquiriu C? A vendeu a B, como tal perdeu a posse, por isso quando A doa a C,
temos aqui tradição? Não parece, A não tem posse por isso não a pode transmitir. Também não
se pode falar de inversão da posse, mas pode haver a qualificação disto como uma forma de
apossamento.
Mas, se for apossamento estamos fora de uma posse titulada, de um modo legitimo de
adquirir. Um modo legitimo de adquirir, é um modo que se refere não à posse, mas ao direito
correspondente à posse.
Exemplo: Se o sujeito furta outro, adquire a posse por apossamento, mas não há uma
posse titulada por um modo legitimo de adquirir, pois esse modo não se refere à posse, mas ao
direito correspondente e a propriedade não se adquire por furto.
Mas D adquiriu por doação, por isso será que pode haver apossamento e posse titulada?
Não, quando qualificamos a posse titulada, estamos a assumir que se trata de um acto
que em abstracto transfere o direito real e concomitantemente a posse correspondente, ora, este
acto é um acto que em abstracto pode transferir o direito real, mas não transfere a posse, pois
essa não está no A, esse já perdeu a posse por cedência em relação ao C.
Nota: O Professor admite que se faça com tradição; Pode haver apossamento de boa fé
Como tal, tendo C adquirido por apossamento, este tem uma posse não titulada e de má fé –
1296º - 20 anos.
A acessão não se faz por confronto de 2 regimes (regime que seria aplicado ao C VS
regime que seria aplicado ao D), mas sim pela junção das piores características.
“dá-se nos limites da posse que tiver menor âmbito” – juntar as 2 posses, ver quais são as
piores características de uma e de outra, e depois determinar o prazo a aplicar.
Hipótese 20
“A vendeu a B, em maio de 2003, um prédio rústico por 50.000 euros, mediante documento
particular. O preço foi, desde logo, pago, passando B a cultivar o prédio. No mês seguinte, B
iniciou a construção no prédio de um edifício de apoio à atividade agrícola. As obras
findaram em novembro de 2003, tendo B, para esse efeito, gasto 60.000 euros. Em março de
2004, A morreu, pretendendo, agora, C, seu único herdeiro, exigir de B a entrega do terreno
e do edifício ai construído, o valor de todos os frutos colhidos por B e os frutos pendentes. B,
por seu turno, diz ter adquirido o direito de propriedade sobre o prédio. Quid iuris?”
Temos um contrato de compra e venda nulo por falta de forma, falta escritura
pública, como tal B não vai adquirir o direito de propriedade. No entanto, B alega que adquiriu o
direito de propriedade.
Podemos ter uma aquisição com base no usucapião: temos uma posse não titulada por
parte de B, porque o negocio é formalmente invalido, como tal, não havendo titulo teria de ser
aplicada o 1296º. Mesmo que se conclua que ele está de boa fé porque já pagou a integralidade
do preço, este 1296 determina que o prazo é de 15 anos. Tendo ele começado a posse em Maio
de 2003 não passou o prazo para adquirir por usucapião.
Poderia B juntar à sua posse a posse do A para adquirir por usucapião? Temos aqui uma
forma de aquisição derivada, mas não o pode fazer claramente...não pode juntar à sua a posse do
antecessor para invocar aquisição por ususcapião contra quem lhe transmitiu a posse. Qual era
então a outra forma que restava de aquisição do direito de propriedade?
a)Quando concluímos que embora sendo de maior valor, essa intervenção é feita para
conservar a coisa, e aí eu estarei perante uma benfeitoria.
No nosso caso foi construído um edifício de apoio à actividade agrícola, construído num
terreno destinado à actividade agrícola. Logo, a intervenção é de maior valor, mas é
funcionalmente dependente, logo o regime a aplicar-se deve ser o das benfeitorias.
Hipótese 21
A ocupação, embora seja definida nestes termos, a verdade é que foi tratada pelo
legislador abrangendo não só o fenómeno de ocupação em sentido estrito, isto é, relativamente
aos animais e coisas moveis que não têm dono, mas também abrangendo o fenómeno que nós
designamos de achamento, ou seja, coisas que tem dono, mas foram perdidas ou
escondidas. Estamos perante uma situação de possível aquisição do direito de propriedade,
artigos 1316º e 1317º.
Com o facto de A ter deixado cair a carteira e B a ter descoberto e ficado com ela, deu-se
o fenómeno da ocupação. Dá-se pela apreensão material de coisa móvel que não tenha dono, ou
que foi abandonada, perdida ou escondida pelo seu proprietário. No caso das coisas perdidas
não há um acto intencional do seu proprietário em demitir-se da titularidade do direito em
causa. Neste caso, estamos perante um achamento.
• Se não conhecer o dono, tem o dever de anunciar o achado através do meio mais
conveniente tendo em conta o valor da coisa.
Portanto, de acordo com o artigo 1323º nº1, B teria de ter anunciado que havia
encontrado a carteira e esperar que alguém a reclamasse. Se o achador não souber quem é o
dono, existe um dever de anunciar o achado. Ao anunciar o achado, o achador faz sua a coisa
perdida se não for reclamada pelo dono no prazo de 1 ano (artigo 1323º nº2).
Se ninguém reclamar, efectuando o anúncio e mantida a posse durante 1 ano: dá-se a
aquisição do direito de propriedade. De acordo com o regime do artigo 1323º nº2, há aquisição
do direito de propriedade, no entender do Professor Henrique Sousa Antunes, de acordo com
aplicação analógica do regime dos tesouros, e por isso, a aquisição do direito de propriedade
dá-se quando tiver passado 1 ano a contar do anúncio ou aviso, se a coisa não tiver sido
reclamada pelo seu dono.
Se alguém reclamar, esse alguém tem um direito de crédito sobre a coisa, e o achador
tem um direito real de garantia, o que significa que pode reter a coisa enquanto a indemnização
não for paga. Se A reclamar dentro do prazo, há um prémio de achamento
Nos termos do artigo 1323º nº3, caso a coisa seja restituída, o achador tem direito a
uma indemnização do prejuízo havido e duas despesas realizadas, bem como a um premio
dependente do valor do achado, no momento da entrega.
Para garantia do pagamento referido, o achador beneficia de um direito de retenção e de
irresponsabilidade, no caso de perda ou de deterioração da coisa, excepto havendo dolo ou culpa
grave da sua parte artigo 1323º nº4.
Menezes Cordeiro “Se encontrar coisa perdida e não anunciar o achado pode-se estar
perante um crime de furto e decorrendo o prazo de usucapião adquire-se a coisa”;
Hipótese 23
“A, dono de um prédio urbano em risco de ruir e destinado a ser demolido, anuncia no
jornal a intenção de vender, pelo melhor preço, todas as cantarias do edifício. O melhor
preço foi oferecido por B, a quem A vendeu as cantarias. Ficou acordado que as mesmas
seriam levantadas dois dias antes de se iniciar a demolição. Entretanto, na sequência de
uma intempérie, soltou-se um bloco de cantaria que caiu na estrada. Na manhã seguinte, C,
escultor, ao dirigir-se à sua oficina, apoderou-se do bloco e fez com ele uma escultura, que
vendeu a D. Tendo tomado conhecimento deste facto, A diz ter direito à escultura, mas B
afirma que esse direito a ele lhe cabe. C e D pretendem saber se lhes assiste algum meio de
defesa. Quid iuris?”
É essencial que o credor tome conhecimento que a separação se deu, agora que a
separação se dê nos exactos termos que tinham sido acordados pelas partes, não é de facto
exigível.Há uma coisa que é certa na hipótese aparece claro que a separação de dá sem
referência ao conhecimento do credor, portanto nesse aspeto concluímos que propriedade está
na esfera jurídica do vendedor portando é o vendedor que vai estar agora em litígio com D que
adquire a escultura.
O que nos permite dizer que estamos perante um comportamento de má fé? Sabemos
que está de má fé porque não indagou a quem pertenceria a pedra, mas é preciso um
enquadramento jurídico. Está de má fé pelo 1340º nº4, porque nós não temos mais nenhuma
norma que nos diga o que é boa ou má fé em matéria de acessão, e a verdade que o conceito de
boa ou má fé é relevante para aplicar o regime de acessão, porque só se pode adquirir a
propriedade se houver boa fé.
Por isso, doutrina e jurisprudência utilizam o artigo 1340º para lá do estatuto da
acessão industrial imobiliária aplicando também à mobiliária.
Das duas uma, ou de facto nós chegamos à conclusão que ele não sabe que o bloco
pertence ao sujeito A e nessa medida podemos dizer que desconhece, ou então somos mais
exigentes e dizemos que não ele só desconhece quando tenha cumprido aquilo que é aplicável às
coisas perdidas (por natureza uma pedra que apareça no meio da rua e tem o tamanho suficiente
para ser esculpida não será uma coisa que a ninguém pertença). Supondo que há uma hipótese
em que alguém encontra um determinado objecto e o utiliza e altera a forma desse objeto, há o
risco que ele assume porque a coisa que ele encontra na rua poderá ter uma de três natureza:
poderá nunca ter tido dono, poderá ser abandonada ou uma coisa perdida.
Se for uma coisa perdida ele tem um caminho a fazer e se ele não cumprir esse caminho a
propriedade não se extinguiu do lado de lá e não se adquiriu deste lado e, portanto, só podemos
chegar à conclusão que ele não desconhecia que a coisa era alheia, porque ele não fez tudo aquilo
que estava obrigado para poder chegar à conclusão que efetivamente não há ninguém que seja
dono daquilo. Logo, à luz do artigo 1340º ele está de má fé.118
Mas vamos supor até que estava de boa fé e que trouxe um valor maior do que a cantaria
tinha inicialmente, o que poderá levar-nos dizer que não poderá deixar de ser um fenómeno de
acessão? A cantaria tinha um determinado destino económico que é alterado pela
transformação em escultura, aqui não se está simplesmente a melhorar a coisa, mas a dar-lhe um
destino económico diferente. Posto isto, essa exceção acaba por não ter aplicação, não se trata de
conservar a coisa, também não é uma intervenção funcionalmente dependente, então não há
nada que vença a lógica de que havendo boa fé e trazendo maior valor será uma acessão e não
uma benfeitoria.
Mas há uma norma que diz, que é especificação, ou seja acessão industrial imobiliária,
isto e outros factos semelhantes, pelo que não seria necessário este percurso para chegar à
conclusão que se aplica o regime, porque é um facto semelhante.
Se já não se tratar do direito de propriedade, mas da lógica da compensação, saber se é
benfeitoria ou acessão é relevante, porque temos uma norma que vai dizer que se o escultor
estiver de má fé dando nova forma ao bloco de cantaria, o bloco vai pertencer com esta nova
forma ao dono do bloco e o dono do bloco só está obrigado a indemnizar o escultor naquilo que
exceda em um terço o próprio valor do bloco de cantaria.
O que diz o artigo 1337º é que é uma compensação limitada, porque o dono só está
obrigado a indemnizar o especificador naquilo em que a especificação tiver aumentada em mais
de um terço do valor da coisa especificada. Como isto não se aplica em matéria de benfeitorias a
distinção torna-se relevante.
Vamos supor que está de boa fé e vamos supor que ele trouxe o valor superior ao valor
da coisa inicial, isto é, o valor da especificação excede o valor da matéria.
Bloco de cantaria=500€
Escultura =1000€
Outros caminhos podiam ser a utilização do 1323º ou o a posse neste caso ser adquirida por
118
Vamos supor que, uma acessão industrial imobiliária, portanto A é proprietária dum
terreno e B de boa fé julgando que aquele terreno é seu por qualquer razão decide construir aí
um edifício, mas é um edifício com dois andares, cujo o valor fica aquém do valor do próprio
terreno, uma área que o solo tem o preço elevado. Nesse caso havendo uma atuação de boa fé
sendo a obra o valor inferior ao valor do terreno, a quem vai pertencer a propriedade do
conjunto: terreno com o edifício implantado? Se o valor acrescentado for menor as obras
pertencem ao dono do terreno, ao proprietário do solo, 1340º nº3 se o valor acrescentado for
menor, as obras, sementeiras ou plantações pertencem ao dono do terreno, com obrigação de
indemnizar o autor delas do valor que tinham ao tempo da incorporação. A recebe na sua
propriedade o edifício mas está obrigada a pagar à B o valor que a obra tinha ao tempo da
incorporação. O que resulta do art 1340º nº3 no fundo é uma aquisição imperativa, a pessoa
recebe a propriedade e não tem possibilidade de se manifestar em sentindo diverso, A nunca
quis que B interviesse no seu solo, nunca quis que construísse um edifício, vai adquirir o edifício
mas vai ser obrigada a paga-lo.
Na matriz de tudo isto está o direito de propriedade que é um direito exclusivo e pleno e
por isso A teria todo o direito de se pronunciar sobre aquilo que quer ou não quer que aconteça
no seu solo, no entanto vê-se confrontada com um intervenção alheia que vai permitir o direito
de propriedade correspondente à intervenção, mas obrigando-a a pagar o valor correspondente
a essas obras. Ora será que a solução mais justa é esta? O 1340º nº3 não nos dá abertura a outra
hipótese, diz que se o valor acrescentado for menor então a obra pertence ao dono do terreno
com a obrigação de indemnização. Será que é assim na especificação ou será que é assim na
acessão industrial imobiliária em geral? Será que na especificação também se o valor que eu
trago for menor a pessoa que era dona da matéria vai ter que ficar com a matéria alterada com a
obrigação de a indemnizar o especificador ou se for uma confusão será que o dono da matéria
inicial vai ter de ficar com a coisa quando o valor trazido é inferior com a obrigação de
indemnizar o interventor?
No artigo 1336º nº1 a lei diz tem o dono da matéria o direito de ficar com a coisa, se o
valor da especificação não excedeu o da matéria, o valor da especificação é inferior ao da matéria
(menor ou igual), logo, a pessoa que é dona da matéria tem o direito de ficar com a coisa, mas
pode renunciar o que significa que poderia na verdade não adquirir essa coisa e, portanto, não
estava obrigado a pagar a indemnização em função do valor criado pela especificação.
Esta norma é acompanhada por outra norma em que esta lógica está presente e são estas
duas normas que permitem consagrar o princípio geral de que tem que ser dada a liberdade ao
proprietário da coisa transformada de decidir se quer ou não ficar com a coisa alterada. A
outra norma que acompanha esta lógica da vontade é o artigo 1333º nº4. Em qualquer dos
casos previstos nos números anteriores, o autor da confusão é obrigado a ficar com a coisa
adjunta, ainda que seja de maior valor, se o dono dela preferir a respectiva indemnização. O
autor da confusão é obrigado a ficar com a coisa adjunta ainda que seja de maior valor se o dono
dela, ou seja, da coisa adjunta com a qual outra coisa foi unida ou na qual outra coisa foi
incorporada, no fundo é a matéria inicial, o dono da coisa adjunta ainda que a coisa adjunta
tenha maior valor, o que vem de fora é de menor valor, portando se tem menos valor a pessoa
que recebe esse valor ficaria proprietária, mas a lei diz “ainda de maior valor o dono pode
preferir não ficar com a coisa e preferir receber uma indemnização “ pelo facto de ficar privado
da propriedade da coisa inicial.
Então, concluindo, o A diz ter direito à escultura resta saber se D adquiriu o direito à
escultura. Nós sabemos que o artigo 1301º não é uma norma que garanta o direito de
propriedade, mas é uma norma que limita o exercício de propriedade.
Cálculo: O A paga o preço que o D deu pela aquisição da escultura, mas o A tem direito a
alguma coisa! (o 1301º não chega para resolver o problema com o direito de regresso)
-Bloco 500€
-Escultura 1000€
-Ele pagou 1000€ para reaver o valor o bloco de cantaria sobre a forma de escultura.
Há uma norma que implica no exercício desse direito de regresso, que diz que parte do
prejuízo vai ter que ser assumido pelo próprio proprietário porque fica com a escultura. Ele
pagou 1000€ reembolsando o adquirente, mas esses 1000 não vão poder ser repercutidos na
sua integralidade na esfera jurídica do escultor que é o especificador. Por causa do artigo 1337º
que diz que o escultor também tem direito a uma indemnização que é paga pelo dono da matéria
embora não seja uma indemnização integral, só tem direito a indemnização quando o aumento
tiver excedido em mais de um terço o valor da coisa especificada, portanto aqui mais de um
terço será cerca de 166,.....€ logo, 500+166,.... esse é o valor do dono da matéria por tanto só tem
o especificador direito a receber o equivalente que fique entre 600 e tal e 1000. Quando ele
perde o reembolso de 1000 ele no fundo só consegue reembolso de 660...(já que 300 e tal
pertencem ao especificador) no fundo é um reembolso que não poderá ser pedido na
integralidade porque o próprio especificador embora esteja de má fé contribuiu para aquele
valor. O dono fica com a escultura também não ficará prejudicado.
Em suma: A dono da escultura por causa do art 408º nº2; A especificação de má fé não
atribui o direito de propriedade ao escultor; A venda a D que não lhe atribui o direito de
propriedade sendo, no entanto que A terá que revindicar do contexto de regime do art 1301º e
depois no exercício de direito de regresso é preciso ver que o escultor tem direito a uma certa
indemnização a reduzir ao valor que ele tem que pagar ao dono da matéria.
Hipótese 24
Será que o professor Menezes Cordeiro não estará a interpretar demasiado de forma
literal o artigo? De facto, olhando para a letra da lei, temos aqui uma de duas hipóteses: quando
os factos constituem um prejuízo substancial para o imóvel haverá a aplicação do 1346º; quando
os factos não resultem da utilização normal, também haverá aplicação do 1346º.
Mas a norma propõe-nos outra coisa: utilização anormal + prejuízo, mal seria se se
admitisse que, alguém que compra um terreno para construir uma casa de repouso, impedir o
funcionamento de uma fábrica de construção civil que já lá existia ao pé há muito tempo. No
fundo, alguém iria prevalecer-se da norma do 1346º, mesmo que a utilização desse imóvel fosse
anterior. Aqui a pessoa escolhe voluntariamente o sítio onde vai construir a casa de repouso.
Que argumento é que temos para impedir que o artigo 1346º seja utilizado assim? Abuso do
direito.
O Professor Henrique Antunes acha que a norma pode ser interpretada tal como a lei
nos sugere, isto é, em sentido alternativo. Ou há uma utilização anormal, e nesse caso
basta o mero prejuízo; ou há um utilização normal e, nesse caso, é necessário um prejuízo
substancial. O que eu tenho de saber neste caso concreto é se isto é uma utilização
anormal ou uma utilização normal. Para que esta norma se pode aplicar no caso temos de
saber se isto é um prejuízo substancial. Não, não é um prejuízo substancial.
Quanto às janelas e das servidões de vista, 1362º. A não sente a sua intimidade
devassada no momento da construção da janela mas apenas depois, ao momento da reforma de
B. Faz sentido a autonomia de um direito de propriedade? O professor Henrique Antunes acharia
legitimo que se pudesse dizer que se o direito for afectado de uma forma relevante que isso
vença a aquisição por usucapião da servidão de vistas do 1362º. artigo 1261º, o professor retira
da hipótese que as janelas deitam directamente, mas não considera que isto indique o
desrespeito pelo intervalo de metro e meio. Se foi respeitado, não se coloca nenhum problema
(excepto o dos direitos de personalidade acima referido). Se não for respeitado, é que se
colocam os problemas. Pode haver aquisição por usucapião da servidão de vistas e tem de ser
falar da posse deste beneficiário, posse não titulada, presumida de má-fé, 1286º, 20 anos já
passou, há uma servidão de vistas. A outra parte não pode reagir/mandar fechar as janelas.
Hipótese 25
Sem prejuízo dos prejuízos teóricos que o 1407º pode levantar, isto não é um acto de
inovação porque já foi em tempos um casino, ou seja, criar um salão de jogos nada mais é do que
um acto de administração ordinária. Neste caso, a maioria decidirá. Decidida a maioria a senhora
A está vinculada. Resta-lhe exigir a divisão da coisa, porque o acto ainda não foi praticado, ou
então, a faculdade de renunciar do seu direito, faculdade do 1411º nº1. Quando a lei fala, no
1411º, em benfeitorias necessárias, será que está apenas a referir-se apenas a benfeitorias
necessárias? Na verdade, quando vamos a este conceito, 216º evitar a perda, destruição ou
deteorização da coisa. Mas fala-se de outra coisa no 1411º: despesas necessárias à conservação
ou fruição da coisa. O conceito não é totalmente idêntico, este último abrange mais do que o
216º. Abrange as benfeitorias úteis.
Podemos ter casos de fronteira, este é um caso de fronteira: era um casino e agora é uma
casa de jogos. Não haveria dúvida se antes se tratasse de uma habitação e se quisesse
transformar numa casa de jogos, aí seria claramente uma inovação. Não era apenas uma
benfeitoria necessária/útil, mas sim inovação, uma alteração do destino económico da coisa.
Poderíamos estar aqui numa zona cinzenta entre administração ordinária e inovação ou
administração ordinária e administração extraordinária. O artigo 1024º nº2 é usado pelo
professor Henrique Mesquita para argumentar a unanimidade: coisa móvel ou imóvel que está
em compropriedade. A lei diz que se os administradores decidirem arrendar a coisa que está em
compropriedade têm de conseguir o acordo dos restantes compropriedades, de forma unânime.
Quando se aluga ou quando se arrenda, está-se a inovar , o destino económico é diferente, agora
a casa, ou o automóvel, darão uma rentabilidade que deriva deste acto jurídico que se pratica.
Quando se altera o status quo do ponto de vista económico, eu tenho de obter o consentimento
de todos. A regra é a unanimidade: vale para o arrendamento mas vale para todas as situações. O
conflito será mais unanime aprisionando uma maioria a uma minoria? Que é o que resulta do
princípio da unanimidade. Ou aprisionando a minoria à maioria? Que é o que resulta da
aplicação da maioria.
O professor Henrique Antunes acha que é preferível aprisionar a minoria à maioria, do
que o contrário. Mas também pode haver recurso à figura do abuso do direito. Vamos supor
que haveria um comproprietário que se opunha sem motivo nenhum, claro que também
poderíamos aqui aplicar o instrumento do abuso do direito. Mas implica sempre um juízo feito
pelo tribunal. Considera Henrique Antunes que para evitar uma apreciação pela lógica do abuso
do direito, deve-se seguir a utilização da maioria. Mas há aqui um facto: o artigo 1024º diz
que a regra é a da unanimidade. Então como é que daqui não se extrai o regime geral? Então e
agora como se justifica que o artigo 1024º/2 exija o consentimento de todos não se podendo
extrair daí um princípio geral? No manual do professor, diz, a certa altura, que o 1024º/2 é a
expressão do 1408º/1, é um acto de oneração e o 1408º trata de uma oneração
especificamente. A oneração da coisa não tem de ser a vinculação a direitos reais, pode ser a
vinculação a direitos de crédito. A oneração da coisa sem o consentimento de todos os
condóminos é tida como disposição de coisa alheia. Ou seja, no fundo o arrendamento sem o
consentimento de todos é havido como oneração de coisa alheia. Por isso, o 1024º/2 exprime, no
fundo, o que já resulta do artigo 1408º/2, por isso, não é transponível para uma regra geral. Está
apenas a replicar o que diz no 1408º/2. Portanto, fora dos actos de disposição ou oneração,
onde o artigo 1024º/2 cai, volto a ter apenas uma norma potencialmente aplicável, a norma de
administração da coisa, que é a norma do 1407º CC. Mesmo que isto fosse inovação, ou
administração extraordinária, para o professor Henrique Antunes isto caía no artigo 1407º. A
pessoa vai estar vinculada pela deliberação da maioria, logo vai estar obrigada a pagar. O que
pode fazer? Pode pedir a divisão da coisa antes do acto ser praticado; ou, depois do acto ser
praticado, pode renunciar ao seu direito para não ter que pagar as benfeitorias, para não ter que
contribuir para as despesas de tranformação da coisa. É uma forma de proteger o seu interesse
sem prejudicar a vontade da maioria. Há aqui um problema de delimitação do artigo 1407º em
relação a um princípio geral que se extrairia do artigo 1024º/2. O que é a maioria do artigo
1407º? Assumindo que estamos no artigo 1407º, o que é esta maioria? Poderia perfeitamente
chegar a conclusão que, mesmo estando eles de acordo, eles sozinhos não conseguem vincular a
senhora.
Portanto o acto não é um acto válido. Se fossem só os três, apenas um terço das quotas
não estaria de acordo. Vamos ver: primeiro, a remissão para o 985º não me fala em quotas; o
que é que resulta do 985º? Na falta de convenção em contrário todos os sócios tem igual poder
para administrar. Poder individual de administração. Cada comproprietário pode por si só agir.
Não tem de pedir o consentimento dos outros - artigo 1407º remete para o 985º.
Qualquer acto de administração, vamos supor que queremos atacar a validade do acto
jurídico que tenha sido praticado por um condómino no contexto da administração e o que
dizemos é que o acto é válido apesar de não ter o consentimento dos outros. Vamos supor que se
tratava da compra de tinta para pintar a casa. Pode essa compra ser anulável por falta de
consentimento da maioria? Não é anulável porque qualquer comproprietário tem poder para
administrar sozinho. Esta é a regra - administração disjunta. Mas ainda há uma dependência da
maioria, mas não é uma maioria prévia. Mas antes do acto ser praticado, se se tomar
conhecimento que um comproprietário pretende agir num determinado sentido, artigo 985º/2
CC. Alguém com conhecimento que o outro pretende fazer a compra, opõe-se. Aqui o que é
necessário para que o acto seja válido é que haja uma deliberação por maioria. Mas isto é antes
do acto. Mas podemos ter um outro modelo de administração - administração conjunta: as
pessoas já não agem individualmente mas conjuntamente, artigo 985º/3. Entende-se que antes
da compra é necessário uma deliberação por maioria. Já não pode levar a cabo o acto sozinho.
Temos dois modelos: administração que é exercida de forma individual e a administração que é
exercida de forma conjunta. No entanto, a pergunta a pouco era outra: neste momento, ainda não
foi praticado o acto, por isso não é relevante saber se têm o poder de administrar
individualmente ou não porque mesmo que tenha esse poder de administrar individualmente,
neste momento a questão foi colocada perante todos porque há um comproprietário que se
opõe, o que leva a que se tenha de tomar esta decisão por maioria. E portanto,
independentemente do tipo de administração que esteja em causa, vai ter sempre que haver
uma deliberação por maioria. Mas que maioria é essa? Foi a pergunta do professor. Se não se
disser mais nada parece uma maioria de cabeças. O 1407º não se basta por maioria de cabeças -
de facto, este artigo nº 1, manda aplicar não só a maioria de cabeças, mas essa maioria tem de
corresponder a metade do valor total das quotas. E como é que eu sei que neste caso
corresponde a mais de metade do valor total das quotas? artigo 1403º/2 - cada um tem 1/3,
neste caso. Neste caso, tenho 2/3 contra 1/3, logo, a maioria está preenchida. A maioria poderia
decidir nesse sentido. Maioria do 1407: maioria de cabeças + pelo menos metade da
maioria do valor total das quotas. A coisa avançaria pois em conjugação das normas do
1403º/2 e 1407º tenho a maioria de cabeças e a maioria do valor total de quotas. Segundo o
professor Henrique, a solução a que chegamos seria a aplicação do artigo 1407º, que nestes
termos estaria vinculada A a contribuir para as despesas podendo, não obstante, renunciar ao
direito para não pagar as despesas, em resultado do 1411º, que abrange também as benfeitorias
úteis e não apenas as benfeitorias necessárias.
Hipótese 26
Como a casa dos caseiros corresponde a 1/3 da sua área e 1/3 é aquilo que vem previsto
no 1403º/2, então estamos a falar da alienação da quota e por isso mesmo havendo
direito de preferir. Porquê? No fundo, para que seja legítimo o que a Inês diz, teria de estar me
causa a alienação da quota. É uma quantidade que eu vendo. A lei diz que se se tratar uma parte
especificada da coisa comum, esse negócio é nulo. É havido como uma venda de coisa alheia.
Porque ele vende a casa dos caseiros, ele não pode vender a casa dos caseiros. Só pode alienar a
sua quota correspondente a 1/3 dessa compropriedade. Como ele vende uma coisa específica da
compropriedade, a casa dos caseiros, esse negócio será nulo. Será possível e desejável que esse
negócio seja aproveitável para uma acção de preferência? É evidente que o A e o C, os outros
comproprietários, tem interesse em preferir esta alienação, em adquirirem esta alienação. Mas o
tribunal vem dizer que isto é uma alienação de quota e há um direito de preferir, que se violado
justifica a acção de preferência.
Mas como é um negócio jurídico nulo, não há legitimidade para uma acção de
preferência, não houve a alienação de uma quota mas sim de um parte do terreno, uma
casa na quinta. Mas estes negócios podem ser aproveitados pelo instituto da conversão, a
quem interessa, naturalmente aos outros proprietários, convertido em alienação de quota.
Pode ainda exigir uma outra coisa, como diz o professor Carvalho Fernandes, que é a aplicação
conjugada de dois institutos: conversão e redução. Se eu vender a coisa toda, ou vender uma
parte especificada que é superior à minha quota, vou ter de aplicar simultaneamente a redução,
reduzindo o negócio ao valor da minha quota e depois vou ter de o converter à alienação de
quota. Na prática, o que eu tenho é uma situação facilitada: aqui neste caso ele está a alienar 1/3
(casa dos caseiros) que corresponde à sua quota, não será necessário a redução. Apenas terá de
converter o negócio em alienação de quota. Se é alienação de quota, os comproprietários têm
preferência. Assim sendo, o direito de preferência foi violado e A e C actuam através de uma
acção de preferência.
Quando à questão da humidade: Sabemos que o 985º diz que pode ser a
administração feita individualmente ou em conjunto, onde é necessária maioria. Ele não
participou e portanto não havendo maioria, aliás, passavam a ser apenas os dois, não havendo
maioria não pode o acto ser praticado.
Há aqui duas coisas a dizer: primeiro, a regra nem é essa. A regra é a de que qualquer
comproprietário é administrador e pode praticar os actos de administração que bem
entender. Pode é, antes da prática do acto, ser impedido dessa prática, mas qui o acto já foi
praticado. Mas aqui a acção dele é legítima o que resulta do 985º/1. Mas mesmo que
houvesse uma administração conjunta e antes da prática de cada acto de administração, tinha de
haver deliberação por maioria, há uma norma que resolve a questão: 985º nº5, era urgente. C
estava obrigado a pagar as obras. Se não quiser pagar, renuncia ao direito.
Hipótese 27
“Do título constitutivo do prédio X consta como parte comum do edifício uma unidade,
constituída por duas divisões, destinada à realização de atividades festivas de qualquer dos
condóminos. Em assembleia de condóminos, convocada nessa tarde por um condómino, foi
deliberado, por maioria representativa de dois terços do valor total do prédio, alienar o
espaço. Quid iuris?”
Artigo 1432º nº5: «As deliberações que careçam de se aprovadas por unanimidade dos
votos podem ser aprovadas por unanimidade dos condóminos presentes desde que estes
representem, pelo menos, dois terços do capital investido, sob condição de aprovação da
deliberação pelos condóminos ausentes, nos termos dos números seguintes.»
Mas, mesmo que houvesse unanimidade, a deliberação seria inválida, e essa invalidade
conduziria à nulidade, por haver uma violação de uma norma imperativa. O acto que viola uma
norma imperativa é ferido de nulidade, o que acontece neste caso, uma vez que há a
ofensa de um elemento nuclear da propriedade horizontal. Não é possível alienar a
unidade/espaço (parte comum), sem alienar a fracção autónoma, pois o conjunto dos dois
direitos é incindível (artigo 1420º/2, 1ª parte). Há a violação do artigo 1420º/2.
«artigo 294º: Os negócios celebrados contra disposição legal de carácter imperativo são
nulos, salvo nos casos em que outra solução resulte da lei.»
1) O espaço parece preencher os requisitos do artigo 1415º (requisitos para se ter uma
fracção autónoma e, assim uma propriedade horizontal). Esta unidade só pode ser
fracção autónoma se, além de ser independente, for indistinta e isolada entre si.
Portanto, se passar a ser fracção autónoma, essa alienação deixa de violar o artigo
1420º/2, 1ª parte, pois, nesse caso, está a alienar-se a fracção autónoma e o direito à utilização
das parte comuns correspondente a essa fracção autónoma. Ou seja, no fundo, estão, eles todos,
enquanto comproprietários, a alienar a fracção autónoma e e parte correspondente nas zonas
comuns.
Resumindo: Em termos objectivos, esta deliberação era inválida por razões formais e
substanciais, e como a deliberação deve ser considerada nula por violação da norma imperativa,
o vício mais grave consome o vício menos grave.
Nota final: Aqui temos uma parte presumidamente comum, e não imperativamente
comum, e por isso é que podemos falar da alteração do título constitutivo para que passe a ser
uma fracção autónoma. Aliás, só podemos falar em modificação do título constitutivo neste
sentido de transformação de partes comuns em fracções autónomas quando essas partes
comuns o são, ou por força do próprio título constitutivo (que declare que aquele é um
espaço comum) ou então por força da lei, desde que se trate de uma parte presumidamente
comum, porque se fosse imperativamente comum, nunca poderia ser transformada em
fracção autónoma (também aí haveria uma deliberação nula por violação de uma norma
imperativa).
Hipótese 28
Artigo 1421º nº1 a) «1. São comuns as seguintes partes do edifício: a) O solo, bem como
os alicerces, colunas, pilares, paredes mestras e todas as partes restantes que constituem
a estrutura do prédio;»
Artigo 1422º nº2 alínea a): «2. É especialmente vedado aos condóminos: a) Prejudicar,
quer com obras novas, quer por falta de reparação, a segurança, a linha arquitectónica ou
o arranjo estético do edifício;»
Se a parede for uma parte comum (mestra), a alteração e inovação depende de uma
deliberação da assembleia nos termos do art. 1425º (inovações em partes comuns).
Se for uma parede interna que não é mestra, ou seja, se for parte própria, e se não se
trata de uma demolição que prejudica a segurança do edifício, a demolição pode ser feita
por simples vontade do próprio condómino.
Atenção: Pode ser parte própria e mesmo assim não ser possível demolir essa parede
se isso prejudicar a segurança do edifício.
Fechar a varanda da sala: a varanda da sala é uma parte própria; só é parte comum os
terraços de cobertura. Não parece que prejudique o arranjo estético do edifício. No entanto, vai
haver uma modificação do arranjo estético do edifício. Assim sendo, de acordo com a lei, esta é
uma obra que cai no âmbito de aplicação do nº3 do art. 1422º, que requer a aprovação pela
assembleia de condóminos (aprovada por maioria representativa de 2/3 do valor total do
prédio). Se não suceder, o administrador pode ordenar a demolição da obra.
Assim: Atendendo ao art. 1422º nº3, as obras que modificam a linha arquitectónica ou
o arranjo estético do edifício podem ser realizadas se para tal se obtiver prévia autorização da
assembleia de condóminos, aprovada por maioria representativa de dois terços do valor total do
prédio. Ou seja, A teria de pedir a aprovação da assembleia de condóminos. Se fosse uma parte
comum, aplica-se o art. 1425º/1 do CC.
Mas quer dentro da actividade industrial, quer dentro da actividade comercial, podemos
ter diversos usos. Também é verdade que o elememento determinante nisto tudo é o projecto
aprovado pela entidade pública competente, ou seja, o que é que a entidade pública permitiu que
pudesse ser feito a respeito da utilização das fracções do edifício que autorizou, ou seja, quais os
fins que podem ter as fracções desse edifício.
Art. 1418º/3: Extrai-se uma certa hierarquização. Acima de tudo está o projecto
aprovado pela entidade pública constitutivo. Ele é que vai determinar qual é o fim que cada
fracção pode ter. E não há título constitutivo ou vontade de condóminos que possa alterar aquilo
que está definido no projecto aprovado pela entidade pública competente. Este é determinante
da finalidade que pode ser dada a cada fracção. O título constitutivo não pode contrariar o
projecto aprovado pela entidade pública competente. Por isso é que o silêncio do título
constitutivo é irrelevante, pois aplica-se aquilo que resulta do projecto aprovado pela entidade
pública competente. A menção é facultativa e não obrigatória, mas é evidente que é necessário
saber qual o fim. Mas este projecto aprovado pela entidade competente é de consulta pública.
Nesta hipótese específica, não foi especificado o fim de cada fracção autónoma. Mas isso
não é necessário, pois sabemos que é uma menção facultativa e não obrigatória. Mas é evidente
que é preciso saber o fim. Vamos buscar isso ao projecto aprovado pela entidade pública
competente.
Exemplo: Vamos imaginar que para esta fracção era possível um fim industrial. Então,
para a actividade de cabeleireiro, era perfeitamente legítima. Apesar do silêncio constitutivo, se
não houver uma alteração do uso, a utilização da fracção para este fim é livre. O condómino não
precisa de pedir autorização a ninguém. É o projecto aprovado pela entidade competente que lhe
dá a possibilidade de utilizar a fracção para o fim industrial.
Exemplo: Se houver uma panificadora, temos uma actividade industrial, e se agora passa
a haver um cabeleireiro, há uma alteração do uso, mas dentro do mesmo fim. Vamos cair no art.
1422º/3. Se o título constitutivo é omissivo quanto ao fim, e resulta do projecto aprovado pela
entidade pública competente que o fim é industrial, e se houve uma alteração ao uso, é
necessária uma autorização da assembleia de condóminos aprovada pela maioria
representativa de 2/3 do valor total do prédio. Mas não é o caso. Aqui temos apenas uma
fracção e apenas referência a um uso. Se for permitido o fim industrial pelo projecto aprovado
pela entidade pública competente, a utilização é possível, não sendo necessário pedir qualquer
autorização à assembleia de condóminos. Se o projecto aprovado pela entidade pública
competente permitir o fim industrial, a fracção já tiver um determinado uso industrial e agora
houver uma alteração do uso, já se aplica o art. 1422º/4.
Outro Exemplo: Vamos agora supor que o projecto aprovado pela entidade pública
competente oferece uma alternativa: ou comercial ou industrial. Aí, o título constitutivo é
relevante, porque o título constitutivo pode vir a definir, dentro dos fins que são permitidos pelo
projecto aprovado pela entidade pública competente, qual é o fim que efectivamente aquela
fracção autónoma terá, sendo que pode dizer ‘’comércio’’ ou apenas ‘’indústria’’. O que acontece
se o título constitutivo disser ‘’comércio’’ e agora a pessoa pretender abrir um restaurante ou um
cabeleireiro? Se tivesse já uma actividade comercial, e agora se alterasse para um uso diferente
comercial, aplica-se o art. 1422º/4 (o fim é possível, mas o fim é diferente). Mas se pretender
abrir um restaurante ou cabeleireiro, é possível ou não? De acordo com o título constitutivo, não,
mas o projecto permite um fim industrial.
Resposta:
1) Não temos uma desconformidade entre o título constitutivo e o projecto, pelo que não
temos de olhar para o art. 1418º/3. O título constitutivo moveu-se dentro da margem de
liberdade promovida pelo projecto, e fez uma opção que é legítima. Não há um problema
de validade (e nulidade) do título constitutivo por falta de conformidade com o projecto,
pois este refere em alternativa duas opções.
2) Era necessário modificar o título constitutivo para que a finalidade industrial fosse
permitida, passando assim o título a prever um fim comercial ou industrial.
3) Mas qual é a norma que diz que a pessoa não pode utilizar a fracção para o cabeleireiro?
Art. 1422º/2, c)- Trata-se de um caso em que A estaria a dar um fim diverso ao fim a
que a fracção estava destinada.
Outro exemplo: Imaginemos que temos um projecto aprovado pela entidade pública
competente que não tem nenhum título constitutivo a dizer qual é o fim que especificamente é
desenvolvido por aquela fracção, e a fracção não está preparada para outro fim. Esta é uma
questão que tem surgido na jurisprudência, e que é a configuração natural da fracção. Se a
fracção tiver uma configuração que não é compatível com determinado uso, o que acontece?
Vamos supor que o projecto aprovado pela entidade pública competente diz ‘’comércio’’
ou ‘’indútria’’, e o título constitutivo nada diz. Aplica-se o que diz o porjecto aprovado pela
entidade pública competente. Vamos imaginar que A quer abrir um restaurante, o que está
dentro dos fins aprovados pelo projecto. Porém, a extracção dos fumos é levada para uma outra
fracção. Não tem a configuração natural que permite instalar um restaurante. Neste caos, o que a
jurisprudência tem vindo a dizer é o seguinte: no silêncio de título constitutivo, pode
desempenhar o papel de título constitutivo a configuração natural. Se a configuração
natural da fracção impedir um determinado uso, apesar do projecto aprovado pela
entidade competente permitir um certo fim, a configuração natural vedará essa
utilização, pois não é possível.
Hipótese 29
Se não fosse o regulamento a prever isto mas antes uma assembleia de condóminos que
sem oposição que deliberou não se poderem tocar instrumentos entre as 20h e as 8h, e o
condómino novo não se considerasse abrangido por esta deliberação por ter ido para o prédio
posteriormente, o artigo 1422 nº2 d) não faz com que seja necessário que A estivesse presente,
o que parece daqui parece resultar que das duas uma: ou é proibido a título constitutivo ou os
condóminos reúnem-se e na deliberação surge a proibição independentemente do A estar ou
não presente. Será assim? Será que o 1422 nº2 d) autoriza uma assembleia de condóminos a
deliberar sobre fracções autónomas desde que a deliberação seja aprovada sem oposição? Na
assembleia só se pode deliberar sobre partes comuns, só o título constitutivo do 1418º é que
fala sobre partes comuns e fracções autónomas, por isso parece que esta deliberação da
Assembleia não é aprovada em unanimidade, “aprovada sem oposição” não é a mesma coisa que
acordo de todos os condóminos do 1419 nº1, pois podem desde logo haver abstenções na
assembleia, e uma abstenção apesar de não ser oposição não é acordo, não conta para a
unanimidade, e só por unanimidade ser modificado o título.
Portanto, o 1422º nº2 d) só pode ser interpretado como referindo-se a partes
comuns e não às fracções autónomas, para as fracções autónomas só há uma forma de
modificar a sua utilização: o título constitutivo, que só pode ser alterado por unanimidade
como acabou de referir. Assim ou o título constitutivo está ab-initio com esta restrição da música
ou então alterasse o título por unanimidade.
Podíamos também aplicar a Lei do Ruído, que limita perturbações deste tipo em fracções
autónomas, mas que interferências tem essas lei neste caso? Quando estudamos as limitações
aos direitos de propriedade estudamos que há que distinguir as normas que estabelecem
restrições em resultado de relações de vizinhança das normas que têm como objectivo
interesses gerais (como matéria ambiental), e o que dizem a doutrina e jurisprudência é que as
normas que têm como objectivo interesse gerais têm uma invocabilidade limitada. Por isso no
caso da Lei do Ruído podia ser discutível se estávamos num caso de normas que têm objectivos
Hipótese 30
Quanto à convocação da reunião for F: de acordo com o disposto no artigo 1431º exige-
se que F seja administradora do prédio, ou então que represente 25% do capital investido, para
que possa convocar a assembleia de condóminos. Assim sendo e presumindo que F não era
administradora do prédio, seria necessário que a mesma detivesse uma fracção autónoma com o
valor de 250/1000, e de acordo com os dados referidos na hipótese, só poderia ser titular de
uma fracção autónoma com o valor de 150/1000. Em segundo lugar, tendo a reunião sido
convocada para o sábado seguinte, não se encontra verificado o pressuposto contido no nº1 do
art. 1432º, que exige que a carta seja enviada com 10 dias de antecedência. Posto isto, atendendo
ao disposto no art. 1433º nº1, G poderia requerer a anulação das deliberações da assembleia.
Se a demolição desta parede mestra implicar a segurança do prédio diz o artigo 1422º
nº2 a) que os condóminos não podem permitir a destruição. Assim nem com uma deliberação
unanime seria permitido fazer tal destruição.
Se no entanto se a destruição não prejudicar a segurança do edifício a deliberação,
segundo o artigo 1421º nº1 a) diz que a parede mestra é uma parte comum, e sendo uma parte
comum qualquer inovação em parte comum implica uma deliberação em Assembleia de
Condóminos tomada em maioria de 2/3 do valor total do prédio. Há que pensar também que na
hipótese apenas se diz que G, tomando conhecimento da deliberação, pretende opor-se, não se
falando da oposição de mais ninguém, o que significa que a maioria de 2/3 até tenham sido
obtida, não em reunião da assembleia, mas posteriormente por falta de oposição. Assim , em
bom rigor, se se tratar de uma parede mestra cuja demolição não afecta a segurança do edifício ,
caiando no regime do artigo 1425º, a deliberação por 2/3 do capital investido teria sido
tomada.
Há regras que prevêem uma certa maioria de condóminos presentes, por exemplo, o
artigo 1432º nº4, temos por isso de ter em atenção que dentro desta matéria há quóruns e
maiorias diferentes em função dos cenários que temos.
Estaremos, com a falta de 2/3, perante uma deliberação anulável? Esta assembleia não
foi convocada regularmente, por carta registada nem com a antecedência que a lei prevê e à
partida nem terá o condómino em questão legitimidade para convocar a assembleia, temos aqui
vários vícios, será anulável a deliberação? Sempre que estejamos perante vícios procedimentais
estamos perante casos em que a sanção é a anulabilidade. O 1422º nº1 a) e o 1425 nº1
justificaram a nulidade da deliberação, só justificaria a anulabilidade da deliberação a
violação do 1432º nº1. Evidente é depois que o vício mais gravoso consume o vício menos
gravoso.
Hipótese 31
O usufruto vem regulado nos artigos 1439º e seguintes, é um direito real autónomo,
que tem características próprias, sendo que elas se traduzem no facto de o usufruto ser o direito
de gozar temporária e plenamente uma coisa ou direito alheio, sem alterar a sua forma ou
substância. Pode ser constituído para pessoas colectivas ou singulares.
Aqui temos de olhar ao artigo 1444º que refere que o usufruto pode ser trespassado a
outrem. Quando o direito é alienado de modo definitivo pergunta-se o que sucede ao direito
quando o beneficiário que trespassou morre antes do prazo do em vida do trespassante.
Nestes casos temos três opiniões sobre o que sucede ao direito:
1) Regressão do direito e o direito regressaria a B. Esta é uma solução que não recolhe
apoio de ninguém, porque não faz sentido que o direito regresse à esfera do
trespassante (B); em rigor, não há nenhum fundamento legal nem contratual para
que isto aconteça, a não ser que isso tenha sido convencionado pelas partes.
Hipótese 32
“A e B são titulares de um direito de usufruto sobre uma vinha. Para regularem o exercício
dos seus direitos, combinaram entre si que A teria direito à produção da vinha nos anos
ímpares e B nos anos pares, suportando cada um no respectivo ano todas as inerentes
despesas. Em 1987, A exerceu o seu direito, conforme acordado. Em 1988, estando B
impedido de cultivar a vinha por motivo de doença, A tomou a seu cargo fazê-lo,
depositando o produto da venda das uvas, deduzidas as correspondentes despesas, na conta
bancária de B. No entanto, a partir de
Em Janeiro de 2010, A vende a vinha. O acto configuraria uma venda de bens alheios (art.
892º), sendo, por isso, um negócio jurídico nulo, porque A não tem qualquer legitimidade para
efetuar a venda. Mas poderíamos entender que este direito se tinha adquirido por usucapião.
Deste modo, a questão prende-se em saber se pode haver uma inversão do título da posse que
leve à aquisição do título da posse por usucapião.
Nos termos do art. 1406º/2, o usufrutuário é um mero detentor relativamente à
quota do outro e, por isso, é necessária uma inversão do título da posse. Mas, para haver
inversão do título da posse, é preciso haver uma comunicação da oposição, o que não
acontece.
Segundo o Professor Pires de Lima, Antunes Varela e Henrique Sousa Antunes, é preciso
haver uma comunicação expressa efectuada aos interessados. Aqui trata-se apenas de depositar
o produto da venda das uvas na conta bancária. Não há nenhuma comunicação feita ao B. Era
preciso que ele se opusesse ao proprietário. Não há nenhuma relação com o proprietário que nos
leve a dizer que tinha havido alguma aquisição por usucapião. Nota: esta acção de A de cultivar a
vinha e fazer seus os rendimentos está dentro do seu direito usufruto de A. Mas não em 1990
(ano par)! Há uma mera detenção de A. B continua a ser usufrutuário, pois está a exercer o seu
direito de usufruto por intermédio de A. No fundo, é uma posse por intermédio de outrem. Mas
ele não está a não usar. Ele está a usar, só não está é pessoalmente a fazê-lo, mas está a exercer o
direito de uso com uma posse por intermédio de outrem (A).
A questão está em saber se, porventura, não podemos utilizar este negócio, através do
regime da conversão, naquilo que é possível. O que é que ele pode vender? Ele pode vender a sua
quota de usufruto. A única coisa que pode fazer é a conversão do negócio de transmissão da
propriedade num trespasse do usufruto. Resta saber se ele pode trespassar plenamente o
usufruto ou só pode trespassar a sua quota de usufruto. Para trespassar plenamente o usufruto
era preciso chegar à conclusão de que ele adquiriu a plenitude do usufruto, e para isso: 1) ou
teria havido inversão do título da posse 2) ou teria havido extinção por não uso. O negócio
não pode ser convertido num negócio de transmissão do direito de usufruto pleno a C.
O Professor Henrique Antunes tem dificuldade em ver aqui um não uso. O Professor
questiona-se se o que não está aqui em causa é uma impossibilidade temporária de exercício.
O Professor considera importante a lei distinguir entre impossibilidade de exercício e não uso
nas servidões prediais. Podemos dizer que impossibilidade de exercício e não uso são a mesma
coisa, mas o Professor considera que não. A lei diz, aliás, que a impossibilidade de
exercício não importa a extinção enquanto não decorrer o prazo da alínea b), do nº1, do
art. 1569º. Ora, esta alínea fala do não uso. No fundo, a impossibilidade de exercício segue o
prazo do não uso. Portanto, esta distinção não parece ter relevância, mas para o Professor esta
distinção é muito importante.
Impossibilidade de exercício= situações em que o não uso ocorre por factos que são
alheios à vontade do titular
Não uso= situações em que o não uso que ocorre por factos que são, de alguma forma,
imputados à vontade do titular.
E, nesse caso, dado que não é um não uso, aplicam-se as regras da prescrição e não as
regras da caducidade. E as regras da prescrição determinam que, na verdade, possa haver
suspensão e interrupção, pelo que o prazo pode, porventura, ser mais lato do que o prazo
dos 20 anos.
Questão proposta para reflexão: Não causa estranheza dizer, por um lado, que não há
uma inversão do título da posse por não haver comunicação ao co-usufrutuário, e por outro lado,
admitir-se que haja uma extinção pelo não uso? Isto é, no fundo, estamos a dizer que não há uma
extinção por aquisição por usucapião em benefício do A, mas há uma extinção por não uso
de B, sendo que os factos são exactamente os mesmos: o não uso de B corresponde ao uso
de A. Não causa algum incómodo que, concluindo que não há inversão do título da posse,
portanto, não haverá possibilidade de adquirir por usucapião, fazer no fundo que se chegue à
mesma conclusão? A conclusão é de que, por não uso, extingue-se o direito de B. Esta quota que
B tem acresce ao direito de A por direito de acrescer (art. 1442º). Portanto: não há inversão do
título da posse (e, portanto, não adquire por direito de usucapião a quota de B). Para perceber
esta questão, vamos desenvolver o raciocínio que foi feito.
O que é que se extrai desta norma? Esta norma é pensada para que a relação não se
extinga com o proprietário do prédio serviente. Mas se aplicarmos a norma analogicamente, a
conclusão a que chegamos é que o usufruto não se irá extinguir na esfera do B porque A fez
uma utilização desse direito sempre em nome do usufruto conjunto (ele nunca foi
possuidor das duas quotas, foi apenas possuidor da sua quota), pelo que o Professor acha que
este artigo permite-nos dizer se o A usou, então não haverá extinção relativamente aos
demais usufrutuários (B). Esta norma não está pensada para esta situação, mas permite-nos
dar uma resposta adequada a este problema. Desta norma extrai-se a ideia de que, quando se
está numa contitularidade de direitos, tudo o que um faz aproveita aos outros, na relação com
terceiros, e não pode de deixarse de aproveitar na relação entre eles próprios.
O que a lei diz é que o que um comproprietário fizer, aproveita a todos. E, portanto, quem
fica onerado é o prédio serviente. O prédio serviente continua onerado, apesar de nem todos os
proprietários do prédio dominante terem agido. Quem fica prejudicado com o comportamento
exclusivo de um proprietário é o proprietário do prédio serviente. A servidão mantém-se em
benefício de quem também nada fez para a manter. Ora, se isto acontece, por maioria de razão,
não deverá o usufruto manter-se em benefício de quem nada pôde fazer, evitando o proveito de
quem tudo fez para que o usufruto se extinguisse? Isto é, não será, por maioria de razão, que a
norma, numa situação como estas, se deve aplicar, evitando o co-usufruto e o direito de acrescer
venham a beneficiar aquele que ocupou o espaço alheio, sem ter havido inversão do título da
posse? Esta questão não é uma resposta fechada. É uma questão aberta à discussão.
O que o Professor acha é que uma coisa não pode estar dissociada da outra. Se não
há inversão do título da posse, dificilmente haverá extinção por não uso e direito de
acrescer. Se se admitir que adquiriu a plenitude do usufruto, então pode vender a plenitude do
usufruto e, nessa medida, o negócio convertido já não seria nulo.
Também podemos encontrar outras normas e outros princípios (ex: princípio do abuso
de direito). Há vários caminhos:
Abuso de direito
Art. 1570º/3
Mas, para o Professor, a solução da extinção não é razoável. A conclusão final não
pode deixar de ser a manutenção do co-usufruto e, por isso, qualquer alienação que ele tentasse
fazer do usufruto na sua plenitude seria uma alienação nula por causa das regras da
compropriedade (art. 1404º, art. 1408º, remissão para a venda d coisa alheia).
Hipótese 33
A questão colocada remete para a matéria do usufruto, cujo regime se encontra nos
arts. 1439º e seguintes. De acordo com este preceito, o usufruto é o direito de gozar
temporária e plenamente uma coisa ou direito alheio, sem alterar a sua forma ou substância.
Concretamente, estamos perante um usufruto de coisas consumíveis, nos termos do art. 208º,
regulado no art. 1451º. Art. 208º: «São consumíveis as coisas cujo uso regular importa a sua
destruição ou a sua alienação.»
De acordo com o nº2 do art. 1451º, o usufruto de coisas consumíveis não implica a
transferência da propriedade, logo o risco está na esfera do proprietário, o que significa que
se a coisa perecer, o prejuízo resultante é assumido pelo proprietário. Posto isto, o
proprietário não poderá pedir a A o pagamento integral do valor entre eles convencionado,
tendo ele próprio de suportar esse custo.
Este regime interfere com a noção de usufruto. Por isso é que se qualifica o usufruto de
coisas consumíveis como um quase-usufruto. O usufruto exige que a forma da coisa seja
respeitada. Portanto, se a coisa consumível pode implicar a destruição da coisa, a forma não é
respeitada. Logo, isto interfere com a noção de usufruto.
Porque é que, ainda assim, o legislador o veio consagrar? Porque o regime que poderia
servir o mesmo propósito é um regime que não cumpria alguns requisitos que o legislador
considerou aplicáveis à matéria do usufruto. Que regime é esse? O regime do mútuo. Ex: Se A
empresta a B 5 mil euros, estas notas que deu no montante de 5 mil euros são coisas cuja
propriedade é transferida no acto da entrega. A consequência é a transferência da propriedade
das coisas mutuadas para o mutuário. E, por força do princípio do art. 796ºdo CC, acompanha
a transferência da propriedade/ do domínio sobre a coisa a transmissão do risco. Isto significa
que se as notas entregues a B perecerem no incêndio em casa de B, B vai continuar obrigado a
pagar os 5 mil euros, pois é, por força do regime do mútuo, proprietário dessas notas e, por isso
mesmo, assume o risco de perecimento dessas notas, pelo que continua obrigada a restituir o
montante de 5 mil euros.
Agora imaginemos que o usufrutuário tinha uma série de credores e não satisfez as suas
dívidas. O que é que os credores vão fazer? Os credores vão penhorar bens do usufrutuário. Ora,
o que é que não está lá? A propriedade da coisa. O que lá está é única e exclusivamente o
usufruto dessa coisa. O que significa que o proprietário da coisa não vai concorrer com os
demais credores relativamente ao valor da própria coisa, porque a propriedade continua a ser
sua.
Portanto, o legislador entendeu que há, desde logo, uma razão, para que a propriedade
fique na esfera do proprietário.
Além disso, é razoável entender-se que em compensação, dado que a propriedade permanece na
esfera do proprietário, o risco de perecimento das coisas corra por sua conta e não onerando a si
o usufrutuário. Ou seja, na prática, o que está a fazer é um juízo diferente daquele que faz no
mútuo (a ideia de que no mútuo há uma demissão do mutuante relativamente à coisa que foi
emprestada e, por isso, transferindo-se a propriedade, transfere-se o risco), pois no usufruto não
haverá uma demissão, não se desliga da coisa que é dada em usufruto, sendo que,
consequentemente, conserva a propriedade e conserva o risco da coisa que dá em usufruto.
Assim, o legislador previu um regime especial para o usufruto de coisas consumíveis, que
interfere com a noção de usufruto.
Hipótese 34
Neste caso, estamos no âmbito de um direito de uso, regulado nos arts. 1484º e
seguintes. Nos termos do nº1 do art. 1484º, o direito de uso consiste na faculdade de se servir
de certa coisa alheia e haver os respectivos frutos, na medida das necessidades, quer do titular
quer da sua família.
Ao contrário do que acontece com o direito de usufruto, o direito de uso não pode ser
trespassado, de acordo com o disposto no art. 1488º, os direitos de uso são intransmissíveis,
quer inter vivos quer mortis causa. Art. 1488:« O usuário e o morador usuário não podem
trespassar ou locar o seu direito, nem onerá-lo por qualquer modo»
Esta é uma norma imperativa, pelo que não pode ser derrogada por disposição diversa
de título constitutivo.
Assim sendo, B não poderia ter trespassado o seu direito a C, sendo esse negócio
nulo por violação de uma norma imperativa.
Hipótese 35
As cavalariças já existiam, pelo que estamos perante uma situação de uma alienação de
uma obra separadamente da propriedade do solo. É uma obra que é alienada separada do solo. É
um direito de superfície na modalidade da manutenção de obra já existente.
O direito de superfície pode ser perpétuo ou temporário. Neste caso, é um direito de
superfície temporário, pois a própria hipótese aponta para o prazo de 50 anos. O que queremos
saber é, havendo a não utilização durante 20 anos, ou seja, um período inferior ao prazo
de 50 anos, se isso implicará ou não a extinção. Portanto, o direito de superfície pode
extinguir-se pelo não uso?
Não está previsto no art. 1536º. À partida, a conclusão seria a de que não podia
extinguir-se pelo não uso.
Art. 298º/3: «Os direitos de propriedade, usufruto, uso e habitação, enfiteuse, superfície e
servidão não prescrevem, mas podem extinguir-se pelo não uso nos casos especialmente previstos
na lei, sendo aplicáveis nestes casos, na falta de disposição em contrário, as regras da caducidade».
Como já vimos, o Professor Henrique Sousa Antunes defende que é um direito real
menor, pois há várias normas que demonstram que este direito é tratado como um direito real
menor. Sabemos que não é um direito exclusivo porque pressupõe a propriedade e o solo na
esfera alheia. Eu só posso constituir um direito de superfície sobre propriedade alheia. E logo
isto faz-nos pensar que estamos fora da propriedade, que isto não é uma propriedade especial,
como é a propriedade horizontal (que é um direito pleno e exclusivo). O direito de superfície tem
de ter uma utilidade social presente e concreta, ao contrário do direito de propriedade.
É verdade que, num segundo momento, quando a obra já está construída, o superficiário
faz quilo que bem entender, podendo, inclusivamente, destruir. Mas, se ele destruir, pode
acontecer uma coisa. Se ele destruir, não se extingue o direito de superfície de imediato.
Artigo 1536º nº1 b): «Se, destruída a obra ou as árvores, o superficiário não reconstruir a
obra ou não renovar a plantação, dentro dos mesmos prazos a contar da destruição». Quais são os
prazos? Os prazos da alínea a). Art. 1536º/1, a): «Se o superficiário não concluir a obra ou não
fizer a plantação dentro do prazo fixado, ou na falta e fixação, dentro do prazo de dez anos».
Temos outro argumento que é o direito de preferência (art. 1535º). Os dois direitos
são transmissíveis. Quem tem o direito de preferência é o proprietário do solo (fundeiro). Se o
proprietário do solo o vender, o superficiário não pode preferir, pois não é tratado da mesma
forma que o proprietário do solo.
A superfície não é mais do que uma oneração da propriedade. É um direito real menor. É
uma oneração da propriedade. É um típico específico, não é uma propriedade especial (como na
propriedade horizontal).
Porque é que isto é relevante a respeito do não uso? Por causa do princípio da
tipicidade. O artigo 1306º está configurado para protecção da propriedade. Não se pode
restringir a propriedade se não nos casos previstos na lei. Logo, não se pode aplicar
analogicamente a extinção por não uso da propriedade. E aí sim, o art. 298º/3, quando prevê
uma norma especialmente indicada para a extinção por não uso da propriedade, está apenas a
duplicar o que diz o art. 1306º do CC, por força do princípio da tipicidade.
O mesmo vale para os direitos reais menores? Não. Porque se eu extinguir um direito
real menor não se está a ofender o princípio da tipicidade. Logo, a exigência de uma norma
especial, relativamente aos direitos reias menores, não tem razão de ser da exigência de uma
norma especial para o direito de propriedade. Para os direitos reais menores, essa norma
especial tem de ter outro fundamento. Porque é que o art. 298º/3 prevê essa norma especial? É
preciso definir qual é o prazo. Não há nenhuma norma que diz qual é o prazo para a extinção
pelo não uso do direito de superfície. Ora, a analogia é possível quanto aos direitos reais
menores. Podemos aplicar analogicamente o prazo dos 20 anos para a extinção dos direitos
reais menores (que existe para o usufruto, para a servidão…).
Aplica-se sempre o mesmo prazo de 20 anos para os restantes direitos reais menores,
logo, não há razão para tratar de forma diferente o direito de superfície. Considerando
que é uma causa geral de extinção de direitos reais, o princípio da tipicidade não veda a
aplicação do não uso ao direito de superfície, não sendo também necessária a aplicação do
regime quanto ao prazo, uma vez que este é sempre de 20 anos para todos os direitos reais
menores. Assim sendo, o direito extinguia-se pelo não uso.
Hipótese 36
“A, que padecia de graves problemas de coluna, a conselho do médico propôs ao seu vizinho
B que este o deixasse nadar todos os dias na sua piscina, mediante o pagamento de 5.000
euros. Para o efeito, A celebrou, por documento particular autenticado, um acordo com B.
Passados seis meses, este último decide doar a moradia ao seu afilhado C que pretende
impedir A de utilizar a piscina. Quid iuris?”
Se as partes pretenderam constituir uma servidão pessoal com carácter real, isso é nulo
por força do princípio da tipicidade sendo que o artigo 1306º opera uma conversão legal para
uma figura de natureza obrigacional. O que significa que, respondendo a pergunta, quando se diz
que o B de decide doar a sua moradia a C, que pretende impedir A de utilizar a piscina o C tem
toda a legitimidade de impedir A de utilizar a piscina porque o direito de A é de natureza
relativa. Embora que, ao ver do professor Henrique Sousa Antunes, os direitos pessoais de gozo
são direitos de natureza absoluta. Mas olhando apenas para a divisão clássica, se é uma servidão
pessoal direito de natureza obrigacional é um direito com eficácia relativa, e C não está
vinculado por esse direito e pode impedir A de utilizar a piscina. O professor acha que ao
olharmos para esta hipótese, a primeira coisa que temos de dizer é que não sabemos qual a
natureza do direito que foi constituído pelas partes. Porque as partes podem constituir direitos
pessoais de gozo para lá do que a lei descreve, ao abrigo do princípio da liberdade contratual.
Nós não sabemos se este acordo não foi no sentido de criar uma servidão pessoal no sentido de
ter natureza obrigacional. Para podermos dizer que há uma conversão, tínhamos de chegar à
conclusão que o que eles pretendiam era um direito de natureza real.
Tínhamos de dizer que este direito é um direito que vincula terceiros o é um direito real,
ou oponível erga omnes - permitissem ao intérprete concluir que o qua as partes pretendiam era
um direito de natureza real. Na hipótese, há um elemento que leva a este raciocínio de um
direito real. Qual é o elemento da hipótese? A formalidade, documento particular autenticado.
Este é a forma que é exigida para ser constituído um direito real. Para apenas a natureza
obrigacional, não é exigível essa formalidade. As partes na verdade criaram um direito de
natureza real.
Índice
Introdução.............................................................................................................................................................................1
Noção de Direito Real ..................................................................................................................................................1
Teoria Clássica ...........................................................................................................................................................1
Teoria Moderna.........................................................................................................................................................2
Teoria Mista ................................................................................................................................................................2
Categorização de Direitos Reais ..............................................................................................................................3
Generalidades ............................................................................................................................................................4
Direito Real e Direito de Crédito .............................................................................................................................6
Teoria Realista de Gaudemet...............................................................................................................................7
Teoria Pessoalista de Demogue ..........................................................................................................................8
Pretensões Reais .................................................................................................................................................... 11
Características dos Direitos Reais ....................................................................................................................... 11
Características Tendenciais .............................................................................................................................. 11
Características Essenciais dos Direitos Reais ............................................................................................ 12
O Registo ............................................................................................................................................................................. 18
Efeitos da Publicidade .............................................................................................................................................. 18
Efeito Constitutivo ................................................................................................................................................ 18
Efeito Enunciativo ................................................................................................................................................. 19
Efeito Consolidativo ............................................................................................................................................. 19
Efeito Aquisitivo..................................................................................................................................................... 20
Artigo 5º do Código do Registo Predial............................................................................................................. 20
Concepção Ampla e Restrita de Terceiro..................................................................................................... 21
Terceiro de Boa Fé e adquirente a Título oneroso .................................................................................. 24
Os artigos 17º nº2 do CRP e 291º do Código Civil ........................................................................................ 25
A posição do titular do direito perante o efeito aquisitivo do registo.................................................. 29
Tipicidade........................................................................................................................................................................... 31
Figura Parcelar ............................................................................................................................................................ 31
Alcance............................................................................................................................................................................ 32
Numerus Clausus .................................................................................................................................................... 33
Deveres ...................................................................................................................................................................... 37
Analogia ..................................................................................................................................................................... 38
Em suma .................................................................................................................................................................... 39
Ensaio de uma Parte Geral dos Direitos Reais .................................................................................................... 40
Limitações ..................................................................................................................................................................... 40
Limitações Intrínsecas ........................................................................................................................................ 41
Limitações Extrínsecas........................................................................................................................................ 47
As Vicissitudes dos Direitos Reais ....................................................................................................................... 54
Constituição ............................................................................................................................................................. 55
Constituição: Factos Específicos do Direito de Propriedade ............................................................... 60
Modificação .............................................................................................................................................................. 67
Transmissão ............................................................................................................................................................ 68
Defesa ......................................................................................................................................................................... 68
Extinção dos Direitos Reais ............................................................................................................................... 68
O Não Uso.................................................................................................................................................................. 75
Desnecessidade ...................................................................................................................................................... 76
A Posse................................................................................................................................................................................. 78
Concepção de Posse .................................................................................................................................................. 79
No ordenamento português .............................................................................................................................. 80
Classificações da Posse ............................................................................................................................................ 83
Classificações Doutrinais.................................................................................................................................... 84
Classificações Legais ............................................................................................................................................ 84
Consequências das Classificações Possessórias no Contexto dos Efeitos da Posse ........................ 85
Uso ............................................................................................................................................................................... 85
Frutos ......................................................................................................................................................................... 86
Benfeitorias.............................................................................................................................................................. 86
Meios de Defesa Possessórios .......................................................................................................................... 87
Usucapião.................................................................................................................................................................. 89
Vicissitudes ................................................................................................................................................................... 90
Aquisição Originária............................................................................................................................................. 90
Aquisição Derivada ............................................................................................................................................... 93
A Perda....................................................................................................................................................................... 94
Propriedade Horizontal................................................................................................................................................ 95
Especificidades na Compropriedade.................................................................................................................. 96
Partes Comuns ........................................................................................................................................................ 98
Especificidades para propriedade singular ..................................................................................................... 99
Vicissitudes ................................................................................................................................................................ 100
Constituição .......................................................................................................................................................... 100
Modificação ........................................................................................................................................................... 102
Administração...................................................................................................................................................... 103
Usufruto ........................................................................................................................................................................... 105
Direitos de Uso e da Habitação ............................................................................................................................... 110
Traços que distinguem os direitos de uso e de habitação dos direitos de usufruto.................... 110
Direito de Superfície ................................................................................................................................................... 112
Questão do Objecto do Direito de Superfície ............................................................................................... 112
Obrigações das Partes ........................................................................................................................................... 115
Vicissitudes do Direito de Superfície ............................................................................................................. 115
Servidões Predias......................................................................................................................................................... 117
Traços essenciais deste tipo ............................................................................................................................... 117
Conteúdo das servidões........................................................................................................................................ 119
Classificações das servidões ............................................................................................................................... 120
Servidões voluntárias vs Servidões Legais .............................................................................................. 120
Servidões prediais aparentes e não aparentes....................................................................................... 121
Servidões ativas e passivas............................................................................................................................. 121
Servidões positivas, negativas e desvinculativas .................................................................................. 122
Servidões continuas e Servidões descontinuas ..................................................................................... 122
Vicissitudes das Servidões Prediais................................................................................................................. 122
Hipóteses Práticas ....................................................................................................................................................... 124
Hipótese I.................................................................................................................................................................... 124
Hipótese 2................................................................................................................................................................... 124
Hipótese 3................................................................................................................................................................... 128
Hipótese 4................................................................................................................................................................... 129
Hipótese 41 ................................................................................................................................................................ 131
Hipótese 44 ................................................................................................................................................................ 132
Hipótese 5................................................................................................................................................................... 135
Hipótese 6................................................................................................................................................................... 137
Hipótese 7................................................................................................................................................................... 139
Hipótese 8................................................................................................................................................................... 140
Hipótese 9................................................................................................................................................................... 142
Hipótese 10 ................................................................................................................................................................ 143
Hipótese 11 ................................................................................................................................................................ 145
Hipótese 12 ................................................................................................................................................................ 146
Hipótese 13 ................................................................................................................................................................ 148
Hipótese 14 ................................................................................................................................................................ 148
Hipótese 15 ................................................................................................................................................................ 151
Hipótese 16 ................................................................................................................................................................ 152
Hipótese 17 ................................................................................................................................................................ 154
Hipótese 18 ................................................................................................................................................................ 155
Hipótese 19 ............................................................................................................................................................... 158
Hipótese 45 ................................................................................................................................................................ 160
Correção do teste de 2017, por Henrique Antunes. .................................................................................. 162
Hipótese 20 ................................................................................................................................................................ 164
Hipótese 21 ................................................................................................................................................................ 166
Hipótese 23 ................................................................................................................................................................ 168
Hipótese 24 ................................................................................................................................................................ 172
Hipótese 25 ................................................................................................................................................................ 173
Hipótese 26 ................................................................................................................................................................ 175
Hipótese 27 ................................................................................................................................................................ 176
Hipótese 28 ................................................................................................................................................................ 179
Hipótese 29 ................................................................................................................................................................ 183
Hipótese 30 ................................................................................................................................................................ 184
Hipótese 31 ................................................................................................................................................................ 185
Hipótese 32 ................................................................................................................................................................ 186
Hipótese 33 ................................................................................................................................................................ 190
Hipótese 34 ................................................................................................................................................................ 192
Hipótese 35 ................................................................................................................................................................ 192
Hipótese 36 ................................................................................................................................................................ 194