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Curso Sobre o Novo


Código do Procedimento
Administrativo
José Fontes
2015 - 5? Edi çã o revista e atualizada

m
ALMEDINA
CURSO SOBRE
ONOVO
CÓDIGO DO PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO
CURSO SOBRE
orno
CÓDIGO DO PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO
2015 • 53 Ediçã o revista e atualizada

Jos é Fontes
Agregado e Doutor em Ci ências Políticas
Mestre em Ci ências Jur ídico-Políticas
Professor da Universidade Aberta e da Academia Militar
Investigador cient ífico do CAPP/ ISCSP/Universidade de Lisboa,
do CEDIS/ FD/Universidade Nova de Lisboa e do CINAMIL

m
ALMEDINA
CURSO SOBRE
O NOVO Ao Professor Doutor Paulo Otero, a quem
CÓ DIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO continuo a dedicar este livro, (grato) pelo
AUTOR
muito que me ensinou e continua a ensinar
José Fontes
EDITOR e
EDI ÇÕ ES ALMEDINA, S. A. porque a exigência do seu magistério continua
Rua Fernandes Tomás, n°s 76-80 a ser, para mim, exemplar.
3000 -167 Coimbra
TeL: 239 851 904 • Fax 239 851 901
www.almedina.net - editora@almedina.net
DESIGN DE CAPA
FBA.
PR É - IMPRESS Ã O
EDI ÇÕ ES ALMEDINA, SA
IMPRESS Ã O E ACABAMENTO

Setembro, 2015
DEP Ó SITO LEGAL
398264/15

Apesar do cuidado e rigor colocados na elaboração da presente obra, devem


os diplomas legais dela constantes ser sempre objeto de confirmação com as
publicações oficiais.
Toda a reprodução desta obra, por fotocópia ou outro qualquer processo,
sem pr évia autorização escrita do Editor, é ilícita e passível de procedimento
judicial contra o infrator.

mA LMEDINA
GRUPOALMEDINA

BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL - CATALOGAÇÃO NA PUBLICA ÇÃ O

FONTES, José, 1970-


s
Curso sobre o novo código do procedimento administrativo. - 5 ed. rev. e
Atualiz. - (Manuais universit á rios)
ISBN 978-972-40-6151-1
CDU 342
NOTA DO AUTOR

Publica-se agora a 5* edição, revista e atualizada, do Curso Sobre o Novo


C ódigo do Procedimento Administrativo, que começou por ser um Curso
Breve e que cada vez mais se vai aproximando de um Tratado de Direito
e de Procedimento Administrativos, organizado em torno da relação
jurídico-procedimental administrativa e no qual se tenta abordar as dife ¬

rentes temáticas da organização e da atividade administrativas, bem como


a das garantias dos particulares.
Após mais de 20 anos de vigência do Código do Procedimento Admi ¬

nistrativo de 1991, o Governo aprovou, por via de autorização legislativa,


um novo Código com novos institutos, mantendo embora muito do enqua ¬

dramento jurídico que vigorou até à data da entrada em vigor deste novo
diploma.
Na presente edição, mantivemos a estrutura do Curso, por palestras,
já anteriormente adaptada às regras e às exigências do ensino a distâ ncia
( e-leaming ) (que cada vez mais são úteis aos estudantes de ensino presencial),
levando em linha de conta a estrutura do diploma legal agora aprovado.
A linguagem utilizada, simples e descritiva, organizada esquematica ¬
mente, possibilita que este livro seja destinado a todos os que têm neces¬
sidade de trabalhar sob as regras do procedimento administrativo e não
apenas a juristas ou a estudantes de cursos de Direito. Por isso mesmo, a
leitura deste Curso deve fazer-se em estrita ligação com os próprios textos
do agora novo Código do Procedimento Administrativo e, também, da Carta
Ética da Administração Pública. Continua, assim, a existir, deliberadamente,
uma complementaridade nos textos em presença.
Este trabalho pretende contribuir para o estudo e para uma melhor
compreensão do novo Código do Procedimento Administrativo, bem
CURSO SOBRE O NOVO C Ó DIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

como para a divulgação c o conhecimento da Carta É tica da Adminis¬


tra ção Pública. Por outro lado, importa assinalar que não se esgotou a
bibliografia disponível nem a jurisprudê ncia, já rica, dos nossos tribunais
administrativos, a qual foi resultando, designadamente, da aplicação - em
concreto - do anterior Código.
Agradeço ao mestre TIAGO MARTINS a permanente disponibilidade, as
sugestões e a leitura atenta e crítica do texto desta edição. A sua ajuda foi
absolutamente inestimável.
Por fim, expresso o meu maior desejo: que esta nova edição seja útil aos
Estudantes e a todos os Leitores interessados na importante temática do
procedimento administrativo, na certeza de que se trata de um diploma PREFÁ CIO À 1 ? EDI ÇÃ O ( 2000)
que, entrando agora em vigor, obriga a um acompanhamento permanente
para melhor se perceber o modo e a forma como será operacionalizado. Conheci o Autor na última década do século passado (XX), quando cola ¬

Qualquer sugestão ou crítica poderá ser enviada para o seguinte ende¬ borá mos durante alguns anos na lecionação da disciplina de Direito
reço eletrónico: jfontes@ uab.pt Administrativo I do Curso de Licenciatura em Direito da Universidade
Internacional, e cedo me apercebi das suas qualidades humanas: a capa ¬
Lisboa, julho de 2015. cidade intelectual, a dedicação ao estudo, o rigor científico, o nível de
exigência e a disponibilidade para o diálogo.
JOSé FONTES Tais qualidades eram e são um sinal para uma promissora carreira uni ¬
versit ária, que eu próprio sempre incentivei, e o primeiro andamento foi já
preenchido com a obtenção do grau de Mestre em Ciências Jurídico-Políticas
pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, com a apresentação
de uma tese sobre o controlo parlamentar da Administração Pública.
Mas reconheci também logo no Autor uma outra qualidade: a de estar
disponível, como autor ou como coautor, a revelar ao público o produto
dos seus estudos e das suas reflexões, não escondendo para si próprio esse
produto.
É o que uma vez mais mostra com a presente obra sobre o procedi ¬

mento administrativo, que o legislador em boa hora codificou em 1991,


complementando-a com os atos legislativos próprios.
Sendo hoje quotidianas as situações de confronto da Administração Pú ¬

blica, lato sensu , com os particulares, quando ela é agressiva, ou as situações


de cooperação ou colaboração da mesma Administração Pública com os
particulares, quando ela é providencial, só com regras de jogo conhecidas
pelas partes é que tais situações podem existir ou coexistir saudavelmente.
Foram essas regras, pelo menos, as mínimas, que o legislador felizmente
condensou no Código do Procedimento Administrativo, ficando agora os
CURSO SOBRE O NOVO CÓDIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIV
O

órgãos da Administração Pública e os particulares a saber como tratar


as
relações jurídico-administrativas entre si estabelecidas (o nascimento
,a
vida e a morte dessas relações) e ficando também os particulares conhecer
a
as armas de defesa dos seus direitos ou interesses legalmente protegidos¬
.
Com o presente Curso Breve - que de breve nada tem o Autor , as
sumindo um projeto inovador, percorre todo o Código do Procedimento
Administrativo, analisando-o em toda a sua extensão, no plano dogmático
,
e no plano prático jurídico, indo ao ponto de fornecer exemplos práticos
-
e colhendo os frutos de uma leitura atenta e crítica das suas disposi çõ es ,
em vigor há quase dez anos.
O leitor da obra perde facilmente a sensação de secura que subjaz à PLANO DO CURSO SOBRE O NOVO
consulta de um qualquer Código e é atraído pelo interesse nas matérias
, CóDIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
todas elas, que são versadas na obra, dadas a forma e a linguagem - claras ,
simples e acessíveis - utilizadas pelo Autor. .
1 Palestra introdut ória
-
A mensagem da obra - tratar se de um elemento indispensável de 1.1. Introdução à temática
consulta para um largo universo, o de todos os intervenientes nas relações .
1.2 O novo Código do Procedimento Administrativo
matérias de
jurídico administrativas e o de todos os estudiosos destas
- 1.2.1. Enquadramento geral
Direito P úblico - é plenamente conseguida pelo Autor e este é o
melhor .
1.2.2 Estrutura do novo Código do Procedimento Administrativo
elogio que se lhe pode fazer. 1.2.3. Algumas inovações
Daqui a um Manual de Direito Administrativo vai um passo e um 1.2.4. O que vigora, diplomas próprios e diplomas cuja aprovação se
passo que JOSé FONTES, no futuro, com facilidade poderá dar: este é o aguarda
meu augúrio. 1.2.5. Eventuais erros de sistematização, inexatidões e redundâncias
1.2.6. Disposições preliminares
Lisboa, dezembro de 2000 1.3. Códigos de Conduta e a Carta Ética - Dez Princípios Éticos da
Administração Pública
GUILHERME DA FONSECA
ça
Juiz Conselheiro do Tribunal Constitucional e do Supremo Tribunal de Justi 2. Palestra sobre princí pios gerais da atividade administrativa
2.1. Enquadramento geral
2.2. O princípio da legalidade
2.3. O princípio da prossecução do interesse público e da prote ção dos
direitos e interesses dos cidadãos
2.3.1. A prossecuçã o do interesse público
2.3.2. A proteção dos direitos e interesses dos cidadãos
2.4. O princípio da boa administra çã o
2.5. O princípio da igualdade
2.6. O princípio da proporcionalidade
2.7. Os princípios da justiça e da razoabilidade
CURSO SOBRE O NOVO C Ó DIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO PLANO DO CURSO SOBRE O NOVO C Ó DIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

2.8. O princípio da imparcialidade 4.2.2. Procedimento privativo do ato administrativo


2.8.1. As garantias procedimentais de imparcialidade 4.2.2.1. Da iniciativa particular
2.9. O princípio da boa-fé 4.2.2.2. Das notifica ções
2.10. O princípio da colaboração (da Administração Pública) com os par¬ 4.2.2.3. Da instrução
ticulares 4.2.2.4. Da audiência dos interessados
2.11. O princípio da participação 4.2.2.5. Da decisão e outras causas de extinção do procedimento
2.12. O princípio da decisão 4.2.2.6. Comunicações prévias
2.12.1. O ato tácito
2.13. Os princípios aplicáveis à administração eletrónica 5. Palestra sobre atividade administrativa
2.14. O princípio da gratuitidade 5.1. Do regulamento administrativo: disposições gerais
2.15. O princípio da responsabilidade 5.1.1. Da eficácia do regulamento administrativo
2.16. O princípio da administração aberta 5.1.2. Da invalidade do regulamento administrativo
2.17. O princípio da proteção dos dados pessoais 5.1.3. Da caducidade e da revogação do regulamento administrativo
2.18. O princípio da cooperação leal com a União Europeia 5.1.4. Da impugnação de regulamentos administrativos
5.2. Do ato administrativo
3. Palestra sobre os órgãos da Administração Pública 5.2.1. Enquadramento e disposições gerais
3.1. Dos órgãos administrativos: natureza e regime 5.2.1.1. Tipologia dos atos administrativos
3.1.1. Dos órgãos colegiais 5.2.1.2. Classificação dos atos administrativos
3.1.2. Da competência 5.2.2. Da eficácia do ato administrativo
3.1.3. Das suplê ncia e substituição 5.2.3. Da invalidade do ato administrativo
3.1.4. Da delegação de poderes 5.2.4. Da revogação e da anulação administrativas
3.1.5. Dos conflitos de atribuições e de competências 5.2.4.1. Das alteração, substituição e retificação dos atos admi ¬
nistrativos
4. Palestra sobre procedimento administrativo 5.2.5. Da execução do ato administrativo
4.1. Regime comum: disposições gerais 5.3. Dos contratos da Administração Pública
4.1.1. Dos acordos endoprocedimentais
4.1.2. Da relação jurídica procedimental 6 . Palestra sobre garantias administrativas
4.1.2.1. Dos sujeitos do procedimento 6.1. Enquadramento geral
4.1.2.2. Dos interessados no procedimento 6.2. As garantias administrativas impugnatórias: regime geral
4.1.3. Da conferê ncia procedimental 6.2.1. Da reclamação
4.1.4. Do direito à informação 6.2.2. Dos recursos administrativos
4.1.5. Dos prazos 6.2.2.1. Do recurso hierá rquico
4.1.6. Das medidas provisórias 6.2.2.2. Dos recursos administrativos especiais
4.1.7. Dos pareceres
4.1.8. Da extinção do procedimento
4.2. Procedimentos do regulamento e do ato administrativos
4.2.1. Procedimento privativo do regulamento administrativo
1. Palestra introdutó ria

SUMáRIO:
Introdução à temática. O novo Código do Procedimento Administrativo. Enqua ¬
dramento geral. Estrutura do novo Código do Procedimento Administrativo.
Algumas inovações. O que vigora, diplomas próprios e diplomas cuja aprovação
se aguarda. Eventuais erros de sistematização, inexatidões e redundâncias. Dispo¬
sições preliminares. Códigos de Conduta e a Carta Ética - Dez Princípios Éticos
da Administração Pública. Recomendaçã o. Exercício formativo.

1.1. Introdução à temática1


A satisfação das necessidades coletivas representa, desde sempre , uma
das principais razões da existência de Administrações Públicas . Na sua

1
Como obras e artigos importantes de Direito Administrativo vide entre muitos outros: Mar¬
cello Caetano, Manual de Direito Administrativo, Volume 1, 10s Ediçã o (reimpressã o), revista e
atualizada pelo Prof. Doutor Diogo Freitas do Amaral, Livraria Almedina, Coimbra, 1980;
Diogo Freitas do Amaral, Curso de Direito Administrativo, Volume I, 28 Edi ção, Livraria Alme ¬
dina, Coimbra, 1994; Guilherme Frederico Dias Pereira da Fonseca, Direito Administrativo
(Sumários Desenvolvidos), segundo as aulas dadas na Universidade Internacional de Lisboa,
Departamento de Direito, ao 3Q Ano pós laborai, no ano letivo de 1991/92, Associação Acadé¬
mica da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, 1992; Marcello Caetano, Princípios
Fundamentais do Direito Administrativo, reimpressão da ediçã o brasileira de 1977, T reimpressão
portuguesa, Livraria Almedina, Coimbra, 1996; Guilherme Frederico Dias Pereira da Fon ¬
seca, A Constituição e a Defesa dos Administrados, Temas da Constituição, 7, DIABRIL, 1- Edição,
Lisboa, março, 1977; Guilherme Frederico Dias Pereira da Fonseca, Direito Administrativo -
A Administração Pública , Tem ática I, Textos de Apoio, E. I. - Editora Internacional, Lisboa,
CURSO SOBRE O NOVO C Ó DIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO PALESTRA INTRODUT Ó RIA

essência , administrar a res publica compreende, entre outros aspetos, o Disposição de conte údo normativo similar consta hoje do disposto no
reconhecimento e o diagnóstico destas necessidades públicas, a captação artigo 267®, ne 5, da versão atual da nossa Lei Fundamental4.
e a afetação dos recursos necessários à sua satisfação e as definição e hie¬ O Decreto-Lei ns 442/91, de 15 de novembro, veio dar cumprimento
rarquização de prioridades, no caso de inexistência de recursos suficientes, a esta exigência constitucional, tendo sido através dele que o Governo
em estreita ligação com os órgãos do poder político. aprovou, pela primeira vez, um Código do Procedimento Administrativo
A prossecução da atividade da Administração Pública encontra-se, em (CPA ou adiante também designado por Código). Isto significa que, até à
grande medida, subordinada ao Direito Administrativo que, sendo um entrada em vigor deste diploma legal, existiu uma inconstitucionalidade
ramo do Direito Público, integra um conjunto diversificado de normas que por omissão5 nunca verificada pelo nosso Tribunal Constitucional.
regulam, entre outros aspetos, a organização, o funcionamento e a atividade São várias as contribuições do Direito Comparado para o primeiro
das várias estruturas públicas administrativas e das que, não fazendo parte Código a que, aliás, o preâmbulo daquele Decreto-Lei faz referência.
da Administração Pública e no que à sua ação diga respeito, nos termos Por imposição do disposto no artigo 3Q do Decreto-Lei que aprovou o
legais, atuem ao abrigo de poderes jurídico-administrativos. Nos nossos primeiro CPA, o mesmo veio a ser revisto, mais tarde, pelo Decreto-Lei
dias, regula ainda as relações que se estabelecem com os particulares, na ne 6/96, de 31 de janeiro. O referido artigo 3Q determinava uma revisão
sua qualidade de administrados. ordinária, passados três anos da data da entrada em vigor do Código, com
A Constituição da República Portuguesa de 1976 (CRP) previa2, no vista a serem recolhidos os elementos úteis resultantes da sua aplicação.
seu artigo 2682, nQ 3, que As alterações então aprovadas, embora de pormenor, são bastante impor¬
tantes, conforme pode ser verificado pelo texto do próprio preâmbulo e
“ (...) o processamento da atividade administrativa será objeto de lei pelo disposto no artigo Is daquele Decreto-Lei.
especiaP. que assegurará a racionalização dos meios a utilizar pelos serviços e O CPA de 1991 veio, ainda, a sofrer algumas alterações, em virtude de
a participação dos cidadãos na formação das decisões ou deliberações que lhes legislação entretanto aprovada e que entrou em vigor no âmbito da re¬
disserem respeito!’ forma da Administração Pública portuguesa, mas a última grande alteração
surgiu atento o disposto na alínea c ) do n® 1 do artigo 14® do Decreto-Lei
n® 18/2008, de 29 de janeiro, que aprovou o Código dos Contratos Públicos
(CCP), e que estabeleceu a disciplina aplicável à contratação pública, bem
1996; Jorge Miranda, A Administração Pública nas Constituições Portuguesas, O Direito, Ano 1209, como o regime substantivo dos contratos públicos que revistam a natureza
1988, III e IV ( julho dezembro), Factos e Documentos, págs. 607 a 617; Paulo Otero, Conceito de contrato administrativo. Com base nesta disposição normativa, veio a ser
e Fundamento da Hierarquia Administrativa , Coimbra Editora, 1992; Paulo Otero, O Poder de
Substituição em Direito Administrativo - Enquadramento Dogmático Constitucional, Volumes I e II,
revogado todo o Capítulo III da Parte IV do CPA de 1991, que continha o
Lex, Lisboa, 1995; Afonso Rodrigues Queiró, Lições de Direito Administrativo,Volume I, Coim ¬ regime jurídico geral sobre o contrato administrativo. Desta forma, o CPA
bra, 1976; Rogério Ehrhart Soares, Direito Administrativo, Lições ao Curso Complementar de ficou privado de uma parte substancial do regime jurídico que regulava
Ciê ncias Jurídico-Pol íticas da Faculdade de Direito de Coimbra no ano letivo de 1977/78, uma das mais importantes formas de atividade jurídica da Administração
Coimbra, 1978; Marcelo Rebelo de Sousa, Administração Pública e Direito Administrativo em Por¬ Pública, a par dos ato e regulamento administrativos, restando assim muito
tugal, Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, Lisboa, 1992; Marcelo Rebelo
de Sousa, Lições de Direito Administrativo, Volume I, Pedro Ferreira - Editor, Lisboa, 1995; José
poucas disposições normativas, previstas no CPA, que se aplicassem aos
Tavares, Administração Pública e Direito Administrativo - Para o seu estudo e compreensão, Livra¬ contratos administrativos.
ria Almedina, Coimbra, 1992; Fernando Brand ão Ferreira-Pinto, Código do Procedimento
Administrativo Anotado, 2 edição, Digital JurisBook, Lisboa, março, 2012; e Mário Aroso de
l 4
Versão da quarta revisã o constitucional de 1997, sem alterações nas posteriores revisões
Almeida, Teoria Geral do Direito Administrativo, 2- edição, Almedina, Coimbra, 2015. constitucionais de 2001, 2004 e 2005.
2
Na versão da segunda revisão constitucional de 1989. s A propósito da fiscaliza o da inconstitucionalidade por omissão, vide o disposto no artigo
çã
3
Sublinhado nosso. 283- da CRP.
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Com a Lei n2 42/2014, de 11 de julho ( vide Anexos), veio a Assembleia as Administrações Públicas e os particulares (administrados). Promoveu
da República, nos termos do disposto no artigo 1612, alínea d) , da CRP, ou determinou a alteração de normas e de padrões de referência que vin ¬

autorizar o Governo a aprovar um novo CPA. Esta Lei, no seu artigo l2, culam os cidadãos e as Administrações Públicas, regulando e definindo
concede autorização legislativa ao Governo para aprovar o novo diploma, as suas condutas, prevendo direitos, garantias e obrigações para ambas as
estabelecendo os limites e as condições para a referida aprovação. partes. Mostrou uma Administração Pública cada vez mais virada para os
É nesta sequê ncia que é aprovado pelo Governo o Decreto-Lei cidadãos, preocupada com a transparência e colocando os particulares no
n 4/2015, de 7 de janeiro, o qual, nos termos do disposto no seu artigo
2
centro do processo de tomada de decisão.
l 2, aprova o novo Código e, por consequê ncia do estipulado no seu artigo O Preâmbulo do Decreto-Lei ns 442/91, de 15 de novembro, que agora
7 - , revoga totalmente o anterior CPA e o Decreto-Lei que inicialmente cessou a sua vigência, estabeleceu os objetivos que visavam alcançar, de
o aprovou, bem como o que ordinariamente o reviu, em 1996. Trata-se, forma genérica, os códigos dos procedimentos administrativos (e o nosso
como verificamos, de um decreto-lei autorizado que deve, por isso, obe¬ CPA, em particular) e que, sendo designadamente os seguintes, são ainda
diência à respetiva lei autorizante. E é este CPA, apresentado como novo, de grande atualidade:
que importa agora analisar e estudar.
É, pois, objetivo geral deste Curso dotar todos os interessados de conhe¬ - Disciplinar e regular a atividade e o funcionamento da Administração
cimentos que contribuam para um saber mais aprofundado sobre o novo Pública, procurando racionalizar a atividade dos diferentes órgãos e
CPA e o procedimento administrativo em particular e que permitam a serviços que desenvolvem a função administrativa do Estado;
adoção de condutas pautadas pela legalidade estipulada no novo Código, - Regular a formação da vontade da Administração Pública por forma
que os vincula, ou pode vincular, direta e imediatamente. a que sejam tomadas decisões justas, legais e oportunas;
Desta forma, fomenta-se a correta preparação a priori do processo - Assegurar a informação dos interessados e a sua participação na for¬
decisório ou deliberativo, bem como a posteriori do processo de execução, mação das diferentes decisões que lhes digam diretamente respeito;
daqui podendo advir muitos benef ícios para as Administrações Públicas - Salvaguardar em geral a transparência da ação administrativa e o
e, nomeadamente, para os particulares interessados (administrados). respeito pelos interesses e direitos dos cidadãos; e
Procura-se, assim, aproveitar esta oportunidade para proporcionar a - Evitar a burocratização e aproximar os serviços públicos dos cidadãos.
todos os que neles têm interesse, numa linguagem acessível e tenden -
cialmente simplificada, conhecimentos relativos ao regime jur ídico geral Em síntese, podemos afirmar que eram, e continuam a ser, objetivos
do procedimento administrativo portugu ês e tamb é m, por ser relevante, gerais dos códigos dos procedimentos administrativos promover e imple¬
sobre um dos principais códigos de ética - a Carta Ética da Administração mentar uma cultura jurídica nos diferentes tipos de Administração Pública
Pública - que se aplica à generalidade das diversas estruturas da Adminis¬ que visa obter e garantir que sejam tomadas decisões legais, em tempo
tração Pública, e de que é um dos melhores e paradigmáticos exemplos. oportuno, observados todos os princípios constitucional e legalmente
Daí a importância deste Curso, no quadro da legislação reguladora do previstos com base na transparência e, sobretudo, evitando a burocrati¬
Direito Público em geral e do Direito Administrativo em particular, de zação administrativa, que tem e aporta, como sabemos, pesados custos de
modo a que todos esses conhecimentos possam tomar-se num instrumento contexto à economia nacional. Ou seja, visa-se uniformizar condutas, para
de trabalho útil e eficaz. que os cidadãos possam antecipar as ações das Administrações Públicas e
O anterior CPA veio, ao longo dos anos em que se encontrou em vigor6, as considerem previsíveis.
alterar, e em muito, a conjuntura em que se desenvolvem as relações entre Como se disse, a linguagem utilizada neste Curso tende a ser simples
ídico-
para ajudar à perceção mais rápida dos institutos e dos conceitos jur
6
Foram mais de 20 anos. -procedimentais, utilizando-se o mais das vezes os dispositivos legais, que
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se transcrevem, para melhores entendimento e interpretação do conteúdo Parte I - Disposições gerais


dos mesmos. Capítulo I - Disposições preliminares
No que diz respeito à estrutura do Curso, optámos por seguir de perto Capítulo II - Princípios gerais da atividade administrativa
a estrutura do próprio CPA publicado em 2015, para melhor compreensão
dos diferentes conceitos e institutos jurídicos em análise. Parte II - Dos órgãos da Administração Pública
Importa assinalar que a vigência do CPA de 1991 foi relativamente Capítulo I - Natureza e regime dos órgãos
pacífica e que mereceu apenas duas intervenções decisivas do Tribunal Capítulo II - Dos órgãos colegiais
Constitucional7. Capítulo III - Da competência
Capítulo IV - Da delegação de poderes
1.2. O novo Código do Procedimento Administrativo Capítulo V - Dos conflitos de atribuições e de competência
1.2.1. Enquadramento geral
O novo CPA e o decreto-lei que o aprova resultam, como vimos, de uma Parte III - Do procedimento administrativo
lei de autorização legislativa solicitada pelo Governo e concedida pela Título I - Regime comum
Assembleia da República para aquele legislar sobre o novo CPA. Capítulo I - Disposições gerais
A referida autorização legislativa foi concedida, como se disse já, pela Lei Capítulo II - Da relação jurídica procedimental
n 42/2014, de 11 julho, e nela se estipulavam, nos termos constitucionais, o
9 Secção I - Dos sujeitos do procedimento
objeto, o sentido, a extensão e a duração da referida autorização. Importa, Secção II - Dos interessados no procedimento
desta forma, assinalar que o Decreto-Lei n9 4/2015, de 7 de janeiro, que Secção III - Das garantias de imparcialidade
aprova o novo CPA, é um ato legislativo subordinado à competente lei Capítulo III - Da conferê ncia procedimental
autorizante e deve com ela conformar-se, sob pena de ilegalidade. Capítulo IV - Do direito à informação
Capítulo V - Dos prazos
1.2.2. Estrutura do novo Código do Procedimento Administrativo Capítulo VI - Das medidas provisórias
Quanto à estrutura do novo CPA, o legislador optou por dividi-lo em Partes, Capítulo VII - Dos pareceres
em Títulos, em Capítulos, em Secções e, por fim, em Subsecções. Capítulo VIII - Da extinção do procedimento
Vejamos, então, a sistematização8 do novo Código que seguimos de perto
no plano deste Curso: Parte II - Dos sujeitos
Capítulo I - Dos órgãos administrativos
Capítulo II - Dos interessados

7
Vide o Acórdão do TC n8 118/ 97, publicado em 24 de abril de 1997, que declarou a incons- Parte III - Do procedimento administrativo
titucionalidade, com forma obrigatória geral, da norma do n" 1 do artigo S38, em parte; e Capítulo I - Princípios gerais
o Acó rd ão do TC n8 636/2013, publicado em 21 de outubro de 2013, que declarou, com Capítulo II - Direito à informação
força obrigatória geral, a inconstitucionalidade da norma constante do artigo 708, n8 1, alí¬ Capítulo m - Das notificações e dos prazos
nea a ) , em certa interpretação. Para além disso, o Supremo Tribunal Administrativo proferiu Capítulo IV - Da marcha do procedimento
o Acórdão n8 5/2010, publicado em 14 de julho de 2010, que uniformizou jurisprudência no
âmbito do disposto no artigo 28, n8 2. Parte IV - Da atividade administrativa
8
A estrutura do anterior CPA, atualmente revogado, era a seguinte: Capítulo I - Do regulamento
Parte I - Princí pios gerais Capítulo II - Do ato administrativo
Capítulo I - Disposições preliminares Capítulo m - Do contrato administrativo (Este capítulo veio a ser revogado pelo
Capítulo II - Princí pios gerais decreto-lei que aprovou o CCP).
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Título II - Procedimento do regulamento e do ato administrativo Importa, no entanto, fazer a sua identificação, embora sem caráter
Capítulo I - Procedimento do regulamento administrativo exaustivo e sem a pretensão de analisar - aqui e agora -, criticamente, as
Capítulo II - Procedimento do ato administrativo referidas inovações. Vejamos algumas delas:
Secção I - Da iniciativa particular
Secção II - Das notificações
- Novo regime de conferências procedimentais;
- Referência expressa à eventual responsabilidade por incumprimento
Secção III - Da instrução
Secção IV - Da audiência dos interessados de prazos;
- Imposiçã o de códigos de conduta;
-
Secção V Da decisão e outras causas de extinção do pro¬
- Autonomização de novos princípios gerais, designadamente o da boa
cedimento
Secção VI - Comunicações pr é vias administração, o da responsabilidade, o da segurança dos dados, o da
cooperação leal com a União Europeia e os aplicáveis à administração
Parte IV - Da atividade administrativa eletrónica;
Capítulo I - Do regulamento administrativo - Ligação entre o princípio da justiça e o princípio da razoabilidade;
Secção I - Disposições gerais - Acordos endoprocedimentais;
Secção II - Da eficácia do regulamento administrativo - Eliminação da figura do indeferimento tácito e revisão do regime do
Secção m - Da invalidade do regulamento administrativo ato tácito, em virtude da possibilidade de a ção (contenciosa) admi ¬

Secção IV - Da caducidade e da revogação nistrativa especial de condenação à pr á tica de ato devido; e


Secção V - Da impugnação de regulamentos administrativos - Regime substantivo aprofundado do regulamento administrativo.
Capítulo II - Do ato administrativo
Secção I - Disposições gerais 1.2.4. O que vigora, diplomas pr óprios e diplomas cuja aprovação
Secção II - Da eficácia do ato administrativo se aguarda
Secção III - Da invalidade do ato administrativo Neste momento, para al é m de vigorar o novo CPA e o Decreto-Lei
Secção IV - Da revogação e da anulação administrativas ne 4/2015, de 7 de janeiro, que o aprova, continua vigente o disposto no
Secção V - Da execução do ato administrativo n9 2 do artigo 149® do revogado CPA de 1991, nos termos do estipulado
Secção VI - Da reclamação e dos recursos administrativos no artigo 69 deste Decreto-Lei.
Subsecção I - Regime geral Por outro lado, importa referir que se aguarda a publicação de outros
Subsecção II - Da reclamação diplomas ou que existem matérias objeto de legislação própria. Vejamos
Subsecção III - Do recurso hierárquico
alguns exemplos:
Subsecção IV - Dos recursos administrativos especiais
Capítulo HE - Dos contratos da Administração Pública i.Resolução do Conselho de Ministros que aprove um Guia de boas práticas
administrativas, nos termos do disposto no artigo 59, n91, do Decreto-Lei
..
1.2 3 Algumas inovações n9 4/2015, de 7 de janeiro;
Para melhor percebermos o alcance das inovações do novo CPA, torna-se ii. Diploma que defina os casos, as formas e os termos em que os atos
indispensável uma leitura, atenta e aturada, do preâmbulo do Decreto-Lei administrativos podem ser impostos coercivamente pela Administração,
n9 4/2015, de 7 de janeiro, que estabelece um elenco aprofundado das de acordo com o previsto no n9 2 do artigo 89 do referido Decreto-Lei;
várias alterações aprovadas e das mais significativas inovações introduzidas iii. Diploma próprio que regule o processo administrativo em suporte
e que iremos analisar no decurso deste livro. eletrónico, atento o disposto no artigo 64B, n9 4, do novo CPA;
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iv. Legislação relativa ao acesso aos arquivos e registos administrativos, ii. Também na nossa ótica, o Capítulo V da Parte II, com a epígrafe Dos
de acordo com o previsto no artigo 178, na 2, do CPA, que hoje consta, conflitos de atribuições e de competência, deveria seguir-se ao Capítulo que m
designadamente, da Lei ne 46/2007, de 24 de agosto { Regula o acesso aos regula a competência e que até integra, no artigo 39a, uma disposição sobre
documentos administrativos e a sua reutilização), da Lei n919/2006 de 12 de conflitos de competência territorial;
junho (Regula o acesso à informação sobre ambiente, transpondo para a ordem iii. A posição do artigo 108a do CPA é outro bom exemplo de desorga ¬

ídica interna a Diretiva ns 2003/ 4/ CE do Parlamento Europeu e do Conselho,


jur nização sistémica, pois deveria ser antes colocado como artigo 103a, já que se
de 28 de Janeiro) e da Lei ns 12/2005, de 28 de janeiro { Sobre informação refere expressamente ao artigo 102a e apenas a ele diz respeito;
genética pessoal e informação de saúde )-, iv. Do mesmo modo, o artigo 196a do CPA deveria anteceder o artigo
v. Legislação sobre proteção de dados pessoais, como resulta do dis¬ 195a, por se referir a condições liminares que obstam ao prosseguimento
posto no artigo 18® do CPA, e que consta da Lei ns 67/98, de 26 de outubro efetivo do recurso hierá rquico.
{ Regimejurí dico da proteção de dados pessoais que transpõe para a ordem jurí dica
portuguesa a Diretiva ne 95/ 46/ CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 24 Mas voltemos, ainda, à questão dos princípios:
de outubro de 1995,relativa à proteção das pessoas singulares no que diz respeito ao
-
tratamento dos dados pessoais e à livre circulação desses dados ) , e
v. O legislador veio agora consagrar o princípio da adequação procedimen
tal (no artigo 56a) que aparenta ser um princípio geral determinante na
¬

vi. Legislação pr ópria que habilite a adoção de medidas policiais de


coação direta, atento o disposto no artigo 175a, nfi 2, do CPA. forma de organização e de condução do procedimento administrativo e que
poderia, por esse motivo, ter sido inscrito logo inicialmente, na sistemática
1.2.5. Eventuais erros de sistematização, inexatidões dos princípios gerais;
e redundâncias vi. O princípio do inquisitório previsto e regulado no artigo 58a do CPA é
Se é verdade que no anterior CPA existiam alguns exemplos de questões outro bom exemplo que, a nosso ver, poderia ser inscrito como princípio
controversas quanto à localização sistemática de algumas normas e princípios, geral da atividade procedimental administrativa.
o atual CPA vem, nalguns casos, manter esses eventuais lapsos.
Por exemplo, se é certo que o princípio da administração aberta se Por outro lado, vejamos agora alguns exemplos de inexatidões e de re¬
encontra hoje previsto na sequê ncia sistemá tica dos princípios gerais dundâncias que nalguns casos são inúteis, por serem vazias de quaisquer
que regem a atividade administrativa, corrigindo aquilo que parecia ser inovações:
um erro de sistematização da anterior versão do CPA, que o colocava no vii.A previsão, no artigo 60a do CPA, dos princípios da cooperação e boa-fé
capítulo respeitante ao direito à informação (artigo 65e do anterior CPA procedimental,com um conjunto de disposições genéricas sobre cooperação
revogado), outros há que aparecem agora distantes do elenco inicial relativo entre órgãos administrativos e interessados, n ão deixa de ser parcialmente
aos princípios gerais. redundante (ainda que em parte substantiva) com o disposto inicialmente,
São também de assinalar outros exemplos de desorganização normativa: no artigo 10a do CPA.
i. O artigo 28s do CPA deveria, em bom rigor, ser, em nossa opinião, Estabelece o artigo 60a sobre Cooperação e boa-fé procedimental:
colocado imediatamente a seguir ao artigo 25s, dado que se refere apenas “ 1 - Na sua participação no procedimento, os órgãos da Administração
à inobservância das disposições previstas nos artigos 23s, 24s e 25a do Pública e os interessados devem cooperar entre si,com vista à fixação rigorosa dos
CPA. Em termos de técnica legística, não fará qualquer sentido, a nosso pressupostos de decisão e à obtenção de decisões legais e justas.
ver, intercalar dois normativos com o teor do dos artigos 26a e 27a, quando 2 - Os interessados devem concorrer para a economia de meios na realização
as disposições do artigo 28a dizem respeito, direta e imediatamente, aos de diligências instrutórias e para a tomada da decisão num prazo razoável,
artigos que antecedem aqueles; abstendo-se de requerer diligências inúteis e de recorrer a expedientes dilatórios.”
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Comparemos com o disposto no referido artigo 102, cuja epígrafe é xii.De alguma perplexidade é, igualmente, o que resulta do disposto no
Princípio da boa-fé: artigo 127® do CPA, que determina que o procedimento do ato adminis¬
trativo (conforme se estuda e resulta do Capítulo II do Título II da Parte
“ 1 - No exercício da atividade administrativa e em todas as suas formas III em que o mencionado normativo se encontra inserido) pode terminar
e fases, a Administração Pública e os particulares devem agir e relacionar-se pela prática (óbvia e natural) de um ato administrativo ou - surpreenden¬
segundo as regras da boa-fé. temente - pela celebração de um contrato. O procedimento administrativo
2 - No cumprimento do disposto no número anterior, devem ponderar-se os diz respeito a um ato mas pode terminar com a celebração de um con ¬

valoresfundamentais do Direito relevantes em face das situações consideradas, trato... Terá sido isto o que o legislador efetivamente quis dizer, ou antes
e, em especial, a confiança suscitada na contraparte pela atuação em causa e o que o contrato determinará o conte údo final do ato? E o que se pretendia
objetivo a alcançar com a atuação empreendida.” afirmar era que os contratos endoprocedimentais, por força e nos termos
do disposto no artigo 57®, n ® 3, do CPA, podem condicionar a prática de
viii.E não deixa de ser curioso verificar (como se verá mais adiante) que, um ato, que há de ser sempre a decisão final no procedimento dos atos
no ns 2 do artigo 1092 do CPA, o legislador apresenta nova redundância que administrativos? Ideia semelhante é a que decorre do disposto no artigo
torna o teor da norma in útil, por ser remissivo sem ser inovador. Não era 77®, n ® 4, do CPA, que possibilita que as conferências procedimentais se
necessário o legislador estipular este normativo porque vem dizer o que concluam com a celebração de um contrato...
já diz, de igual modo e de forma inequívoca, no artigo 41fi que se aplica a xiii. O Governo refere, erradamente, no Preâmbulo que “ (...) foram
qualquer requerimento apresentado a órgão incompetente. É um reforço incluídos no Código os novos princípios (...) da administração aberta (artigo 17Q)
normativo redundante e inútil; e .
( .. )” o que não corresponde à verdade porque tal princípio constava j á
ix. O mesmo sucede com o estipulado no artigo 1962, n2 2, do CPA. do disposto no artigo 65® do CPA revogado. Não se trata de um novo
princípio;
Por fim, para além da apresentação de um elenco meramente exemplifi- .
xiv Outro exemplo é o que resulta, igualmente, do Preâmbulo , quando
cativo dos muitos erros e lapsos contidos no diploma, que mereceriam, pelo
se afirma no ponto 16 que “ (...) o novo Código limita-se à clarificação norma¬
menos, uma declaração de retificação (alguns dos quais estão assinalados tiva de situações que suscitaram dúvidas ( ...) sobre a diferença entre publicidade e
nos textos do CPA e do decreto-lei que o aprova, em Anexos a este Curso ), publicação (artigo 158e) (...)”. Se verificarmos o teor do disposto no referido
artigo 158® não se vislumbra qualquer referência a publicidade nem qualquer
importa fazer referê ncia, ainda que exemplificativamente, a alguns deles.
referência a critério que permita distinguir esta figura da da publicação a
Reparemos, assim, também noutras situações equívocas ou a que falta
clareza ou rigor, sem pretensão de esgotar os exemplos: que o artigo faz exclusivamente referência (cremos que a distinção resulta
antes do estipulado no artigo 159® do CPA);
x.O preceituado no artigo 43fido CPA sobre a suspensão da “ (...) aplicação xv. Também é aqui de referir o disposto no artigo 142®, n® 2, do CPA,
da norma atributiva da competência deste último” , ou seja, do órgão substituído, que proíbe a derrogação do regulamento por via de “ (...) atos administra ¬

não é de todo percetível à primeira vista. Se o legislador pretendesse evi¬ tivos de caráter individual e concreto (...)”. Esta última referência ao caráter
tar a cumulação de normas atributivas de competências, então a norma individual e concreto parece ser desnecessá ria e pode até, nalguns casos, ser
suspensa seria a atributiva da competência do substituto... geradora de hesitações e leituras, a nosso ver, equívocas. Seguindo uma
xi. A referência, no n2 2 do artigo 113® do CPA, ao tribunal não deveria interpretação meramente literalista, poder-se-ia admitir a existência de
estar aqui contemplada porque o CPA regula a atividade da Administração atos administrativos que não fossem individuais ou concretos e que, deste
Pública e não a dos Tribunais. Parece - à primeira vista - uma referência modo, fosse admissível a derrogação. Ora, não parece ser esse o caso. Mesmo
muito grave e até descontextualizada e inexata; tratando-se dos chamados atos administrativos suigeneris (gerais, plurais
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e coletivos), que visam também situações individuais e casos concretos, artigo l9, apresenta as definições legais de procedimento e processo ad¬
cremos que não é admissível que possam ter efeitos derrogatórios sobre ministrativos, que mais adiante analisaremos.
regulamentos. Será porventura exigido ao intérprete que faça aqui uma Importa referir que o novo CPA, nos termos do disposto no artigo 29,
interpretação restritiva dado que entendemos que o legislador, através da delimita o seu â mbito de aplicação. As disposições normativas relativas
letra da lei, disse mais do que o seu pensamento desejava que fosse expresso; (0 aos princípios gerais, ( it ) ao procedimento e (MI) à atividade adminis¬
.
xvi O artigo 152-, n9 2, do CPA refere-se à desnecessidade de fundamen¬ trativa aplicam-se, de acordo com o disposto no n91, genericamente, não
tação das “ (...) ordens dadas pelos superiores hierárquicos aos seus subalternos em apenas às estruturas da Administração Pública quando atuam ao abrigo
matéria de serviço e com a forma legar. Ora, mas o artigo 148® do mesmo Código da atividade administrativa de gestão pública mas antes “ (•••) à conduta de
não estipula que, para efeitos do CPA, o conceito de ato administrativo quaisquer entidades, independentemente da sua natureza, adotada no exercício de
integra apenas “ ( ••) as decisões que (...) visem produzir efeitos jurídicos externos poderes públicos ou regulada de modo específico por disposições de direito adminis ¬

(...)” ? Considerará o legislador a ordem hierárquica um ato administrativo -


trativo” .Deste modo, aplicar se-ão, por exemplo, às entidades de natureza
com efeitos externos? privada que exerçam, ainda que temporariamente, poderes públicos de
xvii.Também nos questionamos sobre a razão que leva o legislador a, autoridade, como sucede com os concessionários (aliás, como resultava já
no artigo 1718, n2 4, do CPA, colocar a referência expressa “ (...) e quando do disposto no artigo 29, n9 3, do anterior CPA10).
tenha por objeto a anulação de um ato revogatório (...) ” . A formulação desta A Parte II do novo CPA é, de acordo com o disposto no n9 2 do seu artigo
norma parece um pouco confusa dado que só há efeitos repristinatórios 29, naturalmente11, aplicável ao funcionamento dos órgãos administrativos
na presença de atos revogatórios. Em que pensa o legislador quando faz e, por outro lado,“ os princípiosgerais da atividade administrativa e as disposições
esta ressalva expressa? Fica a dúvida. (...) que concretizam preceitos constitucionais são aplicáveis a toda e qualquer atuação
xviii. Outra aparente contradição insanável reside no disposto no artigo da Administração Pública, ainda que meramente técnica ou de gestão privada” , de
1692, n9 6, do CPA, quando esta norma, contrariando o disposto no artigo acordo com o previsto no artigo 29, n9 3.
165®, permite que um ato administrativo praticado por órgão incompetente Parece ainda que o novo CPA, atento o disposto no n91do seu artigo 29,
possa vir a ser revogado. Ora, a menos que o legislador entendesse que vai continuar a aplicar-se aos atos em matéria administrativa praticados
esse ato não seria inválido, se admitiria tal revogação. No entanto, a falta pelos órgãos do Estado que, embora não integrados na Administração
de competência invalida juridicamente qualquer ato praticado e sendo Pública, desenvolvem funções materialmente administrativas, ou seja,
assim - na coerência do novo CPA - apenas pode ser, neste âmbito, sujeito pode vir a reger a atividade em matéria administrativa de órgãos como o
a anulação administrativa. Presidente da República, a Assembleia da Repú blica ou os Tribunais,
e serviços deles dependentes (os quais, como sabemos, não integram o
Podiam ser apresentados outros exemplos mas estes, como se disse, são perímetro da Administração Pública portuguesa) porque, pese embora a
paradigmáticos da necessidade de uma retificação do diploma. alteração substantiva que se verificou no artigo 29 do CPA, não deixa de
considerar-se agora que este se aplica, como se disse, “ (...) à conduta de quais¬
1.2.6. Disposições preliminares quer entidades, independentemente da sua natureza, adotada no exercício de poderes
O novo CPA entendeu manter algumas disposições normativas com defi¬ públicos ou regulada de modo específico por disposições de direito administrativo” .
nições concetuais que já vigoravam anteriormente “ (...) com o objetivo de
facilitara interpretaçãoe a aplicação (...)” do Código9 e, logo no n91 do seu
10
Que expressamente referia: “ As disposições do presente Código são ainda aplicáveis aos atos prati¬
cados por entidades concessionárias no exercício de poderes de autoridade” .
11
Porque a epígrafe da Parte II é suficientemente esclarecedora quanto ao âmbito de apli¬
9
Vide ponto 3 do preâmbulo do Decreto-Lei nQ 4/ 2015, de 7 de janeiro. cação.
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Importa também referir que, atento o disposto no artigo 2- , na 4, alínea com o fundamento de que não deveria ser o Governo a aprovar a Carta
c ) , do CPA, as entidades administrativas independentes integram, para Deontológica mas que apenas deveria dela tomar conhecimento como órgão
efeitos do disposto no Código, a Administração Pública, a par das restan ¬
superior da Administração Pública.
tes estruturas orgâ nicas e subjetivas que constam das restantes alíneas. Desta forma, a atual Carta Ética da Administração Pública ( vide Anexos)
Esta referência expressa na mencionada alínea c) visa, de acordo com o resultou da concorrência da vontade das associações sindicais que acor ¬

preâmbulo do decreto-lei que aprova o novo CPA, desfazer “ (...) eventuais daram num texto, no âmbito de um pacto mais amplo subscrito no acordo
dúvidas sobre a pertença destas entidades à Administração Pública, em sentido salarial de 1996.
subjetivo” . A Carta Etica é , assim, uma manifestação da vontade dos próprios funcio¬
Por fim, importa fazer menção ao disposto no na 5 do mesmo artigo ná rios públicos portugueses e dos trabalhadores com contrato de trabalho
2 que manda aplicar, subsidiariamente, as disposições do Código e, em
- em funções públicas, bem como um compromisso claramente assumido
particular, as referentes às garantias dos particulares, a todos os procedi ¬
de modernizar a Administração Pública portuguesa e uma afirmação de
mentos administrativos especiais. princípios antigos, por vezes esquecidos mas sempre atuais.
Para que a Administração Pública funcione de acordo com os valores
1.3. Códigos de Conduta e a Carta Ética - Dez Princípios Éticos éticos que fazem parte de um património comum por todos aceite, é indis ¬

da Administração Pública pensável criar novas formas de responsabilidade pessoal dos titulares dos
O artigo 5a do Decreto-Lei na 4/2015, de 7 de janeiro, a propósito de boas órgãos e agentes administrativos.
prática administrativas determina que É inequívoco que a formação dos funcionários públicos nesta área é
imprescindível mas, como sabemos, a Ética não se aprende exclusivamente
“ 1 - No prazo de um ano, a contar da data da entrada em vigor do presente nas escolas, embora estas devam saber fomentá-la e considerá-la nos vá rios
decreto-lei, o Governo aprova, por Resolução do Conselho de Ministros, um
«Guia de boas práticas administrativas».
planos curriculares.
2 - O guia referido no número anterior tem caráter orientador e enuncia
Por muitos princípios previstos em Códigos Deontológicos,em Cartas Éticas
da Administração Pública ou em Códigos de Boas Práticas12 que existam ou que
padrões de conduta a assumir pela Administração Pública.”
venham a ser aprovados, de nada servirão se os recursos humanos não se
Dado que este diploma ainda não foi aprovado e, por isso, não se encon ¬ propuserem a efetivá-los e se não existir uma preocupação permanente
tra em vigor, importa analisar, ainda e agora, a Carta Ética da Administração
de (in)formação.
Pú blica, assinalando, no entanto, que são realidades distintas. Não poderemos, no entanto, afastar a importante vertente preventiva
Em 17 de março de 1993, foi publicada a Resolução do Conselho de que o Direito sancionatório geral deve ter e, por isso, a necessidade de
Ministros nQ 18/ 93, que aprovou a Carta Deontológica do Serviço Público ( vide adoção de novas medidas penalizadoras para a “ pequena” e, por maioria de
Anexos). razão, para a “ grande” corrupção que pode recair sobre as Administrações
Este diploma pretendeu ser, como resulta da sua nota preambular, “ (...) Públicas. O mesmo deve suceder para as situações de fraude administrativa
um modelo para a ação do quotidiano (...)” e “ (...) um guia que, por ser moral, se e criminalidade conexa. Todas as medidas são importantes para garantir a
coloca aos níveis mais elevados de exigência das consciências individuais, isto é, ao transparência e para o incremento da responsabilização dos trabalhadores
nível da autoavaliação; por isso, os deveres éticos ultrapassam os meros deveres jurí¬ que exercem funções públicas13, bem como para sua defesa perante parti ¬

dicos, deixando para estes as incidências disciplinares e reservando para os primeiros culares (administrados) sem valores éticos.
a censura da consciência coletiva” . n Cfr. o disposto no
artigo 5s do Decreto-Lei ns 4/2015, de 7 de janeiro.
Passados alguns anos, o Executivo veio a revogar aquela Carta, pela Reso¬ 13
A terminologia relativa aos recursos humanos da Administração Pública deixou de prever
lução do Conselho de Ministros nQ 47/97, de 22 de mar ço ( vide Anexos), os clássicos conceitos de “ funcionário público” e “ agente administrativo” tendo passado a
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É, desta forma, importante a aprovação que há de ser feita pelo Governo


de um Guia de boaspráticas administrativas com caráter orientador, mas também
é de questionar se é a instâ ncia adequada para o efeito e se a natureza não
vinculativa do futuro diploma não poderá vir a criar ou a ampliar eventuais
conflitos que possam existir entre estruturas da Administração Pública
que não sigam o determinado no Guia de boas práticas administrativas e os
interessados que podem olhar para o diploma, considerando-o inútil por
ser apenas e meramente orientador de práticas administrativas.

1.4. Recomendação
O estudante deve começar por analisar o novo Código do Procedimento
Administrativo, a Lei de autorização legislativa, o respetivo Decreto-Lei
2 . Palestra sobre princ ípios gerais
que aprova o novo CPA, a Carta Ética da Administração Pública e as Resoluções da atividade administrativa
do Conselho de Ministros nQ 47/ 97, de 22 de março, e n218/93, de 17 de
março, que se encontram todos publicados como anexos.
SUMáRIO:
1.5. Exercício formativo Enquadramento geral . O princípio da legalidade . O princípio da prossecução do
a ) Diga quais são, de forma genérica, os grandes objetivos que visam interesse público e da prote ção dos direitos e interesses dos cidadãos. A pros ¬

alcançar os Códigos do Procedimento Administrativo; secução do interesse público. A proteção dos direitos e interesses dos cidadãos.
b) Diga como está estruturado o novo Código do Procedimento Admi¬ O princípio da boa administração. O princípio da igualdade . O princ í pio da
nistrativo; proporcionalidade . Os princípios da justiça e da razoabilidade . O princípio da
c ) Explique o â mbito de aplicação do novo Código do Procedimento imparcialidade. As garantias procedimentais de imparcialidade . O princí pio da
boa-fé. O princípio da colaboração (da Administração Pública) com os particulares.
Administrativo; e
O princípio da participação. O princípio da decisão . O ato tácito. Os princí pios
d ) Refira-se ao processo de elaboração da Carta Ética da Administração aplicáveis à administração eletrónica. O princípio da gratuitidade. O princípio da
Pública. responsabilidade. O princípio da administração aberta. O princípio da proteção
dos dados pessoais. O princípio da cooperação leal com a União Europeia. Reco ¬

mendação. Exercício formativo.

2.1. Enquadramento geral


A CRP impõe à Administração Pública que esta se guie por alguns princí¬
considerar todos como “ trabalhadores em fun ções públicas” (desde a Lei n ? 12-A/2008, de
27 de fevereiro, que introduziu a figura da “ relação jurídica de emprego público” , até à atual
¬ pios estruturantes, dos quais ressaltam, entre outros, o da legalidade, o da
mente vigente Lei Geral do Trabalho em Funções Pú blicas, aprovada pela Lei ns 35/ 2014, imparcialidade, o da igualdade, o da proporcionalidade, o da participação
de 20 de junho, que alterou aquela figura para “ vinculo de emprego público” , o qual com ¬
e o da decisão oportuna como forma de realização do interesse pú blico.
preende a nomeação, o contrato de trabalho em funções p úblicas e a comissão de serviço, Na decorrência do constitucionalmente estabelecido, existem vá rios
ainda que todo e qualquer trabalhador da Administração Pública seja isso mesmo, “ traba
princípios procedimentais previstos no novo CPA que agora estudaremos.
¬

lhador” ). De referir, no entanto, que o novo CPA, no seu artigo 44e, n- 2, trata de definir o
conceito de “ agente” . Estes princípios dizem sobretudo respeito à atividade administrativa mas
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não podemos esquecer que a Lei Fundamental consagra, igualmente, prin ¬ “ 1.A Administração Pública visa a prossecução do interessepúblico,no respeito
cípios que regem a organização da Administração Pública portuguesa e pelos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos.
cujo conhecimento é indispensável para podermos compreender, em toda 2. Os órgãos e agentes administrativos estão subordinados à Constituição e
a sua dimensão, a forma de prossecução pública da ação administrativa. à lei e devem atuar, no exercício das suas funções, com respeito pelos princípios
Faremos, por isso, uma breve referência a esses princípios fundamentais, da igualdade, da proporcionalidade, da justiça, da imparcialidade e da boa-fé” .
que estão necessariamente correlacionados com os que respeitam aos
procedimento e atividade administrativos. Vejamos, de seguida, os princípios gerais que regem a atividade admi ¬

A CRP prevê, no artigo 267e, sob a epígrafe Estrutura da Administração,que nistrativa previstos no novo Código e que, atento o disposto no n 9 3 do seu
artigo 2e, “ (~.) são aplicáveis a toda e qualquer atuação da Administração Pública,
“ 1. A Administração Pública será estruturada de modo a evitar a burocra- ainda que meramente técnica ou de gestão privada” .
tização, a aproximar os serviços das populações e a assegurar a participação dos
interessados na sua gestão efetiva,designadamente por intermédio de associações 2.2. O princípio da legalidade
públicas, organizações de moradores e outras formas de representação democrática. O artigo 39, n91, do CPA consagra, tal como determina a Lei Fundamen ¬
2. Para efeito do disposto no número anterior, a lei estabelecerá adequadas tal14, o princípio da legalidade15 como um dos primeiros princípios a ser
formas de descentralização e desconcentração administrativas, sem prejuízo da respeitado, no â mbito do procedimento administrativo, ou seja:
necessária eficácia e unidade de ação da Administração e dos poderes de direção,
superintendência e tutela dos órgãos competentes. “ Os órgãos da Administração Pública devem atuar em obediência à lei e ao
3. A lei pode criar entidades administrativas independentes. direito
4. As associações públicas só podem ser constituídas para a satisfação de neces
¬

sidades específicas, não podem exercerfunções próprias das associações sindicais Trata-se, nos nossos dias, de exigir que a Administração Pública respeite
e têm organização interna baseada no respeito dos direitos dos seus membros e um bloco de vinculação que vai muito para além da lei em sentido restrito.
na formação democrática dos seus órgãos. Fala-se hoje até de um princípio de juridicidade para abarcar realidades mais
5.0 processamento da atividade administrativa será objeto de lei especial,que amplas do que apenas a lei e que integram a totalidade da ordem jurídica.
assegurará a racionalização dos meios a utilizar pelos serviços e a participação Historicamente, podemos afirmar que este princípio veio a ser uma das
dos cidadãos na formação das decisões ou deliberações que lhes disserem respeito. mais importantes conquistas feita ao Estado absoluto, no qual primava,
6. As entidades privadas que exerçam poderes públicos podem ser sujeitas, sobretudo, o princípio da forte arbitrariedade e, por isso, aquele inexistia.
nos termos da lei, a fiscalização administrativa” . Os órgãos decisores definiam, aleat ória e arbitrariamente, o Direito a
aplicar a cada caso concreto mas quase sempre se encontravam colocados
São, como se pode verificar, princípios que dizem respeito, em primeiro acima dele. Podiam derrogar o Direito e, a qualquer momento, criavam
lugar, à forma de organização das Administrações Públicas na ordem jurí¬ ou podiam conceder exceções, sem critério genérico, como se exige em
dica portuguesa, embora tenham direta influência na forma de prossecução qualquer ordem jurídica democrática. O monarca definia, quase sempre
da atividade das estruturas que as integram. Deste artigo constitucional unilateralmente, os direitos e o Direito mas encontrava-se, também, o
podemos extrair a relevância de princípios organizatórios fundamentais mais das vezes, acima dele (s). As monarquias absolutistas do ancien régime
como sejam o da desburocratização, o da descentralização e o da descon ¬ consideravam os monarcas isentos do respeito por princípios que hoje
centração administrativas, entre outros. consideramos como essenciais a uma ordem jur ídica universal e democrá-
Vejamos, igualmente, o que dispõe a nossa Lei Fundamental, no seu
artigo 266s, sobre os princípios fundamentais da atividade da Adminis¬ 14
Cfr. o disposto no artigo 266Q, nQ 2, da CRP.
tração P ública portuguesa. Este normativo refere que 15
Previsto, também, na Carta Ética - Dez Princípios Éticos da Administração Pública.
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tica, embora se considerassem vinculados e limitados, na sua atuação, por Em grande n úmero de monarquias atuais vigentes, os monarcas deixa ¬
algum Direito, considerado suprapositivo - designadamente, os Direitos ram de governar e os governos passaram a assumir a plenitude dos poderes
(ditos) Divino e Natural -, devendo agir com justiça e em prol do bem executivos, baseados na confiança permanente que devem ter dos seus
comum. Estes critérios deveriam fundamentar o agir do monarca. Mas, parlamentos.
como sabemos, o rei estaria, muitas vezes, acima do Direito criado pelos É, no entanto, no decurso do séc. XX que se vem a consolidar, mais
homens e, nalguns casos, até pelo seu próprio punho .
16
cedo ou mais tarde, em diferentes países do chamado mundo ocidental, um
Com o surgimento, em toda a sua amplitude, do conceito de Estado de reforço dos direitos dos particulares, consagrados e reconhecidos por via
Direito - e, mais recentemente, do conceito de Estado de Direito democrá ¬ democrática. Acentua-se o papel dos parlamentos no controlo dos atos do
tico, com a exigência de subordinação à lei, geral e abstrata, aprovada pelos governo e o papel dos executivos no governo da respublica.
órgãos representativos dos povos, expressão da vontade da coletividade -, As Constituições e as leis passam a ser títulos jurídicos atribuidores,
deu-se uma mudança extraordinária, que afetou positivamente os meca¬ entre outros, de importantes direitos sociais. O Estado de Direito demo¬
nismos de decisão e de aprovaçã o dos atos dos órgãos de poder público. crático passa a ser Estado social de Direito, que exige a sua intervenção
E deu-se uma viragem histórica, também, na organiza ção das Adminis ¬ na modelação da vida social, onde o mercado liberal é frágil para resolver
trações P úblicas mas, sobretudo, nas suas formas de atuar. algumas das dificuldades emergentes.
A Constituição e a lei passam, assim, a ter uma função de garantia dos Também este facto leva ao aumento das estruturas da Administração
direitos e das liberdades dos cidadãos e a estatuir importantes limites à Pública e daí a import ância do estudo do Direito Administrativo em geral
atuação dos órgãos públicos de autoridade. Dura e longa foi a luta que e do regime jurídico do procedimento administrativo em particular, que
permitiu alcançar e garantir este património jur ídico dos cidadãos adminis¬ grandemente organiza a forma de atuação, designadamente, dos órgãos
trados. Durante o séc. XIX, as lutas entre liberais e absolutistas permitiram administrativos, pretendendo dar resposta e corresponder às variadas
a evolução num sentido democrático. Lutas que só muitíssimo mais tarde exigências dos cidadãos.
vieram a permitir a consolidação de verdadeiros regimes democráticos em A conjugação e a efetivação do supra invocado princípio da arbitrarie¬
que a tutela dos direitos, liberdades e garantias existe verdadeiramente. dade realizavam-se, frequentemente, em estrita união com os princípios
Muitas décadas mais tarde, a CRP veio até a prever o importante poder da centralização e da concentração administrativas, o que dizia bem das
de controlo parlamentar dos atos do Governo e da Administração Pú¬ características definidoras destes tipos de Estado e de Administração
blica. A total irresponsabilidade dos governantes, característica de certos Pública. Por isso, qualificamos o sistema administrativo17 da época como
tipos de Estados, veio a dar lugar a situações de responsabilidade política tradicional, caracterizado pelos seguintes traços mais marcantes:
junto dos parlamentos e, até, a situações de responsabilidades disciplinar, - Poder político-administrativo arbitrário e absoluto (quase sem limites);
financeira e criminal. - Centralização e concentração de poderes no topo da pirâ mide da
organiza ção do sistema político;
- Ausê ncia de um verdadeiro e eficaz sistema multidimensional de
entanto, os ministros eram responsáveis perante o monarca e, quando existiam, peran controlo dos poderes públicos;
“teNoas cortes
¬

parlamentares. Nos nossos dias, nos sistemas de govemo mistos, como o semi-
presidencialismo, o govemo está sob responsabilidade política perante o parlamento e pe¬
rante o chefe de Estado. Aliás, a referenda ministerial, como aposição da assinatura do chefe
de governo junto dos atos do chefe de Estado, demonstra, de alguma forma (ainda que resi¬
17
O conceito de “ sistema administrativo” prende-se com os traços essenciais que respeitam
dual), uma corresponsabilização política dos governantes perante os atos da chefia do Esta¬ à forma de organização da Administração Pública, ao modo como funciona e prossegue a
do - o que, no caso português, ainda se mantém formalmente (cfr. o disposto no artigo MO" atividade e aos principais institutos e instituições jurídicos que os enformam, como sejam
da CRP). grandes princípios estruturantes e conceitos operativos.
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- Inexistê ncia (total ou quase total) de subordinação à lei por parte da bunais administrativos e onde vigora, em toda a sua plenitude, o referido
classe dirigente; e privilégio de execução prévia, mais ou menos limitado mas sempre de
- Ausê ncia efetiva de um sistema real e eficaz de garantias dos parti ¬
acordo com o legalmente estipulado.
culares. O sistema português é, tendencialmente, de administração executiva
com um poder estadual, por natureza e tradicionalmente, forte, onde
A este sistema administrativo veio a contrapor-se um modelo de sistema existem tribunais próprios e especializados de â mbito administrativo21,
oposto e que começou por ser dual, por encontrar dois sistemas modernos que integram plenamente o poder judicial e que administram um Direito
com traços comuns mas com alguns aspetos divergentes18: (i) o sistema de Administrativo autónomo de onde emerge um privilégio de execução
matriz anglo-saxónica19 e ( it ) o sistema de matriz francesa .
20
prévia legalmente consagrado mas nos quais se assegura, igualmente, um
Como traços comuns podemos encontrar em ambos, genericamente, amplo e reforçado sistema integrado e multidimensional22 de garantias dos
as seguintes marcas: administrados. Importa frisar que o exercício da função administrativa do
Estado está, hoje, submetido plenamente à Constituição, à lei e à função
- Um poder limitado pela lei, que é fronteira (limite) e fundamento legislativa, quer através do princípio da constitucionalidade dos atos previsto
de atuação; no artigo 39, n9 3, da CRP, quer atento o disposto, constitucionalmente,
- Uma vinculação rigorosa ao princípio da separação de poderes; no já citado artigo 266Q, n9 2. O desempenho administrativo está, ainda,
- Uma descentralização e uma desconcentração de poderes em vários submetido à função jurisdicional do Estado, atribuída aos tribunais, atento
níveis (geográficos, hierárquicos e funcionais); o disposto no artigo 2059, n9 2, da CRP, que determina que “ as decisões dos
- Inexistência de zonas de atuação administrativa imunes ao bloco da tribunais são obrigatórias para todas as entidades públicas (...) e prevalecem sobre
juridicidade; as de quaisquer outras autoridades” .
- Consagração de um amplo e eficaz sistema integrado de monitorização Ora, foi em parte com o surgimento dos Estados Liberal e Constitucional
e de fiscalização da atividade pública; e e com a subordinação dos órgãos decisores à lei do parlamento, tomada
- Existência de um sistema real de garantias dos particulares admi¬ como expressão da vontade da coletividade, que os órgãos do Estado se
nistrados. submeteram também a um conjunto normativo, a um bloco prévio de lega ¬

lidade e de juridicidade, assegurando com isso uma vertente garantística


Evidentemente que encontramos alguns traços que acentuam a dife ¬
ao sistema político e, essencialmente, aos cidadãos. Do governo de homens
rença de paradigma e eles residem, essencialmente, no seguinte: o sistema passamos no governo de leis, da arbitrariedade à legalidade, da subjetividade
de administração judiciária (inglês) assenta a sua conceção na Common das condutas e das decisões à objetividade legal das soluções, das dispo ¬
Law e , por isso, sobretudo, numa jurisdição de tribunais comuns e onde sições em função da pessoa à consagração de normas com conte údo geral
prevalece a ideia de Coroa em detrimento da ideia de Estado. A concre ¬
e abstrato.
tização do (mais à frente estudado) privilégio de execução prévia tem
uma leitura e contornos diferentes dos considerados no sistema francês.
Quanto ao sistema de administração executiva (francês), importa referir
a existência de um poder estadual forte com autonomização do Direito 21
A propósito dos tribunais administrativos, vide o disposto nos artigos 209° , ne 1, alínea b ), e
Administrativo, surgindo instâncias jurisdicionais especiais como os tri-
^
212 3 CRP.
- Pois nele se podem incluir não apenas os vários tipos de garantias dos particulares mas
18
Que, em termos gerais e no â mbito da União Europeia, tendem a aproximar-se. também a consagração de exigências para a Administração Pública que se traduzem, verda ¬

19
Ou sistema judiciário ou de administração judiciá ria. deiramente, em garantias dos particulares, como sejam, entre outras, o dever de fundamen ¬

20
Ou sistema continental ou de administração executiva. tação dos atos administrativos praticados.
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Nestes termos, a Administração Pública, como um dos corpos especiais muito mais importantes do que a preterição de algumas normas legais
do Estado a que incumbe a prossecução da função administrativa , só pode
23
meramente procedimentais. De salientar, desde logo, que a exceção não
agir até (limite) e onde (fundamento) a lei o permitir. Nisto se traduz o comporta aqui, a nosso ver, os casos de simples urgência, embora esta seja,
princípio da legalidade, na sua vertente atual. quase sempre, um dos requisitos para verificação do estado de necessidade.
Podemos, deste modo, afirmar que a lei legitima e é, ao mesmo tempo, Para que possamos enquadrar uma determina situação em estado de
limitadora de toda e qualquer atividade administrativa. necessidade administrativa é necessário observarem-se alguns pressupostos
O princípio tem, assim, uma formulação positiva, já que é fundamento que decorrem, ainda que analogicamente, do regime jur ídico geral da
de atuação e da intervenção administrativas, mas, para além disso, é limite figura do estado de necessidade, previsto no artigo 339s do Código Civil, que
de atividade, no que traduz uma formulação negativa. Concluindo, pode¬ regula este mecanismo no â mbito do Direito Privado, enquanto meio de
mos afirmar que o bloco amplo da legalidade é fundamento e limite de tutela privada. Podemos verificar que da importação desse regime para
atuação de toda a atividade das Administrações Públicas, quer no âmbito o Direito Público e para a figura do estado de necessidade administrativa se
da gestão pública quer no âmbito da gestão privada, que traduzem dois exige a verificação da ocorrê ncia de situações extremamente graves, que
meios alternativos de atuação das estruturas administrativas. se vise remover o perigo atual de um dano manifestamente superior e que
A atuação ao abrigo da gestão pública pressupõe o uso de poderes de as exigências previstas no Código impossibilitem que as medidas admi ¬

autoridade ( ius imperii) em que o Estado ou outra qualquer entidade, de- nistrativas sejam praticadas em tempo oportuno e de modo eficaz para
signadamente, pública, aparece revestido de todos os seus poderes mais salvaguarda de interesses superiores. Deve ainda fazer-se a conjugação com
fortes, atuando ao abrigo do Direito Público. Por outro lado, a atuação das o disposto, no que diz respeito à execução dos atos, no artigo 177®, n® 2,
entidades públicas em mera gestão privada desinveste-as de qualquer reforço do CPA (correspondente ao anterior artigo 151®, n ® 1, do CPA revogado).
de autoridade e aparecem, na relação jurídica, em situação de paridade, As estruturas da Administração Pública não ficam, no entanto, desoneradas
como qualquer entidade privada, sem possibilidade de recurso a poderes de respeitar os princípios da proporcionalidade e da adequação de meios,
de natureza pública. Neste caso, a relação jurídica é regulada pelo Direito avaliando, a cada momento, a imperiosa necessidade da ação, que deve ser
Privado e os sujeitos não estão vinculados a qualquer privilégio que os considerada excecional e sempre fundada, exclusivamente, no interesse
diferencie ou hierarquize. pú blico, atento o disposto no artigo 178®, n® 1, do CPA.
No entanto, são apresentadas algumas exceções a este princípio, de que Nestes casos, o Código prevê a possibilidade, como vimos, de preterição
destacamos o estado de necessidade administrativa24, também previsto no de algumas regras nele previstas, tomando válidos atos que à partida o não
artigo 39, ns 2, do novo CPA, que se verifica quando, em situações de urgên¬ seriam, porque violariam normas previstas legalmente. Compreende-se a
cia e de perigo iminente, os fins não possam ser alcançados no respeito razão de ser desta possibilidade. As situações de estado de necessidade admi ¬

por toda a tramitação do procedimento administrativo e sejam, por isso, nistrativa são sempre excecionais e as condutas praticadas legitimamente
praticados atos “ (...) com preterição das regras estabelecidas (...)” no referido ao seu abrigo visam proteger valores superiores que o legislador entende
Código. Ou seja, o estado de necessidade administrativa vai como que tornar como deverem merecer uma tutela particular. Isso determina que algu ¬

válidos atos ou operações materiais que à partida o não seriam, porque não mas das regras previstas possam ser afastadas com vista a obter um ganho
respeitariam, em toda a sua plenitude, as disposições legais estipuladas no superior ou prevenir a perda ou a lesão de um direito que se considere
CPA. Tal ocorre porque o legislador tem em vista a salvaguarda de bens aquando do estado de necessidade. Releva notar que se prevê, no CPA,
que a validade dos atos depende de se demonstrar “ (...) que os resultados não
23
Esta função traduz, genericamente, a exigê ncia de satisfação, de forma regular e pudessem ter sido alcançados de outro modo (...)”, ou seja, sem preterição das
contínua, das necessidades coletivas. regras procedimentais, e o direito a indemnização para ressarcir eventuais
24
Vide, por exemplo, situações de calamidade em que se procede à requisição de uma casa
para aí se instalar uma valência de socorro.
danos provocados, decorrentes da atividade pública desenvolvida com
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base e durante o referido estado de necessidade administrativa, como resulta e em matéria de serviço, quando previamente delas tenha reclamado ou exigido
do disposto no artigo 3e, n2 2, parte final, do CPA. a sua transmissão ou confirmação por escrito.
Por outro lado, quanto à atividade interna25 da Administração Pública, 2 - Considerando ilegal a ordem ou instrução recebidas, o trabalhador faz
é de referir que, perante uma ordem ilegal emanada de superior hierár ¬
expressamente menção dessefacto ao reclamar ou ao pedir a sua transmissão ou
quico legítimo ao seu subalterno, pode existir, regra geral, dever jurídico confirmação por escrito.
de obediência e, logo, podemos concluir que a legalidade interna tem
26
3 - Quando a decisão da reclamação ou a transmissão ou confirmação da
algumas especificidades. Assim, o cumprimento destas ordens é também, ordem ou instrução por escrito não tenham lugar dentro do tempo em que, sem
de alguma forma, cumprimento e respeito pela lei , porque esta opta por dar
77
prejuízo, o cumprimento destas possa ser demorado, o trabalhador comunica,
grande importância ao dever legal de obediência que é suporte fundamental também por escrito, ao seu imediato superior hierárquico, os termos exatos da
da hierarquia administrativa28. ordem ou instrução recebidas e da reclamação ou do pedido formulados, bem
O enquadramento legal que permite ao subalterno questionar e pedir como a não satisfação destes, executando seguidamente a ordem ou instrução .
esclarecimentos ao seu superior hierárquico, além de estar previsto no 4 - Quando a ordem ou instrução sejam dadas com menção de cumprimento
disposto no artigo 2712 da CRP, que se refere à Responsabilidade dos fun¬ imediato e sem prejuízo do disposto nos n.osle 2,a comunicação referida na parte
a
cionários e agentes, está também referido no disposto no artigo 177 da Lei final do número anterior é efetuada após a execução da ordem ou instrução.
Geral do Trabalho em Funções Públicas2V , aprovada pela Lei n2 35/2014, de 5 - Cessa o dever de obediência sempre que o cumprimento das ordens ou
20 de junho, e constante de seu anexo, sob a epígrafe Exclusão da respon ¬ instruções implique a prática de qualquer crime.”
sabilidade disciplinar.
Vejamos, em conclusão, o que diz o referido artigo: Por fim, importa assinalar que é do disposto na parte final do n21 do
artigo 3a do CPA que resulta, em abstrato, o mínimo de vincula ção legal
“ 1 - É excluída a responsabilidade disciplinar do trabalhador que atue no de um ato público, designadamente, de um ato administrativo. Assim,
cumprimento de ordens ou instruções emanadas de legítimo superior hierárquico pelo menos a competência e o fim serão sempre elementos legalmente
vinculados e nunca podem resultar do exercício de discricionariedade
25
Aquela que esgota os seus efeitos no interior da própria Administração Pública. administrativa. No entanto, nos nossos dias, como veremos, muitos outros
26
Seguindo até princípios diferentes dos que norteiam a atividade administrativa externa.
17
A lei prevê o dever legal de obediência para todas as ordens de legítimo superior hierár¬
elementos do ato estão juridicamente vinculados, aliás, como determina
quico, em matéria de serviço e desde que não constituam prática de crimes, admitindo-se o próprio CPA.
constitucionalmente, nos termos do disposto no artigo 271'’ , n9 2, o direito de respeitosa
representação, através do qual o subalterno pode pedir ao seu superior hierárquico que lhe 2,3. O princípio da prossecução do interesse público e da proteção
transmita ou confirme, consoante os casos, a ordem por escrito, evitando assim eventuais dos direitos e interesses dos cidadãos
responsabilidades que lhe possam ser imputadas mas mantendo- se o dever de obediência .
O direito de respeitosa representação isenta da responsabilidade mas não desonera o subal ¬
Este princípio da prossecução do interesse público30 e da proteção dos di¬
terno do dever de obedi ência. reitos e interesses dos cidadãos, para melhor compreensão do seu alcance,
-* A hierarquia administrativa é uma das mais importantes instituições do Direito Adminis¬ pode ser estudado nas suas duas vertentes: (/) a da prossecução do interesse
trativo português e traduz um modelo de organização vertical da Administração Pública, público e ( it ) a da proteção dos direitos e interesses dos cidadãos. Vejamos.
estruturando-a de forma a que existam vínculos jurídicos entre superiores e subalternos,
como verdadeira cadeia de comando, e onde o superior hierárquico dispõe do poder de con¬
trolo, do poder dispositivo da competência e do importante e indispensável poder de dire¬
ção, enquanto que o subalterno está vinculado a um dever jurídico-legal de obediência.
Disposição prevista, anteriormente, no artigo 59 da Lei n 58/2008, de 9 de setembro, que
29 9

aprovou o Estatuto disciplinar dos trabalhadores que exercem funções públicas, entretanto revogada.
30
Vide, a propósito, o princípio do serviço público previsto na Carta Ética - Dez Princípios Éti ¬

O anterior texto do artigo era de igual teor. cos da Administração Pública .


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2.3.1. A prossecução do interesse público31 público com respeito não só pelos direitos mas também e até pelos inte ¬

O interesse pú blico é definido, em regra, de forma primá ria pelos órgãos resses legalmente protegidos dos cidadãos.
políticos do Estado. A definição é, portanto, e por regra, externa à Admi¬ Interessa, pois, estabelecer uma breve distinção entre a figura dos di ¬

nistração Pública, impõe-se exogenamente e pode ser variável, em razão do reitos subjetivos e a dos interesses legalmente protegidos.
tempo e da circunscrição territorial. O interesse público pode ser, assim, Quanto aos direitos subjetivos, a lei protege de forma direta e imediata
mutável no tempo e no espaço. Na ação quotidiana das Administrações um interesse próprio de um sujeito de direito, podendo o titular, neste
Públicas, cabe aos órgãos dirigentes avaliar o respeito e o cumprimento caso, exigir da Administração Pública um comportamento que satisfaça
das normas legais bem como do interesse público. positivamente esse mesmo direito. Desta forma, verificamos que o par ¬
Importa referir que as estruturas administrativas não podem prosseguir ticular tem o direito via legis a uma decisão favorável e a Administração
interesses privados, pelo que se exige que, nos termos do disposto no artigo Pública está adstrita à sua efetivação. Podemos concluir que a lei dá ao seu
4® do CPA, a Administração Pública prossiga sempre o interesse público titular o poder de obter a plena realização do seu direito. Neste caso, se a
da comunidade, previamente definido. Administração Pública indeferir o pedido, essa decisão será ilegal e o ato
Desta forma, se órgãos da Administração Pública emanam atos adminis¬ administrativo de indeferimento estará ferido de violação de lei.
trativos cujos “ motivos principalmente determinantes da sua prática não Vejamos o seguinte exemplo:
condigam com o fim visado na lei para a concessão do poder discricioná rio” , Suponhamos que a lei confere aos estudantes do ensino superior,
33
estes estão feridos de desvio de poder e podem ser agora nulos, atento
32
cujo rendimento do agregado familiar seja inferior a 1000C mensais,
o disposto no artigo 161®, n® 2, alínea e ) , do novo CPA, quando o desvio de uma bolsa de estudo no valor de 250 .
poder ocorre para fins privados. O “ aluno A” , que reú ne os requisitos cumulativos previstos na lei,
Por fim, importa referir que o interesse público não se encontra pela tem um direito subjetivo e pode exigir a referida bolsa de estudo.
mera soma dos interesses particulares e, també m por isso, ganha conce¬ A estrutura da Administração Pública a quem está, legalmente, con ¬
tualmente autonomia. ferida a competência para decidir tem de conceder a bolsa de estudo,
sob pena de cometer um ato ilegal se proceder ao seu indeferimento
2.3.2. A proteção dos direitos e interesses dos cidadãos
34 35
administrativo.
Este subprincí pio está previsto, igualmente, no artigo 4® do CPA e
completa a visão global da questão a que atrás se fez referência. Limita Quanto aos interesses legalmente protegidos, têm relevância mas são,
a ação da Administração Pública, o que está em consonância com a natureza no entanto, mais frágeis no confronto com os direitos subjetivos. Embora
personalista e não totalitá ria do Estado português, visando-se o interesse a tutela sobre aqueles também exista e se faça sentir, o particular só pode
exigir que a Administração Pública respeite a legalidade mas já não tem
direito a uma decisão favorável - quanto muito, pode impor que as estru ¬

31 .
artigo 266 -, n " 1, da CRP
Prevista no turas administrativas, perante situações iguais, as tratem de forma idêntica.
32
Anteriormente, a definição deste vicio constava do disposto no artigo 19°, § ú nico, da Lei O seu titular pode exigir que não seja ilegalmente prejudicado e que o seu
Orgânica do Supremo Tribunal Administrativo, aprovada pelo Decreto-Lei n - 40768, de 8 I interesse seja respeitado.
de setembro de 1956, entretanto revogado pela Lei ns 15/ 2002, de 22 de fevereiro, que apro¬
Vejamos, também aqui, um exemplo:
vou o novo Código de Processo nos Tribunais Administrativos.
33
No anterior CPA, quaisquer atos feridos de desvio de poder eram anuláveis, nos termos Suponhamos agora que a lei prevê que aos alunos que frequentem o
gerais. ensino superior, e nas mesmas condições do exemplo anterior, poderá
34
Prevista no artigo 266Q, n° 1, da CRP.
a Administração Pública conceder bolsas de estudo até ao montante
35
Este princí pio n ão diz apenas respeito aos cidadãos nacionais mas também, entre outros,
aos estrangeiros, aos apátridas e às pessoas coletivas. de 250 .
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Neste exemplo a Administração Pública não está obrigada a conce¬ nas decisões da Administração Pública e a possibilidade de obtenção de
der a bolsa de estudo e pode conferir o subsídio em montante variável, decisões ótimas, com os melhores resultados e com os menores custos.
desde que dentro dos limites legais. Este princípio tem, por exemplo, reflexo imediato no que dispõe o artigo
Cada aluno tem um interesse legítimo em que a Administração 99Q do Código, quando exige uma “ (...) ponderação dos custos e benefícios das
Pública não viole o bloco de legalidade e de juridicidade.Nem todos os estu¬ medidas projetadas (...)” sobre regulamentos a aprovar, e no que estipula
dantes terão direito a uma decisão favorável e a Administração Pública o artigo 59e do CPA, quando impõe às estruturas com competência para
poderá conceder bolsas de montantes diferentes. Os particulares devem decidir ou intervir nos procedimentos administrativos um dever legal
conhecer, no entanto, previamente os critérios de decisão. de celeridade. Aqueles critérios estão, igualmente, relacionados com a
Pode apenas exigir-se que as estruturas administrativas tratem de eliminação da lentidão dos serviços, tornando os procedimentos menos
forma igual situações iguais. complexos e redundantes, devendo encontrar-se, a todo o tempo, novas
formas de simplificação administrativa que promovam, também, decisões
2.4. O princípio da boa administração céleres.
O legislador veio, pela primeira vez, no CPA, autonomizar o princípio da Desta forma, são critérios de atuação administrativa, previstos no artigo
boa administração, obrigando agora a que, nos termos do disposto no seu 5e, n21, do CPA, (i) a eficiência, ( it ) a economicidade e ( iií ) a celeridade,
artigo 59, n9 1, a Administração Pública paute a sua atuação por importantes e se estes critérios não forem respeitados pelos órgãos da Administração
crité rios de eficiê ncia, economicidade e celeridade. Estes critérios foram Pública os atos por eles praticados (ou omitidos) serão ilegais e, conse ¬

há muito adotados pela legislação financeira vigente no País e permitem quentemente, inválidos.
que o Tribunal de Contas possa emitir juízos críticos e sancionatórios sobre Como veremos também a propósito do princípio da razoabilidade, o
a atuação de um conjunto muito diversificado de órgãos e serviços com legislador pode ter encontrado, ainda que inadvertidamente, ao consa¬
capacidade de aprovação de atos com expressões financeira e orçamental. grar estes princípios, um mecanismo que pode possibilitar ao tribunais
Alguns destes critérios encontram os seus plenos conteúdo e âmbito nou¬ administrativos a apreciação do mérito das decisões administrativas, o
tras ciê ncias que não o Direito. A ciê ncia jurídica recorre, muitas vezes, que sempre esteve afastado dos poderes de cognição do poder judiciá rio,
a conceitos muito técnicos que têm de ser preenchidos por outras á reas do aliás como decorre do disposto no artigo 32, n21, do Código de Processo nos
saber. Para além disso, o novo CPA vem impor estes crité rios, agora de Tribunais Administrativos (CPTA).
forma expressa, obrigando a uma organização público-administrativa não
burocratizada e próxima das populações, de acordo com o estipulado no 2.5. O princípio da igualdade37
artigo 59, n9 2, do CPA. Previsto, agora, no artigo 6® do CPA (correspondendo ao antigo artigo 59
Os anteriores princípios da desburocratização36 e da eficiência, previstos do Código revogado), o princípio da igualdade38, agora autonomizado, deve
autonomamente no então artigo 10Q do CPA revogado, vieram dar origem ser visto enquanto disposição que determina que todos são iguais perante
a um mais amplo princípio da boa administração, agora regulado, como se a lei e que proíbe qualquer discriminação arbitrária e preconceituosa que
disse, no artigo 59 do CPA, e são dele corolá rios. se possa basear, entre outros, em critérios de sexo, raça, língua, território
Este princípio também se pode concretizar, nomeadamente, com a de origem, orientação sexual, etnia, ou religião para fundamentar opções
desconcentração e a descentralização administrativas e com a aproximação ou decisões administrativas.
dos decisores aos administrados e tem em vista uma maior racionalidade

36
A propósito da modernização administrativa dos serviços e dos organismos da Administra
¬ 37
Também previsto na Carta É tica - Dez Princípios Éticos da Administração P ública.
ção Pública, vide, entre outros, o Decreto-Lei nQ 135/ 99, de 22 de abril. A este propósito, cfr. o disposto no artigo 13Q da CRP.
38
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O artigo 6a veio assim, por força da Lei de autorização legislativa, dar caso disso), para que exista e se encontre alguma relação de proporção e
maior densidade ao princípio da igualdade, de modo a que a Administração de equilíbrio entre os danos que se antecipe possam causar e a natureza e
Pública não possa privilegiar, beneficiar, prejudicar ou privar ninguém de o valor dos bens que se querem proteger; entre os custos que se podem ou
qualquer direito, agora também em razão da sua orientação sexual39. vão verificar e os benef ícios que se vão obter com a conduta administrativa.
O princípio da igualdade não se confunde, no entanto, com o da não Nem sempre é, temos de reconhecer, um exercício fácil de ser cumprido,
discriminação mas este não deixa, de alguma forma, de ser corolá rio da¬ sobretudo quando há uma necessidade de intervenção operacional das
quele e de estarem ambos intimamente relacionados. Forças e Serviços de Liberdade e Segurança , porque se lhes exige uma
Deste normativo resulta, por consequência, a proibição de (i) privilégios, grande capacidade de resiliência, de resistência e de formação jurídica
(«) benefícios, ( iit ) prejuízos, (zv) privação de direitos ou de (v) isenção indispensável para se compreenderem os limites impostos pela lei e a
de deveres, que advenham ou assentem nos critérios atrás referidos e que, I forma de melhor exercer a atividade (coerciva) policial.
agora, estão elencados no já referido artigo 6a do CPA. Assim, podemos concluir que deste princípio resulta a opção pela
Os diferentes ó rgãos das Administrações Pú blicas, ao atuarem, não proibição do excesso41 e pela ponderação e adequação de meios a utilizar.
podem nortear-se por critérios distantes dos previstos legalmente, embora Este princípio é cada vez mais importante e aplica-se sobremaneira ao
por vezes, para que haja realização plena do princípio da equidade, sejam uso legítimo da força pública, designadamente pelas já referidas Forças e
necessários tratamentos distintos, atendendo às circunstâ ncias particula ¬ Serviços de Liberdade e Segurança, sobretudo quando atuam ao abrigo
res dos casos concretos. A desigualdade de tratamentos não poderá, no legítimo do privilégio de execução prévia (que à frente estudaremos), que
entanto, ser discriminatória ou, de qualquer outra forma, violadora da lei, é uma manifestação do exercício democrático do uso da força coerciva
havendo de ser sempre fundamentada de modo a que possa ser sindicada para implementação de decisões administrativas. O legislador opta por
pelos interessados e até contrariada, quando for caso disso. considerar a proporcionalidade como um princípio estruturante de todo
o procedimento administrativo, procurando que a Administração Pública
2.6. O princípio da proporcionalidade se sinta vinculada a encontrar, no âmbito da sua ação, um justo equilíbrio
Quanto ao teor do princípio da proporcionalidade40, significa afirmar que tendencialmente otimizado: o menor prejuízo possível causado aos direitos
as medidas administrativas devem ser adequadas, proibindo-se o excesso, dos particulares, com repercussão na sua esfera jurídica, em vista a salva ¬

optando -se por um equil íbrio entre os meios e os efeitos ou resultados a guardar o interesse público e os limites impostos na ação determinada por
obter. Aliás, isso mesmo resulta do disposto no artigo 7a, na 1, do CPA, ato administrativo prévio e não respeitado. Digamos, em conclusão, que
quando esta norma impõe que os órgãos da Administração Pública de o legislador não deixou este aspeto ao livre exercício discricioná rio e ao
¬

vam ' ...) adotar os comportamentos adequados aos fins prosseguidos (...)” , o que arbítrio das estruturas administrativas públicas, considerando-o um ele
^
significa, uma vez mais, a exigência de estreita e direta ligação entre fins mento legalmente vinculado. Deste modo, qualquer violação ao princípio
legais e utilização de meios adequados para os alcançar. Digamos, em sín da proporcionalidade invalida, nos termos legais, o ato, qualquer que seja
¬
¬

tese, que a proporcionalidade deve ser conjugada com a necessidade de a sua natureza, ou a conduta praticada, por exemplo, no decurso de uma
intervenção e com a adequação dos meios e da força a utilizar (quando for execução administrativa.
Para além da ponderação e da adequação, o legislador faz ainda menção,
39
A orientação sexual está expressamente consagrada pelo legislador como potencialmen quando
¬ a atuação administrativa colida “ (...) com direitos subjetivos ou interesses
te violadora do princí pio da igualdade. Pese embora o anterior CPA não consagrar expres ¬

samente esta referência, ela era já tacitamente aceite até por imposição constitucional (cff.
artigo 13", ne 2, da CRP, na redaçã o atual conferida pela revisão constitucional de 2004).
41
Ou seja, os diferentes órgãos administrativos devem atuar de forma a causar o menor n ú ¬

40
Consagrado constitucionalmente, no artigo 266", n" 2. Também previsto na Carta Ética - mero de danos aos direitos dos particulares, n ã o devendo imputar-se na esfera do particular
Dez Princípios É ticos da Administração Pública. danos para além do estritamente necessário.
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legalmente protegidos dos particulares (...)” , da exigência de que essas posições 2.8. O princípio da imparcialidade
dos cidadãos só possam ser afetadas na estrita medida do necessário para A imparcialidade a que estão vinculadas todas as estruturas orgânicas da
alcançar os objetivos a realizar, como decorre expressamente do nfi 2 do Administração Pública determina que o tratamento dado aos particula¬
artigo 7 - do CPA. Deste modo, podemos afirmar que, na prossecução do res deve ter em conta o interesse público e os critérios previstos na lei,
interesse público, o princípio da proporcionalidade impõe, cumulativa ¬
independentemente das posições pessoais dos titulares dos cargos públi¬
mente, ( z) adequação e (») necessidade de ação, ou seja, exigibilidade da cos, sendo que, nomeadamente, os órgãos administrativos são terceiros
conduta - no fundo, um justo equilíbrio entre os bens a salvaguardar, o relativamente aos interessados, devendo no seu agir ser justos, isentos e
interesse público (fim último e critério único que preside à atuação pú ¬
imparciais. Proíbe-se a parcialidade de tratamentos e fomenta-se a isenção
blica) e os meios a utilizar. No caso do uso da força pública, é importante administrativa e a objetividade da decisão, atento o teor do previsto no
atender sobretudo à intensidade da coação física e ao modo como a mesma artigo 9e do CPA.
é exercida e aplicada. Tendo em atenção tal proibição, o legislador entendeu consagrar um
conjunto privativo de algumas garantias procedimentais de imparcialidade
2.7. Os princípios da justiça e da razoabilidade que assegurasse, em concreto, de forma direta e imediata, a plena realização
A efetivação da justiça faz-se pela conjugação de diferentes princípios pro¬ deste importante princípio e pudesse corresponder ao previsto na parte
cedimentais, embora o CPA tenha entendido autonomizar este princípio, final do referido artigo, ou seja, “ (...) à preservação da isenção administrativa
conjugando-o agora com o da razoabilidade, em vez de o fazer com o da e à confiança nessa isenção” .
imparcialidade (como sucedia anteriormente) e, por isso, se exige que na
atua çã o dos órgãos da Administração Pública se deva atender a todos os 2.8.1. As garantias procedimentais de imparcialidade
interesses juridicamente relevantes para a boa decisão do processo. Nessa Tendo em linha de conta o que dissemos até agora, em matéria de princí¬
medida, o artigo 8B do CPA refere agora que pios procedimentais, em geral, e quanto ao princípio da imparcialidade,
em particular, importa assinalar que o CPA consagra algumas importantes
“ A Administração Pública deve tratar deforma justa todos aqueles que com garantias de imparcialidade, no âmbito dos procedimentos administrativos,
ela entrem em relação, e rejeitar as soluções manifestamente desrazoáveis ou dando assim execução prática à ideia de proibição de quaisquer favoritismos
incompatíveis com a ideia de Direito (...)” . ou de quaisquer discriminações arbitrárias e contrárias à lei. É, podemos
afirmar, um conjunto de garantias privativas que tutelam, especificamente,
Deste modo, o referido artigo 89 do Código impõe, claramente: ( z ) o princípio da imparcialidade.
tratamento justo e («) rejeiçã o de soluções manifestamente desrazoáveis Com base nesta ideia, veio ainda a proibir-se a decisão pelos órgãos
ou incompatíveis com a ideia de Direito (e de justiça). administrativos em matérias que lhes digam direta ou indiretamente
Pese embora tratarem-se de conceitos vagos e indeterminados mas que respeito e, bem assim, a um conjunto de pessoas que lhes estão próximas,
são concretizáveis, o legislador não deixa de dar pistas de molde a que, pelo designadamente por laços de família42.
menos por interpretação sisté mica, se perceba o sentido e o alcance dos Estas garantias procedimentais de imparcialidade são, atento o disposto
crité rios agora exigíveis para uma boa tomada de decisão administrativa. nos artigos 69Q e seguintes do CPA, essencialmente três:
Mas o que nunca pode acontecer é permitir que os tribunais possam exer ¬

cer a sua jurisdição sobre o mérito das decisões administrativas porque, - O impedimento;
por regra, a questão da razoabilidade seria de apreciação exclusiva pela
Administração Pública. A interpretação a fazer deste preceito deve ser 42
A propósito das fontes de relações jurídicas familiares, vide o disposto no artigo 1576s do
exigente, cautelosa e restritiva. í dicas familiares o casamento, o parentesco, a
Código Civil, que refere: “ São fontes das relações jur
afinidade e a adoção” .
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- A escusa; e “ Sob pena das sanções cominadas pelos n.os 1 e 3 do artigo 76 s, não pode
- A suspeição. haver lugar,no âmbito do procedimento administrativo, à prestação de serviços
de consultoria, ou outros, a favor do responsável pela respetiva direção ou de
Quanto aos casos de impedimento, estão taxativamente previstos no quaisquer sujeitos públicos da relação jurídica procedimental, por parte de en ¬

disposto no artigo 69a do CPA (correspondente ao anterior artigo 44a do tidades relativamente às quais se verifique qualquer das situações previstas no
CPA revogado) e, com esta garantia, existe uma proibição legis, direta e nsl ,ouque hajam prestado serviços, há menos de trêsanos, a qualquer dos sujeitos
imediata, de intervenção do titular em procedimento administrativo, em privados participantes na relação jurídica procedimental!’
ato ou em contrato de Direito Público ou Direito Privado, sob pena de
aplicação de sanções, nos termos do artigo 76a, n.os 1 a 3, do CPA. O n9 5 estipula, em sequência, um dever de comunicação imediata, por
O na 1do referido artigo 69a do Código é esclarecedor quando afirma que parte da entidade prestadora de serviços, ao responsável pela direção do
procedimento, quando ocorra, naquele âmbito, qualquer facto superve¬
“ (...) os titulares de órgãos da Administração Pública e os respetivos agentes, niente, cessando obrigatória e imediatamente a sua atividade.
bem como quaisquer outras entidades que, independentemente da sua natureza, O regime jur -
ídico procedimental do impedimento está consagrado nos
se encontrem no exercício de poderes públicos, não podem intervirem procedi¬ artigos subsequentes44, aí se prevendo a forma como se deve proceder para
mento administrativo ou em ato ou contrato de direito público ou privado da arguir e declarar esse impedimento e os efeitos das respetivas arguição e
Administração Pública, nos seguintes casos (...) declaração, quando estas ocorram.
Sucintamente, podemos afirmar que, quando se verifica uma qualquer
A proibição de intervenção dos titulares, designadamente, dos órgãos situação de impedimento, a questão deve ser imediatamente colocada ao
da Administração Pública, mas não apenas destes, nos casos ali previstos órgão competente para dela conhecer, nos termos do disposto no artigo
e enumerados43, importa reforçar, é direta e imediata. Se ocorrer a inter¬ 709, n.os 1 e 2 , do CPA (parcialmente correspondentes ao anterior artigo
venção do titular impedido no procedimento administrativo, o ato ou o 459, n91, do CPA revogado). Está, por isso, consagrado um dever expresso
contrato, por ele praticado ou em cuja deliberação haja intervindo, se for de comunicação. Existindo superior hierárquico, a comunicação deve ser-
membro de órgão colegial e este haja deliberado, são inválidos, atento o -lhe dirigida, mas se se tratar de um membro de órgão colegial, a questão
disposto no artigo 76s, n91, do CPA. deve ser apresentada ao presidente do órgão. Tratando-se de impedimento
O nfi 2 do mesmo artigo 699, nas suas tr ês alíneas, elenca as intervenções do próprio presidente e como caberá ao órgão colegial deliberar sobre o
relativamente às situações excecionais que, legalmente, são admissíveis. incidente sem a sua presença, naturalmente que a comunicação deve ser
Estas situações, por razões diversas, não colocam em crise a imparcialidade dirigida ao plenário do respetivo órgão, atento o disposto no artigo 709,
exigida, por se tratarem, por exemplo, de meras intervenções certificatórias n9 5, do CPA.
(cff. alínea a ) do referido n 2 2). Deve atender-se, ainda, ao consagrado no n9 2 do mesmo artigo 70a,
Por outro lado, importa assinalar a exigê ncia, agora prevista no n9 4 do que se refere às situações fora do âmbito da hierarquia administrativa ou
mesmo artigo, que impende sobre as entidades prestadoras de serviços no da de membros de órgãos colegiais. Assim, a referida norma estipula que
âmbito de procedimentos administrativos, de “ (...) juntar uma declaração a comunicação deverá ser efetuada junto de “ (...) quem tenha o poder de
de que se não encontram abrangidas pela previsão do número anterior\ dado que,
}

proceder à respetiva substituição (...)”.


atento o teor desse referido n9 3

As alíneas a ) a j) do na 1 do artigo 69a (correspondentes às antigas alíneas á) ag ) do nQ 1 do Vide o disposto nos artigos 70a a 72a do CPA (correspondentes aos anteriores artigos 45a a
43 44

artigo 44a do CPA revogado) estipulam estes casos. 47a do CPA revogado).
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Por outro lado, importa referir que “ (...) qualquer interessado pode reqimerer revogado). Assim, nos termos do disposto no n91, tratando-se de um órgão
a declaração do impedimento “ (...) até ser proferida a decisão definitiva ou singular, ressalvado o poder de avocação45 pelo órgão competente, e
praticado o ato de acordo com o previsto no n9 3 do mesmo artigo,
fundamentando o seu pedido e invocando “ (•••) as circunstâncias de facto “ Declarado o impedimento, é o impedido imediatamente substituído no
procedimento pelo respetivo suplente46 (...)”.
que constituam a sua causa” . Tratam-se aqui, evidentemente, de factos que
o Direito entende que são causa de impedimento legal.
Tratando-se, porém, de um membro de órgão colegial, este funciona
A decisão para conhecer e declarar o impedimento compete ao superior
nos termos do n9 2 do mesmo artigo, ou seja, sem o membro declarado
hierá rquico ou ao presidente do órgão colegial, “ (...) ouvindo, se considerar
impedido, se não existir ou não puder ser designado suplente.
necessário, o titular do órgão ou agente (...)” , atento o disposto no n2 4 do artigo
No caso de o titular impedido participar no procedimento (logo, em
709 do CPA.
incumprimento das garantias procedimentais de imparcialidade), os atos
A arguição do incidente de impedimento tem como efeito imediato a sus¬
administrativos praticados ou os contratos celebrados são anuláveis, nos
pensão do respetivo titular da intervenção no procedimento administrativo,
termos gerais, atento o disposto no artigo 769, n91, do CPA (correspon¬
conforme estipulado no nfi 1 do artigo 71® do Código, salvo determinação
dente ao anteriormente disposto no artigo 51s, n91, do CPA revogado) e
em contrário de quem tenha competência para proceder à substituição,
sobre o próprio titular poderá recair uma sanção subjetiva, como resulta
podendo, no entanto, praticar atos com carácter de urgência, de forma a do estipulado no ne 2 do mesmo artigo (correspondente ao anterior artigo
assegurar o interesse público, nos termos do disposto no n9 2 do mesmo
519, n2 2, do Código revogado), ou seja
artigo. Importa assim referir que sobre os eventuais impedidos recai um
dever de suspensão que, necessariamente, há de ser cumprido. A suspen¬ “ A omissão do dever de comunicação a que alude oneldo artigo 70 s constitui
são deve ocorrer aquando da comunicação feita pelo eventual impedido falta grave*7 para efeitos disciplinares!’
ou logo que este tenha conhecimento que o incidente (de impedimento)
tenha sido suscitado por qualquer interessado, de acordo com consagrado De todo o modo e neste âmbito do normativo sancionatório, importa fazer
no n 21 do mesmo artigo. Ainda assim, devem os eventuaisfuturos impedidos ainda referência ao disposto no nfi 3 do artigo 769 do CPA, que estipula que
tomar todas as medidas que, excecionalmente, cumpram os requisitos da
(t) inadiabilidade, desde que em casos de ( ií ) urgência ou de ( iii ) perigo. “ A prestação de serviços em violação do disposto nos n. 3 a 5 do artigo 69e

Estes atos serão, no entanto, posteriormente submetidos a ratificação, constitui o prestador no dever de indemnizara Administração Pública e terceiros
se e quando a substituição ocorrer, de acordo com o mesmo normativo. de boa-fé pelos danos resultantes da anulação do ato ou contrato
A ratificação é, como veremos, um ato administrativo secund á rio.
Importa referir que a suspensão de exercício de funções decorre até à ; Relativamente à escusa e à suspeição, os seus fundamentos estão regu ¬

decisão definitiva e final sobre o incidente do impedimento, ou seja, se o | lados no artigo 73® do CPA (correspondente ao anterior artigo 489 do CPA
mesmo for declarado, a suspensão converte-se em afastamento definitivo : revogado). Aqui, ao contrário do impedimento, não existe uma proibição
do procedimento, do ato ou do contrato, por parte do titular originaria- í direta e imediata de participação no procedimento administrativo.
mente competente, mas, ao invés, se a decisão for de não procedência do Ambas as figuras têm os mesmos fundamentos, contudo, no primeiro
impedimento, cessará imediatamente a suspensão e o titular reassume a caso, o pedido de escusa é formulado pelo próprio titular do órgão, com
;

totalidade dos seus poderes legais, no âmbito do procedimento adminis- base na ocorrência, designadamente, de alguma das situações previstas nas
1

trativo, do ato ou do contrato em concreto.


45
Traduz-se na faculdade de chamar a si a resolução do processo.
Por outro lado, temos os efeitos da declaração do impedimento previstos j 46
Anteriormente, fazia-se referê ncia ao substituto legal.
no artigo 72- do Código (correspondente ao anterior artigo 47® do Código ! 47
Sublinhado nosso.
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diferentes alíneas do ns 1do referido artigo, de modo que se pode suspeitar, e 50® do Código) e seguem, com as necessá rias adaptações, as regras que
em termos de imparcialidade , de isenção ou de retidão de conduta da sua já vimos anteriormente e que se aplicam na situa ção do impedimento.
interven ção no procedimento administrativo. Para que o pedido proceda, Aliás, nalguns casos, o regime é, até, diretamente remissivo, como acontece,
é necessá rio a verificação do requisito substantivo previsto no corpo do por exemplo, com o disposto no artigo 75®, n.os 1 e 3, do CPA.
n ® 1do artigo 73® do CPA, que “ (...) ocorra circunstância pela qual se possa com Decorre do regime jurídico agora em vigor que o pedido há de ser apre¬
razoabilidade duvidar da imparcialidade da sua conduta ou decisão (...)” e que, sentado, de acordo com o estipulado no artigo 74®, n ® 1, do CPA, à entidade
nomeadamente, se preencha o conte údo normativo de alguma das alíneas competente para dele conhecer e que o mesmo deve inequivocamente
do referido n ® 1 (que são, como vimos, meramente ilustrativas, porque indicar, de forma expressa e com precisão, as razões que fundamentam o
podem existir outros exemplos que coloquem em causa a imparcialidade incidente da escusa ou da suspeição. O pedido de escusa, e apenas este,
que estas garantias tutelam de forma direta e imediata e que aqui não não tem de ser reduzido a escrito, como decorre do n ® 2 do mesmo artigo, a
estejam expressamente referidas). Assim, a disposição prevista no n ® 1 menos que seja determinado pela entidade competente. No entanto, se se
consagra o pressuposto primário que se há de verificar ou seja, o elemento tratar de suspeiçã o deduzida por interessado, deve a mesma ser reduzida
factual substantivo que se traduz na tal circunstância que pode ocorrer e a escrito, nos termos gerais, e ser promovida, pelo órgão competente, a
que permite instalar-se uma d úvida razoável sobre a isenção da conduta audição do titular do órgão ou do agente visado, atento o previsto no n® 3
da estrutura interveniente. Os pressupostos secundá rios adjetivam e com¬ do referido artigo 74® do Código.
plementam aquele pressuposto e estão elencados, como se disse já, nas Importa, ainda, assinalar que o CPA impõe o prazo de oito dias para
diferentes alíneas, que assumem uma natureza meramente exemplifica- ser proferida decisão final sobre o incidente, conforme disposto no seu
tiva. Se verificarmos, o corpo do n® 1 do artigo 69® do CPA refere, literal e artigo 75®, n ® 2.
taxativamente, “ (...) não podem intervir ( ...) nos seguintes casos (...) ” , enquanto No que respeita ao teor do disposto no artigo 76® do CPA, falta, por
que o corpo do artigo 73® do Código adota uma formulação radicalmente fim, fazer referê ncia ao estipulado no n ® 4. Aí se prevê que
distinta, quando afirma que “ (...) devem pedir dispensa (...) designadamente
(...) ” nos casos logo a seguir elencados. “ A falta ou decisão negativa sobre a dedução da suspeição não prejudica a
Quanto ao segundo caso, o da suspeição, os fundamentos são os mes ¬
invocação da anulabilidade dos atos praticados ou dos contratos celebrados,
mos que estão previstos no já referido artigo 73®, n ® 1, do CPA48, mas a quando do conjunto das circunstâncias do caso concreto resulte a razoabilidade
distinção com a figura anterior faz-se pelo facto de a suspeição ser oposta de dúvida séria sobre a imparcialidade da atuação do órgão, revelada na direção
ou deduzida pelo particular, atento o teor do artigo 73®, n® 2, do CPA, do procedimento, na prática de atos preparatórios relevantes para o sentido da
enquanto que o pedido de escusa é apresentado, como verificá mos, pelos decisão ou na própria tomada da decisão.”
próprios titulares de órgãos da Administração Pública e respetivos agentes,
bem como quaisquer outras entidades que, independentemente da sua Aliás, a possibilidade aqui atribuída de invocação de eventual anulabi ¬

natureza, se encontrem no exercício de poderes públicos, de acordo com lidade dos atos praticados, mesmo tendo havido ausência de dedução de
o disposto no n® 1 do mesmo artigo. suspeição ou quando a mesma haja sido oposta mas tenha sido proferida
O regime jur ídico (designadamente, as formalidades do pedido e da decisão de rejeição, parece decorrer do regime geral e aquela invalidade,
decisão final sobre a escusa ou a suspeição) constam agora do disposto a existir, há de ser necessariamente demonstrada e provada.
nos artigos 74® e 75® do CPA (correspondentes aos anteriores artigos 49® Importa, igualmente, fazer referê ncia ao facto de poder acontecer
que o impedimento seja do titular, último superior hierá rquico de uma
determinada estrutura administrativa e, nesse caso, devemos atender às
48
Este é, como vimos, um preceito aberto e exemplificativo, podendo ocorrer outras situa ¬
regras gerais da organização administrativa e, designadamente, aos poderes
ções que permitam fundamentar a escusa ou a suspeição.
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organizatórios do governo, enquanto órgão superior da Administração exigida. Esta cooperação deve ir para além ( í) da prestação das informações
Pública ou, quando disso for caso, aos mecanismos de substituição que e esclarecimentos aos particulares e fomentar («) o apoio e estímulo às
podem ocorrer dentro do próprio executivo e que decorrem, quer gene¬ suas iniciativas e ( iii ) a receção das suas sugestões e informações, atento
ricamente da CRP quer especificamente de cada lei orgânica do governo. o disposto no artigo ll2, n 21, do CPA.
De notar que, conforme disposto no artigo ll2, n2 2, do Código51, os órgãos
Agora que analisá mos o conjunto privativo das garantias que tutelam, da Administração Pública são responsáveis pelas informações prestadas
de forma direta e imediata, o princípio da imparcialidade, voltemos a estu ¬
por escrito aos particulares, ainda que não obrigatórias.
dar os restantes princípios gerais que regulam a atividade administrativa.
2.11. O princípio da participação
2.9. O princípio da boa-fé O princípio da participação está intimamente relacionado com o princípio
Este princípio49, estabelecido agora no artigo 102 do novo CPA (e corres¬ anteriormente estudado e ambos se baseiam no estruturante princípio
pondente ao anteriormente previsto no artigo 62-A do CPA), é estruturante democrático, que enforma a Constituiçã o administrativa portuguesa.
de toda a ordem jur ídica portuguesa e pode mesmo considerar-se um Tem previsão no disposto no artigo 12a do CPA (correspondente ao antigo
princípio geral de Direito. Deve conjugar-se, entre outras, com a exigência artigo 82 do CPA revogado).
que determina que a Administração Pública proceda a um rápido e eficaz Podemos considerá-lo, como vimos, um corolá rio e, ao mesmo tempo,
andamento do procedimento, promovendo tudo o quefor necessário ao seguimento uma manifestação do princípio democrático e do princípio da intervenção,
do procedimento e à justa e oportuna decisão , e que impõe aos interessados um caracterizadores da cidadania ativa e participativa. O direito de participação
dever de colaboração para o conveniente esclarecimento dos factos e a descoberta pode ser, ainda, invocado por associações na defesa de interesses próprios
da verdade. ou na defesa de interesses difusos da coletividade.
A atuação das estruturas da Administração Pública deve pautar-se por Por força deste princípio, vamos encontrar diversas manifestações de
crité rios de confiança, de lealdade e de veracidade, e as relações jurídicas participação nos procedimentos administrativos, por parte dos particula ¬

estabelecidas devem assentar na boa-fé mútua, de modo a assegurar, nos res, de interessados e, até, de associações de defesa de interesses coletivos
termos do estipulado no ns 2 do artigo 10s do CPA, “ (...) a confiança susci¬ ou difusos.
tada na contrapartepela atuação em causa e o objetivo a alcançar com a atuação Nalguns casos, o CPA prevê a obrigatoriedade de a Administração
empreendida” . Pública solicitar as participação ou intervenção no procedimento adminis ¬

trativo. São exemplos de manifestações da obrigatoriedade da participação


2.10. O princípio da colaboração (da Administração Pública ) com a exigência de audiência dos interessados (cfr. artigos 1212 e seguintes do
os particulares CPA) e de audição pública (cfr. artigos 1002 e 1012 do CPA) no processo
Previsto, atualmente, no artigo ll2 do CPA (correspondente ao anterior de formação dos atos e regulamentos administrativos, respetivamente.
artigo 72 do CPA revogado), este princípio50 está intimamente relacionado Nestes casos, podem os particulares dizer o que se oferecer sobre futuras
com o da participação dos particulares e obriga a um estreita colaboração decisões administrativas.
com todos os administrados. Exige-se que os órgãos e os serviços públicos É de tal modo importante para o legislador a participação dos admi ¬

atuem em estreita cooperaçã o com os diferentes intervenientes procedi¬ nistrados que a não verificação daquelas exigências legalmente impostas
mentais e que lhes prestem, designadamente, aos particulares, a colaboração acarreta, muitas vezes, a invalidade formal das decisões tomadas.

49
Também previsto na Carta Ética - Dez Princípios Éticos da Administração Pública.
50
Também constante da Carta Ética - Dez Princípios Éticos da Administração Pública . SI
Correspondente ao anterior artigo 7 - , nQ 2, do CPA revogado.
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2.12. O princípio da decisão “ (...) podem decidir sobre coisa diferente ou mais ampla do que a pedida,
O artigo 13® do CPA (correspondente ao antigo artigo 9® do CPA revo- i quando o interesse público assim o exija”
gado) diz-nos quando existe dever legal de decisão, ou seja, quando é que j
as diferentes estruturas administrativas estão juridicamente vinculadas à Isto permite que a Administração Pública não fique sujeita ao pedido, o
resolução dos assuntos que lhes são apresentados. A regra geral prevê que que significa que quando o interesse público o impuser pode ir para além
daquilo que é solicitado pelos interessados sem que estes se possam opor
“ Os órgãos da Administração Pública têm o dever de se pronunciar sobre todos ao alargamento do que foi fixado no pedido ou a uma decisão diferente
os assuntos da sua competência que lhes sejam apresentados daquela que havia sido requerida. Pese embora esta possibilidade apenas
poder ocorrer verificado o requisito substantivo da exigência do interesse
O mesmo artigo, cujo n ® 1 é meramente exemplificativo, vem referir, no público, não deixa de permitir uma larga margem de liberdade aos titulares
n úmero seguinte, as situações em que, verificando-se os pressupostos aí de poderes públicos decisórios.
previstos, inexiste o referido dever jurídico de decisão. Assim, nos termos
do disposto no n® 2 do mesmo artigo 2.12.1. O ato tácito
“ Não existe o dever de decisão quando, há menos de dois anos, contados da da
Genericamente, o ato tácito52 resulta do silêncio da Administração Pública,
data da apresentação do requerimento, o órgão competente tenha praticado um sua omissão e da não resposta a um pedido de um particular, mesmo
ato administrativo sobre o mesmo pedido,formulado pelo mesmo particular com que um ato haja sido emitido e não tenha existido notificação.
os mesmosfundamentos.” O CPA prevê o enquadramento do ato tácito no âmbito da decisão e
das causas de extinção do procedimento do ato administrativo (Secção V
Ou seja, a delimitação do dever jurídico de decisão que decorre do - Da decisão e outras causas de extinção do procedimento do Capítulo II - Proce ¬

princípio agora estudado faz-se por via positiva, como resulta do estipu¬ dimento do ato administrativo do Título II - Procedimento do regulamento e do
lado no n® 1 e, por via negativa, como decorre do que se consagra no n ® 2. i ato administrativo da Parte III - Do procedimento administrativo). Esta secção
Assim, podemos concluir que, regra geral, os órgãos da Administração tem o seu conteúdo previsto nos artigos 126 a 133 do CPA.
® ®

Pública devem decidir ou deliberar (se se tratar de órgãos colegiais) sobre| Não parece totalmente errado o entendimento que alguns autores têm
todos os assuntos relativamente aos quais sejam competentes. No entanto, II de que o silêncio é um meio ou uma forma alternativos de prossecução da
como decorre do normativo em vigor, o órgão pode ser competente mas J atividade administrativa, ainda que com algumas reservas e não menos
não ter dever legal e procedimental de decidir, atento o disposto no n® 21 particularidades. Para facilidade de compreensão da figura, vamos estudá-
do artigo 13® do CPA. -
la a propósito do princípio da decisão.
Parece correto que assim seja, a fim de se não causarem estrangulamentos ! Historicamente, a figura do ato tácito surge para evitar a ausência de
desnecessários nos serviços, com requerimentos que os vinculariam a dar controlo dos silêncios e das inércias das estruturas da Administração Pública,
m últiplas e sucessivas respostas aos mesmos pedidos, elaborados nos mes¬
mos termos, com os mesmos fundamentos e fundados na mesma legislação, 52 Muito sucintamente, podemos referir que existem várias
correntes explicativas da natu ¬
gerando-se um verdadeiro ciclo vicioso que obstaria ao regular, saudável reza jurídica do ato tácito, nomeadamente, defendidas por Marcello Caetano (que, em sín¬
e racional exercício da atividade dos diferentes órgãos administrativos. tese, refere que o ato tácito é como outro qualquer ato), por André Gon çalves Pereira (que
Importa ainda referir, neste âmbito, que os órgãos da Administração defende a posição de que o ato tácito é um mero pressuposto do recurso contencioso), por
Pública, de acordo com o agora estipulado no artigo 13®, n® 3, do CPA, não Diogo Freitas do Amaral (para quem o ato tácito é uma ficção legal de ato administrativo) e
por Paulo Otero (que afirma ser um ato criado por lei mas imputado por ela à Administra ¬
estão vinculados ao pedido e, desta forma, ção, independentemente de ser de deferimento ou de indeferimento . Outros
) autores tra
¬

tam aprofundadamente desta temá tica.


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ou seja, tem por finalidade, entre outras, a de impedir que a Administração a 2 de agosto de 2014 (e o “ senhor A” recebe um recibo de entrega com
encontre no silê ncio uma forma de evitar ser fiscalizada, designadamente , a data de entrada do seu requerimento). Se passassem 90 dias, atento
pelos tribunais. o disposto no então artigo 108®, n.os 2 e 3, alínea £), do CPA revogado,
Contudo, segundo alguma doutrina, a Administração Pública encontrou sem que houvesse obtido uma resposta expressa do reitor, o “ senhor A”
já no silê ncio, como se disse, uma forma de prosseguir a sua atividade. Seria poderia considerar que a autorização lhe havia sido concedida desde
assim sempre que o ato tácito tivesse os mesmos efeitos que resultariam que respeitados todos os restantes requisitos legalmente exigidos e os
da vinculação de uma decisão administrativa expressa, isto é, se a lei de¬ pressupostos cumulativos do ato tácito.
terminasse, naquelas circunstâ ncias, o sentido e o teor do ato, e o mesmo Pergunta-se: mas como se provava a existência de algo que inexiste
fosse tacitamente proferido. de facto? Através da data de entrada do requerimento apresentado,
Atualmente, o CPA faz apenas referência ao ato tácito de deferimento. passados que fossem os 90 dias, e desde que, como se disse, todos os
De notar que, na vigência do anterior CPA, agora revogado, existiam dois pressupostos do ato tácito se verificassem.
ídico-administrativa:
tipos de atos tácitos que advinham da nossa tradição jur
Podemos afirmar que o silêncio tem hoje efeitos neutros, dado que
- O ato tácito de indeferimento53, que traduzia uma presunção de indeferi ¬
não tem, regra geral, efeitos negativos (como era regra no passado) e,
mento da pretensã o do particular. Aqui, o silê ncio era interpretado como para ter efeitos positivos, é necessário expressa disposição legal nesse
tendo efeitos negativos de indeferimento, ou seja, o particular requeria sentido.
algo à Administração Pública e no silêncio desta, verificados os restantes Deste modo, hoje o legislador consagra apenas a figura do deferimento
requisitos cumulativos, tudo se passava como se a sua pretensão tivesse tácito, dado que a figura do indeferimento tácito foi, para alguns, perdendo
sido recusada, podendo assim abrir-se a via contenciosa e recorrer-se aos relevâ ncia em virtude da possibilidade de os tribunais administrativos
tribunais administrativos para impugnar esta decisão; e poderem ser chamados a condenar a Administração Pública à prática do
ato ilegalmente omitido. Ou seja, o efeito que se pretendia obter com a
-O ato tácito de deferimento54, que neste caso traduzia a presunção de autonomização do indeferimento tácito e que, durante anos, foi de grande
deferimento da pretensão do particular. Ao contrá rio do ato tácito nega ¬
relevância jurídica, consegue agora alcançar-se seguindo as regras do
tivo ou de indeferimento, aqui o silê ncio teria efeitos positivos, tudo se contencioso administrativo, que prevê um meio jurisdicional ao dispor
passando como se do ó rgão da Administração P ública emanasse uma dos lesados a fim de estes poderem ver satisfeitos os seus direitos, que
resposta positiva ao administrado. podem passar pelo exercício, pleno e vinculado, do dever legal de decisão.
Aliás, isto mesmo resulta, expressamente, do disposto no artigo 129s do
Vejamos um exemplo: CPA, que mais adiante teremos oportunidade de aprofundar.
O “ senhor A” , professor universitá rio, pretendia acumular fun ¬ Importa, no entanto, assinalar que o deferimento tácito pode não resul¬
tar diretamente do silêncio decisório da administração mas antes da ausê ncia
ções públicas com funções privadas e apresentava um requerimento
de notificação da decisão final, como decorre do disposto no artigo 130®,
ao reitor da sua Universidade (órgão com competência para decidir
n® 1, do CPA, e, portanto, de um silêncio notificador.
na matéria) , nos termos da lei, a solicitar autorização para a referida
São vá rios os pressupostos legais para verificação do ato t ácito de
acumulação. O respetivo requerimento dá entrada no serviço respetivo
deferimento. Estes requisitos de verificação cumulativa ou simultânea
estão previstos, de forma genérica, no disposto no artigo 130® do CPA
53
O ato tácito de indeferimento era, aliás, a regra geral no nosso Direito Administrativo. (correspondente aos anteriores artigos 108® e 109® do CPA revogado), e
54
O anterior CPA alargou os casos de deferimento tácito. A este propósito, cfr. o disposto no
são os seguintes:
artigo 108- do CPA revogado.
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- Apresentação de um requerimento com pedido para a prática de ato comunicação, os modelos de f -govemo e de ^-administração impõem novas
administrativo que defina a situação jur ídica do particular; formas de atuação e de relacionamento com os interessados e das próprias
- Que esse requerimento tempestivo seja dirigido ao órgão competente; estruturas administrativas.
- Existir por parte do referido órgão o dever legal de decisão, cuja regra O artigo 14- do CPA impõe agora, no seu nQ 1, a obrigação de utilização
geral está prevista no artigo 13 do CPA (a ausência de notificação da
Q de meios eletrónicos no desempenho da atividade regular dos órgãos e
decisão final pode decorrer do facto de o órgão não ter de emitir, nos .
serviços da Administração Pública, com o objetivo de “ (.. ) promover a efi ¬

termos legais, qualquer ato); .


ciência e a transparência administrativas e a proximidade com os interessados ( ..) ” .
- Ausência de notificação da decisão final sobre a pretensão apresentada O legislador é cuidadoso ao estipular, no ne 3 do já referido artigo 14s
ou necessidade de não expedição da notificação até ao primeiro dia útil do CPA, que a utilização de meios digitais e eletrónicos está sujeita ao
seguinte ao termo do prazo da decisão (aqui se pode verificar que a conjunto amplo e diversificado de limites e de garantias previsto na CRP
decisão pode até ter sido tomada mas dela não foi dado conhecimento e na lei, designadamente no próprio Código.
ao interessado); e Na economia do artigo em análise, importa ainda destacar o disposto
- A lei ou regulamento atribuírem o significado de deferimento tácito no seu nQ 4, que refere que
e
ao silê ncio55, como decorre da parte inicial do nQ 1 do artigo 130 do
Código.
“ Os serviços administrativos devem disponibilizar meios eletrónicos de rela ¬

cionamento com a Administração Pública e divulgá-los de forma adequada,


de modo a que os interessados os possam utilizar no exercício dos seus direitos e
O CPA dá agora relevâ ncia à notificação da decisão (e não à própria interesses legalmente protegidos, designadamente para formular as suas preten ¬

decisão administrativa) para efeitos de deferimento t ácito, dado que sões, obter eprestar informações, realizar consultas, apresentar alegações,efetuar
os órgãos da Administração Pública poderiam encontrar uma forma de pagamentos e impugnar atos administrativos”
ultrapassar a lei; o órgão competente poderia praticar o ato mas este não
ser notificado, e o particular não conheceria o seu teor, pelo que o mesmo Importa, no entanto, atender ao cuidado com o que legislador trata
poderia não ganhar eficácia jurídica. desta questão do uso de meios eletrónicos, até pela elevada taxa de iliteracia
Importa, ainda, referir que o prazo legal para produção do deferimento digital que existe no País. E, por isso, conforme disposto no ne 5
tácito se suspende quando o procedimento, por causa imputável ao interes
¬

sado, estiver parado e apenas se interrompe com a notificação da decisão “ Os interessados têm direito à igualdade no acesso aos serviços da Adminis ¬

expressa, atento o disposto no artigo 1305, nfi 3, do CPA. tração, não podendo,em caso algum, o uso de meios eletrónicos implicar restrições
Em conclusão, podemos também verificar que não existe, como no ou discriminações não previstas para os que se relacionem com a Administração
passado, um elenco previsto no CPA de casos de atos de deferimento por meios não eletrónicos”
tácito - o que, a nosso ver, é de algum modo um retrocesso garantístico
dos particulares. Ora, embora se salvaguardem os direitos de todos os cidadãos, on56
permite que sejam adotadas “ (...) medidas de diferenciação positiva para a
2.13. Os princípios aplicáveis à administração eletrónica utilização, pelos interessados, de meios eletrónicos no relacionamento com a Admi ¬

O novo CPA não poderia ignorar os avanços tecnológicos, sobretudo nistração Pública (...)” . Parece que é o que ocorre, por exemplo,
em maté ria eletrónica. As novas tecnologias digitais de informação e de
“Aquando da entrega, por via eletrónica, das declarações relativas
ao Imposto sobre o Rendimento de Pessoa Singular (IRS) que possi¬
Importa referir que o CPA remete, agora, para leis especiais que, em concreto, particulari bilita que os contribuintes, quando for caso disso, venham a receber
¬
5S

zem o regime geral e os pressupostos do ato tácito, elencando as situações de deferimento.


CURSO SOBRE O NOVO C Ó DIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO PALESTRA SOBRE PRINC ÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ADMINISTRATIVA

mais cedo o valor a devolver pelo Estado, se tiver sido pago, durante o causados. Importa referir que existe legislação própria que regula os casos
exercício anual, um valor superior àquele que foi considerado devido deste tipo de responsabilidade57.
na liquidação e no encontro de contras feito entre particular e Adminis¬
tração Tributá ria” . 2.16. O princípio da administração aberta
O CPA consagra agora, no seu artigo 17Q, o princípio da administra ção
2.14. O princí pio da gratuitidade aberta junto do elenco dos princípios gerais da atividade administrativa.
O procedimento administrativo deixa de ser, por regra, gratuito, como Anteriormente, o teor deste princípio com idêntica formulação constava
resultava do disposto no artigo 11Q do CPA revogado, para passar a ser, do antigo artigo 659 do CPA revogado, ou seja, fora da sistemá tica dos
regra geral, “ tendencialmente gratuito” , aliás, como consta agora do disposto princípios gerais e no â mbito do então Capítulo II - Do Direito à Informação
no artigo 159, n91, primeira parte, do novo CPA. da Parte III - Do Procedimento Administrativo. O legislador faz, portanto,
No entanto, este diploma legal56, como lei geral que é, possibilita que um acerto à localização do princípio que permite o livre acesso, nos ter¬
outras leis especiais prevejam “ (...) o pagamento de taxas por despesas, encargos mos de legislação própria, aos arquivos e aos registos administrativos.
ou outros custos suportados (...)” pelas Administrações Públicas. De qualquer Não se trata, pois, como se diz no preâ mbulo do decreto-lei que aprova
forma, o n9 2 do mesmo artigo prevê a possibilidade de as entidades parti¬ o novo CPA, de um novo princípio que haja agora sido introduzido pelo
culares não disporem dos meios económicos suficientes para fazerem face legislador.
ao pagamento de tais taxas ou despesas, pelo que concede à Administração Relativamente a esta matéria, importa assinalar a existência, em Por¬
Pública a faculdade de isentar desses mesmos pagamentos todos os que tugal, de uma Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA),
demonstrarem, nos termos da lei sobre o apoio judiciário, dificuldades entidade pública independente que funciona junto da Assembleia da
económicas. Importa referir que tal isenção pode ser total ou parcial, de República e que tem como fim zelar, nos termos da lei, pelo cumprimento
acordo com o estipulado no n9 2 do mesmo normativo, e que, atento ainda das disposições legais referentes ao acesso à informação administrativa.
o disposto no n9 3, a insuficiência económica deve ser demonstrada, nos Importa, no entanto, referir que o princípio da administração aberta
termos gerais e com as necessá rias adaptações, de acordo com a legislação garante “ (...) o direito de acesso aos arquivos e registos administrativos, mesmo
em vigor relativa, como se disse, ao apoio judiciário. quando nenhum procedimento que lhes diga diretamente respeito esteja em curso
(...)” , nos termos da legislação própria que regula a matéria (n9 2) e de
2.15. O princípio da responsabilidade acordo com os limites estipulados no ne 1 do citado artigo 17s do CPA58.
O novo CPA vem agora consagrar o princípio da responsabilidade no artigo
169 do CPA. Trata-se de autonomizar em princípio geral algo que resulta 2.17. O princípio da proteção dos dados pessoais
já da Constituição e da lei e, por isso,“ a Administração Pública responde, nos O CPA prevê agora, no seu artigo 189, o princípio da proteção dos dados
termos da lei, pelos danos causados no exercício da sua atividade” . pessoais, que é igualmente regulada por legislação própria59.
Ora, das ações ou das omissões da Administração P ública podem
emergir diferentes tipos de responsabilidades, consoante a natureza dos
danos causados e das infrações eventualmente cometidas. A responsabili ¬
57
Vide o disposto na Lei ns 67/2007, de 31 de dezembro, alterada pela Lei n° 31/2008, de 17
dade pode ser apurada, por exemplo, em termos cíveis e, portanto, poder de julho, que aprovou o regime da responsabilidade civil extracontratual do Estado e demais enti¬
dar origem e determinar o pagamento de uma indemnização por danos dades públicas.
M
-
Deve atender se ao disposto na Lei ns 46/2007, de 24 de agosto, que regula o acesso aos
documentos administrativos e a sua reutilização.
S!
Vide, por todos, o disposto na Lei n" 67/98, de 26 de outubro, relativa à proteção de dados
S6 O novo CPA. pessoais.
PALESTRA SOBRE PRINC Í PIOS GERAIS DA ATIVIDADE ADMINISTRATIVA
CURSO SOBRE O NOVO CÓDIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
c) Diga quais são as garantias procedimentais de imparcialidade;
Importa assinalar a existência, em Portugal, de uma Comissão Nacional de
Proteção de Dados (CNPD). A CNPD é uma entidade administrativa inde
¬ ã) Distinga impedimento, escusa e suspeição;
e) Diga quais são os pressupostos de verificação de um ato tácito;
pendente com poderes de autoridade que funciona junto da Assembleia f) Diga em que se traduz o princípio da responsabilidade; e
da Rep ública. Nos termos da lei, dispõe de atribuições gené ricas de con
¬

g) Refira-se aos princípios da administração aberta e da proteção dos


trolo ou de fiscalização do processamento de dados pessoais, em rigoroso
dados pessoais.
respeito pelos direitos humanos e pelos direitos, liberdades e garantias
consagrados na CRP e na lei.
Em Portugal, a CNPD é a Autoridade Nacional de Controlo de Dados
Pessoais. Neste âmbito, coopera com as autoridades de controlo de proteção
de dados de outros Estados, nomeadamente, na defesa e no exercício dos
direitos de pessoas residentes no estrangeiro.

2.18. O princípio da cooperação leal com a União Europeia


Por fim, o CPA consagra, no seu artigo 19 , o princípio da cooperação leal
®

com a União Europeia, que se traduz no seguinte:


ção
“ 1 - Sempre que o direito da União Europeia imponha à Administra ,
Pública a obrigação de prestar informações, apresentar propostas ou de por
alguma outra forma,colaborar com a Administração Pública de outros Estados-
-membros, essa obrigação deve ser cumprida no prazo para tal estabelecido.
2 - Na ausência de prazo específico,a obrigação referida no número anterior
é cumprida no quadro da cooperação leal que deve existir entre a Administração
Pública e a União Europeia.”

2.19. Recomendação
O estudante deve, neste momento, conhecer os diferentes princípios gerais
que vinculam a atividade das Administrações Públicas e que se encontram
previstos na Constituição da República Portuguesa , no Código do Procedimento
Administrativo e na Carta Ética da Administração Pública. Deve, ainda, ter
um pleno conhecimento sobre as garantias de imparcialidade previstas
no CPA e sobre a figura do ato tácito.

2.20. Exercício formativo


a ) Diga quais são, na sua opinião, os princípios mais importantes
que o legislador previu para regulação do procedimento adminis¬
trativo;
b ) Dê exemplos de manifestações do princípio da participação;
3. Palestra sobre os órgãos da Administração Pú blica

SUMáRIO:
Dos órgãos administrativos: natureza e regime. Dos ó rgãos colegiais. Da compe¬
tência. Das suplência e substituição. Da delegação de poderes. Dos conflitos de
atribuições e de competências. Recomendação. Exercício formativo.

3.1. Dos órgãos administrativos: natureza e regime


Entramos agora no estudo da Parte II do novo CPA, relativa aos órgãos da
Administração Pública60 61 62.

“ Existem diferentes classificações de ó rgãos administrativos, os quais podem ser, entre


outros: órgãos singulares e coletivos; órgãos centrais, regionais e locais; órgãos primários,
-
secundá rios e vicários; órgãos representativos e n ão representativos; órgãos ativos, consulti¬
vos e de controlo; órgãos temporários e permanentes; órgãos simples e complexos; e órgã os
com autonomia administrativa e financeira.
61
Podem ser vá rias as funções dos órgãos administrativos, designadamente: funções prepara ¬
tórias, executó rias ou auxiliadoras.
62
São vá rios os sujeitos que intervêm no procedimento administrativo e que estabelecem
relações jurídico- procedimentais. Destes, podemos salientar, por um lado, as estruturas
da Administração Pública e as entidades ou órgãos referidos no artigo 2- do CPA que não
integram a Administração Pública e, por outro lado, os interessados (os particulares ou ou¬
tros sujeitos) que pretendem ver realizadas as suas pretensões. Evidentemente que o con ¬
ceito de sujeito aqui utilizado não tem plena coincidência com o conceito técnico- jur ídico.
Desde logo, porque os órgãos da Administração Pública n ão têm personalidade jurídica e
integram-se em pessoas coletivas, estas sim dotadas da suscetibilidade de serem titulares de
direitos e de obrigações e, portanto, verdadeiros sujeitos de Direito.
PALESTRA SOBRE OS Ó RG Ã OS DA ADMINISTRA ÇÃ O P Ú BLICA
CURSO SOBRE 0 NOTO C Ó DIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

A Administração Pública portuguesa é constituída, grosso modo, por A Administração Pública das Regiões Autónomas tem no Governo Regio ¬

pessoas coletivas de Direito Público. Como entidades jurídicas que são, nal o seu órgão de direção superior. Por outro lado, existem autoridades
estas dispõem dc personalidade jur ídica63 e, pela sua natureza, integram administrativas independentes que não têm dependência hierárquica do
um conjunto de estruturas que são, designadamente, os órgãos e os ser
¬ Governo e, logo, integram a Administração independente do Estado, hoje
viços administrativos.
com expressa referência no artigo 2e, ne 3, alínea c), do CPA.
O artigo 199®, alínea d) , da CRP estipula que “ compete ao Governo, no A Administração Pública portuguesa pode, ainda, organizar-se tendo
em conta critérios territoriais. Assim, surgem as Administrações central,
exercício de funções administrativas (...) dirigir os serviços e a atividade da admi¬
regional e local.
nistração direta do Estado, civil e militar, superintender na administração indireta e
Em conclusão e de forma genérica, podemos verificar que o conceito de
exercer a tutela sobre esta e sobre a administração autónoma (...)”. Daqui resulta,
Administração Pública corresponde, hoje e cada vez mais, a uma realidade
atentos os poderes organizatórios administrativos adstritos ao executivo,
muito complexa e multidimensional.
um critério que ajuda a presidir à organização da Administração Pública Por outro lado, são várias as definições doutrinais e os critérios utilizados
portuguesa, dele emeigindo os conceitos de Administração direta do Estado, para encontrar um conceito de órgão da Administração Pública. Como
Administração indireta do Estado, Administração autónoma do Estado e,
realidade institucional, é um centro organizado de competê ncias ou de
por decorrência sistémica, Administração independente do Estado. poderes e de vinculações com capacidade para expressar uma vontade
Sobre o primeiro tipo, o Governo exerce poder de direção; sobre a juridicamente imputável à pessoa coletiva da qual faz parte. Para o CPA,
Administração indireta exerce poder de superintendê ncia; sobre a Admi¬ no seu artigo 20®, n® 1, são órgãos administrativos
nistração autónoma do Estado pode usar poderes de tutela e perante a
64

Administração independente não exercerá qualquer um destes três poderes. “ (...) os centros institucionalizados titulares de poderes e deveres para efeitos
Integram a Administração direta do Estado, por exemplo, os ministé rios, da prática de atos jurídicos imputáveis à pessoa coletiva” .
que são a forma ít pica de organização dos serviços do Estado, e as estru¬
turas neles integradas. Os institutos públicos integram a Administração Deste modo, é este o conceito legal de órgão que vigora na ordem jurídica
indireta do Estado e as autarquias locais a Administração autónoma. portuguesa. Mais uma vez, o legislador aproveita o conte údo substantivo de
65

uma norma para estabelecer uma definição concetual vestibular que era, há
muito, adotada, quase genericamente, pela doutrina publicista portuguesa.
63
Conceito jur ídico qualitativo (ou se tem ou não se tem) que traduz a suscetibilidade de se Existem muitas e variadas tipologias e classificações para os órgãos da
ser titular de direitos e de obrigações.
64
Por exemplo, as associações de municípios, sobre as quais o Governo apenas exerce poder Administração Pública, que variam consoante os critérios adotados na
de tutela, nos termos da lei. Embora de base associativa, estas pessoas coletivas de Direito distinção. Contudo, importa assinalar que o disposto no artigo 20®, n® 2,
Público não deixam de assentar, em termos jur ídicos, ainda que indiretamente, numa base do CPA, faz referência, por um lado, a órgãos singulares ou colegiais e, por
territorial populacional
e , com a vantagem de , junto destas associações, não existir nenhum outro lado, a órgãos permanentes ou temporá rios. A primeira distin ção
representante do Governo, ao contrário do que sucederá aquando da instituição em
con¬
® da CRP . decorre de serem compostos por um ú nico titular, quando singulares, ou
creto das regiões administrativas, nos termos do disposto no artigo 262
65 Em Portugal, são autarquias locais, nos termos constitucionais, as freguesias, os municí¬ por vários membros, quando colegiais ou coletivos. No segundo caso, a
pios e as regiões administrativas (estas últimas ainda não instituídas em concreto)
. Em ter¬ natureza do órgão depende da sua permanência no tempo. Por exemplo, um
, supramunicipais , sã o verdadeiras
mos reais, as regiões administrativas sendo autarquias júri de um procedimento concursal público é um órgão colegial temporário.
associações de municípios, com afinidades econ ó micas, culturais e sociais para a
resolução
nossas popula çõ es são muito ciosas das suas Por outro lado, importa referir que o disposto no artigo 20®, n ® 3, do
de problemas comuns. Importa assinalar que as
, quer mesmo distritais. O distrito, que continua a existir, está CPA, possibilita a adoção de um regimento por cada órgão colegial de
autonomias quer municipais
personalizado quase como “ autarquia” e é uma realidade difícil de esquecer e de substituir .
acordo com “ ( ..) as normas legais e estatutárias aplicáveis” .O regimento não
por uma região administrativa sem qualquer tradição no país.
CURSO SOBRE O NOVO C Ó DIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
PALESTRA SOBRE OS Ó RG Ã OS DA ADMINISTRA ÇÃ O P Ú BLICA

é mais do que um regulamento interno, com um conjunto normativo que para a designação destes cargos, por influência do princípio democrático,
regula o funcionamento mais específico de um órgão colegial. é, regra geral, o eleitoral. Assim, nos termos do ns 1 do referido artigo

3.1.1. Dos órgãos colegiais


“ Sempre que a lei não disponha de forma diferente, cada órgão colegial da
Administração Pública tem um presidente e um secretário, a elegerpelos membros
No que diz respeito aos órgãos colegiais, ou seja, àqueles que integram que o compõem” .
uma pluralidade de membros, o novo CPA consagra, no seguimento do
anterior regime66, um conjunto de regras particulares previstas no disposto De acordo com o CPA, podem existir órgãos colegiais cujo presidente é
nos seus artigos 212 a 35e e que importa analisar. nomeado pelo Governo, por exemplo, através de resolução do Conselho de
Um dos primeiros momentos a considerar quando estudamos os órgãos Ministros. Desta forma, podemos afirmar que o Código estipula o regime
colegiais é aquilo a que podemos chamar a fase de instalação do órgão. geral que há de aplicar-se, na inexistência de regime jur ídico privativo
Ou seja, ab initio, é preciso apurar a regularidade dos mandatos e verificar para o órgão colegial em causa.
se os mesmos são legalmente válidos. Esse exercício depende do respeito Cabe ao presidente do órgão colegial, em termos genéricos, designada-
por vários elementos. Consoante a forma de designação dos membros do mente, abrir e encerrar as reuniões, dirigir e orientar os trabalhos e velar
órgão colegial prevista na lei, assim teremos de analisar os instrumentos pelo cumprimento da lei, atento o disposto no ns 2 do artigo 21Q do CPA.
ídicos designatórios.Se os membros forem eleitos, é necessário verificar se
jur Aquele artigo consagra, ainda, nos números seguintes, algumas compe¬
a eleição foi válida e quem foi legalmente eleito, ou seja, a quem corresponde tências genéricas do presidente, em matéria de funcionamento das reuniões
o mandato em concreto, o que se pode fazer analisando, nomeadamente, e em matéria de controlo da legalidade das deliberações68, atribuindo-lhe
a ata de apuramento dos resultados. Mas se os membros forem nomeados, até legitimidade judiciá ria para intentar, junto dos tribunais competentes,
há então necessidade, nestes casos, de verificar a perfeição jur ídica do ato
ê do ó rgã o, o respeito designadamente, ação judicial para impugnação dos atos ou para requerer
de nomeação: a sua validade jur ídica, a compet ncia
a suspensão jurisdicional da eficá cia das deliberações tomadas pelo órgão
pelos elementos atribuidores de eficácia, entre outros aspetos vincula¬ a que preside, de acordo com o previsto no artigo 218, n9 4, do Código.
dos. Só depois de verificada a validade dos mandatos se pode proceder Nestes casos, o CPA impõe que o presidente ou quem o substitua, con¬
à primeira convocatória do órgão e, de seguida, à sua instalação, a fim de siderando as deliberações ilegais, quer contenham atos ou regulamentos
poder iniciar o exercício pleno de funções. Pode acontecer ser necessário administrativos, possa “ (...) reagir judicialmente (...)”.
a publicação de uma ata ou de um ato de nomeação, ou que os membros Importa fazer referência ao facto de o n8 3 do mesmo artigo permitir
do órgão colegial venham, todos ou alguns, tomar posse dos cargos que que o presidente possa, ainda, suspender ou dar, antecipadamente (ao que
vão exercer. Nalguns casos, a lei dispensa essa tomada de posse, bastando, estava previsto), por findas reuniões,
para o efeito, a comunicação da eleição ou da nomeação aceites pelo eleito
ou pelo nomeado, respetivamente. “ (•••) quando circunstâncias excecionais o justifiquem, mediante decisão
O disposto no artigo 21- do CPA (correspondente ao anterior artigo fundamentada, a incluir na ata da reunião, podendo a decisão ser revogada
142) é relativo ao presidente e ao secretário dos órgãos administrativos em recurso imediatamente interposto e votado favoravelmente, de forma não
colegiais. Aqui se consagram as regras gerais neste campo, as quais, obvia- tumultuosa, por maioria de dois terços dos membros com direito a voto”
mente, podem ser derrogadas por lei especial. O método consagrado
67

Reparemos que o CPA exige, nestes casos, que se verifiquem os seguin¬


tes (:) requisito prévio e (») formalidades posteriores: ( ia ) circunstâncias
s
Anteriormente, o regime jur ídico constava do disposto nos artigos 14 a 28° do CPA revo
¬
66

gado.
67 Ou seja, afastadas parcialmente.
1
Cff., a este propósito, o disposto no artigo 21°, n.“ 2 a 4, do CPA.
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excecionais, ( iib ) decisão presidencial fundamentada com razões de facto de designar o suplente do presidente ou do secretário, quando os crité rios
e de Direito e ( iic ) obrigatória inclusão em ata da decisão e da sua funda ¬ da antiguidade ou da idade não sejam suficientes e não existir legislação
mentaçã o. própria para aquele órgão.
Aquela decisão ( iib ) pode ser objeto de impugnação imediata através de O n9 3 do artigo 229 do CPA vem esclarecer a forma de solucionar
uma (jf ) reclamação junto do próprio presidente, nos termos gerais (embora eventual conflito “ (...) entre o presidente e o órgão quanto aos pressupostos de
esta possibilidade não esteja prevista expressamente no normativo, há de, intervenção de um seu suplente (...)” , prevalecendo, nesses casos, a vontade
por maioria de razão, ter-se por admissível), ou mediante a apresentação do colégio em detrimento da vontade presidencial, desde que, nos termos
de um ( ii) recurso administrativo para o plenário do órgão, que apenas legais, não caiba a órgão externo o poder de dirimir o conflito.
procede ou tem ganho de causa se (a) votado favoravelmente por maioria Resulta do disposto nos artigos 239 e 24s do CPA (correspondentes aos
anteriores artigos 16® e 17® do CPA agora revogado) que podem existir dois
de dois terços dos membros com direito a voto e desde que o não seja ( b)
de forma tumultuosa. tipos diferentes de reuniões dos órgãos colegiais.
Assim, as reuniões podem ser ordiná rias, ou seja, regulares, e a data ou
Os artigos seguintes estipulam um conjunto de regras que se prendem
a periodicidade das mesmas é determinada pelo presidente, sempre que
com a substituição em sentido amplo, através da suplê ncia do presidente
69 não decorrer da lei ou de deliberação orgânica. Exige-se que os membros
e do secretário, as reuniões ordinárias e extraordinárias e a ordem do dia
do órgão, de acordo com o teor do artigo 23®, n9 2, do CPA, tenham conhe ¬
que, no fundo, é a agenda da reunião onde se elencam os assuntos a tratar cimento“ seguro e oportuno” da fixação dos dias e das horas das reuniões bem
e que podem ser objeto de deliberação colegial.
como de quaisquer alterações supervenientes que surjam.
Vejamos agora como se procede no caso de ausência ou de impedi ¬

As reuniões dos órgãos colegiais podem também ser extraordinárias,


mento do presidente ou do secretá rio do órgão colegial. A este problema
de acordo com o que resulta do disposto no artigo 24® do CPA.
responde, de forma clara, o disposto no artigo 22®, n91, do CPA. Assim, a As reuniões extraordiná rias ocorrem fora do plano normal das reuniões
menos que outra coisa se preveja na lei, em norma estatutária ou no regi¬ ordinárias dos órgãos, por qualquer razão excecional, imprevista ou urgente
mento do órgão em causa, serão suplentes, respetivamente, o “ (...) vogal que imponha a sua convocação. As reuniões extraordinárias ocorrem por
mais antigo e o vogalmais moderno70” .Só haverá necessidade de intervenção do convocação oficiosa do presidente do órgão colegial, que a ela procederá, no
crité rio da idade (quem tiver mais idade e quem for mais jovem) “ no caso entanto, obrigatoriamente, “ (...) sempre que pelo menos um terço dos vogais lho
de os vogais possuírem a mesma antiguidade reportada ao momento da assunção solicitem por escrito (...) ”, atento o disposto nos n.os1e 2 do artigo 24® do CPA.
do cargo (...)” , como resulta expressamente do previsto no n9 2 do mesmo Como é imposto nos números seguintes, (i) a reunião deverá ocorrer
artigo. Ainda assim, pode sempre existir um conflito, dado que os vogais nos 15 dias seguintes à solicitação apresentada pelos membros, mas sempre
podem ter a mesma idade. Nesta circunstância, cremos que a solução mais com ( ii ) uma antecedência mínima de 48 horas sobre a data da reunião e
correta deve passar pela deliberação do plená rio do órgão, seguindo-se, ( iii ) devendo dar-se previamente a conhecer “ (...) deforma expressa e espe ¬

com as necessárias adaptações, a solução prevista no n 9 3 do artigo 229 cificada (...)” a ordem do dia e os assuntos nela a serem objeto de análise.
do CPA. Deste modo, será por deliberação colegial através de escrutínio O novo CPA vem, agora, estipular que, havendo improcedê ncia ilegal do
secreto, por decorrê ncia do disposto no artigo 319, n 2, do CPA, que se há
9
pedido formulado, nos termos do n® 2 do citado artigo, pode a convocatória
da reunião extraordiná ria ser feita diretamente pelos proponentes, nos
69
Ou ordem de trabalhos. termos expressamente previstos nos artigos 24®, n.os 5 e 6, e 259, n® 3, do
70
O legislador deveria querer dizer“ o vogal mats recente” ou poderia ter recorrido à expressão CPA. Nestes casos, a convocação é divulgada invocando-se a circunstâ ncia
-
“ o vogal menos antigo” , pois se se recorre ao conceito de antiguidade, basta graduá lo em que determina a legitimidade dos proponentes para assim procederem,
mais (antigo) e menos (antigo), em vez de se socorrer de conceitos diferentes do de antigui¬ nos termos e disposições previstos no referido n® 5, sempre respeitando
dade (como será, no caso, o conceito de modernidade, por oposição ao de antiguidade - que
manifestamente não se aplica ao caso).
o prazo estipulado no n® 6.
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A ordem do dia corresponde à ordem de trabalhos ou à agenda das a inclusão na ordem do dia de algum assunto a tratar ou com o teor da
reuniões e é estabelecida pelo presidente que dispõe, nos termos previstos deliberação final tomada que defina uma qualquer situação jurídica. Po¬
no artigo 25e, n® 1, do CPA, de competê ncia própria para a elaborar, salvo demos concluir que o legislador assegura uma estabilidade da ordem do
no caso estabelecido no artigo 249, n9 5, do CPA, em que, por força do dia, dado que, como vimos, apenas podem ser tomadas deliberações cujo
disposto no ne 3 daquela norma, o poder de fixação da ordem do dia da objeto dela conste.
O artigo 289 do CPA deveria, em bom rigor, ser, em nossa opinião e
reunião é devolvido aos respetivos proponentes. Isto significa que a ordem
conforme já referido, colocado sequencial e imediatamente a seguir ao
do dia não deve, regra geral, ser votada pelos vogais. É uma manifestação
artigo 259, dado que se refere apenas à inobservâ ncia das disposições
de exercício de competência própria e exclusiva do presidente. Os vogais
previstas nos artigos 239, 249 e 25- do CPA. Contudo, independentemente
podem, no entanto, regra geral, indicar matérias que queiram ver apre¬ da crítica à sua localização sistemática, é importante o teor do normativo aí
ciadas na reunião, de acordo com aquele preceito normativo (artigo 259, fixado: as ilegalidades que resultem, genericamente, do incumprimento
n91, do CPA). das regras previstas nos artigos referidos só se considerarão sanadas desde
A ordem do dia é um instrumento decisivo para a boa condução das que a totalidade dos membros do órgão colegial esteja presente na reu¬
reuniões colegiais e para a regularidade das deliberações colegialmente nião e “ (...) nenhum suscite logo de início oposição à sua realização (...)” . Pode,
tomadas, dado que o órgão coletivo apenas pode aprovar deliberações sobre no entanto, colocar-se legitimamente a questão de se saber se a sanação
as matérias incluídas na referida ordem de trabalhos, atento o disposto pode ser superveniente e ocorrer nas condições exigidas no preceito agora
no artigo 269, n91, do CPA. Esta exigência legal visa evitar que os órgãos estudado mas em reunião posterior àquela em que a inobservância das dis¬
colegiais decidam assuntos que não constam na agenda previamente enviada posições ocorreu. Independentemente de se ter de analisar cada situação
aos membros, na ausência de algum(ns) deles, que não estejam presentes em concreto, não parece, à primeira vista, ser de afastar tal possibilidade.
nas reuniões, porque conhecendo os temas a tratar não compareceram à Importa agora referir que, salvo disposição legal em contrá rio, as reu¬
reunião como o fariam sabendo que determinado assunto seria objeto de niões dos órgãos colegiais administrativos não são p úblicas, como resulta
deliberação. O legislador salvaguarda - e bem - as situações que envolvam do disposto no artigo 279, n91, do CPA (correspondente ao anterior artigo
decisões urgentes, desde que se verifique o respeito pelos pressupostos 20® do CPA revogado), mas quando o sejam, nos termos do disposto no
vigentes no n9 2 do artigo 26 do CPA, designadamente, (í) estejamos pe
® ¬
n® 2 do mesmo artigo,
rante uma reunião ordinária c («) pelo menos dois terços dos membros do
órgão reconheçam a urgência de deliberação imediata sobre assunto não “ (•••) deve ser dada publicidade aos dias, horas e locais da sua realização,
de forma a garantir o conhecimento dos interessados com uma antecedência de,
agendado.Se tal se verificar, teremos necessariamente deliberações distintas,
que devem ser devida e legalmente fundamentadas e registadas em ata: pelo menos, 48 horas sobre a data da reunião.”

i. A deliberação colegial aprovada por pelo menos dois terços dos Atento o disposto no n® 3 do mesmo artigo, as pessoas que assistam às
membros que possibilite a inclusão de novo(s) ponto(s) na ordem do dia; e reuniões (quando elas sejam públicas) podem, nos termos legais, estatu¬
ii. A (s) deliberação(ões) que se vicr(em) a apurar, mediante as maiorias tários, regimentais ou mediante deliberação orgâ nica, “ (...) intervir para
legalmentc exigidas, relativas ao(s) ponto(s) que vier(em) a ser inscrito(s) comunicar ou pedir informações, ou expressar opiniões, sobre assuntos relevantes
ex novo e que decorre (m) de (z). (...)” que sejam da competência do órgão respetivo.
É também neste Capítulo II do CPA que se consagram, ainda relativa ¬
De recordar que o órgão terá de reconhecer a urgência e que esta terá mente aos órgãos colegiais, as regras sobre o quórum, no seu artigo 29®
de ser fundamentada, pois as deliberações a aprovar ( z e ii ) podem vir a (correspondente ao antigo artigo 22s do CPA revogado). Antes de mais,
ser objeto de impugnação, se algum interessado não se conformar com importa definir este conceito.
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CURSO SOBRE O NOVO C Ó DIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

O quórum é o número mínimo de membros que devem estar presentes Importa ainda salientar que, nos termos do disposto no artigo 30- do
na reuniã o para que o órgão possa funcionar ou deliberar validamente. CPA (correspondente ao antigo artigo 23® do CPA revogado) e nos casos
Assim, temos, respetivamente, o quórum de funcionamento e o quórum em que a lei nada diga,
deliberativo. “ (•••) é proibida a abstenção aos membros dos órgãos colegiais consultivos72 e
No já referido artigo 29® consagra-se o quórum deliberativo. Assim, aos dos órgãos deliberativos, quando no exercício deJunções consultivas” .
“ Os órgãos colegiais só podem, em regra, deliberar quando esteja presente a
71

maioria do número legal dos seus membros com direito a voto” . Naturalmente que este artigo se refere, apenas, aos membros que es ¬

tejam presentes na reunião e não se encontrem impedidos73 de intervir,


Vejamos o seguinte exemplo: aliás, como decorria expressamente do anterior regime, agora revogado.
Deve conciliar-se o teor deste artigo com o disposto no artigo 69®, n® 2,
Um órgão colegial composto por dez membros só pode deliberar, alínea b ) , do CPA.
validamente, se estiverem presentes pelo menos seis membros, ou seja, O artigo 31® do Código (correspondente ao anterior artigo 24® do CPA
metade dos membros mais um. revogado) estabelece as possíveis formas de votação.
Assim, se o órgão persistir em deliberar em desrespeito e inobser- Regra geral, de acordo com o prescrito no n ® 1 daquela disposição
vando as regras do quórum, o CPA considera a deliberação nula, atento normativa, e salvo estipulação legal em contrá rio, “ (...) as deliberações
o disposto no seu artigo 161®, nfi 2, alínea h) (correspondente ao antigo são tomadas por votação nominal (...)” , ou seja, a votação é conhecida (e
artigo 133®, n® 2, alínea £), do CPA revogado). pública para os membros do órgão) e todos ficam a saber o sentido de
voto de cada vogal e do presidente (por esta ordem). Prevê a norma
O CPA prevê, també m, as situações em que se não verifica o qu órum que a votação seja antecedida de uma discussão sobre os assuntos em
na primeira convocatória, atento o disposto no artigo 29 , n 2, do CPA,
® ®
presença, quando nisso se vejam interesse e utilidade e no respeito pela
as quais determinam que deva ser convocada uma nova reunião do órgã o ordem de votação.
colegial, com um intervalo mínimo de pelo menos 24 horas. Os n.“ 2 e Contudo, importa referir que existem situações que, obrigatoriamente,
3 do mesmo artigo salvaguardam situações excecionais, em defesa do impõem uma votação por escrutínio secreto, como decorre do disposto no
bom funcionamento dos órgãos administrativos colegiais. Assim, desde artigo 31®, n® 2, do CPA (correspondente ao anterior artigo 24®, n® 2, do
que a lei nada preveja em contrário, podem os órgãos colegiais, em se¬ CPA revogado), que determina que, nas situações “ (...) que envolvam um
gunda convocató ria, deliberar ( z) desde que esteja presente um ter ço juízo de valor sobre comportamentos ou qualidades de pessoas (...)” , as delibera ¬
dos membros com direito a voto e tratando-se de («) uma troika (órgão ções respetivas sejam, assim, obrigatoriamente “ (...) tomadas por escrutínio
colegial composto por apenas três membros) não pode ocorrer qualquer secreto” . Deste modo, nunca ficaremos a conhecer o sentido individual
deliberação sem que estejam presentes, pelo menos, dois membros, o de cada votante, a menos que exista unanimidade na deliberação e não
que significa afirmar que, nestes casos, apenas pode faltar um membro existam votos nulos ou em branco. Se existir uma “ (...) dúvidafundada (...)”
à reunião deliberativa. Esta última imposição impede que a deliberação sobre a forma de votação, o legislador determina que deva ser seguido o
orgâ nica pudesse ser tomada individualmente, por apenas um membro. escrutínio secreto, atenta a parte final do n® 2 do artigo 31® do CPA. Dada
Nestes casos, o quórum deliberativo necessário, mesmo que em segunda a imposição constitucional e legalmente prevista de fundamentação dos
convocatória, é de dois membros.
71
Designadamente, aqueles que têm competências de emissão de pareceres.
73
A este propósito, vide o disposto nos artigos 69e e seguintes do CPA (correspondentes aos
anteriores artigos 44Q e seguintes do CPA revogado), já estudado.
71
Sublinhado nosso.
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atos administrativos, o n- 3 deste artigo estipula que , naquelas situações, Maiorias


“ (...) a fundamentação das deliberações tomadas por escrutínio secreto é feita pelo Tipos Regra Universo

presidente do órgão colegial após a votação, tendo presente a discussão que a tiver Num universo de 10 votantes ,
por exemplo:
precedido” .
Por fim, importa referir que naturalmcnte o n- 4 do artigo agora em No mínimo, metade mais
6 votos a favor
Maioria absoluta - regra geral
análise proíbe a presença na reunião de qualquer membro do órgão que (artigo 32», n» 1, do CPA) um dos votantes.
4 votos contra
ou
se encontre ou se considere impedido, nos termos legais, quer durante a 6 votos a favor
discussão, quando a ela haja lugar, quer durante a votação. 3 votos contra
O disposto no artigo 329 do Código estipula a regra geral para 1 abstenção

apuramento da vontade do órgão colegial. Consagra-se que a maioria Num universo de 10 votantes,
por exemplo:
absoluta, ou seja, metade mais um dos votos dos membros presentes
na reunião, seja a regra, embora o disposto no n91 (correspondente ao 1 voto a favor
anterior n91 do artigo 259 do CPA revogado) admita a possibilidade,
Pluralidade de votos, ou seja, 0 votos contra
Maioria relativa ou simples mais votos a favor do que 9 abstenções
legal ou estatutá ria, de se exigir74 uma maioria qualificada ou agravada '’ contra, não contando ou
ou, por outro lado, ser suficiente76 uma maioria relativa ou simples dos as abstenções para
o apuramento da maioria .
4 votos a favor
3 votos contra
membros presentes77. 3 abstenções
Quando a maioria absoluta for exigida e não seja alcançada, nem se ou

verifique uma situação de empate, nos termos do disposto no artigo 329,


7 votos a favor
3 votos contra
n9 2, do CPA, Num universo de 10 votantes,
por exemplo:
“ (...) procede se imediatamente a nova votação e, se aquela situação se man
- ¬

tiver, adia-se a deliberação para a reunião seguinte, na qual a maioria relativa 2/3
Maioria qualificada Maioria agravada, superior à 7 votos a favor
é suficiente” . maioria absoluta 3 votos contra

A propósito das maiorias vejamos a seguinte tabela: 4/5


8 votos a favor
2 votos contra

Sempre que do apuramento dos votos resulte um empate, o presidente


dispõe de voto de qualidade, ou de voto de desempate, o que significa
afirmar que o sentido do seu voto é determinante para apurar o sentido
da deliberação final do órgão, de acordo com o previsto no artigo 339,
n91, do CPA (correspondente ao anterior artigo 269, n91, do CPA revogado),
à exceção - óbvia - das situações de votação que decorrem por sufrágio
74
Porque é mais exigente. secreto. Nestes casos, o disposto no artigo 339, n.“ 2 e 3, do CPA (corres¬
75 Porexemplo, 2/3 ou 4/5 dos membros. pondentes ao anterior artigo 269, n9 2, do CPA revogado), regula a forma
70 Porque é menos exigente.
de ultrapassar o impasse que resulte da situação de empate, acabando na
-
77 A regra da maioria relativa remete nos para a pluralidade de votos, não contando as abs¬
situação limite (e de duvidosa legalidade) de se recorrer à votação nominal,
tenções para o apuramento da maioria, ou seja, mais votos a favor do que contra.
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atento o disposto no n9 3, in fine, e sendo a maioria relativa suficiente para ata com as formalidades previstas no seu artigo 349 (correspondente ao
aprovar a deliberação final. anterior artigo 27 - do CPA revogado).
Importa agora assinalar algumas das diferenças entre o sistema de voto De acordo com o previsto no na 1, a ata conterá um resumo, isto é, uma
de qualidade e o de voto de desempate.No primeiro caso, o presidente participa síntese, do que ocorreu na reunião do órgão colegial e que será útil para
ab initio na votação e, no segundo caso, somente exerce o direito de voto se apreciar as eventuais irregularidade e ilegalidade das deliberações tomadas .
ocorrer um empate na votação. Ambos os sistemas permitem ultrapassar Impõe o artigo 349, nô 2, do CPA, que
o impasse criado por uma votação quantitativamente igual.
Vejamos a propósito dois exemplos: “ As atas são lavradas pelo secretário e submetidas à aprovação dos membros
no final da respetiva reunião ou no início da reunião seguinte, sendo assinadas,
Exemplo 1 após a aprovação, pelo presidente epelo secretário”.
A lei atribui voto de qualidade ao presidente do órgão x.
Verificam-se 8 presenças (o presidente e 7 vogais) e 8 votos. Apuram- Pode ocorrer que as atas sejam assinadas por todos os membros pre¬
-se 4 votos na proposta y e 4 votos na proposta z. Há uma situação de sentes, ou porque decorra da lei esse reforço de formalidade ou porque se
empate. entenda que o mesmo deve ocorrer. Trata-se de uma situação que não
Mas o presidente - em votação nominal - optou pela propostay. afeta a validade jurídica do ato.
É considerada aprovada a proposta y. Importante é referir que o legislador veio agora, no n9 3 do mesmo ar ¬
tigo, esclarecer uma situação que criava algumas dificuldades e sobretudo
Exemplo 2 hesitações78, prevendo expressamente que
A lei atribui voto de desempate ao presidente do órgão x.
Verificam-se 9 presenças (o presidente e 8 vogais) e 8 votos (o pre ¬ “ Não participam na aprovação da ata os membros que não tenham estado
sidente não participa na votação). Apuram-se 4 votos na propostay e presentes na reunião a que ela respeita”
4 votos na proposta z. Há uma situação de empate.
O presidente é chamado a votar e opta (desempatando) pela pro ¬ Como complemento ao disposto no artigo 349, n9 2, do CPA, importa
atender ainda ao disposto no n9 4 do mesmo artigo (correspondente ao
posta y.
É aprovada a proposta y. anterior artigo 279, n9 3, do CPA revogado), que possibilita que, nos casos
em que o órgão colegial assim decida, seja aprovada na própria reunião
Daqui resulta o seguinte: (i) se a votação for nominal, os mecanismos de uma minuta sintética da ata, “ (•••) devendo ser depois transcrita com maior
ultrapassagem do impasse são os dos votos de qualidade ou de desempate. -
concretização e novamente submetida a aprovação (...)” . Trata se, no fundo, de
Estas figuras parecem esquecer que o presidente pode escolher abster se - consolidar extratos da ata com vista a que as deliberações neles contidas
possam, igualmente, produzir efeitos jurídicos imediatos, o que evita al¬
de votar e quase que tomam o seu voto obrigatório... ( it ) se a votação for
por escrutínio secreto, então o sistema escolhido pelo legislador é o da guma perda de tempo que sempre pode ocorrer entre a data da aprovação
sucessão de votações. Após a votação inicial, podem ocorrer mais três votações, de qualquer deliberação administrativa e a da nova reunião subsequente
duas delas por renovados escrutínios secretos, esperando-se que algum ou do órgão colegial respetivo em que, a final, se aprove a respetiva ata
alguns dos votantes alterem o sentido de voto e com isso cesse o empate,
e terminando, em caso limite, em votação nominal, que será vinculativa
apenas por maioria simples. 78
Ocorria muita vezes que os faltosos sentiam a necessidade óbvia de se absterem nessa
Por fim, no que diz respeito às reuniões dos órgãos colegiais da Admi ¬
votação mas nalguns casos votavam a ata, por confiarem no teor descritivo da mesma (com
nistraçã o P ública, importa referir que o CPA exige a elaboraçã o de uma as consequências que daí poderiam advir). Deste modo, ficou - e bem - resolvida a questão.
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(momento a partir do qual, regra geral, passam a ser eficazes as deliberações .


3.1.2 Da competência
tomadas e inscritas em ata). No âmbito deste quadro temático em que estudamos o conjunto norma ¬
Ora, através desta faculdade, permite-se que as deliberações aprovadas tivo regulador das estruturas orgânicas da Administração Pública, importa
ganhem imediata eficácia jurídica, atento o disposto no nQ 6 do mesmo artigo. fazer referência à competência como o conjunto de poderes atribuídos
A eficácia das deliberações dos órgãos colegiais depende, assim, da legalmente aos órgãos administrativos para que prossigam as atribuições
aprovação das respetiva atas ou da assinatura das minutas, cessando a que estão cometidas às pessoas coletivas das quais fazem parte.
eficácia das que constem destas últimas se a ata da mesma reunião não as As pessoas coletivas prosseguem os fins estabelecidos na lei79 e aos
reproduzir, de acordo com o disposto no artigo 34 , n 6, do CPA. seus órgãos estão afetos poderes funcionais para desenvolvimento dessas
® ®

Por outro lado, o artigo 34®, n2 5, do CPA, estipula agora que atribuições. A esta reunião de poderes funcionais podemos chamar com¬
petências80.
“ O conjunto das atas é autuado e paginado de modo a facilitar a sucessiva O disposto nos artigos 369 e 379 do Código (correspondentes aos ante¬
inclusão das novas atas e a impedir o seu extravio” . riores artigos 299 e 309 do CPA revogado) estipula as mais importantes
características gerais da competê ncia em Direito Público e que, no âmbito
Isto significa que devem ser colocadas em processo com numeração pró¬ tanto do Direito Administrativo como do procedimento administrativo,
pria e paginadas de modo a que se não percam nem possam ser adulteradas. são genericamente as seguintes:
Importa, finalmente, assinalar que se admite que da ata constem as
declarações de votos de vencido, que isentam os seus membros de even¬ - Origem exclusivamente legal, já que a lei ou o regulamento são as
tuais responsabilidades que possam advir da execução das deliberações fontes primárias e imediatas dos poderes públicos (artigo 36®, n21);
tomadas, de acordo com o disposto no artigo 352 do mesmo diploma legal - Irrenunciabilidade, o que significa que nenhum órgão pode renunciar
(correspondente ao anterior artigo 282 do CPA revogado). Assim, qual¬ à titularidade ou ao exercício da competê ncia legalmente atribuída,
quer membro que vote contra uma determinada deliberação pode fazer sendo nulo qualquer ato nesse sentido (artigo 36®, n.os 1 e 2);
constar da ata as razões do seu voto de vencido ou fazer menção na reunião - Inalienabilidade, que expressa a impossibilidade de transmissão ou
e juntar, mais tarde, uma declaração de voto vencido, com os argumentos de transferê ncia da competê ncia para outros órgãos, fora dos casos
que presidiram à sua opção, a qual fica junta à ata e o exonera de eventuais tipificados na lei (artigo 36®, n® 1); e
responsabilidades de natureza diversa que possam advir da aplicação da - Imodificabilidade (limitada), já que a competência se estabelece no
deliberação tomada. momento em que se inicia o procedimento administrativo (artigo
Naturalmente que se mantém a obrigatoriedade de, tratando-se de 37®, n® 1), mas podem ocorrer mudanças substantivas relevantes e
emissão de pareceres a dar a outros órgãos administrativos, esses serem com expressão jur ídica.
acompanhados das eventuais declarações de voto que sejam formuladas
e apresentadas pelos membros presentes nas reuniões e que podem ser Assim, podemos afirmar que um órgão não pode, sob qualquer pre¬
declarações de votos vencidos ou apenas declarações de votos justificativas texto, renunciar ou n ão exercer as competê ncias que lhe foram legalmente
e 9
ou explanadoras do seu sentido, atento o disposto no artigo 35 , n 3, do
CPA, que , por isso, não restringe o envio apenas às declarações de voto
vencidos mas a todas as declarações apresentadas. Esta situação é em tudo 79
Estão, nos termos da lei, vinculadas ao princípio da especialidade, só podendo prosseguir
semelhante à que ocorre com as decisões, designadamente, dos tribunais ídicos constitutivos. Desta forma se delimita o campo de
os fins previstos nos seus títulos jur
atuação das pessoas coletivas.
superiores, em que conhecemos as declarações proferidas, por exemplo, 80
Quanto à fixação da competência, vide o disposto no artigo 37s do CPA (correspondente
pelos juízes conselheiros que votam contra um acórdão ou que explanam ao anterior artigo 30Q do CPA revogado). No que diz respeito às questões prejudiciais, cfr.
o sentido do seu voto. o disposto no artigo 38Q do CPA (correspondente ao anterior artigo 31e do CPA revogado).
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afetas, não pode transferir ou alienar esses poderes e que, regra geral, a n® 1, do CPA (correspondente ao anterior artigo 34® do CPA revogado81)
competê ncia se fixa, nomeadamente, nos termos previstos no artigo 37
®
impõe que, sendo
do Código. Deste modo, “ é nulo todo o ato ou contrato que tenha por )bjeto a “ (-) apresentado requerimento, petição, reclamação ou recurso a órgão
renúncia à titularidade ou ao exercício da competência (...) ” , atento o d sposto incompetente, o documento recebido é enviado oficiosamente ao órgão titular da
no n 9 2 do artigo 36® do CPA. Daqui decorre a importância em distinguir competência,disso se notificando o particular.”
dois conceitos que podem estar interligados: o da (i) titularidade e o do
(«) exercício, ambos relacionados com a competência administrativa dos Importa assinalar também a relevâ ncia do disposto no n® 2 do mesmo
diferentes órgãos da Administração Pública.
artigo, que determina que, nos casos do n®1, valerá “ (...) a data da apresentação
Importa, no entanto, fazer refer ência ao disposto na parte final do inicial do requerimento para efeitos da sua tempestividade” , afastando-se, desta
n do artigo 36® do CPA, que ressalva as situações (que a seguir estudare
¬
®1
forma, o êxito de qualquer manobra no sentido de ultrapassar os prazos
mos) da delegação de competências, da suplência e da substituição, estas
estabelecidos, recorrendo ilegitimamente ao mecanismo de entrega de
últimas apresentadas també m como figuras afins, de acordo com a parte
documentos a órgãos incompetentes, protelando, dessa forma, os prazos
final do n® 2 do mesmo artigo.
legais.
Como vimos aquando do estudo do princípio da decisão, os órgãos
administrativos estão legalmente vinculados a exercer as competências
legalmente atribuídas e a decidir.
..
3.1 3 Das suplência e substituição
Também no Capítulo Hl, relativo à competência, se faz referência à suplên¬
Um dos aspetos liminares a que os órgãos da Administra çã o P ú ¬
cia e à substituição, como decorre do disposto nos artigos 42® e 43® do CPA
blica devem dar atenção, antes de assumirem qualquer posição, é o de,
nos termos do disposto no artigo 40®, n® 1, do CPA, se certificarem de
(correspondendo o primeiro ao anterior artigo 41® do CPA revogado).
que têm competência para conhecer da questão que lhes é presente. Trata- Quanto à suplência, vejamos o artigo 42® do CPA:
-se, portanto, de um efetivo controlo® inicial e liminar da competência.
Ora, atento o estipulado no artigo 40 , n 2, do CPA, qualquer incompe¬
® “ 1 - Nos casos de ausência, falta ou impedimento do titular do órgão ou do
agente, cabe ao suplente designado na lei, nos estatutos ou no regimento, agir no
tê ncia orgâ nica: exercício da competência desse órgão ou agente.
( í ) “ (...) deve ser suscitada oficiosamente pelo órgão (...)” , ou seja, trata-se 2 - Nafalta de designação, a suplência cabe ao inferior hierárquico imediato
de uma obrigação legal e, por isso, o legislador impõe na norma um dever e, em caso de igualdade de posições, ao mais antigo.
que deve ser exercido por dever de oficio, por regra, se o procedimento 3 - 0 exercício de funções em suplência abrange os poderes delegados ou
administrativo se iniciar por impulso do interessado; e subdelegados no órgão ou no agente.”
(if ) “ (...) pode ser arguida pelos interessados (...)” , ou seja, trata-se agora
Este artigo, agora revogado, consagrava uma solução dual: a primeira, prevista no então
de uma possibilidade que permite que a incompetência de um órgão
81

n- 1, para as situações de erro que fosse desculpável; a segunda, de acordo com o ns 3, para
administrativo possa ser questionada por qualquer interessado, quando as restantes situações, em que o erro não seria desculpável. Esta solução criava dificulda ¬
o procedimento administrativo é iniciado oficiosamente pela Adminis¬ des acrescidas, não apenas porque só podiam ser avaliadas as situações perante casos con¬
tração P ública ou por particular contrainteressado. cretos mas porque, atento ainda o disposto no então n- 4 do referido artigo 34 do CPA,
Q

da qualificação do erro como desculpável ou n ão desculpável cabia reclamação e recurso,


Em sequência do que atrás ficou dito, importa ainda analisar o disposto pese embora a necessidade de ser sempre corretamente fundamentada aquela qualificação.
Ou seja, esta questão apenas podia ser dirimida caso a caso e atendendo à situação em con ¬
no artigo 41® do CPA. Vejamos. creto, competindo a cada órgão recetor decidir se se podia considerar que a apresentação de
Este artigo trata de regular os procedimentos a seguir aquando da apre ¬
requerimento assentava em erro desculpável ou em erro indesculpável, fundamentando de
sentação de requerimento a órgão incompetente. Neste caso, o artigo 41 ,
®
todo o modo, nos termos legais, a qualificação que fazia.
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A suplê ncia visa, genericamente, a substituição do titular do órgão ou hierá rquico. No entanto, o problema não se coloca apenas quando se
do agente que é feita através do suplente designado na lei, nos estatutos trata de situações jurídico-hierárquicas, bem pelo contrário, como parece
ou no regimento. resultar do n® 1 que, sendo gené rico, abarca todas as restantes situações
A suplência ocorre quase sempre em situações de transitoriedade e visa ídico-organizacionais.
jur
dar solução à ausê ncia ou ao impedimento do titular de um determinado Por fim, no que respeita ao n® 3 do mesmo artigo, importa assinalar que
órgão. Por exemplo, o próprio CPA, no seu artigo 22-, consagra o regime o regime jur ídico da suplê ncia “ (...) abrange os poderes delegados ou subdele ¬

da suplência do presidente e do secretário dos órgãos colegiais. Assim, de acordo gados no órgão ou no agente” 82, o que derroga, ainda que temporariamente,
com o disposto no ne 1 do mesmo artigo, se o presidente do órgão faltar à um dos elementos em que assenta a delegação de poderes - a fidúcia ou
reunião ou, por qualquer razão legal, estiver ou se considerar impedido, a confiança entre delegante e delegado ou entre estes e o subdelegado,
assume a presidê ncia o vogal mais antigo, pois ele é o suplente do presi ¬ dado que o regime jur ídico da delegação de poderes, como iremos ver de
dente. Se se tratar do secretário, ser á suplente o vogal mais recente ou seguida, determina que esta caduca sempre que exista qualquer alteração
menos antigo. A idade dos vogais é apenas importante quando não h á subjetiva nos titulares da relação delegatória. Neste caso, isso não acontece.
diferença na antiguidade da vogalidade.A solução aqui prevista é interna ao Olhemos agora para o previsto no artigo 43e do CPA, que estipula que
órgão, podendo ocorrer uma impossibilidade de reunião, se e quando não
forem respeitadas as regras gerais do qu órum. A solução externa de recurso
“ Nos casos em que a lei habilita um órgão a suceder, temporária ou pontual ¬

mente, no exercício da competência que normalmente pertence a outro órgão,o


a vogais suplentes pode ser o caminho para ultrapassar algumas destas órgão substituto exerce como competência própria e exclusiva ospoderes do órgão
situações, desde que as mesmas sejam conhecidas em tempo oportuno. substituído, suspendendo-se a aplicação da norma atributiva da competência
Reparemos que a norma atrás invocada se refere às ausências. No en ¬

deste último”
tanto, este conceito é um dos que, em Direito Administrativo, chamamos
vago e indeterminado, podendo existir vá rios graus de indeterminação. O legislador trata aqui, agora e apenas, de órgãos (já não do titular de
Hoje, o conceito de ausê ncia deve ser interpretado atendendo aos cir- órgão ou do agente, como no artigo anterior) que sucedem temporária (por
cunstancialismos da nossa atualidade. um período de tempo mais alargado) ou pontualmente (para uma situação
Estes preceitos destinam-se a evitar ausências de poder e indicam-nos em concreto, mais limitada temporalmente) no exercício da competência de
formas de proceder, na defesa da lei e do interesse público, nos casos em outro órgão. Aqui, o regime da substituição trata de salvaguardar o exercício
que os titulares da competência a não podem exercer. Em todo o caso, da competência do (i) substituído, que competirá ao ( ií) substituto.
qualquer decisão tomada deve ser fundamentada e quem se sentir lesado Nestes casos, o substituto vai exercer como compet ê ncia própria e
pode sempre (por regra) dela interpor reclamação ou recurso ou utilizar as exclusiva as competê ncias do substituído, o que pressupõe que este não
garantias contenciosas, invocando, por exemplo, o vício da incompetê ncia pode exercer qualquer poder de direção sobre o desempenho daquele.
relativa ou o de viola ção de lei, na sequê ncia de não verificação do regime Não se percebe, no entanto, conforme se teve já oportunidade de referir,
geral de funcionamento dos órgãos (colegiais) e dos seus titulares. o conte údo útil da parte final do preceito que determina a suspensão da
O regime da suplência trata de salvaguardar o exercício da competê n¬ norma atributiva da competência do substituído...
cia do (i) titular de órgão ou do ( ti ) agente ( d ) ausentes, ( b ) faltosos, ou
( c ) impedidos, que competirá, nos termos da lei, em qualquer dos casos 3.1.4. Da delegação de poderes
(titular de órgão ou agente) ao ( iii) suplente. A propósito das regras gerais sobre órgãos da Administração Pública, o novo
Importa ainda referir que o n® 2 do artigo 42s do CPA apenas parece CPA estabelece o regime jur ídico da delegação de poderes, que decorre
aplicar-se às situações de hierarquia administrativa, dado que resolve o
problema da falta de designação do suplente através da figura do inferior 82
Regime em tudo idêntico ao previsto no artigo 41- , nQ 3, do anterior CPA.
PALESTRA SOBRE OS Ó RG Ã OS DA ADMINISTRAÇÃO PÚ BLICA
CURSO SOBRE O NOTO CÓDIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

do disposto nos seus artigos 442 a 50fi (anteriormente, o regime jurídico Estes são, portanto, os elementos estruturais da delega ção de poderes
da delegação de poderes constava dos artigos 35 a 40 do CPA revogado).
® e expressa, ou seja, aquela que reúne os quatro componentes e, designada¬
Este instituto consiste na faculdade legal, via ato administrativo, de um mente, um ato administrativo delegatório autónomo que concretiza, na
órgão primariamente competente para tomar uma decisão permitir que prática e de forma expressa, a delegação de competências.
outro possa exercer a competê ncia sobre a mesma mat é ria. Como esta Existe, contudo, a possibilidade de a delegação de poderes ser tácita, o
possibilidade decorre da lei, não há qualquer violação das características da que significa que resulta diretamente da lei, inexistindo, por isso, a neces ¬

competência já estudadas, designadamente, a da inalienabilidade , prevista sidade de outro ato jurídico permissivo expresso e independente. Esse ato
no artigo 36-, ne 1, do CPA. administrativo existe mas não é autónomo e está incorporado na própria
lei habilitadora da delegação de competências.
Vejamos, pois, o que diz o Código, no nQ 1 do seu artigo 44 (corres
® ¬

e
pondente ao anterior n21 do artigo 35 do CPA revogado): Atendamos aos seguintes exemplos:
Como exemplo de delegação de poderes expressa temos a que resulta
“ Os órgãos administrativos normalmente competentes para decidir em do regime jurídico das autarquias locais87 e que está prevista no seu
determinada matéria podem, sempre que para tal estejam habilitados por lei,
artigo 34®, ne 1. Aqui se possibilita que as câ maras municipais possam
permitir, através de um ato de delegação de poderes, que outro órgão ou agente delegar nos seus presidentes um conjunto de maté rias aí previstas.
da mesma pessoa coletiva ou outro órgão de diferente pessoa coletiva pratique
Sempre que uma câmara municipal delibera delegar no seu presi¬
atos administrativos sobre a mesma matéria.”
dente, de acordo com esta lei, um conjunto de competências, estaremos
na presença de uma delega ção de poderes expressa.
Verificamos que este preceito prevê, por um lado, a (t) delegação de ídico, o dele¬
Assim: a lei habilitadora é o supra referido regime jur
poderes intrasubjetiva (dentro do mesmo sujeito coletivo), a qual se esta¬ gante é a câmara municipal, o delegado será, neste exemplo, o presidente
belece entre (a) um órgão delegante e ( bí) um órgão delegado da mesma da câ mara municipal e o ato jurídico permissivo constará da delibera ¬
pessoa coletiva ou ( bit ) um agente da mesma entidade. Tratando-se de ( it ) ção aprovada pela câmara que procede, em concreto, à delegação de
delegação de competê ncias intersubjetiva (entre estruturas orgânicas de competências e que elenca os poderes que possibilita que possam ser
distintas pessoas coletivas), esta norma habilita em potência a delegação de
exercidos, em concreto, pelo delegado.
poderes entre (a) um órgão delegante e ( b) um órgão delegado externo à
entidade coletiva a que pertence o delegante. Como exemplo de delegação de poderes t ácita temos a que está
Daqui resultam os elementos do instituto da delegação de poderes, que prevista na Lei Orgânica do XDi Governo Constitucional , especifi-
88

passam pela exigê ncia legal de camente no seu artigo 62, n 2 2, que diz:
83
- Uma lei de habilitação ou habilitante ;
- Dois elementos subjetivos: “ A competência atribuída por lei ao Conselho de Ministros no âmbito dos
assuntos correntes da Administração Pública, considera-se delegada no Primeiro-
- Um delegante84;
-Ministro, com faculdade de subdelegação em qualquer membro do Governo” .
- Um delegado85; e
ídico permissivo de delegação de poderes .
86
- Um ato jur
87
Cfr. Lei n5 75/2013, de 12 de setembro, que estabelece o regime juridico das autarquias lo¬
cais, aprova o estatuto das entidades intermunicipais, estabelece o regime juridico da trans ¬
83
Aquela que prevê, expressamente, a possibilidade de delegação de competências.
ferência de competências do Estado para as autarquias locais e para as entidades intermuni¬
84
O que procede e efetiva a delegação de poderes.
cipais e aprova o regime jurídico do associativismo autárquico.
85
O destinatário da delegação de poderes.
86
Que, em concreto, proceda à delegação de poderes.
88
-
Cfr. Decreto Lei n5 86-A/2011, de 12 de julho.
CURSO SOBRE 0 NOVO C Ó DIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO PALESTRA SOBRE OS Ó RG Ã OS DA ADMINISTRA ÇÃ O P Ú BLICA

Ora, como podemos verificar neste caso, existem aqui dois órgãos “ (...) especificar os poderes que são delegados (...) ou os atos que o delegado
administrativos distintos: o órgão delegante, que é o Conselho de (...) pode praticar, bem como mencionar a norma atributiva do poder delegado
Ministros; o órgão delegado que é o Primeiro-Ministro; e existe uma e aquela que habilita o órgão a delegar”
lei habilitadora que dispensa o ato administrativo expresso e autónomo
de delegação de poderes, já que é ela que procede, de forma direta e e, nos termos do n ® 2 do mesmo artigo 47®,
imediata, à delegação de competê ncias, considerando via legis que a
“ os atos de delegação ou subdelegação de poderes estão sujeitos a publicação,
mesma competência se encontra já delegada no Primeiro-Ministro.
nos termos do artigo 159a”.
O que significa afirmar que a lei habilitante incorpora um ato adminis¬
trativo de delegação de poderes.
Agora, a publicação é alargada à publicidade, atento o disposto no artigo
159® do CPA. Deste modo, a delegação de poderes terá de ser publicada
Parece ser de assinalar a definição legal de agente, que nos é apresentada
no jornal oficial e também na Internet, no sítio institucional. Vejamos,
agora pelo legislador, no n® 2 do artigo 44® do CPA. Assim, agente é todo
“ (...) aquele que, a qualquer título, exerça Junções públicas ao serviço da pessoa “ Quando a lei impuser a publicação do ato, mas não regular os respetivos
coletiva, em regime de subordinação jur ídica (...)” . termos, deve a mesma ser feita no Diário da República ou na publicação oficial
O ne 3 estipula que os órgãos competentes para decidir em deter ¬ enam
minada maté ria podem sempre (o que dispensa a existência de uma lei no prazo de 30 dias (...)”.
habilitadora autónoma) “ (...) permitir que o seu imediato inferior hierárquico,
adjunto ou substituto pratiquem atos de administração ordinária nessa matéria Em síntese, podemos afirmar que o ato delegatório deve especificar os
A questão da administração ordiná ria - e, sobretudo, os seus âmbito e poderes delegados e os fundamentos jurídicos delegatórios e ser submetido
conteúdo - n ão se encontra definida no CPA. Há de ser o intérprete a a publicação, bem como ser publicitado.
verificar a admissibilidade de qualquer conduta naquele âmbito, que Neste caso, inexistindo publicação do ato delegatório, deve o mesmo
necessariamente requererá fundamentação expressa. O n 4 remete para
®
considerar-se ineficaz, porque se se considerasse que a falta de publica ção
os casos de delegações de poderes de administração ordinária de órgãos era geradora de um vício legal e, por consequência, de uma invalidade jurí¬
colegiais nos seus presidentes. dica, apenas poderia ser a da anulabilidade. Ora, se assim fosse, embora
O novo CPA veio consagrar expressamente, no seu artigo 44 , ns 5, que
®
inválido, o ato seria eficaz, contrariando o que se pretende ao estipular a
“ (...) os atos praticados ao abrigo de delegação ou subdelegação de poderes exigê ncia de publicidade que está, regra geral, na ordem jurídica, infima ¬
valem como se tivessem sido praticados pelo delegante ou subdelegante” . mente relacionada com o conhecimento do teor dos atos e, desta forma,
com a eficácia jurídica.
Já havia, anteriormente, um certo entendimento na doutrina em como os Convém ainda referir que o artigo 45® do CPA estipula, agora, a proi¬
delegados, ao abrigo da delegação de poderes, praticariam atos definitivos bição genérica de uma delegação global dos poderes do delegante, atento
quando os delegantes os pudesse praticar nos termos da sua competência. o consagrado na sua alínea a ), e nas duas alíneas seguintes consagra dois
Importa ainda, neste âmbito, fazer referência aos requisitos do próprio tipos de poderes insuscetíveis de delegação, que são:
ato administrativo de delegação de competências, que se encontra vin¬
i ) os poderes suscetíveis de serem exercidos sobre o próprio dele¬
culado aos princípios da especificação e da publicidade, devendo indicar gado, atento o teor da alínea b ).
os fundamentos em que assenta a delegação. Isto significa, respetivamente,
que o delegante deve, nos termos do disposto no ne 1 do artigo 47 do novo
®

CPA (correspondente ao n® 1 do artigo 37® do CPA revogado), 89 Sublinhado nosso.


RATIVO PALESTRA SOBRE OS Ó RGÃOS DA ADMINISTRAÇÃO P Ú BLICA
CURSO SOBRE O NOVO CÓDIGO DO PROCEDIMENTO ADMINIST

do artigo 46® do CPA é o regime jurídico habilitador para a subdelegação


Por exemplo, o conselho administrativo de um instituto p úblico não
de competências.
pode delegar no presidente do instituto competê ncias para este autorizar
Tal como fizemos para a delegação de competências, vejamos os ele ¬

despesas próprias. Esta solução agora adotada, c que proíbe o exercício


mentos estruturantes do instituto da subdelegação de poderes, que passam
de poderes sobre o próprio, já resultava - e continua a resultar - do
disposto nas garantias de imparcialidade. É, por isso, coerente. Assim pela exigência de:
,
,
qualquer titular de órgão ou agente não pode intervir em procedimento - Uma lei de habilitação ou habilitante não proibitiva91;
ato ou em contrato administrativos quando neles tenha interesse , nos - Três elementos subjetivos:
termos do alínea d) do n 1 do artigo 69- do CPA; e
ô
- Um delegante;
- Um subdelegante92;
it ) os poderes a exercer pelo delegado fora do âmbito da respetiva - Um subdelegado93;
competê ncia territorial, nos termos do disposto na alínea c )
. - Um ato jurídico de delegação de poderes expressamente autorizante ,
94

Por exemplo, um ministro não pode delegar num diretor de serviços atento o disposto no artigo 46®, n® 1, do CPA; e
de Lisboa (isto é, cuja competência administrativa se circunscreve ao - Um ato jurídico permissivo, o de subdelegação de poderes.
distrito de Lisboa) competências que possam ser exercidas por este
órgão no distrito de Viseu. Ou, uma câmara municipal não pode dele Esquematizemos de seguida as figuras jurídicas estudadas:
¬

gar numa junta de freguesia compet ências de forma a que esta atue no
território de outra freguesia diferente. lh
Consagra-se, desta forma, um núcleo de poderes indelegáveis e um
princípio de indelegabilidade.
Para além de tudo o que ficou dito, importa referir que, dentro deste
instituto da delegação de poderes, existe a possibilidade de haver
uma
subdelegação de poderes. Através desta figura, o destinatá rio da delegaçãos de
46 do
a c
competê ncias - o delegado - pode, nos termos do disposto no artigo
CPA (anteriormente, o regime jurídico da subdelegação de competências (e) v
estava previsto no artigo 36 do CPA agora revogado), subdelegar os poderes
s ^Ke)
que recebeu, tomando-se, desta forma, subdelegante, e permitindo, atrav
és
de um novo ato administrativo permissivo, neste caso, de subdele ga ção de
ajp (dp) ajp (sdp)
poderes, que outro órgão - o subdelegado - exerça a mesma ou parte da
competência que ele recebera por delegação de competê ncias
. Legenda: lh - lei habilitante; a -delegante; b - delegado/subdelegante; c - subdelegado; ajp -ato jurídico
permissivo; dp - delegaçã o de poderes; sdp - subdelegaçã o de poderes: t - titularidade; e - exercício
Nestes casos, contudo, exige-se que o delegante autorize expressamente
a
a subdelegação de poderes, caso contrário ela não é admissível, embora 91
Pode ser omissa quanto à possibilidade de subdelegação de poderes, o que significa que o
lei habilitante possa ser, no mínimo, omissa quanto a esta possibilidade
90 .
título habilitador é, indiretamente, o disposto no artigo 469, n51, do novo CPA.
Se a lei for omissa quanto à subdelegação de poderes, o disposto no ns 1 92 Que é o
delegado.
93
Destinatário da subdelegação de poderes.
94 Neste caso, a omissão pelo delegante é sin ónimo de proibição de subdelegação de pode ¬
a subdelega¬
90Quer isto dizer que a lei habilitante apenas não pode proibir expressamente
, ser ou autorizar expressam ente. res.
ção de competê ncias, podendo, deste modo omissa
CURSO SOBRE O NOVO C ÓDIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO PALESTRA SOBRE OS Ó RG Ã OS DA ADMINISTRA ÇÃ O P Ú BLICA

e
Por fim, é de referir que, atento o disposto no n8 2 do artigo 46 do CPA, - Mudança dos titulares dos órgãos envolvidos; ou
o subdelegado também pode subdelegar as competências que recebeu, - Verificação de um termo resolutivo100.
“ (...) salvo disposição legal em contrário ou reserva expressa do delegante ou subde-
legante” . Importa assinalar que o exercício de competências em regime de dele ¬

O CPA, no artigo 49s (correspondente ao anterior artigo 39- do CPA gação de poderes deve ser sempre, obrigatoriamente, mencionado, atento
revogado), prevê, de forma genérica, os poderes do delegante e do sub- o disposto no artigo 48Q, n91, do CPA, e que a falta de menção da qualidade
delegante e que, em síntese, são os seguintes: de delegado ou subdelegado e dos respetivos atos habilitadores ou a “ (...)
menção incorreta da sua existência e do seu conteúdo, não afeta a validade do ato,
- Poder de direção9S; mas os interessados não podem ser prejudicados no exercício dos seus direitos pelo
- Poder de avocação96; desconhecimento da existência de delegação ou subdelegação” , de acordo com o
- Poderes desintegrativos: previsto no artigo 48®, n8 2, do CPA. Parece, portanto, haver apenas uma
- Poder anulatório97; mera irregularidade.
- Poder revogatório98; e Em conclusão, importa assinalar que a delegação de poderes, como
- Poder de substituição ou de modificação99. verificá mos, resulta sempre de uma possibilidade legal. Quando existe
delegação de competências, o órgão delegante não perde os seus poderes
Estes poderes, como vimos, podem ser exercidos pelo delegante e pelo mas passa a existir uma competência que pode ser exercida por dois órgãos,
subdelegante, mas o primeiro pode exercê-los plenamente sobre todos os como se ela fosse agora concorrencial. No entanto, enquanto a competê ncia
atos praticados pelos delegado e subdelegado, enquanto que o segundo do delegante é firme, porque resulta direta e imediatamente da lei, a dos
apenas pode exercer os poderes agora estudados perante o subdelegado. delegado e subdelegado é sempre precária, porque pode cessar a qualquer
Por fim, de referir que são causas de extinção da delegação ou da sub- momento, por ato do delegante.
delegação de poderes, nos termos do disposto no artigo 508 do novo CPA
(correspondente ao anterior artigo 40fi do CPA revogado): 3.1.5. Dos conflitos de atribuições e de competências
- A anulação (quando é juridicamente imperfeita e se gera anulabilidade
-
O Capítulo V da Parte II do CPA refere se aos conflitos de atribuições e
de competência101. Importa precisar estas realidades, embora sem uma
da delegação de poderes); preocupação de esgotar o seu tratamento.
- A revogação; e Os conflitos podem, neste âmbito, ser de dois tipos diferentes, atento
- A caducidade, que pode operar por: o disposto no artigo 51Q do CPA. Vejamos:
- Esgotamento de efeitos;

95
Significa que o delegante pode emanar ordens e diretivas sobre a forma de exercício da
100
Embora não prevista expressamente, decorre da possibilidade legal de se determinar/
competência delegada. / estabelecer um prazo de vigência para a delegação ou subdelegação de poderes.
96
É o poder de chamar a si a resolução de um processo administrativo ou de um incidente
101
Antes, previa-se igualmente a questão dos conflitos de jurisdição, ou seja, todos aqueles
autónomo, no âmbito do procedimento administrativo. que opõem um órgão da Administração Pública a um órgão jurisdicional, sendo resolvidos,
97
A faculdade administrativa de desintegrar um ato administrativo, por invalidade geradora nos termos do disposto no então artigo 42°, n5 1, do CPA revogado, pelo Tribunal de Con ¬
de anulabilidade. flitos. (Na nossa ordem judiciária, existem diversas categorias de tribunais. O artigo 2098 da
98
Traduz-se no poder de fazer cessar a delegação de poderes, bem como os atos praticados CRP prevê essas categorias. Alé m do Tribunal Constitucional, existem ainda o Supremo Tri ¬

ao abrigo desta, por razões de mérito. bunal de Justiça e os tribunais judiciais; o Supremo Tribunal Administrativo e os restantes
99
Traduz a faculdade de alterar o conteúdo do ato e, portanto, a disciplina por ele estabele¬ tribunais administrativos e fiscais; o Tribunal de Contas, entre outros.) Estas questões são,
cida. hoje, reguladas pela legislação do contencioso.
PALESTRA SOBRE OS Ó RG Ã OS DA ADMINISTRA ÇÃ O P Ú BLICA
CURSO SOBRE O NOVO C Ó DIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

- Conflitos de atribuições são todos aqueles que opõem, nomeadamente, 3.2. Recomendação
órgãos administrativos de diferentes pessoas coletivas, autoridades admi¬ O estudante deve, neste momento, conhecer as principais regras gerais
nistrativas independentes ou órgãos de diferentes ministé rios e que
102 que dizem respeito às estruturas orgâ nicas da Administração Pública.
são resolvidos nos termos das diferentes alíneas do nB 1 do mencionado 3.3. Exercício formativo
artigo; e a ) Diga o que entende por órgão administrativo;
b) Distinga quórum deliberativo de quórum de funcionamento;
- Conflitos de competência103 são todos aqueles que opõem órgãos da mesma
c) Distinga suplê ncia de substituição;
pessoa coletiva ou órgãos do mesmo ministério, resolvidos de acordo com
o previsto no nô 2 do mesmo normativo.
-
d ) Refira se às caracter
ísticas gené ricas da competência;
e ) Enumere os elementos de uma delegação de poderes;
f ) Distinga delegação de poderes expressa de delegação de poderes
Para terminar, importa, no entanto, referir que estes conflitos podem ser
tácita. Dê exemplos; e
- Positivos, quando as entidades ou os órgãos em causa entendem que g ) Elenque os poderes do delegante, no â mbito da delegação de po¬
tê m atribuições ou competência, respetivamente, para decidir sobre a deres.
matéria; ou

- Negativos, sempre que as entidades ou os órgãos entendem não ter


atribuições ou competência, respetivamente, para conhecer da questão,
havendo como que um vazio em termos estruturais. Nenhum dos órgãos
reconhece, por isso, ter atribuição ou competência para agir, para a prática
do ato administrativo ou para intervir no procedimento administrativo.

A resolução de qualquer destes conflitos está, ainda, sujeita ao disposto


no artigo 52B do CPA.
Note-se que o legislador impõe regras que se destinam a ser aplicadas por
órgãos ou titulares de órgãos de governo próprio das Regiões Autónomas
dos Açores e da Madeira, o que pode, de alguma forma, suscitar a dúvida
sobre se estas questões não deveriam ser previstas em legislação regional.

102
Nã o esqueçamos que os ministérios são conjuntos de serviços estaduais organizados
tendo em atenção as atribuições ou fins prosseguidas. Organizam-se, portanto, como se se
tratassem de verdadeiras pessoas coletivas.
A propósito, especificamente , dos conflitos de competência territorial, vide os pressupos
¬
103

tos de resolução dos mesmos, previstos no artigo 394 do CPA (correspondente ao anterior
artigo 32e do CPA revogado).
4. Palestra sobre procedimento administrativo

SUMáRIO:
Regime comum: disposições gerais. Dos acordos endoprocedimentais. Da rela ¬
çã o jurídica procedimental. Dos sujeitos do procedimento. Dos interessados
no procedimento. Da conferê ncia procedimental. Do direito à informa çã o.
Dos prazos. Das medidas provisórias. Dos pareceres. Da extin ção do procedimento.
Procedimentos do regulamento e do ato administrativos. Procedimento privativo
do regulamento administrativo. Procedimento privativo do ato administrativo.
Da iniciativa particular. Das notificações. Da instrução. Da audiê ncia dos interes¬
sados. Da decisão e outras causas de extinção do procedimento. Comunicações
prévias. Recomendação. Exercício formativo.

4.1. Regime comum: disposições gerais


O novo CPA prevê, na Parte III - Do procedimento administrativo, dois
títulos: o Título I respeitante ao regime comum do procedimento admi¬
nistrativo (artigos 53s a 95s) e, a partir do artigo 969, o Título II com as
regras peculiares dos procedimentos privativos do regulamento e do ato
administrativos, em dois capítulos autónomos (artigos 979 a 101Q e artigos
1029 a 1349, respetivamente).
Estudemos, para já, as principais disposições do regime comum a todos
os procedimentos mas, antes, vejamos alguns conceitos que são importantes.
Por procedimento administrativo104 entende -se, nos termos do ne 1 do
artigo l9 do CPA,

Vide, a este propósito, Diogo Freitas do Amaral, Fases do procedimento decisório do Is grau ,
104

Direito e Justiça, Revista da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa,


Volume VI, 1992, pág. 25 e segs.
CURSO SOBRE O NOVO C Ó DIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO PALESTRA SOBRE PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

“ (...) a sucessão ordenada de atos e formalidades relativos à formação, mani


¬
estão nos artigos 589 e 599 do CPA, respetivamente (correspondentes aos
festação e execução da vontade dos órgãos da Administração Pública.” anteriores artigos 569 e 579 do CPA revogado).
O princípio do inquisitório permite ao responsável pela direção do
São vá rios os elementos constitutivos da definição legal e que importa procedimento e aos outros órgãos que participem na instrução, atento
sintetizar: o disposto no artigo 589 do CPA, em suprimento dos interessados ou de
qualquer dos sujeitos procedimentais, e até independentemente da suas
- Sucessão juridicamente ordenada (por lei) ; vontades, poderem
- De um conjunto de atos e de formalidades;
- Com o objetivo de aferir (ou formar), manifestar (revelar ou exte¬ “ (•••) proceder a quaisquer diligências que se revelem adequadas e necessárias
riorizar) ou executar (aplicar ou cumprir ) a vontade dos órgãos da à preparação de uma decisão legal e justa, ainda que respeitantes a matérias não
Administra ção Pública. mencionadas nos requerimentos ou nas respostas dos interessados.”

Depois de encontrarmos esta definição legal, podemos estabelecer Ou seja, as instâncias com poderes jurídico-administrativos responsáveis
a distinçã o com o conceito de processo administrativo, que, nos termos pela direção do procedimento administrativo ou que participem na sua
do disposto no n9 2 do referido artigo l9 do CPA, é o suporte físico ou a instrução, ainda que instaurado por iniciativa dos interessados, podem
plataforma em que se reú nem os diferentes documentos necessá rios ao realizar ou ordenar, mesmo que oficiosamente, todas as diligências que
desenvolvimento do procedimento administrativo e toda a informação útil considerem necessá rias ao apuramento da melhor decisão administrativa
à boa decisão da Administração Pública. No processo administrativo, que a tomar, independentemente de as partes terem requerido tais diligências.
pode ser eletrónico, podemos encontrar diferentes tipos de documentos, Mais uma vez se exigem ( t ) adequação e ( it ) necessidade, que terão de ser
desde os oficiais, passando por documentos particulares e nominativos demonstradas porque, cada vez mais, o que interessa ao legislador é que a
e que podem conter dados pessoais, desde que respeitadas as normas Administração Pública possa, de forma substantiva, atuar de acordo com
legalmente em vigor sobre a matéria, informações de serviços, pareceres a lei, tomando a melhor e mais justa decisão em tempo considerado útil.
técnicos, entre muitos outros. O tradicional princípio do dispositivo, que permite ao decisor em sen¬
Como podemos verificar, o CPA, que comporta alguns artigos mera ¬
tido lato, qualquer que seja, decidir apenas e somente conforme os factos
mente doutrinais, define, igualmente, no aludido n 9 2 do seu artigo l , o
9
apresentados pelos interessados, proibindo-se-lhe a promoção de novas
processo administrativo, dizendo que é diligências para ir mais longe e procurar novos factos, opõe-se ao princípio
“ (...) o conjunto de documentos devidamente ordenados em que se traduzem do inquisitório, que possibilita o contrá rio, como resulta, entre nós, do
os atos eformalidades que integram o procedimento administrativo.” referido no artigo 589 do CPA: buscar factos não alegados pelos interessa¬
dos no procedimento administrativo, promover oficiosamente diligê ncias
Não restam, por isso, quaisquer dúvidas sobre estas duas realidades adequadas e necessárias, alargando os poderes do órgão da Administração
concetuais, dado que o legislador dispensou a doutrina de estabelecer as Pública e possibilitando um melhor conhecimento com vista a uma mais
definições, sendo estas, por isso, legais. acertada decisão.
No Capítulo I do Título I da Parte III do CPA (artigos 539 a 649), con ¬ Em conclusão, podemos afirmar que o princípio do inquisitório se opõe
sagram-se algumas disposições gerais e estruturantes (de regime comum) ao princípio do dispositivo, dado que com este o titular do procedimento
do procedimento administrativo, em parte influenciadas por algumas está plenamente limitado nos seus poderes, em função daquilo que sã o os
regras do contencioso administrativo português. Uma destas instituições pedidos das partes envolvidas. O CPA adotou como princípio fundamental,
é o princípio do inquisitório e outra o dever de celeridade, previstas que desde 1991, o do inquisitório, alargando o poder de intervenção de quem
CURSO SOBRE O NOVO CÓDIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO PALESTRA SOBRE PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

é titular do procedimento ou do órgão que conduz a instrução ou nele Importa igualmente assinalar que, nos termos do disposto no artigo 549
intervé m. Com esta opção, o legislador valorizou e valoriza a justiça mate¬ do CPA, consagra-se a partir de agora a Língua Portuguesa com a língua
rial da decisão em detrimento da justiça formal e, com isto, visa a decisão do procedimento administrativo.
legal e justa, como resulta da parte final do disposto no artigo 58fi do CPA. No artigo 559 do CPA, consagram-se novas regras sobre a direção do
Quanto à imposição de rapidez, importa recordar, de novo, que é no procedimento administrativo. Aqui se prevê, no n91, que a direção do pro¬
artigo 599 do CPA que se estipula um dever geral de celeridade. Vejamos cedimento cabe ao órgão com competência para a decisão final mas o n9 2
a norma, que é clara na suas disposições: do mesmo artigo impõe um dever de delegar num inferior hierárquico o
poder de direção do procedimento, embora, como se refere no preâ mbulo
“ O responsável pela direção do procedimento e os outros órgãos intervenientes do decreto-lei que aprova o novo CPA, “ (...) rodeado de prudentes cláusulas de
na respetiva tramitação devem providenciar por um andamento rápido e eficaz, salvaguarda (...)”. Há assim, por regra, uma separação clara entre a função
quer recusando e evitando tudo o que for impertinente e dilatório, quer ordenando instrutória e a função decisória. Este dever de delegar apenas não deve ser
e promovendo tudo o que seja necessário a um seguimento diligente e à tomada exercido se existir “ (...) disposição legal, regulamentar ou estatutária em contrário
de uma decisão dentro de prazo razoável’.’ ou quando a isso obviarem as condições de serviço ou outras razões ponderosas
atento o disposto na parte final do n9 2 do artigo 559 do CPA.
A questão da celeridade está muito presente ao longo de todo o CPA, Importa assinalar que, nos termos do disposto no n9 4 do mesmo artigo,
designadamente, no â mbito dos princípios da boa administração e da tratando-se de um órgão colegial que tenha competência para a decisão
adequação procedimental, previstos nos artigos 59, n91, e 569 do CPA, final, a delegação deve ter como destinatá rio um membro do respetivo
respetivamente. órgão ou um agente que dele dependa.
Depois de termos analisado dois aspetos estruturantes do procedimento Uma das questões que se levanta é a de saber se esta delegação deve
administrativo, importa referir que este pode iniciar-se, nos termos do seguir, na íntegra, o regime jurídico da delegação de poderes. Fica a dúvida.
disposto no artigo 539 do CPA (correspondente ao anterior artigo 549 do Importa ainda assinalar que, atento o disposto no artigo 559, ne 5, do
CPA revogado), CPA, o nome da pessoa responsável pela direção do procedimento é noti ¬

“ (...) oficiosamente ou a solicitação dos interessados” .


105 ficado oficiosamente aos participantes, figura com grande amplitude que
remete não apenas para o universo dos interessados mas que inclui no
Isto significa que a própria Administração Pública pode, independen¬ seu perímetro, igualmente, todos os que participarão no procedimento
temente da vontade dos particulares ou de quaisquer interessados, dar administrativo e que podem não ser os interessados. Esta comunicação
início ao procedimento administrativo. Como podemos verificar, a função pode ainda vir a ser prestada “ (...) a quaisquer outras pessoas que, demonstrando
administrativa do Estado é uma função ativa, já que, ao contrá rio da ju- interesse legítimo, requeiram essa informação.”
risdicional106 - afeta aos tribunais - a quem compete a administração da Por outro lado, o artigo 60® do CPA estipula, sob a epígrafe Cooperação
justiça e a justa composição de litígios, não necessita de impulso externo e boa-fé procedimental, um conjunto de disposições genéricas sobre coope¬
para atuar. ração entre órgãos administrativos e interessados, bem como, nos termos
do n9 2, um conjunto de deveres gerais dos interessados, designadamente,
105
Por dever e vontade da Administração Pública e independentemente de impulso procedi¬
no decurso do procedimento administrativo. Mais uma vez, o legislador
mental externo de qualquer particular ou interessado. inscreve (e repete107) princípios gerais fora da sua sistemática inicial.
106
Caracterizada por ser uma função passiva, que necessita, para intervir, de um impulso
processual externo que resulta de as partes (as pessoas singulares, coletivas ou o Ministé
¬

rio Público) levarem ao seu conhecimento factos que determinem legalmente a sua inter
107
¬
O princípio da boa-fé está anteriormente previsto como vinculando todo o procedimento
ven ção. administrativo, no artigo 105 do CPA.
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O princípio geral que vigora é o da estrita colaboração e cooperação do da Ciência Jur í dica, designadamente, da Informática e das Tecnologias de
entre a Administração Pública e os interessados, devendo estes evitar todas Informaçã Comunicação. Daí a importância da partilha de conhecimento
o e
as manobras dilatórias que impedem a celeridade procedimental, que se entre as diversas áreas do Saber, dado que algumas expressões, conceitos
pretende seja um dos pilares do procedimento gracioso e que por todos e realidades que o Direito acolhe apenas podem ser totalmente conhecidas
os intervenientes deve ser fomentada. e integradas com o auxílio de outras áreas técnicas.
Importa ainda salientar que os interessados estão vinculados ao prin ¬
O disposto no artigo 632 do CPA refere-se às comunicações efetuadas por
cípio da veracidade dos factos relatados e ao princípio da legalidade da telefax, telefone ou meios eletrónicos. Atento o estipulado no n21 e salvo
pretensão. Desta forma, não devem e não podem articular factos contrá rios disposição legal em contrário, as comunicações da Administração Pública
à verdade nem apresentar requerimentos ou quaisquer outras petições, com os interessados só podem ser efetuadas através daqueles meios “ (...)
representações ou impugnações contrárias à lei. mediante seu prévio consentimento,prestado por escrito (...)”. Para isso devem os
Como vimos anteriormente, o novo CPA veio dar grande ê nfase ao uso interessados, aquando da sua primeira intervenção procedimental, “ (...)
dos meios eletrónicos pela Administração Pública. O artigo 612 do CPA indicar, para o efeito, o seu número de telefax, telefone ou a identificação da caixa
impõe a utilizaçã o preferencial dos meios eletrónicos no decorrer do postal eletrónica de que é titular, nos termos previstos no serviço público de caixa
procedimento administrativo, se lei avulsa não determinar coisa diferente. postal eletrónica.”
O ne 2 do artigo impõe, aquando da utilização de meios eletrónicos Quanto à questão do serviço público de caixa postal eletrónica,importa referir
durante a instru ção, a obrigatoriedade de indicação do “ (•••) responsável que, em Portugal, é um serviço que permite receber correio em formato
pela direção do procedimento106 e o órgão competente para a decisão (...) ” e o eletrónico e digital com valor legal e que tem estado concessionado aos
n 2 3 assegura aos interessados um conjunto de garantias que salvaguarda CTT, através do serviço ViaCTT, que é gratuito. É de salientar, no entanto,
o exercício de direitos dos interessados, designadamente, o conhecimento que se podem colocar questões de vária ordem sobre a obrigatoriedade de
do estado do procedimento administrativo. recorrer a este serviço. Por um lado, porque se os interessados indicarem,
Neste mesmo artigo, nos termos do disposto no ne 3, alínea t í ) , o le¬ voluntariamente, outro qualquer endereço eletr ónico que n ão corres¬
gislador vai ao ponto de se preocupar com a necessidade de facilitar aos ponda ao endereço eletrónico do serviço ViaCTT não deverá o mesmo
interessados, designadamente , nome do utilizador e palavra-passe de modo deixar de ser usado, pois recai sobre o interessado um dever de consulta
a poderem comunicar eletronicamente, através de plataformas, com as da sua caixa de correio eletrónica, mas, por outro lado, não deixa de ser
estruturas administrativas e, quando a lei preveja, ainda “ (...) conta de correio correto afirmar que o legislador se refere expressamente àquele serviço .
eletrónico e assinatura digital certificada Reconhecemos, por isso, que se trata de uma questão complexa e que pode
A utilização dos meios eletrónicos visa desmaterializar fisicamente os levantar algumas reservas, quer por parte dos interessados quer por parte
procedimentos e, sobretudo, os processos administrativos. das entidades administrativas.
O novo CPA impõe, de seguida, no seu artigo 622, que, sempre que pos¬ O n 2 2 do mesmo artigo consagra uma presun ção de consentimento
sível, o procedimento administrativo deve correr através de um balcão único quando, na ausência de consentimento prévio escrito, nos termos do n21,
eletrónico, nos termos e observadas as regras previstas naquele normativo. “ (...) o interessado (...) tenha estabelecido contacto regular através daqueles meios”
Estas regras relativas à utilização genérica de meios eletrónicos necessitam Neste caso, exige-se à Administração Pública que preencha o conceito
de ser interpretadas à luz de alguns conceitos que são de domínios distintos vago e indeterminado de contacto regular, necessitando de se fundamentar,
em qualquer dos casos, a verificação ou não do pressuposto substantivo
108
Naturalmente que, aqui, o legislador está a pensar não apenas no órgã o decisor mas igual
¬
da regularidade. O n2 3 do referido artigo 632 estipula regras específicas
mente, a nosso ver, no delegado que vai assumir a direção do procedimento, de acordo
com relativas às comunicações da Administração P ública com pessoas coletivas,
de
imposição que decorre do artigo 55“ , n 2, do CPA; caso contrário, há coincid ê ncia estru
9 ¬
reduzindo algumas das exigências anteriormente referidas e relativas a
turas, atento o disposto no nri 1 do mesmo artigo.
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pessoas singulares e dispensando o “ (...) consentimento,quando sejam efetuadas condução do procedimento, ou seja, “ na ausência de normas jurídicas injun-
para plataformas informáticas com acesso restrito ou para os endereços de correio tivas109, o responsável pela direção do procedimento goza de discricionariedade na
eletrónico ou número do telefax ou de telefone indicados em qualquer documento por respetiva estruturação (...) ” , atento o disposto na parte inicial do já referido
elas apresentado no procedimento administrativo artigo 569 do CPA. Esta liberdade está, no entanto, vinculada (z) pelos
Por fim, o artigo 649 do CPA encerra o capítulo I relativo às disposições princípios gerais da atividade administrativa e deve ser orientada ( it ) pelos
gerais do procedimento administrativo e trata, em concreto, da documen¬ interesses públicos da participação, da eficiê ncia, da economicidade e da
tação das diligências e integridade do processo administrativo. Assim se prevê, celeridade na preparação da decisão, atento o estipulado no mesmo artigo
no seu n91, que 569, in fine, do CPA. Ou seja, a tal liberdade concedida pelo legislador para
estruturar discricionariamente o procedimento não pode desrespeitar os
“ Das diligências realizadas oralmente são lavrados autos e termos, que de¬

limites e não deixar de ter em conta os fins determinados pelo legislador,


vem conter a menção dos elementos essenciais e da data e lugar da realização da
no referido artigo do CPA. Este novo princípio parece um pouco incon¬
diligência a que respeitam.”
gruente com a própria ideia da existê ncia de um diploma legal codificador
Por outro lado, o n9 2 refere que de regras injuntivas que visam organizar e reger o próprio procedimento
administrativo. A final, é disso que se encarrega o próprio CPA...
“ O processo administrativo em suporte de papel éautuado e paginado de modo Na sequência do que atrás ficou dito, o legislador veio a consagrar a
a facilitar a inclusão dos documentos que nele são sucessivamente incorporados possibilidade de se celebrarem acordos endoprocedimentais, nos termos
e a impedir o seu extravio.
” previstos no artigo 579 do CPA. Estes acordos, dada a expressão endopro ¬

cedimentais que os identifica, regulam o que está dentro do procedimento.


Isto é, os documentos devem ser juntos e reunidos numa única peça (que Por isso, o decisor público e os interessados podem, por escrito, acor¬
pode vir a ter vários volumes), o que passa a permitir a junção e numera ¬
dar termos do procedimento, de acordo com o disposto no artigo 579,
ção de nova documentação e que ajuda a impedir o seu desaparecimento. n919, do CPA. Trata-se, verdadeiramente, de um modo de articular e de
O n 9 3 vem impor a necessidade de o órgão responsável pela direção do conciliar, de forma vinculativa para ambas as partes acordantes, alguns
procedimento “ (...) rubricar todas as folhas do processo administrativo (...)” aspetos do procedimento. Se atendermos ao referido no n 9 2 do artigo
e assegurar o direito aos interessados e seus mandatá rios de rubricar, 579 do CPA, podemos verificar que “ (...) o seu objeto pode, designadamente,
igualmente, quaisquer folhas que desejem do processo administrativo, consistir na organização de audiências orais para exercício do contraditório entre os
salvaguardando o n9 4 os casos específicos de processos administrativos em interessados que pretendam uma certa decisão e aqueles que se lhe oponham” mas,
suporte eletrónico. Ora, o facto de se permitir aos interessados e aos seus como a própria norma refere, este é apenas um mero exemplo que ilustra
mandat á rios a rubrica das páginas dos processos administrativos significa a possibilidade do conte údo de um acordo endoprocedimental. Aqui, o
mais uma garantia dos particulares interessados, que assegura a veracidade legislador sentiu a necessidade de explicitar o que pretende e com o teor
dos documentos juntos e existentes no processo e que dificulta a junção da norma exemplifica uma das possibilidades legalmente admissíveis.
de documentos, designadamente, extemporâ neos. Por isso, os acordantes podem alargar, dentro dos limites legais, o objeto
de incidência do acordo endoprocedimental.
4.1.1. Dos acordos endoprocedimentais Não deixa de ser de assinalar o prescrito no n9 3 do referido artigo 579
O novo CPA veio consagrar um novo princípio, inscrito fora da sistemᬠVejamos o conte údo da norma, que parece, de alguma forma, diminuir o
tica inicial dos princípios gerais que regulam a atividade administrativa: papel do órgão público decisor a parte procedimental, quase em situação
o princípio da adequação procedimental, previsto no artigo 569 do CPA.
Este princípio passa a ser determinante na forma de organiza ção e de 109
Normas imperativas.
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ií) Os particulares, cumpridos os requisitos de legitimidade previstos


de igualdade com os interessados, o que pode levantar algumas questões
no ne 1 do artigo 689 do CPA (alínea b ) do n9 1);
de legalidade e de coerência e unidade do sistema, sobretudo quando haja
Ui) Entidades singulares ou coletivas de Direito Privado, na defesa de
alteração superveniente do interesse público que contrarie o clausulado
interesses difusos (alínea c) do ne 1); e
acordado e firmado pelas partes. A norma estipula o seguinte:
iv ) Outros órgãos com funções administrativas, nas condições previstas
os
“ Durante o procedimento, o órgão competente para a decisão finaloueem no ne 4 do artigo 689 do CPA (alínea d) do n91).
interessados também podem celebrar contrato para determinar, no todo
parte, o conteúdo discricionário do ato administrativo a praticar no termo do Ainda nesta secção, o artigo 669 trata de regular o auxílio administra ¬

procedimento tivo. Esta figura estabelece, supõe e exige uma articulação e cooperaçã o
intensas entre órgãos da Administraçã o P ública, visto que determina que
O exercício das competê ncias discricionárias dos órgãos das Adminis
¬

trações Públicas é uma manifestação do poder de autoridade pública


, o que “ 1 - Para além dos casos em que a lei imponha a intervenção de outros
, e a todo o tempo ,o ,
órgãos no procedimento, o órgão competente para a decisão final deve por ini¬
os obriga a saberem interpretar correta e legalmente
ciativa própria, por proposta do responsável pela direção do procedimento ou a
interesse público.
requerimento de um sujeito privado da relação jurídica procedimental, solicitar
o auxílio de quaisquer outros órgãos da Administração Pública, indicando um
4.1.2. Da relação jurí dica procedimental
, prazo útil, quando:
O Capítulo II do Título I apresenta três secções: a primeira diz respeito a ) O melhor conhecimento da matéria relevante exija uma investigação para
genericamente , aos sujeitos do procedimento, a Secção II trata dos
inte ¬

a qual o órgão a quem é dirigida a solicitação disponha de competência exclusiva


ressados no procedimento administrativo e, por fim, a Secção III regula as ou de conhecimentos aprofundados aos quais o órgão solicitante não tenha acesso;
te,
garantias procedimentais de imparcialidade, já estudadas anteriormen b) Só o órgão a quem é dirigida a solicitação tenha em seu poder documentos
a propósito da tutela direta do princípio da imparcialidade. Estudemos ou dados cujo conhecimento seja necessário à preparação da decisão;
as secções iniciais, que assentam sobretudo na teoria da relação jurídico- c) A instrução requeira a intervenção de pessoal ou o emprego de meios técnicos
-administrativa e que atribuem um paralelismo de posição aos sujeitos de que o órgão competente para a decisão final não disponha.
a
que vão intervir na relação. No entanto, nada disto nega ou diminui 2 - A comunicação de documentos ou dados solicitados nos termos do nú ¬

publicização do Direito Administrativo e, sobretudo, os poderes públicos¬ mero anterior aplicam-se as restrições fixadas na legislação sobre o acesso aos
de autoridade de que são titulares, designadamente, os órgãos da Admi documentos administrativos.
nistração Pública. Não deixa de se assinalar, contudo, uma tend
ência que
3 - Em caso de recusa de auxílio administrativo requerido nos termos do
pretende colocar em crise este aspeto do nosso sistema administrativo. nBl , ou de dilação na sua prestação, a questão é resolvida, consoante o caso, pela
autoridade competente para a resolução de conflitos de atribuições ou de compe ¬

4.I.2.I. Dos sujeitos do procedimento tência entre os órgãos solicitante e solicitado ou, não a havendo, por órgão que
O artigo 65Q do CPA vem dizer-nos quais são os sujeitos da relação jurídica exerça poderes de direção, superintendência ou tutela sobre o órgão solicitado.”
procedimental. Deste modo, podemos encontrar na relação jur ídica,
, Podemos verificar que o legislador, atento o disposto no n9 2, impõe
/) Os óigãos de quaisquer entidades, independentemente da sua natureza
um especial dever de reserva, de confidencialidade e de sigilo, até em virtude
que atuem ao abrigo do exercício de poderes públicos ou cuja conduta seja
de legislação particular sobre a maté ria que salvaguarda o acesso aos
regulada, de modo particular, por disposições de Direito Administrativo
documentos administrativos.
(alínea a ) do nB 1);
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De igual modo, para evitar o incumprimento ou recusa do solicitado exemplo, entre muitas outras, as associações para defesa de interesses
apoio administrativo, o na 3 impõe um meio direto para a sua resolução: coletivos e, até, os órgãos administrativos.
caberá à autoridade competente para a resolução de conflitos de atribuições ou de Relativamente a este artigo, importa assinalar que o legislador deixou
competência entre os órgãos solicitante e solicitado ou, não a havendo, por órgão cair a exigência de as entidades não terem caráter político ou sindical,
que exerça poderes de direção, superintendência ou tutela sobre o órgão solicitado a dada a jurisprudência do nosso Tribunal Constitucional sobre a maté ria.
decisão da questão. Os conflitos de atribuições ou de competências são hoje O nQ 1 do artigo 68a do CPA atribui, expressamente, legitimidade para
dirimidos, como vimos já, nos termos do disposto no artigo 51a do CPA. dar início a procedimento administrativo aos interessados e, aqui, parece
referir-se, direta e imediatamente, aos particulares e às entidades privadas
4.I.2.2. Dos interessados no procedimento e ainda às associações, na defesa singular de interesses coletivos e na de¬
Os artigos 67e e 68a do CPA (correspondentes aos anteriores artigos 52e e fesa coletiva de interesses individuais dos seus associados de acordo com
539 do Código) estabelecem um conjunto de regras, em termos de legiti¬ o princípio da especialidade ou fim das pessoas coletivas, ou seja, desde
midade para intervenção no procedimento administrativo. Deste modo, a que essas defesas caibam no respetivo â mbito de atuação estatutá ria.
suscetibilidade para iniciar e para intervir no procedimento administrativo Na defesa de interesses difusos, a legitimidade decorre do disposto
afere-se pelas regras gerais da capacidade jurídica, previstas designada- no na 2 e, no caso da defesa de “ (•••) bens do Estado, das regiões autónomas e
mente no Código Civil português. de autarquias locais afetados por ação ou omissão da Administração (...) ” , rege o
Importa salientar que os órgãos e os agentes da Administração Pública na 3 do mesmo artigo.
devem atender às regras gerais de Direito, no que diz respeito à personali¬ O na 4 dirá respeito a outros órgãos que exerçam funções administrativas
dade e à capacidade jurídicas das pessoas singulares e coletivas, previstas, e que podem ser, por exemplo, estruturas integrantes de concessionários.
como se disse, no Código Civil. É neste Código que vamos encontrar,
igualmente, as regras gerais aplicáveis ao suprimento das incapacidades, 4.1.3. Da conferência procedimental
designadamente, dos menores, interditos e inabilitados. Atento ainda o A conferência procedimental, quando tenha lugar, assume-se como uma
disposto no artigo 67a do CPA, os particulares podem fazer-se represen¬ nova fase do procedimento administrativo.
tar (ou estar em lugar do representado) ou assistir (uma função de apoio Ou seja, a confer ê ncia procedimental est á prevista para permitir
ou de aconselhamento, menos intensa que a da representação; no fundo, que órgãos conferenciem e se articulem, atento o disposto no artigo
colocar-se ao lado do assistido) através de mandatário. Assim, a capacidade 77a, na 1, do CPA, no exercício das suas compet ê ncias, “ ( •••) no sentido
de intervenção nos diferentes procedimentos administrativos vai depender, de promover a eficiência, a economicidade e a celeridade da atividade adminis ¬

em concreto, da capacidade jurídica do interessado. Sendo titular de um trativa.” É, portanto, um mecanismo que possibilita um desempenho
direito mas estando impossibilitado de o exercer, por ser menor, interdito mais eficiente da competê ncia e, por isso, tem uma fun çã o meramente
ou inabilitado, devem seguir-se as regras, previstas na legislação civil, de instrumental e adjetiva no exercício dos poderes legalmente atribuídos
suprimento das incapacidades e terão de intervir os titulares do poder aos órgãos do poder público.
paternal, da tutela ou da curatela, conforme os casos. As conferê ncias procedimentais, atento o previsto no referido artigo
Por outro lado, a participação no procedimento administrativo pode 77 , na 1, do CPA, podem ter as seguintes finalidades:
a

fazer-se, como se viu, segundo as regras gerais de representação forense, i) O exercício em comum de competê ncias; ou
através de mandatário. ií) O exercício conjugado de competê ncias, por diferentes órgãos da
De acordo com o disposto no artigo 68a do CPA, são vá rias as entidades, Administração Pública.
organismos e órgãos que podem dispor de legitimidade para dar início ao
procedimento administrativo, na defesa de interesses difusos. São disso
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Deste modo, o legislador regula, atento o disposto no artigo 779, .


4.1.4 Do direito à informação
n 3, do CPA, duas modalidades de conferê ncias procedimentais, e que são
9 O direito à informação dos interessados é uma garantia prevista nos arti ¬

gos 829 e seguintes do CPA (correspondentes aos anteriores artigos 619


i ) A conferência deliberativa , que se destina, nos termos da alínea a ) do e seguintes do CPA revogado) . Recorramos uma vez mais ao texto legal,
nQ 3, à obtenção de um único ato de conteúdo complexo (que substitui a que é claro e elucidativo. O n91 do referido artigo 829 diz que
prática, por diversos órgãos, de vários atos autónomos); e
«) A conferência de coordenação, que, atento o disposto a alínea b ) do na 3, “ Os interessados têm o direito de ser informados pelo responsável pela direção
visa a obtenção de vários atos administrativos autónomos, individualmente do procedimento, sempre que o requeiram, sobre o andamento dos procedimentos
praticados (pelos diferentes órgãos da Administração Pública) mas de que lhes digam diretamente respeito, bem como o direito de conhecer as resoluções
forma simultâ nea. definitivas que sobre eles forem tomadas

Vejamos o que refere, concetualmente, o n9 3 sobre esta matéria: O preceito é, como dissemos, claro e não necessita de grandes escla ¬
recimentos. O direito dos interessados à informação está, assim, consagrado
“ As conferências procedimentais relativas a vários procedimentos conexos em duas vertentes:
ou a um único procedimento complexo, em que há lugar à tomada de diferentes
decisões por diferentes órgãos, podem assumir uma das seguintes modalidades: - Quanto ao conhecimento do andamento dos procedimentos admi ¬

a) Conferência deliberativa, destinada ao exercício conjunto das competências nistrativos que lhes digam respeito; e
decisórias dos órgãos participantes através de um único ato de conteúdo complexo, - Quanto ao conhecimento das resoluções definitivas que sobre eles
que substitui a prática, por cada um deles, de atos administrativos autónomos; (interessados) forem tomadas.
b) Conferência de coordenação, destinada ao exercício individualizado, mas
simultâneo, das competências dos órgãos participantes, através da prática, por Releva notar que as informações solicitadas devem ser prestadas pela
cada um deles, de atos administrativos autónomos” Administração Pú blica no prazo máximo de 10 dias, de acordo com o dis ¬

posto no n9 3 do artigo 829, conjugado com o previsto no artigo 849, n91,


As confer ências procedimentais podem surgir, assim, no â mbito de um ambos do CPA (este último correspondente ao anterior artigo 639, n91,
procedimento administrativo ou de procedimentos conexos ou interrela- do CPA revogado). É ainda de assinalar o disposto no artigo 829, n9 4, do
cionados, atento o disposto no n9 2 do artigo 11- do CPA. Código, que determina que nos procedimentos administrativos eletrónicos
O legislador, no n 9 4, admite a forma contratual, em substituição dos se deve obter, por igual via, a “ (...) informação sobre o estado de tramitação do
atos cuja preparação se visava com os procedimentos que deram origem às procedimento” .
conferências procedimentais. Só com a prática administrativa se pode afe¬ Ao abrigo deste direito110, os particulares que demonstrem interesse
rir da validade deste novo mecanismo que parece elevar os interessados à podem, nomeadamente, e nos termos do disposto nos artigos 839 c
categoria de quase coautores de atos administrativos, com forma contratual 84s do CPA (correspondentes aos anteriores artigos 629 e 639 do CPA
mas natureza originariamente unilateral. revogado):
Os artigos seguintes tratam de regular um conjunto de elementos que
se prendem, genericamente, com regras de instituição, em concreto, e
operacionalização das conferê ncias procedimentais.
110
Este direito é extensível, nos termos do disposto no artigo 85" do CPA (correspondente
ao anterior artigo 64- do CPA revogado) , a todos quantos demonstrem um interesse legí ¬

timo no conhecimento dos elementos que constem do processo administrativo.


CURSO SOBRE O NOVO C ÓDIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO PALESTRA SOBRE PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

- Consultar processos administrativos que não contenham matérias íV. Os prazos estipulados em 24 ou 48 horas corresponderão a um ou
classificadas111 ou que revelem segredo comercial ou industrial ou dois dias, respetivamente, atento o teor da alínea e ); e
segredo relativo, genericamente, à propriedade autoral; .
v Se, no último dia do prazo, o serviço público respetivo estiver fechado
- Solicitar a passagem de certidões; ou não funcione durante o per íodo normal, o termo do prazo transfere-
- Solicitar reproduções; e -se para o primeiro dia útil imediatamente seguinte (por exemplo, se o
- Requerer declarações autenticadas. serviço se encontrar fechado a uma sexta-feira, por tolerância de ponto, o
termo do prazo transferir-se-á para a segunda-feira seguinte), de acordo
4.1.5. Dos prazos com as alíneas f ) eg ).
No que diz respeito aos prazos, a regra geral para a prática dos atos, segundo
o disposto no artigo 86s, n9 1, do CPA (correspondente ao anterior artigo O artigo 889 do CPA estipula as regras relativas à dilação, que é um
719, n91, do CPA revogado), é de 10 dias, tendo-se sempre entendido que tipo de prazo não perentório, ou seja, findo o qual não preclude o direito
este prazo, embora meramente disciplinador, deva ser cada vez mais res¬ que se visa exercer.
peitado e cumprido, evitando-se o recurso aos tribunais administrativos, O quadro que segue apresenta, de forma esquematizada e segundo a
-
que dispõem da possibilidade de determinar e, em certos casos, impor organização sistemática do diploma, os principais prazos previstos no CPA.
- a prática de atos pelos órgãos da Administraçã o Pública. Exceciona-se
o prazo de decisão do procedimento, de acordo com a primeira parte da ¬ PRAZOS - REGRAS GERAIS
quele normativo. Prazo igual é atribuído aos interessados, nos temos do Procedimento administrativo Prazo(s) Normativo
disposto no n9 2, para “ (...) requererem ou praticarem quaisquer atos,promoverem PARTE I - DISPOSIÇÕES GERAIS
diligências, responderem sobre os assuntos acerca dos quais se devam pronunciar ou Capítulo II - Princípios gerais da atividade administrativa
exercerem outros poderes no procedimento” Prática, pelo órgão competente, Há menos de 2 anos, contados Artigo 13s, n° 2, do CPA
As regras de contagem dos prazos estão previstas no artigo 879 (e no de um ato administrativo sobre da data da apresentaçã o do re ¬
artigo 1139) do CPA (correspondentes aos anteriores artigos 729 e 679, o mesmo pedido, formulado querimento
pelo mesmo particular com os
n9 2, do CPA revogado, respetivamente) e as relativas às dilações estão mesmos fundamentos, a qual
previstas no artigo seguinte. origina inexistência do dever
legal de decisão
As principais regras de contagem dos prazos previstas no referido artigo
879 do CPA são: Cumprimento de obrigação Prazo para tal estabelecido Artigo 19°, ns 1, do CPA
imposta pelo direito da União
Europeia à Administração Pú¬
í. A contagem do prazo inicia-se independentemente de quaisquer blica de prestar informações,
formalidades, de acordo com a alínea a ); apresentar propostas ou, por
ii. Não se inclui na contagem o dia em que ocorre o evento ou o facto a alguma forma, colaborar com a
Administração Pública de ou ¬

partir do qual o prazo se inicia (por exemplo, se um ato produzir efeitos 10 tros Estados-membros
dias depois do dia 7 de janeiro isso significa que o dia 7 de janeiro não conta PARTE II - DOS ÓRGÃOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
e se inicia a contagem a partir do dia 8 de janeiro), nos termos da alínea b ); Capítulo II - Dos órgãos colegiais
iii. Só se contabilizam os dias úteis, exceto se o prazo administrativo for
Dever de comunicação a todos De forma a garantir o seu conhe Artigo 23s, ns 2, do CPA
superior a seis meses; neste caso, contabilizam-se também os sábados, os
¬

os membros do órgão colegial cimento seguro e oportuno


domingos e os feriados, nos termos do disposto nas alíneas c ) e d); de quaisquer alterações ao dia
e hora fixados para as respetivas
reuniões
Por exemplo, como “ segredo de Estado” .
PALESTRA SOBRE PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
CURSO SOBRE O NOVO C Ó DIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

Realizaçã o de reuniã o extraor¬ Um dos 15 dias seguintes à apre ¬ Artigo 242, n 3, do CPA
2 Cap ítulo V - Dos conflitos de atribuições e de competê ncia
dinária do órgã colegial
o senta çã o do pedido para reali ¬
Decisão do procedimento de 30 dias Artigo 522, n 2 2, do CPA
zação da reuni ã o resoluçã o de conflito de atri¬
buições ou de conflito de com¬
Convocató ria de reunião extra¬ Sempre com uma antecedência Artigo 242, n 3, do CPA
2

m í nima de 48 horas sobre a data petência pelo órgão competente


ordinária do órg colegial
ã o
da reuni ão PARTE III - DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
Convocató ria de reuni ão extra ¬ Anteced ência mínima de 48 Artigo 242, n2 6, do CPA Tí tulo I - Regime comum
ordin á ria do órgão colegial efe¬ horas
tuada diretamente pelos reque¬ Capítulo I - Disposições gerais
rentes, caso o respetivo presi ¬ Tomada de decisão em proce¬ Dentro de prazo razoável Artigo 592 do CPA
dente não proceda à convocação dimento administrativo, atento
requerida o dever de celeridade do res ¬

Apresentação, por qualquer vo ¬ Antecedência m í nima de 5 dias Artigo 252, n 21, do CPA ponsável pela direção do pro ¬
gal do órgão colegial, de pedido sobre a data da reunião cedimento e dos outros órgãos
escrito relativo a inclusã o de as- intervenientes na respetiva tra¬
suntos na ordem do dia de cada mitaçã o
reuniã o, desde que sejam da Tomada de decisão em procedi¬ Num prazo razoável Artigo 602, n 2 2, do CPA
competência do órgão mento administrativo, atentas
Entrega da ordem do dia de reu¬ Antecedê ncia de, pelo menos, Artigo 252, n 2, do CPA as coopera ção e boa-fé proce¬
2

niã o do órgão colegial a todos os 48 horas sobre a data da reuni ão dimental exigidas aos interes¬
membros sados

Dever de dar publicidade aos Antecedência de, pelo menos, Artigos 272, n 2, do CPA
2
Inserçã o, nas plataformas ele ¬ 5 dias contados do inicio do pro ¬
Artigo 62a, na 6, alí nea £), do
dias, horas e locais de realiza ¬ 48 horas sobre a data da reuni ão trónicas, dos valores ou fórmu¬ cedimento CPA
ção de reuniões do órgã o cole ¬ las de cálculo das taxas a pagar
gial, quando estas hajam de ser pelo interessado no procedi¬
p ú blicas, de forma a garantir o mento administrativo e notifica ¬
conhecimento dos interessados ção do interessado para proce¬
der ao seu pagamento
Convocação de nova reunião do Intervalo mínimo de 24 horas Artigo 292, n 2 2, do CPA
ó rgão colegial, quando n ã o se Capitulo II - Da relação jur ídica procedimental
verifique, na primeira convoca¬ Prestação de auxílio, por quais¬ Prazo útil Artigo 662, n 21, do CPA
ção, o quórum legalmente esta¬ quer ó rgãos da Administração
belecido Pública , ao órgão competente
Capitulo III - Da competência para a decisão final do procedi ¬
mento administrativo
Dever do órgão administrativo Até que tenha havido pron úncia Artigo 382, n 21, do CPA
competente para a decisão final sobre a questão prejudicial, sal ¬
de suspender o procedimento vo se da não resolução imediata
Dilação na prestação de auxílio
administrativo
- Artigo 662, n 2 3, do CPA

administrativo , se a decisão final do assunto resultarem graves Decisão de escusa ou suspeição 8 dias Artigo 75a, n° 2, do CPA
depender da decisão de questão prejuízos para interesses pú bli¬
prejudicial cos ou privados Capítulo III - Da conferência procedimental
Cessação da suspensão do pro¬
cedimento administrativo por
— Artigo 382 , n 2, alíneas a ) , b ) e
t), do CPA
2
Dever de convocar a conferên¬ 15 dias
cia procedimental
Artigo 792, n2 2, do CPA

questões prejudiciais Antecedência mínima de 5 dias Artigo 792, n 2 3, do CPA


Dever de convocatória da pri ¬
meira reuni ã o da confer ê ncia em relação à data da reunião
procedimental
CURSO SOBRE O NOVO C Ó DIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

Proposta de adiamento da reu Não superior a 10 dias


nião da confer ê ncia procedi¬
mental pelos órgãos participan ¬
tes, em caso de impossibilidade
¬
Artigo 79°, na 3, do CPA
r mediante impressão nos servi¬
ços da Administração, das cer¬
tid ões, reproduções ou declara¬
PALESTRA SOBRE PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

Passagem, por via eletrónica ou Máximo de 3 dias Artigo 84B, na 3, do CPA

fundamentada ções, com a devida autenticação,


quando os elementos constem
Invocação de justo impedi¬ 8 dias Artigo 79°, na 6, do CPA de procedimentos informatiza ¬
mento, por órgão que tenha fal¬ dos
tado à conferência procedimen¬
tal deliberativa Cap ítulo V - Dos prazos

Juntada de parecer escrito, por 8 dias Artigo 79a , na 7, do CPA Prática de atos, pelos ó rgãos ad ¬ 10 dias Artigo 86°, n91, do CPA
órgãos titulares de competência ministrativos, exceto a decisão
consultiva que participem na do procedimento
conferência procedimental Artigo 86a, ns 2, do CPA
Requerimento ou prá tica , pelos 10 dias
Suspensão do prazo para con ¬ Durante a realização da au ¬ Artigo 80a , n2 3, do CPA interessados, de quaisquer atos,
clusão da conferência procedi ¬ diê ncia pública obrigat ória na promoção de diligê ncias, res¬
mental pendê ncia da confer ência pro¬ posta sobre os assuntos acerca
cedimental dos quais se devam pronunciar
ou exercício de outros poderes
Realizaçã o/ conclusão da confe¬ 60 dias Artigo 81a , na 1, do CPA no procedimento
rência procedimental

Prorroga çã o do prazo para reali ¬ Mais 30 dias (prazo máximo de Artigo 81a, na 1, do CPA
Contagem dos prazos - Artigo 87a do CPA

zação/conclusão da conferência 90 dias) Dilações dos prazos 5 dias, 15 dias ou 30 dias Artigo 88a do CPA
procedimental Capítulo VI - Das medidas provisórias
Suspensão dos prazos para a No decurso da conferência pro Artigo 81a, na 1, do CPA
Caducidade das medidas provi¬ O fixado para as medidas pro ¬ Artigo 90 a, alí nea b ) , do CPA
¬

conclusão dos procedimentos cedimental sórias por expiração do prazo visórias ou a respetiva prorro-
nos quais deveriam ser pratica ¬
gação
dos os vários atos envolvidos
Caducidade das medidas provi¬ O fixado na lei para a decisão Artigo 90a , alí nea c), do CPA
Prática, pelos órgãos partici¬ 8 dias, a contar do termo da con¬ Artigo 81a, na 6, do CPA
sórias por expiração do prazo final
pantes na conferencia que não fer ência
tenham apresentado objeções Caducidade das medidas provi¬ Dentro dos 180 dias seguintes Artigo 90e, alí nea d) , do CPA
quanto à matéria da sua compe¬ sórias por a decisão final não ser à instauração do procedimento
t ência , individualmente, do ato proferida
administrativo que lhes com ¬
Capítulo VII - Dos pareceres
pete
Emissão de pareceres, na falta 30 dias Artigo 92a, n 2 3, do CPA
Capítulo IV - Do direito à informação
de disposição especial
Prestação das informações soli ¬ Máximo de 10 dias Artigo 82a, na 3, do CPA
Prazo diferente para emissão Não inferior a 15 dias nem supe ¬ Artigo 92a, na 4, do CPA
citadas ao abrigo do direito dos
de pareceres, quando fixado, rior a 45 dias
interessados à informaçã o pro¬
f úndamentadamente, pelo res¬
cedimental
ponsável pela direção do proce ¬
Obrigação de os serviços com ¬ Máximo de 10 dias, a contar da Artigo 84a, na 1, do CPA dimento
petentes passarem certidã o, apresentação do requerimento
Interpelação, pelo responsá vel 10 dias Artigo 929, nB 6, do CPA
reprodução ou declara ção au ¬
tenticada dc documentos re¬ pela direção do procedimento,
do órgã o competente para emi ¬
queridos, independentemente
tir o parecer obrigat ório e vin ¬
de despacho
culativo
PALESTRA SOBRE PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
CURSO SOBRE O NOVO C Ó DIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

Proferimento da decisão final 20 dias a contar da interpelação Artigo 92a, na 6, do CPA Confirmação, por carta regis¬ Dia útil imediato Artigo 112a, na 5, do CPA
do procedimento sem a prévia para emissão do parecer tada , da notificação feita por
emissão do parecer obrigat ó rio
telefone
e vinculativo, por o órgão com Notificação por telefone, confir¬ Considera-se feita na data da Artigo 112a , na S, do CPA
¬

petente não o ter emitido mada por carta registada primeira comunicaçã o
Título II - Procedimento do regulamento e do ato administrativo Presunção de notificação feita 3a dia útil posterior ou Ia dia útil Artigo 113a, na 1, do CPA
Capí tulo I - Procedimento do regulamento administrativo por carta registada seguinte , quando aquele dia não
seja útil
Submissão a audiência dos inte¬ Razoável, mas não inferior a 30 Artigo 100 a , na I, do CPA
ressados, pelo responsável pela dias Presunção de notifica ção feita Data da emissão Artigo 113a , ns 3, do CPA
direção do procedimento, do por telefax
projeto de regulamento admi¬ Notificação por meios eletróni ¬ Considera -se efetuada no mo ¬ Artigo 113a, na 5, do CPA
nistrativo que contenha disposi¬ cos, feita por correio eletr ónico mento em que o destinatário
ções que afetem de modo direto aceda ao específico correio en ¬
e imediato direitos ou interesses viado para a sua caixa postal
legalmentc protegidos dos cida ¬ eletrónica
d ãos
Notificação por meios eletr ó¬ Considera-se efetuada no mo¬ Artigo 113°, na 5, do CPA
Suspensão da contagem dos Durante a realiza ção da audiê n¬ Artigo 1002, nfi 5, do CPA nicos, feita por outras vias de mento em que o destinatário
prazos do procedimento admi¬ cia dos interessados, no â mbito transmissão eletr ónica de dados aceda ao espec ífico correio en ¬

nistrativo de procedimento do regula ¬ viado para a sua conta eletr ónica


mento administrativo
aberta junto da plataforma in ¬
Dever de os interessados dirigi¬ 30 dias , a contar da data da pu¬ Artigo 101a, na 2, do CPA formática disponibilizada pelo
rem , por escrito, as suas suges¬ blicação do projeto de regula¬ sítio eletrónico institucional do
mento administrativo órgão competente
t ões ao órgã o com compet ê ncia
regulamentar -
Notifica ção por meios eletró¬ Considera se efetuada no 25a Artigo 113a, ns 6, do CPA
Capí tulo II - Procedimento do ato administrativo nicos , em caso de ausê ncia de dia posterior ao seu envio
acesso à caixa postal eletrónica
Remessa aos órgãos competen¬ 3 dias após o seu recebimento Artigo 103a, na 3, do CPA ou à conta eletr ónica aberta
tes dos requerimentos dirigidos junto da plataforma informática
aos órgãos centrais, apresenta ¬ disponibilizada pelo sítio ele¬
dos nos serviços locais descon ¬ trónico institucional do órgão
centrados do mesmo ministério competente
ou organismo ou nos Gabinetes
de apoio aos Representantes da Notifica ção por telefone Considera -se efetuada na data Artigo 113a, na 7, do CPA
em que ocorreu a comunicação
Repú blica das Regiões Autóno ¬
mas dos Açores ou da Madeira telefónica

Data da apresentação dos re¬ Data da respetiva entrega Artigo 104a , na 1, do CPA Notificação por edital Considera-se efetuada no dia Artigo 113a , n “ 8, do CPA
em que os editais sejam afixados
querimentos dirigidos a ó rgãos
administrativos, remetidos pelo ou publicados na Internet, con ¬
correio, sob registo
soante o que ocorrer em último
lugar
Data da apresenta ção dos re¬ Data do termo da expedição Artigo 104a , na 2, do CPA
Notificação por anú ncio Considera-se feita no dia em Artigo 113a , na 9, do CPA
querimentos dirigidos a órgãos
administrativos, enviados atra¬ que for publicado o último
vés de telefax ou transmissã o
anúncio
eletr ónica de dados
PALESTRA SOBRE PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
CURSO SOBRE O NOVO C Ó DIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

Utilização do meio de impug¬ 30 dias, a contar do trânsito em Artigo 1142, n 2 4, do CPA Contagem do prazo para deci¬ Da data de entrada do reque Artigo 128», n » 3, do CPA
¬

rimento ou petiçã o no serviço


sã o dos procedimentos adminis¬
nação administrativa necessária julgado da decisão jurisdicional
trativos de iniciativa particular, competente
de ato administrativo sobre cuja
na falta de disposição especial
notifica ção houve reconheci¬
mento jurisdicional da exist ê n ¬ Contagem do prazo para deci ¬ Do termo do prazo fixado para Artigo 128», n » 4, do CPA
cia de erro ou omissão na indi ¬ são dos procedimentos adminis ¬ a conclusã o das referidas forma ¬
caçã o do meio de impugnaçã o trativos de iniciativa particular, lidades
administrativa a utilizar contra o quando a lei imponha formali¬
ato notificado dades especiais para a fase pre¬
Notificação dos atos adminis¬ 8 dias Artigo 114°, n » 5, do CPA paratória da decisão e fixe prazo
trativos, quando n ã o haja prazo
para a respetiva conclusão
fixado na lei Justificação da inobservâ ncia dos Dentro dos 10 dias seguintes ao Artigo 128», n » 5, do CPA
Artigo 115°, n » 1, do CPA prazos para decisão dos proce¬ termo dos referidos prazos para
Tomada de uma decisão legal e Dentro do prazo razoável
dimentos administrativos de ini¬ decisão
justa, para a qual deve o respon¬
ciativa particular, para eventual
s ável pela dire çã o do procedi ¬
apuramento de responsabili¬
mento procurar averiguar todos
os factos cujo conhecimento
dade disciplinar
seja adequado e necessário Caducidade dos procedimen ¬ 180 dias Artigo 128», n » 6, do CPA
Suspensão da contagem de pra Na realização da audiê ncia pr é
¬ ¬ Artigo 121°, nc 3, do CPA tos administrativos de iniciativa
oficiosa, passiveis de conduzir
zos em todos os procedimentos via
á emissão de uma decisã o com
administrativos
efeitos desfavoráveis para os
Audiê ncia dos interessados Não inferior a 10 dias Artigo 122», n » 1, do CPA interessados, na ausê ncia de
Até ao momento fixado para a Artigo 123», n» 2, do CPA decisão
Apresenta ção de justificação de
falta do interessado à audiê ncia audi ência Falta de decisão final sobre pre¬ No prazo legal Artigo 129« do CPA
pré via, a qual origina o dever tensã o dirigida a órgão adminis¬
de se proceder ao adiamento da trativo competente, a qual cons¬
mesma titui incumprimento do dever
Arcigo 123», n» 3, do CPA de decisão e confere ao interes¬
Realização de audiência oral, Dentro dos 20 dias seguintes
sado a possibilidade de utilizar
após adiamento da mesma por os meios de tutela administrati¬
motivo de justificação da falta
va e jurisdicional adequados
de compar ê ncia do interessado
Artigo 123», n » 4, do CPA Não expedição da notifica çã o Até ao 1» dia ú til seguinte ao ter ¬ Artigo 130», n» 2, do CPA
Juntada , à ata da audiência pré ¬ Durante a diligê ncia ou poste-
do ato, considerando-se que há mo do prazo para decisão
via, de alegações escritas pelo riormente
deferimento tácito
interessado
Após a audiê ncia dos interessa ¬ Artigo 1252 do CPA Suspensão do prazo legal de Se o procedimento estiver pa Artigo 1302, n 2 3, do CPA
¬

Possibilidade de serem efetua¬


dos produção de deferimento tácito rado por motivo imputável ao
das diligências complementares interessados
Decisão dos procedimentos 90 dias Artigo 128» , n» 1, do CPA
Interrupção da suspensã o do Com a notificação de decisão Artigo 130», n« 3, do CPA
administrativos dc iniciativa
prazo legal de produção dc defe¬ expressa
particular, salvo se outro prazo
rimento t ácito
decorrer da lei
» »
Prorrogação, em circunstâ ncias Um ou mais per íodos, até ao li¬ Artigo 128 , n 1, do CPA
excecionais, do prazo para deci¬ mite m áximo de 90 dias
são dos procedimentos adminis ¬

trativos de iniciativa particular


CURSO SOBRE O NOVO C Ó DIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO PALESTRA SOBRE PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

Interpelação do órgão compe ¬ Decorridos 10 dias, a contar do Artigo 130a, na 5, do CPA PARTE IV - DA ATIVIDADE ADMINISTRATIVA
tente para emitir autorização termo do prazo para a autoriza ¬
Capí tulo I - Do regulamento administrativo
prévia ou aprova ção, quando a ção ou aprovação
prática de um ato administra ¬ Emissã o de regulamento admi¬ 90 dias Artigo 137°, n- 1, do CPA
tivo dependa de autorizaçã o nistrativo, quando a sua adoção
prévia ou um ato esteja sujeito seja necessá ria para dar exequi-
à aprovação dc um ó rgão da Ad ¬ bilidade a ato legislativo carente
ministra ção Pública ou de outra de regulamentação, no silêncio
entidade no exercício dc pode¬ da lei
res públicos
Entrada em vigor dos regula ¬ Na data neles estabelecida ou no Artigo 140a do CPA
Dever de emitir as necessá rias 20 dias Artigo 130 a, ns 5, do CPA mentos administrativos 5Q dia após a sua publicação
autoriza ção pr évia ou aprovação
Data à qual se não podem repor ¬ Data anterior àquela a que se Artigo 141a, na 2, do CPA
Declaração de procedimento Procedimento parado por mais Artigo 132a, na 1, do CPA tar os efeitos dos regulamentos reporta a lei habilitante
deserto, por causa imput ável ao de 6 meses administrativos
interessado
Invoca ção da invalidade do re¬ A todo o tempo Artigo 144°, nQ 1, do CPA
Falta de pagamento de quais¬ No prazo devido Artigo 133a , na 1, do CPA gulamento administrativo
quer taxas ou despesas de que
Declaraçã o da invalidade do re¬ A todo o tempo Artigo 144a , na 1, do CPA
a lei faça depender a realização
gulamento administrativo pelos
dos atos procedimentais, a qual
órgãos ãdministrativos compe ¬
origina a extinção do procedi¬
tentes
mento
Nos 10 dias seguintes ao termo Artigo 133a, na 2, do CPA Impugna ção ou declaração ofi¬ 6 meses, a contar da data da res ¬ Artigo 1442, nQ 2, do CPA
Realização do pagamento em
do prazo fixado para o paga ¬
ciosa de invalidade pela Admi¬ petiva publicação
dobro da quantia cm falta , rela ¬

nistra ção de regulamentos ad ¬


tiva a taxas ou despesas de que mentos das referidas taxas ou
ministrativos que enfermem de
a lei fa ça depender a realização despesas
dos atos procedimentais, a qual
ilegalidade formal ou procedi ¬
mental da qual não resulte a sua
constitui os interessados na pos ¬
inconstitucionalidade
sibilidade de obstar à extin ção
do procedimento Produ ção de efeitos da declara ¬ Desde a data de emissã o do re ¬ Artigo I44c, nB 3, do CPA
Artigo 134s , na 1, do CPA ção administrativa dc invalidade gulamento
Possibilidade legal dc a produ¬ De forma imediata
de um regulamento administra ¬
ção dc determinados efeitos
tivo
jurí dico-administrativos c o seu
aproveitamento pelo interes¬ Caducidade dos regulamentos Com a verificação do termo ou Artigo 145a , n° 1, do CPA
sado resultarem da mera comu ¬ administrativos sujeitos a termo condi ção resolutiva
nica çã o pr é via pelo interessado ou condi ção resolutiva
do preenchimento dos corres¬
pondentes pressupostos legais e Caducidade dos regulamentos Com a revogação das leis que Artigo 145a , na 2, do CPA
de execução regulamentam
regulamentares
Não pronúncia em sentido con¬ Dentro de determinado prazo Artigo 134a , n ° 2, do CPA Vigência , para todos os efeitos, Até ao início da vigência do Artigo 146a, na 3, do CPA
das normas regulamentares do novo regulamento
trá rio, pelo órgã o competente,
quanto à produçã o de efeitos da
diploma revogado de que de ¬
comunicação pr é via do interes¬
penda a aplicabilidade da lei
sado, no âmbito de um regime exequenda
legal de comunicação pré via Capí tulo II - Do ato administrativo
com prazo
Comunicação da fundamenta ¬ 10 dias Artigo 154°, n2 1, do CPA
ção integral dos atos orais, redu ¬
zida a escrito
CURSO SOBRE O NOVO C Ó DIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO PALESTRA SOBRE PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

Produção de efeitos do ato ad¬ Desde a data em que c praticado Artigo 155s, na 1, do CPA Caducidade do prazo para anu¬ 5 anos Artigo 168a, na 1, do CPA
ministrativo lação administrativa de atos ad ¬
ministrativos
Pr ática do ato administrativo Considera-se efetuada quando Artigo 155a , na 2, do CPA
seja emitida decisã o que identi¬ Anulação administrativa de atos lano Artigo 168a , il° 2, do CPA
fique o autor e indique o desti¬ constitutivos de direitos
nat ário e o objeto a que sc refere
o seu conte údo
Anulação administrativa dc ato Até ao encerramento da discus- Artigo 168a, na 3, do CPA
administrativo que tenha sido são
Publicação obrigató ria dos atos 30 dias Artigo 159C do CPA objeto de impugnação jurisd í-
administrativos cional
a
Oponibilidade , aos destinatá ¬ A partir da respetiva notificação Artigo 160 do CPA Anulação administrativa de atos 5 anos Artigo 168a, n “ 4 , do CPA
rios, dos atos administrativos constitutivos de direitos, em cir ¬
que imponham deveres, encar ¬ cunst â ncias específicas
gos, ó nus, sujeições ou san ções, Retifica çã o , pelos órgãos com¬ A todo o tempo Artigo 1742, n* 1, do CPA
que causem prejuízos ou res¬ petentes para a revogação do
trinjam direitos ou interesses ato administrativo, dos erros dc
legalmente protegidos cálculo e dos erros materiais na
Invoca ção da nulidade dos atos A todo o tempo Artigo 162°, n5 2, do CPA expressã o da vontade do órgão
administrativos administrativo, quando mani¬
festos
Conhecimento, por qualquer A todo o tempo Artigo 162a, na 2, do CPA
autoridade, ou declaração, pelos Cumprimento da obrigação exc- Prazo razoável Artigo 177Q, n® 3, do CPA
tribunais administrativos ou pe¬ quenda, na sequência de notifi¬
los ó rgãos administrativos com ¬ cação ao destinatá rio da decisão
petentes para a anulaçã o, da nu¬ de proceder à execução de um
lidade dos atos administrativos ato administrativo

Impugna ção dos atos anul áveis Dentro dos prazos legalmente Artigo 163a, na 3, do CPA Secção IV - Da reclamação e dos recursos administrativos
perante a própria Administra¬ estabelecidos Artigo 187a do CPA
Apresentação dc reclamações c lano
ção ou perante o tribunal admi¬ recursos contra a omissão legal
nistrativo competente
de atos administrativos
Anulação dos atos anul áveis Nos prazos legalmente estabe¬ Artigo 163a, na 4 , do CPA
pela Administração lecidos
Início/ contagem dos prazos de - Artigo 188a, n.°' 1, 2 e 3, do CPA
reclamaçã o e recursos
Rctroaçã o dos efeitos da ratifi¬ À data dos atos a que respeitam Artigo 164 a, na 5, do CPA
Pedido de suspensão da exe¬ A qualquer momento Artigo 189a , na 3, do CPA
cação, da reforma e da conver¬ cução de um ato administrativo
são dos atos administrativos,
sujeito a impugnações faculta ¬
desde que n ão tenha havido al ¬ tivas
tera çã o ao regime legal
Decisão de suspensão da exe¬ 5 dias Artigo 189a, na 3, do CPA
Revoga ção de atos administra ¬ 1 ano, prorrogável por mais 2 Artigo 167 , na 4, do CPA
a
cução de um ato administrativo
tivos constitutivos de direitos, anos, por razões fundamentadas
sujeito a impugna ções faculta ¬
com fundamento na superveni- (prazo máximo de 3 anos)
tivas
ê ncia de conhecimentos técni¬
cos c científicos ou na alteração Apresentação de reclamação, 15 dias Artigo 191a, na 3, do CPA
objetiva das circunstâncias de quando a lei não estabeleça
facto, em face das quais, num ou prazo diferente
noutro caso, n ã o poderiam ter
Alegações dos contrainteres - 15 dias Artigo 192a , na 1, do CPA
sido praticados
sados na reclamação
Anulação administrativa de atos 6 meses Artigo 168a, na 1, do CPA
Decisão da reclamação 30 dias Artigo 192a, n-" 2, do CPA
administrativos
CURSO SOBRE O SOVO CÓDIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO PALESTRA SOBRE PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

Interposição de recurso hierá r ¬


30 dias Artigo 193a, na 2, do CPA caducando estas, nos termos do disposto no artigo 90 ® do CPA (corres ¬

quico necessá rio pondente ao anterior artigo 852 do CPA revogado).


Interposiçã o de recurso hierár¬ No prazo de impugnação con ¬ Artigo 193 , na 2, do CPA
a
Importa ainda referir que, nos termos do disposto no nfi 3 do artigo
quico facultativo tenciosa do ato em causa
89® do Código, a revogação das medidas provisórias, a ocorrer, carece de
Remessa, ao autor do ato, do re¬ 3 dias Artigo 194a , na 2, do CPA
o do
fundamentação nos termos gerais.
querimento de interposiçã
recurso hierárquico , pela auto ¬ Por fim, é de notar que os atos administrativos que, em concreto, orde ¬

ridade a quem seja dirigido nem medidas provisórias são suscetíveis de impugnação contenciosa, nos
Alegações dos contrainteressa- IS dias Artigo 195a, n!1, do CPA termos do nQ 4 do mesmo artigo, e, por maioria de razão, são passíveis de
dos no recurso hierárquico
impugnação administrativa.
Pron úncia , do autor do ato ou 15 dias ou 30 dias, quando hou¬ Artigo 195a , na 2, do CPA
da omissão, sobre o recurso ver contrainteressados
hier á rquico e remessa ao órgão 4.1.7. Dos pareceres
competente para dele conhecer, Quanto aos pareceres, a regra geral consta do estipulado no artigo 91® do
notificando o recorrente CPA (correspondente ao anterior artigo 98® do CPA revogado) e, salvo lei
Apresentação, pelo recorrente Dentro do prazo previsto para a Artigo 195 , na 7, do CPA
a
especial em contrário, os pareceres legalmente previstos são obrigatórios
ou os contrainteressados, de re¬ interposição de recurso hierár
¬

querimento para que o recurso quico contra o ato praticado mas não vinculativos. Isto significa que, no silê ncio da lei, os pareceres
hierárquico prossiga contra o não vinculam o decisor mas devem, obrigatoriamente, ser emitidos.
ato praticado, quando o órgão
responsável pelo incumprimen¬
Assim, a decisão final pode ser contrá ria ao teor do parecer mas, se este
to do dever de decisão pratique n ão for solicitado ou emitido, o ato administrativo que dele carecia para
o ato ilegalmente omitido na ser proferido sofre de vício de forma, porque foi preterida uma formali¬
pendê ncia do mesmo recurso
dade legalmente considerada como essencial. No entanto, como vimos,
Decisão do recurso hierá rquico 30 dias Artigo 198a, nal, do CPA
se a decisão for contrá ria, total ou parcialmente, ao teor do parecer, já o
Prorrogação da decisão do re¬ 60 dias (prazo máximo de 90 Artigo 198a, na 2, do CPA ato administrativo é inatacável por esta via. O ato administrativo, nestes
curso hierá rquico, quando haja dias)
lugar à realização de nova ins¬ casos, só é inválido se o parecer for vinculativo. Nestas situações em que
trução ou diligê ncias comple¬ a própria lei atribui vinculatividade ao parecer é que o ato é inválido se
mentares
o seu conte údo for materialmente contrá rio ao teor do parecer emitido
nos termos da lei.
4.1.6. Das medidas provisórias Importa ainda chamar a atenção para o disposto no artigo 92® do CPA
A qualquer momento do procedimento administrativo, e de acordo com (correspondente ao anterior artigo 99® do Código revogado), que estipula,
o previsto no artigo 89®, ns 1, do CPA (correspondente ao anterior artigo em concreto e pormenorizadamente, regras designadamente relativas à
84® do CPA revogado), pode impor-se a necessidade de algumas forma e aos prazos para emissão dos pareceres.
“ (...) medidas provisórias que se mostrem necessárias, se houverjusto receio Deste modo, vem agora o legislador exigir que os pareceres sejam
de, sem tais medidas, se constituir uma situação de facto consumado ou se pro¬ sempre fundamentados e com conclusões (í) expressas, (») claras e ( iii)
duzirem prejuízos de difícil reparação para os interesses públicos ou privados sem omissões.
em presença, e desde que, uma vez ponderados esses interesses, os danos que O responsável pela direção do procedimento administrativo deve solicitar
resultariam da medida se não mostrem superiores aos que se pretendam evitar em simultâneo a emissão dos pareceres necessá rios, que serão emitidos,
com a respetiva adoção” , salvo disposição especial, no prazo de 30 dias, tendo este responsável a
possibilidade de fixar prazo diferente desde que o fundamente, atento o
CURSO SOBRE O NOVO C Ó DIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO PALESTRA SOBRE PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

disposto no artigo 92- , n.os 2 e 3, do CPA. A possibilidade de estipulação de 4.2. Procedimentos do regulamento e do ato administrativos
prazo diferente para emissão dos pareceres deve respeitar os limites infe¬ O CPA estipula de seguida, no Título II da Parte III, as regras gerais
rior (15 dias) e superior (45 dias) que decorrem do n 4 do mesmo artigo. privativas dos procedimentos administrativos do regulamento e do ato
9

De salientar que o legislador consagra, nas situações de incumprimento administrativos112. São esses regimes que vamos agora estudar.
dos prazos estipulados, a possibilidade de o procedimento prosseguir,
podendo vir a ser decidido sem o parecer que seria obrigatório, salvo dis¬ 4.2.1. Procedimento privativo do regulamento administrativo
posição legal expressa em contrário, atento o disposto no n 5 do artigo 929 Nos termos do disposto no artigo 979, n9 1, do CPA (correspondente ao
9

do CPA. Importa ainda atender à solu ção encontrada pelo legislador, no anterior artigo 1159, n91, do CPA revogado), o procedimento de forma ¬
n 9 6 do mesmo artigo, que prevê que ção dos regulamentos pode iniciar-se, (i) ao abrigo do direito de petição,
exercido pelos cidad ãos e dirigido aos ó rgãos com competê ncia para
“ No caso de o parecer obrigatório ser vinculativo, a decisão final só pode aprovarem normas regulamentares e, também, ( it ) oficiosamente. Mas
ser proferida sem prévia emissão daquele desde que o responsável pela direção o exercício daquele direito de petição, constitucionalmente previsto, no
do procedimento tenha interpelado, no prazo de 10 dias, o órgão competente artigo 52a da CRP, e regulado pela Lei n9 43/90, de 10 de agosto, com as
para o emitir, sem que este o tenha feito no prazo de 20 dias a contar dessa alterações introduzidas pelas Leis n.“ 6/93, de 1 de março; 15/2003, de 4
interpelação.” de Junho; e 45/2007, de 24 de agosto, não obsta a que a pretensão para
elaboração, modificação ou alteração de regulamentos seja conveniente¬
4.1.8. Da extinção do procedimento mente fundamentada e, se tal n ã o ocorrer, a Administra ção Pública pode ,
O Capítulo VIII trata da extinçã o do procedimento administrativo, em legalmente, não tomar conhecimento de tal petição. Ora, se tal acontecer,
termos de regime comum. Aqui se prevê, no artigo 939 do CPA, que o por via da falta de fundamentação, os interessados deverão poder corrigir
procedimento administrativo se extingue com a “ (...) tomada da decisão o lapso formal, fundamentar a proposta e submeter de novo o pedido aos
final (...)” que competir no caso ou por qualquer um dos outros factos competentes órgãos administrativos.
previstos no Código. O artigo 949 do CPA impõe que, na decisão final a Por imposição legal, os órgãos destinatários de tais petições, compe ¬
proferir, devam ser resolvidas todas as questões pertinentes suscitadas ao tentes para a aprova ção de regulamentos, deverã o informar, nos termos do
longo do procedimento c que não hajam sido anteriormente decididas, em disposto no n9 2 do artigo 979 do CPA (correspondente ao anterior n9 2 do
sede de incidentes procedimentais. Por outro lado, atento o estipulado no artigo 1159 do CPA revogado), o destino dado às propostas apresentadas,
nQ 2 do mesmo artigo, será necessariamente aposta à decisão final proferida
bem como os “ (...) fundamentos da posição que tome em relação a elas” .
através de meios eletrónicos assinatura eletrónica ou outro meio idóneo Atento o disposto no artigo 989 do CPA, serão publicitados na Internet,
de autenticação do titular do órgão competente, que deve ser identificado, no sítio institucional da entidade pública, não apenas o início do proce¬
de acordo com a legislação pr ópria. dimento administrativo de formação do regulamento mas, igualmente,
Ainda, nos termos gerais, prevê o artigo 95Q do CPA que o procedimento a indicação do órgão que decidiu desencadear o referido procedimento,
administrativo será declarado extinto, mediante decisão fundamentada, a data em que o mesmo se iniciou, o seu objeto e a forma como se pode
quando se verificar a impossibilidade ou a inutilidade superveniente processar a constituição como interessados e a apresentação de contributos
deste. A decisã o de declarar extinto o procedimento é suscetí vel de para elaboração do regulamento administrativo. Também aqui, atento o
impugna ção nos termos gerais, atento o disposto no n 2 do referido
9
disposto no n9 2 do mesmo artigo, podem ser estabelecidos, através de
artigo 959 do CPA.

Nessa medida, o artigo 96Q do CPA constitui, apenas, uma mera norma indicadora de se¬
111

quência (de resto, inexistente no anterior CPA agora revogado).


PALESTRA SOBRE PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
CURSO SOBRE O NOVO C Ó DIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

acordo endoprocedimental, os termos de acompanhamento regular do 2- série do Diário da República ou na publicação oficial da entidade pública
procedimento de feitura do regulamento, a celebrar com as associações e respetiva.
fundações representativas dos interesses envolvidos e com as autarquias Em síntese, podemos verificar que as fases mais relevantes do proce ¬

locais, em relação à proteção de interesses nas áreas das respetivas cir ¬ dimento gracioso de feitura do regulamento administrativo, enquanto
cunscrições. encadeamento sequencial de momentos distintos, são as seguintes:
No desenrolar do procedimento de elaboração dos regulamentos, exige
- Iniciativa ou abertura (norma privativa: artigo 97a do CPA);
o disposto no artigo 99 - do CPA (correspondente ao anterior artigo 116a
do CPA revogado) que o projeto seja obrigatoriamente acompanhado de
- Instrução (normas privativas: artigos 97a a 99a do CPA);
- Audiência dos interessados e/ ou consulta pública (normas privativas:
uma nota explicativa que justifique e fundamente a necessidade do regula ¬ artigos 100a e 101a do CPA);
mento, bem como inclua “ (...) uma ponderação dos custos e benefícios das medidas
- Decisória/deliberativa ou extintiva (normas de regime comum: artigos
projetadas” . A exigência de nota justificativa no projeto não desonera os 93a a 95a do CPA); e
órgãos da Administração Pública de aprovação de um preâmbulo ou de uma - Complementar ou de integração da eficácia (nos termos gerais de
nota preambular que deve acompanhar o regulamento, dele fazendo parte
Direito).
integrante, e que deve, entre outros elementos, conter a indicação sobre
as entidades que eventualmente foram ouvidas, ao abrigo da audiência dos 4.2.2. Procedimento privativo do ato administrativo
interessados prevista no disposto no artigo 100a do CPA (correspondente O procedimento administrativo privativo do ato administrativo, como
ao anterior artigo 117a do Código revogado). O preâ mbulo do regulamento
sequência lógica e ordenada de momentos, de atos e de formalidades, pode
deve, igualmente , fazer menção à consulta pública113, atento o disposto no ser dividido horizontalmente por diversas fases e está previsto no Capítulo
artigo 101a, na 3, do CPA (correspondente ao anterior artigo 118 , na 3, do
a
II do Título II da Parte III.
CPA revogado), se o mesmo a ela foi sujeito. São, nomeadamente, as seguintes as mais importantes fases do procedi¬
Como se acaba de referir, o regime jurídico privativo do procedimento mento gracioso do ato administrativo, enquanto encadeamento sequencial
do regulamento administrativo previsto no CPA consagra regras relativas de momentos distintos:
à audiê ncia dos interessados, no seu artigo 100a.
O na 1 deste artigo estipula que - Iniciativa ou abertura (normas privativas: artigos 102a a 113a do CPA);
- Instrução (normas privativas: artigos 115a a 120a do CPA);
“ Tratando-se de regulamento que contenha disposições que afetem de modo - Audiência dos interessados (normas privativas: artigos 121a a 125a do
direto e imediato direitos ou interesses legalmente protegidos dos cidadãos, o CPA);
responsável pela direção do procedimento submete o projeto de regulamento por - Decisória/ deliberativa ou extintiva (normas privativas: artigos 126a a
prazo razoável, mas não inferior a 30 dias,a audiência dos interessados que como 133a do CPA, e normas de regime comum: artigos 93a a 95a do CPA);
tal se tenham constituído no procedimento.” e
Nalguns casos, a audiê ncia dos interessados não afasta a exigência de
- Complementar ou de integra ção da eficácia (normas privativas:
designadamente artigos 111a a 114a do CPA e nos termos gerais do
consulta pública para recolha de sugestões, de acordo com o disposto no Direito).
na 1 do artigo 101a do CPA (correspondente ao anterior na 1 do artigo 118a
do CPA revogado) , devendo o projeto de regulamento ser publicado na Vejamos agora, especificamente, as fases para as quais o legislador
estabeleceu normas privativas no CPA.
113 Anteriormente , o CPA previa a apreciação p ública.
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4.2.2.I. Da iniciativa particular expressamente à inobservâ ncia do disposto no artigo 102a e apenas a ele
Genericamente, a primeira fase do procedimento do ato administrativo diz respeito. Assim, daquele normativo (artigo 108a do CPA) decorre
é a fase da iniciativa e está regulada, como vimos, designadamente nos que, se o requerente não respeitar o estipulado no artigo 102a do CPA,
a
artigos 53Q, 102e a 109a (correspondentes aos anteriores artigos 74 a 83
a será oficiosamente convidado a suprir as deficiências existentes, desde que a
do CPA revogado) e 110 a 113 do CPA. Este conjunto normativo é, em
a a Administração Pública não consiga suprir de modo próprio as deficiências
grande parte, descritivo, pelo que nos dispensamos de grandes comentᬠevidenciadas. Daqui decorre um dever jurídico, que impende sobre as
rios. O procedimento administrativo pode iniciar-se oficiosamente ou por estruturas públicas e que visa expressamente obviar a que os interessados
iniciativa dos interessados. sofram prejuízos por virtude de simples irregularidades ou de mera imperfeição na
Na fase da iniciativa, e antes de qualquer decisão, o órgão administrativo formulação dos seus pedidos. Contudo, atento o previsto no na 3, será profe¬
deve verificar, sempre e liminarmente, como vimos já, se tem competência rido despacho liminar de rejeição em todos os casos de requerimentos que
para a resolução da questão administrativa que lhe é apresentada, de acordo desrespeitem a exigência prevista no artigo 102a, na 1, alínea b ) , do CPA e
com o disposto no artigo 40a do CPA (correspondente ao antigo artigo que apresentem pedidos ininteligíveis, violando o exigido no artigo 102a,
33a do CPA revogado), que é regra geral para todos os procedimentos na 1, alínea d).Aqui, o legislador deveria ter ponderado a possibilidade de
administrativos. rejeição liminar de requerimentos manifestamente ilegais, embora o dis¬
O particular interessado no procedimento administrativo pode apresentar posto no artigo 109a do CPA consagre algumas questões que prejudicam
o desenvolvimento do processo, entre as quais algumas que se prendem
requerimento inicial, atento o disposto no artigo 102a do CPA. Mas pode
ocorrer que o interessado se dirija a órgão que não seja o competente, e com questões de legalidade.
nesses casos, segue-se o estipulado nos termos do disposto no já estudado O artigo 103a do Código estabelece as regras relativas ao local da apre¬
sentação dos requerimentos, com imposições expressas e injuntivas sobre
artigo 41a , ns 1, do CPA, que impõe que “ (...) o documento recebido é enviado
.
oficiosamente ao órgão titular da competência, disso se notificando o particular” prazos e procedimentos.
Quanto às formas de apresentação dos requerimentos, elas constam do
Regra geral, o CPA exige agora, no seu artigo 102a, na 1, que o reque¬
rimento inicial “ (...) deve ser formulado por escrito (...)” , a menos que a lei se
na 1 do artigo 104a do CPA. Vejamos:
baste com o pedido verbal, e que deve conter um conjunto de dados, elen- “ Os requerimentos dirigidos a órgãos administrativospodem ser apresentados
cados nas diferentes alíneas do referido n ú mero. De realçar a exigência por uma das seguintes formas:
da necessidade de indicação do pedido,em termos claros eprecisos, nos termos a) Entrega nos serviços, valendo como data da apresentação a da respetiva
da alínea d) , ou a possibilidade de identificação da caixa postal eletrónica do entrega;
interessado, de acordo com a alínea g ) , na sequência da prevalência dos b) Remessa pelo correio, sob registo, valendo como data da apresentação a da
meios eletrónicos e digitais na comunicaçã o com a Administração Pública. efetivação do respetivo registo postal;
Por outro lado, prevê o na 2 a possibilidade de cumulação de pedidos c) Envio através de telefax ou transmissão eletrónica de dados, valendo como
conexos ou afins apresentados pelo mesmo interessado e, de igual forma, data da apresentação a do termo da expedição;
e salvo lei em contrário, a faculdade de, no mesmo e único requerimento, d ) Envio por transmissão eletrónica de dados, valendo como data da apre ¬

serem formuladas pretensões de vá rias “ (...) pessoas que tenham conteúdo e sentação a da respetiva expedição;
fundamento idênticos ou substancialmente similares” , atento o disposto no na 3 e) Formulação verbal, quando a lei admita essa forma de apresentação.”
do referido artigo 102a do CPA.
Como se disse anteriormente, o artigo 108a do Código é outro bom Os n.os 2 a 6 do artigo 104a do Código complementam o regime jur
ídico
exemplo de desorganização sistémica ou um mau exemplo de técnica legís- da forma de apresentação de requerimentos e o artigo seguinte regula o
tica , pois deveria ser, antes, colocado como artigo 103a, já que se refere registo que deles há de ser feito.
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Importa referir que o artigo 106® prevê a possibilidade de ser solicitado O CPA, enquanto regulador do procedimento administrativo, atribui,
à Administração Pública um recibo comprovativo da entrega dos requerimentos como vimos já, até por imposição constitucional, um papel de intervenção
apresentados que pode ser emitido de várias formas, em duplicado ou em ativa aos particulares administrados.
fotocó pia do requerimento apresentado pelo requerente para esse efeito. Para tomar efetiva a participação dos mesmos, mostra-se necessá rio,
Isto significa que deve ser o interessado a levar o duplicado ou fotocópia desde logo, que tenham conhecimento dos atos administrativos que lhes
do requerimento, a fim de ser aposto, por exemplo, carimbo com a data digam respeito, ainda que preparatórios da decisão final, a fim de sobre
da receção do documento. Esta norma dispensa a Administração Pública eles poderem formular juízos desfavoráveis ou de concordâ ncia e assim
de ser obrigada a suportar os custos, ainda que sem expressão, designa- participarem no procedimento e na forma ção da decisão administrativa.
damente, das fotocópias dos requerimentos que sirvam como recibo .
114 Com base neste enquadramento, o Código veio prever, nos artigos 1109 e
Por fim, o registo eletrónico deverá emitir, nos termos do disposto no seguintes (correspondentes aos anteriores artigos 669 e seguintes do CPA
ns 3, automaticamente, um recibo comprovativo contendo a indicação da data revogado), as notificações como uma das formas de levar ao conhecimento
e hora da apresentação e o número de registo. dos particulares não apenas o conte údo dos atos administrativos mas,
Finalmente, o CPA prevê, no seu artigo 109®, algumas questões que igualmente, nos termos do n91 do artigo 1109, o início do procedimento
às pessoas cujos direitos ou interesses legalmente protegidos possam ser
prejudicam o desenvolvimento normal do procedimento gracioso do ato
lesados pelos atos a praticar e que possam ser desde logo nominalmente
administrativo e que impedem o normal andamento do procedimento ou a to¬
identificadas (correspondente ao anterior artigo 559 do CPA revogado).
mada de decisão, que são a incompetência do órgão administrativo (nos termos
De referir que, nos termos do disposto no artigo 1109, n 9 2, do CPA
da alínea a ), do n91) , a caducidade do direito que se pretende exercer (nos termos
(correspondente ao anterior artigo 679 do CPA revogado), é dispensada
da alínea b), do nQ 1), a ilegitimidade dos requerentes (nos termos da alínea c),
a notificação ao conjunto de atos administrativos aí previstos. As notifica¬
do n® 1) e a extemporaneidade do pedido (nos termos da alínea d), do n91).
ções devem ainda obediência ao disposto no n 9 3 do referido artigo 1109
Curioso é notar, como já se disse inicialmente, que no n9 2 deste artigo o do Código.
legislador apresenta nova redundância que toma o teor da norma in útil, Os artigos seguintes, designadamente do artigo 1119 ao 1149 (correspon ¬
por ser remissivo sem ser inovador. Não era necessá rio o legislador vir, com dentes aos anteriores artigos 68® ao 70® do CPA revogado), consagram o
este preceito, dizer o que já diz, de igual modo e de forma plenamente ídico das notificações, do qual constam normas sobre os desti
regime jur ¬

conseguida, no já estudado artigo 419 do CPA. natários, a forma, e a perfeição das mesmas.
Por regra, as notifica ções são efetuadas na pessoa do interessado ou,
.
4.2 2.2. Das notificações quando haja sido constituído mandatário, na sua pessoa, atento o disposto
O ato de notificação está diretamente relacionado com o conceito de efi ¬

no artigo 111®, n® 1, do CPA. Sobre as entidades constituídas como inte ¬

í dica e a suscetibilidade de produção de efeitos de Direito dos atos


cácia jur ressadas ou mandatá rias recai o dever de manter atualizada a informação,
administrativos a notificar. Não esqueçamos que o conceito de eficácia, junto do procedimento administrativo respetivo, dos respetivos domicílios,
que traduz a suscetibilidade de produção de efeitos jurídicos, não tem de acordo com o estipulado no n ® 2 do mesmo artigo.
correspondê ncia direta, como veremos, com o conceito de validadejur í dica, A notifica çã o pode ocorrer sob qualquer uma das formas que a lei
isto porque existem atos válidos ineficazes e atos inválidos que produzem preveja como válida, desde a publicação em jornais ou boletins oficiais até
efeitos na ordem jurídica, como sucede com os atos anuláveis. à afixação de editais em lugares de estilo ou por anú ncios, nos termos do
disposto no artigo 112® do CPA.
O inicialmente referido artigo 113® do Código (que, surpreendente ¬

mente, se reporta aos tribunais) estabelece as condições para a perfeição


Embora não desonere a Administração Pública de dispor de outros meios ou formas de
114

emissão de recibo de entrega de requerimentos, nomeadamente, mediante registo eletrónico.


das notificações.
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Na fase complementar ou de integração da eficácia, leva-se ao conheci¬ c) Importar a revelação de factos puníveis, praticados pelo próprio interes ¬

mento dos interessados o teor da decisão final do órgão da Administra ção sado, pelo seu cônjuge ou por seu ascendente ou descendente, irmão ou afim nos
P ública, através da notificação, da publicação ou do anúncio da decisão mesmosgraus;
administrativa. O disposto no artigo 114- do CPA trata, em parte, desta d) For suscetível de causar dano moral ou material ao próprio interessado ou
fase e, por isso, impõe um dever de notificação de um conjunto diverso a alguma das pessoas referidas na alínea anterior.”
de atos administrativos, no prazo geral de oito dias.
Tal como ocorre no â mbito do contencioso, também no â mbito do
4.2.2.3. Da instrução procedimento gracioso (administrativo) se pode produzir prova antecipa ¬

Na fase da instrução, cujo regime normativo consta agora do disposto nos damente, como decorre do disposto no artigo 120 ® do CPA, oficiosamente
artigos 115s a 120e do CPA (correspondentes aos anteriores artigos 86 a
®
ou a requerimento fundamentado dos interessados, e aquela pode, nos
93® do Código revogado), desenvolve-se e aprofunda-se o procedimento termos do n® 2, ocorrer até antes da instauração do procedimento. Para que
administrativo, aqui ocorrendo a produção da prova legalmente admitida ocorra produção e recolha antecipadas de prova com interesse para a decisão
e que se entenda necessá ria, bem como todas as diligê ncias que sejam é necessário a verificação de um dos seguintes pressupostos: ( z) justo receio
oportunas. É nesta fase que se prepara, verdadeiramente, o teor da decisão de vir a tomar-se impossível ou ( ii ) de difícil realização.
final a tomar pelos órgãos competentes.
A instrução, no â mbito do procedimento do ato administrativo, deve 4.2.2.4. Da audiê ncia dos interessados
obediê ncia, igualmente, às disposições gerais do regime comum do pro¬ A audiência prévia dos interessados, que se efetiva em toda a sua plenitude
cedimento administrativo, anteriormente estudadas. nesta fase e que consta do disposto nos artigos 121 e seguintes do CPA
®

O disposto no artigo 115®, n® 1, deve conjugar-se, designadamente, com (correspondentes aos anteriores artigos 100 e seguintes do CPA revogado),
®

o disposto no artigo 59®, ambos do CPA. De acordo com estipulado no veio a ser uma imposição do antigo CPA, por decorrê ncia constitucional,
referido artigo 115®, n® 2, do CPA, os factos notórios, dada a sua evidência, e assume-se como corolário do já estudado princípio da participa ção dos
e nos termos gerais do Direito, não carecem nem de prova nem de alega¬ interessados. Através de audiê ncia aos interessados, o responsável pela
ção. O mesmo sucede com “ (...) osfactos de que o responsável pela direção do direção do procedimento (ou quem assume a função de instrutor do pro¬
procedimento tenha conhecimento em virtude do exercício das suas funções” , embora cesso) dá conhecimento aos particulares interessados do sentido provável
neste caso este seja obrigado a afazer constar doprocedimento” aqueles factos, da decisão final ou da deliberação final do órgão, concedendo prazo para
atendendo ao disposto nos n.os 2 e 3 do mesmo normativo. se pronunciarem, querendo, e para que possam vir ao processo dizer o
De acordo com as regras gerais de Direito, o ónus da prova compete ao que tiverem por conveniente. Trata-se, como resulta do disposto no n® 1
interessado, atento o disposto no n ® 1 do artigo 116 do CPA. do artigo 12® do CPA, de um direito dos interessados à audiçã o.
®

De acordo com o disposto no artigo 117®, n® 1, do Código, o responsável A audiência prévia é um momento crucial do procedimento de feitura
pela direção do procedimento pode exigir aos interessados um conjunto do ato administrativo e visa ouvir uma última vez, antes da decisão final, o
variado de dados, sendo legítimo recusar as determinações públicas, nos interessado no ato administrativo a proferir. Esta audiência não é necessária
termos das diversas alíneas do n úmero seguinte. Assim, nem terá sentido útil se se tratar apenas de deferir plenamente o pedido e
se não existirem contrainteressados ou contra-opositores. Neste momento,
“ É legítima a recusa às determinações previstas no número anterior, quando
a obediência às mesmas: podem os interessados reafirmar o pedido, bem como contrariar o sentido
a) Envolvera violação de sigilo profissional ou segredo comercial ou industrial; da decisão eventual da Administração Pública, pronunciando-se “ (...) sobre
b) Implicar o esclarecimento de factos cuja revelação esteja proibida ou dis¬ todas as questões com interesse para a decisão, em matéria defacto e de direito, bem
pensada por lei; como requerer diligências complementares ejuntar documentos” , de acordo com
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o estipulado no artigo 121e, ns 2, do CPA. A realização da audiência prévia (discricionário) do ato administrativo pode decorrer do contratualmente
dos interessados suspende, nos termos do disposto no nQ 3 do mesmo ar¬ estabelecido? Se assim for, o procedimento do ato administrativo termi ¬

tigo, a contagem dos prazos em todos os procedimentos administrativos. na sempre - como seria expectável e normal - com a prática de um ato
De referir que o artigo 124Q do CPA (correspondente ao anterior arti¬ administrativo unilateral.
go 103- do CPA revogado) dispensa a audiência prévia em determinados O CPA estipula ainda um prazo geral para decisão dos procedimentos
casos, prevendo-se que a mesma pode ser escrita ou oral, nos termos do administrativos, de acordo com o previsto no seu artigo 1282 (correspondente
disposto nos artigos 1222 e 1232 do CPA, respetivamente (correspondentes ao anterior artigo 582 do CPA revogado). Importa aqui referir a eventual
aos antigos artigos 1012 e 1022 do CPA revogado). responsabilidade disciplinar que pode decorrer do não cumprimento dos
Posteriormente, e após a audiê ncia pr é via dos interessados, podem vir prazos, atento o disposto no n2 5. É igualmente de assinalar, de acordo com
a ser efetuadas outras diligê ncias complementares que se mostrem conve¬ os n.os 1 e 6, a distinção em termos de prazos para decisão, dependendo
nientes, de acordo com o disposto no artigo 1252 do CPA (correspondente de o procedimento ter início por via de requerimento de particular ou
ao anterior artigo 1042 do CPA revogado). oficiosamente e passível, neste caso, “ (...) de conduzir à emissão de uma deci ¬

são com efeitos desfavoráveis para os interessados (...)” . No primeiro caso, os


4.2.2.5. Da decisão e outras causas de extinção do procedimento procedimentos administrativos “ (...) devem ser decididos no prazo de 90 dias
Nos termos do disposto no artigo 1262 do CPA (correspondente ao anterior (...)” , com as salvaguarda e exceções previstas na norma, e, no segundo
artigo 1052 do CPA revogado) , finda a instrução e efetuada a audiência dos caso, “ (...) caducam, na ausência de decisão, no prazo de 180 dias”.
interessados, o responsável pela direção do procedimento, quando não for De acordo com o previsto no n21, o prazo de 90 dias pode ser prorrogado
o órgão competente para a decisão final, pelo responsável pelo procedimento administrativo, mediante autorização
expressa do órgão competente para a decisão final, em situações conside ¬

“ (...) elabora um relatório no qual indica o pedido do interessado, resume o radas excecionais, “ (...) por um ou maisper í odos, até ao limite máximo de 90
conteúdo do procedimento, incluindo afundamentação da dispensa da audiência dias disso se dando, nos termos do disposto no n2 2, conhecimento
dos interessados, quando esta não tiver ocorrido115, e formula uma proposta de ao interessado.
decisão, sintetizando as razões de facto e de direito que a justificam” Atento o disposto no artigo 1292 do Código, “ (...) o incumprimento do
dever de decisão (...)” previsto no artigo 132 do CPA confere ao interessado
No caso em que não haja coincidência ou identidade subjetiva entre a “ (...) possibilidade de utilizar os meios de tutela administrativa e jurisdicional
o responsável pela direção do procedimento e o órgão competente para adequados” , designadamente, a ação administrativa especial para obter a
decidir, todo o processo administrativo é concluso ao órgão decisor ou condenação da estrutura administrativa, dentro de determinado prazo, à
deliberativo para decisão final, ou seja, é-lhe remetido. prática de um ato administrativo ilegalmente omitido ou recusado.
Parece que, por força do disposto a propósito dos acordos endoproce- Para alé m da tomada da decisão final expressa116, segundo o previsto
dimentais e, nomeadamente, do consagrado no artigo 57Q, ns 3, do CPA, nos artigos 93s do CPA (correspondente ao anterior artigo 1062 do CPA
o legislador vem agora, no artigo 1272 do mesmo diploma, determinar revogado), relativo ao regime comum, e 1272 e seguintes, relativos ao pro ¬

que o procedimento do ato administrativo (que se estuda e que resulta cedimento administrativo dos atos administrativos, este pode extinguir-se
deste Capítulo II) pode terminar pela prática (óbvia e natural) de um ato ainda por:
administrativo ou - surpreendentemente - pela celebração de um contrato.
O procedimento diz respeito a um ato mas pode determinar a celebração de
um contrato... Não ser á que o legislador quis, antes, dizer que o conteúdo O órgão decisor deve, na decisão final, nos termos do disposto no artigo 94 do CPA (cor
110 - ¬

respondente ao anterior artigo 107e do CPA revogado) , resolver todas as questões perti ¬

115
A dispensa pode ocorrer, como vimos, nos termos do disposto no artigo 124" do CPA. nentes.
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- Ato tácito de deferimento117 (quando o silêncio da Administração o interessado a desenvolver a atividade pretendida, sem prejuízo dos poderes de
Pública tem valor positivo), nos termos do disposto no artigo 130® fiscalização da Administração e da possibilidade de esta utilizar os meios ade ¬

doCPA; quados à defesa da legalidade.”


- Desistência118, mediante requerimento escrito;
- Renúncia119, igualmente mediante requerimento escrito; Trata-se de obter os efeitos tradicionais da emissão de um ato admi¬
- Deserção120, quando o interessado abandona o procedimento admi ¬ nistrativo sem que o mesmo seja emitido e sem que decorra qualquer
nistrativo e este esteja “ (...) parado por mais de seis meses, salvo se houver procedimento administrativo. Deste modo, a lei poderá prever que “ (...)
interesse pú blico na decisão do procedimento” , embora a deser ção n ão a produção de determinados efeitos jurídico-administrativos (...)” seja imediata e
extinga o eventual direito do interessado; direta, decorrendo de mera comunicação prévia pelo interessado à Admi¬
- Impossibilidade ou inutilidade superveniente121; e nistração Pública de que preenche os requisitos e pressupostos objetivos
- Falta de pagamento de taxas ou de despesas122. tipificados na lei para a verificação daqueles efeitos. Esta norma permite
dispensar ato e procedimento administrativos. Os efeitos operam quase
4.2.2.6. Comunicações pr évias ipso facto. O mesmo artigo, no seu ns 2, prevê a possibilidade de a mera
Para finalizar, relativamente ao procedimento do ato administrativo, o CPA comunica ção prévia apenas produzir efeitos jurídicos positivos benéficos
prevê agora, no seu artigo 134s, a figura das comunicações prévias. Vejamos: para os interessados em caso de não pron úncia negativa pelo órgão com¬
petente, em prazo legalmente estipulado. O ns 3 vem apenas referir que,
“ 1 - A lei pode prever que a produção de determinados efeitosjurídico-admi ¬
nestes casos, não se trata de um ato tácito de deferimento123.
nistrativos eoseu aproveitamento pelo interessado não dependa da emissão de
um ato administrativoprocedimentalizado, mas resulte, deforma imediata, da 4.3. Recomendação
mera comunicação prévia pelo interessado do preenchimento dos correspondentes Neste momento, o estudante deve estar habilitado com conhecimentos
pressupostos legais e regulamentares. sobre os regimes comum do procedimento administrativo e privativos
2 - A lei também pode estabelecer um regime de comunicação prévia com do regulamento e do ato administrativos. Importa conhecer, nomeada ¬
prazo, determinando que a comunicação prévia do interessado só produza os mente, as suas diferentes fases e as suas formas de extinção. É essencial o
efeitos visados se o órgão competente não se pronunciar em sentido contrário conhecimento do regime jurídico da relação jurídica procedimental, da
dentro de determinado prazo. conferência procedimental, das notificações, das audições e das audiências
3 - Nas situações de comunicação prévia com prazo, a ausência de pronúncia prévias dos interessados, bem como dos prazos graciosos e suas regras de
do órgão competente não dá origem a um ato de deferimento tácito, mas habilita contagem, entre outros.
117
O novo CPA deixou de consagrar o ato tácito de indeferimento (quando o silêncio da
Administração Pública tem valor negativo), dado o enquadramento jurídico do contencioso 4.4. Exercício formativo
administrativo atualmente vigente e que supre esta figura. a ) Distinga procedimento administrativo de processo administrativo;
118 Nos termos do
disposto no artigo 131“ do CPA (correspondente ao anterior artigo 110 “ do b ) Diga quais são as diferentes fases dos procedimentos administra¬
CPA revogado). tivos do regulamento e do ato administrativos;
119 Vide notaanterior.
c) Distinga sujeitos do procedimento de interessados no procedi¬
120
De acordo com o disposto no artigo 132“ do CPA (correspondente ao anterior artigo 111 “ mento;
do CPA revogado).
121
Nos termos do disposto no artigo 95 do CPA, relativo ao regime comum dos procedi¬

mentos administrativos (correspondente ao anterior artigo 112“ do CPA revogado).
123
A este propósito vide, por todos, o constante do regime do Licenciamento Zero, estabele ¬
122 Cfr. o disposto no artigo 133 do CPA (correspondente ao anterior artigo 113 do CPA cido no Decreto-Lei n“ 48/2011, de 1 de abril, alterado pelos Decreto-Lei n .os 141/2012, de 11
“ “ de julho, e 10/2015, de 16 de janeiro.
revogado).
CURSO SOBRE O NOVO C Ó DIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

d) Indique o prazo geral de conclusão do procedimento do ato admi ¬

nistrativo;
e) Refira-se às conferências procedimentais; e
f ) Elenque, explicitando, as diferentes formas de extinção do proce ¬

dimento administrativo do ato administrativo.

5 . Palestra sobre atividade administrativa

SUMáRIO:
Do regulamento administrativo: disposições gerais. Da eficácia do regulamento
administrativo. Da invalidade do regulamento administrativo. Da caducidade e
da revogação do regulamento administrativo. Da impugnação de regulamentos
administrativos. Do ato administrativo. Enquadramento e disposições gerais.
Tipologia dos atos administrativos. Classifica ção dos atos administrativos.
Da eficácia do ato administrativo. Da invalidade do ato administrativo. Da revo¬
ga ção e da anulação administrativas. Das alteração, substituição e retificação
dos atos administrativos. Da execução do ato administrativo. Dos contratos da
Administração P ública. Recomendação. Exercício formativo.

A atividade administrativa é aquela que é exercida, designadamente ,


pelos órgãos da Administração Pública, ao abrigo da função administra ¬

tiva do Estado124 e, mais concretamente, no âmbito da gestão pública125.


Mas, nos dias de hoje, o universo das entidades que prosseguem aquela

m Esta fun ção estadual tem como fim a satisfa o


çã regular e contínua das necessidades cole¬
tivas, que, genericamente, são a seguran ça, a cultura e o bem-estar.
125
A que é exercida ao abrigo do Direito Administrativo e em que os órgãos administrativos
aparecem dotados de poder de autoridade. Não podemos esquecer que estes mesmos órgãos
podem atuar ao abrigo da gestão privada, regulada pelo regime do Direito Privado, sempre
que atuam desinvestidos de ius imperii ou do poder de autoridade e surgem, nas relações jurí¬
dicas, em situação de paridade com os particulares.
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função e dispõem de poderes jurídico-administrativos foi-se alargando e 5.1. Do regulamento administrativo128: disposições gerais
inclui outras entidades de natureza diversa. A Administração Pública dispõe de competência regulamentar, que se
Juridicamente, a atividade administrativa é prosseguida por regula¬ traduz na possibilidade de emanar atos normativos129. A competê ncia
mentos administrativos, atos administrativos e contratos administrativos. regulamentar é, por isso, uma competência normativizadora característica
Como vimos, o ato tácito pode, igualmente, ser considerado, de alguma da Administração Pública.
maneira, uma forma de prossecução muito peculiar da atividade adminis¬ Importa assinalar que a Constituição protege, nalguns casos, a compe¬
trativa, sobretudo porque são casos de deferimentos cujo sentido decorre, tê ncia regulamentar de várias estruturas administrativas, pelo que o poder
expressamente, da lei. legislativo ordinário não pode, através de qualquer meio legal, atacar ou
A esta enumeração jur ídica convém adicionar as operações materiais e as suprimir esta capacidade normativizadora tutelada pela Lei Fundamental,
atividades operacionais que reúnem todos aqueles atos não- jurídicos, mas sob pena de inconstitucionalidade material da lei.
vinculados, relevantes e enquadráveis juridicamente, que são praticados Em primeiro lugar, o Governo da República, enquanto órgão superior
por estruturas administrativas, designadamente, serviços públicos, e que da Administração Pública, nos termos do disposto no artigo 182- da CRP,
são empregues para dar execu ção às decisões administrativas. São disso tem a sua margem de competência para elaborar regulamentos prevista no
exemplo o uso da força e as atividades operacionais das forças e serviços de artigo 199e, alínea c), da CRP. Depois, as Regiões Autónomas dos Açores e
liberdade e segurança126 , por exemplo, quando intervê m em situações de da Madeira, pessoas coletivas de base territorial e populacional, de acordo
manutenção da ordem p ública. com o previsto no artigo 227Q, ng 1, alínea d) , da CRP, detêm o exercício da
A Constituição Administrativa portuguesa127 consagra alguns princípios competência, atribuído quer às respetivas Assembleias Legislativas quer
gerais em maté ria de atividade administrativa, que vinculam o legislador aos Governos Regionais, atento o disposto no artigo 2325, ns 1, da CRP.
e a própria Administração Pública. Por outro lado, també m a mesma competência se encontra atribuída às
A este propósito n ão parece despiciendo transcrever o disposto no autarquias locais (Freguesias, Municípios e Regiões Administrativas130), de
artigo 266Q da nossa CRP, que estipula que acordo com o previsto no artigo 241Q da Constituição. Por fim, as Universi ¬

dades públicas veem a sua autonomia administrativa constitucionalmente


“ 1. A Administração Pública visa a prossecução do interesse público, no respeito
tutelada pelo disposto no artigo 76s e, por esta via, podemos verificar a
pelos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos. tutela constitucional à sua capacidade regulamentar.
2. Os órgãos e agentes administrativos estão subordinados à Constituição e Releva notar que este poder atribuído a algumas estruturas administrati ¬

à lei e devem atuar, no exercício das suas funções, com respeito pelos princípios vas não é um poder livre e discricioná rio, estando sujeito, designadamente,
da igualdade, da proporcionalidade, da justiça, da imparcialidade e da boa -fé.” aos princípios da constitucionalidade e da legalidade em sentido amplo, ou
seja, não podem os regulamentos contrariar o que, constitucional e legal ¬

Ora, a estes princípios devem obediência e respeito direto e imediato mente, estiver estatuído. Vigora, na sua plenitude, o princípio da preferência
as diferentes estruturas administrativas e têm desenvolvimento legislativo, da Constituição e da Lei. É, portanto, um poder subordinado, de acordo,
como vimos já, na Parte I do CPA. aliás, com a hierarquia das fontes de Direito na ordem jurídica nacional.
O artigo 1359 do CPA consagra, hoje em dia, o conceito legal de regu ¬
126
Temos preferido esta expressão em detrimento da de uso corrente e legal, forças e serviços
de segurança , dado que, constitucionalmente, é ao binó mio segurança e liberdade que estão vin ¬ lamento administrativo para os efeitos do novo CPA. Há, deste modo, agora,
culadas.
127
Habitualmente, a doutrina refere-se à “ Constituição Administrativa” como o conjunto 128
Vide Jorge Manuel Coutinho de Abreu, Sobre os regulamentos administrativos e o princípio da
dos normativos constitucionais relativos à Administração Pública. Da mesma forma se uti ¬
legalidade, Livraria Almedina, Coimbra, 1987.
lizam, entre outras, as expressões “ Constituição Política”, “ Constituição Militar” , “ Constitui Dotados de generalidade e de abstração, sendo, portanto, leis em sentido material.
¬ 129

ção da Defesa e Segurança”, “ Constituição Financeira” e “ Constituiçã o Econ ómica” . Ainda não instituídas em concreto.
130
CURSO SOBRE O NOVO CÓDIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO PALESTRA SOBRE ATIVIDADE ADMINISTRATIVA

uma definição legal da figura. Assim, consideram-se regulamentos admi¬ legal que não exceciona, de alguma forma, os diversos tipos de regula ¬
nistrativos “ (...) as normasjurídicasgerais e abstratas que, no exercício de poderes mentos, obriga à aplicação de um conjunto de regras que pode, nalguns
jurídico-administrativos, visem produzir efeitos jurídicos externos!’ casos, não fazer sentido e ser causa de morosidade na tomada de decisões
O regulamento administrativo, como expressão unilateral da vontade
131
normativas, dado que quando a lei não distingue não cabe ao intérprete
da Administração, manifesta uma dupla natureza: fazer qualquer destrinça. De todo o modo, deveria o legislador ter equacio ¬

nado a possibilidade de limitar a aplicação do regime jurídico, também, a


,
- É normativo já que se trata de um conjunto de normas gerais e abstratas alguns regulamentos internos, sempre e quando as circunstâ ncias de cada
(e, por isso, é uma lei em sentido material); e situação a regulamentar em concreto o impusessem.
- É materialmente administrativo, pois é emanado ao abrigo da função Voltando, de novo, aos tipos de regulamentos, é de notar que os que
administrativa, sendo elaborado no exercício de poderes jurídico-adminis¬ resultam do exercício da competência administrativa do Governo podem
trativos de autoridade e de gest ão públicas. Deste modo, esta componente assumir a forma de decreto regulamentar134, de resolução normativa, de
estrutural sobrcpõe-se à natureza orgânica, ou seja, as normas podem não portaria ou de despacho normativo. A hierarquia entre os regulamentos
ser emanados por estruturas organicamente administrativas (não resultam, governamentais está, como veremos adiante, prevista no disposto no artigo
exclusivamente, de estruturas que integram a Administração Pública em 138s, ns 3, do CPA. Os atos regulamentares provenientes das estruturas
sentido restrito), aliás como decorre do â mbito de aplicação do pró prio regionais podem assumir a forma de decretos regulamentares regionais e
CPA e, designadamente, do disposto no seu artigo 2s, nQ 1. Desta forma, o os que provêm de órgãos das autarquias locais podem assumir, nomeada ¬

elemento orgâ nico da definição concetual é, agora, dispensado e releva o mente, a forma de posturas.
exercício material da função administrativa, que pode ser prosseguido por Os regulamentos podem, ainda, ser independentes ou de execução
estruturas fora do perímetro orgânico-formal da Administração P ública. (complementares). Os regulamentos independentes, previstos no disposto
no artigo 112Q, nQ 7, da CRP, existem quando a lei em que se fundam e que
Os regulamentos podem ser internos132 ou externos, consoante os seus visam regulamentar apenas consagra “ (...) a competência subjetiva e objetiva
destinatá rios se encontrem no interior do perímetro da Administração para a sua emissão” ; ao contrário, os regulamentos de execução assumem
Pública ou da entidade que os emana, ou, por outro lado, ultrapassem as uma função secundária, e complementam um regime jurídico-legal que é
suas fronteiras, e podem assumir várias formas133. mais denso e que deixa menos margem de manobra ao órgão com poderes
De assinalar que, para efeitos do novo CPA e atento o já referido artigo para os aprovar. Embora ambos os tipos de regulamentos (independentes
135e, importam apenas os regulamentos que “ (...) visem produzir efeitos ou de execução) sejam ou possam ser inovadores, desde que respeitem a
jurídicos externos", o que não deixa de ser de alguma forma surpreendente, lei, é natural que o regime jurídico dos primeiros seja mais criativo, porque
dado existirem regulamentos que, produzindo meramente efeitos internos, a única vinculação à lei é a obriga ção de respeitar o previsto quanto à com ¬

não deveriam ser afastados do regime vinculativo previsto no novo CPA, petê ncia para regulamentar (competê ncia subjetiva) e quanto à maté ria
não apenas pela natureza dos efeitos mas, sobretudo, pelas suas dimensão, suscetível de regulamentação (competência objetiva).
amplitudes territorial e funcional e importâ ncia. É certo que um regime O CPA prevê agora, para além do disposto, genericamente, no Capítulo
I do Título II da Parte IIP35, nos seus artigos 135s a 147Q (anteriormente, o
131
A par do ato administrativo, sã o manifestações da atuação unilateral da Administração Pú¬
blica ou de detentores de poderes jurídico-administrativos.
regime jur ídico - bastante simplificado - constava do disposto nos artigos
132
Os regulamentos internos podem revestir, designadamente, a forma de circulares,
quando são comuns a vários serviços, ou de instruções, quando dirigidas a um único serviço.
Existem diferentes categorias de regulamentos, desde logo e entre outros, os nacionais,
134
133 Estes carecem de promulgação do Presidente da República, nos termos do disposto no
regionais e locais; os regulamentos complementares, independentes e autónomos; os regu¬ artigo 134°, alínea b), da CRP.
lamentos de assistê ncia, policiais, militares, de ensino.
135
Cfr. o disposto nos artigos 97 - a 101a do CPA.
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1149 a 119Q do CPA revogado), o regime e o processo de elaboração dos os conteúdos normativos, aliás, como decorre do disposto no artigo 136Q,
regulamentos administrativos. n9 3, do CPA.
Há, no entanto, disposições de caráter genérico que necessitam de ser Por fim, mas ainda quanto ao disposto no artigo 136a do Código, im ¬

referidas. O teor do artigo 1369, ne 1, do CPA, é decorrência direta do que porta fazer uma breve referê ncia ao estipulado no seu n9 4, a propósito
se prevê, genericamente, sobre a competência em Direito Público. A lei é da necessária habilitação legal para “ (...) quaisquer comunicações dos órgãos
a fonte dos poderes, aliás, como vimos anteriormente, quando estudámos da Administração Pública que enunciem de modo orientador padrões de conduta
o regime jurídico da competência136 e definimos a origem legal como uma na vida em sociedade com, entre outras, as denominações de “ diretiva” , “ recomen
¬

das suas características marcantes. Ora, como sabemos, a competência e o dação” ,“ instruções” ,“ código de conduta” ou” manual de boas práticas” , embora
fim são sempre elementos vinculados e que resultam da lei. Ou seja, a lei não assumam natureza regulamentar.
é que nos indica que órgão pode exercer determinado poder e com que De acordo com o previsto no artigo 1372, n91, do CPA, no silêncio da
fim o pode fazer. Podemos, assim, afirmar que é sempre necessária uma lei lei, é de 90 dias o prazo para adotar um regulamento devido e que seja
habilitante para que o regulamento possa ser emitido por uma determinada necessá rio para dar execução prática a ato legislativo que careça de regu¬
estrutura em concreto. Por outro lado, o n9 2 do mesmo artigo limita-se a lamentação. Atento o disposto no n 9 2 do mesmo artigo, a inobservâ ncia
transcrever, quase textualmente, o disposto no artigo 1122, ne 7, da CRP. do prazo imposto atribui aos interessados, que possam ser afetados nega ¬
Destes dois artigos resultam as seguintes vinculações: tivamente pela omissão de regulamentação, legitimidade para requererem
i ) Tratando-se de regulamentos complementares, é necessá ria a a emissão do ato normativo ao órgão com competência subjetiva, podendo
indicação expressa, por estes, das leis que visam regulamentar; e ainda recorrer contenciosamente junto dos tribunais administrativos.
it ) Tratando-se de regulamentos independentes, é necessária a indi ¬ É curioso notar, como já afirmá mos, que o CPA vem estabelecer, nas
cação expressa, por estes, das “ (...) leis que definem a competência subjetiva diferentes alíneas do n 9 3 do artigo 1389 do CPA, a hierarquia dos regula¬
e objetiva para a sua emissão” . mentos governamentais, cuja ordem de prevalê ncia é, agora, a seguinte:
l2 Decretos regulamentares;
Importa precisar dois conceitos a que já tínhamos feito, anteriormente, 29 Resoluções do Conselho de Ministros com conte údo normativo;
referê ncia e que são os seguintes: 39 Portarias; e
i) O da competência subjetiva, que significa a indicação da estrutura 49 Despachos (normativos).
que tem poderes para aprovar o regulamento, ou seja, a referência à
competência subjetiva responde à pergunta “ Quem pode emitir o regu¬ 5.1.1. Da eficácia do regulamento administrativo
lamento'' e A Secção II do Capítulo I da Parte IV trata da eficácia do regulamento
it ) O da competência objetiva, que significa, neste caso, a indicação da administrativo e integra quatro artigos relativos à publicação, à vigência,
maté ria que ser á objeto de regulamentação, ou seja, com este conceito à proibição de eficácia retroativa e à aplicação de regulamentos.
responde-se à questão de saber “ Que matéria carece ou pode ser objeto de O conceito de eficácia jurídica prende-se com a suscetibilidade de um
regulamentação?” ato, independentemente da sua natureza, poder produzir efeitos jurídicos.
O artigo 1399 do CPA impõe a publicação como a forma juridicamente
Como vimos anteriormente, o regulamento independente visa inovar adequada de levar ao conhecimento dos destinatários o teor dos regula ¬

ídica, com grande amplitude e larga margem de opção sobre


na ordem jur mentos. A publicação deve ser feita no ( t ) Diário da República , sem prejuízo
de poder ser feita na ( it ) publicação oficial da entidade pública e na ( iií)
Cfr. o disposto nos artigos 36" e seguintes do CPA.
Internet,no sítio institucional da entidade em causa. Dado que o legislador
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estabelece, agora, uma expressa distinção entre publicação e publicidade competentes suspender a vigência de regulamentos por prazos que,
e parece exigir, cumulativamente, a publicação em boletins oficiais e na materialmente, sejam confundíveis com uma revogação. A suspensão é
Internet (nos sítios institucionais), pode colocar-se a questão de se saber uma forma temporá ria e pontual de fazer cessar efeitos e não pode ser
qual a data a partir da qual os efeitos se começam a produzir. No caso dos utilizada como instrumento de fuga ou contorno da lei, ou seja, quando a
regulamentos, essa questão é expressamente resolvida com o disposto no lei impõe a irrevogabilidade do regulamento, não pode ser determinada
artigo 140- do CPA. uma suspensão por um período tão extenso e longo que seja em tudo
Assim, sob a epígrafe vigência , o artigo 140e do CPA trata verdadei¬ similar, material e substantivamente, a uma revogação. Somente caso a
ramente do per íodo de vacatio legis137 , dado que aqui se estipula que os caso pode ser emitido um juízo, em concreto, sobre a validade jurídica
regulamentos iniciam a vigência na “ (...) data neles estabelecida ou no quinto da suspensão, mas prazos de meses ou, sobretudo, de anos podem não
dia após a sua publicação” Ora, existindo divergência nas datas da publicação ser conformes com o bloco da legalidade e da juridicidade aplicável,
e da publicidade, valerá a primeira para efeitos de eficácia. por corresponderem materialmente a uma revogação de vigência.
O artigo 141Q do CPA impõe uma proibição de eficácia retroativa, ou
seja, os efeitos do regulamento não podem incidir sobre o passado, se forem De referir, ainda, que o ne 2 do artigo 1422 do CPA proíbe a derroga ¬
penalizadores para os seus destinatá rios. A contrario sensu , podemos assumir ção do regulamento por via de ato administrativo (de car áter individual e
que a lei admite a possibilidade de os regulamentos retroagirem os seus concreto). Esta última referência ao caráter individual e concreto parece ser
efeitos, no limite, à data a que se reporta a lei habilitante do regulamento desnecessária, podendo até, nalguns casos, ser geradora de hesitações e
em causa, atento o disposto no artigo 1419, nQ 2, do CPA, nos casos em que, leituras, a nosso ver, equívocas. Seguindo uma interpretação meramente
designadamente, exista benefício para o interessado. literalista, poder-se-ia admitir a existência de atos administrativos que não
Por fim, o artigo 142e do CPA prevê, no seu n9 1, que os órgãos com tivessem carácter individual e concreto e que, deste modo, fosse admis ¬
competência subjetiva dispõem dos seguintes poderes consignados na lei: sível a derrogação. Ora, não parece ser esse o caso. Mesmo tratando-se
dos chamados atos administrativos suigeneris (gerais, plurais e coletivos),
i. Poder de interpretação autê ntica: o ó rgão competente para a
cremos que não é admissível que possam ter efeitos derrogatórios sobre
emissão do regulamento tem o poder de interpretar plenamente os
regulamentos. Será, porventura, exigido ao intérprete que faça aqui uma
seus conte údo, sentido e alcance normativos. A interpretação autêntica
interpretação restritiva, dado que entendemos que o legislador, através
apenas pode ser efetuada pelo órgão que aprova e emite o regulamento; da letra da lei, disse mais do que eventualmente queria. Seguramente,
ii.Poder modificativo: a estrutura orgânica competente pode alterar
queria reforçar a ideia de irrevogabilidade do regulamento por decisão
ou substituir o teor do normativo do regulamento, dando-lhe novo
individual, mas a forma dessa decisão assumir-se-ia sempre como a de
conteúdo; e
ato administrativo.
iii. Poder de suspensão: o órgão com poder regulamentar em con¬
creto pode suspender a eficácia do regulamento que aprova, no respeito
5.1.2. Da invalidade do regulamento administrativo
pelos limites legalmente impostos. Este poder tem de se conjugar, mais Vejamos, agora, a questão da invalidade do regulamento administrativo.
à frente, com o poder de revogação dos regulamentos que, em deter¬
O conceito de invalidade jurídica prende-se, de forma direta e imediata,
minados casos, é limitado e não pode ocorrer, como veremos, de forma
com a perfeição jurídica do ato, neste caso, o regulamento administrativo.
simples, exigindo-se, nos termos do disposto no artigo 1469, n9 2, do CPA, Para que o ato seja juridicamente perfeito e, por isso, válido, é necessário,
pelo menos uma revogação substitutiva. Assim, não podem os órgãos antes de mais, que cumpra e respeite o bloco integral da legalidade, hoje
137
Prazo que medeia entre a data da publicação de um diploma e a data da sua entrada em
designado como bloco de juridicidade, aliás, como é referido no ne 1 do
vigor. artigo 1439 do CPA. Assim, se o regulamento violar o bloco da legalidade
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(em sentido amplo) é inválido. De igual modo, a invalidade do regulamento não padecer (em) de qualquer inconstitucionalidade, “ (...) só pode(m) ser
administrativo decorre também do estipulado nas diversas alíneas do n9 2 do impugnado(s) ou declarado(s) oficiosamente inválidos pela Administração no prazo
mesmo artigo. Nos termos deste número, os regulamentos serão inválidos de seis meses, a contar da data da respetiva publicação, salvo nos casos de carência
se ( z) contrariarem o disposto nos regulamentos “ (...) emanados dos órgãos absoluta de forma legal ou de preterição de consulta pública exigida por lei” , nos
hierarquicamente superiores ou dotados de poderes de superintendência” , nos termos termos do n9 2. Trata-se, como se pode verificar, de um importante limite
da alínea a ) , ou seja, estabelece-se uma hierarquia de regulamentos e pre¬ à ação dos órgãos administrativos, no seu poder de atuação oficiosa em
ferem os regulamentos das estruturas orgânicas hierarquicamente superiores defesa da legalidade.
ou superintendentes; ( ii) desrespeitarem os regulamentos emanados pelo
órgão delegante, salvo se a delegação incluir a competência regulamentar, 5.1.3. Da caducidade e da revogação do regulamento administrativo
nos termos da alínea b); e ( iit ) desrespeitarem os estatutos emanados ao Aos regulamentos administrativos podem ser apostos termos ou condições
abrigo de autonomia normativa nas quais se funde a competência para a resolutivas que, ao verificarem-se, fazem caducar aqueles regulamentos,
respetiva emissão, de acordo com o estipulado na alínea c ) . atento o disposto no artigo 1459 do CPA. O seu ns 2 determina a caducidade
O artigo 1442 do Código, a propósito do regime jur ídico da invalidade do consequente em função da revogação das leis de que dependem e que regula ¬
regulamento administrativo, parece abandonar agora a trilogia tradicional mentam, salvo “ (...) na medida em que sejam compatíveis com a lei nova e enquanto
das invalidades jur ídicas nominadas: (z) inexistência jurídica, ( it ) nulidade não houver regulamentação desta” e, embora o artigo o não refira, desde que
e ( iit ) anulabilidade, optando por uma categoria gené rica de invalidade a lei não disponha em sentido contrá rio. A caducidade é, por isso, uma
inominada, sem outra qualquer designação nominativa. das vá rias formas de extinção de efeitos do regulamento administrativo.
Aliás, esta opção é claramente firmada no n9 3 do referido artigo, quando Outra das formas genéricas e usuais de extinção de efeitos jurídicos é a
se refere à declaração administrativa de invalidade. Aqui se estipula que - quando revogação. Importante disposição legal é a prevista no artigo 1469 do CPA
proferida - esta declaração produzirá efeitos desde a data de emissão do (correspondente ao anterior artigo 1199 do CPA revogado). Esta ocorre
em virtude de entrar em vigor um novo regulamento com capacidade
regulamento, o que nos parece um lapso do legislador, dado que nos pare ¬

ceria mais curial consagrar-se que a declaração administrativa de invalidade


desintegrativa, ou seja revogatória. A regra geral consta do disposto no
artigo 1469, ns 1, do CPA: “ Os regulamentos podem ser revogados pelos órgãos
produziria efeitos à data da entrada em vigor do regulamento inválido e
competentes para a respetiva emissão (...)” .
não à da emissão, porque, como vimos, só a partir daquele momento, o
Ao abrigo do princípio da irrevogabilidade simples dos regulamentos
seu conte údo se reflete e produz efeitos na ordem jurídica. Ora, o que se
necessários à execução das leis em vigor ou de Direito da União Europeia,
visa destruir são eventuais efeitos produzidos. Importa, ainda, referir que
o n9 2 do referido preceito legal proíbe a sua revogação global simples,
a revogação tem efeitos repristinatórios nas condições impostas no refe ¬
admitindo, apenas, a revogação substitutiva para evitar o retrocesso nor¬
rido n9 3. Aliás, a consagração pelo legislador de efeitos repristinat órios à mativo e o vazio de regulamentação complementar necessá ria e indis¬
declaração administrativa de invalidade parece vir dar-nos razão, dado que pensável à boa exequibilidade das leis ou do Direito da União Europeia.
a revogaçã o de eventuais normas regulamentares apenas se efetiva com a Assim, os regulamentos complementares ou de execução não comportam
entrada em vigor do regulamento agora declarado inválido. a revogação simples global, mas admitem a revogação substitutiva, ou seja,
O regime da invalidade previsto no n91 do referido artigo 1449 do CPA a que põe fim à vigência de um determinado regime jur ídico e estipula,
parece aproximar-se do regime tradicional da nulidade, dado que: ( t ) pode imediatamente e de forma sucessiva, uma nova regulamentação para a lei
ser invocada a todo o tempo, ( it ) por qualquer interessado, e ( iit ) pode ser, em causa, possibilitando assim a sua imediata aplicabilidade. Admite-se,
a todo o tempo, declarada pelos órgãos administrativos competentes. Este igualmente, a revogação meramente parcial, desde que nã o implique a
regime jurídico é, em tudo, semelhante ao habitual regime jur ídico da nuli¬ inexequibilidade da lei regulamentada ou de alguma das suas normas que
dade. Se a ilegalidade for formal ou procedimental e o(s) regulamento(s) não seja de aplicação direta e imediata.
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O n9 3 da norma em análise vem agora, e bem, estipular que a inobser ¬ aos particulares a possibilidade de acesso aos tribunais administrativos139
vância da proibição de revogação prevista no n9 2 determina a vigê ncia sempre que a Administração Pública incumprisse algum preceito legal.
forçada , para todos os efeitos, das normas regulamentares revogadas ilegal¬ Era através desta figura que os tribunais podiam, primordialmente, “ olhar ”
mente que sejam indispensáveis à aplicabilidade da lei exequenda e que para a Administração Pública e para a sua atividade externa, casuística c
vigorarão apenas até ao início da vigência de todo um novo regulamento unilateral.
ou apenas das novas normas regulamentares necessárias. Neste campo, a primeira ideia a reter é a que estabelece a diferença
De salientar, ainda, que o disposto no artigo 1469, n° 4, do CPA (cor¬ entre o ato administrativo e o regulamento administrativo, dado que este
respondente ao anterior artigo 1199, n9 2, do CPA revogado) prevê que os tem, como vimos, um comando geral e abstrato, ou seja, é um conjunto
regulamentos revogatórios devam, expressamente, especificar as normas de normas, enquanto aquele é uma decisão individual num caso concreto.
regulamentares que revogam. O preceituado no artigo 1489 do CPA consagra uma definição legal de
ato administrativo para efeitos de regime jurídico previsto no Código e
5.1.4. Da impugnação de regulamentos administrativos que passamos a transcrever:
O artigo 1479 do CPA atribui aos interessados o direito de solicitar (i)
a modifica çã o, ( ii) a suspensã o, (ííi) a revoga çã o ou (ív ) a declara çã o “ Para efeitos do disposto no presente Código, consideram-se atos adminis ¬

administrativa de invalidade dos regulamentos diretamente lesivos dos trativos as decisões que, no exercício de poderes jurídico-administrativos, visem
seus direitos ou interesses legalmente protegidos. Do mesmo modo, essa produzir efeitos jurídicos externos numa situação individual e concreta.”
norma atribui legitimidade aos interessados para reagirem “ (...) contra a
omissão ilegal de regulamentos administrativos” , por exemplo, quando eles são Podemos, assim, analisar os elementos concetuais do ato administra¬
necessá rios e devidos para a boa execução de uma lei, que necessita da tivo que são apontados, genericamente, pela doutrina e que constam do
intermediação regulamentar para ser suscetível de ser aplicada e produzir referido artigo 148s do CPA:
efeitos positivos sobre a esfera jurídica dos interessados.
Os direitos atrás elencados podem ser exercidos, nos termos do disposto - Juridicidade: o ato resulta da conduta voluntária por parte da Admi¬
no n9 2, mediante reclamação ou recurso e as impugnações administrativas nistração Pública e visa produzir efeitos de Direito;
de regulamentos seguem, por remissão do artigo 1479, n 9 3, do CPA, o - Unilateralidade: o ato administrativo é o resultado de uma declaração
regime jurídico-procedimental disposto nos artigos 1899 e 1909 do Código de vontade de estruturas com poderes jur
ídico-administrativos (e não apenas
e que se referem, respetivamente, aos efeitos das impugnações facultativas de órgãos da Administração Pú blica) que, para a sua perfeição jur
ídica, não
dos atos administrativos e aos efeitos sobre os prazos. necessita da concorrê ncia da vontade de terceiros. O ato administrativo é
juridicamente perfeito, independentemente de outra qualquer vontade que
5.2. Do ato administrativo138 não a das estruturas orgâ nicas competentes, detentoras dos tais poderes
ídico aplicável aos atos administrativos.
Vejamos, de seguida, o regime jur jur -
ídico-administrativos1 *11 (independentemente de integrarem ou não o
perímetro orgânico da própria Administração Pública) para a sua emissão,
5.2.1. Enquadramento e disposições gerais
O ato administrativo, definido no artigo 1489 do CPA (correspondente 139
Aliás, em França, o estudo do ato administrativo é feito no âmbito do estudo do conten ¬
ao anterior artigo 1209 do CPA revogado) como decisão individual num cioso administrativo.
140
caso concreto, começou por ser, no fundo, uma construção que permitia No entanto, o titular do órgão autor do ato administrativo pode expressar uma vontade
que não seja a real e, assim, existir uma divergência entre a vontade declarada e a vontade
real, por exemplo, no caso do subalterno que, devendo obediência ao seu legítimo superior
Cfr. Marcelo Rebelo de Sousa, Regime do ato administrativo, Direito e Justiça, Revista da
138
hierárquico, expressa uma vontade contrária à sua mas assente na vontade da chefia hierár¬
Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa, Volume VI, 1992, pág. 37 e segs. quica, a que deve obediência.
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mesmo a admitir-se agora (como parece admitir-se) que o procedimento - A presunção de legalidade145;
do ato administrativo termine num contrato; - A imperatividade146;
- Materialmente administrativo: o ato administrativo é praticado no - A revogabilidade147 ou suscetibilidade de anulaçã o administrativa148;
âmbito da fun ção administrativa, ao abrigo da gestão pública e no exercício e
í dico-administrativos. Parece que a definiçã o prevista agora na
de poderes jur - A sanabilidade149.
lei, como vimos e para efeitos do CPA, afasta a exigência de o ato ser orga¬
nicamente administrativo, ou seja, praticado por órgão da Administra ção O artigo 149® do CPA consagra a possibilidade de aposição de cláusulas
-
Pública141. Recorde se que, anteriormente, esta era uma exigência primária acessórias. Estas, regra geral, estão previstas no n91: ( í) condição, ( itj termo,
prevista no artigo 1209 do CPA revogado. Importa relembrar que não eram ( jii ) modo ou (iv) reserva, desde que, entre outros, respeitem os princípios
atos administrativos todos aqueles praticados por órgãos de pessoas coleti¬ gerais aplicáveis e, particularmente, o princípio da proporcionalidade.
vas que não integrassem a Administração Pública. Também não eram atos Por outro lado, o disposto no artigo 1509 do CPA (correspondente ao
administrativos os praticados por usurpa ção de funções públicas, através anterior artigo 1229 do CPA revogado) consagra que os atos administrativos
da qual alguém, consciente e dolosamente, exercia funções administrati¬ devem ter, regra geral, a forma escrita e que deles deve constar um conjunto
vas sem ter título jurídico público válido para o efeito, como sucederá em de elementos mínimos, previstos como menções obrigat órias no artigo
casos de atuações de falsos trabalhadores em funções públicas. O mesmo 1519 do CPA (correspondente ao anterior artigo 1239 do CPA revogado).
sucedia com os atos praticados pelos órgãos do Estado integrados num Importa, no entanto, precisar agora o conceito essencial da definitividade
poder estadual que não o administrativo, embora para efeitos conten¬ do ato administrativo. Os autores falam em três tipos de definitividade, ou
ciosos (e até graciosos) alguns desses órgãos pudessem praticar atos em
seja, na tripla definitividade:
matéria administrativa142. De todo o modo, importa afirmar que mesmo a
Administração Pública pode praticar atos ao abrigo da gestão privada, os - A definitividade vertical;
quais não são pois atos administrativos; e - A definitividade horizontal; e
- Visa a disciplina jurídica de uma situação individual num caso con¬ - A definitividade material.
creto143: não é por definiçã o normativo, contendo um comando concreto
para um destinatário, pelo menos, determinável. Fixa, por isso, uma dis¬ vinculados à lei, nunca podendo ser aspetos discricionários. De assinalar que, em caso de
ciplina jurídica para a tal situação individual e concreta. violação da lei, são ilegais e inválidos.
M
Todos gozam desta presunção até prova em contrário. Esta presun ção pode ser afastada
por decisão jurisdicional, através de uma declaração de nulidade ou da anulação do ato, ou
Sã o várias as características e os traços comuns à generalidade dos atos pode ser afastada por decisão administrativa, através de uma declaração graciosa de nulidade
administrativos e que podem, designadamente, ser as seguintes: ou anulação administrativa graciosa, com fundamento em ilegalidade, se o ato for anuláveL
144
É obrigatório para os seus destinatários. Embora somente sejam executórios os atos admi ¬
- A integral subordinação à lei144; nistrativos eficazes, conforme se afirma mais adiante a propósito do conceito de executorie-
dade.
141 147
Isso mesmo resulta do expressamente referido no Preâmbulo do Decreto-Lei que aprova Têm como caracterfstica a possibilidade de serem revogados, atendendo à modificação do
o CPA, que no seu ponto 16 refere, a propósito, que se eliminou “ (...) a referenda ao elemento interesse público mas sempre fundada em razões de mérito. Há, no entanto, atos adminis ¬

orgânico da respetiva autoria trativos que são irrevogáveis. A este propósito, vide, por exemplo, o disposto nos artigos 166e
142
Para alguns autores, também conhecidos como atos materialmente administrativos. e 167s do CPA.
143
A este propósito, é importante analisar a já referida categoria de atos administrativos sui 148
Quando por razões de ilegalidade geradora de anulabilidade. Neste caso, os atos ilegais
generis que integra as seguintes espécies: os atos coletivos, os atos plurais e os atos gerais (o anuláveis devem mesmo ser anulados.
149
que se fará adiante). Em princípio, a invalidade é sanável pela Administração, salvo quando gera inexistência
144
Em diversos aspetos, v . g. a competência do autor, formas e formalidades, procedimento, ídica ou nulidade (neste caso, apenas através de atos de reforma ou de conversão e nunca
jur
conte údo da sua estatui ção e fim. No entanto, a competência e o fim são sempre elementos de ratificação saneadora ).
-
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Quanto ao conceito de definitividade vertical, significa a exigência de Ainda em termos de disposições gerais, importa analisar o dever de
prática do ato administrativo pelo órgão que está no topo da hierarquia fundamentação, uma das formalidades essenciais hoje previstas no CPA,
administrativa, no que à competência administrativa para a emissão daquele que obriga a que os órgãos da Administração Pública exponham as razões
ato diz respeito. Tem, portanto, sobretudo a ver com a posição vertical do da sua própria solução e que seja explicada a adoção de posição diferente
autor do ato administrativo face à natureza da competência para decidir da habitual ou a adoção de posição oposta à pretensão do particular.
sobre determinada matéria. Desta forma, apenas têm competência para a Nos nossos dias, a regra geral é, até por imposição constitucional, a que
prática de atos verticalmente definitivos os órgãos superiores da Adminis ¬
está prevista no n® 1 do artigo 152® do CPA (correspondente ao anterior
tração Pública, como sejam os órgãos de topo de qualquer entidade pública, n® 1 do artigo 124® do CPA revogado). No entanto, existem atos que não
do Estado150, das autarquias locais, dos institutos públicos e, entre outros, carecem de fundamentação, a menos que alguma lei especial o exija, de
os órgãos delegados, ao abrigo da delegação de poderes, se o delegante acordo com o disposto no n® 2 do mesmo artigo 152®, e que são
tinha competência para a prática de atos definitivos.
No que diz respeito à definitividade horizontal, traduz a exigência de “ (•••) os atos de homologação de deliberações tomadas porjúris, bem como
o ato administrativo em causa colocar fim, em regra, ao procedimento as ordens dadas pelos superiores hierárquicos aos seus subalternos em matéria
administrativo151 ou a um incidente procedimental autónomo. de serviço e com a forma legal”
Por fim, a definitividade material que determina e delimita a situação
jurídica substantiva do particular face à Administração Pública, o que O dever de fundamentação é efetivado nos termos do disposto no artigo
implica a definição ou disciplina de uma relação jurídico pública152. - 153® do CPA (correspondente ao anterior artigo 125® do CPA revogado).
Assim, a fundamentação dos atos administrativos deverá ser:
150
Por exemplo, os ministros que são órgãos da pessoa coletiva Estado. - Expressa, podendo embora ser feita por remissão;
151
Desta maneira, não são definitivos horizontalmente os atos administrativos anteriores ao - Com fundamentos de facto e de Direito, ainda que sucintos;
ato definitivo - como os atos preparatórios, os atos pré-decisórios, os atos pressupostos (por
exemplo, pareceres e propostas) -, os atos posteriores ao ato definitivo - como os atos com¬
- Clara e objetiva;
plementares, que a lei manda praticar depois da emissão do ato administrativo (como sejam - Congruente153; e
a publicação ou a notificação, que nada acrescentam ao ato e apenas lhe atribuem eficácia; - Bastante e suficiente.
no entanto, a recusa da sua prática pode tipificar-se como um ato definitivo, pois define ino¬
vadoramente uma situação jur ídica), os atos de execução e os atos meramente confirmati¬ A fundamentação do ato administrativo pode ainda, nos termos do n® 1
vos (porque estes atos traduzem apenas um juízo de concordância sobre um ato que já era
definitivo). Pelo contrário, os atos administrativos confirmativos traduzem um juízo de con¬
do artigo 153® do CPA, “ (...) consistir em mera declaração de concordância com
cordâ ncia relativamente a atos não definitivos e, por isso, estes são inovadores, traduzem a osfundamentos de anteriores pareceres, informações ou propostas, que constituem,
última palavra da Administração Pública, e, por isso, são definitivos. Por outro lado, há atos .
neste caso, parte integrante do respetivo ato”
administrativos não definitivos horizontalmente mas que podem vir a sê-lo, como sejam os Quando a fundamentação dos atos administrativos seja contraditória,
atos sujeitos a ratificação confirmativa (como, por exemplo, acontecia com os atos praticados obscura ou insuficiente, considera-se que há falta de fundamentação, nos
pelos então Governadores Civis, ao abrigo da sua competência extraordinária, nos termos
do disposto no artigo 89 do Decreto-Lei ns 252/ 92, de 19 de novembro, alterado pelo De¬
termos do disposto no artigo 153®, n® 2, do CPA, dado que não esclarece
creto-Lei n° 316/ 95, de 28 de novembro, pelo Decreto-Lei n5 213/2001, de 2 de agosto, pelo em concreto a motivação do ato.
Decreto-Lei n9 264/2002, de 25 de novembro, pela Lei ne 52-A/2005, de 10 de outubro, que Por seu lado, o disposto no artigo 154® do CPA (correspondente ao
-
consagrava o Estatuto e competência dos Governadores Civis, entretanto a figura deixou de existir anterior artigo 126® do CPA revogado) prevê o regime normativo da
na ordem legal portuguesa) ou, como vimos, os atos sujeitos a confirmação, já que somente
depois de esta ocorrer é que o ato se toma definitivo.
152
Nestes termos, podemos concluir que não são materialmente definitivos os atos adminis¬ 153
O ato administrativo deve surgir como a conclusão lógica da fundamentação e dos moti¬
trativos meramente opinativos e os atos internos. vos apresentados, caso contrário, será incongruente.
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fundamentação dos atos administrativos orais, que depende, nalguns 2669, n9 2, da Lei Fundamental, a interpretação do preceito do artigo 1619,
casos, de requerimento dos interessados, não sendo por isso apresentada n 9 2, alínea d) , do CPA deve fazer-se de forma restrita e não de forma ampla,
oficiosamente. Importa, deste modo, assinalar que, depois de proferido o aplicando-o apenas aos direitos, liberdades e garantias, caso contrário, o
ato oral - de conhecimento imediato -, o interessado pode, como vimos, legislador ordiná rio havia consagrado restrições às amplitude e eficácia
solicitar que a fundamentação seja reduzida a escrito. do preceito constitucional do artigo 268®, n9 3. Como o legislador cons¬
Por fim, importa referir que o dever de fundamentação dos atos admi¬ tituinte originário e derivado não distinguiu, não é legítima, para alguma
nistrativos traduz, para os interessados, um verdadeiro direito à funda ¬ doutrina, a distinção ou a restrição imposta, por via legislativa ordiná ria
mentação dos atos, direito fundamental formalmente constitucional mas ou por mera interpretação doutrinal ou jurisprudencial restritiva. É uma
não integrante da sistemática constitucional destes direitos154. questão controvertida para a doutrina analisar.
Assim, qualquer ato administrativo ferido de vício de forma por falta Parece, no entanto, de aceitar a tese corrente, em termos doutrinais,
de fundamentação violaria o conte údo de um direito fundamental, termos mas sobretudo jurisprudenciais, de que a falta de fundamentação gera
em que, segundo alguns autores155, se deveria considerar o mesmo inválido, mera anulabilidade.
nulo e logo ineficaz, de acordo com o previsto no artigo 1619, n9 2, alínea Quanto à tipologia e à classificação dos atos administrativos, é matéria
d) , do Código (correspondente ao anterior artigo 133, nfi 2, alínea d ) , do complexa e bastante extensa (e não se pretende aqui apresentar todos os
CPA revogado). Este normativo do CPA sanciona, assim, como nulos crité rios distintivos), remetendo-se este estudo exaustivo para os vários
todos “ os atos (administrativos) que ofendam o conteúdo essencial de um direito manuais de Direito Administrativo existentes.
fundamental” , impedindo-os de produzir quaisquer efeitos jurídicos e, por Ainda assim, vejamos alguns dos aspetos mais importantes.
isso, sendo jurisdicionalmente sindicáveis (a todo o tempo), não existindo
prazo para a arguição do vício. Para os autores que defendem aquela tese, .
5.2.I I. Tipologia dos atos administrativos
assim se justifica a importâ ncia atribuída pelo legislador constituinte à Existe uma grande variedade de tipos156 de atos administrativos. Podemos
vinculação constitucional de fundamentação dos atos administrativos e começar por distinguir os atos administrativos primários, que são aqueles
à constitucionalização de tão importante direito dos administrados, que que pela primeira vez disciplinam juridicamente uma situação concreta,
lhes permite conhecer os fundamentos de facto e de Direito suscetíveis e os atos administrativos secundários, também conhecidos como atos sobre
de afetarem os seus direitos e interesses legalmente protegidos, de modo atos, porque incidem sobre atos administrativos primá rios.
a poderem promover o exercício pleno do direito de impugnação con¬ De entre os atos administrativos primários, temos os atos administrativos
tenciosa ou graciosa dos atos. Deste modo, estes autores consideram que imperativos, que impõem ao seu destinatá rio uma conduta ou o sujeitam a
se a final o CPA apenas sancionasse a falta de fundamentação com mera certos efeitos, e são exemplos deste tipo de atos as ordens (comandos de
anulabilidade, sujeita a arguição a prazo, ter-se-ia encontrado o meca¬ ação), as proibições (comandos de omissão), os atos punitivos ou sancio-
nismo de, por via legislativa ordiná ria, restringir um direito fundamental natórios, que consubstanciam uma pena ou medida disciplinares, os atos
constitucionalmente consagrado, violando-se assim o disposto no artigo ablativos, que restringem ou eliminam determinados direitos, comportando
189, n9 3, da CRP. sacrifícios para os particulares e de que são exemplos a expropriação e a
Atentos os princípios da constitucionalidade dos atos, previsto no artigo requisição. A par dos atos imperativos,encontramos ainda os atos permissivos,
39, n9 3 da CRP, e da legalidade da administração, consagrado no artigo que são todos aqueles que permitem ou possibilitam uma determinada
conduta e que podem ser positivos, como sucede com a autorização (que é
154
Na expressão de J. J. Gomes Canotilho e Vital Moreira, in Fundamentos da Constituição,
Coimbra Editora, 1991, pág. 114 e 115.
156
155
Vide Guilherme Frederico Dias Pereira da Fonseca, in Direito Administrativo ( Sumários Desen¬ A propósito da tipologia dos atos administrativos, vide, por todos, os ensinamentos de
volvidos), ob. cit., pág. 163. Diogo Freitas do Amaral.
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uma permissão para adoção, pelo administrado, de um comportamento), corrigido; a suspensão157, que visa paralisar temporariamente a produção
a concessão, a admissão, a delegação e a licen ça, que possibilita um com ¬ de efeitos do ato administrativo; e a aclaração, sempre que se impõe um
portamento que em regra seria proibido; ou podem ser negativos, que esclarecimento ou uma especificação sobre o alcance do ato administrativo.
serão todos aqueles atos que eliminam ou reduzem um encargo e de que Podemos ainda considerar os atos saneadores, que são todos os que visam
são exemplos a dispensa (que permite o não cumprimento de obrigações sanar algumas invalidades. Como exemplos de atos saneadores temos a
legais), a isenção (que está relacionada com razões objetivas), a exclusão ratificação saneadora, a reforma e a conversão. De referir que os atos nulos
(relacionada com razões subjetivas) ou a ren úncia. Por fim, no â mbito da são insuscetíveis de sanação por ratificação e, deste modo, só admitem a
categoria mais ampla de atos administrativos primários, encontramos os reforma e a conversão. Esta foi uma inovação formalmente introduzida
atos administrativos simples, que não traduzem uma declaração de vontade pela reforma de 2015 do atual CPA.
mas, apenas, uma mera declaração de conhecimento e não comportam
quaisquer inova ções na ordem jurídica. São exemplos deste tipo de atos 5.2.I.2. Classificação dos atos administrativos
simples as certidões, os certificados e os atestados. Para facilidade de estudo, a doutrina classifica os atos administrativos
Por outro lado, existem os atos administrativos secundários, que, como tendo em conta igualmente vá rios critérios. Sem qualquer preocupação
vimos, contê m uma segunda disciplina jurídica de determinada situação de esgotar as classificações existentes, porque podem ser doutrinalmente
concreta e que, por isso, são conhecidos como atos sobre atos. A revogação é muito diversas, apresentamos alguns exemplos.
o exemplo mais usualmente oferecido, já que visa fazer cessar os efeitos de Tendo em conta o critério da autoria , podemos estar na presença de deci ¬
um primeiro ato administrativo. Do mesmo modo, a anula ção administra ¬ sões, quando são provenientes de órgãos singulares, ou de deliberações,
tiva é hoje um exemplo de ato secundário, porque visa fazer cessar efeitos quando os atos são provenientes de órgã os colegiais. Com base no mesmo
de um ato administrativo (primá rio ou secundá rio) com fundamento em critério, os atos podem ser simples, sempre que resultam da interven ção
razões de legalidade. de um só órgão administrativo, ou podem ser complexos, quando resultam
Estes atos secundários podem ser integrativos, quando visam completar da intervenção de vários órgã os administrativos.
ou aperfeiçoar anteriores atos administrativos, como sucede, por exemplo, Quanto aos destinatários, podem ser atos administrativos concretos ou
com a aprova ção, através da qual um órgão administrativo competente singulares, ou podem ser atos suigeneris, logo, coletivos, plurais ou gerais.
exprime a sua concordância com um ato administrativo anterior, dando- Os atos coletivos são aqueles que têm como destinatários um conjunto
-lhe eficácia; com a homologação, que é o ato administrativo que toma unificado de pessoas. Aqui, estamos na presença de um ato administrativo
seus os fundamentos e conclusões de uma decisão proposta por um órgão coletivo e não de um ato normativo, visto que os destinatários são deter ¬
terceiro; com a confirmação, através da qual um órgão emite um juízo de mináveis. Por exemplo, a dissolução de um órgão colegial por parte de um
concordância sobre um ato de outro órgão; ou, finalmente, com a ratificação órgão superior da Administra çã o Pública, quando a lei lhe atribui tal poder.
confirmativa, que é o ato administrativo através do qual o órgão normalmente Os atos plurais juntam em si um conjunto de atos administrativos; formal ¬

competente emite um juízo de concordância, atribuindo definitividade a mente são apenas um ato mas é como se fosse um ato administrativo para
um ato praticado por outro órgão, ao abrigo de competência extraordinária. cada um dos seus destinatários. Por exemplo, se a Administração Pública
Para além dos atos secundários integrativos, podemos ainda considerar resolvesse promover todos os trabalhadores que são atualmente chefes
os atos desintegrativos, cujos exemplos mais marcantes são os atos de revo¬
gação e de anulação administrativas. 1S7
Ao contrário, a revogação visa a extinção definitiva dos efeitos, enquanto que aqui a não
Em sequência, temos os atos modificativos, como sejam a alteração, que produção de efeitos é meramente temporária. Contudo, parece evidente que uma suspensão
leva à modifica ção do conte údo, do teor ou dos efeitos do ato; a retifica¬ muito prolongada, consoante os casos, é materialmente uma revogação, devendo aplicar se
-
o regime jurídico da revogação. A suspensão do ato administrativo pode ser jurisdicional, ou
ção, que mais não é do que a correção de lapsos materiais do próprio ato
seja, determinada pelos tribunais.
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de divisão no Ministério da Educação ou se através de um ato concedesse Esta matéria está, hoje, regulada nos artigos 1558 a 1609 do CPA
permissão genérica para condução de viaturas a todos os trabalhadores de (correspondentes aos anteriores artigos 127® a 132® do CPA revogado) e
um certo serviço da Administra ção P ública; ou, outro exemplo, um ato de reconduz-se, na prá tica, às exigê ncias legais complementares para que um
nomeação dos membros de um órgão colegial da Administração Pública determinado ato administrativo produza, efetivamente, efeitos jurídicos.
(um conselho de administra ção ou mesmo um júri de um procedimento Regra geral e de acordo com o previsto no n ® 1 do artigo 155® do CPA
concursal). Estes atos administrativos aplicam-se aos seus destinat á rios (correspondente ao anterior n® 1 do artigo 127® do CPA revogado), o ato
como se fossem tantos os atos administrativos quantos os chefes de divisão administrativo é eficaz
promovidos, tantos quantos os autorizados a conduzir e tantos quantos os
membros dos órgãos nomeados. Por fim, os atos gerais destinam-se a um “ (...) desde a data em que é praticado, salvo nos casos em que a lei ou o pró
prio
grupo inorgâ nico de pessoas mas cujos sujeitos são determináveis num ato lhe atribuam eficácia retroativa, diferida ou condicionada ” .
determinado local. Por exemplo, uma ordem de dispersão da polícia; aqui
existe um comando dirigido a um grupo de pessoas determinável num Para o CPA, o ato considera-se praticado nos termos do n® 2 do mesmo
determinado local. artigo.
Quanto ao critério que assenta nos efeitos, os atos podem ser declarativos, Assim, podem ser requisitos gerais de eficácia160 dos atos administrativos:
quando se limitam a verificar ou a reconhecer uma situação pré-existente, - A publicação161;
ou constitutivos, quando introduzem uma alteração na ordem jurídica, - A publicidade na Interned62; e
criando, modificando ou extinguindo situações jurídicas. Os atos admi¬ - A notificação aos interessados163.
nistrativos, ainda quanto aos efeitos , podem ser de execução instantânea158
ou de execução continuada159. Atento o disposto nos artigos 158® e 159® do CPA, verificamos que a
Por fim, importa referir que, quanto ao conteúdo, podem ser atos vin ¬ publicação só é obrigatória quando for legalmente exigida e que, natural¬
culados ou discricionários. mente, a sua falta determina a ineficácia jurídica do ato administrativo em
causa. Ou seja, este não produzirá efeitos na ordem jur ídica.
.
5.2 2. Da eficácia do ato administrativo Nos termos do disposto no artigo 159® do CPA, quando a lei determina a
O conceito de eficá cia prende-se, como vimos anteriormente, em termos publicação de um ato administrativo mas nada mais diz quanto aos termos
gerais, com a suscetibilidade de produção de efeitos jurídicos. També m
como vimos já, este conceito não se confunde com o de validade jurídica,
-
da respetiva publicação, deve entender se que a mesma será feita no Diário
que est á intimamente relacionado com a perfeição legal do ato e que 160
Estes permitem, em princípio, o conhecimento do teor do ato administrativo. Existem
impede que o mesmo possa ser colocado em crise por razões de juridici- atos administrativos que somente adquirem eficácia através de uma declaração positiva do
dade. Já tínhamos visto que não existe, por isso, uma relação direta entre seu destinatário, como sucede com o ato administrativo de nomeação, que exige a aceitação
validade e eficácia jurídicas, dado que podem existir atos eficazes que são do destinatário, o que parece óbvio, já que se alguém é nomeado o ato de nomeação somente
inválidos (os anuláveis) e atos ineficazes que são válidos (os que estejam, produz efeitos se esta for aceite. Por isso, a eficácia do ato administrativo nada tem a ver com
por exemplo, suspensos). a sua perfeição estrutural. Por outro lado, importa referir que o visto do Tribunal de Contas
pode ser considerado, por legislação avulsa, um requisito de eficácia de determinados atos
Importa, agora, precisar alguns requisitos de eficá cia dos atos admi ¬
administrativos.
nistrativos. 161
Nos termos do disposto nos artigos 158" e 159" do CPA (correspondentes aos anteriores
artigos 130° e 131" do CPA revogado).
15S
Por exemplo, os que ordenam a demolição de um muro. 162
Nos termos do disposto no artigo 159" do CPA.
150
Quando prolongam os seus efeitos durante um período de tempo, como é o caso da re ¬ 163
Nos termos do disposto no artigo 160° do CPA (correspondente ao anterior artigo 132p do
forma/ aposentaçã o. CPA revogado).
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da Rep ú blica ou noutro jornal oficial, como os jornais oficiais das Regiões - Atos sujeitos a condição ou termo suspensivos, atento o disposto na
Autónomas dos Açores e da Madeira, ou como os boletins municipais, no alínea b ); e
caso das autarquias locais de que deles disponham, e simultaneamente na - Quando se verifiquem as condições da alínea c ).
Internet no sítio institucional da entidade em causa, no prazo imperativo
de 30 dias. O disposto no artigo 160 ® do CPA (correspondente ao anterior artigo
Importa ainda salientar que, como já afirmámos, existem atos adminis ¬ 132® do CPA revogado) consagra uma importante regra quanto aos atos
trativos com eficácia retroativa, ou seja, que fazem incidir os seus efeitos constitutivos de deveres ou de encargos e concede uma garantia aos des¬
sobre o passado, embora sejam excecionais, atento o prescrito no artigo tinatários de inoponibilidade destes atos. Assim, estes atos não lhes são
1569, ns 1, do CPA (correspondente ao anterior artigo 128Q, ne 1, do CPA oponíveis antes que o seu teor lhes seja previamente notificado.
revogado). Estes atos administrativos são, nomeadamente: Podemos verificar, ainda, que podem existir atos com eficácia jurídica
interrompida, ou seja, que surgiram eficazes mas que deixaram de o ser
ne
- Os atos interpretativos (nos termos da alínea a ) do referido 1); e
(como, por exemplo, os atos objeto de uma suspensão da eficácia, graciosa
- Os atos a que a lei atribua essa eficá cia (nos termos da alínea b) do
ou jurisdicional), e atos com eficácia condicionada, ou seja que nasceram
mesmo ne 1). sem eficácia mas que podem tornar-se eficazes (como sucede com os atos
sujeitos a uma condição suspensiva ou a um termo inicial). Por fim, há atos
Fora destes casos, o autor do ato administrativo só pode atribuir-lhe que, embora válidos, são ineficazes porque, como vimos já, não foram objeto
esta eficá cia retroativa nos termos do disposto no n ® 2 do mesmo norma¬ de publicidade ou de adequada notificação, e atos de eficácia excluída, ou
tivo, ou seja, seja, todos aqueles que, desde a sua origem, não têm eficácia nem nunca
- Quando, genericamente , a retroatividade for mais favorável para os poderão ser eficazes.
interessados, mas nos termos expressos no disposto na alínea a ); Em conclusão, podemos afirmar e sublinhar de novo que, como j á
- Quando estejam em causa decisões revogatórias de atos administra¬ havíamos verificado, o conceito de validade jurídica não é confundível
tivos objeto de reclamação ou de recurso hierá rquico, nos termos do com o de eficácia jurídica. Existem atos inválidos que são eficazes (por
disposto na alínea b); exemplo, todos os atos anuláveis até serem anulados) e, por outro lado,
- Quando tal seja devido para dar cumprimento a deveres, encargos, existem atos válidos que podem ser ineficazes (por exemplo, os que têm
ónus ou sujeições constituídos no passado, atento o disposto na alínea a eficácia suspensa ou condicionada).
c); e, finalmente,
- Quando a lei o permitir ou o impuser, nos termos do disposto na 5.2.3. Da invalidade do ato administrativo
alínea d). Importa, agora, fazer referência aos requisitos de validade dos atos admi ¬

nistrativos, já que eles visam a observância de um conjunto de regras legais


Por outro lado, o CPA prevê, igualmente, situações opostas, ou seja, de previstas também no CPA.
atos administrativos com eficácia diferida ou condicionada, nos termos do Essas exigências legais prendem-se, embora aqui possam não se esgotar,
disposto no artigo 157® do CPA (correspondente ao anterior artigo 129® designadamente, com:
do CPA revogado). Estas situações, em que um ato não produz imediata¬ - Os sujeitos164;
mente efeitos mas produzi-los-á no futuro, são, entre outras, as seguintes:

- Atos sujeitos a aprovação ou a referendo, atento o disposto na alínea 164


É necess ário, designadamente, que o órgão tenha competê ncia para a prá tica do ato em
a ); causa. Tratando-se de órgão colegial, que se encontre regularmente constituído e que ex¬
prima uma vontade juridicamente válida.
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- A forma e as formalidades165; exercício da função legislativa ou no da função jurisdicional, violando,


- O conte údo/ objeto; e desta forma, o princípio constitucional da separação de poderes.
- O fim166.
Assim podemos ter:
Vejamos as situações de incumprimento ou de desrespeito pelos requi ¬

sitos de validade do ato administrativo, o que acarreta a sua imperfeição


- Usurpação de poderes legislativos; e
jurídica, o surgimento de vícios do ato administrativo e a consequente
- Usurpação de poderes judiciais.
invalidade do ato administrativo:
Este vício gera a nulidade168 do ato, ao abrigo do disposto no artigo
- As violações quanto ao sujeito, que podem gerar os vícios de usurpação 161fi, n5 2, alínea a ) , do CPA (correspondente ao anterior artigo 1332, nQ 2,
de poderes, de incompetência absoluta ou de incompetência relativa; alínea a ) , do CPA revogado). É um vício orgânico, porque se prende com
- As violações formais ou procedimentais, que podem gerar vício de a falta agravada de competência do órgão que emite o ato administrativo,
forma; e pode ser considerado uma incompetência qualificada, atenta a natureza
- As violações de conte údo, que podem gerar o vício de violação de lei; da norma e do princípio constitucional violados;
e
- As violações ao fim legal, que podem gerar o vício de desvio de poder. H) Incompetência absoluta: vício que se gera quando um órgão de uma
pessoa coletiva de Direito Público pratica um ato que se integra na compe ¬
A invalidade jurídica do ato administrativo resulta, muitas das vezes, tência de outro órgão de pessoa coletiva diferente ou de outro ministério.
das ilegalidades cometidas e que se traduzem na violação de normas pre¬ Este vício determina a nulidade do ato administrativo, ao abrigo do dis¬
vistas, designadamente, no CPA. Embora não seja o único desvalor167 que posto no artigo 161s, n9 2, alínea b) , do CPA (correspondente ao anterior
gera a invalidade, é, seguramente, o mais importante que gera invalidades artigo 1338, n9 2, alínea b), do CPA revogado). É um vício que se prende
í dicas ( de legalidade).
jur com a violação das atribuições ou fins das entidades ou dos ministérios
Em regra, como vimos atrás, os vícios dos atos administrativos são seis. (que se organizam como se fossem verdadeiras pessoas coletiva, embora
E são os seguintes: não percam a natureza de serviços do Estado);
iit ) Incompetê ncia relativa: vício que atinge o ato administrativo sempre
i) Usurpação de poderes: vício que se traduz no facto de um ato admi¬ que o órgão de uma pessoa coletiva pratica um ato administrativo que se
nistrativo praticado por órgão da Administração Pública se integrar no integra na competência de outro órgão da mesma pessoa coletiva169 ou
do mesmo ministério. Este vício gera, apenas a anulabilidade do ato, ao
165
Com a entrada em vigor da versão originária do CPA, deu-se um aumento acentuado das abrigo do disposto no artigo 1639 do CPA (correspondente ao anterior
formalidades legais a que as decisões administrativas devem obedecer. Estas tendem a asse ¬
artigo 1359 do CPA revogado).
gurar as garantias dos particulares e a efetivar os seus direitos.
166
O ato administrativo deve prosseguir o fim efetivamente atribuído por lei, caso contrário,
o mesmo é inválido. Para se aferir da conformidade, há que ter em conta os motivos princi ¬

palmente determinantes da prática do ato. Em situações de desconformidade entre o fim


real e o fim legal, o ato está ferido de desvio de poder e pode ser nulo, nos termos do dis¬ 168
Veremos, adiante, o regime das invalidades.
posto no artigo 161Q, n - 2, al ínea e), do CPA. 169
Importa, no entanto, notar que, como vimos, os ministérios estão organizados em função
167
A ilicitude pode gerar a invalidade do ato. Por exemplo, sempre que um ato, sem violar a dos fins. Assim, quando os ministros praticam atos da esfera da competência de outros mi¬
lei, ofenda um direito absoluto de um particular que lhe advém por via contratual. Quanto nistros, os mesmos estão feridos de incompet ência absoluta e são nulos (e não anuláveis),
aos vícios de mérito, em que se podem traduzir a inoportunidade e a inconveniência, não nos termos do disposto no artigo 161a, n 9 2, alínea b ) , do CPA (anterior artigo 133a, n9 2,
geram ilegalidade. alínea b) , do CPA revogado).
CURSO SOBRE O NOVO C Ó DIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO PALESTRA SOBRE ATIVIDADE ADMINISTRATIVA

A incompetência pode ser ainda analisada, designadamente: - Desvio de poder para fins de interesse público, o qual gera a anulabi ¬

- Em razão da matéria; lidade de eventual ato administrativo emitido, nos termos gerais de
- Em razão da hierarquia; Direito, de acordo com o previsto no artigo 1639 do CPA.
- Em razão do território; e
- Em razã o do tempo. Por fim, importa referir que o ato administrativo inválido pode, nos
termos do CPA, ser objeto de sanação. Esta pode ocorrer, como estudámos
iv ) Vício de forma: é gerado sempre que existe qualquer preterição das já, através de outro ato administrativo secundário, que o pode sanar, ou
formalidades legais170, ou quando existe carência de forma legal. Este vício pode ocorrer por efeito automático da lei, em que o decurso do tempo
gera, em regra, a anulabilidade do ato, ao abrigo do disposto no artigo 163® desempenha um papel essencial, mas neste caso apenas no que toca, regra
do CPA (correspondente ao anterior artigo 135® do CPA revogado), mas geral, aos atos anuláveis.
O CPA prevê, no disposto no artigo 164s (correspondente ao anterior
pode gerar nulidade, nos termos, por exemplo, do disposto no artigo 1612,
n9 2, alíneas £) ou h), do CPA (correspondente ao anterior artigo 1332, artigo 1379 do CPA revogado), a possibilidade de existência de atos sanea-
n9 2, alíneas f ) cg ) , do CPA revogado); dores. Estes atos são os seguintes:
v) Violação de lei: é o vício de que padece o ato administrativo sempre - A ratificação saneadora172;
que existe uma desconformidade entre o conteúdo do ato e o bloco da - A reforma173; e
juridicidade (ou da legalidade em sentido amplo). É um vício residual mas - A conversão174.
de grande amplitude e dos mais importantes. Este vício gera, em regra, a
anulabilidade do ato administrativo, ao abrigo do disposto no artigo 1632 Atualmente, os atos nulos podem ser, atento o disposto no artigo 164®,
do CPA (correspondente ao anterior artigo 1359 do CPA revogado), mas n2 2, do CPA, objeto de reforma ou de conversão, ao contrário do que
pode gerar, nalgumas situações, a nulidade do mesmo; e sucedia até agora, em que expressamente se consideravam insuscetíveis
ví) Desvio de poder: que afeta o ato administrativo quando os motivos de sanação os atos nulos e os inexistentes.
principalmente determinantes da prática do mesmo não coincidem com os São várias as invalidades jurídicas que podem afetar o ato administrativo.
fins previstos pela lei ao abrigo da qual determinado órgão administrativo Deste modo, temos:
dispõe das competências para atuar com poderes de autoridade. Ocorre - A inexistência jurídica;
no âmbito do exercício dos poderes discricionários171 e este desvalor, que - A nulidade; e
invalida juridicamente o ato administrativo, pode ser: - A anulabilidade.
- Desvio de poder para fins de interesse privado, o qual gera agora, de
acordo com o novo CPA, a nulidade do ato praticado, atento o disposto Vejamos, em concreto, cada uma das figuras.
no seu artigo 161®, n 2 2, alínea e ) ; ou A inexistência é a forma de invalidade jurídica mais grave e significa
que o ato nem sequer existe para o ordenamento jurídico.

170
Por exemplo, quando a lei exige um parecer prévio e a eventual decisão é tomada sem 172
A ratificação sanação ou saneadora é o ato através do qual um órgão competente para tal
o mesmo ter sido emitido, quando não é realizada a audiência prévia aos interessados ou decide sanar ou validar um ato ilegal anulável.
quando os ó rgãos colegiais deliberam sem se ter verificado a existência do quórum legal
¬ 173
Quanto à reforma, conservam-se os elementos válidos de um ato que era ilegal e aprovei¬

mente exigido. tam-se somente os elementos legais, ou seja, aqui exclui-se a ilegalidade.
171
Estes poderes traduzem uma competê ncia optativa. 174
Com a conversão, aproveitam -se os elementos válidos para compor um novo ato.
CURSO SOBRE O AfOVO C ÓDIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
PALESTRA SOBRE ATIVIDADE ADMINISTRATIVA

A nulidade do ato administrativo é, também, uma forma de invalidade podem existir outras disposições legais, no Código ou em outra legisla ção
dos atos administrativos e é excecional, impedindo-os de produzir, regra avulsa, que consagrem a nulidade de um determinado ato desconforme
geral, quaisquer efeitos na ordem jurí dica, atento o disposto no artigo com a lei e que afaste a regra geral da anulabilidade estipulada no CPA.
162Q, n- 1, do CPA. Quanto ao seu regime jur ídico, pouco difere do re ¬
Contudo, essa disposição há de ser expressa, porque a nulidade não é a
gime geral da inexist ê ncia, embora o ato nulo, ao contrá rio do inexistente, regra geral.
exista juridicamente , podendo afirmar-se que a nulidade acarreta já n ão a Vejamos um exemplo:
insanabilidade total do ato, como anteriormente acontecia, mas que não
pode ser sanada por ratificação (os atos nulos apenas podem ser objeto O conselho diretivo de um Instituto P úblico profere o seguinte
de reforma e conversão, atento o disposto no n9 2 do já referido artigo despacho, que manda publicar em Diário da República: “ Determina-se
1629 do CPA), a impossibilidade de consolida ção na ordem jurídica e a por esta deliberação que este órgão renuncia às competê ncias x, y , z,
possibilidade de impugnabilidade a todo o tempo, podendo ser arguida e que lhe são atribuídas pela lei.”
declarada em qualquer tribunal ou órgã o administrativo com competência Se seguíssemos a regra geral e verificando que a competê ncia é irre ¬

para a declaração de nulidade175 , nos termos do disposto nos artigos 1629 nunciável, poderíamos dizer que a deliberação, sendo ilegal, seria por
do CPA. O seu reconhecimento assume a forma de declaração contenciosa consequência anulável. Assim seria se para esta violação se não previsse outra
de nulidade, quando declarada pelos tribunais, ou de declaração graciosa sanção, como decorre do disposto no artigo 1639, n91, do CPA. Ora, pese
ou administrativa de nulidade, quando declarada por qualquer órgão da embora a nulidade nã o resultar do elenco previsto nas diversas alíneas
Administraçã o Pública. Importa assinalar que, seguindo as regras de boa do n9 2 do artigo 1619 do CPA, ela vai decorrer de uma outra disposição,
interpreta ção jur ídica, pode e deve o ato ser oficiosamente declarado prevista no artigo 369, n9 2, do CPA, que expressamente comina que
nulo pelo seu pr óprio autor, designadamente, ao abrigo do princípio da são nulos os atos que tenham por objeto a ren ú ncia à competê ncia.
autotutela de legalidade que determina que os órgãos da Administração
P ública devem afastar da ordem jurídica os atos inválidos. O ato anulável produz efeitos, ou seja, é, portanto, nos termos do
No que diz respeito à anulabilidade, esta forma de invalidade menos grave n 2 do artigo 1639 do CPA, juridicamente eficaz. Estes efeitos podem todos
9

tem um carácter geral e afeta o ato administrativo, mas não o impede de eles ser apagados da ordem jurídica se os tribunais ou a Administraçã o
produzir efeitos jurídicos até à sua anulação administrativa ou contenciosa. P ública proferirem, respetivamente, decisão jurisdicional de anulação ou
Trata-se, portanto, como decorre do disposto no artigo 1639, n91, do CPA, decisão administrativa de anula ção e desde que as decisões rctroajam à
da regra geral, porque aqui se estipula expressamente que “ (...) são anuláveis data de início de produção de efeitos.
os atos administrativos (violadores da juridicidade) para cuja violação se não Ao contrá rio da nulidade, aquela permite a consolida ção do ato na
preveja outra sanção.” Ora, esta norma impõe que o legislador possa escolher ordem jur ídica, com decurso do prazo de impugnação sem que a mesma
sancionar um ato administrativo ilegal com outra forma de invalidade que seja exercida ou através da eliminação das ilegalidades com ato saneador176,
será a nulidade (ou a inexist ê ncia), mas para que isso ocorra é necessá rio sendo portanto plenamente sanável. Ao contrá rio da nulidade, a impug ¬

que o estipule expressamente - o que faz, por exemplo, no artigo 1619 do nação desta forma de invalidade tem prazos legalmente estabelecidos
CPA, ainda que a título meramente ilustrativo, como decorre do que se para ser arguida e declarada, nos termos do disposto no artigo 1639, n.os 3
diz no corpo do seu n9 2, dado que o elenco constante das várias alíneas é e 4, do CPA.
apenas exemplificativo e não uma lista exaustiva. Quer isto dizer que todas Importa referir de novo e sublinhar que a nulidade é sempre uma san ¬

as situações ali elencadas geram nulidades dos atos administrativos, mas ção objetiva177, excecional, sendo a regra geral a da anulabilidade do ato.

176
Recordemos que os atos nulos apenas podem ser objeto de reforma e conversão.
l7s
Embora o CPA refira competência para anulação. 177
Porque recai sobre atos, enquanto as san ções subjetivas recaem sobre entidades.
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PALESTRA SOBRE ATIVIDADE ADMINISTRATIVA

Por isso, o artigo 1619, nfi 2, do CPA estipula, de forma genérica, mas ape¬ houvera de ser praticado com o mesmo conte údo em virtude de vinculação
nas exemplificativamente, os atos que são nulos, enumerando-os. Se uma legal. Não deixa de ser curioso...
determinada ilegalidade nele não estiver prevista, ou inexistir previsão Vejamos, de seguida, uma tabela com a síntese sobre os vários elementos
em qualquer outra lei especial, então conclui-se que essa ilegalidade gera relativos às principais formas de invalidade jurídica dos atos praticados
apenas a anulabilidade do ato administrativo. Não há, assim, nulidades por pela Administração Pública.
natureza. Todas terão de estar previstas na lei.
Importa referir ainda, que, existindo uma cumula ção de vícios, preva¬ PRINCIPAIS FORMAS DE INVALIDADE JURÍDICA DO ATO ADMINISTRATIVO
lecerá sempre a forma de invalidade mais grave: inexistência, nulidade ou ANULABILIDADE NULIDADE INEXISTÊNCIA
anulabilidade (por esta ordem) e, portanto, os respetivos efeitos.
EXISTÊNCIA JURÍDICA Existe juridicamente Existe juridicamente Não existe
Neste â mbito genérico, importa també m assinalar que os atos adminis¬ juridicamente
trativos são passíveis de ser objeto de vícios de vontade, mas a autonomia da Não permite a produção
de quaisquer efeitos
vontade do titular do órgão só deveria assumir relevâ ncia jur ídica quando jurídicos do ato, mas tal
tivesse, legalmente, capacidade para poder optar, já que, na realidade, no EFICÁCIA JURÍ DICA
Permite a produçã o de regra n ã o prejudica a Não permite a
efeitos do ato possibilidade de produ ção de efeitos do ato
â mbito do exercício de poderes vinculados, somente interessa que a vontade atribuição de alguns
expressa esteja de acordo com a lei. Quando estamos perante o exercício efeitos (artigo I62ç, nc 3,
do CPA)
de poderes discricionários (a tal autonomia pública) é que podem emergir,
Admite a sanação (por Não admite a ratificação,
com relevâ ncia material e substantiva, os vícios da vontade na formação SANABILIDADF . ratificação, reforma e mas apenas a reforma e a Não admite a sanação
da decisão, por isso, o ato discricioná rio aproxima-se mais, neste â mbito, conversão) conversão
do negócio jurídico. Admite a consolidação Nã o admite a consolidaçã o |
na ordem jurídica, por na ordem jurídica , mas Não admite a consolidação
No Direito Administrativo, podemos verificar, muitas vezes e em CONSOLIDAÇÃO
sanação ou por decurso alguns efeitos podem na ordem jurídica
momentos diversos, a existência de divergência legítima entre a vontade do tempo -
consolidar se
real e a vontade declarada, expressa a final pelo órgão administrativo. Por IMPERATIVIDADE
Não obsta à imperati - Pode opor-se resistê ncia Pode opor-se resistê ncia
vidade
exemplo, desde logo, como vimos anteriormente, no âmbito da hierarquia
A arguiçã o n ã o depende
administrativa, se e quando o superior hierárquico, no exercício do poder TEMPESTIVIDADE
A arguição e a declaração
de prazo (salvo disposição A arguição não depende
dependem de prazo de prazo
de direção, dê uma ordem para a prática de um ato cujo conte údo não seja legal em contrá rio)
da concordâ ncia do subalterno. Deste modo, a vontade do inferior hierár ¬ SEDE DE INVOCAÇÃO
Em tribunal ou na Em tribunal ou na Em tribunal ou na
Administração Pública Administração Pública Administração Pública
quico só tem valor se não houver vontade do superior declarada, ainda que
Anulação contenciosa, Declara ção contenciosa
a posteriori. Mas não esqueçamos, por exemplo, o disposto no artigo 161s, FORMA DA DECISÃO anulação graciosa ou ou administrativa de
Declaração contenciosa
ou administrativa de
ns 2, alíneaf ), do CPA (correspondente ao anterior artigo 133e, n9 2, alínea administrativa nulidade inexistência
e ) , do CPA revogado), que se refere aos atos praticados sob coação í f sica CARÁCTER Geral Excecional e exige Excecional e exige
tí pifica çã o legal tpificação legal
ou coa ção moral, considerando-os feridos de nulidade. Aqui, a relevância í
Podem ser definidos e
jurídica da coação í f sica ou da coação moral existe independentemente limitados pelo tribunal Retroagem à data da Retroagem ò data da
EFEITOS DA DECISÃO
de o conte údo do ato estar ou não substantivamente de acordo com a lei, ou pela Administração prá tica do ato prática do ato
Pú blica
porque, como é de salientar, de novo, o legislador não estabelece qualquer
Oficiosamente ou a Oficiosamente ou a
distinçã o entre atos vinculados ou discricionários praticados sob coação. requerimento de requerimento de
Oficiosamente ou a
LEGITIMIDADE requerimento de
O CPA sanciona o ato praticado por órgão cuja vontade estivesse sob coa¬ interessados ou do interessados ou do interessados ou do
Minist ério Pú blico Ministério Pú blico Ministério Pú blico
ção e não fosse plenamente livre e esclarecida. Mesmo se o ato praticado
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.
5.2 4. Da revogação e da anulação administrativas .
atos administrativos) é “ (. .) o ato administrativo que determina a destruição dos
O novo CPA vem agora, no âmbito do regime jur ídico da revisão do ato admi ¬
efeitos de outro ato, com fundamento em invalidade!’
nistrativo , estabelecer a distinção entre revogação e anulação adminis
178 ¬
Quanto ao fundamento da revogação, ele pode ter por base, apenas
trativas. Esta última correspondia, anteriormente, à revogação anulatória. (porque incidirá sobre atos legais), razões de mé rito, de oportunidade ou
No que diz respeito à revogação179 180 e à anulação do ato administrativo, de conveniência. Neste caso, como vimos já, só pode ser objeto de aferição
os seus regimes estão hoje previstos no disposto nos artigos 165s a 174® do por parte das estruturas administrativas, ou seja, os tribunais nunca aferem
CPA (anteriormente, o regime jurídico estava previsto nos artigos 138s a do mérito do ato administrativo.
148® do CPA revogado), pese embora o disposto nos artigos 173® e 174® Quanto ao regime jur ídico da revogação administrativa, a regra geral
tratar já das alteração, substituição e retificação dos atos administrativos, estabelece que todos os atos administrativos vá lidos sã o, em princípio,
respetivamente. revogáveis. Quanto ao regime jur ídico da anulaçã o administrativa, a regra
Existindo outras formas de cessação de vigência de atos administrativos181, geral estabelece que todos os atos administrativos que padeçam de anu-
com a revogação o ato revogatório tem por objeto a cessação de efeitos de labilidades são, em princípio, submetidos a este regime. O CPA prevê, no
outro ato, tendo como conte údo funcional a extin ção da eficá cia jurídica entanto, duas situações distintas em que os atos administrativos não podem
do ato que se visa revogar. Por isso dissemos que a revogação é um ato ser revogados ou anulados administrativamente:
secundário, já que os seus efeitos se repercutem noutro ato administrativo
(primário ou não, porque pode incidir sobre um outro ato secundário). - A de revogação ou anulação administrativas impossível, nos termos
E, como vimos, um ato sobre ato. do disposto no artigo 166® do CPA (anteriormente, a revogação impossível
O disposto no artigo 165®, n ® 1, do CPA, define hoje a revogação como constava do artigo 139® do CPA revogado): significa que o conte údo dos
o “ (...) ato administrativo que determina a cessação dos efeitos de outro ato, por atos revogatório ou anulatório não é admissível; há uma impossibilidade
razões de mérito, conveniência ou oportunidade” . Reparemos que o exercício de conteú do, já que se visa extinguir efeitos de atos que os não produzem;
de revogação do ato administrativo apenas terá por fundamento - a partir o ato administrativo que se pretenderia revogar ou anular nunca produziu
de agora - razões de mé rito. Deixa-se, assim, para a figura da anulação efeitos ou os seus efeitos estão já totalmente esgotados ou apagados.
administrativa a capacidade desintegrativa de atos administrativos com Vejamos, deste modo, os casos legalmente previstos como sendo insus ¬
fundamento em razões estritas de legalidade, atento o estipulado no artigo cetíveis de revogação ou anulação administrativas:
165®, n® 2, do CPA, que refere taxativamente que esta figura (que agora
concorre com a revogação administrativa na capacidade desintegrativa de
0 Os atos nulos (alínea a ) do n® 1 do artigo 166® do CPA);
ii ) Os atos anulados contenciosamente (alínea b ) do n® 1 do artigo
166 ® do CPA);
Ui ) Os atos revogados com eficácia retroativa (alínea c ) do n ® 1 do
178
Na expressão que consta do ponto 18 do Preâmbulo. artigo 166® do CPA); e
179
O ato revogató rio é um ato administrativo como qualquer outro e pode estar sujeito a iv) Os atos cujos efeitos tenham caducado ou se encontrem esgota¬
recurso contencioso, em caso de ilegalidade. A revoga ção n ão se confunde com a declaração
de caducidade, com as declarações graciosas de inexistência ou de nulidade ou com a sus¬ dos com eficácia retroativa (artigo 166®, n® 2, a contrario sensu,do CPA).
pensão do ato administrativo. É, como vimos, um ato administrativo secundário.
180
Cfr., entre outros, José Carlos Vieira de Andrade, Revogação do ato administrativo, Direito Desta forma, a impossibilidade de revogação ou de anulação administra¬
e Justiça, Revista da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa, Volume VI, tivas decorre de argumentos de lógica, pois não existem quaisquer efeitos
1992, pág. 53 e segs.
181
O ato administrativo pode cessar os seus efeitos por caducidade, por se tratar de um ato
ídicos que ainda restem na ordem jurídica e que possam cessar ou ser
jur
de execução instantânea ou por estar sujeito a um termo resolutivo ou a uma qualquer cláu ¬ .
destruídos Por isso, se a revogação de um ato não tiver sido total, ainda
sula de caducidade. pode ser objeto de revoga ção para eliminar os efeitos que permanecem,
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porque nessa medida o ato pode continuar a produzir efeitos, ou pese de vantagem ou eliminem ou limitem deveres, ónus, encargos ou sujeições, salvo
embora o ato já não produzir efeitos, existem alguns que não foram ainda quando a sua precariedade decorra da lei ou da natureza do ato” .
apagados na ordem jurídica.
Vejamos a segunda das situações: Ficamos, assim, cientes da definição legal do conceito de atos consti¬
tutivos de direitos. Deste modo, por atos administrativos constitutivos de
- A de revogação proibida ( já não falamos aqui de anulação adminis ¬
direitos consideram-se todos aqueles que ampliam direitos ou interesses
trativa, porque esta apenas se aplica a atos ilegais): neste caso, a revogação legalmente protegidos, compreendendo ambos os conceitos. Ou seja,
seria possível, nada impedindo de facto que ela ocorresse, mas o CPA prevê são aqueles que integram, alternativamente, três ideias: (í) atribuem um
que essa extinção de efeitos, a dar-se, é ilegal, nos termos do disposto no direito, ( ii ) ampliam um direito preexistente ou (m) libertam o particular
artigo 167Q do CPA. No entanto, não há de facto uma impossibilidade lógica de uma restrição, de um ónus ou de uma vinculação a que estava adstrito.
absoluta, existindo apenas uma proibição legal de revogação, que é uma O regime jurídico relativo aos atos constitutivos de interesses legalmente
opção legítima e correta do legislador. protegidos é muito próximo.
O artigo 1679 do CPA consagra assim as situações em que a revogação
pode gerar ilegalidade, sendo proibida, designadamente: Vejamos, agora, os condicionalismos aplicáveis à anulação administrativa
i ) Quando extingue efeitos de atos administrativos cuja existência re¬ previstos no artigo 1689 do CPA.
sulta de vinculação legal, ou seja, a lei exige a prática e a manutenção Nos termos do disposto no seu n91, designadamente, “ os atos adminis ¬

de determinado ato (artigo 167Q, n91, do CPA); e trativos podem ser objeto de anulação administrativa no prazo de seis meses, a contar
ii ) Quando extingue efeitos dos atos administrativos que sejam cons¬ da data do conhecimento pelo órgão competente da causa de invalidade (...) desde
titutivos de direitos, com as seguintes exceções: que não tenham decorrido cinco anos, a contar da respetiva emissão ” .
Também quanto aos atos constitutivos de direitos, só podem ser objeto
- Se tiverem uma parte desfavorável aos interesses dos beneficiários de anulação administrativa no prazo de um ano a contar da data da sua
e somente quanto a esta, nos termos do disposto no artigo 1679, emissão, atento o disposto no n 9 2 do artigo 168s do CPA, mas se o ato tiver
nQ 2, alínea a ) , do CPA;
sido impugnado contenciosamente com vista à sua anulação judicial, então,
- Quando os beneficiá rios deem concordância e não seja maté ria atento o disposto no n9 3 do mesmo artigo, a Administra ção Pública apenas
indisponível para as partes, de acordo com o previsto na alínea b) pode exercer o poder anulatório “ (...) até ao encerramento da discussão” , que
do n 9 2 do mesmo artigo; é uma fase prévia ao julgamento.
- “ Comfundamento na superveniência de conhecimentos técnicos e cient íficos No caso dos atos constitutivos de direitos, o prazo de um ano para a
ou em alteração objetiva das circunstâncias de facto,em face das quais,num anulação administrativa alargar-se-á até aos cinco anos se, nos termos do
ou noutro caso, não poderiam ter sido praticados” , nos termos do disposto n9 4, e no respeito por outra qualquer disposição em contrá rio, se verificar
no artigo 167e, n 9 2, alínea c ) , mas de acordo com o estipulado nos o preenchimento de alguma das alíneas aí elencadas.
n.os 4, 5 e 6; e A limitação decorrente do nQ 5 resulta dos prazos impostos, sobretudo
- Nos termos gerais da alínea d) do nB 2 do artigo 1679 do CPA. para os particulares, de impugnação contenciosa que, regra geral, é de três
meses, atento o disposto no artigo 589, ns 2, alínea b ) , do CPTA.
De acordo com o previsto no artigo 1679, n 9 3, do CPA, Também este artigo garante aos interessados um eventual direito a
indemnização, nos termos do disposto no seu n9 6.
“ para efeitos do disposto na presente secção, consideram-se constitutivos de Quanto à iniciativa para as revogação ou anulação administrativas,
direitos os atos administrativos que atribuam ou reconheçam situaçõesjur
í dicas
pode partir, oficiosamente, do próprio órgão com competência, ou pode
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PALESTRA SOBRE ATIVIDADE ADMINISTRATIVA

partir dos interessados, através de recurso ou de reclamação graciosos, nos - Outras estruturas com poderes não hierárquicos, mas cuja esfera
termos do disposto no artigo 1699 do CPA (correspondente ao anterior de competências comporte poderes de supervisão183 revogatórios ou
artigo 138s do CPA revogado). anulatórios, de acordo com o disposto no artigo 169a, n9 5, do CPA; casos
Quanto à competê ncia para a revogação, ela pode ocorrer por via do em que exista superintendência ou tutela revogatória ou anulatória, que
autor do ato, através de uma retratação, nos termos do disposto no artigo são sempre excecionais e que n ão se presumem. A lei terá de prever,
1692, ns 2, do CPA (correspondente ao anterior artigo 142® do CPA revo¬ expressamente, esses poderes no leque de poderes que atribui ao órgão
gado). Contudo, nos termos do mesmo dispositivo, para além do autor do superintendente e/ou tutelar. Se a lei o não fizer, as estruturas não terão
ato, podem revogar atos administrativos órgãos diferentes daqueles que competê ncia desintegrativa dos atos administrativos inválidos ou inopor ¬
os praticaram. Assim, dispõem de competência legal para o efeito, salvo tunos ou inconvenientes praticados e restará aos particulares o recurso às
disposição legal em contrá rio, o superior hierárquico do autor do ato que garantias contenciosas; e, por fim,
pode sempre revogar os atos praticados pelos seus subalternos, ao abrigo - O órgão competente, quando o ato for praticado por órgão incom¬
do poder de supervisão, que é um dos poderes hierá rquicos de controlo petente, de acordo com o disposto no artigo 1699, n9 6, do CPA. A opção
- a par do poder de inspeção e do poder disciplinar -, a menos que exista do legislador é clara, mas talvez não fosse de rejeitar a possibilidade de o
competê ncia exclusiva do subalterno182 (de acordo com o disposto no órgão incompetente poder proceder à desintegração através da anulação
artigo 1699, ns 2, do CPA). do ato. Reparemos que o legislador, a nosso ver, cai aqui,salvo melhor opinião,
O n9 3 diz apenas respeito à competência anulatória, que compete num erro e numa contradição. Vejamos: se a revogação diz apenas respeito a
ao órgão que praticou o ato ou ao superior hierárquico, não sendo aqui questões de mé rito e a anulação a questões de invalidade, de acordo com
salvaguardada, pelo legislador, a competência exclusiva do subalterno, o disposto no artigo 1659 do CPA, então não se pode admitir a revogação
como o foi no número anterior a propósito da revogação administrativa. do ato praticado por órgão incompetente, porque ele é inválido e apenas
Por outro lado, enquanto vigorar a delegação de poderes, de acordo comportará a anula ção administrativa, por se fundar em questões estritas
com o disposto nos artigos 1699, n9 4, e 499, n9 2, do CPA (este último de legalidade.
correspondente ao anterior artigo 399, n9 2, do CPA revogado), os atos
administrativos praticados podem ser objeto de revogação ou anulação Quanto às formas da revogação ou da anulação administrativas, elas
administrativas, com fundamento no regime normativo da delegação de devem revestir, nos termos do disposto no artigo 1709, n9 1, do CPA, as
poderes, pelos: mesmas formas legalmente exigidas para os atos colocados em crise,seguindo
- Delegante, ainda de perto o prescrito no n 9 2 do mesmo artigo se o ato a revogar ou
- Subdelegante; a anular tiver sido praticado com excesso de forma.
- Delegado; ou No que diz respeito à eficácia do ato administrativo revogatório, releva
- Subdelegado. notar que o conteúdo do ato de revogaçã o visa, primária e diretamente,
fazer cessar efeitos do ato revogado com eficácia ex nunc (para o futuro).
Do mesmo modo, e nos casos expressamente previstos por lei, podem Contudo, nos termos do disposto no artigo 1719, n91, do CPA (correspon¬
proceder à revogação ou à anulação administrativas: dente ao anterior artigo 1459, n9 3, do CPA revogado), pode existir uma

ár Designadamente, entidades tutelares com poderes de tutela revogatória e/ou anulatória.


Neste caso, talvez se admita que o superior possa emanar ordens de revogação com funda¬
182
O poder administrativo de supervisão traduz a faculdade de confirmação, revogação, anu¬
mento na hierarquia administrativa. Cfr., igualmente, o disposto no artigo 197s, n51 (corres¬ lação ou substituição dos atos administrativos, podendo, por isso, englobar a faculdade de
pondente ao anterior artigo 174-, ns 1, do CPA revogado). emanar uma nova disciplina para a situação jurídica.
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eficácia mais ampla, abrangendo os efeitos já produzidos, ou seja, ex tunc No que diz respeito à anulação administrativa, o artigo 1719, n9 3, do
(efeitos retroativos). CPA refere que “ salvo disposição especial, a anulação administrativa produz
Desta forma, a revogação pode, assim, ter efeitos retroativos, atri ¬ efeitos retroativos, mas o autor da anulação pode, na própria decisão, atribuir-lhe
buídos pelo autor do ato revogatório, apenas com fundamento em razões eficácia para ofuturo, quando o ato se tenha tornado inimpugnável por via jurisdi-
de mérito ou de oportunidade, nos termos do disposto no artigo 171a, cional.” E, por outro lado, a anulação tem, regra geral, efeitos repristina¬
n9 1, do CPA, desde que verificado um dos dois requisitos alternativos aí tórios, verificados os limites elencados nos termos do disposto no n9 4 do
enunciados, a saber: mesmo normativo, dado que se funda em invalidade (s) que importa apagar
da ordem jur ídica. A formulação desta norma parece um pouco confusa,
- A retroatividade ser favorável aos interessados; ou
dado que só há efeitos repristinatórios na presença de atos revogatórios.
- Os interessados terem dado a sua concord ância expressa a essa retro¬
Por fim, o artigo 1729 do CPA consagra as consequências da anulação
atividade e não estejam em causa direitos ou interesses indisponíveis. administrativa. Vejamos os aspetos mais importantes.
O n91 é claro quando estipula que
Importa, agora, atender ao disposto no artigo 1719, n9 2, do CPA (cor ¬

respondente ao anterior artigo 1469 do CPA revogado), que se refere aos “ Sem prejuízo do eventual poder de praticar novo ato administrativo, a
efeitos repristinatórios da revogação. Estes efeitos prendem-se com o anulação administrativa constitui a Administração no dever de reconstituir a
renascimento de normas anteriormente revogadas. Assim, a questão que situação que existiria se o ato anulado não tivesse sido praticado, bem como de
se pode colocar é a de se saber se a revogação de atos administrativos terá, dar cumprimento aos deveres que não tenha cumprido com fundamento naquele
ou não, efeitos repristinatórios. ato, por referência à situação jurídica e de facto existente no momento em que
Ora vejamos: deveria ter atuado” ,

a„ b„ c tal como o n9 2 do mesmo artigo:

Legenda: a - ato administrativo primá rio; b - ato administrativo revogatório (de a); c - ato administrativo “ Para efeitos do disposto no número anterior, a Administração pode ficar
revogatório (de b) constituída no dever de praticar atos dotados de eficácia retroativa, desde que
não envolvam a imposição de deveres,encargos, ónus ou sujeições,a aplicação de
Se o ato c revoga expressamente o ato b para o futuro, não se colocam sanções ou a restrição de direitos ou interesses legalmente protegidos, assim como
quaisquer d úvidas ou problemas. Mas, caso a revogação do ato b, feita pelo no dever de anular, reformar ou substituir os atos consequentes sem dependência
ato c, tenha efeitos ex tunc, ou seja, eficácia retroativa, e expressamente o deprazo,e alterar as situações de facto entretanto constituídas, cuja manutenção
determinar, atenta a parte final do disposto no artigo 171®, n 9 2, do CPA, seja incompatível com a necessidade de reconstituir a situação que existiria se o
repristina, isto é, coloca de novo em vigor o ato a. .
ato anulado não tivesse sido praticado ”
A repristinação pode, igualmente, ocorrer se for determinada direta¬
mente pela lei. Deste modo, para sabermos a final se a revogação (pelo 5.2.4.I. Das alteração, substituição e retificação dos atos
ato c) de um ato revogatório (ato b) tem efeitos repristinatórios (sobre administrativos
o ato a ) teremos de, para além de conhecer a lei, conhecer igualmente a De seguida, o legislador trata, no artigo 1739 do CPA, das questões rela ¬
vontade expressa do autor do ato c. Ambas as vontades - a do legislador e tivas à alteração e substituição dos atos administrativos. Regra geral, são
a do autor do ato administrativo secundário - são determinantes para se aplicáveis, nos termos do disposto no artigo 1739, n91, do CPA, as normas
saber se existem efeitos repristinatórios. reguladoras da revogação. O n 9 2 refere que
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“ A substituição de um ato administrativo anulável,ainda que na pendência faculdade de serem impostos com recurso à força e independentemente
de processojurisdicional,por um ato válido com o mesmo conteúdo sana os efeitos de prévio recurso aos tribunais.
por ele produzidos, assim como os respetivos atos consequentes.” Embora se tenha abandonado o elenco previsto no anterior artigo 1509
do CPA revogado, que consagrava um conjunto de atos administrativos
Já a retificação dos atos administrativos é regulada no artigo 174- do CPA. que, à partida, não gozava do privilégio de execução prévia, parece que
Trata-se aqui de corrigir erros de cálculo e erros materiais na expressão grande parte daquela enumeração continua a ter pleno cabimento e sen ¬

da vontade do órgão administrativo que, quando manifestos, podem ser tido. Por exemplo, o caso dos atos administrativos com eficácia suspensa,
retificados a todo o tempo. A retificação pode ser solicitada pelos inte¬ entre outros.
ressados ou promovida oficiosamente, e pode ser efetivada pelos órgãos O artigo 1759 do CPA é claro no que diz respeito ao objeto da execução
competentes para a revogação do ato administrativo. administrativa. A execução pressupõe a existência de “ (...) procedimentos
O n2 2 do referido artigo impõe, no entanto, o uso da forma e do meio de administrativos dirigidos à obtenção, através de meios coercivos, da satisfação de
publicidade do ato retificado e determina a produção de efeitos retroativos. obrigações pecuniárias, da entrega de coisa certa, da prestação de factos ou ainda do
respeito por açõesou omissõesem cumprimento de limitações impostas por atos admi¬
5.2.5. Da execução do ato administrativo nistrativos.” De referir que, atento o consagrado no n2 2 do mesmo artigo, a
No que diz respeito ao conceito de executoriedadem do ato administrativo, tomada de ações policiais de coação direta será objeto de legislação própria.
ele corresponde, grandemente, ao instituto do privilégio de execução Hoje, de acordo com o teor do n21, do artigo 176 ®, do CPA, os atos ad¬
prévia ou à faculdade de aplicação coerciva de um ato administrativo, ministrativos só podem ser impostos coercivamente ( i) nos casos e segundo
independentemente de qualquer decisã o judicial prévia ou da concor¬ as formas e termos expressamente previstos na lei ou ( ii ) em situações de urgente
dância do particular, e est á intimamente relacionado com a característica necessidade pública, devidamente fundamentada.
da imperatividade do ato administrativo. Este conceito não se confunde Importa referir que não pode existir execução coerciva sem que,
com o de eficácia jurídica, nem com o de validade. previamente, os órgãos administrativos competentes emanem um ato
O regime jurídico da execução (coerciva) do ato administrativo185 vem, administrativo declarativo do direito a aplicar à situação em concreto - o
agora, previsto no artigo 175® e seguintes do CPA e tem, desde logo, apli¬ ato exequendo -, de acordo com o disposto no artigo 177Q, n21, do CPA
cação a atos administrativos que criem obrigações, deveres ou encargos (correspondente ao anterior artigo 1512, n 21, do CPA revogado). A isto se
para os particulares, não existindo um cumprimento voluntário por parte pode chamar de autotutela declarativa da legalidade.
dos mesmos. Nestes termos, para que possa ser promovida a execução de um ato
A executoriedade não é, por isso, característica de todos os atos admi ¬
administrativo com recurso legítimo à força pública, é imperativo que
nistrativos, visto que somente são executórios aqueles atos que são eficazes primeiramente a Administração Pública declare o direito que considera,
e, portanto, nem todos gozam do privilégio de execução prévia e desta naquele caso concreto, como o definidor e disciplinador da situação ju¬
rdica. Esta definição é feita, em concreto, através do ato administrativo
í
juridicamente eficaz e que será considerado o título jur ídico executivo
184
Vide Rui Machete, Execução do ato administrativo, Direito e Justiça, Revista da Faculdade de
que fundamentará a intervenção coerciva da Administração Pública, após
Direito da Universidade Católica Portuguesa, Volume VI, 1992, pág. 65 e segs. notificação ao(s) particular (es) interessado(s).
185
Este regime jurídico consta dos artigos 175a a 183a do CPA (correspondentes aos anterio¬ O artigo 1772, n 2 2, do CPA impõe que, salvo em estado de necessi¬
res artigos 149s a 157s do CPA revogado). Dos artigos 179s, 180s e 181a do CPA (correspon¬ dade, é necessá ria a emissão de uma decisão autó noma fundamentada
dentes aos anteriores artigos 155s, 156s e 157a do Código cessante) constam, respetivamen¬ de proceder à execução administrativa. Esta decisão administrativa terá
te, os regimes das execuções de obrigações pecuniárias ( para pagamento de quantia certa),
para entrega de coisa certa e para prestação de facto.
como objeto a determinação, pelo órgão competente, do conteúdo e dos
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termos da execução. Assim, teremos necessariamente um ( í) ato adminis¬ .


nizações e sanções pecuniárias, por conta do obrigado ” Parece ser uma solução
trativo exequendo e um ( if ) ato administrativo que determine a execução. ajustada, dado que há um incumprimento por parte do destinatário que fica
Este ato ( if ) será notificado, obrigatória e previamente, ao destinatário e terá vinculado à prestação de facto, a qual, por ser fungível, pode ser objeto de
de conceder ao mesmo um prazo razoável para cumprimento voluntário da substituição, mas cujos encargos recairão na esfera jurídica do incumpridor.
obrigação exequenda, que, a suceder, dispensará a execução administrativa. Aliás, o ressarcimento das despesas efetuadas, nestes casos, pode seguir os
Esta notificação pode ocorrer simultaneamente com a notificação do ato trâmites procedimentais previstos no artigo 179® do CPA para obtenção do
administrativo principal exequendo, atento o estipulado no n® 4 do mesmo pagamento de obrigações pecuniárias, por força do disposto no seu n ® 3.
artigo. Parece, desta forma, que o legislador determina a existência de um O legislador veio consagrar, no artigo 182® do Código, disposições sobre
prazo razoável a fim de possibilitar o cumprimento da eventual obrigação garantias dos executados. Aqui se consagra o direito de impugna ção admi ¬

que resulte do ato administrativo exequendo. nistrativa e contenciosa, desde o ato exequendo, passando pelo ato que
O disposto no artigo 178® do CPA, sob a epígrafe Princípios aplicáveis, determina a execução, até aos atos praticados durante a execução, poden ¬

parece querer ser apenas um reforço de evidência do que anteriormente é do, como é óbvio, requerer a suspensão contenciosa, atento o disposto no
estipulado, de forma genérica, a propósito dos princípios gerais da ação n® 1 do citado artigo. Parece não ser de afastar, embora o legislador o não
administrativa. Reafirma-se a necessidade de respeito pelo princípio da preveja aqui expressamente, que o pedido de suspensão possa igualmente
proporcionalidade (já imposto no artigo 7® do CPA), pelos direitos fun¬ ser apresentado à Administração Pública, pedido esse que pode incidir
damentais e pela dignidade da pessoa humana. sobre qualquer dos atos administrativos em questão e assumir natureza
Seguem-se, imediatamente (artigos 179®, 180® e 181® do CPA), os regimes administrativa.
autonomizados das execuções de obrigações pecuniá rias, para entrega de Os n.os 2 e 3 do referido artigo 182® dizem respeito a aspetos relevantes
coisa certa, e para prestação de facto. do contencioso que podem, aqui, ser utilizados como garantias efetivas e
Vejamos estes regimes de forma sucinta. que visam proteger os direitos dos interessados.
A falta de pagamento de prestações pecuniárias a uma entidade pública Por fim, o disposto no artigo 183® do CPA permite à Administração
determina a instauração, nos termos do disposto no artigo 179® n® 1, do Pública recorrer aos tribunais administrativos para promover a execução
CPA, de um processo de execução fiscal que seguirá os trâmites previstos judicial de atos que, nos termos do mesmo artigo, não possam ser aplica ¬

na legislação do processo tributá rio. Para esse efeito, o órgão competente dos coercivamente, e que, portanto, não gozem do chamado privilégio
da entidade pública emitirá, de acordo com a lei, uma certidão, que terá, de de execução prévia, dado que a executoriedade possibilita a execução
acordo com o disposto no n® 2, valor de título jurídico executivo e que será administrativa sem prévio recurso aos tribunais.
remetida ao competente serviço da Administração tributá ria, juntamente Importa ainda referir que pode ser requerida pelos interessados a
com o processo administrativo. suspensão da execução, o que mais adiante se estudará a propósito do
O artigo 180 ® do CPA determina que a falta de entrega de coisa devida disposto no artigo 189®, n.os 3 e 4 do CPA.
permite ao órgão competente “ (...) proceder ás diligências que forem necessárias Em conclusão e como se referiu atrás, podemos afirmar que o con ¬

para tomar posse administrativa da mesma.” ceito de executoriedade não deve confundir-se com o conceito de eficácia
A execução para prestação de facto decorre como previsto no artigo 181® ídica, já que este se prende com a suscetibilidade de um qualquer ato
jur
do CPA. Aqui se diz que, quando a prestação de facto fungível - aquele administrativo produzir, de forma direta e imediata, efeitos jurídicos e não
suscetível de ser substituído, por não ser único, por haver idênticos ou existe uma direta ligação entre os conceitos. Por isso, podem existir atos
semelhantes - não for cumprida, no prazo estipulado, se possibilita ao eficazes que não sejam executórios.
órgão competente “ (...) determinar que a execução seja realizada diretamente ou
por intermédio de terceiro, ficando, neste caso, todas as despesas, incluindo indem
¬
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5.3. Dos contratos da Administração Pública186 O diploma legal que aprovou o CCP189 veio revogar as disposições do
Nos n úmeros anteriores, abordá mos os regimes jurídicos substantivos anterior CPA sobre os contratos administrativos.
resultantes do CPA quanto ao regulamento e ao ato administrativos e, O novo CPA veio de novo consagrar, no último dos seus capítulos, três
consequentemente, no que diz respeito à atuação unilateral da Adminis¬ artigos sobre contratos da Administração Pública.
tração P ública. Do disposto no artigo 200Q do CPA decorre a possibilidade de serem
A atuação das vá rias estruturas administrativas, no âmbito dos contratos celebrados, pelos órgãos da Administração Pública, contratos de Direito
da Administração Pública e, particularmente, no do contrato administra ¬
P ú blico e contratos de Direito Privado. Neste último caso, as entidades
tivo, assenta na bilateralidade e numa participação dos particulares que públicas aparecem desinvestidas dos seus poderes de autoridade e surgem
é mais elevada e intensa, pois pressupõe-se um acordo de vontades que na relação jurídica como se fossem particulares. Há uma clara paridade
visa atingir e conciliar interesses distintos, públicos e privados. Os órgãos ídica contratual.
hierá rquica na relação jur
da Administra ção Pública podem celebrar contratos administrativos, de Por seu lado, o artigo 20P do CPA reforça o apelo ao respeito pelos
acordo com o previsto agora no Código dos Contratos Públicos (CCP)187 princípios da transparência, da igualdade e da concorrê ncia aquando da
que é, hoje, o principal diploma que regula a contração pública. formação dos contratos.
Podemos definir o contrato administrativo como o acordo de vontades O artigo 202fi do Código trata, a final, do regime substantivo dos con
¬

pelo qual é constituída, modificada ou extinta uma relação jurídico-admi ¬


tratos da Administração Pública. Como se pode comprovar, os três artigos
nistrativa188. Para estarmos na presença de um contrato administrativo, fazem referências expressas, como não poderia deixar de acontecer, ao
é necessário que a matéria do mesmo seja de Direito Público e que seja referido CCP.
celebrado ao abrigo da gestão pública.
De referir, contudo, que os contratos administrativos têm algumas 5.4. Recomendação
especificidades de regime jurídico, hoje grandemente previsto no CCP, Estudada a parte respeitante aos vários modos de ação jurídica da Admi ¬
desde logo porque podem conferir poderes de autoridade a um particular,
nistraçã o Pú blica, o estudante deve saber distinguir, claramente, as
podem atribuir direitos ou impor deveres e podem impor restrições de diversas formas de prossecução da atividade administrativa: regulamen ¬
interesse p úblico aos particulares.
tos administrativos, atos administrativos e contratos da Administra çã o
Pública.

5.5. Exercício formativo


186
Vide José Manuel Sérvulo Correia, Legalidade e autonomia contratual nos contratos adminis¬ d) Diga quais são as formas jurídicas de atividade dos órgãos da Admi¬
trativos, Coleção Teses, Livraria Almedina, Coimbra, 1987; Maria João do Rosário Estorni¬ nistração Pública;
nho, Requiem pelo Contrato Administrativo, Livraria Almedina, Coimbra, 1990; Maria João do
Ros ário Estorninho, Princípio da Legalidade e Contratos da Administração, separata do Boletim
b ) Diga o que entende por regulamento administrativo e dê exem¬
do Ministé rio da Justiça n" 368, Lisboa, 1987. plos;
187
O CCP foi aprovado pelo Decreto-Lei n8 18/ 2008, de 29 de janeiro, alterado pela Lei c) Refira-se ao processo de elaboração dos regulamentos;
nQ 59/ 2008, de 11 de setembro, pelos Decretos-Leis n .“ 34/2009, de 6 de fevereiro,
d) Distinga regulamento de ato administrativo;
223/2009, de 11 de setembro, e 278/2009, de 2 de outubro, pela Lei n° 3/2010, de 27 de
abril, pelo Decreto-Lei nQ 131/2010, de 14 de dezembro, pela Lei n - 64-B/ 2011, de 30 de
e ) Defina ato administrativo e dê exemplos;
dezembro, e pelo Decreto-Lei n 149/ 2012, de 12 de julho.
- f ) Diga quais são as características comuns aos atos administrativos;
188
O então artigo 178Q, n5 1, do CPA revogado definia o contrato administrativo, precisa-
mente, segundo o critério do objeto: “ Diz-se contrato administrativo o acordo de vontades pelo
qual é constituída, modificada ou extinta uma relação jurídica administrativa.” Vide nota 187.
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g ) Diga a partir de que momento um ato administrativo é definitivo;


h ) Indique e distinga os vícios do ato administrativo;
/) Diga o que entende por privilégio de execução prévia; e
j ) Diga o que entende por contrato administrativo.

6 . Palestra sobre garantias administrativas

SUMáRIO:
Enquadramento geral. As garantias administrativas imflugnatórias: regime geral .
Da reclamação. Dos recursos administrativos. Do recurso hierárquico. Dos recursos
administrativos especiais. Recomendação. Exercício formativo.

6.1. Enquadramento geral


Desde há muito tempo que o legislador consagrou amplas garantias admi¬
nistrativas, também chamadas de graciosas190, e que estiveram dispersas
por vá rios diplomas legais. Com o movimento codificador da legislação
relativa ao procedimento administrativo, conseguiu compilar -se um
conjunto alargado dessas garantias dado que, como se disse, as garantias
jurisdicionais não são plenamente suficientes para assegurar, na íntegra,
a defesa dos direitos dos particulares.
Assim, para alé m da possibilidade de recurso aos tribunais administra¬
tivos, através, designadamente, do direito de acesso à justiça administrativa
e da garantia de
“ (...) tutela jurisdicional efetiva dos seus direitos ou interesses legalmentepro
¬

tegidos, incluindo, nomeadamente,o reconhecimento desses direitos ou interesses,


a impugnação de quaisquer atos administrativos que os lesem,independentemen te
da sua forma (,..)” 191,

150
As que sã o efetivadas junto da pr ópria Administração Pública.
191
Nos termos do disposto no artigo 268e, ns 4, da CRP.
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os particulares têm a capacidade de impugnação dos mesmos atos junto Vícios de legalidade do ato administrativo: Usurpação de poderes
da própria Administração Pública, através das garantias administrativas Incompetência absoluta
previstas, designadamente, no CPA. Incompetência relativa
O CPA, os princípios gerais nele previstos e que dele decorrem e as Vício de forma
garantias graciosas nele enumeradas, e que agora se estudarão, não coar¬ Desvio de poder
tam a possibilidade de recurso dos particulares ao conjunto de garantias Violação de lei
jurisdicionais, que resultam do contencioso administrativo português, e da
concretização dos seus direitos através das diferentes garantias efetivadas
junto dos tribunais administrativos. LEGALIDADE Tribunais
Nessa medida, as garantias administrativas graciosas não impedem nem
afastam a possibilidade de recurso aos tribunais administrativos, como Impugnação
resultava já do previsto no artigo 122 do CPA agora revogado.
Administração Pública
Ou seja, o facto de não se autonomizar, procedimentalmente, o princípio MÉRITO
do acesso à justiça não afasta a possibilidade de fiscalização jurisdicional
sobre as omissões administrativas e os atos praticados pela Administração
Pública, independentemente de se impugnarem graciosamente, porque /
em rigor aquele não é um princípio direto e imediato de atividade admi¬ Vícios de mérito do ato administrativo: Inconveniência
nistrativa. Inoportunidade
Importa, no entanto, referir que as garantias contenciosas, efetivadas
junto dos tribunais administrativos, são instrumentos de que os parti¬ Mas, para além deste tipo de garantias não contenciosas, existem outras,
culares podem dispor para fazer valer os seus direitos, designadamente, como sejam as garantias políticas, que são aquelas em que os particulares
impugnando atos da Administração Pública, mas apenas com funda¬ não se dirigem a um órgão da Administração Pública mas, sim, a órgãos
mento na ilegalidade, j á que os vícios de mé rito são apenas suscetíveis que exercem ou participam do exercício de funções políticas, como sucede
de avaliação pela pr ópria Administração Pública, atento o disposto no com o acesso ao direito de petição192 quando exercido junto de órgãos polí¬
artigo 39, ns 1, do CPTA, o que decorre do princípio constitucional da ticos. O recurso ao Provedor de Justiça também pode ser considerado uma
separação de poderes. garantia política e constitucional, a par do próprio direito de resistê ncia
A este conjunto de garantias exercidas e efetivadas junto da Administra¬
passiva, igualmente previsto na CRP.
çã Pública atribui-se a designação de garantias graciosas ou administrativas.
o Desta forma, podemos verificar, ainda que sucintamente, que existem
Vejamos um esquema sobre a sede de impugnação de atos administra ¬ diferentes tipos de garantias utilizáveis e afetas aos particulares (admi¬
tivos desconformes com a legalidade ou com o mérito. nistrados) para efetivação dos seus direitos e com vista a contrariar, com
fundamento diverso193, os atos administrativos praticados pelos diversos
órgãos da Administração Pública.

A este propósito, cff. o disposto no artigo 52s da CRP.


192

193
Nas garantias graciosas, podem ser invocados argumentos de mérito e/ou de ilegalidade
mas, ao invés, nas garantias contenciosas, apenas estes últimos são suscetíveis, como vimos,
de apreciação pelos tribunais.
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No que diz respeito às garantias graciosas, elas podem ser de dois tipos: Importa referir e acentuar, uma vez mais, que o exercício destas garantias
- Garantias petitórias; ou não exclui o direito de acesso aos tribunais e a possibilidade de ativação
- Garantias impugnatórias. das garantias contenciosas.
São várias as funções das garantias administrativas impugnatórias. Se é
As garantias petitórias, das quais aqui não nos ocuparemos, são aquelas certo que a sua utilização pode simplificar todo o processo impugnatório
em que, basicamente, o particular (administrado) formula um pedido, ou afastar até o controlo judicial, caso a própria Administração Pública
apresenta uma queixa ou uma representação, no sentido de procurar uma entenda revogar, anular ou declarar nulo o ato administrativo, não exis ¬

primeira disciplina jurídica para a matéria. Busca sobretudo, embora não tindo necessidade de recurso aos tribunais, as garantias impugnatórias
exclusivamente, um ato administrativo primá rio. permitem, também, o controlo da oportunidade e da conveniência (ou
Entre estas podemos encontrar o direito de petição, dirigido agora a seja, os chamados vícios de mérito insuscetíveis de aferição pelos tribu¬
órgã os da Administração Pública, como faculdade de o particular solici¬ nais, isto é, excluídos dos poderes cognitivos da jurisdição contenciosa).
tar que esta tome certas decisões quando ainda não agiu (não se visando, Assim, para além da legalidade, as garantias graciosas possibilitam o controlo
portanto, atacar uma decisão anterior). São, também, exemplos de gariran- do mérito (invalidades de mérito)197, reforçando-se os meios de controlo
tias graciosas petitórias o direito de queixa194, o direito de den úncia195 ea da atividade administrativa de forma mais ampla.
oposição administrativa196. As garantias impugnatórias são, pois, as que visam impugnar ou colocar
A propósito, ainda, da vertente garantística do nosso sistema adminis¬ em causa uma decisão administrativa prévia já existente e, genericamente,
trativo, importa fazer referência à Resolução do Conselho de Ministros podem ser agrupadas em dois grandes tipos, de acordo com o consagrado
n9189/96, de 28 de novembro, que veio estabelecer a obrigatoriedade de no artigo 1849, nfi 2, do CPA:
adoção do livro de reclamações nos locais onde seja efetuado atendimento - A reclamação; e
de público. A Portaria ne 355/97, de 28 de maio, veio aprovar o modelo - Os recursos administrativos (ou graciosos).
do “ Livro de Reclamações” que deve existir em todas as estruturas da
Administração Pública que estabeleçam relações com os particulares, As reclamações e os recursos administrativos são, nos termos do esti ¬

dela constando os termos em que deve processar-se o acesso ao mesmo. pulado no n9 3 do referido artigo 1849 do Código, apresentados pelo
Vejamos de seguida as garantias administrativas impugnatórias. reclamante ou recorrente, através de requerimento instruído com todos
os elementos probatórios que se considere pertinentes, expondo de forma
6.2. As garantias administrativas impugnatórias: regime geral clara os fundamentos que se invoquem a seu favor.
As garantias impugnatórias são, também, manifestações específicas do Isto significa que os interessados (administrados) têm o direito de
direito de petição, em sentido amplo, previsto no já invocado artigo 525
da CRP, só que aqui existe o pressuposto de haver um ato administrativo - “ (...) Impugnar os atos administrativos perante a Administração Pública,
prévio que se visa colocar em crise. solicitando a sua revogação,anulação, modificação ou substituição (...) ” , atento
o previsto na alínea a) do n91 do artigo 1849 do CPA (correspondente
,
1 4
Que se traduz na faculdade de suscitar a abertura de um processo de inquérito ou disci¬
ao anterior artigo 1589, n91, do CPA revogado); e
plinar, podendo levar à condenação do trabalhador em funções públicas.
195
Ato pelo qual o particular leva ao conhecimento da Administração Pública factos que
geram a obrigatoriedade de esta abrir, pelo menos, um processo de sindicância ou de averi¬
gua ções. 197
Nos termos do disposto no artigo 185", n6 3, do CPA (correspondente ao anterior artigo
196
Aqui, a Administração Pública chama os cidadãos, a fim de virem apresentar as suas ra- j 159s do CPA revogado), que expressamente refere que as garantias graciosas impugnató rias
z ões face a certos projetos da própria Administração. “ (...) podem ter por fundamento a ilegalidade ou inconveniência do ato praticado."
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- “ (...) Reagir contra a omissão ilegal de atos administrativos,em incumpri¬ violar o disposto no artigo 2689, n 9 4, da CRP e, desta forma, condicionar
mento do dever de decisão solicitando a emissão do ato pretendido” , de acordo o pleno direito de acesso à justiça administrativa, limitando, por conse ¬

com a alínea b) do nQ 1 do mesmo artigo. quência, o direito constitucional à impugnação contenciosa; e


- Facultativa, quando n ão dependa da prévia utilização do meio impug ¬

A distinção entre estes dois tipos de garantias assenta, essencialmente, natório administrativo a possibilidade de acesso aos meios contenciosos de
na diferença dos seus destinatários. impugna ção ou condenação à prática do ato devido (por exemplo, quando
Assim, a reclamação é a forma de impugnação do ato administrativo incide sobre um ato administrativo já definitivo).
perante o seu próprio autor, enquanto que o recurso gracioso é uma forma
de impugnação perante um órgão diferente daquele que praticou o ato. Ora, como vimos, deixaram de se consagrar, como requisito legal para
A diferença assenta, portanto, no posicionamento do órgão que vai apreciar aimpugnabilidade contenciosa dos atos administrativos, as suas executorie-
a impugnação face ao ato colocado em crise. dade e definitividade, admitindo-se que a via contenciosa se possa abrir para
O disposto no artigo 1849 do CPA, ao fixar genericamente as garantias impugnar atos que ainda não sejam definitivos ou executórios. Deste modo,
impugnat órias, abarca a totalidade das garantias administrativas impug- a figura do recurso hierárquico necessário parece que perdeu relevâ ncia
natórias previstas pelo Código (reclamação e recursos graciosos). jurídico-contenciosa, da mesma forma que a distinção, anteriormente,
Refira-se que, no â mbito específico dos recursos, se estipula assim, existente e que continua a estar prevista, como vimos, no CPA. As impug¬
também, como regra geral, a recorribilidade graciosa dos atos praticados nações administrativas, mas sobretudo o recurso hierárquico necessário200,
pelo delegado para o delegante198, independentemente da natureza da apenas tornarão (eventualmente) o ato administrativo verticalmente defi¬
delegação de poderes. nitivo, sem que isso assuma import ância decisiva para a suscetibilidade de
Quanto à natureza da reclamação e dos recursos, esta pode ser necessária impugnação jurisdicional imediata do ato administrativo lesivo.
ou facultativa, consoante dependa ou não da sua prévia utilização a possi¬ Importa, então, referir que a revisão constitucional de 1989 retirou ao
bilidade de acesso às garantias contenciosas, atento o disposto no artigo artigo 2689, n9 4, da CRP as exigências de definitividade e de executo-
1859, n9 1, do CPA (em parte, correspondente ao anterior artigo 1679 do riedade do ato administrativo como requisitos e pressupostos essenciais
CPA revogado). Regra geral, ambas as garantias impugnatórias graciosas para a efetivação do direito de recurso ou de ação contenciosos contra atos
t ê m caráter facultativo, salvo se a lei as denominar como necessárias, atento administrativos ilegais.
o previsto no ne 2 do mesmo artigo. Com a reforma do contencioso administrativo, já é possível o recurso
Vejamos mais em pormenor a distinção da diferente natureza das figuras: contencioso de atos administrativos não definitivos, ao contrá rio do que
se encontrava previsto no presentemente revogado artigo 259, n91, da Lei
- Necessária,quando dependa da prévia utilização do meio impugnatório
de Processo nos Tribunais Administrativos (LPTA), que referia:
administrativo (reclamação ou recurso administrativo) a possibilidade de
acesso aos meios contenciosos de impugnação ou de condenação à prática
do ato devido199. Esta exigência pode ser considerada inconstitucional, por 200
Não podemos, no entanto, deixar de referir que se admite, deste modo, a impugnabili-
dade direta e imediata de atos praticados por subalternos, suscetíveis ainda de aferiçã o valo-
rativa pelos legítimos superiores hierárquicos e de alteração, ao abrigo do poder hierárquico
158 V.g. os atos administrativos praticados pelas juntas de freguesia ao abrigo de delegação de da supervisão que integra a competência revogatória. Continua, por isso, a fazer sentido a
poderes camarária, para a respetiva câ mara municipal, enquanto órgão delegante. existência do recurso hierárquico, agora apenas na modalidade de recurso facultativo e que,
199
Anteriormente, esta natureza verificava-se sempre que o ato administrativo impugnado em último momento, permite a avaliação, para além das questões de legalidade, das ques¬
não fosse definitivo, sendo por isso necessário apresentar este recurso, porque seria o único tões de mérito. Isto significa que pode ter deixado de ser necessário para abertura da via
meio para obtenção da definitividade do ato; era, portanto, necessário como pressuposto pré¬ contenciosa mas, certamente, n ão perdeu a utilidade pelas razões substantivas atrás adu ¬
vio para abrir a via contenciosa. zidas.
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“ Só é admissível recurso dos atos definitivos e executórios.” 201202 recorrer, nos termos do disposto no artigo186®, n® 2, do CPA (correspon ¬

dente ao anterior artigo 53®, n ® 4, do CPA revogado).


Assim, e ao invés, desde que o ato administrativo tenha eficácia externa No que diz respeito ao prazo para exercício das garantias administrativas,
e lese posições jurídicas subjetivas dos particulares, é o bastante para que que tenha como objetivo final contrariar a omissão ilegal de ato adminis ¬

se encontre aberta a via contenciosa, independentemente de o ato admi¬ trativo, é de um ano, de acordo com o previsto no artigo 187® do CPA, e
nistrativo ser ou nã o definitivo e executório. conta-se, nos termos do estipulado, expressamente, no n ® 3 do artigo 188®
Vejamos, a propósito, o que refere o disposto no artigo 51s, n® 1, do do CPA, “ (...) da data do incumprimento do dever da decisão.”
CPTA, que regula agora esta maté ria: Recordemos que a reclamação e o recurso administrativo utilizados para
efeitos do disposto na alínea a ) do n® 1 do artigo 184® do CPA seguem os
“ Ainda que inseridos num procedimento administrativo, são impugnáveis os prazos especialmente previstos a propósito, designadamente, da revogação
atos administrativos com eficácia externa, especialmente aqueles cujo conteúdo e da anulação administrativas. Por outro lado, regra geral, o ato adminis
seja suscetível de lesar direitos ou interesses legalmente protegidos.”
¬

trativo nulo pode ser impugnado a todo o tempo, apenas com as reservas
que resultam do seu regime geral.
Por fim, o pressuposto da legitimidade dos reclamantes ou dos recor¬ O artigo 188® do CPA trata do regime de início da contagem dos prazos
rentes, ou seja, a faculdade de interpor a respetiva garantia para impug¬ de impugnação. O n® 1 expressamente impõe que, se a notificação do ato
nar o ato administrativo, decorre do disposto no artigo 186®, n® 1 do CPA administrativo for obrigatória, e ainda que o mesmo haja sido objeto de
(correspondente ao anterior artigo 160 ® do CPA revogado). Esta norma publicação també m obrigatória, o prazo para apresentação de reclamação
consagra a regra geral, em matéria de legitimidade procedimental ativa, e ou para interposição do competente recurso administrativo só começa a
indica-nos as entidades que podem, efetivamente, interpor a reclamação correr a partir da data da notificação. Mas importa referir que, nos termos do
ou o recurso, o que significa que podem, legal e legitimamente, impugnar disposto no n® 2 do mesmo artigo, se a publicação do ato administrativo a
graciosamente o ato administrativo colocado em crise. impugnar não for legalmente obrigatória, então o prazo para a impugnação
Assim, nos termos do previsto no referido artigo 186®, n® 1, do CPA, administrativa “ (...) começa a correr do seguinte facto queprimeiro se verifique: a)
poderão: Notificação; b) Publicação; c) Conhecimento do ato ou da sua execução.”
“ (...) reclamar ou recorrer (...) O artigo 189® do CPA consagra o regime jurídico dos efeitos das im ¬

a ) Os titulares de direitos subjetivos ou interesses legalmente protegidos que pugnações dos atos administrativos. Aquelas que sejam necessárias têm
se considerem lesados pela prática ou omissão do ato administrativo; (e) efeitos suspensivos, nos termos do disposto no n ® 1 (correspondente ao
b) Aí pessoas e entidades mencionadas nos n. 2 a 4 do artigo 68s.”
0í anterior artigo 170®, n® 1, do CPA revogado) , suspendendo-se a eficácia do
ato recorrido, deixando este de produzir provisoriamente efeitos. As que
De qualquer forma, importa referir que todo aquele que tiver aceitado, sejamfacultativas mo têm esse efeito (não suspendem a produção de efeitos
sem reserva de qualquer natureza, expressa ou tacitamente, um determi¬ jurídicos dos atos administrativos impugnados e o ato administrativo im ¬

nado ato administrativo depois de praticado, não poderá dele reclamar ou pugnado continua a produzir os seus efeitos até à decisão final, e somente
no caso de a impugnação proceder e ser favorável ao particular é que o
201
Esta disposição normativa era considerada por parte da doutrina como tendo caducado; ato deixar á de produzir os seus efeitos), salvo se (í) a lei previr os efeitos
por inconstitucionalidade superveniente decorrente, sobretudo, da revisão constitucional' suspensivos ou («) a estrutura ad quem203 que apreciará, nos termos legais,
de 1989. No entanto, o Tribunal Constitucional não acompanhou esta posição. a impugnação (o autor do ato ou o órgão com competência para apreciar o
202
A propósito desta questão vide Maria Teresa de Melo Ribeiro, A eliminação do ato definitivo
e executório na Revisão Constitucional de 1989, Direito e Justiça, Revista da Faculdade de Direito
da Universidade Católica Portuguesa, Volume VI, 1992, pág. 365 e segs. 203
Aquele a quem é dirigida a impugna ção.
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recurso administrativo) a requerimento dos interessados ou de motupróprio, artigos 1029 (correspondente ao anterior artigo 74ô do CPA revogado)
“ (...) considere que a sua execução imediata causa prejuízos irreparáveis ou de difícil e 1840, n0 3, do CPA;
reparação ao destinatário e a suspensão não cause prejuízo de maior gravidade para - Instrução (tramitação); e
o interesse público” , atento o estipulado no nô 2 do mesmo artigo. - Decisão final.
O n® 3 do referido artigo 189Q do CPA prevê, ainda, a possibilidade de os
interessados requererem a suspensão da execução do ato, a todo o tempo, Importa, no entanto, referir que, no que diz respeito ao pressuposto
devendo a decisão ser tomada, impreterivelmente, no prazo de cinco dias. gené rico da impugnabilidade, é importante reter que nem todos os atos
A suspensão graciosa da execução do ato administrativo exequendo surge, administrativos são suscetíveis de impugnação administrativa graciosa.
aqui, quase como uma medida cautelar e, por isso, o legislador impõe que Há, necessariamente, que fazer-se uma interpretação sistémica. Vejamos.
a suspensão deva ser decretada se se fundar em provas que revelem “ (...) Genericamente, o CPA estabelece alguns limites aos poderes do ór ¬

uma probabilidade séria de veracidade dos fatos alegados pelos interessados” , nos gão ad quem , que se prendem v.g. com a irrevogabilidade legal ou com a
termos do disposto no n- 4. Atento o consagrado no n0 5 do referido ar ¬ proibição de revogação de atos administrativos constitutivos de direitos
tigo 189Q do Código, os interessados, independentemente do previsto nos ou de interesses legalmente protegidos, nos termos do disposto no artigo
n.os 2 a 4, podem sempre requerer a suspensão jurisdicional de eficácia, nos 1670, n.os 1 e 2, do CPA (correspondentes ao anterior artigo 14O 0, n01, do
termos da legislaçã o reguladora do contencioso administrativo. CPA revogado).
Finalmente, analisemos o disposto no artigo 190Q do CPA, que determina A tempestividade da impugnação, que se prende com os prazos da
os efeitos dos prazos. Assim: reclamação e dos recursos, é muito relevante porque a inobservância dos
-“ A reclamação de atos ou omissões sujeitos a recurso administrativo necessário prazos implica a extemporaneidade dos eventuais pedidos de caducidade
do direito à impugnação graciosa dos atos administrativos. Desses prazos
suspende o prazo da respetivamente interposição” (do recurso gracioso), nos
termos do disposto no n01;
trataremos a propósito de cada um dos meios de impugnação. Importa,
- A reclamaçã o de atos ou omissões sujeitos a recurso administrativo
porém, relembrar que a contagem dos prazos deve obedecer ao prescrito
no Código, na sua Parte III, Capítulo V - Dos prazos, que estabelece o con
facultativo não suspende o prazo da respetiva interposição, nos termos
¬

junto normativo que regula, de forma genérica, a contagem dos prazos no


do n 0 2; e
- As impugna ções administrativas facultativas contra atos adminis¬
âmbito do procedimento administrativo.
Não esqueçamos, também, o que atrás ficou referido quanto ao regime
trativos suspendem o prazo de interposiçã o de a ções nos tribunais admi¬
jurídico da nulidade dos atos administrativos. Esta forma de invalidade é
nistrativos, “ (...) que só retoma o seu curso com a notificação da decisão proferida
invocável e declarável a qualquer momento, por qualquer tribunal ou por
sobre a impugnação administrativa ou com o decurso do respetivo prazo legal’ , nos
termos do nQ 3; mas esta suspensão do prazo, de acordo com o disposto no
qualquer órgão administrativo.
n0 4, “ (...) não impede o interessado de propor ações nos tribunais administrativos
6.2.1. Da reclamação
na pendência da impugnação administrativa, bem como de requerer a adoção de
No que diz respeito à reclamação204, o princípio geral consta do disposto
providências cautelares” , querendo.
no artigo 191®, n 0 1, do CPA (correspondente ao anterior artigo 1610,
n81, do CPA revogado), que refere poder reclamar-se de qualquer ato
A tramitação das garantias impugnatórias pode esquematizar-se, sucin¬
tamente, da seguinte forma:
administrativo ou de qualquer omissão de ato, para o seu autor, desde que
a lei o não impeça. Evidentemente, os atos administrativos que decidem
- Requerimento impugnatório inicial (de reclamação ou de recurso),
o qual deve ser formulado por escrito, nos termos do disposto nos
Vide o disposto nos artigos 191° e 192° do CPA.
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anteriores reclamações ou recursos administrativos são insuscetíveis de São vários os pressupostos procedimentais gerais de exercido das ga ¬

impugnação graciosa por reclamação, aliás, como refere o n® 2 do mesmo rantias impugnatórias. Atendamos, por ora, aos principais pressupostos
artigo, a menos que o órgã o ad quem não se tenha pronunciado sobre a que se aplicam à reclamação administrativa e que são os seguintes:
totalidade da questão a decidir, havendo, por isso, omissão de pronúncia.
Assim, a reclamação de ato que decida anterior impugnação apenas é - Impugnabilidade (ou objeto): no que diz respeito ao pressuposto da
admissível se a decisão for omissa quanto a algum dos aspetos impugnados impugnabilidade, é importante reter que nem todos os atos administrati ¬

e apenas nessa medida, de acordo com a parte final daquele normativo. vos são suscetíveis de impugna ção administrativa graciosa. A regra geral,
A reclamação deve ser, regra geral e na ausência de outro qualquer prazo quanto à impugnabilidade dos atos administrativos no âmbito da recla ¬

legalmente estipulado, apresentada no prazo de 15 dias, de acordo com mação, é a de que se pode reclamar de todos os atos administrativos, salvo
o consagrado no n 9 3 do referido artigo 191s do CPA (correspondente ao dos previstos no n9 2 do artigo 191- do CPA (correspondente ao anterior
anterior artigo 1629 do CPA revogado). n9 2 do artigo 161® do CPA revogado). Pode existir, ainda, reclamação de
Justifica-se este princípio geral, nas suas duas vertentes: por um lado, omissão de ato administrativo;
na vertente positiva ou permissiva 205, pois admite-se que o próprio autor - Natureza: quanto à reclamação administrativa, o CPA continua a pre¬
possa aceitar a argumentação expendida pelos particulares e com isso al¬ ver que pode ser de duas espécies, nos termos do disposto no seu artigo
terar, revogar ou anular os atos impugnados, e por outro lado, na vertente 185: necessária ou facultativa. Como já vimos, regra geral e nos termos do
negativa ou proibitiva 206, porque impede um círculo vicioso que em nada disposto no artigo 185®, n® 2, do CPA, tem carácter facultativo;
beneficiaria o particular e o regular funcionamento da Administração - Oportunidade (ou tempestividade): regra geral, o prazo de
interpo¬
Pú blica. sição é de 15 dias, e de 30 dias o prazo para a decisã o; e
Nos termos do disposto no artigo 1929 do CPA, os contrainteressados - Legitimidade: têm legitimidade para a reclamação os destinatá rios
e
deverã o ser notificados, pelo órgã o com competê ncia legal para a decisão os contrainteressados de atos administrativos ou aqueles que se sentem
final, da reclamação para, nos termos do disposto no n91 e no prazo (aí lesados pela omissão de atos administrativos.
estabelecido) de 15 dias, virem ao procedimento alegar o que entende¬
rem sobre o pedido e a causa de pedir. A figura dos contrainteressados 6.2.2. Dos recursos administrativos
abarca todos os que t ê m interesse na manutenção do ato administrativo Os recursos administrativos podem ser de diferentes tipos. Assim, o atual
ídicos, ainda que apenas em parte deles, e que terão,
ou nos seu efeitos jur CPA prevê a existência do recurso hierárquico e de recursos administrativos
necessariamente, de ser ouvidos antes da tomada da decisão final sobre a especiais, anteriormente designados como recurso hierárquico impróprio
reclamação interposta. e recurso tutelar.
O órgão ad quem dispõe do prazo de 30 dias para emitir decisão final, Comecemos por fazer referência ao recurso hierárquico.
atento o disposto no n9 2, e se a reclama çã o tiver natureza necessária
aplicar-se-á, igualmente, o disposto no n 9 3, que permite ao reclamante, 6.2.2.I. Do recurso hierá rquico
decorrendo o prazo de 30 dias sem que seja proferida decisão final, “ (...)] O recurso hierárquico pode ser utilizado quando existe hierarquia adminis ¬

utilizar o meio de tutela, administrativo ou contencioso, adequado para satisfação trativa entre o autor do ato e o órgão ad quem207, de acordo com o disposto
da sua pretensão.” no artigo 193®, n® 1, do CPA. Visa, conforme resulta das duas alíneas do
referido normativo,

205 prevista no n 51
do referido artigo 19 P do CPA.
-°o Prevista no n 2 do referido artigo 191Q do CPA.
- 207
Como já vimos, o órgão ad quem é aquele a quem é dirigida a impugnação.
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f) “ (...) Impugnar atos administrativos praticados por órgãos sujeitos aos (correspondente ao anterior artigo 1689, n91, do CPA revogado), o prazo
poderes hierárquicos de outros órgãos nos termos da alínea a); ou para a sua interposição, salvo se lei especial fixar prazo distinto deste e,
ií) “ (...) Reagir contra a omissão ilegal de atos administrativos, por parte quanto ao recurso hierárquico facultativo, o prazo de interposição desta
de órgãos sujeitos aos poderes hierárquicos de outros órgãos (...)” , nos termos garantia é igual ao prazo para interposição de recurso contencioso do ato
da alínea b). em causa, de acordo com o disposto na parte final do mesmo normativo,
que se há de encontrar na legislação relativa ao contencioso administrativo
Desta maneira, podemos constatar que a hierarquia administrativa assume (designadamente, no CPTA).
também uma vertente garantística dos direitos dos administrados e não Como se disse já, o requerimento impugnatório deve ser formulado
tem, somente, uma função meramente organizatória. Assim, a legalidade por escrito, nos termos do disposto nos artigos 1029 (correspondente ao
e, sobretudo, a oportunidade e a conveniência das decisões dos diferentes anterior artigo 749 do CPA revogado) e 1849, n 9 3, do CPA, e, no caso do
subalternos são suscetíveis de controlo ou de fiscalização pelos superiores recurso hierárquico, dirigido ao mais elevado superior hierá rquico do
hierá rquicos. Se assim não fosse, estaríamos perante uma equiparação do autor do ato administrativo ou da omissão, de acordo com o estipulado
subalterno a um órgão quase independente, perante o qual o superior no artigo 1949, n 91, do CPA (correspondente ao anterior artigo 1699,
não poderia controlar uma parcela da atividade daquele e, portanto, n ão n9 2, do Código revogado). Isto significa a consagração do recurso per
poderia ser responsabilizado pela sua execução. Como o Direito português saltum, ou seja, “ saltam-se” graus da hierarquia administrativa, recorrendo-
desconhece, regra geral, casos de competência exclusiva do subalterno, o -se diretamente para a estrutura hierárquica de cúpula, para se obter mais
superior poderá sempre pronunciar-se, igualmente de forma geral, avaliando rapidamente uma decisão definitiva, salvo se a competência se encontrar
os atos praticados por aquele, exceto nos casos em que, expressamente, a delegada ou subdelegada. Nestes casos, o recurso há de ser apresentado
lei consagre uma competência exclusiva dos subalternos. junto do delegante.
Todos os atos administrativos praticados, ou a omissão deles quando O requerimento de interposição do recurso hierárquico pode ser apre ¬

devidos, pelo subalterno são sempre passíveis de recurso hierárquico, sentado junto do (i) autor do ato ou da omissão ou da ( ií) autoridade ad
independentemente do tipo de competência do seu autor, a menos que quem a quem seja dirigido, atento o previsto no n9 2 do mesmo artigo mas,
a lei expressamente o impeça. Caso contrário, como vimos, seria admitir neste caso, ( ií) o mesmo será remetido ao autor do ato no prazo de três dias.
a possibilidade de os subalternos poderem praticar atos insuscetíveis de No que se refere à tramitação ou instrução do procedimento do recurso
apreciação pelos superiores, invertendo-se desta forma as próprias estrutura hierárquico, importa notar que, recebido o requerimento impugnatório
e organização piramidal hierárquica da Administra ção Pública. inicial pelo autor do ato ou pelo órgão ad quem, deverá verificar-se se estão
Assim, o CPA deve ser interpretado em termos de admitir a possibilidade reunidas as condições legais para apreciar a impugnação, designadamente,
de recurso hierárquico dos atos administrativos praticados pelo subal ¬ nos termos das disposições conjugadas previstas nos artigos 1939 e 1969
terno ao abrigo de competê ncia exclusiva mas com amplitudes distintas, do CPA (este último correspondente ao anterior artigo 1739 do CPA revo¬
conforme a conciliação que se torna necessário fazer entre o disposto no gado), que dizem respeito, direta e imediatamente, ao recurso hierá rquico,
artigo 1939, que se assume como regra geral, e o disposto no artigo 197s após o que deve o autor do ato, e sempre este, proceder à notificação dos
(correspondente ao anterior artigo 174e do CPA revogado), e desde que| contrainteressados. Deste modo, o artigo 1969 do CPA deveria anteceder o
lei especial não obste a tal faculdade. artigo 1959, por aquela disposição normativa tratar de condições liminares
No que diz respeito à tempestividade do recurso hierá rquico neces¬ que obstam ao prosseguimento efetivo do recurso...
sário208, é de 30 dias, nos termos do disposto no artigo 193s, n9 2, do CPA Os contrainteressados são, designadamente, todos aqueles que têm
interesse, regra geral, na manutenção da decisão recorrida, ou seja, têm
conveniência em não ver o ato administrativo revogado, alterado ou anu-
208
Cfr. as referências anteriormente efetuadas à figura do recurso hierárquico necessário.
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lado, vindo ao processo alegar, no prazo de 15 dias, tudo o que tiverem por Importa assinalar que o órgão ad quem não fica vinculado, como n ão
conveniente sobre a impugna ção e seus fundamentos, atento o disposto poderia ficar, à posição manifestada pelo autor do ato ou da omissão mas,
no artigo 1952, n91, do CPA (correspondente ao anterior artigo 171Q do nesse caso, a decisão proferida há de ser fundamentada de acordo com o
CPA revogado). Por exemplo, no caso de procedimentos concursais, os regime estipulado no artigo 1539, atento o previsto no n 9 2 do artigo 1979
contraintercssados poderão ser todos aqueles que foram opositores ao do Código.
concurso, independentemente de terem ficado em lugar elegível para Nos termos do disposto no artigo 1979, n9 3, do CPA, o órgão compe ¬

ocupação do (s) posto (s) de trabalho colocado(s) a concurso. tente pode, quando existirem razões juridicamente atendíveis, proceder à
São diversos os poderes do ó rgão ad quem , no â mbito da tramitação - Anula çã o total ou parcial do procedimento administrativo que con ¬
procedimental do recurso hierárquico. Assim, o superior hier á rquico duziu à emissão do ato administrativo;
pode sempre, em regra, confirmar ou anular o ato administrativo e, se a
competê ncia do subalterno autor do ato não for exclusiva, revogar, modi¬ podendo ainda
ficar ou substituir o ato impugnado, salvo nos casos em que a lei preveja o
contrá rio, ainda que em sentido desfavor ável ao recorrente. Deste modo, - Determinar a tramitação de nova instrução; ou
o novo CPA parece admitir a reformatio in pejus. Neste caso, podem ser de - Solicitar outras diligê ncias complementares, atento o disposto no
diferentes tipos as decis ões finais do procedimento administrativo: artigo 197a, n9 3, do CPA.
- De rejeição liminar, quando a Administração Pública não conhece do
No caso expressamente previsto no n 9 4, de incumprimento do dever
fundo da causa, atento o disposto no artigo 1969 do CPA;
ídico de decisão, o órgão ad quem pode:
jur
e existindo ato administrativo impugnável, - Praticar o ato omisso, se a competê ncia não for exclusiva do subal ¬
terno, substituindo-o, com base no poder dispositivo da competência do
- De negação de provimento, o que significa a manutenção do ato
administrativo e, portanto a sua confirmação, atento o disposto no artigo
superior hierárquico; ou
- Emanar ordem para a prática do referido ato ilegalmente omisso
1979, n91, do CPA; e
- De concessão de provimento (ainda que parcial); pelo subalterno. Verifica-se aqui a opção do legislador em distinguir entre
competência exclusiva e exercício de poder hierárquico de direção. Pode ¬

mos, no entanto, discutir se, materialmente, a possibilidade de emissão


o que pode implicar:
de ordens no â mbito da competência exclusiva do subalterno não pode
^
- A anula çã o do ato administrativo, por verificaçã o de invalidades legais contrariar a natureza exclusiva de competência atribuída. Importa referir,
ainda assim, que há uma distinção a fazer-se entre a natureza de uma ordem
ou, se a competência do autor do ato recorrido não for exclusiva, e mesmo para a prática de um ato administrativo e a de uma outra ordem em que se
em sentido desfavor ável legalmente admitido, indique o teor do ato a praticar, sobretudo no exercício de competências
discricionárias. Ora, esta última situação não parece ser, aparentemente,
- A revogaçã o do ato administrativo colocado em crise, fazendo cessar:
a vontade do legislador.
administrativamente os seus efeitos;
- A modifica çã o do ato administrativo colocado em crise, alterando:
Em síntese são vários os pressupostos procedimentais de exercício do
o teor do seu conte údo e os seus efeitos, com fundamento em razões dê! recurso hierárquico. Atendamos, por ora, aos principais, que são os seguintes:
mérito; ou
-A substituição do ato administrativo colocado em crise, por outro,j - Impugnabilidade (ou objeto): quanto ao recurso hierá rquico, a regra
substituindo os seus efeitos. geral está consagrada no artigo 1939 do CPA (correspondente ao anterior
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artigo 166Q do Código revogado). Todos os atos administrativos praticados de poderes de supervisão que lhe permitem revogar, alterar ou anular
ao abrigo de uma competência sujeita a poderes de hierarquia administra¬ os atos administrativos praticados pelo outro órgão (anteriormente,
tiva sã o passíveis deste tipo de recurso, independentemente da natureza designado como recurso hierárquico impróprio), atento o consagrado
da competência do seu autor e desde que a lei não exclua tal possibilidade; na alínea a ) do n® 1. No que diz respeito, portanto e em particular, ao
- Oportunidade (ou tempestividade); e anteriormente designado recurso hierárquico impróprio, o artigo 199®,
- Legitimidade dos interessados. n® 1, alínea a ) , do CPA (correspondente ao anterior artigo 176® do CPA
revogado) esclarece que, existindo poder de supervisão209 entre dois
Vejamos o seguinte diagrama: órgãos da mesma pessoa coletiva de Direito Público, sem que entre os
mesmos exista hierarquia administrativa210, poder-se-á recorrer para a
Requerimento inicial estrutura orgânica que exerce aquele poder, impugnando-se, por esta
impugnató rio
(artigo 194.« do CPA) via, o ato administrativo;
it ) Para o órgão colegial, de atos ou omissões dos seus membros,
Notifica ção aos comissões ou secções, de acordo com o teor da alínea b ) , do mesmo
contrai nteressados
n úmero. Também de acordo com o disposto no corpo do n® 1 (corres¬
.
( artigo 195.2 n « 1, do
CPA) pondente ao anterior n® 2 do artigo 176® do CPA revogado), depende
de lei expressa a admissibilidade deste tipo de recurso dos atos de
Interven ção do autor do
diferentes estruturas de ó rgão colegial para o respetivo colégio de
. .
( artigo 195 «, n « 2, do membros ou plenário;
CPA )
iit ) Se existe uma relação de tutela ou de superintendência revogató¬
illigè r
rias ou anulatórias entre órgãos, necessariamente, de pessoas coletivas
diferentes (antigo recurso tutelar) , nos termos da alínea c ) do n® 1 do
artigo 199® do Código (anterior artigo 177® do CPA revogado). Quanto
ao recurso tutelar, agora estudado, a alínea c ) fundamenta a possibili¬
dade de admissibilidade da impugnação de atos praticados para órgãos
que exerçam poderes de superintendência ou de tutela. De referir, no
entanto, que este tipo de recurso é també m sempre excecional, ou seja,
Os prazos para a decisão constam do disposto no artigo 198s do CPA. o CPA somente admite a figura do recurso tutelar quando lei particular
o consagrar expressamente; e
. .
6.2 22 Dos recursos administrativos especiais iv) recurso delegatório211, sempre que existe delegação ou subdele-
Os recursos administrativos especiais, nos termos do previsto no artigo gação de poderes (atento o teor conjugado das disposições previstas no
199® do Código, podem ser exercidos nas seguintes situações jurídico- n® 2 do artigo 199®, no n® 2 do artigo 49® e no n® 4 do artigo 169® do CPA).
-
-administrativas e desde que expressamente previstos na lei o que sig ¬

nifica afirmar que, ao contrário do recurso hierárquico, são excecionais e, 209


Este poder administrativo traduz a faculdade de revogação, de anulação ou de substitui¬
se não tiverem consagra ção legal, os interessados não podem utilizá-los: ção dos atos administrativos.
m Caso em que se recorreria através do recurso hierá
rquico.
211
i) Se entre dois órgãos não existe hierarquia administrativa, em¬ Pode ser necessário autonomizar esta modalidade de recurso gracioso, que
bora integrem a mesma pessoa coletiva, e o órgão ad quem disponha abrange, designadamente, as situações de delegações de poderes intersubjetivas,
ou seja, entre órgãos de pessoas coletivas de Direito Público diferentes. Pelo menos
CURSO SOBRE O NOVO C Ó DIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

Importa referir que, no caso destes recursos administrativos especiais,


deve analisar-se, em concreto, o enquadramento legal da supervisão e a
sua amplitude, atentas as diferenças de autonomia dos diferentes órgãos
e das diferentes pessoas coletivas de Direito Público presentes na relação
jurídico-pública, já que implicam o confronto entre dois órgãos da mesma
ou de duas pessoas coletivas distintas, respetivamente, mas com amplos e
aprofundados graus de autonomia.
No âmbito dos recursos administrativos especiais, o recurso hierárquico
impróprio e o recurso tutelar, nos termos do disposto, respetivamente, nas
alíneas a) e c) do ns 1do artigo 199a do CPA (correspondentes aos anteriores
artigos 176a, na 3, e 177a, na 5, do CPA revogado), têm um regime jurídico
normativo estabelecido por remissão para o do recurso hierárquico, de acor¬ Anexos
do e com as adaptações previstas no disposto no artigo 199a, na 5, do CPA.

6.3. Recomendação
O estudante deve ter um conhecimento aprofundado sobre o regime
jurídico das garantias administrativas, designadamente, das garantias
impugnatórias.

6.4. Exercício formativo


d) Diga que tipo de garantias dos administrados conhece;
b) Distinga reclamação de recurso;
c) Elenque as espécies de recursos administrativos previstos no CPA;
d) Distinga recurso hierárquico necessário de recurso hierárquico
facultativo e refira-se à atual relevância contenciosa daquele;
e ) Refira-se à tramitação do recurso hierárquico; e
f ) Indique em que situações podem ser utilizados os recursos admi¬
nistrativos especiais.

nestas situações, a autonomia desta figura tem pleno cabimento, não se confun¬
dindo com os recursos hierárquicos próprios e impróprios, embora possa ser, even¬
tualmente, confundível com o recurso tutelar.

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