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MARIA JOAO ESTORNINHO

Assistente da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e da Universidade Catélica

Dissertacdo de Mestrado
em Ciéncias Juridico-Politicas

(REIMPRESSAO)

ALMEDINA
CAPITULO 2

ADMINISTRACAO
AUTORITARIA OU CONTRATUALIZADA?
(OS MODELOS FRANCES E ALEMAO)

7. Um modelo revolucionario (Franca) vs uma atitude


conservadora (Alemanha)?

8. O contrato juridico-ptiblico alemao.

9. O modelo tradicional do contrato administrativo francés.

10. (Cont.) Os novos papéis do contrato administrativo francés.

11. O fim do acto administrativo?


7. Um modelo revolucionario (Franca) vs uma
atitude conservadora (Alemanha)?

7.1. O segundo equivoco da Teoria classica do contrato


administrativo pode exprimir-se através de um silogismo, cujas premis-
sas Sao:
— a doutrina francesa estava orgulhosa da sua construcao do
contrato administrativo e acreditava que ele era o simbolo de
uma nova Administracao, moderna e ‘‘revolucionaria’’;
— da Alemanha chegavam ecos da negacao da admissibilidade do
contrato de direito publico. |

Com base nessas premissas, aS conclusOes que Se retiraram, nesta


- matéria, foram:
— que a doutrina alema adoptava uma posicao conservadora;
— que as figuras concebidas posteriormente pela doutrina alema
(como, por exemplo, o acto administrativo bilateral) nao eram
mais do que uma “‘imitagao’’, ainda que tardiae incipiente, do
sistema francés.

: Esta ideia fundamental pode ser desdobrada numa série de


— conchisdes que os autores de inspiracao francesa formularam acerca
daquela que acreditavam ser a doutrina maioritaria alema:
— a figura do contrato seria, na Alemanha, considerada incom-
pativel com o proprio espirito do Direito Publico;
— issojustificaria a grande relutancia em aceitar a admissibilidade
da figura do contrato de direito publico (e, por maioria de
razio, o cepticismo. e resisténcia face ao contrato
administrativo francés);
4? Requiem pelo Contrato Administrativo Administracdo Autoritadria ou Contratualizada? 43

— um grande nimero de autores alemaes teria, no entanto, polos de uma escala, na qual os actos administrativos de sujeicao e os
acabado por se ‘‘render’’e reconhecer alguns dos casos de actos administrativos bilaterais ocupariam posicOes intermédias’”’ (7).
contratos juridico-publicos da doutrina francesa; Contudo, mais importante do que isso, é€ que os autores de
— mas isso teria acontecido apenas numa medida muito limitada inspiracd4o francesa, chocados perante a afirmagao da inadmissibilidade
e porque ‘‘empurrados’’ pelas proprias circunstancias e nao de do contrato no Direito Puiblico, preocuparam-se essencialmente em
forma espontanea ou de “‘livre vontade’’; rebaté-la e nao prestaram grande atengao ao facto de ela nao aparecer
— em termos quantitativos, a admissibilidade de contratos da Ad- isolada, mas antes acompanhada por uma segunda afirmagao. Se ¢€ certo
ministracdo Publica seria, assim, muito menor no ordenamento que se dizia ser 0 contrato repugnante a ess€ncia do Direito Publico,
alemao do que no francés; concluia-se logo em seguida que ele “‘poderia ser adoptado pelo Estado
— também em termos qualitativos, nao parecia ser possivel equi- quando este travasse relagées de Direito privado”’ (”*).
parar a natureza juridica do classico contrato administrativo Esta segunda afirmacao foi encarada como uma ideia menor,
‘francés a natureza destas novas figuras do ‘‘acto administrativo destitufida de grande significado ou relevancia pratica. No fundo,
bilateral’? ou do ‘‘contrato de direito publico’’ alemao. também em Franca se permitia a Administracgao a celebragao de
contratos de direito privado. Mas, precisamente por se entender que se
O segundo ‘‘equivoco’’ da Teoria francesa do contrato administra- tratava de casos relativamente restritos e, sobretudo, por se considerar
tivo consistiu, assim, em ‘‘auto-convencer-se’’ do seu caracter pioneiro, que essa técnica nao era favoravel ou adequada a prossecugao do interesse
apregoando com alguma imodéstia que a Franca teria sempre piblico, se havia sentido a necessidade de recorrer a nova figura do
assumido, em matéria de contratualizagao da Administragao uma contrato administrativo. Este vinha, assim, juntar-se como categoria
posicéo moderna e de vanguarda, ao passo que a Alemanha se teria ‘“intermédia’’? aquelas que eram as duas formas tradicionais de actuagao
quedado, quantitativa e qualitativamente, por uma posic¢ao cautelosa e da Administrac4o — o contrato privado e as técnicas autoritarias.
conservadora. | Partindo desta concep¢ao tripartida das formas de actuagao admi-
E verdade que a doutrina alema maioritaria, partindo da ideia de nistrativa e do preconceito francés acerca da menor relevancia dos
OTTO MAYER de que ‘‘o Estado s6 manda unilateralmente’’ (”), contratos privados, a conclusao que obviamente se retirou da recusa
afirmou sero contrato ‘‘uma forma repugnante a propria esséncia do daquela categoria intermédia foi a de que a Administragao alema
Direito publico’’ (’°). actuaria sobretudo através das suas prerrogativas de autoridade.
No entanto, importa recordar que nem sempre havia sido rejeitada
a admissibilidade da figura do contrato de direito publico na Alemanha.
LABAND considerava como exemplos desses contratos 0 provimento e o 7.2. Trata-se, na minha opiniao, de uma forma superficial e
proprio acto de naturalizagao e JELLINEK aceitava simultaneamente egocéntrica de encarar 0 sistema alem4o de contratualizagao da Admi-
quer a existéncia dos contratos juridico-publicos, quer a das novas nistracao. ‘‘Superficial’’, na medida em que partiu do esquecimento de
figuras dos actos administrativos bilaterais e de sujeigao. Para este uma das duas proposicGes nas quais se baseava a concep¢ao inicial dos
ultimo autor, ‘ a absoluta unilateralidade de certos actos administrativos autores alemaes; ‘‘egocéntrica’’, porque avaliou a realidade alema
e a bilateralidade dos contratos de Direito publico constituiriam os dois utilizando as medidas, as ‘‘bitolas’’ do sistema francés, o que inevita-
velmente conduziu a confus6es e enganos.

(7) Cit. por GARRIDO FALLA, “‘Tratado...’’, cit., II, p.32. (7) Cit. por SERVULO CorREIA, ‘‘Legalidade...’’, cit., p. 345.
(7°) MARCELLO CAETANO, ‘‘Manual...’’, cit., I, p.575. (78) MARCELLO CAETANO, ‘‘Manual...’’, cit., I, p.575.
44 Requiem pelo Contrato Administrativo Administracao Autoritdria ou Contratualizada? 45

Parecem-me ser dois os vicios principais deste raciocinio: por um acreditar tratar-se de situagGes passiveis de serem objecto da celebracao
lado, aceita como indiscutivel que o contrato administrativo éo0 sinal de contratos de direito privado. Foi, por exemplo, o caso dos primeiros
da modernidade, representando a evolucao no sentido de uma Adminis- ‘contratos administrativos — os de fornecimento de bens e os de realizacdo
tracéo contratualizada e, por outro, infere da recusa do contrato admi- de obras =, que se resolviam no Direito alemao através de contratos de
nistrativo a conclusao de que a Administracao alema s6 em casos raros direito privado.
€ pouco significativos recorreria a técnicas contratuais. Quando, pelo contrdrio, se colocou o problema do contrato de
Em relagao ao primeiro “‘vicio’’ e, por paradoxal que A primeira direito publico (‘‘6ffentlich-rechtlich Vertrag’’), aquilo que estava em
vista possa parecer, julgo que o contrato administrativo nao foi o tal causa era uma realidade completamente diferente. Pensava-se agoraem
‘‘sinal da modernidade’’ mas sim, pelo contrario, uma “‘invengao’’ da tarefas verdadeiramente publicas, tarefas que pela sua natureza, peloseu
doutrina francesa para encobrir 0 recurso pela Administragao a técnicas contetido, eram exercicio tipico da funca4o administrativa. E em relagao
autoritarias, em Areas onde tal Ihe costumava ser vedado. O contrato a estes casos-limite de exercicio do préprio poder administrativo que
administrativo surgiu quando a Administragao comecou a sentir-se neste momento se coloca a questao do recurso a formas contratuais, 0 que
‘‘espartilhada’’ nos esquemas contratuais rigidos do Direito Privade, explica a reluténcia que se sentiu em relacaéo a sua admissibilidade.
nos quais nao podia mover-se a seu bel-prazer nem podia, nomeada- Pode assim concluir-se que, em Franga, aquilo que se pretendeu
mente, alterar as clausulas ao sabor das variagées do interesse publico. foi que tarefas que anteriormente sé podiam ser realizadas através de
Punha-se, assim, fora de questao que tais problemas pudessem contratos privados, pudessem passar a Ser objecto da celebragao de
continuar a ser resolvidos nos termos tradicionais do Direito Privado. contratos administrativos — ou seja, que a Administragao pudesse
No entanto, também repugnava que a Administracao fosse permitido, passar, ainda que de forma eventual,a empregar as suas prerrogativas de
em tais casos, o recurso a solucao unilateral e autoritaria. Por estas duas autoridade para resolver tais situagdes. Na Alemanha, pelo contrario,
o problema do ‘‘contrato de direito ptiblico’’ andou associado a
razoes, a nica solucao possivel foi a da criacgao do “‘expediente’’ do
contrato administrativo que, sob a forma contratual, escondia uma aceitacao do facto de a Administracao poder, em certos casos, prescindir
realidade na qual a Administragao poderia, em Ultima instancia, recorrer do exercicio do poder administrativo que até ai utilizava e passar a
as suas prerrogativas de autoridade. resolver essas situagdes através da celebracgao de acordos com os
particulares.
Em relagao ao segundo dos ‘‘vicios’’ da concepgao tradicional,
Ecurioso notar quea doutrina de inspiracdo francesa, estava tao
julgo que a recusa do contrato administrativo nao foi, em si mesma,
convencida de que representava a tal evolucao positiva, que pretendeu
sintoma da existéncia de uma Administragao autoritaria. Por outro
ver na consagracao do ‘‘contrato de direito publico’’um ténue reconhe-
lado, quando posteriormente a doutrina alema reconheceu alguns casos
cimento do seu proprio ‘‘contrato administrativo’’ e, por isso, afirmou
de contratos juridico-piblicos, nfo se tratava de qualquer tentativa
ser a divergéncia terminolégica insignificante. Aconselhou mesmo a
tardia para alcangar o nivel de evolucao francés mas, pelo contrario,
que, onde se lesse ‘‘6ffentlich-rechtlich Vertrag’’, se deveria entender
estava-se ja um “‘passo adiante’’ em relacao a ele.
indistintamente ‘‘contrato de direito publico’’ou ’’contrato administra-
A afirmacao inversa resultava de nao se tomar em consideragao 0 tivo’? (MARCELLO CAETANO)(”).
facto de esses contratos ‘‘novos’’ e ‘‘revolucionarios’’ franceses
serem encarados pelos autores alemaes, de uma forma natural, sem
sobressaltos, como casos tipicos de contratos privados da
(7) Vd. MARCELLO CAETANO, ‘‘Conceito...”’ , cit., p.41, onde, devido a con-
Administragao. Nao se tratava de nao querer admitir os contratos sciéncia de que a identificagéo terminolégica é artificial, afirma que vai tomar
administrativos franceses, mas sim de nao sentir tal necessidade! Isto ‘‘praticamente como sindnimas as duas expressOes — contrato administrativo e
verificava-se, nao porque tais casos fossem resolvidos de forma contrato de Direito publico’’ porque Prescanee de ‘‘discutir essa categoria juridica
unilateral e autoritaria pela Administragao, mas porque se continuava a tal como a doutrina italiana e alema a concebe’’
46 Requiem pelo Contrato Administrativo Administracado Autoritdria ou Contratualizada? 47

7.3. E fundamental reconhecer que o “‘contrat administratif’’ eo No sistema politico e administrativo francés, pelo contrario, o
‘“Offentlich-rechtlich Vertrag’’ correspondem a realidades distintas, Estado foi considerado nao apenas o ente publico superior, mas também
nao havendo sequer no plano terminol6gico uma verdadeira identidade ‘‘o nico que intervém por direito prdéprio no trafico juridico-adminis-
mas apenas uma mera semelhanga. Alias, aos poucos, comega a despon- trativo e, como tal, ente piblico constitutivo dos demais’’ (MARTIN-
tar a consciéncia do caracter profundamente errado dessa pretensa -RETORTILLO)(®). Os contratos de direito piblico s6 sao, assim, pensaveis
equiparacao entre os dois sistemas, reconhecendo-se que se trata de ‘‘em virtude da presenca do Estado e sob o signo da colaboragao com
“‘dois fendmenos juridicos diferentes’’ (MARTIN-RETORTILLO) (®), sem ele’? (MARTIN-RETORTILLO) (*). Como consequéncia, a importancia
‘“qualquer conexao mutua’’ (MARTIN-RETORTILLO) (°'). Na minha de eventuais contratos celebrados por esses entes puiblicos, a margem do
opiniao, pode mesmo falar-se em dois ‘‘modelos’’ ou ‘‘matrizes’’ proprio Estado, foi sempre muito reduzida.
originaria e tendencialmente diferentes quanto 4 forma de conceber a Em relacao ao segundo problema — o de saber qual o direito
contratualizagao da Administracao. | aplicavel aos contratos dos entes publicos — opdem-se a “"vocagao
Estes modelos resultaram, antes de mais, da prépria evolucao universal’’ do Direito Administrativo francés e o caracter meramente
que em Franca e na Alemanha se verificou — de forma muito diferente parcial do Direito Pablico alem4o. A obra da Revolugao foi, em Franga,
—em relacéo 4s concepgdes sobre as funcdes do Estado e A forma de uma ‘‘obra de destruicéo’’ (RIVERO) (*) que pretendeu romper com o
organizacgao e funcionamento da Administrac4o Publica. A este propdsito, _passado e a sua ordem juridica. ‘‘Sobre o solo assim aplanado”’
colocam-se dois problemas principais. Em primeiro lugar, o de saber procurou-se construir ‘“‘uma Administragao racional, uniforme e
quem pode contratar — se s6 o Estado ou também as demais entidades coerente’’ (RIVERO) (*), sujeita a um regime juridico proprio.
publicas —,o0 que depende sobretudo da existéncia ou nao de um sistema Na formacao do Direito Administrativo alemao ha, pelo contrario,
administrativo centralizado. Em segundo lugar, o de saber a que direito um direito que permanece e que se mantém na sua formulagao inicial,
estao sujeitos os contratos celebrados pelas entidades publicas — se ao ‘‘talvez porque afalta de unidade politica impedisse a brusca e total
Direito Publico ou ao Direito Privado —, 0 que depende do regime substituicdo que se viu no Direito francés’’ (MARTIN-RETORTILLO)(*’).
juridico aplicavelem geral 4 Administracdo Publica (*). O Direito Administrativo nao tem, na Alemanha, a ‘‘vocacao globali-
Fm relagao ao primeiro problema, importa ter presente que a zante’? que apresenta em Franca ou em Espanha, desenvolvendo--se
tradicao alema é ade o Estado nao exercer um monopolio directo sobre muitas das relacdes juridicas da Administragao —e, assim, a maioria
as fungoes publicas, distribuindo-se estas como tarefas préprias entre dos seus contratos — sob a égide do Direito Privado.
os varios entes publicos. Daquiresultou a capacidade destes entes para
celebrarem, por si proprios, contratos de direito pubblico sem qualquer 7.4. Importa ainda ter presente uma outra diferenga essencial entre
necessidade de referéncia ao Estado. Assim se compreende a enorme estes dois modelos de contratualizacéo da Administragao. No sistema
importancia pratica que estes contratos, aceites de uma forma generali- francés ‘‘puro’”’ ou inicial, o contrato administrativo era uma forma de
zada, sempre assumiram na actividade administrativa alema. os particulares colaborarem com a Administragao, para que esta rece-
besse os bens e servicos de que precisava ou para que pudesse levara
cabo 0 seu novo papel de ‘‘Administragao de prestagao’’. Pelo contrario,

(8°) SEBASTIAN MARTIN-RETORTILLO, ‘‘La Institucion Contractual en el


Derecho Administrativo: en Torno al Problema de la Igualdad de las Partes’’, in
“Studi in Memoria di Guido Zanobini’’, II, Mil4o, 1965, pp.219 e segs., p.226. (8) MARTIN-RETORTILLO, ‘‘La Institucion ...’’, cit., p.230.
(®') MARTIN-RETORTILLO, ‘‘La Institucion...’’, cit., p.220. (84) MARTIN-RETORTILLO, ‘‘La Institucion ...”’, cit., p.231.
() Quanto a esta evolucao hist6rica vd., para além de MARTIN-RETORTILLO, (>) JEAN RIVERO, ‘‘Direito...’’, cit., p.27.
‘“La Institucion...’’, cit., também NORBERT ACHTERBERG, ‘‘Allgemeines Ver- (8°) JEAN RIVERO, ‘‘Direito...’’, cif., p.27.
waltungsrecht’’, 2°ed., Heidelberg, 1986, pp.40 e segs.. (87) MARTIN-RETORTILLO, ‘‘La Institucion ...’’, cit., p.241.
48 Requiem pelo Contrato Administrativo Administracdo Autoritdria ou Contratualizada? 49

no modelo alemao, 0 contrato de direito piblico permitia a colaboracio (MUNCH) (°°). Prevalece a ideia da conexao do objecto do contrato
entre entidades ptblicas e, mais tarde, o desempenho por estas de com ‘‘ uma matéria que se deve julgar de Direito publico’’ (MAU-
algumas das suas tarefas tradicionais de ‘‘Administracdo agressiva’’. RER) (*’). Assim, existe um ““contrato administrativo’’ especialmente
Esta diferenga permite compreender, por exemplo, 0 siléncio quando CYC): |
inicial da doutrina alema sobre a actividade contratual da Administra- — ele serve para a execucao de normas juridico-publicas;
cao. Numa época em que a discussao da ciéncia juridica incidia — através dele a Administracgao assume deveres de prestacao que,
essencialmente sobre o problema da sujeicao da actuacao da ‘‘Adminis- sem mais, sao de qualificar como juridico-publicos (por exem-
tragao agressiva’’ acontrolos juridicos, era natural que acelebracao de plo, o dever de praticar um acto administrativo) (7);
contratos de direito privado pela Administracaéo Piblica, embora — ele prevé uma autorizacao ou dever de direito publico para o
existisse, nao Causasse preocupacgdes. S6 quando se passou a admitir a cidadao.
execucao de tarefas tipicas da ‘‘Administragdo agressiva’’ através de
formas contratuais € que esse siléncio inicial foi ultrapassado. Dois problemas principais tém sido colocados na Alemanha, a
Esta diferenga permite, por outro lado, compreender que em Franca proposito do contrato juridico-publico. Por um lado, a questao da
a preocupagao fundamental tenha sido a de assegurar que a Administra- alternativa entre o acto administrativo e o contrato administrativo e, por
cao nao se ‘“comprometesse’’ demasiadamente através da celebracao de outro, o de saber se quando actua através de contrato, a Administragao
contratos com os particulares. Na Alemanha, pelo contrario, o principal “também tem liberdade quanto ao contetido da actuacio (%).
problema foi sempre 0 de assegurar que o particular nao fosse Interessa aqui, neste momento, apenas a primeira dessas questoes
prejudicado pela celebracao de contratos e que nestes fossem respeita- -e, emrelacao aela,a opiniao generalizada é ade que a VwVIG de 1976
das as garantias anteriormente previstas de forma minuciosa para a tera consagrado ‘‘a admissibilidade geral do contrato administrativo,
‘pratica dos actos administrativos que os contratos agora vinham como forma de actuac4o’’ (MUNCH) (*"). De facto, ao permitiro recurso
substituir. 4 forma contratual, ‘‘desde que nao exista norma juridica em
A diferenga radical entre as matrizes francesa e alema de contratua- contrario’’, olegislador de 1976 parece ter ‘‘aberto o caminho para um
lizagao da Administragao permite ainda mostrar o cardcter profunda- util alargamento deste instituto juridico’’ (PUTTNER) (°°). O contrato
mente errado e sem sentido, da tendéncia que se verifica em alguns
sistemas juridicos — nomeadamente o nosso — para tentar ‘‘encaixar’’
elementos importados do modelo alem4o, num sistema cuja estrutura | (8) INGO VON MUNCH, ‘‘Verwaltung und Verwaltungsrecht im demokrati-
basica foi moldada 4 semelhancga do modelo contratual francés. Por schen und sozialen Rechtsstaat’’, in ‘‘Allgemeines Verwaltungsrecht’’, HANS-UWE
agora, importa aprofundar essas caracteristicas essenciais do modelo ERICHSEN/WOLFGANG MarTENS, 7%ed., Berlim, 1986, pp.1 ¢ segs., p.289.
(°°) HARTMUT Maurer, “‘Allgemeines Verwaltungsrecht’’, 4*ed., Munique,
alemao de contrato juridico-ptiblico e do modelo francés de contrato
1985, p.282.
administrativo. : (°°) Vd. HARTMUT Maurer, ‘‘Allgemeines...’’, cit., p.282.
: (?') Vd. HANS WoLFF/OTTO BACHOF, ‘‘Verwaltungsrecht’’,I, 9%ed., Munique,
_ 1974, p. 346, onde aponta como exemplos principais: “‘Austauschvertrage’’, ‘* Ver-
_ gleichsvertrage’’, “‘Auftragsverhaltnisse’’,’’Dienstvertrage’’, Verfigungsvertrage
”’.
8. O contrato juridico-piblico alem4o. (°°) Vd. HANS-UWE ERICHSEN / WOLFGANG MARTENS, “‘Das — Verwaltungs-
handeln’’, in ‘‘Allgemeines...’’, cit., ERICHSFN/MARTENS, cit., pp.131 e segs., p.281.
: (°) Cfr. VOLKMAR GOtz,’’Hauptprobleme des verwaltungsrechtlichen Ver-
-trages’’, injJuS, 1970, pp.1 e segs., p.2.
8.1. Na Alemanha, o contrato de direito piblico tem sido sempre
(°*) INGO VON MUNCH, ‘‘Verwaltung..."’, cit., p.292.
identificado como aquele em que ‘‘ao dever juridico-privado do (°°) GUNTER PUTTNER, ‘‘Wider den 6ffentlich-rechtlichen Vertrag zwischen
particular se contrapde um dever juridico-piblico da Administracao’’ ~ Staat und Birger’, in DVBL, 1982, pp.122 e segs., p.122.
50 Requiem pelo Contrato Administrativo Administracao Autoritadria ou Contratualizada? 51

juridico-puiblico passaria, assim, a ser


a forma normal de a Administra- -omo, de facto, impedir o alargamento dessa tendéncia. Tratava-se
¢4o resolver oS seus casos concretos, tendo sido estabelecida uma efectivamente de evitar que a Administracao pudesse, através do recurso
verdadeira ‘‘facultas alternativa’’ (ERICHSEN/MARTENS) (°°) entre o forma contratual, escapar as vinculagoes juridico-publicas a que esta
acto administrativo e o contrato. sujeita quando emite um acto administrativo. Nesta medida, a lei
pretendia sobretudo ser “‘um meio de impedir 0 alargamento da actuacao
8.2. Curiosamente, contudo, na pratica nao parece ter havido ontratual, as custas do acto administrativo’’ (HEBERLEIN) (™’).
qualquer florescimento significativo da actividade contratual da
Administragao, nestes anos de vigéncia da VwV{G. Isto leva os mais -. 8.3. Importa ter presente estaideia de que o problema do contrato
radicais inclusivamente a afirmar que a referida ideia de substituicao do de direito piblico tem sido sempre tratado na Alemanha na perspectiva
acto administrativo pelo contrato nao passaria de ““‘uma pura especu- do seu caracter alternativo em relacdo ao acto administrativo. E curioso
lacdo tedrica em que o legislador caiu’’ (PUTTNER)(°’). Outros, porém, notar que a propria ideia da ‘‘norma juridica contraria’’ do § 53 Ab1 Satz1
entendem ser normal que nao se tenha verificado qualquer acréscimo do é interpretada, pela maioria dos autores, no sentido de se tratar de normas
numero de contratos celebrados pela Administragao, uma vez que a lei ue estabelecam que ‘‘a Administracao sé pode decidir através de acto
tera pretendido ser apenas uma consagracao de uma situagao que, na administrativo’’ (MUNCH) (}°) (1°). Ou seja, mesmo o problema de
pratica, j4 existia. ‘‘O principal motivo para a codificacao do Direito aber quando é que nao é permitido 4 Administracao o recurso a
contratual foi o de dar o fundamento anteriormente inexistente a pratica elebragaéo de contratos juridico-piblicos é sempre encarado na
administrativa e o de eliminar as dividas dogmaticas na aplicagao do erspectiva dese tratar de situagdes em que se imp6e a pratica de actos
contrato enquanto forma de actuagao paralela ao acto administrativo”’ ,dministrativos. Nestes casos, no entanto, tem-se entendido que nada
‘(HEBERLEIN) (”°). impede que a Administragéo, paralelamente 4 prdtica desse acto
Tudo teria assim, continuado a passar-se como anteriormente. administrativo a que est4 obrigada, celebre também um contrato. E o
Sintomatico disto mesmo é, alias, o facto de oscontratos de troca xemplo classico da nomeac4o de um funcionario por acto administra-
de prestacdes (‘‘Leistungs-austausch-Vertragen) que no Direito Civil tivo e da celebracao simultaénea de um contrato quanto as condicdes
constituem a grande maioria dos contratos no quotidiano, nao se- uturas de promogao (1%).
rem significativos no Direito Piblico (por exemplo, a ‘“‘Anstaltungs- _ Esta ideia de que o contrato de direito publico ésempre conside-
nutzung’’ é realizada através de actos unilaterais) (*’). Por outro lado, ado uma alternativa em relagao ao acto administrativo (e nao, por
outros dominios sao também de excluir porque, embora neles se xemplo, como uma alternativa em relacdo aos contratos privados, 4
celebrem contratos, estes continuam a ser considerados de direito civil emelhanga do que se passa em Franca) parece, a primeira vista, ser
(sobretudo as relagoes de mandato ou os fornecimentos) (1), fastada pela afirmacao frequente de que tal contrato nao s6 contém por
Pode-se até ir mais longe e, numa visao menos “‘optimista’’, ezes O dever de praticar um acto administrativo, como substitui,
afirmar que a VwVfG nao pretendeu tanto consagrar a situacao ja
existente na pratica, de recurso em termos alternativos ao contrato

('°") INGO HEBERLEIN, ‘‘Wider...’’, cit.,p.765.


('°*) INGO VON MUNCH, “‘Verwaltung...’’, cit., p.292.
(°°) ERICHSEN/MARTENS, ‘‘Das Verwaltungshandeln’’, cit., p.290. (2°) Cfr. HARTMUT MAURER, ‘Allgemeines... ’-cit., p. 294 onde aponta como
(°’) GUNTER PUTTNER, ‘‘Wider...’’, cit., p.123. exemplos dessas situagOes em que normas juridicas contrérias (“‘Entgegenstehende
(°) INGO HEBERLEIN, ‘‘ Wider den 6ffentlich-rechtlichen Vertrag?’’ in DVBL, Vorschriften’’) impOem
i a forma de acto administrativo: nomeagcao de funciondrios
1982, pp.763 e segs., p.763. publicos, nauicagao de impostos, chamada para o servico militar e decisdes sobre
(°°) Vd. GUNTER PUTTNER, ‘‘ Wider...’ *, cit., p.123. exames.
(1°) Vd. GUNTER PUTTNER, ‘‘Wider...’ ’, cit., p.123. : (1°) Vd. HARTMUT MAURER, ‘*Aligemeines...’’, cit., p.295.
52 Requiem pelo Contrato Administrativo Administracao Autoritadria ou Contratualizada? 53

noutros casos, a emissao de um acto administrativo como, noutros ainda, _ diz respeito as condicées de validade juridica, aos efeitos vinculativos,
‘nao esta em qualquer relacao directa com um acto administrativo’”’ aos vicios, a possibilidade de revogacao em caso de alteracdes de facto
(MAURER) ('°). No entanto, os exemplos que se referem de situagoes, e aexequibilidade, hoje a tendéncia é para atenuar ou mesmo eliminar
nas quais o contrato juridico-publico ‘‘nao se limita ao dominio que essas diferencas.
também o acto administrativo atinge mas, pelo contrario, vai mais Também em relagao a menor possibilidade de actuacao do
longe’’ (MAURER) ('°) sao, nem mais nem menos, do que os casos dos particular, as diferengas entre acto e contrato nao sao tao grandes quanto
contratos celebrados entre duas entidades administrativas colocadas em -Aaprimeira vista poderia parecer. Por outro lado, 0 cidadao que celebra
posicao de igualdade juridica! Isto confirma que, no que diz respeito um contrato com a Administracao limita-se, por vezes, a aceitar uma
as relacdes entre a Administracao e os particulares, o contrato juridico- _regulamentacao que provém da Administragao, desde que esteja interes-
-publico é€ sempre considerado pelos autores alemaes como uma sado nas contrapartidas e, por outro, os particulares podem cada vez
alternativa 4 pratica de um acto administrativo ('°”). | _mais intervir e participar no processo de formagao dos actos admi-
nistrativos (1'°).
8.4. Esse caracter alternativo entre o acto administrativo e o
contrato juridico-publico leva a que hoje se entenda que as diferencas
entre estas formas de actuacao administrativa tendem a esbater-se cada
vez mais. 9. O modeio tradicional do contrato
O contrato de direito piblico, tal como o acto administrativo é administrativo francés.
hoje encarado na Alemanhacomo ““‘umaregulamentacao administrativa
_ de um caso concreto, com eficacia exterior’? (MAURER) ('°°), sendo
ambos previstos no § 9 VwVfG como actos de conclusao do processo 9.1. Embora as suas raizes sejam muito antigas ('''), a ideia da
administrativo gracioso. Nessa medida, ao contrato é aplicavel a grande —~associacao do particular a realizacao do interesse publico s6 se desen-
generalidade das disposicgdes da VwVfG ('%). Por um lado, se -volveu verdadeiramente a partir do séc. XIX.
tradicionalmente havia grandes diferencas entre acto e contrato, no que Em primeiro lugar, isso verificou-se porque havia obras e forneci-
-mentos dos quais a pro6pria Administragfo precisava e que, ou nao
conseguia obter por si mesma, ou julgava poder obter a preco inferior,
através de empreiteiros e fornecedores particulares (''’).
(°°) Vd. HartTMuT Maurer, ‘‘Allgemeines...’’, cit., p.285.
(3°) Vd. HarTMUT Maurer, ‘‘Allgemeines...’’, cit., p.276.
(°°) Subjacente a este problema esta a distinc4o entreos contratos de colaboragao
e os de subordinagao. A tendéncia actual na Alemanha é para considerar equivocas C'°) Vd. HarTMUT Maurer, ‘‘Allgemeines...’’, cit., p.293.
estas expresses. Cfr., porexemplo, NORBERT ACHTERBERG, “‘Allgemeines...’’, cit., ('') Vd. Guy BRAIBANT, ‘‘Le Droit...’’, cit., p.121, onde refere como
p.485, onde afirma ser o conceito de ‘‘Koordinationsrechthicher Vertrag’’ uma -exemplos_ histdricos de associagao ao servico publico: os ‘‘condottieri’’ que no
tautologiae o de ‘‘Subordinations rechtlicher Vertrag’’ um paradoxo. Hoje entende- —séc.X VI, na sua qualidade de empresarios de guerra, colocavam o seu exército a
-se que estes conceitos se referem a posicao das partes fora do contrato e independen- disposigao dos principes e mais tarde os ‘‘fermiers généraux’’, encarregados de
temente do facto de estarem em posicao de iguaidade na relacao juridica concreta que -receber os impostos por conta do tesouro real. Cfr. também, a proposito de
se fundamenta no contrato. exemplos ainda mais antigos, referentes ao proprio Direito Romano, ARMANDO
(*°8) HARTMUT MAuRER, ‘‘Aligemeines...’’, cit., p.288. MARQUES GUEDES, ‘“‘O Contrato Administrativo’’, in ‘‘Estudos de Direito Adminis-
('°) Exemplos de normas da VwVfG aplicaveis ao contrato: §§ 2, 10, 11, trativo’’, Cadernos de Ciénciae Técnica Fiscal, Lisboa, 1963, pp. 65 e segs., pp.70
12, 13, 15, 16, 17, 19, 20, 25, 26. Parecem nao ser aplicaveis, pelo contrario, os§§ e 71.
14, 24,31 e52. Vd. WILFRIED WoLFF, “‘Allgemeines Verwaltungsrecht’’, Baden- (2) Vd. MARCEL WALINE, ‘‘L’Evolution Récente- des Rapports de l’Etat avec
-Baden, 1986, p.293. ses Co-Contractants’’, in RDP, 1951, pp.5 e segs., p.6.
m pelo C ontrato Administrativo Administracao Autoritdria ou Contratualizada? 55

‘segundo ‘momento, a Administragao recorreu a colaboracao A partir deste momento, os particulares nunca mais deixaram de
particulares para que estes a ajudassem a desempenhar as suas ~ colaborar com a Administracéo na sua actividade de satisfacio de
actividades de prestagao de bens e servicos. Isto verificou-se numa ‘“necessidades’’ colectivas. No entanto, o espirito que animou essas
- €pocaem que a Administragao, considerando-se guardia do interesse relacdes entre a Administragao e OS seus colaboradores nao foi sempre
publico, pretendeu preservar aquilo que, de uma forma egoista, entendia idéntico, antes foi sofrendo alteragdes significativas a0 longo dos
ser 0 seu monopolio mas a que, no fundo, j4 n4o conseguia dar resposta tempos. Julgo que é possivel distinguir trés fases distintas nesta
satisfatoria. De facto, a Administracao viu-se inevitavelmente ultrapas- evolucao:
sada por tarefas que ela continuava a julgar suas mas que se tornavam
cada vez mais numerosas e variadas (1). Através de um curioso efeito —a fase de ‘‘candura’’;
de ‘““boomerang”’ (PREVOST), é ‘a propria exigéncia da Administracac. —a fase de ‘‘atrito’’;
face as suas tarefas (...) que alevaa chamar, tolerar, admitir ou mesmo —a fase de ‘‘colaboragao’’.
suportar a inger€ncia de particulares que vém suprir as suas caréncias’’(""*),
No inicio, *‘timidamente’’ (ROGERIO SOARES) (1"5), 0 poder _ptiblico 9.1.1. Naprimeira fase, a Administragao Publica aparece no papel
dirigiu-se a sectores pouco apetecidos pelos particulares: distribuicdo de de ‘‘nobreza sem fortuna’? (MAGALHAES COLACO) que, ‘“nao podendo
agua € energia ou comunicacées. Aos poucos, vai mais além e trans- tratar e explorar directamente as herdades, as da de arrendamento a
forma-se numa ‘‘maquina dispensadora de bem estar’’ A qual se pede nao quem, com acultura, por um lado as melhora e alinda ©, por outro, the
sO que seja “‘garantia contra o infortinio’’ mas que assegure ‘‘a proporciona certa participagao nas receitas obtidas’ C"). Como
conservacao de um dado padrao de vida’’ (ROGERIO SOARES) (1°). contrapartida dos enormes riscos que corriam os particulares que
Estava-se na época dos grandes progressos materiais, permitidos colaboravam com a Administracao, esta cedia-Ihes de bom grado ‘‘mil
pelo desenvolvimento do industrialismo e varios foram os factores vantagens’” (MAGALHAES COLACO) (1).
responsaveis pelo facto de a Administragao passar a necessitar da ajuda
Estava-se na era dos grandes empreendimentos dos caminhos de
dos particulares, tornando-se um habito que estes se ‘‘aventurassem’’
ferro, dos transportes urbanose da iluminagao publica a gas. Tratava-
(MAGALHAES COLACO) (1!) a assumir os encargos de certos -se de empresas que, implicando um enorme risco, envolviam
empreendimentos. De entre esses factores, destacam-se trés:
avultados investimentos iniciais e s6 viriam a dar lucro passados varios
— 0 predominio das ideias individualistas que impediam que o anos. ‘‘Homem que arrostava todos estes encargos e s6 esperava lucros
Estado se atrevesse a realizar directamente essas grandes obras ao cabo de se consumirem alguns anos era um bem vindo, a quem a
ptiblicas; Administracao se impunha 0 menos possivele amimava 0 mais possivel,
— a “‘comovente pentria’? (MAGALHAES COLACO) das suas no desejo de ver realizadas as obras publicas”’ (120).
disponibilidades financeiras; Esta colaboracao dos particulares no desempenho de tarefas publi-
— ocaracter aleatério desses empreendimentos. cas nunca teria vingado se, no inicio, a Administragao tivesse pretendido
partes leoninas dos lucros. Alias, como refere MAGALHAES COLACO,
‘“nem essas eram as ideias nem os desejos da época’’ (121).
(‘°) Cfr. JEAN-FRANCOIS PREVosT, ‘‘La Notion de Collaborateur Occasionnel
et Benévole du Service Public’, in RDP n4, 1980, pp.1071 e segs., p.1075.
("*) JEAN-FRANCOIS PREVOST, ‘‘La Notion...’’, cit., p.1076.
(*°) ROGERIO EHRHARDT SOARES, ‘‘Principio da Legalidade e Administragao (''8) MAGALHAES COLAco, ‘*Concessoes...’’, cit., p.15.
Constitutiva’’, in BFDC, 1981, pp.169, e segs., p.175. (''9) MAGALHAES COLACO, ‘‘Concessoes...’’, cit., p.15.
(7'°) ROGERIO SOARES, ‘‘Principio...’’, cit., p.176. (2°) MAGALHAES COLaco, ‘‘Concessoes...’’, cit., p.16.
(7°) MAGALHAES COLAco, ‘‘Concessées...’’, cit., p.14. (7!) MAGALHAES COLaco, ‘‘Concessoes..."’, cit., p.16.
Requiem pelo Contrato Administrativo Administracdo Autoritdria ou Contratualizada? 57

9.1.2. A preocupacao da poupanga pecunidria que esteve sempre we nio aceitavam a ideia de que se encontravam dependentes da ‘‘boa
subjacente a celebragao de contratos pela Administracao foi-se tornando rontade’’ dos concessionérios e de que nada mais se podia fazer a nao
progressivamente mais significativa. Desde o inicio que a Administra- er aguardar “‘o longinquo ano final da concessao para todos se
¢ao, ao escolher o seu contraente particular, era ‘‘dominada pela entirem aliviados’’ (MAGALHAES COLACO) ('*8) e se poderem entao
preocupacao quase exclusiva de obter o fornecimento, obra ou prestacao melhorar as condicdes de exploragao do servico. | ;
ao melhor prego’ (WALINE)('”’). A burguesia, animada por um “‘severo _ A solugao encontrada pela doutrina para resolver estas situacdes
espirito de economia’ (WALINE):('7), aplicava-o aos negécios do foi, como jareferi, ade considerar que, pela celebracao do contrato, a
Estado que era chamada a gerir, 4 imagem dos seus proprios negocios Administracao nao se despoja da sua missao publica podendo, por isso,
privados. todo o momento, exigir do seu contraente as adaptacées de que o
Aos poucos, 0 particular passou a ser considerado como urn -_jnteresse publico necessite. :
adversério da Administracao, possuidor de interesses opostos ao cdo
Estado (**), iniciando-se uma fase de atrito e mal-estar nas relac6es entre
a Administragao e os seus contraentes. 9.1.3. S6neste século, nos meados da década de trinta, se verificou
|
Este ambiente de conflito gerou-se, em parte, por culpa do -aalteracdo profunda das relac6es entre o Estado e os seus contraentes,
contraente particular que, animado de um espirito de lucro, pretendia que permitiu ultrapassar a situacdo de atrito e iniciar uma nova fase
a todo o custo recuperar, 0 mais depressa possivel, os investimentos -de verdadeira colaboracféo. Esta modificacéo resultou, nao de
realizados inicialmente. Por isso, descurava frequentemente | Iteracdes significativas da legislacao ou dos textos regulamentares, mas
a
manutengao dos empreendimentos geridos e, sobretudo, prescindia da sim de uma nova atitude da Administracao face aos seus contraentes.
sua actualizacao de acordo com os rapidos progressos_ técnicos: e - Aos poucos, a Administragao apercebera-se de que fazia um
industriais ('*). Por outro lado, a Administracdo tomou consciéncia -“mau-negécio’’ (WALINE)('”’), inclusivamente do ponto de vista pecu-
de que, as clausulas estabelecidas no contrato que tinha tido ‘nidrio. Relegado para posicao de adversdrio sobre quem recaia o TISco das
‘‘a
imprudéncia de celebrar’’ (WALINE) ('*°), aimpediam de vir posterior- ‘modificacdes e adaptagoes impostas pelo caracter mutavel do interesse
mente exigir a sua alteracdo e, nomeadamente, a sua adequacao as -publico, o contraente particular procurava minorar Os seus danos,
melhores condic6es técnicas que entretanto se tinham tornado possiveis. -reduzindo a propria qualidade dos seus fornecimentos ou dos materiais
"Ja ia longe a época de ser-se grato aos concessionarios!”’ utilizados.
(MAGALHAES COLAGCO) ('”’). Esquecido o enorme esfor¢o inicial Em segundo lugar, o caracter continuado da execucao dos contratos
daqueles que haviam sido considerados_ verdadeiros beneméritos, a e aS maiores exigéncias técnicas, que implicavam um esforco conjunto
preocupacgao dominante era agora a de encontrar maneira de contornar do contraente particular e dos gabinetes de estudo da Administragao,
as clausulas originais dos contratos e de as adaptar As novas necessi- fizeram com que a intervencao do particular perdesse a sua natureza
dades. Esta preocupacao era tanto mais grave quanto a Administracao precaria e ganhasse um estatuto mais estavel e duradouro.
se via constantemente pressionada pelos utentes dos servicos publicos Finalmente, uma terceira razao foi ainda responsavel pelo facto de
O particular se tornar, aos poucos, um ‘“‘auxiliar semi-permanente”’
(WALINE) (°°) da Administragao e um seu verdadeiro colaborador: o
(°°) MARCEL WALINE, ‘‘L’Evolution...’’, facto de muitos desses particulares terem acabado por se colocar numa
cit., p.6.
(°°) MARCEL WALINE, “‘L’Evolution...”’, cit., p.6.
('*) Vd. MARCEL WALINE, ‘‘L’Evolution...’’, cit., p.5.
(>) Vd. MAGALHAES CoLaco, ‘‘Concessées...’’, cit.,p.34.
('78) MARCEL WALINE, ('*8) MAGALHAES COLACO, ‘“‘Concessoes...”’, cit., p.36.
“T*Evolution...’’, cit., p.6.
(*°’) MAGALHAES CoLaco, ‘‘Concessées... (°°) MARCEL WALINE, ‘‘L’Evolution...’’, cit., p.10.
”’, cit., p.34. (3°) MARCEL WALINE, ‘‘L’Evolution...’’, cit., p.36.
58 Requiem pelo Contrato Administrativo Administracao Autoritadria ou Contratualizada? 59

situacao de dependéncia econdédmica em relacao a prépria Administra- -qusa esse espirito de colaborac4o e instalar de novo o receio e a
cao. Preocupada em assegurar a continuidade do servico publico, a -desconfianga, sobretudo numa €poca de crise economica em que, obvia-
Administracao foi forgada a ajudar cada vez mais 0 seu contraente mente, os particulares nao estarao interessados em que recaiam sobre si
particular, no plano financeiro ('*'). A este respeito, tem-se dito de forma _s riscos inerentes 4 mutabilidade do interesse publico.
expressiva que ‘‘o casamento da autoridade publica com 0 empresario
privado passou de um regime de separacao de bens, para um regime de
comunhao’’ (RIVERO) ('°?).
Este novo espirito de colaboracaéo Administracio/particular, 10. (Cont.) Os novos papéis do contrato
traduziu-se juridicamente numa série de medidas, de entre as quais administrativo francés.
WALINE ('°?) destaca as seguintes:
10.1. Como se viu, ha ja algum tempo que em Franca nada era
— diminuigao dos processos automaticos para aescolha do -considerado ‘“mais banal’? (LAUBADERE) ('*°) do que a celebracao de
contraente particular (caracter paiblico e aberto dos concursos -contratos entre a Administracgao e os particulares. No entanto, o contrato
e consideragao de outros critérios que nao 0 preco); | lesempenhava tradicionalmente um papel definido: ele era o meio por.
— modificagdes na redacgao dos contratos (assangdes passam celéncia através do qual o particular colaborava com a Administragao,
a ter sobretudo caracter preventivo e intimidat6rio; o mecendo-lhe os bens e servicos de que ela necessitava ou ajudando-
interesse na continuidade do servico leva a Administragao a a desempenhar as suas fungdes de Administracao-prestadora. Pelo
prestar-se a revisao dos precos e ao pagamento de indemni- ntrario, quando se tratava de actividade administrativa propriamente
zacoes); ta, o meio normal continuava aser a_ via unilateral ou autoritaria.
— liberalizagao da Jurisprudéncia, tendendo a alargar as van- Era, de facto, através de regulamentos, autorizagdes, concessoes,
tagens para o particular; — imposic6es ou proibicdes, que a Administracao ‘‘administrava’”’ (LAUBA-
— melhoria das condicgoes de financiamento a proporcionar ao DERE) (1°).
particular, inclusivamente em momentos anteriores ao inicio Assim, a Administracéo por via contratual surge, no sistema
da execucao do contrato. "francés, num momento relativamente recente e 6 encarada como uma
verdadeira novidade ('°’). Foi o alargamento crescente da intervengao
_ do Estado na vida social que, colocando a questao da eficacia da actuacao
9.2. Actualmente, comega a colocar-se a questao de saber se esse -administrativa, foi responsdvel por essa utilizagio mais alargada dos
estatuto-de colaborador, conquistado para o contraente da Administra- _ métodos contratuais.
¢ao, nao estara de novo a ser ameacado ('**). O uso desmedido de : O Direito Administrativo assentava tradicionalmente na ideia da
““clausulas exorbitantes’’, desfavoraveis ao particular, podera pér em _ desigualdade dos sujeitos de direito e na atribuigdo ao ente adminis-
trativo de poderes de autoridade sobre o particular. A Administracao era,
no séc.XIX, encarada com desconfianca e esperava-se que ela reduzisse
(3!) Vd. PROSPER WEIL, ‘‘Direito...’’, cit., p.49.
(8%) Cit. por PROSPER WEIL, ‘‘Direito...’’, cit., p.49.
(133) MARCEL WALINE, ‘‘L’Evolution...’’, cit., pp.15 e segs.. (5) ANDRE DE LAUBADERE, ‘‘Administration et Contrat’’, in ANDRE DE
(**) Vd. MIGUEL DOMiNGUEZ-BERRUETA DE JUAN, ‘‘Garantias en el _ LAUBADERE/ANDRE MATHIOT/JEAN RIVERO/ GEORGES VEDEL, ‘‘Pages de Doctrine’,
Cumplimiento Contractual: Penalidades y «Estipulatio Poenae»’’, in RAP n°104, Il, Paris, 1980, pp.239 e segs., p.239.
1984, pp.43 e segs., p.75 onde refere o abuso da ‘‘stipulatio poenae’? como um dos : (°°) ANDRE DE LAUBADERE, ‘‘Administration... > cit., p.239.
factores responsaveis por esse eventual retrocesso. (37) Vd. ANDRE DE LAUBADERE, ‘‘Administration...’ ’, cit., p.239.
60 Requiem pelo Contrato Administrativo Administracdo Autoritdria ou Contratualizada? 61

ao minimo possivel a sua intervencao na esfera individual dos adminis- s quais a actividade administrativa tipica aparece como objecto do
trados. O melhor sistema juridico era assim aquele que visasse limitar ordo celebrado entre a Administragao e o particular (’*).
aactuacao da Administracgao e sobre ela exercesse controlo apertado. _ Ha, assim, contratos administrativos através dos quais os
A partir do momento em que o cidadao passa a exigir a rticulares colaboram com o sector publico, passando a desempenhar
intervencéo da Administragao e que se alarga de forma incomensuravel tividades administrativas e ha contratos administrativos nos quais,
o numero de tarefas que esta deve desempenhar, o Direito Adminis- jo contrario, a Administragao Publica colaboracomo sector priva-
_ trativo classico torna-se num peso, num mero “‘registo de proibicdes do('*). No primeiro caso, “‘o contrato administrativo associa o
initeis’’ (DEBBASCH) “°*), nao permitindo assegurar uma gestao efi- sarticular ao desempenho de atribuicdes administrativas’’ (MARCELLO
ciente da actividade administrativa. .Um Direito Administrativo (CAETANO), no segundo, “‘o contrato administrativo associa a Adminis-
concebido para administrados ‘‘défendeurs”’ revela-se inadequado para -tracao ao desempenho de actividades privadas’’ (FREITAS DO AMARAL\('*),
proteger administrados ‘‘démandeurs’’ (DEBBASCH) ('””). Julgo, no entanto, que esta segunda categoria referida j4 nao
Por outro lado, se a via autoritaria era adaptada a uma sociedade gota os “‘contratos de administragao’’ nos dias de hoje, uma vez que
onde o nivel cultural era baixo, nos dias de hoje, a Administracao nao esses contratos podem abranger outras situacOes que nao as de
pode, frequentemente, “‘agir, se nao conseguir convencer’’ (DEB- laboragao da Administragao com o particular. Se é verdade que certas
BASCH) (!“°). Torna-se, de facto, mais facil administrar com a adesao do ntervengoes da Administragao na vida economica, no comércio externo
-administrado, do que contra a sua vontade. A Administracao aprendeu yu na execucao do plano—areas propicias a celebragao de contratos de
que € preferivel ter o particular como participante (quase co-autor) do idministracao ('*°)— podem configurar hipoteses de colaboracao da
que como mero destinatario ou subordinado (141). Isto vai, alias, de dministragao com Os particulares, também é certo que se podem
encontro as preferéncias do administrado que hoje pretende ser ouvido duzir noutro tipo de situacdes. |
e participar nas decisOes administrativas. De uma forma genérica, pode dizer-se que os contratos de
Finalmente, devido a enorme expansao da intervencao do Estado, ministracao ('*”) existem sempre que o administrado aparece no
a via autoritaria nao é susceptivel de ser utilizada, a nao ser que se ontrato ‘‘enquanto administrado e ja nao enquanto auxiliar da Adminis-
transforme a Administragao numa “‘gigantesca maquina repressiva’”’ cao’? (LAUBADERE) ('"*).
(DEBBASCH) ("“*).
A par da Administragao por via autoritaria passa, também em 10.3. Nos paises de tradigao administrativa francesa, podem hoje
Franca, a coexistir uma Administracao contratualizada, mesmo na area distinguir-se trés categorias autonomas de contratos celebrados entre a
tipica de exercicio de poder administrativo.

10.2. Ao lado dos tradicionais contratos de colaboracdo, apare-—


cem assim aqueles a que se pode chamar contratos de administracao, ('°) Vd. ANDRE DE LAUBADERE, ‘‘Administration...’’, cit., p.240.
- ('*) Vd. DioGO FREITAS DO AMARAL, ‘‘Direito Administrative” (Licdes
policop.), HI, Lisboa, 1985, p.421.
: ('*°) FREITAS DO AMARAL, ‘‘Direito...’’, cit., III,p.422.
(38) CHARLES DEBBASCH, “Le Droit Administratif face 4 Evolution de _ ('*°) Vd. ANDRE DE LAURADERE, ‘ Administration...”, cit., p.247.
l’Administration Frangaise’’, in ‘‘Mélanges Offerts a Marcel Waline’’, II, Paris, ('*”) Constituem exemplos desses contratos: acordos amigdveis para a
1984, pp.343 e segs., p.345. lransfer€ncia consensual de imdveis que deveriam ser sujeitos a processo de
(°°) CHARLES DEBBASCH, ‘‘Le Droit...’’, cit., p.350. xpropriagao (tendo havido a declaragao de utilidade ptiblica, evita-se
o acto
('*°) CHARLES DEBBASCH, ‘‘Le Droit...’’, cit., p.350. €xpropriatério), contratos de concessao e contratos no 4mbito urbanistico. Cfr.
('*!) Vd. ANDRE DE LAUBADERE, ‘‘Administration...’ ’ cit., p.240. -ENzo Roppo, ‘‘O Contrato’’, (trad.), Coimbra, 1988, p.345.
(1%) CHARLES DEBBASCH, ‘‘Le Droit...’’, cit., p.351. (7) ANDRE DE LAUBADERE, ‘‘Administration...’’, ‘cit., p.240.
62 Requiem pelo Contrato Administrativo Administracao Autoritdéria ou Contratualizada? 63

Administragaoe os particulares: os contratos de direito privado, os com as notas que tradicionalmente vem marcando o Direito publico”’
contratos admiunistrativos e estes novos ‘“‘contratos de administra- (ENTERRIA/FERNANDEZ) (°*). Trata-se de situagoes de verdadeira
¢ao”’ ('*°).
desigualdade das partes, em que a Administragao participa como
Nas duas primeiras categorias, a Administracao actua como «‘potentior persona’’, dotada de prerrogativas de autoridade.
‘‘cliente dos empresarios privados, isto €,num terreno de simples _. Bem vistas as coisas, e como que por ““‘ironia do Destino’’, sé
colaboragao ou intercambio patrimonia!’’ (ENTERRIA) (°°). Ja vimos agora se coloca nos paises de inspiracao francesa a questao que, ha um
no primeiro capitulo (‘5') que a distincdo entre essas duas espécies— século, preocupava a doutrina alema.
contratos privados e contratos administrativos —, resultou da interpre-
tagao que, num determinado momento historico, foi feita do principio
de reparticao da competéncia jurisdicional. 11. O fim do acto administrativo?
No caso dos contratos que se integram na terceira categoria, pelo
contrario, trata-se de situagdes essencialmente diferentes. Estes contra- : 11.1. Aos poucose um pouco por todo o lado—embora em Franca
tos nao encontram paralelo no Direito contratual privado porque ‘‘nao num momento mais recente e de forma ainda incipiente — coloca-se a
supdem nenhum exemplo de colaboracdo patrimonial entre partes, um questao das modificagdes nao apenas quantitativas, mas tambem
fendmeno econdémico de intercambio mas antes, pelo contrario, um qualitativas do contrato, enquanto forma de actuagao da Administragao
simples acordo sobre a medida de uma obrigacao, de uma vantagem, Publica.
tipicas de uma relacao de submissao juridico-piblica previamente , A variedade e a riqueza das instituigdes a que hoje se atribui o
estabelecida entre a Administragao e a pessoa que com ela epiteto de ‘‘contratual’’ ou ‘““convencional’’ nao pode “‘deixar de causar
contrata’’(ENTERRIA) ('°*). Nestes casos, a Administracao ‘‘n4o trata impressao’’ (LAUBADERE) ('°°). Civilistas ha que comegam mesmo a
de se prover de bens e servicos, mas sim directamente administra celebrar a ‘‘vit6ria’’ do contrato sobre a actividade da Administragao _
através de acordo’’ (ENTERRIA) (’°°). Publica (°°). Tradicionalmente, a relagao Administracao /contrato era
Hoje em dia, nos sistemas de inspiracao francesa, a questao sobretudo uma relacao de conformacdo, traduzida na sujeicéo da
fundamental que se coloca é a de saber se os contratos administrativos sao liberdade contratual dos particulares as limitagoes definidas pelas
ou nao, em termos substanciais, diferentes dos contratos privados e ja intervencdes administrativas. Posteriormente, (e embora essa primeira
nao ade saber se sao verdadeiros contratos. Curiosamente, essa velha faceta tenda também a aumentar significativamente), verifica-se um
polémica da aparente contradicao entre a figura do contrato e do Direito processo pelo qual o contrato passa a ser um instrumento da propria acgao
Publico renasce agora, ja nao em relacao aos contratos administrativos, administrativa. De mero ‘‘objecto da intervencao ptblica’’, .o contrato
mas aproposito desta nova categoria de ‘‘contratos de administracao’’. transforma-se num seu ‘‘meio insubstituivel’’ (ROPPO) (’°’).
Tudo gira de novo em torno ‘‘da contradigao que parece dar-se ao Ao substituir progressivamente os tradicionais meios de actuacao
pretender-se inserir no Direito publico a figura «par excellence» do unilateral da Administracéo, 0 contrato conquista ‘“‘papéis
Direito privado, o contrato, figura que parece dificilmente conciliavel qualitativamente novos’’ (ROPPO) ('*%). LAUBADERE pergunta se nao
nos encontraremos ja perante uma ‘‘orientagao nova na propria

('**) Em Espanha, aos contratos dessa terceira categoria chamam-se ‘‘concier-


tos’’. Vd. ENTERRIA/FERNANDEZ, “‘Curso...’’, cit., [,p.619. ('*4) ENTERRIA/FERNANDEZ, ‘‘Curso...’’, cit., I, p.624.
(°°) ENTERRIA/FERNANDEZ, ‘‘Curso...’’, cit., I, p.620. (5°) ANDRE DE LAUBADERE, ‘‘Administration...’’, cit., p.239.
(°°!) Vd. supra, em especial pp.20 e segs., max. p.22. ('5°) Vd. Enzo Roppo, ‘‘O Contrato’’, cit., p.342.
(°°?) ENTERRIA/FERNANDEZ, ‘‘Curso...’’, cit., I, p.620. ('°) ENzo Roppo, ‘‘O Contrato’’, cit., p.342.
(°°) ENTERRIA/FERNANDEZ, ‘‘Curso...’’, cit., I, p.621. ('88) ENzo Roppo, ‘‘O Contrato’’, cit., p.344.
64 Requiem pelo Contrato Administrativo Administracdo Autoritaria ou Contratualizada? 65

maneira de administrar’’ e se, no fundo, a administracao por via acto administrativo enquanto conceito centrale ponto de referéncia’’
contratual nao se tera tornado um ‘‘estilo de intervencao tao corrente (‘als Zentralbegriff und Bezugspunkt’’) (ERICHSEN/MARTENS) ('’) da
como a administracao por via de regulamentagao e accao unilateral, que _dogmatica juridico-administrativa.
parecia mais classica’’ (°°). . Com o reconhecimento dos direitos subjectivos contra o Estado, a
Em ultima instancia, através dos valores que exprime, o contrato _dogméatica juridico-administrativa encaminhou-se para ‘‘o entendimento
coloca-se ““como simbolo e suporte de um novo e mais avangado modelo da ordem juridica (...) como conjunto de relagdes juridicas’’
de relacao entre autoridade e libérdade’’ (ROPPO) ('®). Para muitos, _(ACHTERBERG) (’°*).
isto significa uma ‘‘reanimagao do contrato social’’, uma manifestac4o : O direito subjectivo publico foi nessa medida considerado como
daquilo a que se chamou o ‘‘Estado concordatario’’ ou, pura ¢ _afigura juridica que “‘libertou
o particular do seu papel de puro objecto
simplesmente, um sintoma de uma renovacao geral do papel do contraio do poder soberano’’ (‘‘bloBes Objekt hoheitlichen Waltens’’) e o
no Direito ('°'). -elevou ao estatuto de sujeito juridico que pode ser titular de uma
-_pretensdo face a Administragao, podendo exigir-lhe um ‘‘fazer,
11.2. Este fenOmeno inseré-se num processo complexo, no qual o tolerar ou omitir’’ (‘‘em Tun, Dulden oder Unterlassen’’) (ERICHSEN/
Estado tem vindo a adoptar ‘‘modelos organizatérios novos e compli- _ MARTENS) (?%). A relacdo juridica passa a ser atribuida uma ‘‘posic4o
cados’’ (NIGRO) ('%), de entre os quais se podem salientar: a fuga para | central no Direito administrativo’’, de verdadeiro ‘‘novo ponto de
.© Direito Privado, a administracao através de instrumentos legais ou ~Arquimedes’’ (ERICHSEN/MARTENS) (!”), pilar de uma nova construcao
a difusao de um modelo contratual através do qual a Administragao, em istematica ('"). : :
vez de impor ‘‘uma orientacgao ou ditar um acto, «acorda» com os O acto admunistrativo tende a ser cada vez mais encarado
proprios destinatarios da accao a solucao para o problema administrativo “como o produto de uma época juridico-estadual passada’’ (SCHMIDT-
ou até politico’’ (NIGRO) ('*). Nesta evolucao, 0 acto administrativo --SALZER) ('”). Se se levasse as suas tltimas consequéncias a ideia de
tende a perder “‘a sua posicao de protagonista nas relac6es entre o que 0 reconhecimento destas novas formas de ‘‘contrato de
Estado e os cidadaos’’ (NIGRO) (*%). administragao’’ correspondia a uma verdadeira interferéncia na relacao
A dependéncia do cidadao em relagao 4 Administragao é cada Estado-cidadao, ser-se-ia forgado a encarar o acto administrativo como
vez ‘‘mais intensa, mais duradoura e mais ampla’’ (ERICHSEN/MAR- uma mera ‘‘reliquia de um tempo passado”’ (‘‘als_ Relikt einer
TENS) ('°). Janao é possivel pensar em termos de relacdes meramente vergangenen Zeit’’) (SCHMIDT-SALZER) ('”).
bilaterais Administracao-particular porque cada particular esta hoje A esta pusicao extrema de total contratualizagao da Administracao
implicado numa ‘‘rede de ligacdes pluridimensionais’’ (‘‘in einem Publica se contrapdem, nao sé os defensores de uma posi¢ao intermédia
_ mehrdimensionalen Beziehungsgefiige) (ERICHSEN/MARTENS) ('°). A
_ questao que se coloca éa de saber se nao sera ja altura de “‘desistir do
(1°) ERICHSEN/MARTENS. ‘‘ Das Verwaltungshandeln’’, cit., p. 134.
('%°) NORBERT ACHTERBERG,’’Allgemeines...’’, cit., p.381.
(1) ERICHSEN/MARTENS, ‘‘Das Verwaltungshandeln’’, cit., p.150.
(°°) ANDRE DE LAUBADERE, ‘‘Administration...’’, cit., p.239. (17°) ERICHSEN/MARTENS, ‘‘Das Verwaltungshandein’’, cit., p.134.
('°°) ENZO Roppo, ‘‘O Contrato’’, cit., p.342. ('") Sobre os antecedentes filos6ficos, sociolégicos, politicos e juridicos da
('°') Vd. ANDRE DE LAUBADERE, ‘‘Administration...’’, cit., pp.239 e 240. Teoria da_ relacdo juridica, Vd., por exemplo, NORBERT ACHTERBERG, ““Alige-
(1°) Mario NiGro, ‘‘Giustizia...’’, cit., p.34. meines...’’, cit., pp.367 a 371.
('?) MARIO Nicro, ‘‘Giustizia...’’, cit., p.34. ('”) JOACHIM SCHMIDT-SALZER, “‘Tatsachlich und ausgehandelter Ver-
('*) MARIO NIGro, ‘‘Giustizia...’’, cit., p.34. waltungsakt, zweiseitiger Verwaltungsakt und verwaitungsrechtlicher Vertrag’’, in
('®) ERICHSEN/MARTENS, ‘‘Das Verwaltungshandeln’’, cit., p.134. VerwArch, 1971, pp.135e segs., p.144.
_ (7) ERICHSEN/MARTENS, ‘‘Das Verwaltungshandeln’’, cit., p.134. (9) JOACHIM SCHMIDT-SALZER, ‘‘Tatsachlich...’’, cit., p.144.
66 Requiem pelo Contrato Administrativo Administracdo Autoritdria ou Contratualizada? 67

de complementaridade ou alternatividade entre 0 acto administrativo eo tiva da “‘pré-ordenagao de um certo numero de accdes voluntarias do
contrato, mas também os partidarios da dispensabilidade da propria homem com vista ao fim para o qual o procedimento é querido’’
celebracao de contratos. Para estes, o acto administrativo também pode (BORTOLOTTY (*’*).
resultar de “‘relagoes de coordenacao’’ e, cada vez mais, implica a Hoje, a actividade admunistrativa tende a ser encarada numa
participacao dos seus destinatarios na sua prdpria elaboracao. Assim, perspectiva global, na qual assumem _relevancia comportamentos
os contratos juridico-piblicos admitidos pela lei, nao passariam de que podem, ou nao, ser pré-determinados legalmente e que podem
meros “‘actos administrativos com participacao especialmente intensa expressar-se através de actos materiais, técnicos, organizatorios,
do destinatario’’ (‘mit héchstintensiver Beteiligung des Betroffenen’’) operativos, cognoscitivos, inspectivos, decisOrios ou mesmo extra
(SCHMIDT-SALZER) (1) (27). procedimentais ('”’). A ideia principal € a de que perde cada vez mais
11.3. Um outro aspecto fundamental onde se reflectem estas novas relevancia a tradicional distingao em termos rigidos entre 0 “‘acto’’ ea
formas de conceber a actividade administrativa é o da crescente ‘“‘actividade’’ uma vez que ‘‘o todo € a accao administrativa’’
relevancia que tem vindo a assumir a propria actividade processual da (BORTOLOTTI) (°°).
Administragao, quer quando esta actua através de actos administrativos A conclusao a retirar é a de que a accao administrativa, enquanto
quer quando celebra contratos. consequéncia de actos, actividades, operagdes e comportamentos, traduz
A uma Administracgao Publica que se configura como um ver- a realizacdo de uma funcao que tem relevancia, nado apenas como
dadeiro “‘sub-sistema politico’’ (NIGRO) ('°) parecem apresentar-se procedimento, mas como atitude que visa o desenvolvimento dessa
apenas duas soluc6es possiveis: ‘‘ou a Administrac4o se desenvolve funcao ('®'). Essa ‘‘atitude’’ traduz-se hoje, nao em assegurar a
totalmente a margem da lei e do direito, como forca politica pura e conformidade da actividade administrativa a uma ordem normativa pré-
inconstituida’’ ou entao “‘conquista uma nova e mais adequada -existente (‘‘legalidade-legitimidade’’), mas sim em ‘‘dar vida, através
legalidade ou juridicidade, a qual nao pode ser sen4o uma legalidade da participagao e do confronto de todos os interessados co-envolvidos,
processual’’ (NIGRO)(*”). —- a uma justae original composicao de interesses’’ (‘‘legalidade-justica’’)
Tradicionalmente, a accao administrativa foi estudada sempre -(NIGRO) ('°7).
na perspectiva da sua manifestacao mais tipica, o acto administrativo.
Nessa perspectiva, 0 processo de formagao da vontade da Administra-
cao foi sempre relegado para um plano secundario, na medida do seu
caractet puramente instrumental em relacao ao fim que através dele se
pretendia alcancar. O procedimento administrativo foi visto na perspec-

(7) SCHMIDT-SALZER, ‘“Tatsdchlich...”’, cit., p.152.


('”) Esta posicgéo parece reflectir uma confusdo entre 0 contrato e o acto
administrativo com consentimento. Acerca desta diferenca e da solucdo, quer no
Direito portugués quer no Direito alemao, Vd. SERVULO CoRREIA, ‘‘Legalidade...’’,
cit., pp.344 e segs. (18) DARIO BORTOLOTTI, ‘‘Attivita Preparatoria e Funzione Amministrativa’’,
('°) Mario Nicro, ‘‘Procedimento Amministrativo e Tutela Jurisdizionale Milo, 1984, p.92.
contro la Pubblica Amministrazione (il Problema di una Legge Generale sul (') Vd. DARIO BORTOLOTTI, “‘Attivita...’’, cit., p.97.
Procedimento Amministrativo)’’, in ‘‘Rivista di Diritto Processuale’’, 1986, pp.252 ('8°) DaRIO BorTOLOTTI, ‘‘Attivita...’’, cit., p.108.
e segs., p.261. ('8') Vd. DARIO BORTOLOTTI, ‘‘Attivita...’’, cit., p.210.
('””) Mario Niro, ‘‘Procedimento...’’, cit., p.261. (182) MARIO Nicro, ‘‘Procedimento...’’, cit., pp.261 e 262.
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