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3ª ed., Napoli, Jovene Editore, 1999; Reis, José Alberto dos, Código
de Processo Civil anotado, vol. II, 3ª ed., reimpressão, Coimbra, Coim-
bra Editora, 1981; Varela, Antunes, «O direito de acção e a sua natu-
reza jurídica», in Revista de Legislação e de Jurisprudência, Ano 125º,
pp. 325 e ss.; Zanzucchi, Marco Tullio, Diritto processuale civile, vol. I
(diritto processuale generale), Milano, Giuffrè, 1936.
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Entre nós, em 1957, Castro Mendes publicou uma obra intitulada «o
direito de acção judicial» e, mais tarde, Antunes Varela, escreveu, na Revista de
Legislação e de Jurisprudência, Ano 125º (1992-1993), pp. 325 e ss., um trabalho
extenso e profundo sobre o tema (O direito de acção e a sua natureza jurídica). Na dou-
trina estrangeira, cumpre destacar as obras de Hellwig, Anspruch und Klagrecht,
1900; Degenkolb, Der Streit und den Begriff des Klagrechts, 1905.
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«Azione», in Nuovo Digesto Italiano, UTET, Torino, 1937, p. 93.
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poder de agir
perante os tribunais
poderes de direito
material: usar, doar,
vender, etc.
Exemplo: direito de
propriedade
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Nas palavras de Mortara, Manuale della procedura civile, vol. I, p. 14, a tese
clássica partia da ideia de que o exercício do direito de acção se fundava, de forma
indefectível, na existência de um direito e na ocorrência da respectiva violação.
4
Justiniano, Instituta, Livro IV, Título V.
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Cfr. Castro Mendes, O direito de acção judicial, p. 191. Como explica L. Mari-
noni, Teoria geral do processo, p. 163, “para Savigny o direito de ação era um direito
resultante da “transformação” pela qual o direito material passaria após ter sido
lesado. Daí o motivo pelo qual propôs o conceito de “metamorfose” para ilustrar a
situação».
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Die actio des römischen Civilrechts, vom Standpunkte des heutigen Rechts, Düssel-
dorf, 1856.
8
Cours de Code Napoléon, vol. IX, Paris, 1881. Ver outras frases emblemáticas em
Castro Mendes, O direito de acção judicial, p. 188. Não se pense, contudo, que, no
século XX, não existiram Autores a defender esta tese clássica. Invrea, por exem-
plo, afirmou que onde há um direito subjectivo há o direito de acção e que este,
insistia o jurista italiano, estava contido no direito subjectivo (Interesse e azione,
R.D.P.C., 1928, p. 335).
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Die Allgemeinen Lehren und das Sachenrecht des Privatrechts Preußens und des Rei-
chs, 5 Auf., Halle, Verl. der Buchh. des Waisenhauses, 1894, p. 263.
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Mortara, em 1913, observou, com agudeza, o seguinte: «É necessário dizer
que a afirmação da ofensa sofrida num direito pode corresponder ou não à verdade
(...); é possível que aquele direito cuja ofensa é afirmada não exista de facto ou que
exista mas não tenha sido efectivamente violado» (Manuale della procedura civile, vol.
I, pp. 13-15).
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Como explica Lebre de Freitas, Código de Processo Civil anotado, vol. 1º, p.
5, «o direito de acção não é uma emanação do direito subjectivo privado nem
depende da sua existência, bastando à constituição do processo e ao consequente
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(1900-1903), vol. I, p. 16. Note-se que Chiovenda, em 1901 («Azione», in Diz. dir.
priv.) ainda defendia que a acção era o «diritto stesso fatto valere».
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Diritto processuale, vol. I, p. 231.
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Cfr. Antunes Varela, Manual de processo civil, pp. 14 e ss.
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Castro Mendes, O direito de acção judicial, p. 160.
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Istituzioni del processo civile italiano (1956), vol. I, p. 193.
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direitos direito de
subjectivos acção
materiais
interesses
legalmente
protegidos
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Fundamentos del derecho procesal civil, p. 52.
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O desrespeito por este dever pode originar o crime de denegação de justiça
(artigo 369º do Código Penal).
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Castro Mendes, p. 78. Vide também A. Pekelis, «Azione», in Nuovo Digesto
Italiano, UTET, Torino, 1937, p. 94: «A acção, no seu sentido técnico, surge por causa
da proibição da acção no seu sentido comum, ou seja, no sentido de acção física».
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Cfr. Castro Mendes, O direito de acção judicial, p. 86, e Lebre de Freitas,
Introdução ao processo civil, p. 79.
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que se faz representar nas prestações a que fica adstrito, por uma
classe especial de representantes orgânicos, os magistrados e funcio-
nários judiciais»24.
No início do século XX, Chiovenda defendeu que o juiz, em
rigor, não estava obrigado perante as partes, mas perante o Estado
que representa. Logo, segundo o seu entendimento, o direito de
acção não era o direito a uma prestação estadual, mas antes um
direito perante o adversário. Em rigor, um direito potestativo, na
medida em que por via do seu exercício se alcançava uma modifica-
ção jurídica. Dizer-se que consiste num direito contra o Estado não
passa ‒ no pensamento do célebre processualista ‒ de uma cons-
trução sem importância25. Esta visão das coisas, porém, não se nos
afigura correcta, na medida em que omite o pólo perante o qual se
exerce, directamente, o direito de acção, que é o tribunal (Estado).
Em caso de incumprimento da prestação, a responsabilidade recai,
aliás, sobre o Estado.
24
O direito de acção judicial, p. 82.
Cfr. Saggi di diritto processuale, vol. I, p. 265.
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Castro Mendes, O direito de acção judicial, p. 111. A ideia de que a acção (azione
cognitiva) prescinde da efectiva existência e titularidade do direito norteou, pode
dizer-se, a doutrina italiana ao longo do séc. XX (assim, Carpi, Mandrioli, Proto
Pisani, Verde, Andrioli, Grasso, Denti, Tommaseo, La China, Montesano).
Cfr. o Estudo exaustivo de E. Fazzalari, «La dottrina processualistica italiana:
dall’azione al processo (1864-1994)», in Studi in onore di Luigi Montesano, vol. 2,
pp. 136 e s.
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Fundamentos del derecho procesal civil, p. 56.
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Cappelletti, L’eccezione come controdiritto del convenuto, R.D.P., 1961, p. 274,
entende que, num primeiro momento, o direito de acção tem o conteúdo mais abs-
tracto possível: é o direito a uma qualquer decisão, mesmo se exclusivamente pro-
cessual; depois, num segundo momento, encontrando-se preenchidos os requisitos
de ordem processual, o direito de acção transforma-se no direito a uma decisão
sobre o mérito. O direito de acção teria ainda um terceiro momento: estando a pre-
tensão juridicamente fundada, o juiz tem o dever de a julgar favoravelmente.
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Chiovenda, Instituciones, vol. I, p. 58, recorre ao termo «expectativa», a pro-
pósito do direito de acção. E o mesmo faz Zanzucchi, Diritto processuale, vol. I,
p. 56, insistindo que não há mais do que uma legítima expectativa à sentença justa.
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decisão, mas não garante o seu conteúdo como favorável (come favo-
revole) ou o resultado como frutuoso (come fruttuoso)»30.
O que pode hoje dizer-se, isso sim, quanto ao conteúdo do direito
de acção, é que este comporta o direito a uma decisão justa (o direito
à justa composição do litígio) e em prazo razoável31-32. Mas que quer
isto verdadeiramente significar? Vejamos.
Objecto da acção, nas palavras de Castro Mendes, «é uma
sentença justa, devendo abstrair-se do seu conteúdo concreto» 33.
Este ponto é extremamente importante e fundamenta-se na Lei nº
67/2007, de 31 de Dezembro, um diploma que consagra o «Regime
da Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado e demais Enti-
dades Públicas». Com efeito, dos artigos 12º e 13º deste diploma,
inseridos num capítulo dedicado à responsabilidade civil por danos
decorrentes do exercício da função jurisdicional, resulta que a pessoa que
exerce o direito de acção tem direito não só a uma decisão em prazo
razoável, mas também a uma decisão respeitadora da Lei (Fundamental
e ordinária) e que não assente num erro grosseiro na apreciação dos factos
(erro judiciário).
O artigo 13º, nº 1, diz-nos que «o Estado é civilmente responsável
pelos danos decorrentes de decisões jurisdicionais manifestamente
inconstitucionais ou ilegais ou injustificadas por erro grosseiro na
apreciação dos respectivos pressupostos de facto.»
Se os juízes cometerem estas espécies de falhas, a parte ofendida
poderá, perante um tribunal administrativo, de acordo com o disposto
Diritto processuale civile italiano, 11ª ed., Roma, Foro Italiano, 1936, pp. 81 e ss.
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Note-se que, à partida, nem sequer existe o direito a uma decisão de fundo
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Cfr. Acórdão da Relação do Porto, de 19/12/2007 (Pinto de Almeida), C.J.
2007, t. V, pp. 196 e ss.
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Cfr. Proto Pisani, Lezioni, p. 214. Entre nós, ver Paula Costa e Silva, Acto e
processo, p. 150. Para E. Fazzalari, «La dottrina processualistica italiana: dall’azione
al processo (1864-1994)», in Studi in onore di Luigi Montesano, vol. 2, p. 138, o
direito de acção integra uma série de faculdades, poderes e deveres, precisamente
aqueles que são assegurados ao autor ao longo do processo até à decisão de mérito.
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Artigo 100: «Per proporre una domanda o per contraddire alla stessa è necessario
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avervi interesse.»
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Diferentemente, o Código de Processo nos Tribunais Administrativos prevê,
no artigo 39º, o «interesse processual no domínio das acções de simples aprecia-
ção»: «Os pedidos de simples apreciação podem ser deduzidos por quem invoque
utilidade ou vantagem imediata, para si, na declaração judicial pretendida, desig-
nadamente por existir uma situação de incerteza, de ilegítima afirmação por parte
da Administração, da existência de determinada situação jurídica, ou o fundado
receio de que a Administração possa vir a adoptar uma conduta lesiva, fundada
numa avaliação incorrecta da situação jurídica existente.»
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Satta defendeu a impossibilidade de conceber um interesse processual dis-
tinto do interesse material ou substancial. Cfr. Commentario al Codice di Procedura Civile,
I, p. 339 e ss.
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É o caso de Redenti, que via o interesse processual como a «quinta roda do
carro» («quinta ruota del carro»).
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Pisani, Lezioni di diritto processuale civile, p. 333; E. Grasso, «Note per un rinnovato
discorso sull’interesse ad agire», in JUS (Rivista di Scienze Giuridiche), Gennaio-
-Giugno 1968, fasc. I-II, p. 368.
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Diritto processuale civile italiano, 11ª ed., Roma, Foro italiano, 1936, p. 79.
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Cfr. Acórdão da Relação de Coimbra de 10/9/13 (Jorge Arcanjo).
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Ricci, «Sull’accertamento della nullità e della simulazione dei contratti
come situazioni preliminari», in Studi in onore di Luigi Montesano, vol. 2º, p. 614,
entende que o interesse mencionado no artigo 100 do Código de Processo Civil
italiano implica a análise da relação de utilidade entre a providência requerida e a
situação apresentada e não se confunde com a legitimidade.
44
Droit processuel, 1re ed., Paris, Dalloz, 2001, p. 814.
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Cfr. Luiso, Diritto processuale civile, I, p. 208.
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Cfr. Proto Pisani, Lezioni di diritto processuale civile, p. 334.
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Istituzioni di diritto processuale civile, p. 127.
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W. Zeiss/K. Schreiber, Zivilprozessrecht, p. 81.
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Caso relatado no Acórdão do S.T.J. de 10/4/1984 (Melo Franco), B.M.J.
nº 336, pp. 372-377.
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Não se pense, porém, que a falta de prova dos factos alegados gera,
de forma automática, a violação da boa fé processual. As coisas não
podem passar-se deste modo, pois nem sempre é fácil demonstrar a
veracidade dos factos alegados e qualquer juiz sabe que, na esmaga-
dora maioria dos litígios, não é possível alcançar a verdade absoluta.
Somente é considerada litigante de má fé a parte que alega factos com
a plena consciência de estar a mentir ou procede a essa alegação de
forma descuidada, sem se preocupar minimamente com a eventual
falta de rigor daquilo que conta ao tribunal.
3º) Por último, a parte não pode servir-se do processo para alcan-
çar um fim ilegal (por exemplo, afectar a reputação de um médico ou
de um advogado) ou levantar incidentes desnecessários com o mero
intuito de atrasar o andamento do processo (por exemplo, levantar o já
estudado incidente da suspeição com a única finalidade de atrasar o
processo).
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fixada entre 2 UC e 100 UC» ‒ antes só podia ser fixada entre 0,5 UC
e 5 UC, sendo que o valor da UC é de € 102), não reveste a natureza
de uma sanção penal, mas antes de uma sanção de cariz processual.
A multa traduz uma reacção contra o «jogo sujo» da parte que afec-
tou, através de uma conduta desonesta, incorrecta e desleal, a boa
administração da Justiça.
De acordo com a norma agora citada, o montante da multa
depende, por um lado, dos efeitos que o acto teve na «regular trami-
tação do processo» e na «correcta decisão da causa», e, por outro, da
«situação económica do agente» e da «repercussão da condenação
no património deste.»
É entendimento pacífico que o juiz não deve, sem ouvir a parte,
aplicar essa multa. Pode fazê-lo, sim, mas cumprindo o disposto no
artigo 3º, nº 353.
O artigo 531º prevê uma taxa sancionatória especial, mas, segundo
o artigo 27º do Regulamento das Custas Processuais, «a parte não
pode ser simultaneamente condenada, pelo mesmo acto processual,
em multa e em taxa sancionatória especial.»
53
Ver Acórdão do Tribunal Constitucional nº 440/94, B.M.J. nº 438, p. 84.
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A jurisprudência tem entendido que o pedido de indemnização só pode
ser feito no processo em que a litigância de má fé tem lugar. Cfr. Lebre de Frei-
tas/Montalvão Machado/Rui Pinto, Código de Processo Civil anotado, vol. 2º,
p. 222.
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Alberto dos Reis, Código de Processo Civil anotado, vol. II, pp. 277 e ss.
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Ver Acórdão do S.T.J. de 12/10/1999 (Silva Paixão), C.J. (Acórdãos do S.T.J.)
1999, t. III, pp. 52-53. Na doutrina, cfr. Paula Costa e Silva, Litigância de má fé,
p. 593.
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