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Prova de TGP

1) Explique a natureza do Ministério Público:


No contexto do Brasil República, no início do século XX, a atuação do
Ministério Público situava-se dentro do Poder Judiciário. Com a Constituição de
1967, no artigo 126, foi atribuído ao Ministério Público o encargo de
representação dos interesses do Poder Executivo em juízo, sendo assim, é
pertinente salientar que ele ainda estava incluso como órgão do Poder
Judiciário. Nesse âmbito, torna-se evidente que essa função destoava dos
objetivos da Instituição e contribuía para o enfraquecimento da independência
dos membros desta. Por isso, a Constituição de 1988 ceda-lhe expressamente
“a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas (art. 129,
inciso IX).

A emenda constitucional n° 1 da Constituição de 1967 coloca o Ministério


Público entre os órgãos do Poder Executivo, ao contrário do estabelecido pelo
texto original.

A definição constitucional de hoje, contida no artigo 127 da Constituição


Federal explana: “O Ministério Público é instituição permanente, essencial à
função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do
regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”.

Infere-se, dessa maneira, que o Ministério Público é configurado como uma


instituição autônoma, não integrando o Poder Judiciário embora desenvolva as
suas funções essenciais, primordialmente, no processo e perante os juízos e
tribunais.

Todavia, tendo em vista a sua independência assentada na Constituição


Federal de 1988, infere-se que o órgão não pode ser incluído ao Poder
Executivo. Nesse contexto, do ponto de vista dogmático, percebe-se que não
há determinação pela Constituição de um espaço entre os três poderes. Desse
modo, o Supremo Tribunal Federal entende que o Ministério Público integra o
Executivo, porém não é subordinado a ele em qualquer instância, sendo órgão
da administração pública.

2) Disserte sobre a ação em sentido material:


Um dos processualistas que mais abrange o conteúdo é Pontes de Miranda,
para ele ação em sentido material pode ser compreendida como a posição
jurídica que surge do polo ativo da relação jurídica de direito material no exato
momento em que a pretensão de igualdade é exercida em face de um polo
passivo. A partir desse momento, o ocupante do polo ativo passa do poder
exigir, para ele a mesma coisa que pretensão, ao poder agir por todos os
meios que a ordem jurídica lhe assegure.
Quando se admite a autotutela, a garantia se consubstancia na ação em
sentido material, na medida que o titular da pretensão pode agir por todos os
meios que o ordenamento jurídico lhe assegure a fim de ensejar providências
coercitivas. O jurista ressalta que há até mesmo, alguns artigos da
Constituição Federal de 1988 que fazem alusão a ação em sentido material
como o art. 188, inciso I; o artigo 249, parágrafo único e o art. 1210, parágrafo
1°. No entanto, para a garantia do direito subjetivo, eles prescindem de ação
processual.
Como a autotutela não é permitida, a garantia se concretiza através de um
impulso do titular do direito subjetivo ameaçado ou violado pelo ajuizamento
de uma ação (exercício da tutela jurisdicional efetiva, tempestiva e
adequada). Sob tal ótica, a ação material será canalizada pela ação
processual. A partir disso, há o surgimento de uma nova relação jurídica autor
– estado juiz – réu e, após a provocação da jurisdição, surge o direito à tutela
jurisdicional e o dever do órgão judicial de examinar a demanda. O réu,
sujeita-se ao exercício do direito potestativo, sujeitando-se, dessa forma, aos
efeitos jurídicos, sendo transformada sua esfera jurídica.
3)Examine a teoria abstrata do direito de ação, tecendo considerações sobre
o fundamento do mencionado direito:
Reconhecida a autonomia do direito de agir em relação ao direito material,
tendo como base teorias e doutrinas de autores como Windscheind e Muther,
alguns juristas passaram a justificar as ações que levam não apenas a
sentenças favoráveis, como também a sentenças desfavoráveis ao autor.
Os defensores da teoria abstrata do direito de ação partem da premissa de que
o direito de agir não exclui a possibilidade de uma sentença desfavorável,
qualificado pelo jurista Plósz como “direito abstrato”. Ele concluiu que o direito
de agir é autônomo e abstrato, pois sua existência não depende da
procedência ou da improcedência do direito material.
Para o jurista Degenkolb, o fundamento do direito de agir é a própria
personalidade do autor, porque desse vem a consciência ou convicção
subjetiva ao direito, ou a aspiração ao direito, em relação ao qual a efetiva
existência do direito material é meramente acidental. Semelhante à sua
concepção, Plósz entende que o direito abstrato de ação exige apenas a boa fé
do autor, embora tenha sustentado a existência de dois direitos de ação, um
processual, de caráter público e, outro material identificado com a pretensão do
direito material.

Assim, para explicarem a possibilidade de alguém ter o direito de agir contra o


Estado, ainda que sem direito material, recorrem às ideias de boa fé e de
consciência da existência do direito. É relevante salientar que em suas teorias,
ainda vinculam a ação com o direito material, a qualidade atribuída ao autor
tem ligação com a responsabilidade pelo exercício da ação. Porém não há a
menção sobre como identificar quando o autor exerce a ação de má fé ou com
a consciência de que não possui direito.

Ainda sobre a teoria abstrata do direito de ação, o jurista italiano Mortara


desvincula o direito material do direito de agir e foi de encontro ao argumento
da boa fé, alegando que mesmo os que conscientemente sabem que não
possuem qualquer direito material, possuem acesso à jurisdição. Vale frisar
que Mortara é um dos percussores na colocação de processo civil como
instituto do direito público. Nesse sentido, para ele o que justifica o ajuizamento
da ação é a afirmação de que houve uma oposição a uma pretensão de direito
subjetivo.

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