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José Lebre de Freitas

Introdução
ao Processo Civil

2. a Edição

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) )

o CONCEITO

Composição e impressão
@ Coimbra Editora

ISBN 978-972-32-1457-4 - 2: ed.


(ISBN 972-32-0746-X - I: ed.)

Depósito Legal 0.° 250 274/2006

Outubro de 2009
'----

) )

1.

A INSTRUMENTALIDADE
DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

o direito é um sistema de normas de onduta (I). Quando se faz


esta afirmação, está-se fundamentalmente pensando no conjunto das
normas primárias (2) do direito material (ou substantivo), que têm por
fUI1 ão autar a actua ão dos su'eitos . rídico~ de acordo com valores
SOCiaiS rá rios 3).
Para que se revistam de juridicidade, essas normas primári~s Ci!!!P~e-
rativas, proibitiva~ ou permissivas) carece la....p.Qs.sibiª e de coacti-
vamente serem feitas res eitar (4). Toda ~norma rimária de conduta

(I) K/\RL LARENZ. Metodologia da ciência do direito. Lisboa, Gulbenkian, 1983,


p. 221. Como tal, insere-se na «Família geral das normas de conduta» ou «de com-
portamento» (HART. O conceito de direito, Lisboa, Gulbenkian, [961, p. 20).
(2) Usamos a expressão num sentido lato em que engloba não apenas as normas
(imperativas e proibitivas) pelas quais «aos seres humanos [e outros sujeitos de direito)
é exigido que façam ou se abstenham de fazer certos actos, quer queiram quer não»
(HART, O conceito, cit., p. 91), mas também as normas (permissivas) que, em lugar de
imporem deveres, conferem poderes, públicos ou privados, de actuação, cujo exercício
é susceptível de criar novas estruturas de direitos e deveres (acta administrativo, negó-
cio jurídico). Estas novas estruturas, ordenadoras de comportamentos dos sujeitos,
podem também resultar da ocorrência de meros/actos jurídicos; as normas que os pre-
vêem e estatuern o seu efeito só indirectamente constituem normas de conduta.
(3) Em primeiro lugar, a justiça e a segurança (OLIVEIRA ASCENSÃO, O direito
-llllroduçüo e teoria geral, Coimbra, Almedina, 1995,ip. 182); da primeira é legítimo
autonomizar hoje a protecção dos direitos humanos (FRlõrrfs DO AMARAL,Manual de intro-
dução ao direito, Coimbra," Alrnedina, 2004, p. 56). 11l:Iependentemente da ques~ão de
saber em que medida o direito se apropria de valores de outras ordens aXlOloglcas
(social, moral) e em que medida os valores do direito ~odem ser tidos como originários.
(4) Embora uma importante corrente do pensarnedto contemporâneo sustente a exis-
tência de normas jurídicas não garantidas, cremos sdr característica diferenciadora do

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i
!
) 9
o Conceito A j")'umenlalidade do Direito Processual Civil

~garal1tida ar uma norma secundária sancionatária, õe no estarão então apenas a identificação, a interpretação e a incidência con-
--
caso de viola ão da rimeira, . /
f creta das normas de conduta aplicáveis,
Em todos os casos, o recurs_o aos tribunais ara tutela de situa~.s
A violação da norma é, nor natureza, conc' eta, No campo do
direito privado, a norma abstracta de conduta singulariza-se em situações jyrídicas e S..Q.!lfomitante arantia de normas de condut~ de direito p..!,i-
subjectivas radicadas nos sujeitos jurídicos, tendo como substracto de vado Rostula a an1ica 'ªº
de normas instrumentais (ditas adjectivas) q~
fundo o plano das solidariedades de interesses dos conflitos de inte-
J~ re ulem as actua ões dos sujeitos de direito rivado e dos tribunais ten-
rcsses gerados perante bens raros (5), A viola 'ão da norma de conduta dentes à concretização jurisdicional do direito substantivo, O con'untq
smge quando outrem actl!!! (6) afectando a inte idade duma situa ão 'urí- dessas normas, recortadd no âmbito do direito úblico constitui o direito
~Iicatutelada Relo direito, Sem re'uízo dos caSos em que lhe é permitida p;ocess~al c~,d"-õ processo civil constitui o seu cam o específico de
~I_ ac ão directa" o titular da situa ão 'urídicaitutelada ode então recor~ aplicação,
_I:~T aos tribunais: a fim de a fazer valer, com o que, ao procurar assegura; O direito rocessual civil é assim, numa definição que dificilmente
~I.satisfa. ão do seu interesse, desencadeia o mecanis~o de garantia dé} deixa~·á·de ser talltclÓgic;'-~~onjunto das normas reguladoras do processo
norma de conduta violada, A verificação da violação pressuporá a pré- civil (8), o que nos remete para o conceito de processo civil.
via identificação, interpretação e aplicação dessa norma, A análise deste conceito pode, na esteira de CASTRO MENDES (9), ser
Mas nem só a viola ão consumada leva os je'tos de direito ri- feita mediante o exame sucessivo dos seus elementos fundamentais: a
,v;.!d.o.1L.t:e_G...orrer
aos tribunais, •Também a prevenção da violação, quando estrutura, a função, o objecto e os sujeitos do roc~Q. civil.~
___ ~ ço. "-"'-'

alguém ameaça realizá-la ou falsamente aparenta ser titular dum interesse


1 utclado, e °
exercício de direitos potestativos podem justificar o recurso
a juízo. Podem, designadamente, divergir entre si as posições intelec-
1 "ais dos titulares de interesses em conflito sobre a existência ou o con-
rcúdo de determinada situação jurídica, gerando-se assim situações de
dúvida ou incerteza subjectiva (1) carecidas de defini~ão,,, Em causa

dil'l"i(CI ~Isua coactividade, consistente na aplicabilidade da sanção num processo para tal (8) SA1TA-PUNZI, Diriuo processuale civile, Padova, Cedam, 1987, p. 258; CAS-
1'" idicamcntc organizado (ZIPPELlUS, Rechtsphilosophie, München, Beck, 1994, ps. 31 TRO MENDES, Direito processual civil, Lisboa, Associação Académica da Faculdade de
,. 1%-/97, e Juristische Methodeniehre, München, Beck, 1994, p. 6), A conclusão pró- Direito, 1985, I, p. 33; MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, Sobre a teoria do processo decla-
\illl:1 chega quem afirma que a sanção é característica difercnc.iadora do direito, mais rativo, Coimbra, Coimbra Editora, 1980, p. 27, Outros falam de normas reguladoras dos
,lIlIl'la do que a coacção e englobando consequências como a da invalidade do con- comportamentos humanos no processo civil (WOLFGANG HENCKEL, Prozessrecht und
I1;1111011 ;1 da dissolução duma associação (FERNANDO BRONZE, Lições de introdução materielles Reclu, Gõttingen, Otto Schwartz, 1970, ps. 21 e 24-25) ou das relações
.u! dtrciu». Coimbra, Coimbra Editora, 2002, ps. 60-63). entre o tribunal e as partes na tarefa de acertamento e realização do direito (PETER
(') Jolio CASTRO MENDES, Introdução ao estudo do direito, Lisboa, Danúbio, ARENS, Zivilprozessrecht, München, Beck, 1988, p. 2). Redutoras são as definições
J 'J!"I, p, / C). que apelam apenas à reguJação da actividade exercida peJos tribunais (INOCí!NCIO GAL-
(!,)011 omite actuar. A omissão constitui uma conduta ou comportamento negativo. VÃO TELES, introdução ao estudo do direito, Coimbra, Coimbra Editora, 1999, l, p. 180)
(I) I~ li: () objectiva. O direito, como sistema, constitui um conjuntointrinscca- ou. pior ainda, pelos juízes (OLIVEIRA ASCENSÃO, O direito, cit., p. 345) e não, mais lata-
1111111,'"II!'lc'.ill,', Sillla~:õcs objectivamente incertas são só aquelas que se consolidam, mente, li acuvidadc exercido IIOS tribunais (SANTOS JUSTO, Introdução ao estudo do
C .,,(,11 ,1111till d,'lt-nllill:1I1I por via dum cvetws fusuro (condição, escolha, lillllln'::III, "1111 direito, ('"il1l!ll':t, ('uimhl':I r':dit.ora. 20m, p, 249). A transplantação da noção de norma
111111111,111' I' PIIII';I!:: l( I·~I,\I() ( '1IIWAIIII, fi ncgozio di acccrtatncnto. Torinu, (;1111'1 ,i, /",11 i, de <'OIHIlIl:1 P:II':I n l':II)1I'() du direi!.o processual é patente ri .stas definições.
ti, t " I", 11; \1)) ('l) (',\:,11111 !'v1i·IH" '" /11'/', ('11.. I. ps. :15·125 (estrutura. objecto. Iunção c meio).
)
)

2.

ESTRUTURA

2.1. O PROCESSO COMO SEQUÊNCIA DE ACTOS

o termo processo ~a, no seu sentido vulgar, uma se uência de


[enámenos (actos humanos o ac1.Qs...rultw.:ill.sl diri ida ·esultado.
Õ fabrico-dum medicamento ou o crescimento duma planta tem lugar
segundo um encadeado de fenómenos não arbitrário, de reacção em
reacção físico-química até que o resultado, voluntário no primeiro caso,
espontâneo no segundo, seja atingido.
No cam o do direito o mesmo sentido mantém-se, mas os fenó-
menos da sequência são factos jurídicos, maxime actos jurídicos. O pro-
cesso de formação da lei (I), o processo de formação do acta adminis-
trativo (2), o processo de formação do contrato (3) ou o processo dinâmico
da obrigação, desde que se constitui até à sua extinção (4), consiste

(I) Actos de elaboração (formal no caso das leis da Assernbleia da República, infor-
mal no caso dos decretos-leis e decretos regulamentares), aprovação, promulgação,
publicação (Constituição da República, arts. 167-169, 198,201-3, ]34, ais. b e g. 136,
j 37 e 119; Lei n." 74/98, de 11 de Novembro).
(2) Requerimento ou abertura oficiosa, prova, audição dos interessados, decisão
(Código do Procedimento Administrativo, arts, 54·55 e 74-l09).
(3) Negociações, eventuais contratos preparatórios ou preliminares, proposta, acei-
tação (ANTÓNlü MENEZES CORDEIRO, Direito das obrigações. Lisboa, Associação Aca-
dérnica, 1980, ps. 435-452).
(4) PERNANOO PESSOA JORGE, Direito das obrigações, Lisboa, Associação Aca-
dérnica, 1975-1976. p. 42; JÚLIO ALMEIOA COSTA, Direito das obrigações, Coimbra,
Almcdina, 1994. p. 57: INoctNCID GALVÃO TELES, Direito das obrigações, Coimbra,
Coimbru lidilnra, 1997. ps. 18-19: DIETER MEDICIJS. Schuldrecht, München, Beck,
1\)<):1. I. p. Cl, Os :1('lIlS li\.: conscrvnçâo da garantia patrimonial, a escolha na obrigação
I ,~ o Conceito ) Estrutura 13

11I1I11aordenação não arbitrária de factos em função dum resultado jurí- do autor, ale ações de direito do réu senten~, notificação de~, even-
dico (a lei, o acta administrativo, o contrato, a realização da prestação). tuais reêlamações contra ela, decisão destas). A instrução do processo d~
() mesmo acontece no caso do processo jurisdicional (de constitucio- dobra-se, por sua vez, em diversos procedimentos probatórios, ~
u.ilidude, administrativo, fiscal, penal, civil), que é sempre uma sequên- ~iais entre si mas constituindo sequências autçmomas, q~e se ini-
l'i:1 de actos jurídicos (das partes, do tribunal, de terceiros intervenien- ~om a prática de actos comuns aos diversos meios de rova (~~
I('s) ordenados para um fim. ficação das paltes ara a instru ão e a rq osi. ão das rovas), continuam
._~\st~::U!flo..s....ordenam-se, por sua vez, em fases sucessivas. Assim, com actos próprios de cada meio de prova (admissão e produção) e se
., processo comum com forma ordinária, que constitui o onto de rere- concluem com a apreciação da prova pelo julgador (5), E, no esquema
I't'!lei;1das restan~es formas do rocesso civil (arts. 461,463-1 e 464) (4.A), da tramitação necessária ou normal da forma processual em causa, podem
11'111,lia acção declarativa em 1." instância, as seguintes fases: fase dos ainda enxertar-se procedimentos anómalos, que constituem sequências
,:I"I(f'I,!(~r1I},:\:: ao longo da qual as partes aleg;rr. a matéilade fiC~dé"" e actos que exorbitam da tramitaçãõíi'ãfmal do processo, visando a
direito relevante para a decisão (petição inicial, cita ão do réu e con- resolução de determinadas questões fora do encadeado lógico inicial-
li'S(;I~JLo; eventualmente, a seguir, ~otifica ã9_s!~ ~1te_staç.íill, a9 a;Jtõr, mente necessário à resolução do pleito, mas por forma mais ou menos
I('plicit, notificação desta ao réu e tré lica ;fase da condensação, visaiido directa subordinadas ao objecto do processo: os incidentes (5-A).
vi-ri ri.\.:i.U:'c' arantir a 'egúla' idade d pmçJ~,~~ identificar as ue;~s '-~ Constituindo o processo jurisdicional uma sequência de actos jurí-
!';I\'!o c.9c diréljJJ:L1:cleYaDJ~s,decidir o ~oss j.á...se· decidido.e con- dicos, dele não fazem parte factos jurídicos stricto sensu. Tal não sig-
;'1('I i/.:u'_S) ob'ecto da subse uente pj'ova (Jara 'ul amento d.~s,12ª-çh-;;- do nifica que os meros factos jurídicos não possam produzir efeitos no
;111. 'lOS, !~ j ficaçãg das pa,!tes par~ a Nldiência preliminar, audiência processo, mas sim que, quando tal acontece, estes efeitos são mediati-
jll'l'lilllillar OU, não havendo lugar a ela, despacho sãneador autónomo, zados através da prática de actos jurídicos (processuais) que aí os fa~em
::I'i"'·',.':í() ela matéria de facto pelo juiz, eventuais]ecI.flmações, decisãq,ge.s- valer (6). Assim, por exemplo, «a morte duma das partes suspende a InS-
.1:I~;):[as« d« iustrução, ~p.3xti~em_ª-ctlIªçõe§..çoI!duçent~~j~r2ya dos tância (art. 276-1-a), mas só depois de alegada [e provada] (art. 277-1),
.lil\'(I)Salçgill!9s pelas partes (é iniciada na audiência preliminar ou, na sya salvo o fenómeno da retroactividade» (7): o facto da morte ocorre fora
1;111:.,c.()Il13.Jl0tific<!Ção das artes ara re uererem as Rt0Y9L~u~im~fl<l
11;1;11H I'j':ll 'ia de, discussão e jtDga!11entp),; fase da discussão e julga-
u« 'li/O, I'I! I (1uc _a~partes _e~prin~m os seus pq,l'!.tos ç!e_\jst-ª-~9br.e a .deci-
(5) A confissão, p, 283 (56), e A acção declarativa, L4,5.2,
:.1" d 11Illlái, L: () tribunal,
- - ~enfim, deêTde (;Jega ões de facto do autor ale- (S-A) A falsidade, p, 214, Geram, por exemplo, incidentes as intervenções de
I'''',' ,,':, de facto cio rélh..~ecisão da matéria de facto, alegações de difeitq >4 _ -
terceiros (arts, 320 e segs.; infra, n.IO,2,6), a habilitação de sucessor monis causa ou
inter vivos (arts, 371 e segs.), a prestação de caução (art. 990) e, no campo da prova,
a contradita de testemunha (arts, 640 e 641).
(6) Não assim a omissão da prática dum acto da sequência no prazo estabelecldo,
.dll'lIlilliViIou !',I'IIt:rica,a liquidação da obrigação ilíquida, a interpelação na obrigação que constitui um comportamento negativo (da parte ou do tribunal) verificável, tal como
I'I'IH," hxa,':lll de praw nos termos do art. 777 CC, a concessão do prazo razoável do os actos efectivamente praticados, na própria sequência processual. Pode o comporta-
111f. gOl·: ( '( , :,;10:1l'los(eventuais. em lermos de esquema dum processo geral das obri- mento ornissivo constituir eLemento duma fatispécie norrnativa: assim acontece com a
1',11;"'''.1'111",.<' i11S1'1'l'11I!lesse processo. Também podem meros factos produzir efeitos admissão, que é elemento duma fatispécie probatória (infra, 3 (31), e A acção ~eclaraliva,
11I1"dili<'lItíVfI:; ,'i! r-xthuivos) 110iímhiro duma relação jurídica obrigucional não extinta; 11).2), Mas pode ele ler mero efeito prectusivo (precJude a faculdade de praticar o acto
W,',IIII,I' d"',llIlÍ, ,'I< 1"1..1 <1111':III·i:.1I ohjecto da prestação por uma 'ausa natural.
dI)
omitido): assim acontece com a não apresentação do requerimento de prova no momento
I' ,I) ::"1111""'11'"11<1 1,'11:1Id"II'IWI:I a 11111
:lIligo sem Illcnr,'iíode diplunxi Irgai. ou dentro do rrazo de qu a parte dispõe para o efeito (arts. 508-A-2-a e 512),
11111.11 ' 11fi •• 1'"''1)''' d,· 1'11 11.1;,1"1111111
I! , ";' ,,, ('1\ "",\11111\1
da n'visii(lI'lh,tll:It!Opdo \)('('" (I) (',\sm(l Ml\NnliS, f)PC, cil., \, p. 39 (23). Ou pode extingui-la, por inutilidade
I. I 11'1 ~ HI \ítt', di I I di Ilí /.'IIIIJIII " 11/'111 1),'\ I ,'I 11." I HO/I)f" tk' ~)I) d,~~;,·I~·"dfn. :,1\1,,'IV"'"('III,' ":1 Iid~' (:11'1.276-::1),como normalmente acontece na acção de divór-
)
f
)
o Conceito Estrutura 15

da sequência processual e, extinguindo a personalidade judiciária da aplicar o regime da validade dos actos de direito substantivo (la). ~or outro
p:1I1C(art. 5), faz cessar um pressuposto processual (infra, 3.5); a alegação lado, a qualificação como rocess,1ill.isde todos os actos da sequência não
~h parte (art. 277-2), ou a certificação do falecimento pelo funcionário fiíPede a possibilidade ele um acta nela integrado (ou a omissão dum
incumbido da citação (art. 371-2), são actos integrados na sequência acta da sequência) produzir efeitos tí icos de actos não rocessuais (11),
nroccxsual, que condicionam a verificação judicial do facto, subsequen.te nós primeiros se'ocupa igualmente o direito processual civil.
il respectiva prova (art. 277-1).

funkzionelle Prozesshandlung, Gottingen, 1950, p. 85), o da consideração da função


2.2_ O ACTO PROCESSUAL principal Oll típica (de conformação do processo) por ele desempenhada (GO'ITFRIED
BAUMGi\RTEL, Wesell IIIU[ Begriff der Prozesshandlung einer Portei im Zivilprozess. Ber-
Dizer que o processo é uma sequência de actos jurídicos não resolve lin, Pranz Wahlen, 1957, ps. 79-80 e 92), ou o da área jurídica em que os efeitos do acto
se produzem (SACIISE, Beweisvertrãge, Zeitschrittc für deutschen Zi vil prozessrecht, 54,
illll'iramcnle o problema da qualificação dum acta jurídico como proces-
ps, 416-418). dos quais resulta que actos como os indicados têm indiscutível natureza
;;11:1I. Por um lado, há actos que, praticados fora do processo, têm relevância
processual, ainda que surjam ligados G um contrato de direito civil e com ele sejam simul-
1'.,rllIsivamente processual ~-ªo, convenção de arbitragem, pacto de taneamente celebrados, sem que essa qualificação deva ser restringida aos casos em
jllrisdição OLl de competência, renúncia ao recurso), por se destinarem a con- que a regulamentação neles cstabelecida tenha em vista um processo determinado c
rl)f'",,,r os requisitos (constitutivos ouimpedltivos) dos pressupostos da não um qualquer eventual processo (neste sentido, conferir PETER SCHLOSSER, Einvers-
tiindliches Parteihandeln im Zivilprozess, Tübingen, Mohr, 1968, p. 98). A insuficiên-
dn'isfio de mérito ou de actos da sequência processual (8), e por isso é difl-
cia da teoria da inclusão, bem como a de que, próxima dela, atende à área vital em que
I·j I rugir à sua qualificação como processuais (9), ainda que se lhes possa é permitida a prática do acto (HENCKEL, Prozessrecht, cit.. p. 28). patenteia-se quando
se considere que tanto a teoria dos pressupostos processuais, como condições de adrnis-
sibilidade da decisão de mérito, como a dos pressupostos dos actos processuais (sobre
estes: MIGlJEL TEIXEIRA DE SOUSA. Introdução ao processo civil, Lisboa, Lex, 1993,
,'11, (,:11V;La possibilidade de o processo prosseguir contra os herdeiros, por razões patri- ps. 94-96) pertencem indubitavelmente ao campo elo processo civil, tal como à teoria do
11I"lli:li~,: :11'1..1785-3 CC). negócio jurídico pertence a qualificação dos respectivos pressupostos. Mas há ainda na
1li, Sâo pressupostos da decisão de mérito ou pressupostos processuais gerais doutrina quem defenda haver actos de dupla qualificação ou de dupla funcionalidade, ao
IfI/!/tI •• \.5). entre outros (A acção declarativa, 7.5.2), o patrocínio judiciário. necessi- mesmo tempo substantiva e processual (cf A confissão, p. 293 (69) (70».
I,1\I" d,' procurução passada pela parte ao advogado (art. 35). e a competência do tribunal, (10) A doutrina actual tem esboçado algumas respostas à questão da aplicabili-
, "'11', lI!'l'Illa~ dctcrminativas podem, em determinado condicionalismo, ser afastadas por dadc aos actos processuais do regime de nulidade e de anulação do acto de direito mate-
1'1>111;1.1,' das partes (infr«, 5.5, para a convenção de arbitragem; arts. 99 e 100, para os rial; mas elas têm sido sobretudo casuísticas. A opinião tradicional é que o acto processual
1'II,'lo!. di' jurisdição e de competência). Por sua vez, a renúncia ao recurso (art. 681), não está sujeito às normas sobre nulidade e anulação do acto de direito material, desig-
1111)'11;,,,1,,tl direito de recorrer, impede o requisito de admissibilidade do recurso (ou nadamente do negócio jurídico. Mas esta posição tem sido posta em causa por uma impor-
I'I'·'.:.IJI'I,~:IO específico ela fase do recurso) consistente na recorribilidade da decisão tantc corrente contemporânea da doutrina alemã. que defende a aplicabilidade dessas
11111'11/,1';"1;, I Ài,MINIJO RIBEIRO MENDES. Recursos em processo civil. Lisboa, Lex, 1992, normas de acordo com uma determinação a fazer caso a caso. Entre nós, veja-se a
I'" I ',o " I:,X) c, desde logo, o acto inicial de interposição do recurso. obra. dcdicada ao tema, de PAULA COSlf\ E SILVA,Acta e processo, Coimbra, Coimbra Edi-
I" I 1\ i1islil1~~il()entre aCIO de direito processual e acto de direito material nem tora, 2003, concluindo que a falta e os vícios da vontade relevam no acto postulativo
'."I1LI'II· ,', riÍt'il. De ncordo com a teoria da inclusão, são processuais apenas os actos (p, Cl49). Para algumas referências bibliográficas, veja-se também A confissão, p. 295 (73),
'111" 111/"1111':11'1['dil sequência processual (SATli\-PUNZI, DPC, cit., ps, 207-208). Mas 1\ questão pode pôr-se. designadameme, quanto ao acta da admissão, em que já MANUEL
, ,'",,, 101 vnirll'adil, pclox lIutOI'CSque basicamente recorrem a este critério classificativo, IlI, ÀN()i(!\/)!i a ela respondia (negativamente) com o mero recurso ao regime (processual)
'1,1/1'" ·..."L'd,· <I,. " "11111,,11'111"111:11' l~()1I1outros, como o da função ou eficácia do acto (.10'\0 ti\! jllSl<l impedimento e do articulado supcrvcnicntc (Noções elementares do processo civil.
I i\ ',11" I f\'II';:I <1 ';, /1" f', nurit,» :l,' ('''''I'({ ,'1/1 procrsso civil, Lisboa. Ática, 1961, ps. 76.77), t 'uuuhru, ('oimhra Editora, 1')56, ps. 151-152): cf, A acção declarativa, 7 (13),
'11'1",'111" ,,"1',1 <1"11/1;11:1 .I,·,';'/id:I1II1·lIlr 11','''111' ;I critérios diversos, COIIIII " <.I" 1"1'111;1" (11) t\::f:illI ucoruccc com tl~ 11c)(II.·ios de .uuo-composição do litígio celebrados por
I I'.. ".1
<I". " 'I'"·.!'I>', I' /1,,;:,.(./
,·II,.1t I,' d!l :11'1" 1l!'1:1 I"i I'J'Ol'I'Ssliltl (\V"i<HII: r·.I!I',I, I<'fllI" d •• l'ft''''·,.',I) (juli'/I, :\.~\ " lU) (21))'). com a revelia com efeito corninatório pleno
) )
16 o Conceito Estrutura 17

Em processo civil, pelo contrário, a nulidade (ou anulação) dum


2.3. A INVALIDADE DO ACTO DA SEQUÊNCIA acto da sequência repercute, em regra, a sua eficácia nos actos subse-
quentes que entretanto hajam sido praticados; e, num movimento de
Voltando aos actos da sequência processual, a circunstância de nela sentido inverso, o efeito da nulidade (ou anulação) do acta só se veri-
se integrarem gera um especial regime de invalidade, diverso do de fica quando o vício. é susceptível de afectar a realização da finalidade do
direito civil. processo (como sequência).
Em direito civil, as causas de nulidade ou anulabilidade dos negó- De acordo com a regra geral do art. 201-1, constituem irregularidades
cios jurídicos e, por extensão, do acto jurídico stricto sensu (art. 295 CC) susceptíveis de integrar invalidade processual a prática dum acto que a
silo eficazes no âmbito do acta em causa, sem que, por si, projectem a lei não admita e a omissão dum acto ou duma formalidade que a lei pres-
sua eficácia no regime de outros actos jurídicos. É assim, inclusivamente, creva (13). Não se trata de vícios que respeitem ao conteúdo do acta,
no campo dos negócios de alienação, em que a dependência em que a mas tão-só de vícios atinentes à sua existência ou formalidades (14) (15).
transmissão do direito real (de B a C) aparenta estar duma anterior
transmissão (de A a B) não representa nunca uma ligação lógica neces-
s;íria dos efeitos dum negócio aos do outro, mas uma mera ligação fác- requisito essencial) num ciclo forrnativo irregular que, por meio de outra norma do
tica eventual: se o primeiro negócio de transmissão for nulo, o segundo sistema (no exemplo de convalidação dado, a do art. 895 CC; no caso da confirmação,
a cio art. 288 eC), produz efeitos iguais aos que teria produzido a primeira Iatispécie se
sê-lo-ri, por via dum vício que é próprio deste (a ilegitimidade negocial
se tivesse aperfeiçoado, mas que são produto duma outra fatispécie normativa (a dessa
do transrnitente), enquanto o aparente direito de B derivar dessa pri- outra norma), que, ao mesmo tempo, integra os elementos de facto anteriormente veri-
meira transmissão; mas se B adquirir o direito por outra causa, logo a ficados da fatispécie da primeira (capacidade dos declarantes, idoneidade do objecto, decla-
repercussão dos efeitos negativos do primeiro negócio deixa de se veri- rações negociais, etc.) e o elemento superveniente produzido (ANGELO FALZEII, La COI1-
rica!'. Por outro lado, pode a celebração dum negócio constituir conva- dizione e gli elemetui delt'auo giuridico, Mi1ano, 1941; A confissão, p. 263 (57».
(13) Considerando o princípio da adequação formal (art. 265-A; infra, Il.6.6.2),
lidação (ex.: att. 895 CC) ou confirmação (art. 288 CC) dum negócio
também a prática ou a omissão dum acto desconforme com a sequência determinada pelo
anterior; mas nunca a eficácia do vício verificado num negócio, seja jui: constitui irregularidade susceptível de integrar invalidade processual. O art. 20l-]
ele gerador de nulidade ou de anulabilidade, se pode dizer necessaria- tcm assim de ser, desde a revisão de 1995-1996, extensivamente interpretado.
mente dependente da realização da função de outros negócios poste- (14) Pode o acto inválido ser uma decisão, interlocutória ou final, que não devesse
ri ores (12). ler lugar no processo concreto ou que devesse ter sido precedida de determinado acto
processual (cf, infra, notas l6 e 18). Em causa está então a existência do acta em si,
110 momento processual da sua ocorrência. Com esta invalidade da decisão como acto
processual não se confundem as invalidades (anulabi1idades) específicas das sentenças
I/I(/i'(/, l, (31 ), com a propositura da acção (arts. 332-1 CC e 289-2) e com a citação e despachos (arts. 668-1, als, b a e, e 663-3), incluindo as proferidas em recurso
do 1',:11uuts. 323 CC, 289-2 e 481-a). A própria sentença, acto processual por excelência, (urts. 7l6, 731, 749, 762-3), que das primeiras se diferenciam por configurarem vícios
11I1l<lll/,o efeito. primacialmetue substantivo, do caso julgado (A confissão, p. 291 (67), de conteúdo, referentes à estrutura (art. 668-1, als. b e c) ou aos limites (art. 668-1, als. d
I' 1'/'(' 11 notado , 11, n." 2 da anotação ao art. 494). Discutível, por isso, é a qualifica- c e), duma decisão oportunamente proferida (A acção declarativa, 21.3.3); com ela não
<;:10 do art, 494-i: excepção dilatória), se confundem tão-pouco os vícios. também de conteúdo, consistentes no erro material
(,I.~) 1\ sanação da nulidade negociul, por superveniência do requisito de validade c lia obscuridade ou ambiguidade da decisão (arts. 667 e 669-a; idem, 21.3.4). Final-
11'\.: a aquisição dos bens vendidos a 11011 domino pelo vendedor, constituindo super- mente, o erro ri,' j/lI,il{//lIelllo (erro na apreciação da matéria de facto ou na aplicação do
\'I'lIil'l1l'ia da legitimidade na convalidação da venda de bens alheios) ou por ulterior muni- dirtilo aos Iuctos). constituindo o fundamento prototípico dos recursos, igualmente
1eI,I,,,;,,,I dl' vontade do declarante titular do direito à anulação do negócio anulável ,·nnH'tel'il.il, 1J1l.'lh"r que qualquer outro, um erro de conteúdo (já não in procedendo,
i 1/'1I:J!11 1<'1I!<' constituindo um equivalente ou rllrt(l subrogatório do requisito faltoso: RUI 1'0111" li:. :llIil'IJ'II"!,: 11:\" ,'.('\:111\10:, tnvnl uliul:', 111:IS:1 injustiça da decisão). A comple-
1\ I I\I~' 'AI '. :\ confirmação dos negocias mII/MI,,'i.I·, Coimbra, Atlântida, 1971., p. 9 l ), 1\11" ljl1l1dl" "T:oI 1-',1'"':':'" <lo!, vício." d:J~,::,·l1l!·IIl ..':1S e dcspuchos, n omissão da assina-
111i11·. 111'" " .Ii, q1ll' a integração da l'ali::I""'1<' 11(11111:lliV<l
imperfeita (por via da ralta de illl!l d" jlli/. di' '111<'.1 ki tndll .1\11111""'"'111' ,'0111 .1'. jll"alid;lI.k~ l\~:p'dJ'jça!; rcf ridas
I I',
) )
18 o Conceito Estrutura 19

Para determinar a sua ocorrência, há que verificar se a forma do processo ele foi praticado (16), se o exigia e ele não foi praticado (17), _s~,se~ pre-
(arts. 460, 461 e 465, e também o art. 265-A) em que o acto foi prati- juízo da preclusão das faculdades processuais das partes, fOI p~'atlca~o
cado ou omitido o consentia (no primeiro caso) ou exigia (no segundo), fora do momento processual adequado (18) ou se, na sua pratica, nao
no momento sequencial da prática ou da omissão; se não o permitia e foram observadas as formalidades que a lei prescreve (19), o vício veri-
fica-se,
(art. 668-J-a), constitui rigorosamente um caso de vício de forma essencial (CA.'>fRO MEN-
DES, Direito processual civil, Lisboa, Associação Académica da Faculdade de Direito,
11)87, lI, p. 545), causa da inexistência do acta, ou, mais precisamente, da sua nulidade (16) O processo sumário não consente réplica nem tréplica (arts, 502, 503 e 785),
(idem, 21.3.2), só suprível mediante a posterior assinatura do juiz (art. 668-2). pelo que, se as partes produzirem estes articulados, eles são inválidos. No processo suma-
(15) A afirmação do texto não deixa apenas de fora as invaJidades específicas ríssirno, não há lugar a audiência preliminar nem à notificação das partes para a pro-.
das decisões judiciais: exclui também a invaJidade da ineptidão da petição inicial posição da prova, que deve ser oferecida com os articulados (arts. 508-A-2-a, 512, 793,
(urt. 193). Em causa está ° acto inicial de conformação do objecto do processo (infra, 704-1 e 795-2), pelo que, se li secretaria efectuar notificação para as partes comparecerem
4.1, 4.4 e 4.6), sobre o qual a sentença terá de se pronunciar, e os vícios geradores da lia audiência ou para proporem a prova, ela é inválida. Inválido será também o despacho
incptidão da petição inicial têm a ver com essa conformação, que o art. 467-1 exige nas saneador proferido pelo juiz em processo sumaríssimo, visto que não é consentido nesta
suas ais. d e e: o pedido, bem como a causa de pedir em que ele se funda, têm de ser forma de processo (arts. 510 e 795-2).
formulados claramente (art, 193-2-a) e não pode haver contradição no que se pede ou (17) O réu não é citado para contestar (art, 480) e, no entanto, o processo pros-
110respectivo fundamento (art. 193-2-c) nem entre o que se pede e o facto em que o segue os seus termos. O juiz não profere, em processo ordinário, despacho_ saneador
pedido se funda (art. 193-2-b). Os vícios decorrentes da inobservãncia destas imposi- (urt. 510) e, no entanto, o processo prossegue os seus termos. Mas a OIllIs~ao da prá-
çõcs têm o seu paralelo em vícios geradores da inexistência ou invalidade específica da lica de acto das partes no prazo peremptório para o efeito fixado não gera mvah~adc:
sentença e no da sua obscuridade ou ambiguidade: a falta ou ininteligibiJidade da parte ti que ocorre é que preclude a faculdade de o praticar (arts. 145-3 e 153) e, se nao se
.lccisória da sentença (A acção declarativa, cit., 21.3.2) tem o seu correspondente na falta tratar de acto necessário para garantir o impulso processual (art. 265-1), o processo
da indicação do pedido na petição inicial (art. 193-2-a), bem como na incompatibilidade jllUsscgue sem ele. .
substancial de pedidos acumulados (art, 193-2-c), que não permitem identificar o objecto (IR) Equivale à omissão do acto a sua prática em momento processual inade-
d\! processo (CPC anotado, I, n.'" 2 e 4 da anotação ao art, 193), sem prejuízo de a obs- quudo, isto é, antes de acto que o devia preceder ou depois de acto que lhe devia suc.e-
curidade ou ambiguidade da sentença ser sanável nos termos do art. 669 e a ininteligi- der, situações que são, ao mesmo tempo, de prática dum acto inadmissível e de orms-
hilidadc do pedido sê-lo nos termos do art. 193-3; a primeira parte do art. 668-I-b <10 dum ucto exigido, considerado o momento processual adequado para a, prática de um
(r;i!la dos fundamentos de facto) corresponde a parte do art. 193-2-a (falta da causa de (' de outro. É assim inválida, no processo ordinário, li apresentação da réplica antes da
pI'dir); o art, 668-1-c (oposição entre os fundamentos e a decisão) corresponde ao contestação (independentemente do conteúdo que esta venha a ter), a da tréplica antes
:tIl. 193-2-b (contradição entre o pedido e a causa de pedir). Apenas a ambiguidade ou da réplica (idem), a notificação para a proposição da prova antes de dec.orndo o prazo
li contradição na fundamentação fáctica da sentença, correspondente à ambiguidade da pnru as reclamações contra a especificação e o questionário ou a pronúncia de despacho
1':lII~;ilde pedir ou à contradição entre causas de pedir, não gera invalidade (ao invés, a :,lIlleador antes de terminado o prazo para o réu treplicar, quando, nos termos do art. 503-1,
I;illa de fundamentação de direito gera invalidade da sentença, mas não da petição ini- haja lugar a tréplica. Mas a prática de aeto das partes depois de decorrido o prazo
l iul, " que se explica pelo disposto no art. 664). O paralelismo explica-se porque a scn- pc'rcmptúl'io fixado para o efeito não constitui invalidade abrangida pelo art. 201, mas
"'II~'a de mérito (infra, 3.3 e 3.5) é a resposta do juiz à pretensão formulada e a de ',illl urna nulidade SI/i generis. não sujeita ao regime dos arts. 202 e segs. (CPC anotado, I,
nh..nlvição ela instância (infra, 3.5) não deixa, por ter um diferente objecto (a verifica- 11."" da auotação ao art. 201). .'_
.;:111d;1 lulta dum pressuposto processual), de obedecer às mesmas exigências de com- (1") Para a citação: art, 198-1. A falta de registo da carta expedl~a para notifi-
I'lIsi,jo estrutural que a ele mérito (arts. 659-2 e 660). Ora, sendo assim, a ineptidão da l'm;;ltI (art, ~j4-1), a lillta de 'Illn.:ga ao notificando do duplicado do r~quenment? .de nou-
J1('li~'ao inicial constitui IIITIvício de conteúdo e a invalidade-que gera é, não tanto uma 11I'1I\,'lio judicinl aVlils:1 (urt. ú I-I). a omissão do juramento ou do interrogatono prell-
uivulidadc do acto enquanto elemento da sequência processual (não obstante o efeito radi- 11111111 do (h'po('lItr til- (lillt\' [.I1IS. 55iJ c 560) ou duma testemunha (art, 635) constituem
(':11do nrt. 193-1) como lima invalidade do acto em si mesmo considerado. A essen- r:..•.,,'1,1,,:.01,. ,,"11:.'.:,1\01,· r"llIl:d"l;ull':: 1>lI'srlit:1S1'''1' lvi. 1\ III\1issão de formalidades
"I;dllbdl' da conforrnnçâo do objecto do processo explica que assim seja: 'a incptidão da , 111'.'1'.1'<'1111, .•-1.1,' ',,' 1"!,()Illll ., t,'IIHa jll"lT:,:ó\l;!I I>ldl'II:lda pcln juiz. nos termos do
p('li~';ln ini 'ial gera a Inlln dum pressuposto processua1 (arts. 288-l-b e 494-I-b, bem como ,111 '(,', ,\ 1., .1', '.1111,1" .U", .<111<'11'" I<'k. idó':. I"" 1"1111i'~,1I11
111<'111<- ar dl\ dIV(:rr'.('\I(:'I~\
entre
lnjr«. :\ (56». .\ 1111111.1 1,1"pH'11t t •lj tlll',I'I\'.Id.1 t .1 1"',lIltnlll,~ d.1 .IIII'Q\I:1I;:\l1 1~I\lH.tI.
) )
21
20 o Conceito Estrutura

°
Verificado vício, se a lei não prescrever expressamente que ele tem É assim em grande parte verdadeira a asserção de que a invali-
como consequência a invalidade do acta (20), segue-se verificar a influên- dade do acto processual é mais uma invalidade do acto enquanto elemento
cia que a prática ou omissão concreta pode ter no exame ou na decisão da sequência do que do acta em si mesmo considerado (25),
da causa (art. 201-1), isto é, na sua instrução, discussão e julgamento (21) Tal não impede, porém, que, não obstante a imprecisão da termi-
ou, no processo executivo, na realização das providências executivas nologia lega I (26), o regime de invalidade do acto processual caracterize,
(penhora, venda, pagamento) (22). em regra, 11::10 tanto a nulidade propriamente dita como a figura da anu-
Constatada essa influência, os efeitos da invalidade do acta reper- labilidade: S(l as invalidades dos arts. 194 (falta de citação), 198-2,
cutem-se nos actos subsequentes da sequência processual que dele forem 2," parte (nulidade de citação, quando esta seja edital ou não tenha sido
absolutamente dependentes (art, 201-2). Sempre, por isso, que um acto indicado I ruzo para a defesa), 199 (erro na forma do processo) e 200
da sequência pressuponha a prática dum acta anterior, a invalidade deste (falta de visl,l ou exame ao Ministério Público como parte acessória) são,
tem como efeito, indirecto mas necessário, a invalidade do acto subse- como as nulidades de direito civil, susceptíveis de conhecimento ofi.cioso
quente que porventura entretanto tenha sido praticado (e, por sua vez, dos (art, 202) . tal como também a ineptidão da petição inicial (art, 193),
que, segundo a mesma linha lógica, se lhe sigam) (23) (24). não obsuuuc a sua diferente natureza (supra, nota 15) -, mas algumas
delas (2'1) S\'I <il~ ao despacho saneador, se o houver (art. 206-2), e res-

(20) Arts. 194, 199 (com limitações), 200. Não assim o art. 198-4 (só «se a falta
cometida puder prejudicar a defesa do citando»). Pode também a lei prescrever a ine- decisão ril1i11do 11('111da sequência viciada possa ter na eficácia dos actos da sequência
xistência do acta, ou parte dele (por exemplo, art, 632-3). incólume I"'. VrIT\ IIUO DI'.NTI, Note sui vizi delta volontà negli atti processuali, Pavia,
(21) José ALBERTO DOS REIS, Comentário ao Código de Processo Civil, Coimbra l-ucoltà di (1IIIIí.';pflldl'1l1.a, 1959, ps. 86-87). Assim, a nulidade decorrente da falta de
Editora, 1945-1946, lI, p. 486. A Em de assegurar a prossecução da função processual [uramcntn dll ""\1111'1111'lI<' parte (art 559) implicará, uma vez verificada a possibili-
declarativa, há que impedir que a justa composição do litígio tinfra, 3.3) possa vir a ser 'dade de il1ll\1I'II' 1:1"a Irre/'.lIlaridade na instrução e na decisão da causa, a anulação do
comprometida com a irregularidade em causa. Uma irregularidade que possa int1uir no dcpoirncnr« 1'I":,I;It!", ;Issilll como a da decisão, se esta entretanto tiver sido proferida;
âmbito da delimitação da matéria de facto da causa não pode deixar de se entender mas não ;d,', IUllI 1):; il<'lox , ainda que posteriores, relativos a outros procedimentos pro-
incluída na previsão do preceito. butórios. I I" 111I"'.11111 11111"".;1 r,llta de notificação do réu para contestar a habilitação
(22) A redacção do art. 201-1 foi manifestamente pensada tendo exclusivamente rcqucrida p' I" .,"1111. 11:1:,,'qlll'lI('ia duma sucessão inter vivos (art. 372-1), afectará, se
l'11I conta a acção declarativa. Mas o problema põe-se também quanto à realização da for atcmjl".(IIilwlllt' ,1I1'lIid:l. I"dos I)S actos do incidente de habilitação, mas não aque-
lunção da acção executiva. Nas acções declarativas que correm por apenso ao pro- lcs que, 11111.1" 'I"" \" ".1"1illl";" 1't)/','i'Ilcnrrctanto praticados no processo principal, ressalvada
rcsso executivo, bem como nos incidentes declarativos nele enxertados (cf. A acção ;1 reperC\1:,'.IIIO tjlll' ., ,IIIIII''',all 11;1selllt:II~'a de habilitação necessariamente terá na eficá-
",\I'('/oiva, 1.5, in fine), O problema põe-se como na acção declarativa, Faz explícito apelo cia (que ", 1'.11.'1.1", .. ,,11>', "a :wlIlll'lI('i'l principal em que o habilitado já tenha tido
i\ íunção processual no regime da invalidade o art. 156 do CPC italiano (<<falta de inlcrvCnt'il" 1111 \1"/ d,! 1'.111(0ptllllitiva.
II'lJuisitos formais indispensáveis à prossecução do fim»; acto que «realiza o fim a que (!S) 1',\'''1-'11 [\,II'f·II,I·';. urc:
cit.. I. ps, 41-42.
xc dcstina»). I h ",,1,,1.,,1, - '.'- r:il:1 11:1('pf)'Jafc da subsccção que trata da matéria. A inep-
(1(')

(23) Por exemplo, a invalidade da contestação acarretará, além do mais, a da li Ião da I" Ih " •• ,I(I, ,.tI 1"'I.i ' 111111.1;1"1'''I.ut. 19:1): a propósito da falta e nulidade da cit~-
réplica e da tréplica que se lhe sigam, bem como a do despacho saneador que o juiz pro- 1':lIi 111:\',' 1,01.,01. ,'11"1.".:" ,.. 1"1111',1:11<' d" :11'1.I'H c ano 197, ais. a e b), ora de «nuli-
!'ira, da notificação das partes para a prova e da subsequente marcação de dia para a ;ll1d~'" (:111' I"~I \'/(" 1:'[:),,, ,'li" lia 1111111<1 d,' procl.'sso C u íulta de vista ou exame
audiência de discussão e julgamento. Mas o curto prazo de que as partes dispõem para :11\ MiliÍ:.I' ",. \',;1011'" """" 1,.111,':11,'~,;,ú,ia pltlplln.:iun;1I11 () uso du termo «anulação»
a arguição dificilmente permitirá que se gere tão longa cadeia de actos inválidos. (;111:;, 1'1" I, 'lIil'l 111.•·. ""\"'. ,".1,-'. \"("111'. ';:," "rinal «nulidades» para o art. 204.
(24) A afirmação do texto tem como corolário que a nulidade verificada no âmbito () I"I'/'i,," I-'! rI.t, li" "II.!."I,·, "1 u- ",J,1I11I'1I11'""IIIIlllin:lllo «uulidadc» (arts. 201 a 208);
dlllll'l sequência processual autónoma relativamente à sequência principal (como é o 1"~I:i \I nll 'DI • I 111I'IIII.t1Id li!! 11',11 .lu'. 1l'lliHl', -uulirlndc ..· t' ;(~H't1~:H\;·jn».
I'a~w dos procedimentos probatórios e dos incidentes) não se transmite aos actos desta ("1 '.1 . .,1., ,I., I' ,,'i, ,. "'I" .1" .1,1nulul .u I,' ,1." ,LII;"" d" .'." 1':111<'do :111.jl)!{·21
lill hlla (' virr: ..vcrxu, sem prejuízo da repercussão que a eventual anulação indirecta dn 111,Itl1.1 .I I !II! I di dtl 11\ 'q I ,11111,.1.141, -, "tinI i/i.Ji\." d,'llt Il1l1l.1
i ';10 tJlW lIIJ',IIIIl~1 d'-HI"
) )
o Conceito

salvada sempre, fora o caso da do art. 199, a possibilidade de sanação


(arts. 196 e 200-1; também art. 193-3); só a parte interessada na inva-
lidade pode argui-la (art. 203-1 CPC); é admitida a renúncia, expressa
ou tácita, à arguição (art. 203-2 CPC); excepto no caso do art. 200, a
arguição está sujeita a prazo, que é, em regra (28), de 10 dias sobre o
momento do conhecimento, real ou presumido, do vício, ou da sua cog-
noscibilídade por uma parte diligente (arts. 153-1 e 205-1). Em com-
3.
pcnsação, quando o vício tenha lugar durante a prática dum acto a que
() juiz presida e for nele conhecido, deve logo o juiz, oficiosamente,
FUNÇÃO
fazer cumprir a lei (art. 205-2). O regime-regra da invalidade do acto
processual, sendo mais próximo do regime da anulabilidade de direito 3.1. ESPÉCIES DE ACÇÕES
substantivo, não deixa de revestir aspectos do regime da nulidade, pelo
que constitui um misto de ambas as figuras (29). A sequência processual dirige-se a finalidades diversificadas, con-
soante o tipo de pedido que o autor formula ao tribunal ao instaurar o
processo (1). '
Sob a epígrafe «esp' . ac ões, consoante o seJLfiJn» (2), o
_art. 4 distin~ acções declarativas das ~ -es executivas e, dentro
das rimeiras, as acções de §!Il!ples a.Qrecia ão, de condena!2.. e ç...Q!li:.
titutiva .
Na ac ão de simples aprecia ão o <u!1.QL12edeao tribunal que
d~cIare a existência ou inexistência de um dir~ (3) ou dum f~cto jurí-
trinu manteve (ALBERTO DOS REIS, Comentário, cit., lI, p. 357; JOÃo ANTUNES VARELA,
Mnnna] de processo civil, Coimbra, Coimbra Editora, 1985, p. 388), mas que não tem
!',I:lIldc rigor. Melhor se falará de nulidades típicas relativamente àquelas que, englobando
,'ssas (c a simples nulidade da citação) são especificamente tratadas na lei, sendo atípicas (I) O pedido (ou pedidos) deduzido pelo autor na petição inicial, com que abre
"", restantes. Em A acção declarativa aparecem especificamente tratados o erro na a sequência processual, pode vir a ser alterado, ampliado ou reduzido, nos termos
1IIIIIIa de processo (5.2,3) e a falta e a nulidade da citação (6,6.1), bem como a inepti- dos arts. 272 e 273. Pode o réu, em reconvenção deduzida no acta da contestação,
tI:11ItI:1 petição inicial (5.2.1). deduzir, por sua vez, um pedido (ou pedidos) contra o autor e até, em certos casos,
(-'K) Se a parte estiver presente, por si ou por mandatário, no momento em que contra terceiro chamado a intervir no processo (arts. 274 e 329-2), Podem ainda, em
1"1('111cometidas, o direito de arguição preclude com o termo do acto (art. 205-1). No certos casos, terceiros deduzir um pedido (ou pedidos) contra o réu ou até contra o autor
,';1,',(1da ialta de citação, a arguição deve ter lugar logo que o réu ou o Ministério Público (urts. 320, 323-1, 327-3, 342-1 e 350-1), De todas estas situações se trata infra, lI,
1111('I'Wllhano processo, constituindo o primeiro acto de intervenção ou sendo simultâ- 10,2. O que se diz no texto é aplicável, não só ao pedido inicial, mas também aos
IIl';1 l""lJ outro acta que então se pratique, e não relevando o conhecimento - não ofi- rcs: :I11tcs.
"I:tI .. do vício (art. 196). O mesmo se aplica nos casos de nulidade de citação em que (2) «o lermo acção tem, no are 4, o sentido de pedido. No art, 4 contém-se pri-
,':;1" li'llha sido edital ou em que ao réu não tenha sido indicado o prazo para a con- 11Iari:1I11('llle uma clusxil'ic.rçíio de pedidos» (CASTRO MENDES, DPC, cit., I, p. 231).
II'SI"\:;lo; mas, fora destes casos, a arguição da nulidade da citação deve fazer-se no (') Por exe-mplo: () ;rlllm pretende ser declarado proprietário de determinada coisa
!,!:IW (jIIC tiver sido, ainda que erroneamente, indicado para a contestação (art. 198-2). \'(Jlllra :11):11('111 l(lI\' :llIda al'inllalldo que 1l1ioo é, ou porque de outro modo não pode regis-
( ) nl'O na forma de processo, tal como a ineptidão da petição inicial, podem ser argui- 1<11(' ~I'" dllL'III' ('()dil'" d" 1{"I',i,I" Predial. :11'1.116), ou que seja declarado que o réu
dos 11(1prazo da contestação (art, 204-1). li:,,, Í' jlIOlllli'l:lIl" .I•. "1''''' ,',,,,11 '1'11' ('''', :11'1('1',possui. ou ainda que Il:JO é pai ou mãe
(-")) Isso explica um pouco a imprecisão e a flutuação terminológicas do legislador "11 1('11,"111111:11 Ilillll'III(' :1111(11('i':,1t' allda "llI 111:111(1",
) ).
24 o Conceito Função 25

dico (4) (5), É uma acção de utilização rara, cuja admissibilidade geral Na-acção de condenação (lo), vai-se mais longe: sem prejuízo de
foi durante muito tempo discutida (6), que reveste manifeSta utilidade ein o tribunal dever ainda emitir aquele juízo declarativo, dele se pretende
certos casos em que se pretende obter o reconhecimento dum direito (1), também (e fundamentalmente) que, em sua consequência, condene o
mas que tem dado lugar a dificuldades em outros casos em que a sua uti- réu na resta~-ªº d a coisa ali dum facto (11), O pedido de declara-
lidade é menos nítida (8), Com ela, a declaração do direito encontra:§e, ção prévia do direito ou do facto jurídico pode ser expresso (12), caso
se assim se pode dizer, no seu estado mais puro (9), em que se verifica uma cumulação de pedidos (art. 470); mas pode o
autor limitar-se a pedir a condenação do réu e então o juízo prévio de
apreciação mais não é.do que pressuposto lógico do juízo condenatório
(4) Por exemplo: o autor pretende que seja declarado que a celebração de deter- pretendido,
minado contrato de empreitada, que o réu afirma ter tido lugar, na realidade não se Pressuposto lógico da condenação é também a violação dum direito;
verificou; ou que determinado contrato, que celebrou, é nulo, ou pelo contrário válido; mas não é necessário que a violação esteja consumada à data do recurso
ou que ocorreu simulação processual (art. 779- l); ou ainda que certo. documento, que
a juízo ali mesmo à data da sentença (13), A acção de condenar;Ji.o.•
o réu afirma ter sido por ele, autor, assinado, na realidade não foi, ou que a sua assi-
natura foi aposta em outro texto, seguidamente falsificado, A mera declaração da exis- pode, com efeito, ter lugar na previsão da violação do direito, dando entã~
tência (ou inexistência) ou da validade (ou nulidade) dum acta jurídico, ou da simula- lugar a uma intimação ao rélL ~e se abstenha de o viola~ (cf.
ção do litígio, bem como a da genuinidade ou da falsidade dum documento, com ~, 1276 C,Ç: ac~ão possessória de prevenção) ou à sua condenaç-o
abstracção dos respectivos efeitos, constituem apreciação da existência (ou inexistência)
satisfazer a res a -o o mo wencimento (arts, 472 e 662),
dum facto produtor de efeitos de direito, isto é, dum facto jurídico,
(5) Por falta de interesse processual (infra, nota 17), é dificilmente imaginável uma
Pela acção constitutiva, exerce-se um direito potestativo (14). O juízo
acção de simples apreciação da existência ou inexistência duma situação jurídica diversa
do direito subjectivo, sem prejuízo da sua apreciação em acção de condenação. Assim,
por exemplo, a expectativa do adquirente por contrato sujeito a condição suspensiva, ou
a do alienante por contrato sujeito a condição resolutiva, pode ser feita valer em acção (10) Por exemplo, o autor, afirmando-se proprietário ou possuidor, pretende que
de condenação que a vise conservar (art. 273 CC), mas dificilmente em acção de sim- o réu seja condenado a restituir-lhe a coisa própria ou possuída; ou, afirmando-se cre-
ples apreciação, dor, pretende que o réu seja condenado a efectuar a prestação devida,
(6) Desconhecida, com alcance geral, no direito romano, ainda no domínio (11) Revista ou não a prestação natureza obrigacional. Também as pretensões
do CPC de 1876 se discutia a sua admissibilidade geral, que o CPC de ]939 consa- reais (fundadas num direito real) podem constituir objecto da acção,
grou (Joss ALBERTODOSREIS, Processo ordinário e sumário, Coimbra, Coimbra Edi- (12) O autor pede que o tribunal declare que ele é proprietário ou possuidor e que,
tora, 1928, ps. 242-246, e Comentário, cit., I, p. 19; CASTRO MENDES,DPC, cit., I, consequentemente, condene o réu na restituição; ou que o tribunal declare que o con-
ps. 236-237). trato que invoca como causa de pedir (infra, 4.6) é válido e, consequentemente, que o
(1) Nomeadamente, por necessidade de sentença de justificação de direito real réu seja condenado a cumpri-lo.
ou de posse para o efeito de inscrição registral (arts, 116 e 118-2 do Código do Registo (l3) Como acontece no caso da acção de restituição do art. 1278 CC ou na de cum-
Predial). primento do art. 817 Cc.
(8) A exigência da necessidade de recurso a juízo para justificar a acção de sim- (14) Por exemplo: o autor pede ao tribunal que, com determinado fundamento,
ples apreciação levou a doutrina a apurar o conceito de interesse processual (infra, declare a d.issolução, por divórcio, do seu casamento com a ré; que seja fixada uma pen-
nota 17). Não de alimentos; Que, com fundamento em erro, seja anulado um negécio jurídico que
(9) No Projecto da Comissão VareIa de CPC (Código de Processo Civil - Ante- \'\:Ii·hí·()lti::õii1()i·éu; que, por contrária à lei ou aos estatutos da sociedade, seja anulada
projecto, Lisboa, Ministério da Justiça, 1993), as acções de simples apreciação foram deno- 11111 li 'dclili(:rll~Uo sociul; 011 que, ,/201' incumprimel1to de contrato-promessa, seja emi.tida
minadas acções de simples declaração (art. 17-2-c), em sintonia com a denominação que 1:I'III<'III;ad,' 1',~I'('\J(;:ill \'spl'dlit'a. Para que haja uma acção constitutiva, é necessário que
têin no direito processual italiano (<<mero accertamento»: cf. CRISANTOMANDRIOU, i,I' ",~II'i:1 1'r-r :11111· 11111 tlir,'//o ':lill',\//I!ÍI'II di' ('.\I'/crei" judicial (cf. JOÃo CASTROMENIJES,
Curso di diritto processuale civile, Milano, Giappichelli, 1995, p. 60, Oll FRANCESCO LUlSO, Tcotiu 8/'//11 d, di,";/" ''II'd, I,i::hll:l, 1'~K(ll:jl\l•.ii(l Académicu, 1979, Il, ps. 124-126), a
I>il'ilf(! processual» civile, Milano, Giulfrê, 2000, r, p. 12) e nnglo-saxónico (cdcclara- ,'llIllIl" dandll 111)',:11 " 1,,~,'Il'II'I" .111 '/I/,'i,,, 1,,,11'.\/,/1/1'(/ til' (',\I'ít'IÍ'io ('.\Imjl/di,·ir" (por cxcm-
lor.v jlldl',IIIt'ItIS' ..). "liI, li "':,,,III~'nli "" .)"1111111'1:1 dt· '"Ill1!II\I. 1111 ,lllIda, 1\(\ ,':11111'" das facllldadel: poll~SIi1l.i-
) )
26 o Conceito Função 27

do tribunal já não se apresenta limitado, como nas duas sub-espécies ante- Este quadro de finalidades do processo civil (l<í) vem confirmar ~
riores, ~Ia situação de direito ou de facto pré-existente: perante o pedido sua instrumentalidade relativamente ao direito substantivo (supra, 1): o
de alteração das situações jurídicas das partes, o juiz, pela sentença, direito êle acçao, como vertente fundamental do direito à jurisdição
cria novas situações jurídicas entre el~, constituindo, impedindo, mQdi- (infra, II, 2.2), é o direito de recorrer aos tribunais pedindo a tutela
ficando ou extinguindo direitos e deveres que, embora fundados em situa- dum interesse pl~tegido pelo direito material .(17»); 6 ti o de edido for-::"
..
ções jurídicas anteriore,s, s~ascem com a própria sentença. O aspe~to
declarativo desta, indo além do juizo prévio sobre a existência do direito
.e..0testativo, reside fundamentalmente na definição, só para o futurooo
se realizando uma norma jurídica primária, sem prejuízo de, não sendo possível a entrega
retroactivamente, da situação jurídica constituída. da coisa devida, se passar a executar a obrigação de indemnizar (art. 931), que, imposta
Diferentemente da acção declarativa, a acção executiva tem por por uma norma secundária sancionatória, surge como sucedâneo da obrigação originária
finalidade a....reparação material dum direito violado. Não se trata]"áde de prestação de coisa. Já a execução para prestação de facto, seja este um facto positivo
Iungível (art. 828 CC) ou consista na demolição de obra feita em violação duma obrigação
d~larar direitos2.,pré-existentes ou a constituir. Com ela passa-se da
de omissão (art. 829 CC), consistindo na prestação do facto por terceiro e como tal
formulação concreta da norma jurídica para a sua actuação prática, representando para o credor o cumprimento coercivo da norma primária de obrigação,
mediante o dgencadear do mecanismo da garantia. Pode ter como implica sempre, para o devedor; a obrigação de a custear, isto é, uma obrigação pecuniá-
finalidade a reintegração dum direito real, mediant; a entrega da coisa ria sucedânea da obrigação de prestação originária, sem prejuízo também de o credor poder
sobre que incide ao respectivo titular, ou a realização específica duma optar por uma indemnização independente da prestação por terceiro (art. 933-1) e sendo
que não há alternativa a esta quando o facto a prestar seja infungível (art. 767-2 CC). Obri-
prestação obrigacional não pecuniária; mas visa, mais frequentemente, a
gação pecuniária secundária é ainda a de indemnizar por violação de normas genéricas
realização coactiva duma obrigação pecuniária, primária ou de indem- de conduta (não obrigacionais), como as que mandam respeitar a vida alheia, o direito
nização, tenha-se esta última constituído como sucedâneo duma rela- de propriedade ou a saúde pública. Ao invés, a obrigação pecuniária primária (obriga-
ção primária de obrigação incumprida ou na sequência da violação dum ção, por exemplo, de restituição no mútuo em dinheiro) conserva a sua natureza após a
dever genérico de conduta (15). violação e pela execução que se instaure é coactivamente realizada ainda a norma que a
impõe. Seja, porém, qual for o tipo de execução, ela atingirá o seu fim (se for uma exe-
cução específica) ou tornar-se-á inútil (se for uma execução por equivalente) quando o
devedor, na sua pendência, voluntariamente realiza a prestação originariamente devida, tal
vas, a escolha de prestação na obrigação alternativa). Os direitos potestativos de exer- como atingirá também o seu fim quando, sendo uma execução por equivalente, o deve-
cício judicial só através de acção se podem fazer valer, sem prejuízo de o mesmo resul- dor voluntariamente cumpra a obrigação de indemnização sucedânea que se executa.
tado de alteração das situações jurídicas das partes poder ser obtido por um meio que, (16) Estamo-nos ocupando apenas do processo contencioso, excluindo o de juris-
diversamente do exercício do direito potestativo (que postula a passividade da pessoa dição voluntária (infra, 4.5).
sujeita aos efeitos desse exercício), requeira a manifestação de vontade da contraparte (17) Pode, não obstante existir um interesse material, organizado ou não em
(divórcio por mútuo consentimento; anulação por acordo; celebração do contrato pro- direito subjectivo, faltar o interesse processual ou interesse em agir, isto é, o interesse
metido), em circunstâncias análogas ao que pode suceder no âmbito dos direitos potes- em recorrer aos tribunais para tutela do primeiro. A questão da exigibilidade do inte-
tativos de exercício extrajudicial (resolução por acordo; escolha por acordo). Estes, resse em agir, como pressuposto processual, tem sido posta sobretudo no domínio da acção
por sua vez, não podem ser exercidos por meio de acção, embora a petição inicial declarativa de simples apreciação, para a qual os defensores do pressuposto exigem
duma acção possa conter a declaração de vontade que consubstancia o seu exercício e que se verif-ique lima situação de incerteza objectivamente grave, de molde a justificar
que, como declaração receptícia, chegará ao conhecimento do réu através da citação. a intervenção judicial: li negação, ainda que meramente verbal, dum direito do autor, a
Assim, por exemplo, pode pedir-se ao tribunal que declare ter sido resolvido um con- Hfil'llwçfiodum direito contra ele, () início duma actuação do réu conforme com essa nega-
trato, ainda que a declaração de resolução só tenha sido feita na petição; mas não se lhe <-,fio ou ari I"IlIa<';:Io
(r iqucrirncnto de apoio judiciário ou passagem de procuração a advo-
poderá pedir que efectue, ele próprio, pela sentença a emitir, essa resolução. Está-se então I'.lido para a proposilllra duma acção), a existência dum documento falso ou dum con-
perante uma acção de mera apreciação, não perante uma acção constitutiva. Iralo 01110Itllill '111j\lIrálllllent(· ,·tllllr:'trin aos interesses do autor - são exemplos que
(15) A execução para entrega de coisa determinada (art, 827 CC) pode ter na sua W:;tlllSI"I<1:111"'.,11:111 11:1,,1:11111
•• 111111";1
11111:1 íIHTII,·/.:1subjrctiv« independente da ocorrência
hasl~ um direito real (do cxcqucntc) ou um direito de crédito, em ambos os casos por ela d,' I;" 111:.'I'''' p,,·,'..111I:<1,.•.1:11" IIII,,"'~',,· 111111<'11:11
.111autor eM/\N\lLI. IJE i\NnRAnE.
) )
28 o Conceito Função 29

rnulado pelo autor (18), condicionando a espécie de providência que o tri- ciária pretendida para a realização do interesse que se afirma juridica-
bunal deverá emitir (19), constitui a escolha (20) da forma de tutela judi- mente protegido pelas normas de direito material (21).

Noções, cit., ps. 79-80). Na acção declarativa 'constitutiva, pelo contrário, o interesse pro- 3.2. A TUTELA DO DIREITO MATERIAL
cessual está in re ipsa, isto é, na simples afirmação que o autor faz da existência dum
seu direito potestativo carecido de exercício judicial (MANDRIOU,Corso, cit., I, p. 70).
É na base desta constatação que, para a doutrina clássica, a função
O mesmo acontece nas acções de condenação quando o autor afirme que o seu direito
do processo civil consiste na tutela do direito material, entendido este quê!
foi violado. Mas a discussão em torno da exigência legal do interesse processual volta
li pôr-se, ainda que com menos aeuidade que na acção de simples apreciação, no caso no sentído (objectivo l de sistema de normas de conduta, ao tribunal
da acção de condenação proposta na simples previsão da violação futura duma obriga- cabendo impor a sua obse'fVância e repnrrur a sua violação (22), quer no
ção ainda não vencida (cf. ANTUNESVARELA,Manual, cit., ps. 182-185, em sentido sentido (subjectivo) de direito radicado num sujeito jurídico CãreCí@
afirmativo. e CASTROMENDES, DPC, cit., Il, ps. 159-163, em sentido negativo): do
da ajuda dos tribunais para o exercer (23) (24), glIer no duplo sentido d~
ano 662 (condenação in futurum do réu que não conteste a obrigação vincenda) e do
art, 449-2-c (admissibilidade da acção de condenação que seja desnecessária por o cre-
dor já ter um título extrajudicial com manifesta força executiva: cf. art, 46) retira-se a
inexigibilidade geral do pressuposto na acção de condenação, não obstante o interesse vidência pretendida, a qual deverá então ser recusada se não se verificar o interesse
processual ser exigido quando se pretenda a condenação do réu no cumprimento duma correspondente, ainda que OCOlTao interesse geral em recorrer aos tribunais. Mas a natu-
obrigação de constituição futura provável (a acção s6 é admissível se a falta de título reza do direito ou do interesse material que se quer fazer valer condiciona a escolha: não
executivo, isto é, de sentença, à data do vencimento da obrigação por constituir puder pode, por exemplo, fazer-se valer o direito potestativo mediante uma acção de conde-
causar grave prejuízo ao credor: art, 472). A ideia de que a falta de interesse proces- nação, sem prejuízo de se poderem cumular no mesmo processo pedidos correspon-
sual só é invocável pelo réu, o que explicaria o seguimento das acções que este não con- dentes à acção constitutiva e à acção de condenação (a anulação dum contrato e a res-
testasse, não obstante o autor ter lançado mão de um tipo de acção inadequado (MIGUEL tituição da coisa entregue em cumprimento, por exemplo). Por outro lado, a acção
TEIXEIRADE SOUSA,As partes, o objecto e a prova na acção declarativa, Lisboa, Lex, executiva tem pressupostos específicos, o primeiro dos quais o título executivo (art, 45).
1995, p. 104), não colhe: a exigência do interesse processual baseia-se fundamentalmente (21) O autor deve afirmar-se titular dum interesse material ou, em casos deter-
na necessidade' de não sobrecarregar os tribunais com acções inúteis, razão de ordem minados (substituição processual, infra, 5 (5-A); acção popular, infra, Il.2.2.2), afirmar
pública que justifica o seu conhecimento oficioso (ADOLFSCHbNKE,Lehrbucli des Zivil- a existência dum interesse de que não é titular, mas que uma norma excepcional lhe con-
prozessreclus, Karlsruhe, Müller, 195], ps. 167 e 174), imposto, aliás, pelo art, 495; a sente fazer valer em juízo, À pretensão basta, como veremos (infra, 4.6), a afirmação
própria falta dum contlito de interesses na base do processo tinfra, 4.4), traduzindo-se do direito ou interesse, independentemente da sua existência, que é já uma questão de
em falta de interesse processual e podendo dar azo a acções injustificadas contra incer- mérito.
los, não pode deixar de ser oficiosamente conhecida. Pode, pois, concluir-se que a (22) Por todos: NIKISCH,Zivilproressrecht, Tübingen, 1952, p. 2; GIAN ANTONIO
exigência do interesse processual só entre n6s se pode pôr - diversamente do que MICI-lELI,COI'SO di diriuo processuale civile, Milano, Giuffrê, 1960, ps, 3-4 e 82-83; ALDO
acontece em outros sistemas, como o alemão (§§ 256 a 259 ZPO) e o italiano (art, 100 ArrARDI, Diritto processuale civile, Milano, Cedam, 1997, I, ps. ]-5 e 25-28 «<acerta-
CPC) - enquanto exigência dum interesse sério para o recurso a juízo, mas indepen- monto da vontade abstracta da lei no caso concreto»).
dentemente da espécie de acção que se venha a propor (A falsidade, p. 193 (55), e CPC (23) Por todos: KONRADHELLWIG,System des deutschen Ziviiprozessrechts, Aalen,
anotado, 11, n." 3 da anotação ao art. 449, n." 4 da anotação ao art. 472 e n." 3 da ano- Scientia verlag, 1968, reedição da edição de Leipzig de 19]2, p. 2; HENCKEL,Prozess-
taçâo ao art, 494). A falta do interesse processual, quando exigido, constitui excepção redil, cit., p, 63; WOLFGANGGRUNSKY,Grundlagen des verfahrenrechts, Bielefe1d, Gie-
ditatâria inominada, como tal geradora de absolvição da instância (infra, 3.5). scking, 1974 (2." edição), p. 18; LUlSO, DPC, cit., ps. 8-9.
(18) Ou pelo réu, em reconvenção. (24) Na acção executiva, tal como na acção declarativa constitutiva, o exercício do
('9) De acordo com o princípio dispositivo tinfra, 11.6.3). O conteúdo do pedido direito conduz à sua realização (ou dum seu equivalente). Já não assim na acção de con-
wndiciona também o conteúdo da providência, como se verá ao tratar do objecto do pro- dcnaçüo, que. 6 uma etapa 110 caminho da realização do direito, e, muito menos, na
cesso (it!fra, 4.1). [I(\,:ítl dI' silllpks aflln;ia<;~o. Mas, requerendo a tutela judiciária dum direito subjectivo,
('O)
- N-ao I'tvre, A' exigencia
- . da a dequação do meio de tutela será maior para I'sl~·sl' Sl'lIlpil'. ('0111 maior uu menor 11IIt·llsidadl'.afirmando II existência dum direito que
quem defenda que o interesse processual deve ser verificado perante a espécie de pm .. li,' jll'I'll'llllt· (·.\.·••'1'1. ilHl'dlillnllll'lll" 1111 no 1111111(1 (11\1 c.aso <1(1 tlil'l,ilO de crédito, mediante
) )
30 o Conceito Função 31

direito objectivo e de direito subjectivo, tidos como os dois lados da adequada a traduzir as fmalidades objectivamente (29) visadas pelo autor
mesma medalha (25). ao propor a acção. O art. 202-2 da CQnstitojçã~ra esta ideia,
É hoje dado cientificamente adquirido que nem todas as situações quando diz que aos tribunais incumha.eassegurar a defesa dos direitos
jurídicas subjectivas se reduzem à figura do direito subjectivo (26). Por c interesses legalmente protegidos dos cidadãos». Tido em conta o
outro lado, através da acção executiva e da acção de condenação pre- j)rincípio dispositivo tinfra, 1I,6), a perspectiva subjectivista da doutrina
tende-se fazer valer o direito a uma prestação e através da acção cons- dássica sobre a função do processo civil conserva importantes virtuali-
titutiva pretende-se exercer um direito potestativo; mas a acção de sim- dades definitórias do elemento teleológico do conceito e, ao mesmo
ples apreciação pode não visar a declaração sobre a existência dum tempo que reduz a paralela perspectiva objectivista à ideia de que a
direito (27), mas a declaração sobre a existência dum facto jurídico, e aqui tutela do direito objectivo só mediatamente é atingida (30), permite tarn-
trata-se de tutelar um interesse do autor que é independente da confi- IHSm identificar alguns desvios da função processual em normas legais
guração de um direito subjectivo (28). tio sistema que, sobrepondo a segurança à justiça ou os interesses de pes-
Tidas em conta estas constatações, a ideia de que o processo civil soas públicas aos interesses das pessoas privadas, sacrificam a tutela
tem por função a tutela de direitos subjectivos, ou de interesses juridi- dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos à realização
camente protegidos mas não organizados em direito subjectivo (28.A), é Ik~ outras finalidades que à primeira deviam manter-se subordinadas (31).

a exigência do cumprimento da obrigação: JOÃo ANTUNES VARELA, Das obrigações em (29) Independentemente das intenções do autor. O desvio do processo das suas
,1:/"'01, Coimbra, Almedina, 1980, ps. 113 e 141). unnlidades objectivas, por através dele se procurarem atingir resultados anómalos, con-
(25) Por todos: GOTTFRIED BAUMGÂRTEL, Neue Tendenzen der Prozesshandlungs- lil:!!ra, quando bilateral, a simulação do litígio (lnfra, 3,6) e, quando unilateral, a má fé
lchr«, Zeitschrift für ZiviJprozess, 87 (1974), ps. 135-136; WOLFGANG BREHM, Bindung processual (art. 456-2).
dcs Richters an den Parteivortrag und Grenzen freier verhandlungswürdigung, Tübin- (30) De acordo com o princípio dispositivo, na vertente do impulso processual, «por
,'.eu. Mohr, 1982, ps. 28-29; ROSENBERG-SCl-lWAB-GonwALD, Zivllprozessrecht, Mün- IIlais grave que seja a violação da lei substantiva civil, é lícito ao interessado agir em
chcn, Beck, 1993, p. 3. IIIJi',O ou abster-se disso, Este sistema não está em harmonia com um pretenso fim de
(26) Cf. ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Teoria geral do direito civil, Lisboa, Asso- IlIlt'll'sse público do processo civil: se este servisse para a tutela da lei, em caso de
ri,II,;1iOAcadêmica, 1987-1988, I, ps. 251 e ss., ou DIETER MEDICUS, Allgemeiner Teil des "'III:I~';i(] desta devia ser posto em marcha oficiosamente por um órgão público (como
/I( //1, Hcidelberg, Müller, 1982, ps. 32 e ss. 11 I'IIl(:csso penal), não deixado ao arbítrio dos particulares» (CASTRO MENDES, DPC, cit., I,
(27) Ou sobre a inexistência dum direito. A acção de simples apreciaçãonegativa I' t),J). Mas esta constatação não impede que, uma vez havida a iniciativa de recurso
dum direito não visa, por definição, tutelar um direito (do autor), mas negar a existên- II'I~, rrihunuis e enquanto ela se mantiver (isto é, enquanto o autor não venha eventual-
ria dum direito do réu. Implicando a exigência do interesse processual (supra, nota 17) IJio'ill(' desistir da instância ou do pedido: infra, 1l.6.2), a tutela do direito subjectivo indi-
'111(' () direito (negado) do réu seja contrário a um direito incompatível do autor ou li' r.unrntc sirva a finalidade de tutela (ou garantia) do direito objectivo.
!cllha como correlativo um dever deste para com o réu, a negação da tutela do direito (11) A sobrcposição da segurança à justiça é sobretudo nítida nos processos comi-
concreto do réu pode ainda ser reconduzida à ideia de tutela dum direito, concreto ou 11<I1"l'lu,l' plenos, isto é, naqueles em que a revelia (falta de contestação) do réu dá lugar
nhstructo (il liberdade de auto-vinculação), do autor, 11'.11.1íllH'diala condenação no pedido, ainda que dos factos alegados pelo autor não se
('H) A proposituru dum" acção de nulidade de contrato ou de falsidade de ,In'!'i:~i' rctirur a consequência jurídica correspondente a essa condenação (cf. os arts. 784-2
!lOl:\lIIH.:nlo pressupõe que o autor tem interesse em que o contrato seja nulo ou o I' 1'1'1 J da VC:fS[[O anterior à revisão de 1995-1996), e por isso, fundamentalmente, foi afas-
dll('\lIIH'lIto falso, mas o objecto do processo abstrai dos direitos que pudessem resul- ",011111111'I,,,is;ln do código (ver, porém, infra, I1.2.3,4); mas verifica-se também, embora
tur do couuuto (nu tia SlIU nulidade) ou do facto provado através do documento (ou III,II~. ttrnundn, 1I0Sprocessos coniinatários setni-plenos, em que a revelia do réu dá lugar
rlu !:tJII Julsiücução) para se reduzir à apreciação da nulidade ou da falsidade prc- 11'11i" ia' !t'lIlmlll [lI\[' provados, por admissão, os factos alegados pelo autor na petição ini-
It'lIdida, 1111111111.,1'10.:). No Pl'illlrin) CISll. tutcln do direito subjectivo sobrepõe-se directamente
à

(.'11,,) ..'I\II<:.Ia d~ sitlHl~í;eN uuncriais prnt~:l"jdas», inruiudo os dirl'i(os ~lIlljltl'ljV\lS I1 IIIHd,,!.,,'" dI' l'P!III'"1 (I Iilfgill pelo meio mais eXI 'dito; no segundo caso, a constitui-
(1.111::1I. 1)('( " I'il., I, )lfl. li ')). ~;I" 1'11111I,'i,)d(' prova do ~il '1I('i•• d" 1(:11,II:i•• "hSl:IIIII' 1'''' 1~ldn n\ío liil'.uiliL'HI'a sua aquics-
) )
32 o Conceito Função 33

Por isso também, a instrumental idade do processo civil é um elemento consequência (e que, portanto, tem o ónus (34) d~ fazer a prova do res-
fundamental na interpretação das normas processuais (31-A), Qectivo facto) faz-se de acordo com a l=êgra do art. 342 CC: a cada
uma das palies cabe a prova dos factos constitutivos da sua situação ..
jurídica, ou dos elementos constitutivos do facto 'urí 'co cu'a existên-
3.3. A JUSTA COMPOSIÇÃO DO LITÍGIO cia quer que seja ec ara a , que constituem a causa de pedir
(i7ijra, 4.6), e à contraparte a prova dos factos impeditivos (6), modl-
Nem sempre a tutela do direito subjectivo (ou do interesse legal- - -
1I1L;J1le
protegido) se realiza no processo civil.
Para o demonstrar, tem-se argumentado com as regras que regulam
se traduz na consecução dum resultado probatório sem a apresentação dum meio de
a distribuição do ónus da prova e com a admissibilidade da auto-com- prova nem qualquer actividade probatória (idem, ps. 481 (53) e 482 (54», enquanto
posiçiio do litígio (32), que a presunção legal (art, 350 CC) assenta numa actividade probatória (é provado,
Nos sistemas processuais hodiernos, a dúvida insanável do juiz por um meio de prova, o facto que serve de base à ilação) e apela sempre a regras de
acerca da realidade dos factos alegados pelas partes é resolvida, não experiência que, atendido o elevado grau de probabilidade ou verosimilhança da ligação
concreta entre o facto provado e o facto probando, permitem dar este por assente (idem,
através dum non. liquet (declaração do tribunal de que não pode decidir ps. 279 (39) e 140 (23). Ver também infra, [1.6 (62), e A acção declarativa, cit., 14.3).
ti causa), mas mediante a imputação a uma das partes das consequências (34) Ter o ónus da prova não significa que se tenha o exclusivo da prova. Quer
negativas da falta de prova (33), A determinação da parte que sofrerá essa o tribunal oficiosamente (art. 265-3) quer a contraparte (art. 5 (5) a podem também pro-
duzir. Ter o ónus da prova significa que é aconselhável ter a iniciativa da prova, a
11mde evitar a conseguência desfavorável da falta de prova. Por isso prefere alguma
doutrina falar em ónus de illiciativa da prova (illfra, n.6 (60».
cência à realidade dos factos alegados pelo autor (cf A confissão, cit., p. 482 (55», (35) A celebração duma compra e venda, a feitura do testamento de pessoa fale-
result« na pretcrição da investigação da verdade e, portanto, na viciação da subsequente cida, os actos configurativos da posse continuada durante o prazo da usucapião podem
1I111:raÇ1io de aplicação,' na sentença, do direito aos factos assim dados como provados. ser os factos constitutivos do direito de propriedade que o autor invoca. A celebração
Sulienle-sc que a investigação da verdade, por alguns tida como fim do processo (cf. do empréstimo de certa quantia, os factos integrantes do vencimento da obrigação, a coli-
klrrn. p. 457 {37», é, a justo título, afirmada ser um instrumento necessário à tutela do são de veículos culposamente causada podem ser os factos constitutivos do direito de
dil'\~ilosubjectivo (ROLFSTÜRNER,Die Aufklãrungspfíicnt der Parteien des Zisilprozesses, crédito pecuniário invocado pelo autor. A deliberação social tomada com violação da
'l'übingcn, Mohr, 1976, p. 51). A sobreposição à outrance do interesse das pessoas públi- lei ou do pacto social, a menoridade dum contraente, a declaração de se querer comprar
('iIS 110 das pessoas singulares leva, no processo executivo, por via do mecanismo dos pri- (l bem x quando, com conhecimento do vendedor, se queria comprar y podem ser os fac-
vili:/',i(ls crcditórios, a frustrar a satisfação do direito do exequente (e dos demais credo- los constitutivos do direito potestativo de anulação que o autor exerce. A celebração da
Ii'H preteridos), desviando o processo da sua função (cf. A acção executiva, 17.3.4.B).
compra e venda dum imóvel por documento particular, a fictícia celebração duma doa-
(11-/\) Os princípios constitucionais, a instrumentalidade do processo civil e os \'l10 mediante acordo simulatório entre doador e donatário, a alteração gráfica dum
pl'Ílldpios gerais da lei processual ordinária constituem, por esta ordem, os princi- documento autêntico podem ser os factos constitutivos da nulidade ou da falsidade que
i'l1i~,,·!t'llIl·nlosde iutcrprctação teleológica das normas processuais (ROSENBERG-SCHWAB- \) autor pretende que seja declarada.
(lIITIWAI.II, Zivllproressrecht, cit., p. 33).
(I},) CASTHUMENDES,DPC, cit., I, ps. 94-97.
e 6) O facto impeditivo inibe ab initio, ainda que com retroactividade, os efeitos
do Iucto constitutivo. A figura foi criada em função da necessidade de resolver o pro-
(1.1) () resultado do ónus da prova não constitui uma prova, contrariamente ao que
hlcmu do ónus da prova e a distinção entre o facto impeditivo e o facto (IUlO) consti-
Sll!:ll'lIla( ',ISTIIIlMENIlFS(OPC, cit., I, p. 96, e Do conceito de prova, cit., p. 404), mas, 111111'0 nem sempre é fácil (cf, ADRIANOVAZSERRA,Provas, Boletim do Ministério da
1)['10 "III1Ir{lIill,urna ausência de prova: a decisão contra o titular do ónus baseia-se na Justlçn, 110, ps. 126-128 e 132-151). Para a estabelecer, há que interpretar a norma de
Ihi\'ida l' \'~I:1não surge tomo resultado da produção dum meio de prova, mas como con- diJ'\·ito substantivo a aplicar e nela distinguir a. regra da excepção; e, se da norma não
1"''III''II\'la d;1Ili'llIprlllhu;:io de meios de prova idóneos a formar uma convicção; nem o n·'.Ill1al'expressamente quem tem o ónus da prova dos factos que prevê (por exemplo,
hl/'o .1111; I'<'/',I:I~do 61llls da prova constitui um meio de prova nem II sua consequência 1111.~O', (' '), dever-so-á recorrer às máximas da experiência para determinar se estarnos
I' 11111 1('\llIllId" Plllhut61'i1l(1\ clIIlf/,I'sil(l, p, 278 (39» . .Jú íl ri!"I11';1 da tllspcnsa ou libe- 111'1:1111(' 1II11i1 \)('01'1' .'lida normal (de 'que caberá fazer u prova a quem do efeito da norma
111';"" dll "'"11:;da I'IIIV:I,1'"1'di~JlIISi~'ill1 da lei ou convenção dUIi l',ult'f11:lrl, :144·-1CC), M' 'IlIt'" 11I1·VIIIe..'I'1 1011pnallll' uniu (l1·orr':lIl·i"(',\('('f1<'lol/cd (de que a contraparte terá o
1 I.!' I'
) )
34 o Conceito FUllçüo 35

ficativos (37) OU extintivos (38) dessa situação jurídica, ou os elementos Normalmente, ao autor (e ao réu reconvinte) cabe provar os factos cons-
impeditivos desse facto (39), que fundam as excepções peremptórias. titutivos e ao réu (e ao autor reconvindo)os~factos impeditivos, modi-
ficattvos e extintivos, sem prejuízo de ao autor caber ainda a prova dos.
factos que tmpeçam,.modifiquem ou extingam os efeitos dos que o réu
ónus da prova). Para dar exemplos retirados da teoria geral do negócio jurídico, alega ~Iegue~ mas nas acções de simples apreciação negativa dá-se o inverso
um facto impeditivo o réu que, confrontado com o pedido de condenação no cumprimento (art, 343-1 eC). Assim, abstraindo destas últimas, se não for feita a
dum contrato, se defende dizendo que os efeitos do contrato não foram queridos entre
prova dum facto constitutivo da situação jurídica, ou dum elemento do
as partes, entre si conluiadas para o engano de terceiros, pelo que ele é nulo, que tinha,
à data da celebração do contrato, menos de 18 anos e por isso o pretende anular por inca-
facto cuja existência o autor quer que seja declarada, o réu será absol-
pacidade, ou que queria adquirir um bem diverso do constante da sua declaração con- vido do pedido; se não for feita a prova de nenhum facto impeditivo,
tratual, cujas características a parte contrária sabia serem-lhe essenciais, querendo por isso modificativo ou extintivo da situação jurídica que o autor se arroga ou
a anulação do contrato. Nos dois últimos casos, a identificação do facto impeditivo, con- do facto cuja existência ele quer ver declarada, o réu será, desde que seja
traposto ao facto constitutivo (a celebração do contrato), não põe dificuldades de maior,
feita a prova do facto constitutivo, condenado no pedido (art. 516) (40).
dado a sua eficácia (anulatória) estar na exclusiva disponibilidade do réu (art. 287-1 CC),
que, invocando-o, deduz uma excepção em sentido próprio (cf CASTROMENDES,DPC, Em qualquer dos casos, .o tribunal profere uma sentença de mérito, isto
cit., 11, ps. 381-382, ADRIANOVAZSERRA, Compensação, Boletim do Ministério da Jus- ~, uma decisão ue, constituindo a resposta ao pedIdo formulado elo
tiça, 31, ps. 55-57, e A COftjiSSÜO, p. 29), que retroactivamente destrói os efeitos do autor, define as situações jurídicas as partes (ou dá por existente ou ine-
facto constitutivo; fala, nestes casos, a doutrina alemã de rechtshemmende Tatsache. XíSteílte.o facto), tal como o faria se tivesse chegado a uma certez'"a
No primeiro caso (simulação negocial, geradora de nulidade), trata-se já dum vício
actual da situação jurídica do autor, que não chegou a constituir-se (CASTROMENDES,ibi-
iiobre a realidade (existência ou inexistência) de todos os factos alega-
dem; VAZ SERRA,cit., p. 58) e só a verificação da excepcionalidade da ocorrência (as dos pelas partes. A diferença está em que, além, a sentença pode não
declarações contratuais correspondem normalmente à vontade das partes, que querem os se conformar à realidade dos factos (ocorrida, mas não provada) e, por-
respectivos efeitos) é que permite configurar o facto impeditivo (cf. A confissão, p. 541 tanto, à existência efectiva das situações jurídicas defmidas, enquanto que,
(42)); trata-se agora, para a doutrina alemã, dum rechtsíiindernde Tatsache e a sua invo-
aqui, a sentença é conforme a essa realidade (provada) e, portanto, às
cação pelo réu configura uma excepção em sentido impróprio ou objecção. Para outros
exernplos<A acção declarativa, 7.5.3. Diversamente, constitui mera negação do facto situações jurídicas existentes (41). Quando exista desconfonnidade, a sen-
constitutivo alegado pelo autor (a emissão das declarações contratuais), isto é, uma
impugnação (art. 490), a alegação de que não foi respeitada a forma que a lei impõe para
a compra e venda de bens imóveis: estando em causa um elemento essencial das decla- dndc dum contrato ou a genuinidade dum documento, constitui facto impeditivo, que o
rações negociais, ao autor cabe a prova de que a escritura pública foi outorgada. Em réu tcm o encargo de provar, a invocação, respectivamente, de factos constitutivos duma
crítica radical a estas categorias e critérios de distinção, hoje comumente aceites e sem ('alisa de invalidade do contrato ou duma causa de falsidade do documento.
alternativa credível à vista (cf. THOMASKUCKA, Die Beweislastverteilung im Zivilver- (40) Exemplo. finalmente, de factos que impeçam, modifiquem ou extingam os efei-
[ahrensrecht, Wien, 1995, p. 71): PEDROMÚRIAS,Por lima distribuição fundamentada Ins de factos, por sua vez, impeditivos, rnodificativos ou extintivos dos efeitos dos fac-
do ónus da prova, Lisboa, Lex, 2000. A defesa da orientação tradicional não significa (os constitutivos alegados pelo autor, isto é, de factos integradores de contra-excepções
que, na operação da distribuição do ónus da prova, não se deva considerar, além da estru- (vxccpçõcs a excepções), cuja prova cabe ao autor: em acção em que o autor queira fazer
tura da norma de direito material, a sua finalidade (GOTTFRIEDBAUMGÃRTEL, Beweis- \1111('1' o direito de propriedade e em que o réu contra ele invoque a usucapião, alegando
lastpraxis im Privatrecht, K61n, Karl Heymans Verlag, 1995, p. 121). " autor, por sua vez, que o réu perante ele reconheceu o seu direito (art. 325 CC), ao
(37) Por exemplo: um contrato reduzindo para 50 uma dívida de 100; um incêndio autor cabe a prova deste facto; em acção de condenação no cumprimento de contrato,
devido a força maior, que tenha destruído parte da coisa a prestar pelo réu (art. 793-1 CC); '"111 que o réu invoque uma causa de anuJabilidade, pode o autor alegar - e terá então
li constituição dum usufruto que reduziu à nua propriedade o direito invocado pelo autor. 11 tíllllS de provar - que o réu, depois de cessado o vício que invocou, fez uma decla-
(3S) Por exemplo: o pagamento ou a ocorrência de outra causa de extinção das obri- 111';:10 coul'innativu do negócio celebrado (art. 288 CC).
gações;' a celebração dum contrato que transmitiu ao réu ou a terceiro o direito de pro- ('11) Salva sempre a possibilidade do erro de julgamento, aliás juridicamente ape-
priedade invocado pelo autor. IIl1!. rr!t'võllll" põtl':\ efeito de recurso e inverificável a partir do momento da decisão
C") Em acção em que o autor pretende que seja reconhecida, sem mais, li vali- drllnillv!I tia \'alloa.
) )
o Conceito
FUllção 37

icnça acaba por não tutelar a situação jurídica que carecia da tutela
judiciária. o meio normal, ao lado de outros, de compor os litígios (44) e sendo ~
.i:':!.facomposição do litígio que constitui a função do processo êivil (45).
Por outro lado, podem as partes, unilateralmente ou por acordo,
pôr cobro a um processo pendente mediante negócio de auto-composi-
ção do litígio, com o que subtraem ao tribunal o poder de decidir a :1.4. POSIÇÃO ADOPTADA
causa. Assim, pode o autor desistir do pediç/.Qpisto é, reconhecer que a
pretensão que formulara é infundada, tal como pode o réu con.f.gMar-f) Todo o processo civil tem na sua base um conflito de interesses e
pedido, isto é, reconhecer o bem-fundado da pretensão formulada pd,o visa a sua composição. Mas esta composição não pode fazer-se arbi-
autor «lI"t.293-1); e podem ,!utor e réu celebrar transacção, isto é, acor- trariamente (46). Deixando de lado o julgamento equitativo, em todos
~ concessões reciQrocas ara porem termo ao litígi~ (art. 124~ os outros casos a sentença de mérito constitui um meio de tutela dos
CC e art. 293-2). Também nestes casos se segue uma sentença de direitos subjectivos (47) e é realizando esta tutela que os tribunais com-
mérito, mas agora com natureza '1leramente homologatórla, pois o tribunal põem os litígios que lhes são submetidos.
lTi'llf<i':.sea verificar se as partes no negócio eram capazes e tinham legi-
timidade para se ocupar do objecto negocial, bem como se este era dis-
ponível, só não homologando se se verificar incapacidade duma das (44) CASTRO MENDES, DPC, cit., I, ps. 96-97 (<<preferencial e norrnalmente»).
partes ou indisponibilidade, subjectiva ou objectiva, do objecto (arts. 299-1 (45) FRANCESCO CARNELU1TI, Sistema dei diriüo processuale civile, Padova, 1936, I,
e 300-3). Havendo homologação, a sentença é proferida em conforrni- (1,245; CASTRO MENDES, DPC, cit., I, ps. 97-100. Para o primeiro, a auto-composição
dade com a vontade das partes e não mediante aplicação do direito {,justa porque a lei impõe limites à vontade das partes, vedando a auto-composição dc
litfgios respeitantes a relações indisponíveis (art. 299-1), pelo que com ela se devem as
objectivo aos factos provados, tutelando o direito subjectivo ou o inte- pnrtcs conformar. Para o segundo, a composição é justa porque adequada à vontade das
resse juridicamente protegido que, em conformidade, se verifique existir. purtcs (CASTRO MENDES, idem, I, p. 183). A explicação não vale s6 para a auto-com-
Além disso, por via de disposição legal que o permita (42) ou, no posição do litígio, mas também para a decisão segundo a equidade e, para quem a
campo do direito disponível, por acordo das partes, podem os tribunais huscic - mal - na manifestação tácita duma «vontade» do réu (cf. LEBRE DE FREITAS,
, ,
,.1roujlssão, cit., ps, 464 (8), 482 (55) e 497 (14», para a comi nação plena. Próximos
- cio Estado ou arbitrais (43) - proferir um julgamento de equidade
da doutrina, prevalente na Itália, que vê a função processual na justa composição do Iití-
(urt, 4 CC e art. 22 da Lei n." 31/86, de 29 de Agosto) e, quando o ",ill. estão os autores alemães que afirmam como fim do processo, ainda que junta-
r;t~'am, não aplicam o direito objectivo ao caso concreto nem, conse- Ill\'lltc com a tutela do direito (objectivo ou subjectivo), o restabelecimento da paz juri-
qucntemente, verificam a existência do direito subjectivo, compondo o dhu (SCI'IÜNKE, Lehrbuch, cit., p. 5; JüRGEN COSTEDE, Scheinprozesse, Universirat
lilíJI,in sem recurso obrigatório à lei substantiva aplicável. (il\llingcn, 1.968, ps. 82 e 87; MANFRED WOLF, Das Anerkenntnis im Prozessrecht, Ber-
1111. Müllcr, 1969, p. 30).
1\ constatação destes casos tem levado uma importante corrente dou-
('lI» Vai longe o tempo em que, como no antigo direito gerrnânico, um litígio se
Irinrlria a dizer que a tutela dos direitos e interesses legalmente protegi- dí'l'idi" consoante o resultado dum jogo ou duma luta.
,11 IS só lelldencialmente constitui função do processo civil, sendo tão-só ('17) No processo é verificado se o direito afirmado como existente na realidade
,'XI::!t': ~G existir, a tutela é conferida; se não existir, é negada, O mesmo quando a acção
vl:,(' ;1 verificação da existência dum facto jurídico, caso ao qual é facilmente adaptável
II 1\\11'!il' di/', no texto, O que dizemos - e que seguidamente justificamos - abstrai
('12) Assim, por exemplo, quando a lei atribui ao julgador o poder de fixar uma
do 1'1','110 conunatório pleno da revelia, que não passa duma aberração que a revisão
indemnização equitativa (arts. 339-2 CC, 489-1 CC, 496-3 CC, 566-3 CC), o poder de
d., 1(11)~,,1!)l)6 visou suprimir, Na figura da comi nação semi-plena, o vício do sistema
IllOoil'il.:arequitativamente um contrato (art. 437-1 CC), o de reduzir uma cláusula penal
, ',Ia "111usscutur no silêncio da parte a prova do facto alegado pela parte contrária;
(nrt, 812 CC) ou o de fixar o quinhão do sócio de indústria (art. 992-3 CC).
1111.· .. 1111.;)vcr. ridu n admissão como um meio de prova, a definição do direito pro-
('IJ) A faculdade de as partes atribuirem aos tribunais do Estado O poder tio dcc.;i-
1''''''11 'i{' 1I(l1'l1l:allllüllte,
subsumindo-sc na norma jurídica abstracta os factos dados como
dircm segundo a equidade não lisa ser exercido.
IIIIlV'ldo!L

-~
) )
Função 39
38 o Conceito

Através da desistência do pedido, da confissão do pedido e da tran- figura do meio. de prova (50). O valor prático do direito subjectivo
sacção:, as partes dispõem da situação jurídica de direito substantiv~ depende da prova, que contere certeza aos factos dos quais ele deriva (51).
afirmada em juízo, podendo ainda, no caso da transacção, constitu.!L' Um direito esvaziado da sua consistência prática, pela impossibIlidade

--
modificar ou extinguir situações diversas dessa (ar1. 1248-2 eC). Estes
actos dispositivos de direito civil determinam assim o conteúdo dos
~
de demonstração da sua existência, equivale a um não-direito, como tal
insusceptfvel de ser reconhecido por terceiros. Malograda a prova do
direitos e deveres das partes (em conformidade ou não com as situações tacto, o efeito que dele decorreria carece de juridíc1dade, pelo que, pro--
jurídicas precedentes), que a subsequente homologação judicial vem cedendo, em caso de dúvidainsanável sobre a realidade dum facto,
tutelar, extinguindo o processo (tornado inútil pela supressão do litígio) como se este não tivesse ocorrido, o juiz tutela as situações jurídicas das
e abrangendo-as na autoridade do caso julgado (infra; II.6.2). No partes de acordo corri a reconstituição dos factos que foi possível efec-
momento de proferir a sentença homologatória, o juiz encontra-se assim luar, não se podendo afirmar a possibilidade de existência dum desfa-
perante as situações jurídicas definidas pelas partes. A tutela judiciária samento entre a realidade jurídica definida na sentença e uma realidade
é, ainda aqui, tutela de situações jurídicas dela carecidas, já não porque jurídica substantiva diversa (que, para o direito, é, para todos os efeitos,
necessitadas duma definição, mas porque à definição feita pelas partes inexistente) (52).
falta a força do caso julgado (48). Também aqui o fim de tutela do direito (ou outra situação jurídica
Quanto às regras da distribuição do ónus da prova, são, também elas, substantiva) se verifica, portanto.
regras de direito substantivo (49), tal como de direito substantivo é a Apenas, pois, a consideração do caso do julgamento de equidade,
maxime arbitral, poderá levar a afirmar que, ao lado da tutela dos direi-
tos e interesses legalmente protegidos (53), também a composição dos lití-
(48) Seria diferente se a transacção, a confissão do pedido e a desistência do /',ios pode constituir lima finalidade autónoma do processo civil (54).
pedido fossem, em vez de negócios jurídicos privados, actos (ou negócios jurídicos)
processuais ou se delas directamente resultasse a extinção do processo, sem a interme-
diação da sentença homologatória. A qualificação da confissão do pedido e da desis-
tência do pêdido como actos processuais é correntemente afirmada na doutrina germã- (50) Disso fizemos demonstração exaustiva em A confissão, cit., ps. 269-295,
nica, para a qual a transacção é já, prevalentemente, um acta de dupla natureza tomando posição numa polémica que já foi muito acesa.
(substantiva e processual) ou um acta misto de direito substantivo e de direito proces- (51) FRANCESCOCARNELU'ITI, Teoria geral do direito, Coimbra, Arrnénio Amado,
sual (cf. A confissão, ps. 412 e 414 (18»; entende-se que, no caso da transacção, a tt)42, p. 50S; ENRICO REDENTI, Diriuo processuale civile, Milano, Giuffrê, 1957, Il,
cxtinção do processo e a exequibilidade resultam directamente do acta das partes, ainda ". W. A prova condiciona a reconhecibilidade do facto por terceiros e, portanto, tam-
que este não possa, pela sua natureza, revestir a força de caso julgado (ROSENBERO- 1,,'111o reconhecimento, fora do círculo dos que nele tenham tido intervenção, dos efei-
-SCl-IWAB,Zivilprozessrecht, cit., ps. 814-815). tos jurídicos que o facto é idóneo a produzir.
(52) Diverso seria se a dúvida sobre a realidade dum facto constituísse prova do
(49) Já o vimos quanto à delimitação a fazer entre o facto constitutivo e o facto
impcditivo (supra, nota 36): a análise da norma de direito substantivo, mediante a sepa- I"l\t:l!) contrário àquele que a parte onerada não logrou provar (cf supra, nota 33): a
ração, no seu Tatbestand, daquilo que constitui a regra e daquilo que constitui a excep- norma jurídica estatuidora desse efeito (verdadeira norma probatória) produziria então
ção, permite retirar dos elementos assim isolados as pretensões e as excepções proces- II dl\~rasarnento referido no texto, na medida em que, na realidade, o facto dado por pro-
suais (para referências bibliográficas: LEBRE DE FREITAS,A confissão, cit., p. 210 (33». vado não se provara. O que se diz no texto não deixa de ter aplicação aos casos em
Mais nítida ainda é a natureza substantiva da norma que fixa os efeitos modificativos 111\'a situação de dúvida a que se haja chegado resulte da perda dum prazo processual
ou cxtintivos dum facto jurídico. Não admira, pois, a colocação no Código Civil das 1"'lt'll1plório (iufra, 11.7), maxitne do prazo para a proposição da prova (art. 512-1).
normas relativas à distribuição do ónus da prova (arts, 342 a 345-1 CC). Aliás, em sis- (".1) E~la tutela não se subordina, pois, à finalidade de composição dos litígios,
Il~I11:JS,como o alemão, em que a matéria da prova é toda regulada na lei de processo I 1IIlltt 1]11('1'('ASTRO MENDES, f)PC, cit., l, ps. 96-97 e n8-129.
civil, incluindo as normas sobre a admissibilidade e a força probatória dos meios de prova (t,.I) Poderia, mesmo assim, dizer-se que, quando a composição equitativa dos
(lI1"l~.346 a 396 do nosso Código Civil), não deixam as regras de distribuição do ónus Illf/'.itl~ 11'111Iilg:tl I'0rl]tll' as parlt's assim quiseram, no campo do direito disponível, há,
da prova de aparecer na lei civil e não na de processo. ,lIt!l1l1. 111'::1<",: \":1:;0:;(arloitr<lI'.I'1l1vuluntáriu scuuudo a equidade; julgamento pelo tribu-
) )
40 o Conceito Função 41

Esta dualidade de funções vê-se, aliás, consagrada no art. 202-2 da se verifi uem\determinadas condiç~, qu~ constituem os pressupostos
Constituição (55). processuais (5~). Quando aI um deles não se verifi ue, ocorre ~a
Fora da realização dessa função autónoma, a composição do con- excepção (.i ãtória e o juiz deve roferir uma senten a de absolvi ão dg
flito de interesses, que todo o processo civil pressupõe, faz-se sempre atra- réu) da instância (arts. 288-1 e 494), salvo se o processo dever ser
vés da tutela dos direitos e interesses legalmente protegidos, ambas remetido para outro n unal ou a falta d(;í;~su osto Quder ser sanad<!,
(composição e tutela) se combinando assim na definição da função do (art. 288-2) (57), ou ainda se, destinando-se a excepção dilatória a tute-
processo civil. lar o interesse duma das partes (é o caso da falta de personalidade jusli-
ciária de sucursal, agência, filiál, dele a ão ou re resentação, da inca-
pacidade ·udiciária, da representação irregular, da falta de autorização ?1I
3.5. DECISÃO DE MÉRITO E DECISÃO DE ABSOLVIÇÃO deliberação, da falta de advogado: ,c . arts. 8, 9, 23-1, 25, 32 e 60),
DA INSTÂNCIA nenhum outro motivo obstar, no momento da sua apreciação, a que se
conheça do mérito da causa e a decisão deva ser inteiramente favorável
A finalidade do rocesso não é alcan adal em nenhuma destas duas a essa parte (art. 288-3) (58). Quando é proferida a absolvi ão da ins-
vertentes, quando, na ac ão dec rativ~, o tribunal não rofere uma sen-
tença de mérito oUt na acção executiva! não ordena as providências e~-
cutivas or razão difere"úe " . -ência da obrioa ão exe uendà, e' o (56) Os pressupostos processuais respeitam às partes (personalidade judiciária,
r.ipucidade e representação judiciária, patrocínio judiciário. interesse processual), ao tri-
pr~esso termina com uma sentença de absolvição da instância.
hunal (competência), ao objecto do processo (existência e ausência de contradição, não
A sentença de mérito Ç.onstituh na acção declarati va, ares osta ao verificação de litispendência) e à relação entre as partes e o objecto (legitimidade pro-
pedido formulado pelo autor. Pode ser de condena elo (do réu 110 rcssual): cf. CASTRO MENDES. DPC, eit., I, p. 105, e TEIXEIRA DE SOUSA, Introdução, cit.,
I~O (a acção é rocedente) ou de absolvi ão (do réu do 'Jedido (a p. 74. Nos casos de curnulação de pedidos, dedução de pedido subsidiário e reconvenção,
asão im rocede). Por outro lado, ao pedido do autor (exequente) res- 1i;'1pressupostos adicionais a considerar (infra, 11.10.2.3,11.10 (13) e 11.10.2.5). Discutível
I; que a não verificação do caso julgado constitua também um pressuposto processual
ponde o tribunal, na acção executiva, ordenando as providências ade-
(neste sentido, o art, 494-i, depois da revisão de 1995-1996). O título executivo cons-
quadas ao caso (entrega de coisa; demolição de obra; penhora, venda e titui, na acção de execução, um pressuposto processual (cf. art. 45-1).
pagamento ... ) ou negando-as por ter sido verificada a inexistência da (57) De acordo com o art, 288-2, a absolvição da instância não tem lugar quando
obrigação exequenda. 1\ processo deva ser remetido para outro tribunal e quando a falta do pressuposto li,ver
:ildo sanada. A primeira situação dá-se sempre no caso da incompetência relativa
Mas, para que o tribunal se possa ocupar do mérito da causa (deci-
(arl. 111-3) e, na incompetência absoluta. quando, sendo decretada depois dos articula-
dindo-a ou ordenando - ou negando - a execução), é necessário 1!e lim. as partes estejam de acordo em aproveitá-los (art. 105-2). A segunda situação só
',I' dava. até ~I revisão de 1995-1996, quando a lei especificamente permitia a sanação;
mnx, no código revisto. a possibilidade de sanação e a imposição, para o efeito, da ini-
•.illliV;1oficiosa, sem prejuízo dos limites impostos pelo princípio dispositivo (cf. infra,
11<11
do Estado segundo a equidade) uma disposição indirecta dos direitos subjectivos; e 11.(1,(,.2),são genericamente consagradas para todos os pressupostos, sem prejuízo de
que, quando ela tem lugar porque uma disposição legal o permite, é ainda esta lei que, all',1IIIS.por sua própria natureza, não a admitirem (arts. 265-2 e 508-I-a), e especifica-
em última análise, é pelos tribunais aplicada. Mas o argumento é forçado. Ele justi- 1111'111" u-ufinuadas relativamente a alguns (art, 3J-A, relativo aos pressupostos da coli-
ficará antes a ideia de que a composição dos litígios é ainda uma composição feita de 1"",.1". 1'1t'\'l"lIicntcs do regime anterior. os arts. 23, 25, 28-A-2 e 269-1). Os pressupostos
acordo com o direito. embora não aplicando as normas de conduta do direito positivo, ',;il1 1'(llldi'i1lcS de regular constituição da instância Unfra, U.2 (6».
isto é, UI11'1composição justa (CASTRO MENDES, DPC, cit., I, p. 97). ('.1\) (.: di:;nllivl'l a ,lplic:I<Jio da norma. por via de interpretação extensiva, aos casos
(:") «Na aUlllinistração da justiça incumbe aos tribunais assegurar a defesa dos !I, 111,· .•"":,I-".-i,, IlI'tTSS;ílill. inrluiud» entre cônjuges (in{ra, n.1O.2.2), em que a parte
din'ilos l: intcrcss 'S legalmente protegidos dos cidadãos (... ) e dirimir os conllirox de intc- I!I." !I·II!.:' 111I":,,d .11\Ill<'i" dI> .ut :'.úf). I:stanuo cntiio em causa o interesse de ter-
•• 111:11'
1(".',,-:, I".) privados». "j,,, 'I'''. ;, illll',vj, 110IHnl'('};~:(),ílll<'l');!lia /(I!III .I',! {IIII'I(' I rorcssu«! junt.uncntc com o
) )
I' o Conceito Função 43

iância, O resultado atingido não representa o atingir do fim do pro- Tem lugar a fraude processual. quando as partes, de comum acordo, criam
cesso (59), podendo, porém, ainda, para que este fim seja atingido, o a aparência dum litígio para obter uma sentença cujo efeito pretendem, mas
autor mover nova acção contra o mesmo réu, com o mesmo pedido e a que lesa um direito de terceiro (62) ou viola uma lei imperativa (63) (64).
mesma causa de pedir, isto é, repetir a causa (cf. art. 498-1), para nela
conseguir a mesma decisão de mérito ou a realização das mesmas pro-

-
vidências executivas de que a anterior não chegou a ocupar-se (60).
.--------~--------
tos (internos e externos) que devem estar ligados, excederem o poder de autonomia que
lhes é concedido pela lei (A confissão, p. 627 (4». Paralelamente, na siniulação processual
as partes querem que o efeito da sentença se produza perante terceiros, mas não o que-
rem entre si; como esta cisão não é lícita, simulam o litígio para o engano de terceiros,
3.6. A SIMULAÇÃO DO LITÍGIO
que serão levados a pensar que o autor, ganhando a acção, ou o réu, quando o autor a
perca, quis este resultado para si. Assim, por exemplo, haverá simulação processual se
A função do processo civil seria frustrada se às partes fosse con- A combinar com B mover-lhe uma acção de reivindicação do bem x, pertencente a B, mas
sentido ficcionar a existência dum litígio inexistente para obter uma que este quer evitar que apareça como seu perante C. credor de quem receia a proposi-
tura duma acção e a subsequente penhora (ou o prévio arresto) daquele bem, não obstante
sentença que, aparentemente tutelando direitos ou interesses legalmente
A e B combinarem que. ganha a acção por A, o bem continuará na posse de B, sem que
protegidos, na realidade proporcionasse a obtenção dum resultado proi- A sobre ele pretenda (sempre nas suas relações com B) ter ou exercer qualquer direito,
bido por lei ou o engano de terceiros sobre as situações jurídicas das par- (62) No exemplo da nota anterior, suponha-se esta variante: A e B querem, em boa
leso A lei contém, por isso, dispositivos que visam evitar o desvio da harmonia, conseguir através do processo o efeito da transmissão da propriedade do bem
função processual por via de simulação ou fraude. x do segundo para o primeiro, só não outorgando para o efeito uma escritura de com-
pra e venda porque pretendem evitar que o credor C recorra. para a impugnar, ao meio
Tem lugar a simulação processual quando as partes, de comum
da acção pauliana (art, 610 CC); estão até de acordo em que tudo se passe entre eles como
acordo, criam a aparência dum litígio inexistente para obter uma sentença se a transmissão da propriedade tivesse tido lugar na data em que A alega em juízo tê-la
cujo efeito apenas querem relativamente a terceiros, mas não entre si (61). ndquirido (de outro modo, o desfasarnento entre o efeito acordado de transmissão pre-
sente e o efeito aparente de aquisição passada geraria uma simulação relativa). O pre-
[ufzo de terceiro pode, aliás. derivar da retroactividade acordada: supondo que A. ao pro-
por a acção, alega ter adquirido o bem x de B, mas há mais de 5 anos, quando é de hoje
;111101'ou réu dele desacornpanhado (art. 29), a consideração da paridade desse interesse " acordo translativo entre ambos, pode assim visar-se impedir a C o recurso à acção pau-
COIl1o deste pode. ao menos em certos casos, levar a defender a admissibilidade do pro- liana tão-só por caducidade do seu direito de irnpugnação (art. 618 CC), quando, atra-
rnimento da decisão de mérito favorável.
v0s dum negócio jurídico, A e B não podiam acordar na rctroactividade do efeito real
(59) CASTRO MENDES, DPC, cit., 1. p. 108.
da compra e venda (art, 1317-a CC), mas apenas em efeitos obrigacionais correspondentes,
(60) Havendo sentença de absolvição da instância, não se produz o caso julgado entre as partes, a uma transmissão à data a que se pretendem reportar, Em qualquer dos
material, privativo da decisão de mérito (<<decisão sobre a relação material controver- rasos, lima norma predisposta para a salvaguarda de interesses particulares (a que con-
I idu»), mas apenas o caso julgado formal, que não obsta à repetição da causa, pois não lere () direito de impugnação pauliana; a que estabelece para este direito o prazo de cadu-
se impõe fora do processo em que a sentença é proferida, mas só dentro dele (arts, 671-1, cidudc de 5 anos) é ofendida.
()72 e 497-1), Na acção executiva não se forma nunca o caso julgado material, sem pre- (('J) O art. 953 CC proíbe a doação entre determinadas pessoas (por exemplo,
jllízo da possibilidade da sua formação nas acções declarativas que COITem por apenso .';alvo em certas circunstâncias. entre pessoa casada e terceiro com quem ela mantenha
:1 ;jc~'ão executiva (A acção executiva, 20.1.4; também no meu artigo Acção executiva n'la~';io sexual: art. 2196 CC). Se, para conseguir a transmissão que a lei não admite,
" ,'0,10 julgado, Revista da Ordem dos Advogados, 1993, Il, ps. 242 e ss.). lul' apresentada - e não seriamente contraditada - uma versão fáctica não corres-
(01) A simulação negocial não se traduz tanto, como queria a doutrina tradicional, Pilllllcllt' i.\ realidade, da qual resultada que a coisa que se pretende doar pertence ao dona-
11:1 di vcrgência entre a vontade declarada e a vontade real (inexistente na simulação abso- 1111110, :1 \'<1111<1<11'dI' ;lIlIhas as partes de observarem a sentença a obter não impede que
IIl1a; com diverso conteúdo na simulação relativa) como na vontade (real) dos efeitos cxtcr- 11;;0111111:",',,<1 do litígio. IIIL'di:llIlL ;1 alegação de factos que não se verificaram, confi-
I)u.', '111reflexos do negócio (efeitos perante terceiros) desacompanhada da vontade dos /',1111'.1 1'1,111(1" IH'lI",'s~;\lal.
:,"1/:, ('feitos internos ou vinculativos (efeitos entre as partes): a sua nulidade é, não obs- ('0-1) <) [l:lraklisllIll ,'llln' :1 [mudr à lei e a fraude processual é mani festo, em
!;lilli' I'::::l' l'(lJltt'lído positivo da vontade real, conscquência dI: lIS par('s, ao separarem ('Ii'i .. lilll!l,,'. lO', ',I',"', :,,' pllJl"llI:lnd" ,'I\lih1rn:1I"a aplí('açiío duma norrna imperativa por um meio
) )
44 o Conceito Função 45

A simulação do litígio, comum a ambas as figuras, passa quase cuja falta de fundamento se conhece e o uso unilateral do processo com
sempre, mediante prévio acordo entre as partes, entre si conluiadas, pela O fim de se conseguir um objectivo ilegal, de entorpecer a acção da
alegação, não contraditada (65) ou apenas ficticiamente contraditada (66), justiça ou de impedir a descoberta da verdade constituem também má fé
duma versão fáctica não correspondente à realidade (67); mas, na variante processual (U1t. 456-2, als. a e d), mas, por falta do acordo para a rea-
da simulação processual, também pode consistir no acordo entre as par- lização dum fim anormal, não constituem simulação ou fraude pro-
tes em que o efeito que o autor declara pretender obter numa acção cessual.
constitutiva não deverá valer entre elas, ainda que a fundamentação fác- Quando o juiz se aperceba da simulação ou da fraude processual (68),
tica do pedido (base duma sentença de mérito favorável que ambas as deve obstar ao objectivo anormal prosseguido pelas partes (art. 665),
partes pretendem que seja proferida) corresponda à realidade. Em todos anulando oficiosamente o processo (69). E quando, por não se ter aper-
os casos, o desvio consistente na pretensão de realização, por acordo entre cebido do desvio funcional, o juiz tiver proferido uma decisão de mérito,
ambas as partes, duma finalidade divergente da função do processo civil o terceiro que com ela tenha sido prejudicado pode, nos casos de simu-
é essencial ao conceito de simulação ou de fraude processual. A alegação lação ou de fraude a uma lei predisposta para a salvaguarda de interes-
de factos que se sabe não se terem verificado e a omissão consciente de ses particulares, impugná-la, sem que a isso obste o trânsito em jul-
factos essenciais para a solução do litígio constituem má fé processual gado (10), mediante recurso de oposição de terceiro (art. 778-1).
(art. 456-2-b), mas, ainda que nesta incorram ambas as partes e mesmo
que o façam por acordo entre si, tal não basta para caracterizar aquele
desvio funcional; paralelamente, a dedução de pretensão ou oposição

(ncgocial; judicial) que, em si considerado, não é ferido de ilicitudc, Mas nem sempre
:1 norma jurídica violada pela fraude processual é violávcl por fraude à lei: bastará, para (68) «Quando a conduta das partes ou quaisquer circunstâncias da causa produzam
1:11110. que se esteja perante um efeito jurídico só atingível através do processo (MARCELLO a convicção segura de que o autor e o réu se serviram do processo para praticar um acto
DEI..LA Vl'd ..I.lõ': Frade (processo [raudolento], Enciclopedia dei diritto, xxn. p. 90). simulado ou para conseguir um fim proibido por lei». A primeira parte da previsão legal
(65) O autor alega factos que não se verificaram e o réu não os impugna, com o (práLiea de acto simulado) deve ser interpretada extensivamente, de molde a ne/a cabe-
deito, no campo do direito disponível, de tais factos ficarem assentes (arts. 484-1 e 490-2). rem, não só os casos de simulação propriamente dita, mas também os de fraude a uma
(66) O autor alega factos que não se verificaram e o réu contesta, impugnando-os, lei predisposta para a salvaguarda de interesses particulares. Na segunda parte (fim
dentro ou fora do campo do direito disponível; mas seguidamente o réu deixa que o autor proibido por lei) cabem os casos de fraude a uma lei predisposta no interesse geral. É que
prove os factos que alegou. A hipótese inversa pode dar-se. maxime no campo do apenas aquela primeira parte constitui a previsão do art, 778-1 (litígio assente sobre
direito indisponível: o autor alega factos verdadeiros, que o réu impugna ou não se se IIIll neto simulado das partes com prejuízo objectivo de terceiro) e quer a simulação pro-
estiver no campo do direito indisponível. ou que impugna se se estiver na esfera da dis- priamente dita quer o primeiro tipo de fraude deverão dar lugar à recorribilidade da
pouihilidadc das partes; seguidamente, as partes, conluiadas, procedem por forma a que sentença por oposição de terceiro (José LEBRE DE FREITAS, Simulação, força probatô-
() autor não prove os factos que alegou, assim perdendo a acção e formando-se caso jul- ria dos dOCIII/I.e/llOs,validade de contraio de arrendamento, Colectânea de Jurispru-
i'.adn. Urna situação deste último tipo (o conluio entre a mãe e o pai do menor, com (kllcia, 1991. !, p. 643 (23).
d:1 nâo casado, para a propositura duma acção de investigação de paternidade que a mãe (<>9) ALlJEHTODOS REIS, CPC, cit., V, p. 103; MANUEL DE ANDRADE, Noções, cit.,
d" menor, em representação deste. perderá, em prejuízo do menor) esteve na origem his- p 283; ÂN'f'LlNESVAI~H.A, Manual, cit., ps. 696-697.
Ilif'i('a dos ;111s. 778-3 e 780-3 (atribuição ao incapaz da qualidade de terceiro, para () efeito e O) O trânsito em julgado da sentença ocorre quando esta já não é passível de
d(' n'('OITer extraordinariamente até um ano após a cessação da incapacidade: José II'c1alllill,:ílo 01.1 recurso ordinário. Mas o recurso extraordinário de oposição de terceiro
1\1.11i'1( lO DOS REIS, Código de Processo Civil anotado, Coimbra, Coimbra Editora, rccdi- pntf" 1('1' lugar 1\0 prazo de ::Imeses sobre o trânsito em julgado da acção de simulação
\'Iill d(' I ()I\ I. p. 423). 1('111 ::cniido lalO, ('lil~l(\h:lI1d(l (\ primeiro tipo de fraude referido supra, nota 68) e esta
("I) Autores há que restringem a estes casos a simulação do litígio (cl. II roufis- !,("Ir :.1'1 plilpiJ,';I:I 11<1 1"':1'" <I<' ~I :lIH\S posterior ao trânsito em julgado da sentença
.\11". I' (,.jf~ n:l). H'. "111.1:1. ,.,'111 l"l'IUII" .!". ,.'."(",!,,·,·;,tI d" ili\'apa~. (art. 7S()').
) )

4.

OBJECTO

.1.1. A PRETENSÃO

.9 recesso 111 cla-se com..a..a - enta ão da petição inicial, na qual


,) autor solicita ao tribunal uma rovidência de tutela do seu direito ou
interesse legalmente protegido, dirigida contra o réu, titular dum interesse
\'11\ conflito com o seu art. 467--1-e. A esta so leI ação deveõtfíSi.T=-
lIal dar resposta, concedendo ou negando a tutela pretendida pejo autor,
11 11IL;1l0S que se deva abster de se pronunciar sobre o mérito da causa e
,11 )solver o réu da instância.
A resposta do tribunal deve, na acção declarativa, ser precedida de
discussão entre as partes, as quais terão a faculdade de se pronunciar
:.11111'(': todas as questões, de mérito ou processuais, com relevo para a deci-

:,,11' :t proferir. Destas questões, algumas são meramente instrumentais


Il'l:ilivamente à decisão do litígio: são-no sempre (') as de ordem pro-
1..-:.,':11;11, que visam a verificação ela regularidade da constituição e do
d":.\'llvolvÍmento do processo; são-no também as questões de natureza
:.Iih,'tantiva - de facto ou de direito - que se situem aquém do thema
ilcvidcndinn, desempenhando a função de fundamentos do pedido, de
I \I'ep<.;ÚL;S peremptórias e de fundamentos da decisão de mérito (2).

(I) Nus .icçõcx autónomas. Já não assim em certas acções declarativas funcio-
1111111;"111"
::lIhordilli1da.~ a urna acção principal, cujo objecto pode consistir precisamente
"" !,"I""\! d!" veri rjl'a~%) da I"alla dum pressuposto processual da acção a que se subor-
tI"""II. (:. <I 1.":1:'",1:1'ljlIlSil.:;i(l :\ execução (urt. 814, als, a a g).
(') Art. 01(1'/ I· ti I'al':\ a p,!liçãu inicial; art. 487-2, in fine, para a contestação;
,,11 (0,,).1 Pill;1 :t :.,'111"11\';\ Os fuclos :dq.!.ad\ls corno fundamento do pedido consti-
li" 111 " ,:11':..1d,' 1,,·.Iil lillli.,. d.lll. ,·1,·;, \" (I'. '1"(" lundr m excepções peremptórias COIlS-
)
48 o Conceito Objecto 49

Resta o pedido em si, que determina o conteúdo da decisão (3). da técnica da relação jurídica no campo do próprio direito privado (6).
Ele é o objecto do rocesso. Por um lado, a figura da relação jurídica não se adeqúa aos casos de
Nem todos, porém, assim entendem e a identificação do objecto direito absoluto (de personalidade, real ou outro), em que à posição
do processo com a pretensão (ou pedido), sendo uma constante na dou- activa do titular não se contrapõe um dever específico dos não-titulares,
trina alemã (4), não tem encontrado a mesma receptividade fora do que estão, sim, vinculados a um dever genérico de respeito pelos direi-
espaço gerrnânico. tos absolutos alheios (1). Por outro lado, há situações jurídicas absolu-
las que diferem do direito subjectivo e que tão-pouco se integram em rela-
ções jurídicas (8).
4.2. A RELAÇÃO JURÍDICA MATERIAL Estas constatações levariam a identificar como objecto do processo,
j;í não uma relação jurídica, mas a situação jurídica (absoluta ou rela-
Estando em causa no processo civil a aplicação de normas de direito tiva) que se quer fazer valer em juízo, se não fosse a constatação ulte-
civil e constituindo a técnica da relação jurídica o instrumento de abor- rior de que o reconhecimento judicial duma situação jurídica absoluta cir-
dagem tradicional dos institutos do direito civil, surgiu muito naturalmente cunscreve os seus efeitos, 110S termos gerais da eficácia do caso julgado,
a ideia de que o processo tem como objecto a relação jurídica material i\:-; partes processuais (arts. 498-1 e 671-1). Por exemplo, a sentença con-
controvertida (cf. art. 26-3) (S). .Icnatória obtida numa acção de reivindicação surte efeitos contra o réu,
Esta configuração do objecto do processo sofre, em primeiro lugar, IIlaS não, em regra, contra terceiros relativamente ao processo (pessoas
a repercussão das críticas que hoje são movidas à utilização exclusiva que nele não tenham sido parte). O âmbito da sua eficácia subjectiva
Iica, assim, aquém do âmbito de eficácia subjectiva do direito absoluto.
Outra dificuldade insuperável da identificação do objecto do processo
tituem os factos principais da causa (infra, 11.6.4.1); de entre estes, aqueles que, vindo ,'0111 a relação (ou situação) jurídica substantiva constitui a acção de
a ser provados, sejam relevantes para a decisão constituem fundamento desta. Mas, fora
~.illlplcs apreciação, na sua modalidade de apreciação da existência ou ine-
o caso das acções de simples apreciação da existência dum facto, a decisão pressupõe igual-
mente a seleéção e a determinação do conteúdo da norma jurídica aplicável, bem como . istência dum facto. Uma acção em que se faça a declaração da vali-
a subsunção do facto à norma (sem prejuízo do julgamento de equidade - supra, 3.3 - .lndc ou da nulidade dum contrato (9) ou o reconhecimento da genuini-
e de a operação de subsunção não ser automática no caso de cláusula geral ou conceito
indeterminado), que constituem fundamentos de direito da sentença. Estes fundamen-
tos, diversamente dos de facto, podem ou não recortar-se entre os que as partes tenham
introduzido no processo, visto que jura novít curia (infra, 11.5.1). Pode assim dizer-se (") À expansão do conceito de relação jurídica para o direito público (veja-se, por
que os fundamentos de facto do pedido e das excepções peremptórias constituem fun- , \"llIl'lll. o papel central da relação jurídico-administrativa no esquema do Manual de
damentos possíveis da decisão, mas que os fundamentos de direito do pedido e as .tlirit« administrativo de MARCELLO CAETANO e o da relação jurídico-processual no das
excepções peremptórias suscitadas pelas partes constituem apenas alguns dos possíveis 11/;. '(.1' dt' direito processual civil de MANUEL RODR1GUES)seguiu-se a limitação da sua
fundamentos da decisão. 1I111r/.Ili,"IÍ,.
no próprio campo do direito privado (veja-se, sempre entre nós, como dela pres-
(3) O objecto do pedido e o objecto da decisão coincidem, como resulta da arti- I IlI,h' 11'teoria geral do direito civil de MENEZES CORDEIRO).

culação dos arts. 467-I-e, 659-1, 661-1 e 668-I-e: o juiz deve apreciar a pretensão e só (I) OI.lVEIRA ASCENSÃO, Direito civil- Reais,Coimbra, Coimbra Editora, 2000,
em função dela pode condenar o réu. A ideia de que o objecto do processo, definido 1". ,I·) ,1(" para o direito real.
pelo pedido, e o objecto da sentença divergem, na medida em que o segundo inclui (,,) (i o caso dos interesses legalmente protegidos dos arts. 20 e 202-2 Constituição
também a qualificação jurídica ou fundamentação de direito que não entre na compo- 01" Itl'pl'lhliril, dos interesses colectivos e difusos do art. 52-3 da mesma Constituição,
sição do primeiro, é de rejeitar (A confissão, p. 429 (61)). '.. 1["., 11i1('f('~;:';L'~
IUlelados SlIsl"l'[llivL'is de fundar () direito à indemnização do art. 483 CC
('I) C 1". MICOlJl:J. Tl:lXHIIli\ DE SOUSi\, O objecto da sentença e fi CUJ(J julgad() I dll 1'\I,,· •.I:lliv;1 11:1IWIItI'·l1ria dOi ("ulldit;ilo do .nt. 271 ('('.

nuucrial, scparutu do BIlI,-lilll do Ministério da Justiça,.1983, ps. 54 c ss. (") 1)lwl:,;lIll\"lIl' '. a al·\;\O lI.· ;lIl1l1a,·i\n (h 1111roulrll(O. tal corno outra acção pela
e) cr, (·i\~,I1H) MI NI'I ';, nt« ', cil , I, px. 4R-52. '1i1..! I·'· '·"·";iI 11111dill'iln I'nll".,llIli n, 11i", 1"\'· jllllhh-III:1S (11110Ohsl!lIIlr ('t\STll() MHN-
-I 1)1'
) )
50 o COIlCeilO Objecto 51

dade ou da falsidade dum documento (10) não tem por objecto nem mllllito de interesses, um dos sujeitos afirma-se titular do interesse tute-
uma relação jurídica nem uma situação jurídica absoluta (11). Illdn pelo direito, ao qual o outro deve ser sacrificado (pretensão),
rnquanto o titular do interesse contraposto se opõe a esta afirmação,
11I'1',ando-a (resistência no plano intelectual (16), própria do processo
4.3. O LITÍGIO .k-clararivo) ou recusando a satisfação do interesse (resistência no plano
uuucrial, própria do processo executivo) (17).
A doutrina italiana (12) intentou ultrapassar estas dificuldades Esta construção encontra, quanto ao elemento formal, uma dificul-
mediante o recurso à ideia de que o objecto do processo civil é o lití- dlld~ que CASTRO MENDES apontou. A nossa lei processual admite
gio. Esta concepção, que viria a impregnar o nosso Código de Pro- n prcssamente a propositura de acções de condenação em que estão em
cesso Civil de 1939 (13), encontrou o seu maior desenvolvimento em , .iusa obrigações constituendas (art. 472-2), ou obrigações constituídas,
CARNELUTII (14). tllas não vencidas (art. 662-2), não obstante o devedor (ou futuro deve-
Para este autor, o litígio é constituído por dois elementos: o conflito ilur) não as ter impugnado (18). Casos há, por outro lado, em que a acção
de interesses (elemento material) e o binómio pretensão-resistência (ele- di' simples apreciação, proposta contra incertos, visa satisfazer um inte-
tnento formal). Situados em planos distintos, o segundo é a expressão 1i'~.SO do autor a cuja satisfação ninguém se opõe: a acção de declaração
formal da incompatibilidade das posições materiais dos sujeitos perante dI' propriedade para justificação de registo predial (art, 116 do Código
um bem apto à satisfação duma sua necessidade ('5): verificado um di 1 Registo Predial), bem como a de declaração de titularidade de quo-
11\;:(~ partes sociais para justificação de registo comercial (art, 115 do
( 'údigo do Registo Comercial), visam tão-só possibilitar a feitura duma
I)ES,DPC, cit., I, p. 51) à teoria da relação jurídica como objecto do processo, visto que hu.crição registral, ainda que na ausência de qualquer contestação ou
o direito potestativo tem como situação jurídica correlativa a sujeição do sujeito passivo IIll1lSição material. Falta então a resistência, quer na acepção material,
e ambos integram uma relação jurídica.
'1111'1'na acepção intelectual, o que levou CASTRO MENDES a dispensar a
(10) A falsidade, tal como a genuinidade, é uma qualidade do documento escrito,
que, tal como o registo nele contido, reveste a natureza de facto jurídico permanente i!'::isWncia na configuração do litígio, reduzido assim ao elemento mate-
(/\ falsidade, ps. 115 e 164-165). I JII\ c à pretensão (19).
(I I) Não se pode falar, sem distorção, dum direito à nulidade ou do direito a exi-
I',ir que se reconheça a nulidade, nem tão-pouco do direito à genuinidade - ou à fal-
~:idade - dum documento (CASTROMENDES,DPC, cit., I, ps. 53-54).
(12) Não obstante o pouco interesse da doutrina italiana pelo tema do objecto do 1"""(1 (pura ambos os sujeitos em conflito, por via da sua raridade) ou não recíproco (van-
processo (cf Eua FAZZALLARJ, Istituzioni di diriuo processuale, Padova, Cedam, 1986, II!)"'IOpura um dos sujeitos e desvantajoso para o outro).
l'!:· :\06-308), ao contrário de certa doutrina alemã (que o tem como o problema central (11,) A esta oposição, própria do litígio, não basta a controvérsia, simples conflito
"li processo civil: KARLSCHWAB,La teoria dell'oggeuo dei processo nell'attuale dottrina 01,· IIplllitícs, que, como tal, pode, diversamente do litígio (infra, 4.5), existir no processo
II'dcsc«, Studi in onore di Antonio Segni, Milano, Giuffrê, 1967, IV, p. 3l3; WALTER di· jlJri~t1i\ãl) voluntária (CASTROMENDES,DPC, cit., I, p. 75).
111\l\s('IJEID,Der Streitgegenstand jJ1J Zivilprozess und im Streitverfahren derfreiwilligen ( 1'/ J No primeiro caso, o litígio diz-se de pretensão contestada; no segundo, 'de pre-
t icriclnsbarkeit, Bielefeld, 1956, p. 15). 1,'//'\(/,' lusatisfeito.
(13) «Interesse em demandar» e «interesse em contradizer» no art. 26; «lide» (111) «Se não houver litígio relativamente à existência da obrigação», diz o
impossível ou inútil no art. 287-e. Mas já algumas disposições que se referem à «rel a- iu l. (,(,.~..2. Muis duvidosa é a bondade de outro argumento invocado por CASTROMEN-
\',10 material controvertida» (maxime, arts. 26-3, 27-1 e 28-1) apelam para a teoria da rela- 111', iI IIdlllis~ihilid:1l1t:de i1C~ÕC!; de simples apreciação da existência do direito de pro-
(;[ío jurídica como objecto do processo. filh'.I."I,· "llIllra t)lIL'1I1não o huju violado nem impugnado (DPC, cit., 1, p. 63). É que,
(I") Veja-se, por exemplo, a sua Teoria geral, cit., ps. 95-96. JlJ'~IIi' 1'11111), (~lltl'!llh:Jll(Hi1'1I1!ur o pressuposto do interesse em agir (supra, 3 (17».
(15) Para desenvolvimento do conceito de bem, na perspectiva desta sua aplica- 11'11 ,..lk~;i.';II'lIl'I:Ipod,' falia!', j1clo 1II\.'II0Sresistência actual», Basta uma pos-
~'iJ"l'!ll processo civil: CASTROMENDES,DPC, cit., I, ps, 5(,,,.'i9. O bem pode s 'r recí- ..i!'illdHt/!· di' VII li ),111'1'1 Il'SIIIIl'llI'i:l,1'l'~isll'lH'i:1,'\,,'/11/,," (lJ/'í, cit, T, p. 64). Literal-
) )
53
52 o Conceito Objecto

4.4. CONFLITO DE INTERESSES E PRETENSÃO 4.5. A JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA

A referida constatação de CASTRO MENDES rompe a correspondência Constituindo o conflito de interesses a base do processo civil, não
existente entre o elemento material e o elemento formal do litígio car- há processo civil onde não haja conflito de interesses ". P~r i~s.? se situa
neluttiano. Dessa rotura há consequências a tirar. Na base do processo fora do processo civil a categoria dos processos de jurisdição vol~~-
civil, está sempre um conflito de interesses (art. 3-1). Mas o seu objecto tária, ainda quando estes são regulados no Código de Processo Civil
não é esse conflito, mas a pretensão que, pressupondo-o, é dirigida ao (arts. 1409 e segs.) (20). .
tribunal, que a ela terá de dar resposta. O conflito de interesses não é Os processos de jurisdição voluntária visam a prossecução de inte-
ainda o litígio, nele apenas contido potencialmente; o litígio resulta da rcsses não organizados em conflito. Casos há em que, através do pro-
pretensão formulada em juízo, independentemente de ela ser contestada cesso, se intenta prosseguir o interesse de uma pessoa determinada, sem
ou de o réu se recusar a satisfazê-la (l9-A). Daí que, embora normalmente que outro qualquer seja considerado (ex.: interdição, reunião do conse-
se baseie na criação duma situação de facto fictícia que se quer que lho de família, autorização judicial, curadoria provisória dos bens do
constitua fundamento da sentença, a simulação do litígio possa também ausente, verificação da gravidez) ou ainda que o interesse de outra pes-
derivar da expressão, pela pretensão, duma vontade que não se tem soa deva ser considerado, mas só num plano secundário (regulação do
(supra, 3.6). poder paternal); e outros há em que se intenta prosseguir os interess~s
solidários de duas ou mais pessoas (ex.: divórcio por mútuo consenti-
mento (21), notificação para preferência) (22). .
A submissão destes casos aos tribunais resulta de se ter considerado
nccessãria uma cuidadosa avaliação dos interesses particulares em jogo,
mente, CASTRO MENDES continua a insistir num elemento formal, constituído pela pre- que o juiz, melhor do que uma entidade admin.istrativa, est~ em _condi-
tensão e pela «resistência actual ou meramente eventual (podendo no momento do pro- 1;< ics de assegurar. Mas a actividade judicial assim desenvolvida nao cor-
cesso não "existir)>>; mas uma resistência eventual e futura não tem qualquer signifi-
responde ao exercício da junção jurisdicional. Trata-se antes do exer-
cado enquanto elemento dum conceito abrangente.
(19.A) A definição do direito litigioso para o efeito do art. 579-3 CC (proibição rela- ricio dumaftmção administrativa. Respeitando esta a situações anómalas,
tiva da cessão de direito litigioso) pressupõe que o direito já tenha sido contestado «em ('IILcndeu-se, por considerações de política legislativa, não dever ser
juízo contencioso, ainda que arbitral, por qualquer interessado». Mas tal não é requi-
sito nem do art. 271 CPC (transmissão entre vivos, em geral, do direito litigioso) nem
do art. 1248 CC (transacção): a transmissão do direito litigioso de que cuida a norma
(20) Fora do código. encontram-se, por exemplo, os processos de jurisdição volun-
processual apenas pressupõe que a acção esteja proposta, com o que o adquirente logo
fica sujeito ao efeito de caso julgado que na acção se venha a formar (art. 271-3 CPC); IlIriu relativos a menores, entre os quais sobressai a reguJação do poder paternal (<?r~a-
quanto à transacção, termina litígios existentes, quando é posterior à propositura da lli/.llc,:~io
Tutelar de Menores, arts. 174 e segs.). No código são classificados como deJu~s-
acção. e previne litígios ainda inexistentes, quando lhe é anterior (art. 1248-1 CC). di,"\!) voluntária alguns processos que têm natureza contenciosa (por exemplo, as acçoes
Menos rigorosa é a utilização do termo na Lei da Arbitragem Voluntária: para o art. 1 di: 1II11:la da personalidade, do nome e da correspondência oficial: arts: 1~74 ~ 1475) e
da Lei n." 31/86, de 29 de Agosto, o litígio actual que as partes devem determinar no IIn::l:ificados como de jurisdição contenciosa processos que revestem a mdls~utlv.e~ na:u-
lI'lU da jllrisdição voluntária (por exemplo, os processos de interdição e de ínabílitação:
compromisso arbitral mais não é do que a súmula dos pontos sobre os quais as partes
divergem e que darão lugar às futuras pretensões, isto é, o conflito' de interesses sobre lIi\:i, ');1.4 a 958). , .
<. ("-I) No divórcio por mútuo consentimento (arts, 1419 a 1424) ambos os conJ~l-
o qual se erguerá o objecto do processo; já no art. 11 o litígio surge com o pedido
deduzido na acção arbitral (einstaurar o litígio»), não obstante a exigência da pré-detcr- I'!": '1"l'I\'111 (I divÍlrdo. Pelo contrário. no divórcio litigioso (arts, 1407 e 1408) a acçao
minação genérica do seu objecto. Ver Estudos (Algumas implicações da natureza da con- I Illllvida pttr \11\\ -fll1juge coutru o outro.
1'<'IIÇi7o de arbitragem), ps. 852 (4), 856 (14) e 857 (15). liI.) ('M.TJ!II MI'NIII·.<;. ore: cit., I. r~.76-79.
) )
o Conceito
Objecto 55

d~scmpel1hada por um notário, um conservad ' .' ,


üistrativa (23), mas não d " 01 ou outra entidade admi- e a atenuação da rigidez do caso julgado (28) constituem derivações da
" d' eixa por ISSOde, ao lado da actividade do notá-
110 OLl o conservador, ser englobada por aI uns autore " ideia de que não há um conflito de interesses a dirimir nos processos de
da admiflistl:aç~~ pública de direitos priv!dos (24), s na categoria geral jurisdição voluntária (29).
A. substItlllçao do princípio do inquisitório ao princípio disposínv
110 campo da aleg - (25) ] o
itó " aça,o, a pena consagração do princípio do inqui-
SI.aliO no campo da mstrução do processo (26) I _
pnncípio da legalidade por critérios de couve ,: a ~uma poste~gaçao do
meneia e oportunidade (27) de jurisdição voluntária, quando deva tomar uma providência, o juiz «não está sujeito
a critérios de legalidade estrita, devendo antes adoptar em cada caso a solução que jul-
gue mais conveniente e oportuna» (art. 1410). Nem todas as decisões que têm lugar
, ,(23) Para o divórcio, já é possível, em certo' di . lias processos de jurisdição voluntária constituem, porém, providências, A ideia de pro-
vatona do registo civil (an. 1773-2 CC c:.0n icionalisrno, recorrer à conser- vidência está ligada à de «decisão tomada para certo fim, dentro duma medida de pru-
de 13 de Julho), Só a ideia tradi I d' na reda~çao dada pelo Dec.-Lei n." /63/95 dente arbítrio concedida a quem tem de a tomar» (CASTRO MENDES, DPC, cit., I,
icrona a anomalia do di ór 'c '
- e da necessidade dum consequente tr I ,IV ICIO em race do casamento ps. 85-86): há lugar ao arbítrio judicial quando a lei admite mais do que uma decisão
, con 10 o - podia explicar, ' -
aos tnbunais no primeiro caso e a co tênci d ' a Imposlçao do recurso possível perante determinado condicionalismo fáctico ou recorre a uma cláusula geral
segundo. A mesma ideia de controlo ~dP~ iales , as conservatónas do registo civil no que ao julgador compete concretizar; não há arbítrio quando, por exemplo, perante a
JU ICIa esta na base da ' t - '.
no processo de avaliação fiscal de p édi 'b lJ1ervençao dos tribunais vontade de divórcio manifestada pelos cônjuges na 1," conferência e reiterada na
," r lOSUI anos arrendados ( f J É L _
II\S, Comissões de avaliação, Colectânea de Juri udênci c, os EBRJoDE FREI- segunda, o juiz, verificado o condicionalismo de que a lei civil faz depender o divór-
como na da presidência por magistrados judi , ,S~I U ~ncla, 1?90, n.
p. 39 (10», bem cio por mútuo consentimento (art. 1775 CC), tem de decretar, por sentença, a dissolução
do resultado dos actos eleitorai ,ICI~IS as assemblelas de apuramento geral do casamento. Este traço distintivo de regime é mais quantitativo do que qualitativo:
n." 319-A176, de 3 de Maio,o:.~:\~~r~aO~ org~os de soberania (ar~. 106 do Dec.-Lei também o direito material aplicável no processo civil contencioso contém conceitos inde-
n." 701-A176, de 29 de Setembro). el n. 14179, de 6 de MaIO, e art. 95 da Lei terminados e cláusulas gerais, que ao tribunal cabe concretizar; mas a maior frequên-
(24) CASTROMENDI:-:5 DPC cit I 80 A ", cia com que tal ocorre no âmbito da jurisdição voluntária leva a erigir em regra o que
que, por sua vez, a recebeu: emb~ra :m':e ã ~OImul~,vem de C~LA~ANDREI(1941), fora dela é excepção,
nlstrativista 41\NOBINI(1918) h d pç o nao IJ1tellamente comcldente, do admi- (28) «Nos processos de jurisdição voluntária as resoluções podem ser alteradas,
, , , que a er ara de HÃNEL(189?) t bé ,
uvista (cf. MANDRIOU,Corso, cit.. Ill, p. 356 (2» -, arn em ele admll1istra- sem prejuízo dos efeitos já produzidos, com fundamento em circunstâncias superve-
(25) «O tribunal pode ( )' , , ' uicntes que justifiquem a alteração» (art. 1411-1), Também aqui a diferença de
invés ' , ... , mvesugar livremente os factos» (art, 1409-2) A
, no processo Civil propnamenle dito as arte " , . ,o regime não é radical: a excepção de caso julgado pressupõe a repetição da causa e
da introdução dos factos princip , ~ s tem o monopolJo, quase absoluto lima das identidades que tem de se verificar para que a causa se repita respeita à causa
(wntenciosa) se ninguém fala' adlsna causa tinfra, 11,6.4.1), «Numa acção de dívid~ de pedir (art, 498, de que o art, 673 constitui especificação); uma alteração de cir-
, I o pagamento o tribu 'I - '.
tornar em conta Num processo d ' ' na nao o pode mvestigar nem cunstâncias integradoras da causa de pedir pode gerar uma causa de pedir diversa,
, e supflmento do conse t' ' t d " '
por exemplo, a mulher, para aliena ão de ' '., n, rmen o e um dos conJuges, iinpcditiva da verificação da excepção do caso julgado, Diversamente, no nosso
.uts. 1682-A-l e 16843 CC) ,ç, íméveis em regime de comunhão (art, 1425' Código de 1939 (art. 1451), tal como no direito italiano vigente (art. 742 CPC
- , se nmguem falar por exc I "
vado de dívidas e isso pode justific _ ,.' _ xemp o, em que o mando está cri- de 1942), a regra da livre modificabilidade e revogabilidade aparecia afirmada sem outra
, I ar a nao a renaçao ma ' , ,
pode IIIvestigá-lo livremente e tomá-lo em .', s se o JUIZ suspeitar do facto, restrição que não fossem os efeitos entretanto produzidos (no código italiano: efei-
MENDES,DPC, cit., I, p. 84), conta pala negar o suprimento» (CASTRO los produzidos na esfera jurídica de terceiros), de tal modo que havia necessidade de
(26) O tribunal pode (.. .) coligir as provas orde ' ' , ' excepcional' da sua aplicação as sentenças de divórcio e de separação de pessoas e bens
mações convenientes» (are 1409-2) E b ,,' ,11mos mquentos e ~ecolher as infor- (:\1'1. 1476 CPC de 1939); é assim possível, em Itália, defender que a não formação
,I
\,10 que para o processo ' 'I ' ' m 01,1, nada se diga
. de SlLllstallcl' I
,I mente
diIverso
o cc do caso julgado constitui li característica estrutural mais típica dos processos de juris-
. ' CIVl propnamente dito dispõe art 2f'i::1' . '-
('fPIO geral que neste ainda " '. " o an, l."" .IS rcslnçoes ao prin- diçilll voluntária (M,\NlJltlOLl, Corso, cir., lIl, ps, 357-358), Não se podendo ir hoje
, , vrgoram (mira 11 661) 11'" I'·
.Iunsdiçfio voluntária, ' " '" .111~l' nJlll'flllI fiO processo ele ·llIo 10JlI',I'""'1'(: ,,6s, cxuuuux, de qualquer modo, perante uma diferença de regime apre-
e 7) No processo ,"I ' ,', . <'i li V\'1.
~(·l'.lll1do.1 equidade (Sl/P~'~~131~1)01;~',:::;~CI~k,~(,dl~n"
n1·S:,'IiI".'d!1 d~ julgar
I1 1'1I',.',i/,"id:1I11' (,"') Hi/',OIIlS:IIIIl'III!',:t I'IJ:IIlIatlailll'i~di~il() voluntária não constitui uitui jurisdição
, ' -", , ,~,S I VIIILIIIIIIl ;1III'ih 'li li "., .I(i "" flfOl'l'SSO
((1//1'11, ',·1), !.II :1 I'1I1::d";a,, "III1I"I!<'i"s:1:a'IIt1" ju: isdil;:io em s .ntido próprio.
) )
56 o COllceito Objecto 57

ção jurídica que quer fazer valer ou negar (ou integrantes do facto cuja
4.6. ANÁLISE DA PRETENSÃO. A CAUSA DE PEDIR existência ou inexistência afirma).
Discutiu-se durante algum tempo na doutrina se esta indicação da
A pretensão (ou pedido, como a nossa lei a usa chamar (30)) apre- causa de pedir era necessária. Para a teoria da individualização (36), bas-
senta-se duplamente determinada: no seu conteúdo, referido ao direito tava ao autor indicar o pedido, com o que todas as possíveis causas de
material, consiste na afirmação (31) duma situação jurídica subjectiva pedir podiam ser consideradas no processo, de tal modo que, ao responder
actual ou, no caso da acção constitutiva, da vontade dum efeito jurí- afirmativa ou negativamente à pretensão, a sentença decidia em absoluto
dico (situação jurídica a constituir) baseado numa situação subjectiva sobre a existência ou inexistência da situação jurídica afirmada pelo
actual (32), ou ainda na afirmação da existência ou inexistência dum autor (37). Para a teoria da substanciação, ao invés, a afirmação da
facto jurídico (33); na sua função, consiste na solicitação duma providência situação jurídica tem de ser fundada em factos que, ao mesmo tempo que
processual para tutela do interesse do autor (34). Pode assim falar-se integram, tal como os outros factos alegados pelas partes (38), a maté-
duma determinação material e duma determinação processual da pre- ria fáctica da causa, exercem a função de individualizar a pretensão
tensão (35).
para o efeito da conformação do objecto do processo (39). A teoria da
Mas ao autor não basta formular o pedido. Ele tem também de indi- substanciação está inequivocamente consagrada no nosso sistema pro-
car a causa de pedit; isto é, de alegar os factos constitutivos da situa- cessual (arts. 467-1-d e 498-4) (40).

(30) Ver, porém, os arts. 2-1 (desde a revisão de 1995-1996),323-1 (desde a revi- (36) Defendida por W AGI, tem, porém, a sua origem no direito romano, ao qual
são de 1995-1996), 342-1 e 498-4.
bastava a individualização da pretensão (HELLWIG,System, cit., p. 309 (6) (7)).
(31) Ou negação (acção de simples apreciação negativa). (37) Assim, por exemplo, afirmada a titularidade do direito de propriedade, todas
(32) Com base no direito de anulação dum contrato (situação subjectiva actual) as causas possíveis de aquisição do direito podiam ser consideradas no processo, com
pede-se que o contrato seja efectivamente anulado (situação jurídica a constituir através a consequência, no caso de absolvição do pedido, de não poder o autor propor nova acção
do processo). o
em que alegasse uma causa de pedir que não tivesse sido efectivamente considerada
(33) Uma vez que o pedido de apreciação do facto abstrai, a não ser em sede de no processo anterior.
verificação de pressupostos processsuais (legitimidade, interesse em agir), da apreciação (38) Factos em que se fundam as excepções deduzidas pelo réu e as contra-excep-
da situação jurídica dele eventualmente resultante para o autor, afigura-se impossível ela- çõcs deduzidas pelo autor. Consideramos tão-só os factos principais da causa, não os
borar um conceito unitário de pretensão, no aspecto de conteúdo ora considerado, não factos instrumentais, que a eles permitem chegar (infra, 11.6.4.3). Ao contrário dos que
se podendo rigorosamente dizer que se refere sempre à tutela duma situação jurídica de integram a causa de pedir, os factos em que se fundam as excepções não conformam o
direito material (assim: TEIXEIRADE SOUSA,As partes, o objecto e a prova, cit., p. 121). objecto do processo: com a sua introdução na causa, alarga-se a matéria de facto, mas
Menor grau de dificuldade encontra a doutrina alemã, dado que o direito processual não o objecto do processo (visão contrária em MANDRIOUe CASTRO MENDES: infra,
alemão não conhece a figura geral da acção de simples apreciação da existência de lI.C!(8); cf., porém, também CASTROMENDES,Do conceito de prova, cit., ps, 132, 143
factos (apenas admite a aeção de apreciação da falsidade ou genuinidade dum documento). ,. 150).
(34) CASTROMENDES, DPC, cit., I, ps. 65-66; TEIXEIRADE SOUSA,As partes, o (39) Na sua versão mais pura, a teoria da substanciação exige que os factos ale-
objecto e a prova, cit., p. 120, reduzindo, porém, o pedido ao elemento funcional (forma /·.;ldllSsejam concludentes, isto é, que deles se retire, desde que se provem, a con.cIusão
da tutela jurisdicional requerida para uma situação jurídica material). Referências biblio- runstantc do pedido. Esta exigência, constante do direito comum (HELLWIG,System, cit.,
gr{Jf'icas sobre o conceito de pretensão encontram-se em A confissão, p. 35 (28). fl. :'\OÚl, não passou para a maioria das modernas legislações processuais. A concludência
(35) CASTROMENDES,DPC, cit., 1, p. 66. Quando A, afirmando-se credor de B, illlporla à procedência da acção isupra, 3.5), mas não à individualização da pretensão.
pede a condenação deste na quantia devida, o pedido formulado determina-se material- ('1(1) Pelo art, 467-1-c/ o autor deve, na petição inicial, expor os factos que servem
illl~il[C pelo direito subjectivo (de crédito) que se quer fazer valer e processualmente dI' flludallH'1I10 ao pedido, Do urt, 498-4 retira-se que esses factos constituem a causa
pelo tipo de juízo (condenatório) pretendido. Sobre as espécies de providência jurisdi- dI' Ix'dir (' 'lI\(' !'~ta t1l'liltlÍt;\ () pedido para II efeito de, juntamente com ele e com as par-
ciunnl: supra, 3.1.
ir:" idl'lllil'k;1I ;1 ,';111:;:1 qll!' ·t. lnsuscepnvcl de ser repetida sem ofensa de caso julgado
) )
58 o Conceito Objecto 59

A nossa lei defrne a causa de pedir como o facto jurídico constitutivo posta em causa pelo confronto com casos concretos debatidos nos tribu-
do efeito pretendido pelo autor (art. 498-4), como tal contraposto aos fac- nais (43) que levaram a entender que, sempre que o efeito jurídico
tos impeditivos, modificativos e extintivos desse mesmo efeito (41), pudesse ser retirado de mais do que uma norma de direito material, o con-
Esta definição aponta, como referência fundamental do conceito, ceito de causa de pedir teria de ser alargado, por forma a abranger a fatis-
para as normas de direito substantivo em cuja previsão se contém o pécie das várias normas implicadas. O núcleo do conceito foi-se assim
facto para a qual estatuem o efeito jurídico pretendido. deslocando da fatispécie duma norma para o acontecimento natural do
Mas a identificação da causa de pedir com o Tatbestand ou fatis- qual o autor retira o efeito jurídico, caindo alguma doutrina (44) numa
pécie duma determinada norma substantiva, feita pela mais antiga concepção naturalista que, não permitindo circunscrever a causa de pedir
doutrina, sobretudo alemã, que ao tema se dedicou (42), veio a ser em termos jurídicos (45), dificultava a aplicação de normas processuais
que pressupõem a sua individualização, nomeadamente as que impli-
cam a distinção entre a alteração ou ampliação da causa de pedir e o seu
(art. 498-1), como lógica consequência da coincidência do objecto da decisão com o
objecto do pedido (supra, nota 3), Nos sistemas jurídicos que, em determinadas áreas,
se contentam com a individualização da pretensão (assim, a título de excepção, na
acção de divórcio e na acção de despejo do direito alemão), o caso julgado forma-se,
nessas áreas, em função do pedido e das partes, mas já não em função da causa de (43) Caso muito discutido foi o do acidente com um ClUl'O eléctrico: o objecto duma
pedir: a absolvição do pedido em acção de divórcio ou de despejo impede o cônjuge ou acção de indemnização, proposta por um passageiro, que de/e tinha sido vítima, com base
o senhorio autor de mover nova acção dc divórcio ou de despejo baseada em quaisquer em responsabilidade delitual, deveria abranger também, tido em conta o concurso das
factos verificados à data da acção anterior, ainda que integrem uma causa de pedir normas constitutivas aplicáveis ao caso (fundando quer a responsabilidade contratual,
diversa da constituída pelos factos nela alegados, Nas outras áreas, em que a indicação baseada no contrato de transporte, quer a responsabilidade delitual, nos termos gerais),
da causa de pedir não é dispensada, verifica-se a tendência da doutrina alemã para o facto ilícito contratual? Noutra ocasião, foi discutido se, tendo apenas sido pedida pelo
defender o que designa como variante mitigada da teoria da individualização, mas que autor a condenação do réu no pagamento do preço duma compra e venda, não poderia
melhor se diria uma teoria da substanciação mitigada: a dedução do pedido deve ser acom- ser considerado como fundamento da sentença o facto, alegado pelo réu na contestação,
panhada da indicação da causa de pedir, mas esta dispensa a alegação imediata de lodos de ter consumido a mercadoria vendida, o que integraria uma pretensão de enriquecimento
os factos necessários ao juízo de concludência, permitindo que a causa de pedir se sem causa, A articulação do pedido de condenação baseado em letra com o de conde-
complete no decorrer do processo (por todos: OnlMAR JAUERNIG,Zivilprozessrecht, Mün- nação baseado na relação fundamental, a do pedido de entrega duma coisa imóvel com
chen, Beck, 1998, p. 141; ARWED BLOMEYER, Zivilprozessrecht, Berlin, Duncker & Hum- base na caducidade do arrendamento com o de entrega baseado no direito de proprie-
blot, 1985, ps, 254-255, Afirmando-se como ecléctico: ROSENBERG-SCHwAB-GorrwALD dade ou a do pedido de condenação em indemnização com o de condenação na resti-
Zivilprozessrechi, cit., p. 546), A revisão do nosso código veio alargar a possibilidade de tuição do indevido constituem outros exemplos do mesmo tipo de problema,
completar a causa de pedir no decorrer da causa (infra, nota 46), o que não chega, (44) De BOOR e EBERHARD SCI-IMIDT,apud JAUERNIG,Zivilproressrechi. cit., p, 146,
porém, para se ter por afastada a versão mais pura da teoria da substanciação (cf MANUEL para os quais a causa de pedir é constituída por um acontecimento histórico, liberto da
DE ANDRADE, Noções, cit, p. lO8, CASTRO MENDES, DPC, cit., I, p. 68. e Do conceito de previsão normativa e unificado tão-só pelo facto da sua produção real; HABSCHEID, Der
prova, cit.ip, 139, ANTUNES V ARELA, Manual, cit., p. 245 (2»), Streitgegenstand, cit., ps. 209-217, que entende a causa de pedir como um acontecimento
('11) Desta contraposição derivam as normas substantivas da distribuição do ÓIlUS da vida (abrangendo, aliás, não só os factos efectivamente alegados pelo autor, mas
da prova (supra, 3,3) e as normas processuais da distribuição do ónus da alegação também lodos os que por ele eram alegâveis e ainda aqueles que, sendo impeditivos,
(urts. 467-1-d e 493-3), ambos eles tidos, por sua vez, como uma derivação do princí- modificativos Oll cxtintivos, fundavam as excepções peremptórias que no processo se
pio dispositivo Unira. 11.6.4,1 e 6,6,1), podiam levantar),
('12) Sobre as teses materiais da constituição do objecto do processo, desde WINDS- . ('I~) FItIEIlI(l('1I LENT, Zur l.elir« \101/1 Streitgegenstand, Zeitschrift für Zivilpro-
('1"'11) a BI..OMEYER. podem ver-se as breves referências de SCIIWAB, La teoria. cit., ,Y.()SS, ú.'i, p~, 351·.:1(,0 (<<oucomccimcnto natural não se deixa circunscrever»); SCI-IWAB,
I',~, :114.:\ 15 c 327-:\21), R( ISFNIII·.IH;· S, '1IWAB-GOTlWAI..D,Zivifpm.:css/'('('hl, cil., ps, 531-.'i32, 1.(1 tcori« ih-l! 'O,!:g,'/lIi, ril., p. 1~I, (' U,'('('II.\','II em '1J'iI,\'('hrilifitr Zivilprotess, 71 (a causa
'J'I(IX"II~A 1)" S()II,~A, () "/';,'1'1", ril , fl,~· 54-57, e () ClJIlI'II/',WJ dt' titul o» de (/'ll/i,~i('(T(/ da Ik JlrdÍl 101111111 :,1' lI,':,\111I1'1:llil':III1I'111<"ililJlilada, imilil « ~~'III siglJil'icado individualiza-
IJI'I',I/"~',/(I, ('"illlhl;I, Ahwdillll, 1')lU;, 1"" I') (' ss" 011 Mi\ltl/\Nt\ 1'I/t\N';'\ (;, 1111'''',\, il ,'lll',I'" du,- do \l1~iI','11I do JIII"·'·;,',ol. Ji\lIH(I~I':, I/!'i!,'/(/."·,I'.I'I"',·/rr, cit .. p, 14() (o juizo de COI1-
dI' 1"',11,.1/(/ ,",\,01" ,!t', /'1/1/111'11, ! '1'llIdllil, Alllwdinu, : (){),I , 1'" lfi', \ "I IIdi'lI<'i11I' ("111',tlil ,"q;",;;liI tll'Í\:Uilllll d,' 1'".1"1 rllll<'Íllllarl
t)
) )
60 o Conceito Objecto 61

mero completamento ou rectificação (46) e as que exigem que se iden- camente previsto por uma ou mais normas materiais como causa do
tifique a sua repetição (47) ou cumulação (48), Por isso, a doutrina mais efeito pretendido (50),
recente tende a regressar à utilização do conceito de Tatbestand, mati- Tida em conta esta precisão, a identificação da causa de pedir com
zado porém com a ideia de que °
acontecimento da vida narrado pelo o facto constitutivo da situação jurídica que o autor quer fazer valer ali
autor (49) é susceptível de redução a um núcleo fáctico essencial, tipi- negar (ou com os elementos constitutivos do facto jurídico cuja existência
ou inexistência afirma) é, fundamentalmente, correcta (51), Através da
alegação desse facto constitutivo, a causa de pedir exerce a sua função
delimitadora do pedido ou pretensão, individualizando-o. Externa ao
(46) A alteração e a ampliação da causa de pedir só podem ter lugar nos termos
conceito de causa de pedir é, de qualquer modo, a qualificação jurídica
dos arts. 272 e 273 CPC (infru, 10,2.4). Diversamente, o completamento e a rectifica-
ção da causa de pedir, não implicando uma sua nova individualização, devem poder ter desse facto,
lugar com maior abertura, uma vez respeitado o princípio dispositivo (isto é, a vontade
ela parte a quem aproveitam de utilizar os factos que a completam ou rectifiquem);
assim se explicam as disposições dos arts. 264-3 e 508-3 tinfra, n.6.4.1). Constitui,
por exemplo, ampliação da causa de pedir a alegação, na pendência duma acção de
divórcio proposta por adultério, de factos que constituam injúrias graves feitas pelo réu
ao autor ou adultério do réu com outra pessoa; mas constitui completarnento da causa
I':I\:(OS para tanto suficientes. A dificuldade está, porém, em saber quando é que uma fatis-
de pedir a alegação, na pendência da mesma acção, de factos dos quais decorra que foi
grave ou reiterada a violação dos deveres conjugais (art. 1779-1 CC). Constitui alteração pl:cie se poderá ter por suficientemente identificada pela alegação feita pelo autor e
da causa de pedir a alegação, na pendência da acção de anulação dum contrato por quando, não o sendo, se verifica ineptidão da petição inicial (art, 193-2-(/).
erro, de factos constitutivos do direito do autor à anulação do mesmo contrato por dolo (.10) Neste sentido: MANDRIOU, Corso, cit., I, § 29, ps. 145- 147 e notas 7 e 21;
ou constitutivos de simulação, prescindindo o autor da causa primitivamente invocada; 'I'!II.l.IO LIEIlMAN, Manuale di diriuo processuale civile, Milano, Giuffrê, 1980, I,
mas constitui seu completamento a alegação, na pendência da mesma acção, do facto de p. 173; TEIXEIRADE SOUSA, O objecto, cit., ps. 44-45. Semelhantemente, embora com
ter sido reconhecido por acordo das partes a essencialidade do motivo que levou o 1I111111ces que podem ser vistas referidas em A confissão, ps. 38-41: WOLFGANGHENCKEL,
autor a negocLar (art. 252-1 CC). l'urtrilelire und Streitgegenstand im Zivilprozess, Heidelberg, 1961, ps. 266 e 277; JAU-
J'i'NIC;, Zivilprozessrecht, cit., p. 148. Ver ainda a investigação de MARIANAGOUVEIA,
(47) Uma nova causa repete a anterior quando em ambas coincidem os sujeitos,
•.\ ,'ClIIJa de pedir, cit., centrada na questão de saber se o conceito de causa de pedir é
o pedido e a causa de pedir (art. 498-1), tendo como resultado que, se a primeira acção
estiver ainda pendente à data em que a segunda é proposta, se verifica a excepção da IlIliro ou se diferencia em função dos institutos que o utilizam. Ver também a minha
litispendência e que, se a primeira acção tiver já findado com uma sentença de mérito, iiPI('ciação desta démarche em Themis, J3 (2006, 11), no prelo, onde será publicada a res-
se verifica a excepção do caso julgado (art. 497-1). A alegação, numa das acções, de JII·(·,iVlIarguição. Não deixa de haver causa de pedir quando nenhuma norma do sis-
tactos que completam ou rectificam a causa de pedir, sem atentar contra a sua indivi- " IIla vsuuui o efeito jurídico pretendido; rompe-se enão a ligação entre a causa de pedir
dualidade, não impede a repetição da causa. I " farto constitutivo de direito substantivo.
(48) Saber se a causa de pedir é a mesma ou diversa interessa à coligação de (!óI) Exemplos de causa de pedir são ainda a deliberação social impugnada, o
autores ou de réus, isto é, à admissibilidade da plural idade (activa ou passiva) de par- • «ntrutn de mútuo da quantia cuja restituição se pede no vencimento, a alteração grá-
tcs quando por elas ou contra elas são formulados pedidos diferenciados (art. 30). Sobre 11'-11 dI! documento que se diz falso, o contrato-promessa cuja execução específica se pre-
o concurso de causas de pedir, ou fundamentos fácticos do pedido. cf TElXElRADE ,•• " I.'. :r obra feita por terceiro, sem autorização, em terreno do autor e que este quer que
SOUSA, O concurso, cit., ps. 178 e ss. " ,.1 d'·llIolid:l. ctc, A causa de pedir é frequentemente complexa: basta que vários
(<19) A referência, que é feita pejo art. 498-4, da acção constitutiva ao «[acto COIl- (t""
',I 'iS r:iclos que, em cumulação, se devem verificar para que a previsão da norma
creto» c da acção de «anulação» à «nulidade especifica» invocada afasta as configura- ""li. :'VI'I "skja preenchida: facto ilícito, culpa, dano e nexo de causalidade devem, por
<;õcs alargadas da causa de pedir, enquanto acervo de todos os factos alegados e alegávcis , '\I'IIlJllo, ser tacticamente integrados para que o preceito do art, 483 CC tenha aplica-
Jo~ quais a lei substantiva retira o efeito jurídico afirmado em jUl7..0 (cf. I-I"1I1\<:I1EII>, '1.11" 1\1,,"::111(1 ([II:1l1doa causa de pedir é simples, o facto jurídico que a constitui é des-
nota 44 supra; outras referências ern A confissão, p. 39 (36»; mas, não rcduzhuln .1•.1"nvrl ('11\,,(II·josr"('los matcriuis concretos: tenha-se em conta, por exemplo, a com-
lilo-pouco a causa de pedir aos factos efectivamente alegados pejo nutor, <:lIll1.t~lllil"Nl~ 1.1''''',1111 da_';I'rtlpllslns " ;i('('il:l~·tÍL'sqlll' dflo lugar ao contrato ou o acervo de factos de
('0111 li sua identificação. enquanto núcleo essencial a seguir referido 110 ( .xro, IIlrIlV(':;d(' 1111>..,' "('tI(lI_11111:1 ,k('l:lra~':'\() 1~I·il;1. ('ol1fira-sc () IIr!. 65-1-r'.
) )

5.

SUJEITOS

5.1. OS SUJEITOS PROCESSUAIS

Os actos do processo são praticados pelas partes e pelo tribunal,


através do respectivo titular (o juiz - ou os juízes, quando o tri-
bunal é colectivo) e dos serviços auxiliares (a secretaria). São eles
os sujeitos da relação jurídica processual, dita triangular (I), mas
em que o juiz aparece colocado super partes e com poderes de auto-
ridade.
Há, além disso, no processo intervenientes acidentais, como as tes-
temunhas e os peritos (art. 257-1), que, sendo terceiros em face dos
interesses em jogo, têm o dever de cooperar para a descoberta da ver-
dade (art. 519-1).
ú
Vamos seguidamente analisar, com brevidade, a noção de parte e
debruçarmo-nos, mais atentamente, sobre a de tribunal.

(1) Foi ideia primeiro expressa por BüLOW e WACH e depois generalizada: a rela-
\;110 processual estabelece-se entre cada uma das partes e o tribunal e entre as duas par-
\I·S. O conceito de relação jurídica processual veio a ser posto em causa por GOLDSCH-
MIIIT. seguido por NIESE. que lhe substituíram a concepção de situações jurídicas das
purtcs em contínua mutação ao longo do processo, fundamentalmente baseada em que
11:: pnrtes têm líllllS e [aculdades e o juiz tem poderes. sendo estranha ao direito processual
11 11\11;1111 de dever, lida por essencial à configuração da relação jurídica. As duas con-
\'I'I'~'(ks 11;10 ,~:íll.porém, incompatíveis e ambas têm importantes virtualidades explica-
IlvlI:: (IIiIlMI'.\'I,". '/.ivil,Jl'();:I',\·stn·/,I, cit., ps, 87-88).
) )
o Conceito
Sujeitos 65

5.2. AS PARTES mitivas reconhece o seu direito, toma a posição autónoma de autor ou
de réu (art. 346-1); o habilitado substitui o transmitente, como autor ou
como réu (art. 270-a).
São partes o autor e o réu (2).
Além das partes principais, pode haver partes acessórias. Trata-se
Numa primeira perspectiva, é autor o titular dum dos interesses em normalmente (3) de pessoas que têm um interesse dependente do de
conflito que solicita a tutela judiciária, exercendo contra o titular do inte-
uma das partes principais e que por isso intervêm na causa para auxi-
resse a ele oposto (o réu) o seu direito de acção tinfra, lI.2.2.1), mediante
liar essa parte (arts. 330-1 e 337-1), mediante o exercício de acti,:,idade
a dedução dum pedido. Pode, porém, também o réu deduzir pedidos
própria que obrigatoriamente se subordina à da parte que coadjuvam
contra o autor, em reconvenção, que mais não é do que uma contra-acção, (art. 337-2) (3-A).
em que o réu assume a posição de autor (reconvinte) e o primitivo autor Em todos os casos, o conceito de parte recorta-se formalmente: é
a de réu Ireconvindo]. E pode também um terceiro relativamente à rela- parte quem propõe a acção, aquele contra quem ela é proposta, o suces-
ção jurídica processual inicial deduzir, em determinadas condições, pedi-
sor da parte primitiva e quem subsequentemente intervenha no processo,
dos em processo pendente em que intervém, constituindo-se parte (infra, independentemente de o ser para o direito material. A determinação
Il. 10.2.6). Estas constatações levam a uma concepção ampla do conceito
dos sujeitos da relação material controvertida, isto é, dos titulares das
de autor, que abrange todo aquele que, num processo, deduz a sua pre-
situações jurídicas de direito substantivo que estão em causa no pro-
tensão, seja originária seja subsequenternente, independentemente de ter
cesso, não interessa à configuração das partes processuais, mas apenas,
sido ele a instaurar o processo, sendo réu no mesmo sentido amplo todo
ainda que filtrada pela versão dos factos apresentada pelo autor tinfra,
aquele contra quem uma pretensão é deduzida ou que subsequentemente 11.2 (7», à determinação da sua legitimidade (arts. 26-3, 27-1 e 28-1) (4).
assume posição de contrariedade a uma pretensão já deduzida.
Assim é que o terceiro chamado a intervir que não intervenha n~o se
A lei processual usa normalmente os termos autor e réu no seu constitui como parte processual, ainda que lhe possa ser estendida a
sentido restrito, isto é, na perspectiva da relação jurídica processual tal eficácia do caso julgado (arts, 328-2 e 349-2). Para a identificação da
como res~lta da petição inicial (cf., por exemplo, arts. 274, 467, 476, 480, parte processual releva, no entanto, a qualidade jurídica em que o sujeito
486, 502, 503, 786). Mas no caso de intervenção de terceiros a título actua (art. 498-2): em caso de representação, a actuação do representante
principal (por intervenção principal ou oposição: arts. 320 a 329 e 342
em nome do representado leva, semelhantemente ao que acontece no
a 350), bem como no de habilitação do sucessor, mortis causa ou inter direito civil, a que seja este a parte processual (5); diversamente, nos casos
vivos, na situação jurídica litigiosa (arts, 371 a 377), as modificações sub-
jectivas produzidas (art. 270) levam a considerar autor ou réu o inter-
veniente, fora o caso em que, na oposição, ele se constitui como terceira
(3) Um pouco diferente é a posição do Ministério Público, quando a lei lhe impõe
parte (art. 346-2), ou o habilitado: o interveniente principal associa-se que intervenha acessoriamente tinfra, lUO (36)). _
ao autor ou réu primitivo (art. 321), passando a ter todos os direitos da (J-A) Ver, na acção executiva, o caso dos credores reclamantes (A acçao execu-
parte principal (art, 322-2); o opoente, quando alguma das partes pri- I;\'((, ps. 141-142).
(4) A distinção, feita por alguma doutrina, entre parte em sentido formal e parte
i'l1/ sentido material (por todos: CARNELUTfI,Sistema, cit., I, p. 360; MANDRIOU,Corso,

1'11" I. [l. 270) apela a qualificações provenientes de ramos de direi~o dls~ntos. Apenas
(2) No caso de oposição pode surgir uma terceira parte, em situação equidistantc
"llI sentido formal se constitui a parte processual. Mas, na configuração do pressu-
de autor e réu; e, em caso de chamamento de conde vedo r solidário, pode gerar-se tam-
/;1):;10 da lcgililllidadc, () direito processual reCOlTCa qualit~cações do di.reito material.
bém uma curiosa situação de coexistência de três partes com posições difcrcn 'üldns
O ('ooSt:quclllcmcnle, proposta, por exemplo, uma acçao contra um Incapaz, a pos-
(ill/i'a, 11.10.2.6). Há, por outro lado, processos com pluralidadc de autores ou réus. cons-
Irtior iuu- V\'1I~':jCl do l'l:pl'cSclllanlc (urt. 2:1-1) não modifica a configuração do ~él~ que
liluindo lima só parte Oll umu plurulidudc de partes processuais (h,li'o, 11./0,2.2),
I IIl1lillllll:1:WI " ílll':opal., HI'.()f:! <kvidanll'lill' ",·pI'['scnlat!o. .Ir. o cuso ele uansmrssao do
~ I I' I
) )
66 o Conceito Sujeitos 67

de substituição processual (5-A) é parte o substituto, que litiga em nome assegurar o direito, de outro modo ameaçado de inutilização prática
próprio, embora esteja prima fade em causa o interesse do substituído. (art. 336 ee, perante o qual são especiais os preceitos dos arts. 337 ce,
Determinado quem é parte, diz-se terceiro todo aquele que não o é, 119 ee, 1277 ec, 1314 ee, 1315 ee e 412-2); e nos outros casos em
ainda que seja titular dum interesse que justificaria a sua intervenção na que, fora desse condicionalismo, a lei admite uma actividade privada
causa, ou que o legitime a actuações processuais autónomas, como os .lirigida à realização extraprocessual da composição do litígio (1). Mais
embargos de terceiro (art. 351-1) e o recurso extraordinário de oposição discutivelmente, constituem, segundo alguns autores, meios de auto-tutela
de terceiro (art. 778-1),' destinadas a infirrnar a eficácia de providên- !li') que se traduzem no exercício extrajudicial dum direito potestativo ou
cias tomadas (6). duma excepção, visto que pelo primeiro se produz um efeito desfavorá-
vcl na esfera jurídica de terceiro, sem qualquer actuação deste, e pela
:,l'gunda se impede, também unilateralmente, o exercício dum direito de
5.3. TUTELA JUDICIÁRIA E AUTO-TUTELA
terceiro (8). A regra da proibição dos pactos comissários, mediante os
quais o credor poderia fazer sua a coisa onerada no caso de o devedor
o processo realiza-se no tribunal. Ao exercer o direito de acção,
lliio cumprir (art. 694 ee para a hipoteca; art. 665 ee para a consigna-
o autor solicita a intervenção dum órgão com poderes de hetero-tutela.
i;fio de rendimentos; art. 753 ee para o privilégio creditório; art. 678
Só excepcionalmente é consentida ao titular do direito a auto-tutela:
( 'C para o penhor, não obstante o disposto no alto 675-2 CC, que, mesmo
quando, sendo-lhe impossível o recurso em tempo útil aos tribunais, o
ussim, só permite a adjudicação da coisa ao credor após a avaliação judi-
recurso à força privada aparece como o meio adequado a realizar ou
I'ial da coisa empenhada), deriva da proibição geral da auto-tutela (9).

direito litigioso, embora o adquirente materialmente substitua o transmitente na titula-


ridade da situação jurídica transmitida, tem o tratamento da substituição da parte pro- ,1).4. OS TRIBUNAIS JUDICIAIS
cessual quando haja habilitação (art. 270-a) e carece duma norma de extensão da efi-
cácia da sentença ao adquirente que não se habilite (art. 271--3), precisamente porque este Os tribunais a que o autor recorre são normalmente os tribunais
permanece um terceiro relativamente ao processo, parte permanecendo o transmitente,
do Estado, órgãos de soberania especificamente investidos na função
na qualidade de substituto processual (infra, nota 5-A).
(5-A) A substituição processual dá-se quando a lei, excepcionalmente, admite como
palie no processo, litigando em próprio nome (diversamente do que acontece rum o repre-
sentante, que actua em nome do representado), uma pessoa que, não sendo sujeito da (1) É o caso da venda de bens alheios para satisfação de créditos próprios (arts. 674
relação material controvertida (ou titular do interesseem causa na acção), é, porém, titu- ('( " 675 CC e 831 CC) e o do arrancamento e corte de raízes e troncos de árvores e
lar dum interesse que está na dependência do do substituído, por forma que, ao provocar 111busíos (art. 1366-1 CC).
a tutela jurisdicional do interesse deste, o substituto actua tendo em vista o efeito indirecto (H) Nesta acepção lata, constituem meios de auto-tutela, designadamente. o direito
que esta tutela terá no seu interesse próprio, Ê o que acontece, nomeadamente, na acção dI' lI'ICII,<ão(arts. 754 CC e 755 CC), a excepção de não cumprimento do contrato
sub-rogatória (art. 606 CC; ver, porém, MARGARIDA liMA REGO, As partes processuais na 11111,/1.21:1 CC), a resolução do negócio jurídico por incumprimento (art, 801-2 CC), a com-
(/CÇÜO em sub-rogação, Themis, 13 (2006, Il), no prelo), na sucessão singular no direito p;'llIillÇíío (art. 847 CC), a exclusão do sócio duma sociedade (art. 1003 CC e art. 204
litigioso sem habilitação do adquirente (art, 271.·1). na execução do crédito do executado d" ('(jdigo elas Sociedades Comerciais),
contra terceiro que não cumpre (art. 860-3), na acção do promissário contra o promitcnte ('I) Como corolário da proibição legal, entende-se ser igualmente vedado, por
cnm base no contrato a favor de terceiro (art. 444-2 CC) ou na acção de responsabilidade I óllIllIlluir fraude à lei, o contrato de compra e venda sujeito à condição suspensiva da
movida pelo sócio de sociedade comercial contra gerente, administrador ou director pnru 1111"1I'::liIUi\~o (cvcntualmcutc com juros) de quantia mutuada pelo comprador ao ven-
fazer valer o direito de indemnização da sociedade (art. 77 CSC). d~·d"l. I'quiv:dl'llll' ;1l1 preço da compra c venda e com ele compensável, ou à condição
(I,) Entre os terceiros, estão os interveuicntcs acidentais - t zstcruunhns, IwdtllS, (f'llIdUllvtl do seu pagamento, para fugir à proibição da cláusula comissória (SALVATORE
(\ I(-rnicn previsto no art. 649 e outros sujeitos que, sem illlrl'l'sse na r:llloil, ('1)11111111
,1111 1'11111 ItII'J'i. l'rcrisu.ion) iu tema di vcndita a scopo di garanzia, Rivista trimestriale di
nu rel\lj~,lll':~tlda Iunção processual. 0111111 •• I' 1"IH'I',hll:l rrvih-, 19S0, ps, :\02-30] c 314-318),
) )
68 o Conceito Sujeitos 69

jurisdicional, isto é, na função de composição dos litígios mediante a lamento das decisões proferidas em via de recurso pelos tribunais supe-
tutela dos direitos e interesses legalmente protegidos, para tanto exercendo riores (art. 4-2 da Lei de Organização e Funcionamento dos Tribunais
o poder jurisdicional (arts, 110 e 202 da Constituição da República), .Iudiciais),
É requisito essencial do exercício da função jurisdicional a impar- Quanto à imparcialidade dos juízes, a lei processual enuncia os
cialidade dos titulares do órgão jurisdicional (os juízes), colocados super rasos em que, por poder perigar, o juiz que normalmente seria COD-
partes em posição de independência perante os restantes órgãos do rretamente investido na função jurisdicional (13) fica impedido de a
Estado e perante os interesses em conflito, , exercer (arts. 122 e 124) (14) ou pode ser afastado por suspeição
Consagrada em geral no art. 203 da Constituição da República, a (art, 127) (15); e, no domínio da aplicação da Convenção Europeia dos
independência dos tribunais judiciais (10) é garantida pela existência Irireitos do Homem, tem sido entendido que também a parcialidade
dum órgão privativo de gestão e disciplina da magistratura judicial subjectiva, expressa em actos anteriores à decisão, é inadmissível (16),
(o Conselho Superior da Magistratura) (lO-A), pela inamovibilidade dos A natureza e os requisitos específicos dos tribunais do Estado levam
respectivos juízes (lI) e pela sua não sujeição a quaisquer ordens ou !I que, por um lado, lhes sejam atribuídas, acessoriamente, outras funções
instruções (12) relativas à actividade jurisdicional, salvo o dever de aca- para além da função jurisdicional (17) e, por outro, lhes seja reservada

(10) Os tribunais judiciais constituem, ao lado dos tribunais administrativos e fis- (13) O juiz competente por aplicação das normas gerais da competência dos tri-
cais e do Tribunal de Contas, uma das três grandes ordens dos tribunais do Estado con- lunuus, ou juiz natural.
sagradas no art. 209-1 da Constituição da República, exercendo, como tribunais COIIllIllS, (14) Assim, por exemplo, está impedido o juiz que seja parte na causa ou que seja
jurisdição em todas as áreas não atribuídas a outras ordens judiciais (art. 21] -1 da Cons- ri'lIljuge, parente ou afim, até ao segundo grau da linha colateral, duma das partes, bem
tituição da República), Consta a ordem dos tribunais judiciais de tribunais de L" i~s- "111110 aquele que, a outro título, taxativamente enunciado, tenha tido intervenção na
tância, tribunais de 2," instância (as Relações) e o Supremo Tribunal da Justiça. Há, além i'lIl1Sa. Verificada a causa do impedimento, o juiz tem o dever de se declarar impedido,
disso, na orgânica dos tribunais portugueses, o Tribunal Constitucional. Das decisões 1111 falta do que as partes podem, até à sentença, requerer a declaração do impedimento
dos tribunais de L" instância susceptíveis de recurso ordinário recorre-se para os tribu- tlll'l. 123).
nais da relação e das decisões destes que forem recorríveis para o Supremo Tribunal de (15) Assim, por exemplo, está sujeito a suspeição o juiz que for parente ou afim
Justiça. O Tribunal Constitucional é competente para conhecer de recursos de consti- 11<'uma das partes em grau para além do segundo da linha eolateral, bem como aquele
tucionalidade, A Constituição da República permite ainda, no art. 209-2, a existência '1111tiver
' grave inimizade ou grande intimidade com uma das partes. Às partes cabe opor
de lribunais marítimos e de julgados de paz, efectivamente existentes por criação da lei 11suspeição com algum dos fundamentos taxativamente indicados; mas o próprio juiz pode
ordinária, bem corno a constituição de tribunais arbitrais. u-qucrcr a dispensa de intervir na causa ao presidente do tribunal da relação (ou ao
(l0.A) Presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, o Conselho I'll'sidcnte do Supremo, quando se trate de juiz conselheiro), não só quando ocorra
Superior da Magistratura é um órgão misto em que têm assento 7 juizes eleitos pelos .Jlgllln desses fundamentos. mas também quando entenda que outra circunstância pon-
seus pares e mais 9 vogais eleitos pela Assembleia da República (7) e designados pelo oIC'IIISlIpode levar a suspeitar da sua imparcialidade (arts, 126-1 e 131). Não tem,
Presidente da República (2), que podem ou não ser magistrados judiciais (art. 218-] da IIOft'II), o dever de o fazer: é que os fundamentos de suspeição são considerados menos
Constituição da República). /'1aves do que os de impedimento,
(11) Só podem ser transferidos, suspensos, aposentados ou demitidos nos casos pre- (11.) Assim, a Comissão Europeia entendeu constituir violação da Convenção a qua-
vistos na lei (art, 2]6-1 da Constituição da República) e com respeito pelos prazos 111j('a~,[il) da defesa dUI1lréu como «inverosímil», «escandalosa», «mentirosa», «ignõbil»
pré-cstahclccidos para a duração da função (neste sentido é a jurisprudência do Tribu- " ..J'('.pllgnante», feita pelo presidente do tribunal em audiência; e o mesmo se entende
uul Europeu dos Direitos do Homem, formada na aplicação do art, 6 da Comissão Euro- CpllllHloo juiz denuncia a decisão que vai tomar antes do momento adequado para a pro-
peia dos Direitos do Homem). 11111(.IM\lIl1·SVI'.IH·RlISENEIWEC, '-Ü convention européenne des droits de l'homme, Bru-
(12) Ou ainda recomendações, como tem decidido o Tribunal Europeu dos Direi- \I'lb, HIII)dallt, (1)C)0, p. 467).
tos do 11011I1:11) (dccísão Cumpbcll c Fdl, de 28·6-84, série. A do Anuário, n." SO, p, 40. (1") Viruo-lo nos casos da jurisdição voluntária (supra, 4.5) e também nos de
* ·/C)). 'l'r:lt:l' .';l', :;nl>n'tllt!u. til' 1',i1r11l1tír
11iIldrpl'lId{'lIda )lI'l'lllIle 11POlll'!' rX('clltivo, !lUIS clJlllji\ltll filial dos vutux ('111eleição dos órgãos de soberania e de fixação do valor
<1\11'11,1\1('1 ti" 11Il'Clills;lIIl'lIlbdCl~ (sllpra, 4 (23»). Os tribunais exercem nestes casos uma
11111111"'1111'I'IIIIIIc'li:, 1t'.';t;IIIIc'~I'IHII'I\';.
)
71
Sujeitos
'/0 o Conceito
rendo um fundamento semelhante ao do negócio jurídico: tal como os
a função jurisdicional. Está esta reserva consagrada no art. 111 da
particulares podem, no domínio da autonomia da vont~de, au~~-r.egula-
Constitui~ão da ~epública (18) e dela resulta que não podem, designa-
mentar os seus interesses e, designadamente, prevemr os litígios ou
d~\lne~te as autondades administrativas, ser concedidos poderes jurisdi-
pôr-lhes cobro mediante negócios de transacção (supra, 3.3), assim
cionars (19).
pudem também, no mesmo domínio e desde que uma lei esp.ecial.não o
impeça, encarregar terceiros de decidir os litígios que entre SI surJ~ ou
venham a surgir (art. 1-1 da Lei n.o 31/86, de 29 de Agosto: ~a
5.5. OS TRIBUNAIS ARBITRAIS
!\rbitragem Voluntária: LAV). A fonte de legitimação do poder [uris-
'ttiôonal dos tribunais arbitrais (cf. art. 209-2 da Constituição da Repú-
. Dentro do ~~m~o do dire.ito disponível, é admissível que as partes hlica e art. 25 LAV) é, pois, distinta da fonte de legitimação do podêi-
acordem, para dirimir os conflttos entre elas, no recurso a tribunais arbi-
jllrisdicional dos tribunais do Estado (21).
trais. Estes são constituídos por particulares e como tal destituídos de . A convenção de arbitragem, que deve ser sempre reduzida a escrito,
jus imperii (20). O seu poder de decisão deriva da vontade das partes,
(lnde t; por objecto um determinado litígio actual, mesmo que já na pen-
dí:llcia dum processo em tribunal iu.dicial, ou lití ios eventua' entes
dl~ determinada relação jurídica~ontratual. o e' tracontratual; no ~ri-
aC,lividade ~ue, da~o o órgão q~e a exe~ce, não pode deixar de ser considerada judicial,
mas que nao consutui uma actividade jurisdicional.
mciro caso, estamos perante o compromisso arbitre!!:.;no segundo, que
_ . (I~) .Do princípio da separação dos órgãos de soberania resulta não poder a fun- I' () mais t-requente, perante a cláusula com]2LQmissária, normalmente

çao Jl~n~dlclOnal ser exercida senão pelos tribunais. Não obstante, o art. 205-4 da ills<.:rlanuma estipulação contratual, maxime no campo do direito comer-
~onstllUlção da República admite que a lei ordinária institucionalize instrumentos e I'lal (arts. 1-2 e 2 LAV) (22) (22-A), OS árbitros são designados pelas par-
lormas de composição não jurisdicional de conflitos. Podem assim outras entidades ser
IIlcumblda~ de resolver determinados tipos de conflitos de interesses; mas, não o fazendo
110exe~~ícI.O da função jurisdicional, as soluções que delas dimanem não se podem ter
pOI .definitivas. delas cabendo sempre recurso para os tribunais e só com o recurso se 111111111 comum a competência para as decretar na dependência das acções declarativas
~n.lclando o processo jurisdicional. . É o que acontece com a decisão proferida pelos ',lIjl'il:lS a julgamento arbitral (SATrA-PUNZI, DPC, cit., p. 879; MANDRIOU, Corso, cit., 1Il,
lI~hlll~S que :unclOnam Junto da entidade expropriante para o efeito de fixar as indem- ji. ,1(4); mas não está excluído que, como defende alguma doutrina genn~i~a, seja adrnis-
mzaçoes devl?as em processo de expropriação, decisão essa que não deve ser conside- '.1\"1'1õIjllrisdição arbitral quanto à emissão (nunca à execução) de proVidencIas ca~tela-
~':Ida uma declsã? jurisdicional, não obstante a jurisprudência uniformizada do Supremo 11"". '1 1('visem antecipar provisoriamente a decisão det1nitiva, desde que a convençao de
In~unal da Justiça em contrário (ac. 10/97, de 15 de Maio): a reserva relativa da juris- 1
1I!I,l!lllgCIl1 expressamente o preveja (SCHWAU-WALTER,Schiedsgerichtsbarkeit, .Mün~he~,
dição pa~a .os tribunais, de acordo com a exigência de que lhes seja, pelo menos, dei- 1\''1'1,. 1()90, p. 55). Outra manifestação da falta de jus impedi dos tribunais arbitrais
xa~a a. «ultl~a palavra» (PAULO RANGEL, Repensar o poder judicial / fundamentos e frag: I<'~iilil-na necessidade de recurso ao tribunal judicial para a produção de prova doeu-
IIItIIt~s, P.?I to, ~001, p. 304; GOMES CANOTIUIO, Direito constitucional e teoria da 1111'111111 que dependa da vontade de uma das partes ou de terceiro, quando seja recusada
("~IISI/II:IÇ~O, Coirnbra, Ah~e~in~" 200?, p. 664, falando antes de «reserva de tribunal»), li 1'llIlIllmaç1io para tanto necessária (art. 18-2 LAV), bem como na inexistên~ia dos pode-
1l,IOpostula,. a nosso ver, a jurisdicionatidade das decisões (recorríveis) anteriores ao acesso 11" di' ronvocar testemunhas ou peritos, de exigir o juramento de quem depoe ou de con-
aos. tribunais (José LEBRE DE FREITAS, A citação dos interessados como garantia dei d"11I1I" parte por má fé processual ou a testemunha por depoimento falso (SCHWAB-WAL-
(fI:le.~a 110 processo de expropriação in Estudos em memória do Professor Doutor JOU(I 111', dI.. ps, 122-125; CLi\UDlO CECCHELLA, L'arbitraio, Torino, Utet, 1991, p'.147).
rII' Castro Mendes, Faculdade de Direito de Lisboa, 1995, ps. 180-(94). (...1) () chamado tribunal arbitral necessário não é, a meu ver, um tríbunal: Situado
. (lI}) Daí decorre também a existência dum controlo jurisdicional dos actos adnu .. I'illl dI) ('i\1I1!10da jurisdiç1io, só é admissivel no âmbito da permissão do art. 202-4 da
lI~slrattvos, assegurado através dos tribunais administrativos e fiscais c do Tribunal de
~', 111',1itu i(:io (I.I'.I\I(E DE I 'RHI"AS. t\ ciiação, cir., p. 1(3),
( oruns (art. 209-1 da Constituição da República, ais, a e b). (.'.') '1':11I10li \'Olllpl'OllIisso arhitral C01110a cláusula compromissória devem deli-
. (lO) Não t~m, por isso, competência executiva, sendo as suas decisões (\xcntll\\llI~ 11111111 ,k l1rIlH\\;i\o dllS árhHr\ls. mas. CIHlII'\I1(O() primeiro deve indicar, ainda
li 111111.!III
"" tl'lhtlm~1 judicial comul~ (art. 30 da Lei da Arbitragem Volunlária). Nfío 110((('111,!l0l 'JlII /,1"11'1\1";11111"111", I> ••11",,,," d •• lilfl'.lI' qfl arll\ill!. :t ~,''l'.lIl\dl\ pode limitur-se a espcci-
I~~,O1'lIl1hl'llI. decretar providências cautelares (i/lji"rl, 1I.2.:\J), cubendo i~'.uillll\(,III,' ao I1I
) ')
/

72 o Conceito \\
Sujeitos 73

tcs ou escolhidos pelo modo que elas tiverem determinado; mas, na prazo dentro do qual a decisão deve ser proferida (art. 19-1 LAV); se não
falta ele tal estipulação e se as partes nada acordarem, cada uma indicará o fizerem, ele é de 6 meses (art. 19-2 LAV); o prazo é prorrogável, por
um árbitro e os dois assim designados escolherão um terceiro, cabendo acordo das partes, até ao dobro da sua duração inicial (art. 19-4 LAV);
ao presidente do tribunal da relação do local fixado para a arbitragem ou, se for excedido, caduca a convenção de arbitragem (art. 4-1-c LAV) ,
supletivamente, do domicílio do autor a nomeação do árbitro ou árbitros Salvo se as partes convencionarem o contrário (24), a decisão pro-
que não forem designados de acordo com essas regras (arts. 7 e 12-1 ferida pelo tribunal arbitral, vinculativa e exequível nos mesmos ter-
LAV), Aos árbitros não nomeados por acordo das partes é aplicável o mos que a proferida pelo tribunal judicial de L" instância (art, 26 LAV),
regime de impedimentos e escusas estabelecido para os juízes (art, 10-1 é, como esta, susceptível de recurso para o tribunal da relação; mas,
f .AV); mas não aos nomeados por acordo das partes, que só se podem podendo as partes, na convenção de arbitragem ou em documento subs-
escusar ao exercício da função que hajam aceite por causa superve- crito até à designação do primeiro árbitro, autorizar o julgamento segundo
nicnte que os impossibilite de a exercer, sob pena de incorrerem em a equidade (art. 22 LAV), o exercício deste direito envolve a renúncia
responsabilidade civil e sem prejuízo de ser livre a escusa até o momento ao direito de recorrer (art. 29-2 LAV) ,
da aceitação (art. 9 LAV, n,OS1 e 3) (23), A imparcialidade dos árbitros, Tal não implica, porém, a supressão total da possibilidade de controlo
lal como a sua independência relativamente às partes, ainda que não judicial. Em casos considerados especialmente graves, que o art. 27-1 LAV
relativamente aos órgãos do Estado, não é, pois, pelo modo da sua esco- laxativamente enuncia (25), a sentença arbitral é anulável; havendo recurso,
lha, cxigida com o mesmo rigor que para os juízes. a anulabilidade é nele arguida (art. 27-3 LAV); quando não haja recurso,
A competência do tribunal arbitral é temporalmente limitada: as
partes têm, até à aceitação do primeiro árbitro, a faculdade de fixar o
(24) A decisão arbitral está sujeita ao regime geral da renúncia ao direito ao
recurso (art, 29-1 LA V) - por acordo de ambas as partes, até ao momento da decisão;
nnilateral, depois de ela ser proferida (art. 681), Mas, tratando-se de arbitragem inter-
ficar a relação jurídica a que' os litígios (potenciais) se devem referir (art, 2-3 LAV), nacional (aquela que põe em jogo interesses de comércio internacional: art, 32 LAV), a
vnbcudo neste 'caso à parte que tenha a iniciativa de instaurar a acção aquela indicação decisão do tribunal só é recorrível se as partes tiverem acordado a possibilidade de
(111'1.11-3). Em qualquer caso, a determinação precisa do objecto do processo arbitral recurso e regulado os seus termos (art, 34 LAV). Em qualquer caso, a renúncia não
1'1I1."SC,como no tribunal judicial, na petição e na eventual reconvenção (sem prejuízo ubrange os recursos extraordinários (revisão e oposição de terceiro: arts. 771 e 778), que
Iil' 01111':1 coisa poder resultar das regras processuais estabelecidas pelas partes ou, no silên- uiío são dirigidos, como é de regra (arts. 772 e 778-2), ao tribunal que proferiu a deci-
cio destas, pelos árbitros nos termos do art. 15 LAV). Veja-se, sobre o processo de deter- :uio, mas sim ao tribunal judicial de I." instância, dado que o poder jurisdicional dos árbi-
ruinuçílo do objecto do litígio, Estudos / Algumas implicações da natureza da conven- lros se extingue com a notificação da decisão final ou do seu depósito (art. 2S LAV).
~."" ti" arbitragem: ps, 855-860, bem como o meu artigo Alcance da determinação pelo (25) Indisponibilidade do direito a que o litígio respeite (arts. 1-1 e 27-1-a);
tribunnljudicial do objecto do litígio a submeter a arbitragem, O Direito, 2006, I, em lnrompctência ou irregular constituição do tribunal arbitral (arts. 6 a 14 e 27-I-b); vi o-
''''I'''I'i:1I p~'. (,)-(,1{. I!I~~i1ode princípios fundamentais do processo civil, com influência determinante na
(,'i A) () 1II'l. 1-3 LA V admite que, de acordo com a vontade das partes, expressa decisão (arts, 16 e 27-I-c); falta de assinatura ou fundamentação da sentença (arts. 23
1111('IlIIVI'Il,'ÜO de arbitragem, os árbitros se ocupem de questões que não tenham «natu .. !' :~7·d); excesso ou omissão de pronúncia (art. 27-e). Destes vícios, dois há que, não
1!'/.a ('(lI1I~llcitlsa em sentido estrito», designadamente as que se relacionem CO!11 (11 obxtumc o disposto no art. 28-2, são insusceptíveis de sanação pelo decurso do prazo de
II<""'~;:',I\I;"I,' dI' precisar, completar, actualizar OLl mesmo rever os contrntos ou as mil." IIllIilu9<o: () da indisponibilidade do direito e o da falta de assinatura da sentença. O pri-
~'IIl", .l'llIdJl':lS I('w ,'sl:)o lia migelll da convenção de arbitragem". Não ohstantc () apdo nu-iro determina a nulidade da própria convenção de arbitragem (art. 3). O segundo é,
10-",:,1,111,'Olh'rllll de lili)'.io par:1 ahrallger estas questões, reSp(~ilallll's ~ inh'lpn:la(;f!o. illll" 1:.'1l'lilllO na sentença judicial, fundamento de nulidade e não de anulabilidade (supra,
I~w~nll.li' illllli/:l\';\\I " 1110Illli('''\,:io dlls rontratos, elas vxccdrrn a f\lll~'ao jurisdicinnu]. ,'11,1 l l. I)' qualquer 1I10UO.a referida sanação é sempre relativa, visto que qualquer fun-
dlllllllll'lI;\' illlplil'lifldo :l<'lilll\'rW~;110dOlllíllill 1I')I.'l('i;" tlnl"""lo dI' all\ll:II':~O pode, independentemente de ter sido requerida a anulação, ser
{/', 't',illl"HH'O 11pllllt' IJIII.II'!I','I1N;lro ;Irhifrtl '111\'li\"'1 01'''''1:1111.1",10';111(II'Olll'urill 10-1111 vak-r ,'111IIp(Jsi~';'í() à execução. Veja-se ainda, sobre a violação da ordem pública
',11111"\,,'IIIt'III,' ,I.' IlIlId""I<'III" d,' 1111111',11111"1110
<l!I 1'~,IIi'ill 1;111 10.' I !\\! I lii(I'IIllH'llll1111d" I-:s!adq POrllll',Ilí's, :1 110la 27 iufra.
) )
74 o Conceito Sujeitos 75

seja por ele, embora admissível, não ter sido interposto pela parte vencida, bém ser recusados quando, a requerimento da parte contra quem a sen-
seja por não ser admissível, em consequência de renúncia, a anulabilidade tença é invocada, se verifique a ocorrência de algum dos casos taxati-
constitui objecto duma acção de anulação a propor no tribunal judicial vamente enunciados no art. 5-1 da Convenção, que essa parte tem o
(de 1.1\ instância), no prazo de 1 mês a contar da notificação da decisão ónus de provar (28). Não se verificando nenhuma destas situações, o
arbitra! (art. 28-2 LAV). Este direito à anulação da decisão dos árbitros Estado Português está obrigado a reconhecer e a executar, de acordo
l: irrenunciável (art. 28-1 LAV), gozando assim da irrenunciabilidade pró- com as normas processuais internas aplicáveis, as sentenças arbitrais
pria do direito de acção (infra; 11.2 (4». Do mesmo modo, é irrenunciá- proferidas no estrangeiro (art. 3 da Convenção).
vcl o direito de oposição à execução da sentença arbitral, que pode ter O regime da Lei da Arbitragem Voluntária tem assim aplicação a todas
lugar com os mesmos fundamentos de anulação (art. 31 LAV). as arbitragens que tenham lugar em território nacional (art, 37 LAV), ainda
A mesma ideia de irrenunciabilidade do direito de oposição à exe- que a causa apresente elementos de conexão com outros espaços jurídicos
C\I\:[iO da sentença arbitral está consagrada na Convenção de Nova 10r- (art. 32 LAV), enquanto que a Convenção de Nova Iorque - ou, fora do
que sobre o Reconhecimento e a Execução de Sentenças Arbitrais Estran- S\~L1 âmbito, o art. 1096 (cf. art. 1094-1) - se aplica sempre que esteja em
/'.l·iras. celebrada em 10-6-58 e só ratificada por Portugal pelo Decreto causa uma arbitragem efectuada no estrangeiro (29) (30).
11." 52N4, de 8 de Julho.

Nos termos do decreto de ratificação, esta convenção aplica-se em


Portugal apenas quando esteja em causa uma sentença arbitral profe-
rida no território dum Estado a ela vinculado (26). De acordo com o
(28) Incapacidade da parte, segundo a lei pessoal (art. 5-I-a; cf art, 25 CC); nulidade
urí. )-2 da Convenção, o reconhecimento e a execução duma sentença <111 convenção, segundo a lei a que as partes a sujeitaram ou, supletivamente, segundo a lei
urhiuul em Portugal devem ser recusados pela autoridade competente do país em que a sentença foi proferida (art. 5-1-a); violação do princípio fundamental da
quando, segundo a lei portuguesa, o objecto do litígio não pudesse ser ,"'lesa (art. 5-I-b); excesso de pronúncia ou pronúncia sobre objecto diferente do visado pela
ronvcnção de arbitragem (art. 5-I-c); constituição irregular do tribunal arbitral, em face
resolvido por arbitragem, bem como no caso de contrariedade à ordem
<111 convenção de arbitragem ou, subsidiariamente, da lei do país em que ela se realizou
pública internacional (27) do Estado Português. Mas, fora destes casos
11111. 5-I-d); desconfonnidade do processo de arbitragem com o estabelecido na convenção
de conhecimento oficioso, o reconhecimento e a execução devem tam- IlIi na mesma lei (art. 5-1-d); inexequibilidade. da sentença, por anulação, revogação ou
"""pl'lIsão pela autoridade competente do país em que foi proferida (art, Sol-e).
(29) Reciprocamente, os outros Estados vinculados pela Convenção deverão
I "!'onhccer e dar execução às sentenças arbitrais proferidas em Portugal, uma vez veri-
(::(,) A reserva é admitida pelo art. 1-3 da Convenção, Na sua falta, a Conven- 111' Idos os requisitos da Convenção.
1,'11" trrin aplicação a qualquer sentença, ainda que proferida num Estado a ela não vin- CO) Sobre os tribunais arbitrais, à luz da Lei n." 31186: RAUL VENTURA, COI!-
,"111.1••. '1'1(' a legislação portuguesa não considerasse como nacional (art. l-I). I"'/li't'lo de arbitragem, Revista da Ordem dos Advogados, 1986, ll, ps, 289 e ss.; ANTó-
(.!/) Sobre o conceito de ordem pública internacional, diferente da ordem pública 111' 1 MARQUES DOS SANTOS, Nota sobre a /lava lei portuguesa relativa à arbitragem
1iJ/1'!m/: arl, 22 CC. Por contrariedade à ordem pública internacional portuguesa, devem, ""/III/I<1,.ia.Revista de la Corte Espafiola de Arbitrage, 1987, IV, ps, 15 e ss.; DARia
1'\11 IHIS~;Oentender, ser recusados o reconhecimento e a execução de sentença proferida !vii 1111\/\VICENTE, Do direito aplicável ao mérito da causa na arbitragem comercial,
,.,,, 1'!"i"'S~;O ('111 que se tenha violado o princípio do contraditório ou o da igualdade das I 'uhnhrn, Coimbra Editora, 1990, ps. 67-68; ISABEL MAGALHÃES COLLAÇO, L'arbitrage
1'''.1.·.·. (1I(li.". 11..\.2 e .1.3). Mais discutível será dar a mesma solução lIO caso de ('alw tntcrnationa!e duns la récente loi portugaise SUl' I'arbitrage volontaire, Droit interna-
,h- 1,,"d:IIJ\('III:I~';io da sentença, não ohstuntc a consagração 'ollslillll:iollal do dever de ""'1111 d droit communautairc, Paris. GuIbenkian, 1991, ps. 55 e ss.: PAULA COSTA E SILVA,
1111 ,da 11li' 11(;11 (.ut. 20X ..1 da ('nllsl itu ição), I~lI1h()/,:J :1 viul :";:11 1 .I•. nnrum de ordem ,11I"/U\,rlO (. recursos da decisão arbitral, Revista da Ordem dos Advogados, 1992, III,
pllhlli'll 11I1<'IIJ:wioll:<! IIfio csll·.i:J l'ollsagr:,da na I ,(,i da t\d,illill',I"" Vnllllll:lli:ll'\ll11o íun .. 'iw li" \ r sx.; JOÃO L\lIS LOPES DOS REIS, Questões de arbitragem ad hoc 11, Revista da
dllllll'lllo dI.' :lIlIda~'ao da arbitral, da oito 1'0.1,·. ""L,
!:<'lIlrll~'a :.11.11:,a"idHd,,, hem COI)lI! (11.1"," d(ls i\dvog;ldos. 1999, I, ps. 263 c 8S.; MARIO RAPOSO, A sentença arbitral,
.1,,11111111:.""",:"•.",, do:; \'ilSIl~ paralelos (d'" dl'sil',IIlIdIl1l1l'"It', ",111 10'1(1/). d,'ixllf' di' )1,'1', .•1:1 tia Ouk-m dos Advogados. 2005, H. ps, 253 c SS., e Temas de arbitragem comer-
I"" lIIhllllldil \ '''"11 lul ",", 1/"vl"la ,I;. ()"klll (/(\, AJvogtHllls, 20()(j, I, ps. 5 e S~'
v:
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1.

INTRODUÇÃO

1.1. A IMPORTÂNCIA DOS PRINCÍPIOS GERAIS

Os princípios gerais do direito civil, na sua generalidade há muito


assimilados pelos sistemas de direito QositjvQ..constituem hoje evidências
1'1\1 torno das quais os institutos jurídicos se encontram naturalmente
('slruturados1 sem que seja sentida a necessidade de os reafirmar, Assim
I' que ninguém questiona o princípio pacta sunt servanda no campo do
direito das obrigações nem o do numerus clausus no campo dos direitos
reais. Não é que evoluções recentes não tenham levado, por exemplo, ~
li rirlna~ão e ao desenvolvimento do princípio da boa fé, à afirmação do
princípio da tutela de terceiro nos registos predial e comercial, à eXQaI].-
I:ii()- dos instrumentos de protecção do contraente mais fraco e dos titulares
dI; interesses colectivos e dTfUsõs outrora não especificamente tutelaaos,
Mas, no campo do direito civil,~a n?ta dominante é de estabilida~
Diversamente acontece no direito processual civil. Tratando-se
dUIIl ramo do direito relativamente recente (I), estreitamente conexionadõ
------------------------ - ~

(I) Estudos de direito processual há desde há muito: já na Alta Idade Média,


'111\'1' entre os g.losadores (JACOPOBALDOVINUS, TANCREDO),quer entre os comentadores
I j( )AI) DE MAYNO), houve quem se dedicasse a monografias e exposições sistemáticas do
jllil,nSll (cí, Ruv DEALBUQUERQUE e MARTIMDEALBUQUERQUE, História do direito por-
11I.t:(/(\', Lisboa, 1993, Pedro Ferreira, I, ps. 204 e 208), Nas Ordenações Filipinas a maté-
i 111 processual estava arrumada no Livro Ill, enquanto da organização judiciária tratava

" l,ivlO J; mas esta arrumação linha como único critério a ordem pela qual se produziam
11'. ,\I'I,)S pron:ssllais (começando na citação do réu e acabando na arrematação dos bens
1I1I n""II,;,,"j, 1'01' sua ver" () ensino do processo sobre pouco mais incidia do que a mera

d''':t'1 i,;iu. <ltl,<1 fOrlllalidadl's proccssuals, Entre nós, instituída a Faculdade de Direito de
I '""111,, li ,'111 IX Ih, (, :';1111011 "íl Ít';1 :t dcslgll:\ç:io da cadciru do 5." ano em que era dada
) )
80 Os Princípios Gerais Introdução 81

com a organização do Estado e os direitos fundamentais e em que, por monto de «constitucionalização das garantias processuais» (4) e, com
ísso, o momento histórico e as particularidades nacionais se fazem muito I·k. o de uma atenção cada vez maior açs princípios gerais do processo
sentir, os seus princípios enformadores continuam a ser objecto de dis- l'iv~0ue os sistemas autoritários haviam desprezado (5). Reposta, de
cussão e aperfeiçoamento. 1IH )aO institucionalizado, a interrogação sobre os valores enformadores
Duas décadas depois de HANS KEI.tSEN ter posto, pela primeira vez i!(Js sistemas jurídicos, inclusive no cam o rocessual, _constitucionalis-
na Europa (2), a guestão da ;ecessidade duma jurisdição cõnStitucio~ IlIS e processualistas foram ree uacionando os pjincíplcs ndamentais
em sentido amplo....comoSQ.~lemento da garantia da vinculatividad~ tllI jurisdição e do processo, desenvolvendo o sentido das normas cons-
da norma jurídica (3), o último pós-guerra marcou o início do movi- ruucionais que os reafirmarám e a estas procurando adaptar os códigos
I' us práticas da sua aplicação (6), A jurisprudência que o Tribunal,

a matéria processual (Jurisprudência formulária e euremática. Prática do processo


civil, criminal, comercial e militar) e ainda em 1885, já depois de publicado o primeiro
Código de Processo Civil (1876), o seu comentário era feito artigo por artigo, após a orga- (4) CAPPELLETTI-VIGORITI, Fundamental guarantees of lhe parties in civil litiga-
nização judiciária, nas cadeiras de processo, desdobradas em duas (Organização e com- 1/"1/, Milano, Giuffrê, 1973, p. 514.
petência dos tribunais portugueses. Teoria das acções, principies gerais do processo; (5) Não obstante, as grandes sistematizações italianas de CHIOVENDA, CARNE-
processo civil ordinário na J. a instância, incidentes e preparatórios das causas, dada no I 11'11'1 e CALAMANDREI atravessam o período fascista. Em Portugal, onde em 1926
4." ano; Processos civis especiais e especialidades das execuções hipotecárias, pro- IIillda não tinha tido início o estudo dos princípios gerais do processo civil, generali-
cesso civil e processo comercial, dada no 5. ano); prevalecendo uma orientação essen-
0
11I\1-sc o hábito, ainda hoje imperante, de, nos compêndios da cadeira, se lhes dedicar
cialmcnte prática, eram simulados nas aulas os actos praticados no tribunal e os alunos 1IIIIollomamente apenas algumas páginas (MANUEL DE ANDRADE, CASTRO MENDES) ou
elaboravam em casa um processo completo (PAULO MERElA, Esboço duma história da IlI'lIhumas (ALBERTO DOS REIS, PALMA CARLOS, ANTUNES VARELA). A falta de siste-
Faculdade de Direito, Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra, XXVIII, p. 16). 11ll\1I~.açãodos princípios gerais, que os seus conceitos específicos, como instrumentos
/\ França teve em 1806 o seu primeiro Código de Processo Civil, que, embora não 11'"uicos que são, não substituem, não raro torna a cadeira, perdida a perspectiva uni-
tenha sido a primeira afirmação da autonomia do direito processual (data de 1667 li IIi'ildlll'a do sistema, em algo de incolor, quando não de acientífico. Os códigos for-
Grande Ordonnance SUl' la Procédure Civile de COLBERT), constituíu a primeira orde- IIllIdos em período autoritário reflectem, como não podia deixar de ser, os condicio-
nação sistemática das normas processuais. As obras de BETHMANN HOLLWEG (Versllche Illllhll10S histórico-políticos em que nasceram, particularmente evidentes no nosso CPC
iiber einzelne Teile der Theorie des Zivilprozesses, de 1827), de WETZELL (System des ,k 1'119, em que o valor Segurança acentuadamente prevalece sobre o valor Justiça e
orderulichen Zivilprozesses, de 1854), de WINDSCHEID (Die Actio des rõmischen Zivil- 1111que a tramitação fechada e a minúcia regulamentadora das actuações processuais
rcchts, VO/'llStandpunkte des heutigen Rechts, de 1856) e de ENDEMANN(Die Beweislehre 1.1" que, aliás, nem as mais recentes reformas da nossa lei processual se souberam
dcs Zivilproresses, de 1860) são precursoras do arranque da moderna ciência processual. lilw,lar) serve o fim de controlo dos tribunais e dos agentes forenses pelo centro do poder
Ilntre nós, o Manual de CORREIA TELES (1842) e os Elementos de processo civil de 1'"llIko.
NII:t.IIRÉ(1850) situam-se igualmente nos prim6rdios deste tempo de arranque, mas a pre- (,,) Numerosas são as monografias dedicadas aos princípios gerais do processo civil
vulência, por longo tempo, da escola exegética de origem francesa foi mantendo OH "11 II alguns deles, entre as quais sobressaem na Alemanha as de WOLFGANG HENCKEL
nossos professores incólumes à influência dos grandes processualistas do último quar- "·"'.:I'.l".Iwdlt und materielles Recht, cit.), WOLFGANG GRUNSKY (Grundlagen des Vel'-
lei do século XIX, como W ACH, DEGENKOLB e BOLOW (Alemanha) ou MORTARA(Itália), /.,h'I'/Isl't'c!tts. cit.), MARTIN WÜRTHWEIN(Umfal!g und Grenzen des Parteieneinflusses auf
('st!: último só no fim do século introduzido em Portugal por AFONSO COSTA. A cadeira ,1/•. Llrtrilsgrundlagen im Zivilprozess, Berlin, Duncker & Humblot, 1977) e WOLFGANG
de direito processual civil só em 1911 foi autonomizada do estudo do processo penal c !lI/111M (Itindung des Richters an den Parteivortrag und Grenzen freier verhandlungs-
em breve conheceria, com Joss ALBERTO DOS REIS e MANUEL RODRIGUES, as primcirns "'''I,ligl/llg, cit.) c em Itália e as de CARNACINI (Tutela giurisdizionale e tecnica dei
uhordagcns feitas com algum rigor sistemático. }"",·,·.\.\"O. SllIdi in onere di Redenti, II, Milano, 1951), CAPPELLETIl-VlGORm (Fundamental
(2) Nos Estados Unidos da América, o Supremo Tribunal Federal tinha hú multo ""d/,II/II'I'S o] 111(' parties in civil liügation, cit.), NICOLà TROCKER (Processo e consti-
utribuiçõc» de verdadeiro tribunal constitucional. 1/. (",/f', Mil.mo. Giuffrê, 1974) c MAURO CAI'PELLElTI (Access to justice, Milano, 1978).
(') llANS KEL~EN. W('.~(!II IIIUI/:'lItlVlckltIllK der Staatsgerictnsbarkeit. Vcrôflentll- .\ ,tlWI!lI'.1:",':\0 ao lema dos direitos processuais fundamentais do VII Congresso Inter-
dlllllgell der Vercinigung dcs lkIlISt'hl"1I SI:a!lI~;n'("hlskhl't:r, \929, u." .'i, ps. lO c IiS. c, em H,t' "",111 ,h' Din-ito Processual Civil, realizado em Würtzburg ein Setembro de 1983
'·I:p,·rilll. SI· H'I. I'eprodll'/.imlu 1I1I11I"{llllllllkIHíi\{I kila t'1I1Vicuu ('111 '!J ,I:~K. I' "111 li all~i'lIdll da rl"pl\'~l'lIla~'fin portuguesa), constituíu uma etapa importante na via
It 11'1'
) J
82 Os Princípios Gerais Introdução 83

Europeu dos Direitos do Homem vem formando na aplicação dos arts. 6 u-mporâneos: O binómio formado pelo princípio dispositivo (art. 264) e
e 14 da Convenção Europeia dos Direitos do Homem (ratificada por t pdo Erincípio in~ (art. 26,5); os I2rincípios da prec1usão e d~
Portugal em 1978) constitui, desde 1953, orientações firmes no sentido 1I!lI,o-responsabilidade; o princípio da cooperação (arts. 266 e 5192; o
da imposição aos Estados Ellr.opellS....d.o...t:e.s~l.2elosdireitos l?roce~s 1I jl ) Tºlmªº,º-,p~lo Qrincípios da imediação, da oralidade e da concentração;
~undamentais. I) principio da livre apreciação da I.2roy.a;o princípjç da economi.a..-pra-
I ['ssual.

1.2. DIREITO FUNDAMENTAL À JURISDIÇÃO E


PRINCÍPIOS DA LEI ORDINÁRIA

Entre os E!incí,pios gerais do processo civil, uns há que têm digni-


dade -cõnStituciona~ por .J§p.citarem a direito.u:.onsiderados fundarnen-
~o direito de acesso aos tribunais (art. 20 da Constituição da Repú-
blica) ffigloba o direito de acçãQ."eo direito de defesa, a exercer perante
~ribunais independentes e imparciais; o princípio da equidade, nomea-
damente nas vertentes da contrariedãde e da igualdade de almas, o prin-
cípio do prazo razoável e o da tutela jurisdicional efectiva (art, 20 da
Constituição da República, n.05 4 e 5) vêm completá-lo; as audiências
devem respeitar o princípio da publicidade (art. 206 da Constituição da
República); a decisão judicial deve, no seu conteúdo, respeitar o prin-
cípio da legalidade (art. 203 da Constituição da República) e, na sua
forma, o princípio da fundamentação (art. 205-1 da Constitução da
República). O conjunto destas garantias constitucionais constitui o cha-
mado direito à jurisdição.
Mas não só da Constituição se retiram os princípios gerais do pro-
cesso civil. Outros há que, resultando embora duma opção (constitu-
cionalmente livre) da lei ordinária, não deixam de constituir traves
mestras do sistema jurídico-processual dos Estados democráticos con-

do reconhecimento mundial da problemática (o relatório geral, de Ki\RL-HEINZ SCII\V/\l1


c I'lrn:R GOTIWi\LD está publicado: SCHWAB-G01TWi\LD, verfassung IIl1d Zivilprozcss,
Biclef'cld, Gicseking, 1984), Um projecto de dircctiva elaborado, por iniciutivu du
Comissão Europeia, por um grupo de processualistas representativos dos vârios IlHIi!d,,~
membros da UE (Projecto de Dircctiva para a Aproximação do Direito Processuul di!
IJnifío I':uropl'ia: MAI!( '1'.1. STORMI\, Na!'IJmc!u:lllelll du droit judiciain: dl' I' /1//111111'lIIrJ
1"~I'"II', J)1Ii'di'l'l'Ill. KIIIWI'I', 11)1)4) visou unillcnr ulgllfls pl'illdpillS \'ol\~ldl'l'ail(ls fiuuln
11I\' III:ti,':: 11IiI', 0[1\1 JI:I.~SIHI dI' III "j""lo,

---.........
)

2.

o ACESSO AOS TRIBUNAIS

2.1. O ART. 20 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA

De acordo com o art. 20-1 da Constitui~ão ~);!ública, «~


~~assegurado o acesso ao direito e aos tribunais para defesa dos seus direi-
l' I(l~e intere~.le.ga-lrn@,te protegidos, não podendo a justiça ser dene-
!',ada por insuficiência de meios económicos».
~Acentuando embora a imposição de superar as dificuldades que as
partes possam encontrar no acesso aos tribunais, tal como ao direito, por
via de insuficiências económicas (de novo o fazendo o n.o 2 do artigo,
110 concretizar o direito ao apoio judiciário), o alcance do preceito é
muito mais vasto, não podendo ser desligado, a não ser para fins de

-
unúlise, da imposição dum processo equitativo, célere e direccionado
para lima tutela efectiva (como, desde a revisão constitucional de 1997,
::1' lê nos n.OS 4 e 5 do artigo). Isso mesmo se vê na fórmula usada no
IIrL 10 da Declaração Universal dos Direitos do Homem, que, até à
u-visão constitucional de 1997, foi chamado a integrar, em obediência ao
disposto no art. 16-2 da Constituição da Repúblic~, o enunciado acima
.uimu reproduzido: «Todas as pessoas têm direito, em plena igualdade,
11 que a sua causa seja examinada, equitativa e publicamente, por um tri-

hunal independente e imparcial, que decidirá sobre os seus direitos e obri-


}'.h,;iies» ('),

(I) () 1ll\:SlllO cstah 'Ieee o art. '14- J, § 1.0, do Pacto Intemacional sobre os Direi-
1<1'. I 'rvis (' Polílicos, r'o]' sua vez, o art. 6-) da Convenção Europeia dos Direitos do
11111111'1111H'1t'~:I'I'lIla a l:~tl'enunciado a exigência de que a causa seja examinada em
l' d." /'11, ",/I',,' I' I'xil'.'· qll\' (i tribunal independente e imparcial seja criado por lei.
:1
) )
86 Os Princípios Gerais O Acesso aos Tribunais 87
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sibilidade de mover acções de apreciação negativa da existência de direi- í
Consideramos, porém, neste capítulo o direito de acesso aos tribu-
nais num sentido formal que fundamentalmente se reporta à constituição los e de apreciação da existência ou inexistência de factos (supra, 3.1),
do processo. foi há muito afastada com a constatação de que a pretensão infundada
não impede o direito do autor à decisão de mérito, ainda que desfa-
vorável.
2.2. DIREITO DE ACÇÃO O direito de acção é, por isso, hoje pacificamente entendido como
um direito público (4) totalmente independente da existência da situação
2.2.1. Sua natureza jurídica para a qual se pede a tutela judiciária, afirmando-se como exis- I
1
tente (5): ainda que ela na realidade não exista, a afirmação basta à ,I
Em primeiro lugar, como aspecto que imediatamente salienta a sua existência do processo, com o consequente direito à emissão da sen-
leitura, está consagrado no art. 20 da Constituição o direito de acção. tença.. Aliás, nem sequer a falta dessa afirmação (supra, 1.4.6) nem a do
Sendo~ garantido o ~sso aos tn una!.S."qualqúér cidadão p2.d~ conflito de interesses que está na base de todo o processo civil (supra,
utilizar o meio que, no campo do processo ç,ivil, para tanto é disponi- 1.4.4) dispensam a sentença judicial (supra, respectivamente: L2 (15)
bilizado: o de, em 'tribunal, propor acções para fazer valer os seus direi- (~1.3 (56); 1.3 (17) e 1.3.6). Não a dispensam tão-pouco a falta de per-
tÕs, ou interesses não organizados em direito subjectivo mas tutelados pelo sonalidade judiciária, da qual o direito de acção, como direito abstracto,
direito material. - directamente dimana, nem a falta de legitimidade do autor, não obs-
- O direito de acção foi outrora considerado uma emanação do direito umte o art. 20-1 da Constituição da República parecer exigi-las (6).
subjectivo privado, como tal deste não se distinguindo (2). Afastad~
esta concepção, em si negadora da utilidade do conceitos o direito de
ãcção assou a ser construído como um direito diri ido contra o Estadõ (4) Como tal, é irrcnunciável. Daí res~ a nulidade do pactum de nOIl petendo
e como tal gozan o de autonomia ~ face do direito material:.... Mas, (ullorarnento no art, 2310 CC), convenção pela qual o titular do direito se obriga a não
II/'.ir em juízo, seja pura e simplesmente, seja a termo ou condicionalmente (CASTRO
segundo uma impmtante corrente doutrinária, o direito de acção, pres-
M"NDES, DPC, eit., I, ps. 114-115).
supondo a existência do direito litigioso (cf a redacção do art. 2), só exis- (5) A afirmação da existência duma situação jurídica implica que, abstractamente
tiria quando tem existência na realidade o direito que, através da pre- 1'l)lIsiderada, esta seja tutelável pelo direito (cf. CASTRO MENDES, O direito de acção, cit.,
tensão, se afirma existir; o direito de acção era, pois, o direito a uma p. 234), isto é, que seja susceptível de configurar o direito ou o interesse legalmente pI'O-
sentença favorável (3). Também esta concepção, já abalada pela pos- h'/',ido a que o art. 20 da Constituição alude.
(6) Os pressupostos processuais não são condições do direito de acção (cf. CAS-
1111 I MENDES, O direito de acção, cit., ps. 233-236): por um lado, também a absolvição
da instância constitui uma sentença e, como tal, uma actividade jurisdicional provo-
(2) Para WINDSCHEID,a actio, não dirigi da contra o tribunal mas contra o réu, mais I'nda pelo exercício do direito de acção; por outro, a falta de pressupostos processuais
i!HII era do que uma pretensão de direito material deduzida emjuízo (cf. CASTRO MEN- I Illljl', tcndcncialmente sanável e nem sempre impede a decisão de mérito (supra, 1.3.5).
III'S. O direito de acção judicial, separata da Revista da Faculdade de Direito de Lisboa, .'\ ronfiguração dos pressupostos processuais como condições da regular constituição da
11)59, ps. 150-152, e TEIXEIRA DE SOUSA, O concurso, cit., ps. 19-33). Nesta concep- 11\::ltlllcia, entendida esta como relação jurídica (bilateral, até à citação do réu; triangu-
,';ío dir-sc-ia entroncar o art. 74-3 do Projecto, cit., da Comissão VareI a de CPC (<<aques- li11, a partir dela) cstabelccida entre as partes e o tribunal (relação jurídica processual:
l:ill da existência ou inexistência da pretensão formulada pertence ao mérito da causa»). inir«, ú.Z), é preferível à sua configuração, hoje correntemente posta de lado, como
C) É a teoria do Rechtschutzanspruclt de ADOLF WACII, seguida, entre outros, , IIlldklics do direito de acção, sem prejuízo de o exercício deste direito só poder levar
por KONRAD I-IELLWIG (Syslem, cit., ps. 291-296) e GIUSEPPE ClllOVENDA (f viutrioni di 1I III'<'Ísil0 de mérito - c, portanto, a uma decisão que possa satisfazer o interesse do
diritto proccssuale civile, Napoli, 1933-1936, I, ps. 19-2\ c 313-315). No plano dos luc- !lljlill . quurulo a instância se apresente regularmente constituída, salvos os casos em
II,~;. tl fuud.uucnto da pretensão assenta na existência do Jucto constitutivo do direito c '1"1' 11111'('/',111;11
idadl' ('(lInelida "fio irnpcl,:a essa decisão. Uma daquelas condições cons-
1Ii1incxisrência OC factos impcditivox, modificativos 0\1 cxtintivo» do d'l~i(o dll I'IIIIWil'll. lit", 1'1'1('111,"da ~,II;I11011111'<'/01,slIhsll'al'lll necessário do direito li jurisdição: a persona-
) )
88 Os Princípios Gerais O Acesso aos Tribunais 89
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Apresentada a petição inicial, a actividade jurisdicional só é evitada Constituição da República, com o art. 1 da Lei n.? 83/95, de 31 de Agosto
quando ela não apresente os requisitos formais mínimos cuja existência (Lei da Acção Popular: LAP), e com o art. 26-A, é conferido, no âmbito
à secretaria compete verificar (art. 474). dos interesses colectivos e difusos, a qualquer cidadão no gozo dos
seus direitos civis e políticos, bem como às associações e fundações
2.2.2. A acção popular que tenham como objecto estatutário a defesa dos interesses em causa,
nomeadamente para defesa da saúde pública, do ambiente, da qualidade
Tal como aparece consagrado no art. 20-1 da Constituição da Repú- de vida, do património cultural, do domínio público e da qualidade do
blica, o direito de acção tem como finalidade a tutela dum direito ou inte- consumo de bens e serviços (9).
~l2Láprio de q.l o e erce. Consagração paralela é feita, no Fala-se de interesses colectivos e difusos para qualificar interesses
art, 268-4 do texto constitucional, em sede de jurisdição administrativa: individuais generalizados, como tais próximos dos interesses públicos, mas
a acção a propor nos tribunais administrativos é garantida aos adminis- de natureza ainda fundamentalmente privatística. Em causa está sempre
trados (e interessados) para tutela dos «seus direitos ou interesses legal- a fruição de bens de uso pessoal, não susceptíveis de apropriação exclu-
mente protegidos». siva. O interesse colectivo reporta-se a uma comunidade genericamente
Este apelo à titularidade, ainda que meramente afirmada (1), do organizada, cujos membros são como tais identificáveis, mas sem que essa
direito ou interesse que se quer fazer valer em juízo é dispensado no exer- organização se processe em termos de pessoa colectiva (10), O interesse
cício do direito de acção popular (8), que, de acordo com o art. 52-3 da difuso reporta-se a um grupo inorgânico de pessoas, cuja composição é,
em cada momento, ocasional e por isso não permite a identificação pré-
via dos respectivos titulares (11), Em ambos os casos, a natureza geral
lidade judiciária. Esta é mais ampla do que a personalidade jurídica (arts. 6 e 7) e só
às pessoas jurídicas é constitucionalmente garantido o direito à jurisdição (<<atodoswi,
quando pretendam fazer valer ou defender direitos ou interesses tutelados próprios pcitantes a bens ou direitos da autarquia (art, 369 CA). O direito de acção popular
«<seus») ou, como seguidamente é dito, interesses colectivos ou di fusos. conferido no domínio dos interesses colectivos e difusos engloba o recurso contencioso
(1) Constitui discussão clássica do direito processual civil a de saber se o pressu- dos actos da administração central e local lesivos desses interesses e a acção popular civil
posto da legitimidade das partes deve ser aferido em termos objectivos, isto é, abstraindo (111'1. 12 LAP). Em alguns aspectos, a sua problemática é a mesma da da acção popu-
apenas da efectiva existência do direito ou interesse material, ou em termos subjectivos, 11\1' do art. 822 do C6digo Administrativo (não da do art. 369 CA, que apela antes ao con-
isto é, com abstracção também da sua efectiva titularidade. Para os autores integrados \'I'ito de substituição processual).
na primeira corrente (entre nós, ALBERTODOS REIS, MANUELDE ANDRADE,ANSELMODE (9) A Constituição da República refere apenas a saúde pública, o ambiente, a
CASTRO,ANTUNESVARELA),a legitimidade processual apura-se mediante a determinação qualidade de vida e o patrim6nio cultural e concede o direito de acção «a todos, pes-
da pessoa que, no pressuposto da existência do direito ou do interesse a verificar no r.oallllcnle ou através de associações de defesa dos interesses em causa». A Lei da
processo, o pode fazer valer, considerados para tanto os factos alegados por autor e réu A('ç~() Popular estende a legitimidade às fundações e refere também o domínio público
(mais os que sejam oficiosamente cognoscíveis) e produzidas as provas necessárias, " " consumo de bens e serviços, o que o art. 26-A reproduz. Já antes, no regime das
Para os que se integram na segunda corrente (entre nós, BARBOSADE MAGALHÃES, PALMA d insulas contratuais gerais, era atribuída legitimidade para a acção inibitória do respectivo
('i\((LOS, CASTROMENDES),ao apuramento da legitimidade interessa apenas a considera- 11I.0 "11 recomendação ;15 associações de defesa do consumidor, bem como às associações
~~:11ldo pedido e da causa de pedir, independentemente da prova dos factos que inte- 1IIIIdieai~, profissionais ou de interesses económicos actuando no âmbito das suas atri-
gram a última. Na revisão de 1995-1996 pretendeu-se optar pela segunda posiçã« Inlk(k~ (Dcc.-Lci n." 446/85, de 25 de Outubro, art. 25-1), Têm legitimidade as asso-
(art. 26-3), nas não sem contradições (CPC anotado, I, n." 3, da anotação ao art. 26), I ill~n('s c fundações que tenham como objecto estatutário a defesa dos interesses em causa
(R) O direito de acção popular é uma figura há muito existente no direito proccssuut
'"'' \ 1.1\1').
udruinistruüvo, pela qual qualquer cidadão eleitor ou contribuinte pode recorrer COIl- . (1\1) Por exemplo, os habitantes duma povoação ou os operários dum complexo
Il'I!I'iosallll:nle das deliberações dos órgãos das autarquias locais em que cSlq;n I'CCCll.~t~lIdo 1,,""1
1"11'''1' onde seja colectado (01.'(, 822 do Código Admlnistratlvo: C1\), hctu cmno suh». (11) 'lodos. )lor exemplo, os que utilizarem um transporte colectivo, passarem
tituir -',\·/· illI {H'I~;í() auUil'quic.;() cmupetcntc 11a pro('losllul'll couuu kltTiro ele :11'\'1 .•••s Ir:, I"" .1.'11"1,,<illadll 10(':11 pnlutdo ou cornprurcrn determinado produto.

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90 Os Princípios Gerais o Acesso aos Tribunais 91

do interesse leva a atribuir o direito de acção a pessoas em que pode não se traduziria na produção de efeitos na esfera jurídica de pessoas que
radicar (pessoas singulares) ou não radica nunca (associações e funda- podem ter ignorado a propositura da acção. Por isso se tem entendido
ções) a titularidade individual do interesse em causa (\l-A). que a tutela dos interesses colectivos e difusos radica numa concepção
11
Para o explicar, alguma doutrina tem recorrido ao conceito de repre- objectiva do direito e que o cidadão ou a associação que proponha uma
scntação ou ao de substituição processual: todos os titulares do interesse, acção com esse fim faz valer uma legitimidade originária especifica, inde- r
idcntificáveis ou não, seriam representados ou substituídos pela pessoa pendente da radicação dum direito subjectivo ou dum interesse mate- I
que propõe a acção. Estas concepções têm sido, porém, afastadas com
a verificação de que constitui grosseira ficção o apelo a uma represen-
rial (14). Consequentemente, a decisão que for proferida nessa acção,
constituindo, nos termos gerais, caso julgado entre as partes, estende a j
tação que é necessariamente ignorada por grande parte, se não pela sua eficácia aos titulares do interesse em causa na medida em que lhes
maioria, dos interessados, ou a uma substituição em que o autor da seja favorável, mas não na medida em que lhes seja desfavorável (15).
acção pode não ser titular de qualquer interesse que dependa dos inte- Esta é a doutrina que melhor se coaduna com a garantia do art. 52-3
rcsses principais em causa (12). Tem, por outro lado, sido apontado da Constituição da República. Mas a Lei da Acção Popular veio con-
que tanto a representação como a substituição resultariam na formação ferir ao proponente da acção a qualidade de representante de todos os titu-
de caso julgado material invocável contra os representados ou substituí- lares (ou demais titulares) dos direitos ou interesses em causa, chama-
dos (13), solução esta que, impedindo os titulares do interesse de ulte- dos a intervir por citação edital ou anúncio num meio de comunicação
riormente mover uma acção em que o possam fazer valer (art. 494-1-i), social (16), menos daqueles que com ele se associem em litisconsórcio
sucessivo (cf. arts. 27 e 320) e dos que declarem expressamente a von-
tade de se excluírem da representação; e, em consequência, atribuiu,
(li.") A lei de defesa do consumidor (Lei n." 24/96. de 31 de Julho) c o Código (:111 regra (17), à sentença de mérito proferida na acção eficácia de caso
dos Valores Mobiliários (Dec.-Lei n." 486/99, de 13 de Novembro) referem outra cate-
goria de interesses: nos arts. 3, 13 e 20 da primeira fala-se de interesses colectivos,
dilusos e individuais homogéneos e nos arts. 31-1 e 34-2 do segundo de interesses
colectivos e individuais homogéneos. Trata-se de direitos subjectivos ou outras situa- (14) Cf, LEBREDE FREITAS,Os meios processuais à disposição dos pleiteantes
\'(')esjurídicas subjectivas que têm a particularidade de radicar idêntica, mas divisível- 1'111 sede de condições gerais dos contratos, BMJ, 426, p. lO, ou A acção popular do
mente, numa multiplicidade de pessoas (assim, o direito à reparação dos danos cau- direito português, Subjudice, 2003, r. ps. 17-19.
sados pelo fornecedor de coisa defeituosa distribuída no mercado: cf. art. 12 da Lei (15) É a solução que, em sede de acção inibitória do uso ou recomendação de cláu-
11,"24/96). Eles são a projecção do interesse difuso ou colectivo em esferas jurídicas ::IIIi1scontratuais gerais, decorre do art. 32-2 do Doe-Lei n." 446/85, na redacção que lhe
individualizadas e por isso não correspondern a uma terceira categoria de interesses foi dada pelo Dec.-Lei n." 220/95, de 31 de Agosto. Trata-se da figura do caso julgado
~>llpt'a ..individuais (TElXEIRADE SOUSA,A legitimidade popular /la tutela dos interesses srcundunt eventum litis, paralelo ao que, fora do campo dos interesses colectivos e
1(i1;t,\(),~, Lisboa, Lex, 2005. ps. 53-55), O seu exercício coloca-nos já fora da acção popu- dlfusos, vigora em sede de obrigações solidárias (arts. 522 CC e 531 eC), de obriga-
1111',Talvez não assim em direito brasileiro (Lurz PAULDDASILVAARAÚJOFILHO,Acções l;t)\'S indivisívcís (art. 538-2 CC), de certas obrigações dependentes (art, 635 CC para a
1'1I11'I'IillllS,' a tutela jurlsdicial dos direitos individuais homogéneos, Rio de Janeiro, Iuuiçn, arts, 667-2 CC e 717-2 CC para os direitos reais de garantia), de impugnação
1':diIOl'HForense, 2000, ps. 117-125). d,' deliberações sociais (311. 61-1 CSC) e de impugnação do acto administrativo (DIOGO
(I.~) Estu relação de dependência é característica da substituição processual (supra, FIO':I'J'AS DO AMARAL. Direito administrativo, Faculdade de Direito de Lisboa, 1988, IV,
1.:-; (;i..i\»). l','i. 227-228).
(1:1) (\ característica da substituição a formação de caso julgado perante o subs- (1(,) Este neto de citação pode, obviamente, não chegar ao conhecimento dos inte-
1lllIf(lu. lal como é da natureza da representação a SU:l formação perante o rcprescn- 1I·:.:.l1d ••x _.- c milito dificilmente chegará ao conhecimento de todos. Constitui, porém,
lado. Nu primeiro caso, o caso julgado assim formado estende-se ao substituto pro 'essull\' IIliui presunção inilidlvel desse conhecimento por todos eles, que mal se harmoniza eom
!'lIqll:lIlto titulnr rlo interesse dependente que o levou i\ uctuur juilicialmeuto COOUIparte 11IIl1tll;I~';ioda rituluridadc do interesse difuso, se não também do colectivo.
1',,111<'11':11; 1111
S("I'.IIIIt!II.
os d\'iIOS d;\ srnt\~II~'llll'lq cxuuvusutu n I'sf't'ra.illlfdi ';1 do 1'1'1'1(' (1") A regra deixa de funcionar nos casos de improcedência por insuficiência de
r,('I1I:III••, 'I'IL' (' 11I':IIIL'prilWII':1I1111
L'III1:;:I
(.~I/I"'", \.".'.') II/,"'(/.\' I' qUlll1dn li julundor deva decidir por forma diversa, fundado em motivações
) )
92 Os Principios Gerais O Acesso aos Tribunais 93

juLgado material perante os «representados» pelo autor (arts. 14, 15 transmitidos os elementos essenciais para que a defesa possa ter lugar:
e 19 LAP). Está em aberto a questão de saber se tal não implica vio- a remessa ou entrega de duplicado da petição inicial e de cópia dos
lação dos arts. 20 e 52-3 da Constituição. documentos que a tiverem acompanhado; a identificação do tribunal e
secção onde con-e o processo, se já tiver havido distribuição; a expressa
indicação de que fica citado para a acção; o prazo dentro do qual poderá
2.3. DIREITO DE DEFESA apresentar a defesa e as cominações em que incorre se não a apresen-
lar; a obrigatoriedade do patrocínio judiciário, se ocorrer (art. 235).
2.3.1. Suas derivações !\ falta de qualquer destes elementos acarreta a nulidade do acto, argui-
vel, em regra, no prazo que tiver sido indicado para a contestação
o direitode acesso aos tribunais não radica apenas no autor, mas (art. 198); mas, se o réu não intervier no processo e contra ele for pro-
também no réu. Este pode deduzir pedidos contra o autor (art. 274) e, ferida sentença, poderá ainda arguir a nulidade em recurso de revi-
se o fizer, tem lugar a figura da reconvenção, perante a qual, em inver- são (art. 771-e) ou em oposição à execução que venha a ser instaurada
são de posições processuais, o réu (reconvinte) é autor e o autor do (urt. 814-d) (18),
pedido primitivo (reconvindo) é réu. Mas, no âmbito da defesa (por O conhecimento efectivo do processo impõe também que o cha-
irnpugnação e por excepção) em face do direito de acção contra ele mamento, acto receptício, se faça perante o réu. A complexidade das rela-
exercido, o réu aparece, no outro polo da relação jurídica processual, 'Jies sociais contemporâneas obrigou, porém, à substituição gradual do
como titular do direito de defesa, igualmente integrador do direito à meio tradicional da citação, por contacto pessoal entre o funcionário de
jurisdição. justiça e o réu, pelo meio, mais expedito, da citação por carta regis-
Implicando o chamamento do réu ajuízo (art. 3-1), o direito de urda com aviso de recepção (19), Esta é considerada uma forma de
defesa postula o conhecimento efectivo do processo instaurado, a con-
cessão dum prazo suficientemente amplo para a oposição e o tempero da
rigidez das preclusões e cominações decorrentes da falta de contestação,
(18) Este regime é contraditório: o réu é, em regra, impedido de arguir a nulidade
111)processo pendente, após o decurso do prazo indicado para a contestação; mas, se nele
2.3.2. O conhecimento do processo Illio intervier, poderá vir a pôr em causa a eficácia da sentença, depois do trânsito em
IIII/\<ldo. Mais conforme com o princípio da economia processual seria admitir, como
o conhecimento efectivo do processo exige que no acto de citação, lUIS casos de falta de citação (art. 196), a arguição da nulidade a todo o tempo, com o
1II\1ilc óbvio da intervenção do réu no processo, pois não há réu avisado que nele inter-
pelo qual o réu é chamado para se defender (art. 228-1), lhe sejam vi-uhn quando já não puder contestar.
(19) Até 1985, a citação por contacto pessoal constituía a regra, só excepcionada
'1IIIIIIdo o réu residisse em país estrangeiro, caso em que, salvo convenção ou tratado con-
prúprias do caso concreto. Mas são por ela abrangidos os casos em que haja um vício tuulo, a citação se fazia por via postal (actual art. 247-2). Após a revisão do código ope-
de inconcludência, isto é, a alegação duma causa de pedir identificada mas insuficiente Illdll em 1985 (Dec.-Lei n." 242/85, de 9 de Julho), também as pessoas colectivas
paw a procedência da acção (supra, 1.4 (39)). A interpretação extensiva do preceito excep- Illlrlllil1Jo as sociedades) passaram a ser citadas por via postal, mantendo-se a via do con-
cionantc levará a incluir no âmbito da excepção os casos de falta absoluta de prova, igual- 1111'111 pessoal para as pessoas singulares. A revisão de 1995-1996 generalizou, como regra,
11I(;111\:
conducentes a um IIOIl liquet, e aqueles em que haja sido feita a prova de factos 11,'ila,·;(u postul (urt, 236), circunscrevendo o uso da citação por contacto pessoal aos casos
que, sendo favoráveis ao réu, sejam contrários aos alegados pelo autor, desde que novos , 111qru: a clu se tem de r correr por aquela se ter frustrado (art. 239). Desde o Dec-Lei
IlI\'ÍOS de prova sejam propostos pelo (tutor da nova acção. Para desenvolvimento da 11' \~/.WOJ, de li de Março, ilas acções para cumprimento de obrigações pecuniárias emer-
nfliC<1 ~ l.ci 1'1,"83/95: [,1:1110;PI': FIU':lTAS, 1\ arçii« [>II{'I/Iol' ao serviço do umbicnt«, CIlI /" 1111",,h, ronunro rl'lhlzill\l li 'scrito em til!' as partes tenham convcncionado domicí-
1\/1 \lNU li/) ()/vINI':S 7S .//11'.\ tI,/ ('"il/lll/'l/ /';dilo/'ll, Coimhra, ('lli"I!)I:I I':dilora, 1111 li:" 11,·rl·illl 01,· •. il:lI;:II', :1 ('11:1<::111
pllSl:rI I'IIlIsidn:l Sl' feila qll:lll(io () citando recuse a
II)IIX, p~. '11)'1 a !lO(), J't'Pllltlll'IIIIIl r ru 1'·IIlId".\', I'~ ,I,I'i ,I:l.(), 11',',i1HllllnldI! I1vi:,\l di' n'('I'p~'nll 111111lI'i'I'loiul\'llll1 da 1';111:1(:111.~~:171\.1) 011, ('111segunda
I:
)
94 Os Principios Gerais O Acesso aos Tribunais 95

citação pessoal, presumindo-se, quando o aviso de recepção é assinado ção por depósito da carta ou de aviso, no caso de domicílio convencio-
por terceiro, a entrega da carta ao réu (art. 238-1) e, nos casos de domi- nado), a certeza do conhecimento é substituída pela presunção do conhe-
cílio convencionado (art, 237-A), o conhecimento dos elementos da cimento e, então, a garantia do direito à jurisdição exige que, para com-
citação pelo réu, quando segunda carta não é recebida (art. 238-2). pensar a perda das garantias formais do acto, se admita, depois dele
Fora os casos de domicílio convencionado (supra, nota 19), a praticado, que o réu seja reposto no estado anterior e admitido a defen-
devolução da carta enviada para citação determina a procura do réu der-se quando se apresenta, fora do prazo para contestar, a ilidir a pre-
por solicitador de execução ou funcionário de justiça (art. 239), que, se sunção. Esta ilisão é expressamente admitida, com o tratamento próprio
não o encontrar, deverá deixar indicação de dia e hora para a diligên- da falta do acto (21), nos casos de citação equiparada à citação pes-
cia, em pessoa que a possa transmitir ao réu ou, subsidiariamente, em soal (22), desde que o desconhecimento do acto não seja imputável ao
aviso que afixa (art. 240-1), e, na data indicada, citará o réu pessoal- réu (art, 195-e); mas não no de citação edital, que é precisamente aquele
mente, ou, não o encontrando, citá-lo-á em pessoa que lhe possa trans- em que é mais plausível o desconhecimento do processo (23). Consi-
mitir a citação ou mediante a afixação de nota de citação (art. 240, derações de eficácia do direito de acção, ligadas à ideia de que, na
n,os 2 e 3), sendo ainda enviada uma carta registada ao réu (art. 241).
Também esta forma de citação em pessoa diversa do réu é conside-
rada pessoal (art. 240-5). (21) Conhecimento oficioso e arguibilidade a todo o tempo até que o réu intervenha
Quando o réu estiver ausente em parte incerta, bem como quando IIll processo (arts. 196,202 e 204-2); constituição em fundamento de recurso de revisão
!lU de oposição à execução (arrs. 771-e e 814-e). I
for incerto, procede-se, no primeiro caso após indagação do seu paradeiro, (22) Citação postal e com hora certa em pessoa diversa do réu, como vimos, ~ ,

à citação edital (arts. 244 e 251), que é feita mediante a afixação de edi- (23) Constitui falta de citação o emprego do meio da citação edital fora do con-
tais e a publicação de anúncios (art. 248) (20). dicionalismo em que os arts. 244 e 251 o admitem (art. 195-c); e constitui nulidade da
Ora a certeza de que o réu toma conhecimento efectivo do pro- rltnção a omissão dos elementos de conteúdo ou das formalidades ex.igidas pelos
luis, 248, 249 e 251. Mas, havendo lugar à citação edital e tendo esta sido regularmente
cesso só pode ter lugar quando a citação é feita por contacto directo entre
!t'ila, não se prevê meio algum específico de fazer valer a falta de chegada das publi-
de c o solicitador de execução ou o funcionário de justiça (ou ainda o rnçõcs e anúncios ao conhecimento ao réu, A situação aparecia prevista e tutelada no
mandatário judicial, ou alguma das pessoas indicadas no art. 245) ou projecto de Directiva para a Aproximação do Direito Processual da União Europeia, o
quando °
aviso de recepção é assinado pelo próprio réu. Nos outros quul. no art. 8-10, propunha a consagração do direito do réu revel não citado pessoal-
casos (utilização de intermediários na citação postal ou na citação com uuntc a um meio processual (apelação, oposição ou outro) que lhe permitisse intervir
l!ll processo, em prazo contado da notificação da decisão final ou do momento em que
hora certa; citação por afixação da nota de citação; citação edital; cita- ,!.-Ia viesse a ter conhecimento, Já em 13-6-52 o Tribunal Constitucional da República
fôl'llt.:ral Alemã declarara incidentalmente que a citação edital, mesmo efectuada nos ter-
I<lOSda lei ordinária, pode importar a violação do direito de defesa se o formalismo abs-
fi i!I'I;lInente imposto pela lei tiver sido, no caso concreto, inidóneo para tutelar o direito
1l'lllaliva, mediante depósito da carta que não seja recebida por terceiro ou, não sendo dll interessado (TROCKER, Processo, cit., p. 476 (13). A mesma ideia leva o art. 34-2
\'Ie possível, dum aviso ao destinatário (art. 237-A-5). Ainda maior dispensa de for- dll Regulamento (CE) n." 441200l, do Conselho (relativo à competência judiciária, ao
1I1i1lidadcs ocorre no processo de injunção: nos casos de domicílio convencionado, é 1,'\,oIlIH;cimento e à execução de decisões em matéria civil e comercial), a determinar que
IH.mla lima carta simples (art. I2-A cio regime aprovado pelo Dec-Lei n." 269/98, de I "111\11s~,rá reconhecida» a decisão proferida em tribunal dum estado da EU «se o acto
1/11<'iniciou a instância, Oll ucto equivalente, não tiver sido comunicado ou notifieado ao
:r
di' SI'II',lllhru, na redacção dada pelo Deu-Lei n." 32/2003. de 17 de Fevereiro), A revi ..
,.hl de 1l)<),'i-19% introduziu também a possibilidade de citação promovida pelo mau- "''1"1'1 ido n-vcl, rtu 11'1I/111I útit ,~ dI' modo a permitir-lhe a defesa, a menos que o reque-
dlllrí!'ill judicial (urt. 24:1), lido I1!\O I mhu inicrpoxrc recurso coniru a decisão embora tendo a possibilidade de o
(1-11) 1\ olT1issilo de all',III1111das Innnulidudcs

,'II!1',IIIIII\'!,.l1I mi ',' I'), III111dlldl' d:1 1'1111",:10,'.11.1"1111


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IlHldl\iidi\dl~ cI(' cilw,'í\\l l'nll~lillll, tul COIlIO <Ifalia d,' "IHIIIIlIÍI'a~-:lll 1111)'1(" dlls l'Il'IIII'IIII)~'
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de alguns sistemas jurídicos
',I' droits de la défense lors de ['il'l-
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96 Os Princípios Gerais O Acesso aos Tribunais 97

generalidade dos casos, o réu ausente em parte incerta não merece espe- de indicação do local para o qual se ausentou, e se ele requerer a apre-
cial tutela judiciária, explicam a disparidade (24). sentação da contestação fora do prazo logo que tiver conhecimento do
Ao réu revel citado editalmente resta tão-só, no esquema da lei processo, estando este ainda pendente (27), o tribunal deverá admitir a
ordinária, a invocação do justo impedimento (25). De acordo com a defesa tardia, com a consequente anulação dos actos praticados na
redacção do art. 146-1, «considera-se justo impedimento o evento não sequência da falta da contestação (art. 201).
imputável à parte nem aos seus representantes ou mandatários, que
obste à prática atempada do acto» (de qualquer acta a praticar pela 2.3.3. Dispensa da audição prévia
parte no processo dentro dum prazo peremptório, cujo termo sem essa
prática tem o efeito de precludir a possibilidade de a parte o fazer ulte- Excepcionalmente, é permitido tomar providências contra uma pes-
riorrnente: art. 145-3); uma vez verificado o justo impedimento, é per- soa sem que ela seja previamente ouvida (art. 3-2).
mitida a prática do acta fora do prazo, desde que a parte o tenha reque- Tal acontece, designadamente, no domínio dos procedimentos cau-
rido logo que haja cessado (art. 146-2). Na redacção anterior do le/ares, quando a realização do direito pode perigar se a pessoa contra
preceito, constituia ainda requisito do justo impedimento a normal quem é realizado tiver conhecimento do requerimento da providência
unprevisíbilidade do evento, o que levava a que fossem extremamente antes de esta ser efectuada (28).
raros os casos em que os tribunais o julgavam verificado (26). Facili- A providência (de natureza declarativa ou executiva) solicitada ao
tada, como está, a invocação do justo impedimento, se o réu revel Iribunal mediante a propositura da acção não pode ter imediatamente
citado editalmente não se tiver ausentado para parte incerta com a lugar. Pode mesmo acontecer que, por razões inerentes a uma boa com-
intenção de se furtar à citação, nem lhe for imputável negligência na falta posição do litígio, pelo uso sistemático de expedientes dilatórios ou por
inadequação da máquina judiciária à observância do prazo razoável para
11 decisão ou para as providências executivas tinfra, 4), muito tempo
decorra entre a propositura da acção e o termo do processo. Esta demora
(2") É certo que a ineficácia da justiça portuguesa tem mais a ver, em termos esta-
lia satisfação do direito ou interesse protegido pode prejudicar o autor
tísticos. com a falta de tutela suficiente do direito do autor do que com a falta de garan-
lins do réu. Mas a busca do equilíbrio entre a realização rápida do direito e a garantia duma (periculum in mora) e, por isso, a lei faculta-lhe a solicitação de pro-
decisão justa não pode levar, por razões derivadas da normalidade dos casos, ao sacriffcio vidências, de natureza provisória, que, antecipando a decisão (29) ou a
do réu que, sem culpa, não tenha tido conhecimento da propositura da acção. Pela mesma
nl/.fio, era indefensável, à luz dos princípios, o regime de citação pessoal simples consagrado
IIIl Doe-Lei n." 183/2000, de 10 de Agosto, que vigorou até ao Dec.-Lei n." 38/2003, de
H dt' Março (Estudos / As novas alterações ao Código de Processo Civil, 6.2, ps. 143-15l). (27) Transitada a decisão final do processo, o justo impedimento deixa de ser
S(1It,~,fí() li generalizar é a de fazer a citação edital pela publicação de anúncio na internet invocável e, não se consagrando que a situação constitua fundamento de recurso de
uut. 5-1 do Dec.-Lei n." 108/2006, de 8 de Junho, em regime experimental). revisão ou de oposição à execução (como preconizavam as Linhas orientadoras da
(2~) O réu revel a quem, após a revisão de 1995-1996, a decisão é notificada, por 1,(lI'(I legislação processual civil, I.2.2.b), o direito de defesa fica, nos termos da lei
~:!'Ironhccido o seu domicílio (art. 255-4), pode, nos termos gerais, interpor recurso ordi- ordinária, definitivamente precludido,
,,([rio da sentença, mas só nos termos do art, 7 J 2 pode questionar li decisão sobre a maté.. (28) Também a penhora tem lugar, na acção executiva em que não hã despacho
riu d..: tucto. 1IIIIinar(art. 812-B-1) e naquelas em que se justifique o receio da perda da garantia patri-
t~!(,) O atraso dos correios (acs. S1'.I, de lJ-l-66, 25-7-75, 2-4-76, 8-6-1ú runniul (art, 812-B-2), antes de ao executado. ser dado conhecimento do processo. Con-
t' IJ.II-X I, 1JM.!, rcspccu vnmcntc 153, p. 184, 249, p, 466, 256, p, 77, 258, p. 200, C ;I í I, 7;('1(11 »ucmcntc, o direito de defesa só é assegurado após a subsequente citação do exe-
fi, ,no), a infimila~iío errada prcstadu por um Iunciouário da sccrctunnjudicial (uc, TIU" 1'lIílldo, que pode então deduzir oposição à execução (arts. 813-1 e 864-2).
1(,' f{ :1 "H. t 'J, IlnH, I, p, 95\ 011() ntmso nu d '~I()ca~~üll de automõvcl lia cidade de LiK (1'1) Ú (\ caxo, entre os procedimentos cautelares nominados, da restituição pro-
h(O;I.:,ílltla ql'" pllr illl·ídnill' 1111 uvuriu (u.t'. ST.I. di' 14-1 Hl, JIM.I, l L\, p, 92), l'nUl), vII/li ia (\(o posse (art. 1(1), da suspensão de deliberação social (art, 396-1), dos ali-
1'(" '·'\'·llIplll. I,d,,~.I'''! I 'li"'!'.' {!';'I,\',di' 1ll'md•• 1'I'llI (\ t'IiPI'lIi'llI'la ('4111111111, lill'n!iI}1prllvi:lioil1:; (;'1'1.,11)tH), do nrbitrumcnto de reparação provisória (art, 403-1) e
I I I'.",
) ) i

Os Princípios Gerais O Acesso aos Tribunais 99

providência executiva (30) futura, acautelem o direito do autor, sem pre- (11: posse (art. 394) e de arresto (art. 408-1), em que, para não alertar o
juízo de excepcionalmente poderem também, como acontece nos casos I'sbulhador e o devedor, o requerido só é ouvido, depois de executada
de fixação de alimentos provisórios (art. 399-1) e de indemnização pro- 11 providência, mediante notificação da decisão que a tiver ordenado
visória (art. 403-1), antecipar a sua realização (31). Para que a providência uuts. 385-6 e 392-1), Nos restantes procedimentos cautelares, nomina-
cautelar possa ser decretada, é necessária a prova sumária da existência dos ou inominados (2), o requerido é, em regra, previamente ouvido, mas
do direito e dum excessivo periculum in mora (cfundado receio de que lIiio o será, sendo-o só depois de executada a providência, quando
outrem cause lesão grave e dificilmente reparável»: art. 381-1). 11 audiência puser em risco sério o fim ou a eficácia desta (arts. 385-1

Ora o risco duma actuação do réu lesiva do direito de que se pre- I' :192-1) (33).

tende assegurar a realização, na pendência do próprio procedimento Quando não é ouvido antes de ordenada a providência, o requerido
cnutelar, leva a que, em certos casos, ele só deva ter conhecimento deste pude opor-se-lhe após a sua execução, por via de recurso ou de oposi-
após a execução da providência provisória pretendida. É o que acontece, ','íio, assim se assegurando, a posteriori, o direito de defesa (art, 388).
por sua própria natureza, nos procedimentos de restituição provisória
2.3.4. A cominação da revelia

Divergem os sistemas jurídico-processuais no regime da revelia do


do embargo de obra nova (art. 412-1): é antecipada a decisão de mérito favorável, 11'\1 (falta de contestação, em prazo contado da citação): dum lado, estão
que, uma vez proferida, absorve a providência cautelar (ordem de restituição definitiva
lI!i sistemas de ficta confessio (sistemas germânico e anglo-saxónico); do
da posse, anulação ou declaração de nulidade de deliberação social, fixação dos ali-
mcutos definitivos, condenação em indemnização, ordem de demolição da obra nova), outro, os sistemas de ficta litis contestatio (sistemas latinos). Nos pri-
(30) Assim no arresto, que constitui antecipação da penhora: o credor comum que nu.iros, são estabelecidas cominações para o caso de o réu não contes-
receie perder a garantia patrimonial do seu crédito requer a apreensão de bens do deve- 1111', Nos segundos, precludido o direito de contestar com o decurso do
dor, de que este não poderá dispor até à penhora (art, 406), que, no momento próprio
do processo executivo, se fará então por simples conversão do arresto (art. 846), Assim
uunbém no ar-rolamento (arts, 421 e 424, n."" 1 e 2), ou em procedimento cautelar ino-
miundo (urt. 381) em que se peça o depósito de bens determinados cuja propriedade cons- (32) O código contém a regulamentação específica de vários procedimentos cau-
1111111 objecto da acção: o titular de direito real de gozo, de direito real de aquisição ou Io'IIIres (arts, 393 e segs.). Mas admite, para além deles, o requerimento de qualquer pro-
d,' quinhão em património autónomo requer a apreensão e a entrega a um depositário \'idllllda que seja concretamente adequada a assegurar a realização efectiva do direito
dll:; respectivos bens, assim antecipando a apreensão na acção executiva para entrega de Illlll'uçado (art. 381-1),
\'lli:;n .crta (art. 930-1) que poderá seguir-se à definição ou constituição do seu direito, (3J) Sendo o procedimento eautelar dependência duma acção, a não propositura
'Irura-sc, em todos estes casos, de providências conservatôrias (art. 381-1), Semelhante '/",':1:1 dentro de determinado prazo tem como efeito a caducidade da providência orde-
1'lllIl,'i[o ' desempenhada pelas várias cauções que a lei processual prevê (por exemplo, 11,,1\11,Nos casos em que tem lugar a audiência prévia do requerido, esse prazo é de
11111;,In-:l, 693-2, 777, 818-1), designadamente pela que é prestada, em substituição de li) dias, contados logo após a notificação ao requerente da decisão que ordena a pro-
pinvidêuciu cautelar decretada, quando, verificada a lesão do requerente, se trata de \'ld!'l1cia (art, 389-1-a), Mas, quando a audiência prévia não tem lugar, a mesma
1',llrWlIlr a reparação do dano que dela decorra (art. 387-3), 1'1i'Ill'upação de assegurar o secretisrno do procedimento cautelar leva a que esse prazo
e l) Sobre esta dupla função de alguns procedimentos cautelares: JEl-JLE-RHJM, ',1'111de 10 dias contados da notificação ao requerente de que foi efectuada ao requerido
1/{//lrlIJllch des vorldufigen Rechtsschutzes, München, 1991, ps, 3-4, Já no arresto, IIuuüficução, posterior à sua execução, da decisão que ordenou a providência (art. 389-2).
('Illhnl'a antecipe o acto executivo ela penhora, não é possível falar de realização ante- ':"'''l'lhantc preocupação levou a suprimir, na revisão de 1995-1996, a exigência, cons-
vlpudu da tutela executiva, a qual verdadeiramente só se realiza com () acta ulterior de ""111' da lcgisluçílo então revogada, de que o arresto requerido contra o adquirente dos
dl:,IIIi>IIII;:11Ipelos credores do prllllulo da venda, adjudicação do bem ou c()nsigna~[l\l dw: 1","" dI} devedor (norucadarncníc, na dependência de acção pauliana) fosse precedido da
.'lI'II.'; 1!'lIdiJ"\'J1l.o~ ( ,JlISEI','I', 'I~\,u.'i\, f /II'ol:l'''illl('II/; ('(/1111'1111';, Padovu, Cedam, ll)()(), IIIIPll/'.llui;;lo judicial da aquisição (art. 403-2 do texto anterior): dispensado da proposi-
J.I. xü Vn IUIlIh '111,xuhu- :I.': 1'111" •.•." .., ,'!iI)~l'l vatórin (~ 1l1l1\:1'lpnl(}1in dos pn Ivid('IH'iIlS <:[\\1
.. 111"1pl.~Vill du m·~'ft", 1I requerente do arresto apenas tcm de alegar e provar os factos que
h'lan's. li 11.":' dil :1I1(Jlil\,:ltl"" 1111 IH I .lu ("'r' 11/11,(((tlrJ , 11 1'"11I'11I provrivcl 11 [ll'lll'l'dC'Ill'ia da i"Ipug,n:t,:ão(art. 407-2),
, )
100 Os Princípios Gerais O Acesso aos Tribunais 101

respectivo prazo, o autor continua a ter o ónus da prova dos factos por ção inicial (cf. supra, IA (39)), briga com o direito de defesa e, como
ele alegados como causa de pedir, tal como teria de fazer se o réu os ta], só excepcionalmente pode ser consagrado (35).
tivesse impugnado (34). O efeito cominatório semi-pleno, que no sistema germânico é ate-
A nossa opção foi, desde 1907 no processo sumário e desde 1939 nuado com a admissão da oposição da parte revel à sentença proferida
nas restantes formas de processo comum, no sentido da ficta confessio, com base na revelia (36) e no sistema anglo-saxónico se compadece
com a consequência de se terem como provados os factos alegados na igualmente com um meio de impugnação da sentença, correspondente ao
petição inicial (efeito cominatório sem i-pleno ) no processo ordinário nosso recurso de revisão (37), só pode entre nós ser atenuado pela invo-
e, até à revisão de 1995-1996, com a de o réu ser condenado no pedido cação de justo impedimento (38), caso em que, porém, não está pro-
(efeito cominatário pleno) nos processos sumário e sumaríssimo (supra, priamente em causa o efeito dum comportamento omissivo, mas sim o
1.3 (31». acto positivo que não se praticou e de que se pretende não ter preclu-
Do efeito cominatório pleno, suprimido pela revisão do código nas clido o direito de praticá-lo (39).
formas de processo comum sumário e sumaríssimo, que passaram a
estar sujeitas ao regime cominatório semi-pleno, restam tão-só pequenas
ilhotas. Algumas são justificadas; assim, por exemplo, na liquidação em
processo executivo (art. 805-4). Mas outras estão em contradição com
a opção global de suprimir esse efeito perverso; assim no apenso de (35) Sobre antecedentes históricos e a caracterizaçâo da figura: A confissão,
ps. 493-497. , .
reclamação de créditos (art. 868-4) (34-A). O efeito cominatório pleno,
(36) § 338 ZPO. A sentença à revelia só tem lugar se o autor a requerer (§ 331
dando lugar à condenação do réu nos casos de inconcludência da peti- ZrO) .. Requerida a emissão da sentença à revelia, o juiz pode ainda fixar ao réu
novo prazo para comparecer (§ 337 ZPO), O direito processual alemão conhece tam-
hém o ónus da impugnação, de cuja inobservância resulta, tal como entre nós (art. 490,
para a contestação; art. 505, para os articulados subsequentes), darem-se corno.provados
(34) Cf. A confissão, ps. 463 (5) e 464 (7). Aí se contém, de ps. 461 a 492, os factos alegados pela parte contrária (§ 138 1lI); mas é geralmente entendido que a
breve panorâmica geral sobre a figura da admissão (silêncio da parte sobre a realidade força probatória decorrente desta admissão cessa com a ulterior im~ugn.ação do facto
dum facto alegado pela parte contrária, com consequências probatórias). Ver também admitido até ao encerramento da discussão da causa, salvo se tal implicar atraso do
A acção declarativa, 7.2. processo e a omissão tempestiva da impugnação se dever a negligência grave da
('''.A) Na acção declarativa especial para cumprimento de obrigações pecuniá- parte (§ 296 Il). A força probatória da admissão é, pois, no sistema alemão, provi-
rias emergentes de contrato de valor não superior à alçada do tribunal de 1." instância, sària (enquanto que entre nós é definitiva), mas só dentro dos limites da boa fé pro-
reguhlda pelo Dec.-Lei n." 269/98, de I de Setembro, o juiz limita-se a conferir força cessual.
executiva à petição inicial, quando o réu não conteste (art. 2 do regime aprovado por esse (37) GIANCARLO GIANOZZI, La contumacia nel processo civile, Milano, 1963,
diploma); mas é expressamente ressalvado' o caso em que o pedido seja manifestamente ps, 406-408.
improcedente, isto é, em que a improcedência resulte da inconcludência dos factos ale- (38) A admissão não se confunde com a figura da confissão (art. 352 CC), de
1'.:It!nspelo autor. Na penhora do direito de crédito em processo executivo, o art. 856-3 cujo regime o seu se diferencia (cf. A confissão, ps. 474-484, e A acção declar~tiv_a,
estabelece hoje (desde o Dec.-Lei n." 3812003, de 8 de Março) uma mera presunção, ili- 7 (9»). Não está, nomeadamente, sujeita ao regime de impugnação da confissão
drvd em oposição à execução movida contra o terceiro devedor (art. 860-4). No inci- (urt, 359 CC), não obstante alguma confusão jurisprudencial e doutrinal (cf. por exem-
dente de oposição - determina o art. 349-1 -, é proferida sentença de condenação do plo, ac, STJ, de 6-12-46, RU, 80, p, 61, e a opinião de ANTUNESVARELA, Manual,
a pagar ao autor, quando o terceiro que, segundo o réu, se arroga direito incompa-
I'\~\I. (·il.. 1>.561 (I»).
Irvd com o do autor é citado pessoalmente para deduzir a sua pretensão, mas não o faz, e') No Congrcssu ti; Will'l~.hurg (supra, ] (6) concluiu-se que o direito de defesa
!lHo Sl' verificando nenhuma das excepções ao efeito cominutório da revelia; embora não ::ú' se compadece l'0f11 ilS pr\'t'llisi'i(':; " as cumiuaçõcs cstabclccidas para a falta de con-
M' 1!'lI\('dlllila wndella\';10 (li: pn:t'l'ito, joga perante () terceiro um '{cito comiuutério pleno. It'SI;\l':ltIq""'lth 1n ()1ll1~;:,liOl dll pr(ill\'ll do ;leIo 6 culposa (SCHWA13-G0I1WALD, verfassung
·1;111 viokllln l'OIlI\1n d"'ill~ i'Oll1illlllr'lIinpkno da rcv -li;1 " igll:tllIlClll,' rritidível (ver () 11I111 Z;1'iI/'/'o;,'S\' 1'11 .• (I, ",'1). () fl(l'.:,t> ',i:.lnllll pro(;cssllnl continua afastado desta
li," ;~ 1111 ;\11111:11:;11.1 ;til 1111. \.1') 11\1 1"'( . (1//11((/'/", I). (Iril'lIlat;ti"
)
)
Os Princípios Gerais O Acesso aos Tribunais 103

gado ou solicitador nos restantes casos (art. 34). Advogados e solicita-


2.4. ENTRAVES ECONÓMICOS dores exercem actividade profissional remunerada.
Ora a parte (autor ou réu) que careça de meios económicas sufi-
2.4.1. Não devem existir cientes para fazer face a estas despesas pode, em qualquer estado da
causa e para a propor ou com ela seguir até final, solicitar apoio judi-
Quer para o autor quer para o réu, o direito de acesso aos tribunais ciário, consistente na dispensa, total ou parcial, de taxa de justiça e
engloba a inexistência de entraves económicos ao seu exercício, como de pagamento de outros encargos, ou no seu deferimento, assim como
expressamente refere o art. 20 da Constituição. Tal implica, designa- na dispensa de pagamento dos serviços do patrono constituído (art. 16
damente, a concessão de apoio judiciário a quem dele careça e a proi- da Lei n." 34/2004, de 29 de Julho). O apoio é concedido pelos ser-
bição de disposições da lei ordinária que limitem o direito à jurisdição viços da segurança social, com recurso para o tribunal (arts. 20 e 26-2
por não satisfação de obrigações alheias ao objecto do processo. do referido diploma) (40).

2.4.2. Apoio judiciário 2.4.3. Falta de pagamento da taxa de justiça

o
acesso aos tribunais dá lugar ao pagamento de custas: a taxa de Até à revisão de 1995-1996, a falta do preparo inicial (taxa de
justiça, cujo valor é função do valor da causa, apurado nos termos dos justiça inicial) pelo autor dava lugar à extinção da instância (art. 287-j),
arts. 305 CPC a 319 CPC e dos arts. 5 a 12 do Código das Custas, e a falta do preparo inicial ou das custas finais pelo recorrente dava lugar
encargos adicionais referidos no art. 32-1 deste último. Para garantia das à deserção do recurso (art. 292-1), a falta do preparo inicial pelo réu ou
custas, são cobradas as taxas de justiça inicial e subsequente, que COllS- recorrido dava lugar ao desentranhamento da contestação ou das ale-
Iitucm adiantamentos por conta da taxa de justiça final, sem prejuízo do gações de recurso (art. 110-2 do Código das Custas), a falta do preparo
pagamento, também adiantado, de outros encargos (arts. 22 a 31 e 34 a 39 para despesas (encargos) dava lugar à não efectivação do acta a que res-
do Código das Custas) (39-A). peitava (art. 112-1 do Código das Custas) e a falta do preparo para
O acesso aos tribunais dá também lugar à obrigatoriedade da cons- julgamento em 1. instância impedia a parte de produzir qualquer prova
3

rituição de patrono advogado nas acções declarativas e executivas acima (art. 113 do Código das Custas).
de certos valores, nas acções declarativas que consentem sempre recurso Entendeu-se, quando da revisão do Código, que o direito do acesso
independentemente do valor ou que são imediatamente propostas na aos tribunais impunha a supressão destas cominações, à excepção da
R ilação ou no Supremo e nos recursos, bem como à obrigatoriedade da relativa à falta do preparo para despesas, e por isso elas foram suprimidas
constituição de patrono advogado, solicitador ou advogado estagiário e substituídas por multa (novo art. 291-2; arts. 3 e 14 do Dec.-Lei
II;IS acções executivas de valor compreendido entre as alçadas da comarca 11.° 329-A/95, de 12 de Dezembro, este na redacção que lhe foi dada pelo

l~ da Relação (arts. 32-1 e 60), sendo facultativa a constituição de advo-

I art, 4 do Dec.-Lei n." 180/96, de 25 de Setembro). Tratando-se, porém,


de taxas devidas pelo próprio serviço solicitado, cuja gratuitidade a

(.1')-11)
vI'Il('('dora
No final, a parte vencida é também, em princípio,
lima importância a título de procuradoria (arts, 40 c
:\ quul integra as custas de parte, isto é, aquilo que a parte
l'I·l'I'llt'.r a título ele despesas clcctuudas com O processo c de
condenada a pagar ~l parte
41 do Código das Custas),
vencedora tem direito li
compensação (nrt. 33 do
I li."
('li)) A l.ci 11." :1tI/~t)04, d('- .,lJ de Julho, elaborada,
:IW7·· H11-:-7 , \'111 ('lIlJlprillll'IJH' do :11'1. ;'.0 da Constituição,
tal como o anterior Dec.-Lei
propõe-se realizar igual-
(: •.idi,'.n dns Custas), RI~sla lIillda u eventual rcsponsahilidnde da pari e v"llI'idu por 11\(1 11\('1111' li .1111'111> di)~ t'lil:!dilll'; ;\ 11>1'"11>:1\';111 IlIridi";I (<11'1. ti) c O direito de pessoas sin-
1'1' (:111.· •. 4%,~ 457). 1'.1111111'1> I'l'()lIllllli";lIIIt'III,' t IIII'I"·I.I.I!!· .. , '"11.'.111111 jllddi,':\ 1'.I!\llIilll (urt. 1/1.).
) )

104 Os Princípios Gerais O Acesso aos Tribunais 105

Constituição não consagra, a ilação não se impunha e a inovação encer- Hoje, o art. 280, em cumprimento do art. 20 da Constituição, expres-
rava algum irrealismo (41), Em todo o caso, quando a falta de preparo samente declara inadmissíveis estas derrogações ao direito à jurisdição,
inicial fosse do autor, o processo ficava suspenso até que ele o efectuasse,
acrescido da multa devida,
O Dec.-Lei n." 183/2000, de 10 de Agosto, ergueu em fundamento 2.5. INDEPENDÊNCIA E IMPARCIALIDADE DO TRIBUNAL
de recusa da petição inicial pela secretaria ~ falta de pagamento da taxa
ti' justiça inicial (a comprovar com a apresentação da petição), salvo O direito de acesso aos tribunais implica nestes a existência de
quando tenha sido concedido (41.A) o apoio judiciário (art. 474-f) e sem certas características fundamentais,
prejuízo de o autor poder ainda fazer e comprovar o pagamento (ou Pelo art. 203 da Constituição da República é exigida a sua inde-
comprovar ter-lhe sido concedido (41-A) apoio) nos 10 dias subsequen- pendência, Quer a Declaração Universal dos Direitos do Homem, quer
Il)S (art. 476), Quanto à contestação, é desentranhada quando o réu, a Convenção Europeia dos Direitos do Homem explicitam a necessi-
não lendo, à data da apresentação, comprovado o pagamento (ou o dade de que sejam independentes e imparciais (43),
requerimento de apoio judiciário), persista na omissão após convite do Já vimos o que tal significa (supra, 1.5.4) (44), assim como as adap-
juiz, findos os articulados, para o efectuar com multa (art. 486-A), tações inerentes à natureza do tribunal arbitral voluntário (supra, 1,5,5),

2.4.4. Falta de pagamento de impostos

Até à revisão de 1995-1996, a falta do pagamento de impostos,


devidos pelo autor e directa ou indirectamente relacionados com actos
ou situações que ele pretendesse invocar, dava lugar à suspensão da
instância até que o devedor provasse ter regularizado a sua situação tri-
hurária (42),

(011) A ameaça das cominações estabelecidas na lei anterior levava a que, na gene-
ralidade dos casos, os preparos fossem realizados, Por outro lado, as cominações deri- (LEBRE DE FREITAS, Inconstitucionalidades do Código de Processo Civil, Revista da
vmlus da falta do preparo inicial só tinham lugar após a notificação da parte para a Ordem dos Advogados, 1992, I, p. 30, com republicação nos Estudos, p, l2),
t'!'n'l iv ução do preparo em dobro e as derivadas da falta dos preparos para despesas e (43) A Convenção Europeia vai mais longe: os tribunais deverão ser criados por
pUni juluumento eram susceptíveis de ser evitadas, até à realização da audiência de dis- lei. Pretendeu-se ilegitimar os tribunais de excepção, incumbidos ad hoc de julgar
l'IIS:;li,1 ~.julgamento, mediante o pagamento de determinadas sanções pecuniárias. Ape- casos particulares, bem como a criação de tribunais pelo poder executivo, sem prejuízo
1111',a dl'ser(;ão cio recurso por falta de pagamento, no prazo de 7 dias, das custas coo- de o Governo o poder fazer ao abrigo de autorizações legislativas (VEw-ERGEC, La
IlIdlls IH) trihunal recorrido era violenta. A supressão das cominações correu o risco de couvention, cit., ps. 453-454). A competência dos tribunais em geral e a de cada tribunal
1111111'111:.1' algum hábito de não pagamento de preparos e de alagar os tribunais de cxe- em particular devem ser fixadas por lei. As grandes ordens dos tribunais portugueses
\'II",\II'~: pOl' t:IISlaS. encontram-se cstuhclccidas na Consrituição (supra, 1.5 (10». A sua criação em concreto
(,li i\) Ou, em caso de urgência, haja sido requerido (art, 467-4). é rei!.a por leis oruünicas.
("I,~) Arts. 280 a 282; arts. 105-1 do Código do IRC e 127-1 do Código do IRS. ,. ('1,1) A Vl'1'l1'i1ll' da J"l'jt'Í\'ói<i di! f>1/J'í:ialirfo;/esubjectiva do tribunal, aferida pela
() n'j',tllle foi. durante anos, duramente criticado pelos advllgail<is. por rcprcscutur uma 1II'Iu:\~'illl ,'ulH'I\'I;1 du lillllHI' do I'i!')'.:!". 11:11'lt'S[lI'ila jií à constituição do processo; extra-
IJl.lII~ií Ik;u 1:1ílll('rli:n~llI"í:1 dt' ,,111(1'"It;""~:('slrilall)('lIl(~ f"iSCiJlh na ".':li'I:1 du j\l~tí~'a cívcl, As V\I:;i! mlNllll li 1I11!t111\Ii'::trilp d11 IU"'li:'" IHn: tlillllliaiK I' cuquudru-sc jú dentro do princí-
111111111\'" ('111,':!w;a rr.uu illt'lIll'.IiIII"ltlll,lis, 1'"1' \'iol:II"11I a J~:U,'1l1111do lIil"l'ltll lI<' :Il'(ill pil1 da 1''1111,1;1.11'
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3.

PRINCÍPIO DA EQUIDADE

3.1. SUAS VERTENTES


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!)

o direito à jurisdição não pode ser entendido em sentido mera-


mente formal: ele não implica apenas o direito de aceder aos tribun~,
propondo acções e contraditando as acções alheias, mas também o direito
(:&.ctivo a uma jurisdição (<<Rechtsschutzejfectivitiit») que a todos seja
'!E.:.~l em termos equitativos e conduza a resultados individual e
socialmente justos ct). Esta acepção ampla do direito à Jurisdição levou
li consagração expressa, no art. 20-4 da Constituição da República
(uquando da revisão de 1997), do direito a um processo equitativo
(<<I.9dostêm direito a que uma causa em que intervenham seja objyç,to
dl~ decisã9 ( .. .) mediante processo equitatiyo»), anteriormente derivado
d(l (lrt. 10 da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Trata-se da
n.-ccssidade de observar um conjunto de regras fundamentais ao longo
til' lodo o processo, nos vários planos em que este se desenvolve,
No âmbito da jurisprudência formada na aplicação da Convenção
I ':lImpeia dos Direitos do Homem, tem sido entendido que o princípio da
I'qllidade, consagrado no seu art. 6, postula, por um lado, a igualdade das
I'I/rr('s (m:in.çipio cio contra 'tório e princípio da igualdade de armas) e,
1'111' outro, os direitos à com arê1Jia p.essoal das..partes e~rtQS casos
tlll cir .unstâncias, à licitude da prova (do meio de prova em si e do
111111 1!1 d~_~)_obter) e à !.fmdamentação da decisão (2). Ta:m.bém o prin-

(t) ('I\I'I'liI.I.ITTt,
/\cccss, cit., 1, p, 6; I-[,\NSGEORG FROBN, Rechtliches Gehõr und
tj, },11'lht'/rI" j';'/I,IT/widlfllg, Ilerlin, Dunckcr und Humblot, 1989,p. 14,
(') VI·1.11 1,:",01',,', //1 "OIfl"'III;flfI, dI., ps, 40H-429, Questionados têm sido também
"oIl1"!lII til' II 1':1111' ;:"1 a,';,',i.'.lid •• 1")1 :ldVIII\;I,JII. \I dit"illl n utiliznção da IrnJ.!.lI;! nacional
) )'
~.
108
Os Princípios Gerais Princípio da Equidade 109

..5.:jpio da publicidade. como garantia da. transparência do exercício da {I objecto da causa e que em qualquer fase do processo apareçam como
fUIl?ão jurisdicionaCnos parece constituir emanação do princípio da potencialmente relevantes para a decisão. O escopo principal do prm-
equidade.
ripio do contraditório deixou assim de ser a defesa, no sentido negativo
II '_QPQsi~o ou resistência à actuação alheia, ~assar a ser a infl~ncia,
I:-,~
,

I
no sentido positivo de direito de inci ir activamente no desenvolvi-
;\.2. j>RINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO mente e no êxito do processo (5).

3.2.1. O direito de influenciar a decisão 3.2.2. No plano da alegação

. . (~()rJrincípio do contraditó!i0 entendia-se tradicionalmente a impo- No plano da introdução dos factos principais da causa, que consti-
SII;ilOde que, formulado um pedido ou tomada uma posição por uma tui, de acord com o rincí io disp.ositivo, ,!lm quase monopólio das
parlt', devia à outra ser dada oportunidade de se pronunciar antes de partes (infra, 6.4.1), o princípio do contraditório exige que os factos
qllalq~.~r deci.sf~, tal como, oferecida uma prova por uma parte, a pa~ al~ por lima delas (como causa de pedir ou fundamento de excep-
(,()Iltral'la devia ser chamada a controlá-la e ambas sobre ela tinham o ,.-ilo) possam pela outra ser contraditados (por impugnação ou por exc~
direito de se pronunciar, assim se garantindo o desenvolvimento do pro- ç.ío), sendo assim concedida a ambas, em igualdade, a fac;.uldade de
ccsxo em discussão dialéctica, com as vantagens decorrentes da fiscali- ;:obre todos eles se pronunciarem. r • -",

,.:I<;ão recíproca das afirmações e provas feitas pelas partes (3). - Constituindo os articulados as peças nas quais as partes alegam,
. 1\ esta concepção, válida mas restritiva, substitui-se hoje uma noção 1'111 regra (6), a matéria de facto, o princípio do contraditório implica que
IIW/Slata de contraditoriedade, com origem na garantia constitucional do haja tantos articulados quantos os necessários para que o direito de res-
/('I'IIII~c"~s Gehõr germânico (4), entendida como garantia da participa- posta seja assegurado: Assim é gue no p'rocesso ordinário há lugar a
1;:11\ efectiva das partes no desenvolvimento de todo o litígio, mediante (',1l!.!:i:fE.. quando na contestação seja deduzida alguma excepção ou for-
;t possibilidade de, em plena igualdade, influirem em todos os elemen- mulado pedido reconvencional, e ainda nas ac ões de simples aprecia-
II1Ii (rac~~!:~:.
provas, questões de direito) q!le se encontrem em ligação com. ,.-ilo negativa, em que os factos constitutivos do direito o reu ou inte-
)'./'antesdo-facto) negado pelo autor são alegados na contestação (art. 502,

01111'11111'.11incidência dos mass media no desenrolar do processo e até a protecção da


1',"1,' IHTilllfl' a negligência e a imperícia (idem, ps, 420-421 c 429~432).
do seu advogado (5) TROCKER, Processo, cit., p. 371. Denominador comum à acção e à defesa, o I
(I) MilNllliL DE ANORAOE, Noções, cit., p. 364; CASTRO MENDES, DPC, cit, I, I'dndpio do contraditório pode ser ainda entendido como uma emanação dos direitos de
1
li'· 1 ),1.1%. «O princípio não diz respeito apenas ao processo em globo, mas a cada III\·;itl c de defesa, latamente entendidos como algo que, para além do momento inicial r
11
'1"'''.101 lIiI.processo suscitada. Em regra, levantada uma questão, o juiz deve ouvir a "11 propositura e da contestação, permanece ao longo de todo o processo, e, em última
Ihllll' ('11 lilr:l 1'1H untes de decidir» (CASTRO MENDES, idem, p. 226). unálisc, pode ser reconduzido ao direito de acção, do qual o direito de defesa mais não
. Vor Gcricht hat jcdcrmann Anspruch au] rcchttiches Gehõr. (art. 103, I, da
(,I).: ,\ ulinal, do que um aspecto integrante (TROCKER, cit., p. 372, na esteira de CAPPELLEITI).
/ 1t11~.IIIIIJI;UIldu República Fcdcrul Alemã). Perante este preceito COllslilUcioll:.ll, a dou- (I,) A alegação de jactos supervenientes (factos de ocorrência, ou conhecimento
IIIIHI I' II .iIlI'ÍI;fl~'lIl!el:t'ia gcrmãnicas ligam ao princípio do c0l11radil6rio as ideias de par- 1"'111parte, posterior à fase dos articulados normais do processo: art, 506-2) pode, tam-
111'1"11;1111I' d\, 11111111'11(1:1 lia drcisiio (Flu",z HAUR, Der JlII.\'fll'IlI'II ou] '?'f'l!llídlr's (ir'l,ii/, 11,:111,em certo condicionalismo, ser oralmente feita em audiência, preliminar ou de dis-

r: ..\
.\I..//lV 1'1.11'
dil' t:ivilis/isdll'Pr:l.xi~.
(lI'hll/;

1111 '. 111' I I, 1'11111


1'.'·~;Is!'hnlt
I'iCl (11)').'1), p. ,10:1: ZI'IINI'Il, /I,·):.'I/i.fjll'lll'l} (I/(/IC'()"
1111'l lanx Kurl NiPPI·IIII·Y.
s,' 1:11,,1"·'111,1'111"III1,1;I·'1"i:lwia.
Mllnd"·II.
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110'''',. liU,\ p~. 101.1,
1'"11'1".' .•• ""11111 11111~ii!,II'llIa dI'
;-II:;:lHo e julgamento
"{'·(,/Il1i'lIIf1
(arts, 506-3, ais. a e c, e 507-2). Também em correcção, com-
011 concrctiração da alegação feita nos articulados
l"Ukll1 se'l inlf'llduzidos
(arts. 264-3 e 508-A-I-c)
racltl~ em uudiênciu (infra, 6.4. L). Em todos os casos, a parte
'"1111I1I11'I1~'1'''''['1111,·.I', 1""1 .: ·. ,. 1I1111'IIIJ;tI (/;lil '"1'1, ,,',''';/1''.1/,-\ 1;1'11,'11.,11, I"; 11" II,(.!. "I'"llílíll 1"111\J direi/o Ik 1!·:'1",.~IlI
,) )
110 Os Princípios Gerais Princípio da Equidade 111

11.°$ 1 e 2), e a réplica é seguida de tréplica quando nela for alterada ou litígio), Nos telIDOS do art. 3-4, às partes deve ser sempre facultada, antes
ampliada a causa de pedir (supra, 1.4 (46» ou deduzida alguma excep- da decisão, uma tomada de posição sobre o facto que o juiz oficiosamente
ção à matéria da reconvenção (art, 503-1); e no processo sumário há lugar :,c propõe introduzir. Ponto é que se trate dum facto fundamental, pois
a resposta à contestação quando nesta o réu tenha excepcionado ou outro é o regime dos factos instrumentais Unira, 6.4,3).
rcconvindo ou quando a acção for de simples apreciação negativa
(urts. 785 e 786), o que igualmente se aplica, subsidiariamente, no pro- 3.2.3. No plano da prova
cesso sumaríssimo (6.A). Sendo sempre teoricamente possível a dedu- I
ção duma contra-excepção (1), a resposta à excepção eventualmente No plano da prova, o princípio do contraditório exige que às partes
dcduzida no último articulado admissível poderá ainda, sob pena de :;l~ia,em igualdade, facultada a proposição (9) de todos os meios proba-
ofensa do princípio do contraditório, ser dada na audiência preliminar ou, tl')rios potencialmente relevantes para o apuramento da realidade dos fac-
não havendo lugar a ela, no início da audiência final, como expressamente los (principais ou instrumentais) da causa (10), que lhes seja consentido
resulta do art. 3-4 (8). I':lzê-Io até ao momento em que melhor possam decidir da sua conve-
Também na medida em que, excepcionalmente, o juiz pode intro- uiência, tidas em conta, porém, as necessidades de andamento do processo,
duzir factos principais no processo Unira, 6.4.2), O princípio do contra- que a produção ou admissão da prova tenha lugar com audiência con-
ditório exige que ambas as partes se possam pronunciar sobre o exercício nuditória de ambas as partes e que estas possam pronunciar-se sobre a apre-
desse poder funcional, isto é, sobre a ocorrência dos respectivos pres- riução das provas produzidas por si, pelo adversário ou pelo tribunal.
supostos e sobre a existência do facto em causa (notório, de conhecimento A primeira derivação deste direito à prova compadece-se com a
derivado do exercício da função judicial ou integrante da simulação do limitação razoável do número de testemunhas a ouvir por cada parte (lI),
que a exigência de economia processual justifica; mas é mais dificil-
mente concíliável com a atribuição à discricionariedade judicial da admis-
(6-A) A acção declarativa, 23.2.1. Já não assim na acção declarativa especial para
:,:lll de certo tipo de meio de prova, como acontece com a inspecção
cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contrato de valor não superior à
ulçada do tribunal de 1." instância (art. 1-4 do Regime Anexo ao Dec.-Lei n." 269/98, [u.licial (art. 612-1) (12), ou com a limitação a um pequeno número das
de 1 de Setembro). Tão-pouco há articulado de resposta às excepções deduzi das na con-
1("~,I;I~';"iOno processo do regime experimental do Dec-Lei n." 108/2006, de 8 de Junho
(urt. })·3). A consequência será o maior uso da norma do art. 3-4.
(1) Excepção a uma excepção (supra, 1.3 (40». Por exemplo, excepcionada, ('I) Diz-se proposição o requerimento de produção dos meios de prova constitu-
111111la. acção de dívida, a prescrição, a alegação da sua interrupção pelo reconhecimento ,'lidos (a produzir no processo, como o testemunho, o depoimento de parte ou a prova
do direito prescribendo (art. 325·1 CC) constitui uma contra-excepção, à qual será pos- 111·lÍeial)ou de junção dos meios de prova pré-constituidos (já produzidos extraproces-
xívc] contrapor a menoridade do devedor, com a eonsequente anulabilidade do acto de ',IJOIIIII.:J1lC,como o documento). Fala-se, a este propósito, de direito à proposição da
I"\'collhccimento (arts. 125 e 295 CC), e a esta o facto de o menor dolosamentc se ter /"''1'11 (SCIIIVAI3-GO'ITIVALD, Verfassung, cit., p. 53).
f't:it.o passar por maior para praticar o acto (art. 126 CC) ou ainda, mas agora improcc- (10) TROCKER,Processo, cit., p. 512.
dcntcmcntc (art. 287-2 CC), a caducidade do direito de anulação (art, 125-1 CC), (11) 20 no processo ordinário (art, 632, n.o' 1 e 2), 10 nos processos sumário e
(H) No processo comum, a necessidade de actuar o princípio do contraditório '.III!1:trfssimo (arts. 789 e 464).
l"Onslituirú naturalmente razão suficiente para impedir a dispensa da audiência prelimi- (I:~) F1NOCCHlARO, lspezione giudiziale, Enciclopedia dei diritto, XXII, ps. 958-959 .
llill' no processo ordinário (cf art, 508-B) e para impor a sua realização no processo sumá- .\', pnrtcs podem requerer a inspecção judicial, mas o juiz pode indeferir o requeri-
rio (urt. 787), embora já não no processo sumaríssirno, em que não há nunca audiêncla 111,'1110 dns partes. No tribunal constitucional federal alemão fixou-se a jurisprudência
pu-li 111 inur, Esta volta a ter lugar na oposição à execução (nrt, 795), que tumhérn só ""o',('IIlidll de só :t admissão de provas manifestamente irrelevantes poder ser recusada,
:\(lIlIlte,dois articulados (art. H17,,;2\. Sobl'L~(l problema: J()si'i t.uuu: 111-: I<'I""'J'AS,Ni'l'i .. I''''', '"~o l'IH('IHk que as partes têm direito, não só à proposição, mas também à admis-
.\'''''' du I"'()("(',\",\"(I civil, R!.'visla tlu (Irdl'lIl. dos AdviJl'.ado:;. 101'.'" 11, )1, 4?4. \"1111'1"111(";1
:111 1"1,, .1:1';prov.rs relevante» para (I objecto da causa (TROCKER,Processo, cit., p. 528;
]>/11.1"1·1" til" l"l'yi~;ICl,
li" 'IIN. NI','(,tIi,·I't',\· UI'ltlJr, dI., p. 1\1\). NI":~1" jlllzo de manifesta irrclevância não devem
) )
112 Os Princípios Gerais Princípio da Equidade 113

testemunhas a inquirir por cada facto (arts. 633 para o processo ordiná- A segunda derivação do direito à prova implica que a proposição dos
rio e 789 para os processos sumário e sumaríssimo; cf. também alto 304-1 meios de prova pré-constituídos, embora tenha o seu momento prefe-
para os incidentes da instância, art. 3-4 do regime anexo ao Dec.-Lei icncial na fase dos articulados (art. 523-1), possa ter lugar, quando se faça
0.° 269/98, de 1 de Setembro, para a acção declarativa especial para cum- por apresentação no tribunal (é o caso do documento e de algumas coi-
primento de obrigações pecuniárias emergentes de contrato de valor não ;:i\S móveis), até ao encerramento da discussão da matéria de facto em
superior à alçada do tribunal de 1." instância, e art. 11-1 do Dec-Lei primeira instância (arts. 518-1 e 523-2) (14), que os meios de prova cuja
n." 108/2006, de 8 de Junho, para o regime processual experimental), se se produção deva - ou possa - ter lugar antes da audiência de discussão
entender que a limitação se circunscreve aos factos principais da causa (13). I' julgamento (15) devam ser propostos logo no início da instrução do pro-
ITSSO (arts. 508-A-2-a e 512-1) (16) e que os meios de prova a produ-
I.ir em audiência possam ser oferecidos com a antecedência conside-
entrar considerações derivadas duma valoração da prova (ainda não produzida) apressa- i lida suficiente para assegurar o conhecimento da sua proposição pela
damente feita a priori (TROCKER, idem, p. 525), ainda que o Supremo Tribunal Federal
purte contrária (17).
(Bundesgericlushof] o admita quando o juiz já está convencido da realidade do facto
que a parte pretende provar com o meio de prova, recusando-o apenas na hipótese inversa
de convicção de que o facto não se verificou (JAUERNIG, Zivilprozessrecht, cit., § 5 I.
111, 4). A Comissão Europeia dos Direitos do Homem entendeu que, em certas circuns- (14) Não havendo lugar à produção da prova no processo, basta que ela seja
tâncias, a recusa do tribunal de ouvir as testemunhas oferecidas pela parte ou de deferir iI,hllil.ida a tempo de poder ser apreciada; implicando, por seu lado, a admissão que se
Ulll requerimento de prova pericial pode implicar violação do direito ao processo equi- 1ilt'II11ca tomada de posição da parte contrária ao apresentante, o limite do encerra-
tativo (decisão de 19-9-61, citada por VELU-ERGEC, La convention, cit., p. 428; entre 1I1t'1I10da discussão sobre a matéria de facto impõe-se. A partir deste momento, s6 é
nós, ver, por exemplo, o ac. do TRL de 3-5-90, Cl, 1990, III, p. 103, anulando o pro- 1I.Jlllissível o meio de prova superveniente, ou cuja necessidade ou possibilidade de jun-
cessado posterior ao momento em que os testemunhos preteridos deviam ter sido pro- '.lI •• ;11)processo é posterior. Di-lo a lei apenas quanto ao documento (arts. 524,706-1,
duzidos), O nosso código confere ao juiz o poder de recusar provas impertinentes ou dila- /1.' 1-(' e 727), mas estas normas são também aplicáveis ao monumento, isto é, ao
tórias (art. 543-1 para o documento; art, 578-1 para a perícia; alt. 265-1 em geral), sendo Illijl't:ln que constitua fonte de prova de factos indiciários - e já não representativos,
discutível, à luz das considerações feitas, a concessão da possibilidade de recusa de , 1111111 no documento (art. 362 CC; sobre a distinção, ver CASTRO MENDES, Do conceito
documentos desnecessários (art. 543-1). Uma norma como a do art. 814-g (exigência de ,I, ,'/tII'II, cit., ps, 181-182 e 264; também em A falsidade, p. 112 (35), e A acção decla-
documento para a prova de facto modificativo ou extintivo do direito exequendo reconhc- /,,'Ii'tI, 14.1.2) -, a que a nossa lei se refere sob a figura da «apresentação de coisas
cido por sentença) só é admissível porque não impede a ulterior proposição de acção paru IlliI\lt'is ou imóveis» (art, 518-1). A existência dum momento preferencial para a pro-
restituição do indevido (LEBRE DE FREITAS,A acção executiva, cit., 12 (18) e 20.1.4), pois I'P'.I\'lIO do documento leva a que a parte seja condenada em multa sempre que ela
li' outro modo constituiria restrição inadmissível (SCl-IWAB-GOTrWALD, Verfassung, cit.., I. 1.11.1IlIgar depois do articulado em que é alegado o facto probando (art, 523-2).
p. 53). Na revisão de 1995-1996 foram revogados os preceitos que, com consequências (I:') A prova pericial (arts, 568 a 591), o depoimento a produzir fora do tribunal
definitivas, limitavam os tipos de meio de prova admissíveis em determinadas formas do .1" 1'II11Sa(arts. 556- J, 623-4 a contrario e 624-626) e a prova antecipada (art. 520) têm
processo ou incidente (por exemplo, nos velhos arts. 372-2, 389-4, 794-2 e 804-2), bem 1111'.11:lIllcs da audiência. Antes dela pode ter lugar a inspecção judicial (art. 612-1) e
L:OIllOa disposição geral do art, 609-3 (inadmissibilidade de segundo arbitramento, hoje 'i .iI'l'0illlcnto de pessoa impossibilitada de comparecer (arts. 557 e 627).
pcrfcia, quando o primeiro tivesse sido feito por estabelecimento oficial). Ilh) Na lei anterior à revisão de 1995-1996, as partes eram sempre notificadas pela
(10) Só estes deveriam, em regra, ser incluídos na base instrutória (infra, 6.4.3). , , ,,'1.11i:1 para o acto de proposição da prova (art. 512). Depois da revisão, passaram
Mas ti manutenção, após a revisão do código, da limitação referida no texto, com- 11II1"I'" la lia audiência preliminar, ou em prazo que, com motivo justificado, nela soli-
preensível na vigência da legislação anterior (precisamente porque normalmente se , Ih'lIl, i:t'lJ\prc que esta se realize (art. 508-A-2-a), e só continuam a ser notificadas nos
('IlIt:IHJi:l que também os factos ínsuumentais relevantes alegados pelas partes deviam pus- I, 111111': do art. :i12 quando não haja audiência.
NU!' 1\0 questionário). permite pôr em dúvida que a base insuutóriu consutuu, a não ser (1/1 ('o/lslilui manifestação desta ideia a admissão, no código revisto, do adita-
IUI sua 1~{oI1l'~l' (é elaborada com a colnboração das parlcx: art, :iOH-/\-I-c), algo de diJ'r ilí; lil •• do 1'1I1dI' testemunhas até 20 dias antes da audiência de discusão e julgamento
1'1.'111\'d(l anterior qucstionári«. w:r. que, 1\ I\hl'mll~"r IlIwilns o~: faclos prill('ipllis. "
11111:1 I <I, I ,I'> 1\ I I. Na sl1a lógica. a própria apresentação do rol e o requerimento de outras
din'illl ~ prova rl".'adlllli:1 da lI'visilll dll ('útli!'.\) .s\'vn:IIII<'lIll· ""óllillldtlo 11.1-1110'1>1, 1>'1(\'" 1""\ ,I', il p/'(idui'.ir na audiência, como o depoimento de parte (art. 556-1), os esclareci-
'tI\,'" /,"'1'/.\'11/1""/)/'(1"1'\.\" civi], ru., [l, 'lhe)). 111'lil"', .111': P('I ilos I:II'\' 'lXH) 011 a exibição de reproduções cinematográficas ou de
J I' I'
)
Princípio da Equidade 1.1 ~i
114 Os Princípios Gerais

A terceira derivação referida, desde há muito consagrada no nosso luas faculdades sejam reconhecidas a ambas as partes quando a inicia-
direito positivo (18), implica que, proposta uma prova pré-constituída, i\ tiva da prova seja oficiosa (21).
parte contrária seja facultado, antes da admissão, impugnar a sua admis- Por fim, cabendo ao juiz apreciar a prova, as partes têm o direito
sibilidade e força probatória (19) e que, estando em causa uma prova cons- .lc, antes da apreciação final, isto é, antes da decisão sobre a matéria
tituenda, lhe seja facultado impugnar a sua adrnissibilidade e intervir Ilç facto, se pronunciarem sobre os termos em que ela deve ser feita
no acto da sua produção (art. 517) (20). Mas implica também que as mes- (art. 3-3). É-lhes assim facultado, uma vez produzidas todas as provas,
discuti-las, pronunciando-se sobre a matéria de facto que consideram e
uquela que não consideram provada, em debates orais que têm lugar
registos fonográficos (art. 652-3-b), deviam estar sujeitos ao mesmo regime. Esta equi- ninda na audiência (art. 652, n.05 3-e e 5).
paração é feita em direito alemão, onde apenas se exige que todos os meios de prova II
produzir em audiência sejam oferecidos - e postos em causa pela parte contrária -
a tempo, de acordo com as necessidades do processo (JAUERNIG, Zivilprozessrecht, cit., 3.2.4. No plano do direito
§ 51, I). No nosso processo comum sumaríssimo é exigido que os meios de prova
constituendos sejam logo propostos com os articulados (arts, 793 e 794-1). O mesmo !::Toplano das questões de direit>, o princípio d~ cont~aditório. exige
se exige nos incidentes da instância (art, 303-1), nas providências cautelares (art. 384, qlll), antes da sentença, às partes seja facultada a discussão efectiva de
n.OS 1 e 3) e em diversos processos especiais. Também assim no regime processual
lodos os fundamentos de dlfeito em que a decisão se baseie-
experimental (art. 8-5 do Dec.-Lei n." 10812006, de 8 de Junho). Mas já na acção
declarativa com processo especial do Dec.-Lei n," 269/98, de 1 de Setembro, as provas são
--- Tratando-se de um fundamento de direito na disponibilidade exclu-
oferecidas na audiência (art. 3-4 do regime anexo). Se se tiver em conta que o juiz pode :,iViI das partes, a possibilidade de discussão resulta naturalmente da sua
tomar iniciativas probatórias, sem estar sujeito a idênticos limites temporais (arts. 265-3, invocação (necessária) pelo interessado e do direito de resposta da parte
552-1, 579 e 645), a disciplina a que as partes estão sujeitas só se justifica com o I' mtrária (22). Mas a proibição da chamada decisão-surpresa tem sobre-
objectivo de evitar abusos dilatórios ou anarquizantes.
uulo interesse para as questões, de direito material ou de direito pro-,
(18) No texto do código anterior à revisão de 1995-1996, o princípio do contra-
ditório aparecia afirmado tão-só no art. 3 (<<necessidade da contradição», que, aliás, à letra.
mais não representava do que a consagração do direito de defesa) e no art. 517 (<<prin-
cfpio da audiência contraditória»).
(19) Para o documento: arts. 544 (impugnação da genuinidade) e 546 (ilisão da ',\111, i1 recusa só pode ter lugar quando o depoimento é manifestamente impertinente (cf.
autenticidade ou da força probatória). \/1/1/'11, nota 12; em sentido semelhante, MARIANA FRANÇA GOUVEIA, Regime processual
(20) Pode, por exemplo, a parte contrária requerer que sejam feitas ao depoente "\/It'l'imelltal, Coimbra, Almedina, 2006, p. 132). . .
de parte (art. 561-1) e, através do mandatário forense constituído, fazer ela própria ao (21) «A garantia do contraditório implica ( ... ) que as partes possam discutir todas
depoente e à testemunha (arts, 562-1 e 638-2) as instâncias que sejam pertinentes, tal como li'. ",,,vas colhidas oficiosamente; assim, o juiz que introduz oficiosamente uma prova
pode requerer acareações e contraditas (arts, 640 e 642). Podem também, na prova , III'olllra-sc perante a exigência do contraditório na mesma posição que a partes (TRO-
pericial, arnbas as partes formular quesitos a que os peritos deverão responder (arts. 577-1 , l,hH, Processo, cit., p. 535). Esta derivação do princípio tem sido sempre aplicada
c 578-1), fazer-lhes observações no acto de inspecção (art. 582-4) e pedir-lhes esclare- ',illI ,'.rande rigor e coerência pelo Tribunal Constitucional Federal alemão. No art ., 613,
cimentos (arts. 587-2 e 588). No plano da admissibilidade, a parte contrária pode 1i 1..1'1'11a um meio de prova (a inspecção judicial) cuja produção depende da discri-
opor-se à produção do meio de prova (cf. art. 572-1 para os peritos e art. 636 para ates- 11I11I11I'jçdadcjudicial, consagra-se, ainda que timidamente (<<chamar a atenção»), este
temunha). O princípio do contraditório impõe que sejam restritivamente interpretadas ,II!,'illl dus partes.
as disposições do art. 5-3 do regime anexo ao Dec.-Lei n." 269/98, de 1 de Setembro I'~'~) Por exemplo, a anulabilidade do negócio jurídico (art. 287 CC), a prescrição
(processo da acção declarativa para cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes IIUI. .lO \ ( '( "). a caducidade em matéria de direito disponível (art. 333-2 CC), a excep-
de contrato), na redacção que lhe foi dada pelo Dec.-Lei 11.° J07/2005, de I de Julho, ,:j .. d!' mio L~111l1primenl()cio contrato (art. 428-1 CC), a resolução do contrato (art. 436-1
(' do urt, 12-3 do Dcc.-Lci n." 10812006, de 8 de Junho (regime prorcsxuul cxpcrimcn- "'( '). LI!·!IIII/lI'II";:l.,-:'lI(urt. X4H-1 C( 'l, a usucapião (art, 1292 CC) ou a incompetência rela-
(ul), nu ll11'dida ['111<jlH' conferem :lOjlli/. (1 j1('L!(:r de .onsidcrur t1l'S!lccl'ss:íria a n':l1ovHçtlo 111'11do IlÍhllila! Ihm tlii~ casos do :111. 110 (arl. 109-1) é invocada por autor ou réu, com
1111~l1111
pr\'SI'IH;:1 do dl'pllilllçlllo \'snilo apn'~il-lIladll [lor umn p:II·(I.':1('\]111.'1 ,I
id;1 1'I'llova ,11"\\0 I\!' H'tlplI:,la di! llillh' ,',,"II'1i11i1
) )
116 Os Princípios Gerais Princípio da Equidade 117

~l, de que o tribunal Rode conhecer oficiosamente (23): se nenhuma sibilidade de, antes da decisão, alegarem de direito (arts, 657, 790-1
das partes as tiver suscitado, com concessão à parte contrária do direito c 796-6, respectivamente para o processo ordinário, sumário e suma-
de resposta, o juiz - ou o relator do tribunal de recurso - que nelas rfssimo, em I." instância; arts, 690, 698 e 743, em instância de recurso),
entenda dever basear a decisão, seja mediante o conhecimento do mérito É preciso que, mesmo depois desta alegação, possam fazê-lo ainda
da causa, seja no plano meramente processual, deve previamente convidar quanto a questões de direito novas, isto é, ainda não discutidas no pro-
ambas as artes a sobre elas tomarem posição, só estando dispensado, d; cesso, Mas, ao verificar se uma questão de direito é nova, o tribunal deve
o fazer em casos de mam esta desnecessidade (art. 3-3) (24), . atender ao facto de as partes terem dado ou não cumprimento ao disposto
Não basta, pois, para que esta vertente do priõcípio do contraditó- nos arts, 467-I-d e 488, na parte em que impõem que na petição inicial
rio seja assegurada, que às partes, em igualdade (25), seja dada a pos- se exponham os fundamentos de direito da acção e na contestação os fun-
damentos de direito da defesa,
Estes preceitos, tidos até à revisão de 1995-1996 como meramente
(23) Por exemplo, a nulidade negocial (art, 286 CC), a caducidade em matéria de indicativos, por a falta dessa exposição não ser sancionada (26), passaram,
direito indisponível (art. 333-1 CC), a ilegitimidade duma das partes (arts, 494-e e 495), após a revisão do código, a dever ser interpretados como impondo, res-
o cumprimento da obrigação ou a qualificação dum contrato são questões de que o tri- pectivamente ao autor e ao réu, um ónus, Se não for observado no arti-
bunal pode conhecer independentemente de as partes as terem suscitado, sem prejuízo
de os, fa~t~s em qu~ ~ssentam deverem ser trazidos ao processo de acordo com as regras
do pnncipio dispositivo (infra, 6.4).
sido admitida a presença do Ministério Público na sessão fechada em que os juizes do
, (24) É, por exemplo, manifestamente desnecessário convidar as partes a pronun- Supremo votaram o ac6rdão que decidiu o recurso, sem que ao autor, ex-empregado da
ciarem-se sobre a qualificação como compra e venda, do contrato que integra a causa It', tivesse sido facultada a possibilidade de estar presente, Conquanto a ré fosse repre-
de pedir, se o autor, embora não invocando explicitamente esta qualificação, o descre- ...cntada por advogado e o Ministério Público tivesse estado presente corno defensor da
veu facticamente como tal, em termos inequívocos e não contrariados, de facto nem de II'galidade (cf. arts. 1 e 3-1-f do Estatuto do Ministério Público, aprovado pela Lei
direito, pelo réu, Mas já será necessário o convite se o juiz entender que, não obstante I!." 60/98, de 27 de Agosto; no contencioso administrativo, a presença do Ministério
as partes, explícita ou implicitamente, terem tomado o contrato como de compra e I't'lhlico era expressamente prevista no art. 15 da Lei de Processo nos Tribunais Adrni-
venda ao longo de todo O· processo, a sua qualificação jurídica correcta é de empreitada uisuativos, aprovada pelo Dec-Lei n." 267/85, de 16 de Julho, mas deixou de o ser no
ou, de doação; ou ainda se, concordando embora com a qualificação que as partes lhe 111'111'11 Código de Processo nos Tribunais Administrativos, aprovado pela Lei n." 15/2002,
atribuíram, o juiz se propuser aplicar uma norma jurídica, específica ou genérica, do res- d,' 22 de Fevereiro), entendeu o tribunal que a mera possibilidade, ainda que apenas apa-
pectivo regime (por exemplo, o art. 895 CC ou o art. 280-2 CC) que as partes durante u-nte. de o Ministério Público ter na ocasião reforçado a opinião, que havia já emitido
o processo não tiveram em conta, Desnecessário será também o convite à parte não 110processo, de que a acção era improcedente, sem qualquer possibilidade de resposta
ouvida quando a questão suscitada no último articulado admissível for resolvida a seu dll autor, constituíra violação do princípio do contraditório, Em eontrapartida, o tribu-
favor, ainda que sem a prévia audiência que lhe permitiria responder nos termos do unl entendeu que a intervenção do Ministério Público ao emitir o referido parecer, em
art. 3-4, A falta do convite, quando deva ter lugar, gera nulidade (art. 201), A proibi- 1IlllllH.:ntoposterior ao das alegações das partes e sem conhecimento ou possibilidade de
ção das decisões-surpresa estava há muito expressamente consagrada nos sistemas jurf- 1I':lflosta do autor, não tinha ofendido o mesmo princípio, por nele não ter sido invocado
dicos alemão (§ 278 III ZPO) e francês (art. 16-3 CPC), tendo sido reconhecida a sua 'IlIilll(lIcr fundamento novo, dando assim a entender que o princípio do contraditório
d,ignidade constitucional no Cong,resso de Würtzburg (SCHWAB-GOTrWALD, Yerfassung, tl'l ia sido também aí violado se o Ministério. Público tivesse levantado uma questão de
cu., p, 53), Entre nós, só na revisão de 1995-1996 veio a ser consagrada na lei ordi- dll,'ilo nova, maxime se ela seguidamente constituisse fundamento do acórdão do
Ilflri" de modo inequívoco, sendo que no Projecto Vare/a, embora constasse no elenco ::IIPI'L'JlHI,sem que as partes fossem chamadas a pronunciar-se (ver o art. 334-4, sobre
dos princípios gerais (art, 4-3), era depois contrariada numa série de preceitos (cf. Pare- ,I uurrvcução accssóriu do Ministério Público: infra, 10 (36».
rcr da Comissão de Legislação da Ordem dos Advogados sobre o Projecto de Ctídigo (I") Enquanto a falta total de exposição dos factos que integram a causa de pedir
til' f'I'II(,(',\',\'() Civil, Revista da Ordem dos Advogados, 1990, Hl, ps. 708-769), ;-111 1111I d'.1Ili H excepção constitui, respectivamente, ineptidão da petição inicial (art, 193-2-a)
(l:') I\Jl'I decisão de 20-2-96 do Tribunal Europeu dos Direitos do l lomcm, pmláldl.l 1111 l'IIII::iId~'improcedência da excepção alegada, a falta de exposição dos fundamentos
110 ,'uso 1,0110Machado (prol', 21111)l)<1/4(,f(154(», Portugal toi ('Olldl'll:Jdll 1'111,
"111f'('('lIrw lI>- .tin·ltll lIill' illihl' ",illi:r. dI: seleccionar, interpretar c aplicar livremente a norma jurí-
di' 1l'l'i:il:1 illlt'l'poSlo ,'111pl'tln'S~i()d" trahalho ('111qlll' ('ril r(~11111;1
1'lllpJ('~" I'lihlin\, ICI 1I"'lI Ijlli" jllll',III' ilplidv('1 (:II'\. C>(4),
)
)
1I8 Os Principias Gerais
Princípio da Equidade 119

eulado respectivo, poderá o juiz convidar a parte a suprir a falta, no


leses: não implicando uma identidade formal absoluta de todos os meios,
momento do despacho pré-saneador (art. 508) (26-A). A ínobservãncíu
desse ónus poderá ter como consequência a inaplicabilidade da vertente do
que a diversidade das posições das partes impossibilita (29), exige, porém,
1\ identidade de faculdades e meios de defesa processuais das partes e a
:~
princípio do contraditório ora considerada (27); mas o ónus não pode ser
Mia sujeição a ónus e cominações idênticos, sempre que a sua posição
interpretado como impondo mais do que a indicação da norma jurídica ou
perante o processo é equiparável (30), e um jogo de compensações gera-
do princípio geral de direito tido por aplicável, só a total omissão desta
dor do equilíbrio global do processo, quando a desigualdade objectiva
indicação sendo sancionada, em paralelismo com a situação de falta abso-
inufnseca de certas posições processuais leva a atribuir a uma parte
luta da causa de pedir. Ao juiz compete, quando repute a indicação insu- meios processuais não atribuíveis à outra (31). Próximo do princípio
ficiente, introduzir no processo, antes ou depois da discussão jurídica da constitucional da igualdade e não discriminação (art. 13 CR), o princí-
causa, as questões novas que poderão constituir fundamentação da sentença.
pio da igualdade de armas impõe um «estatuto de igualdade substan-
cial (32) das partes» (art, 3-A) e deve jogar igualmente, no caso de plu-
.3.3. PRINCÍPIO DA IGUALDADE DE ARMAS rnlidade de autores ou de réus Unira, 10.2.2 e 10.2,3), entre os vários
sujeitos litisconsorciados ou coligados (33),
o princípio da igualdade de armas constitui, tal como o do con-
lraditório, manifestação do princípio mais geral da igualdade das partes,
(29) A diferença das posições das partes é mais acentuada na acção executiva, em
que implica a paridade simétrica das suas posições perante o tribu- que o credor (exequente) tem uma natural posição de prevalência sobre o devedor (exe-
nal (28). No que particularmente lhe respeita, impõe o equilíbrio entre "I/lado), visto estar aí em causa a actuação da garantia dum direito subjectivo pré-defi-
as partes ao longo de todo o processo, na perspectiva dos meios pro .. I"do (A acção executiva, 1.5), Mas também na acção declarativa a posição do autor
Implica a utilização de meios, designadamente na conformação do objecto inicial do pro-
.cssuais de que dispõem para apresentar e fazer vingar as respectivas
I'('SSO (infra, 6.3), que o réu não tem, ressalvada sempre a inversão de posições que a
.rconvenção implica, ao passo que o réu está sujeito a cominações, designadamente a
da revelia (supra, 2.3,4), que são inaplicáveis ao autor, embora o desaparecimento do
(26-11) Embora ela não constitua uma irregularidade da petição inicial (A acção
drrlarcuiva, 1J no» rírilu cominatório pleno e a similitude do efeito corninatório serni-pleno da revelia e do
·I·kiln da não impugnação tenham esbatido a diferença.
e) Assim têm julgado os tribunais franceses, quando entendem que a falta de indi-
(30) LEBRE DE FREITAS, A igualdade de armas no direito processual civil portu-
I'II~'fltl do fundamento jurídico da acção implica deixar ao juiz o encargo de o explici-
1:/1,',\, O Direito, 1992, IV, p. 618, ou (em republicação) Estudos. p. 28, Por exemplo,
lar (,1M'QUES f'lORMi\ND, I poteri del giudice e delle parti quanto al [andamento delle pri'
r: cOlllrover:'e, Rivista di diritto processuale, 1988, in, p. 738, crítico, porém, quanto
1\ gL:ncra!tzaçao da solução), Mas, jogando o princípio do contraditório a favor de
/H'i'lInte o ónus de impugnação (arts. 490 e 505) e a proposição da prova (arts, 508-A-2-a
I' ',12-·1), verifica-se identidade de posições das partes, o que permite falar duma igual-
tllllk formal.
!lluhas as partes, a aplicação da comi nação não poderá prejudicar aquela que tiver obser
(31) A acção executiva, 1.5, Como foi dito pela Comissão Europeia dos Direitos
VIIlI()() ónus, pelo que. quando só lima o não observe, o juiz deverá, sendo caso disso
dll l lomcrn, «cada uma das partes deve ter uma possibilidade razoável de expor a sua
(P()f se propor julgar a causa segundo uma perspectiva jurídica diferente da da parte que
('IIIISa uo tribunal em condições que não a coloquem em posição de desvantagem apre-
ol!s\:I'VO\l o ónus), ouvi-Ias a ambas, mas, se não o fizer, só a segunda poderá arguir 11
l'IaVl'I perante a parte contrária» (VELU-ERGEC, La convention, cit., p. 411),
11I1IIdadc cometida (neste sentido é invocável o arr. 203-2). Os tribunais franceses têm
(12) Isto é: não meramente, nem necessariamente, formal, precisamente pela
ÍI'.II:tlIIlI'lIlt· n'l'lIsadt) a aplicação do princípio do contraditório /lOS casos em que o IrI ..
I/III}/I,\',~ibilid(/de de atingir a igualdade formal absoluta das partes, O adjectivo não deve,
hunnl ,~\' lilllil<1 H rectificar a qualificação feita pelas partes (NORMi\ND, idem, p, 73'/),
1'/111:111, SI'!' entendido no sentido dc consagrar o papel assistencial do)uiz, impo,n?o-Ihe
li, qll(' ~() (: de aceitar na medida em que tal não li .arrctc a uplicução duma norma .lI/ri,
I(II!' Il/('slt~ uuxllio II parte que dele se mostre carecida por vra do deficiente exercicio dos
dh'tI dlwrsa (1\1, :Icarrctanuo-a, os eleitos UL:Slanorrnu não S(,;.1I1i SUbslallc!ullll('IIIl' t1iVI'1
I,,'II~, dlit'iltls I' Iuruldadcs processuais, sem prejuízo da actuação do princípio da coo-
.'HI!,rIlI,'; da 110mHI )1I'I'Cedenll'IlIl'IIIl' ('''lIsidl~rl1dl1, clI~n l,,~lt·('111 ql/i' 11 illdi'~"lItrvrl qu,' 11I1!,
l'III',,"II:tIIIl'~, 11('1:11111' IIll!a /UIViI qUI'sl;l" 1ft- dlll'ilo 1"'1,1',111' ("~/i'lI, K), . .
( ", NI'~ll' plano, li i".lIaldad\' I'O),Ill" I absoluta torna-se atingível, pela identi-
(.'/1) 1:1.1(1 hVI,\I,I.MlI, 1.\'IIII/;I"lIí,ril., .11 'IH
dild,' d,,~: po;;i\;t'ws pJ'lln1~;;"'lí, ... (/1>1;vário» SlI,kitos em liusconsórcio ou coligação.
) )

Princípio da Equidade 121


120 Os Princípios Gerais

A Comissão Europeia e o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem cer (38) e outros ainda em que lhe deve ser reconhecido o direito de com-
têm, neste campo, sido confrontados sobretudo com situações de desi- parência (39).
gualdade entre o Ministério Público e uma parte particular, designada-
mente quando a lei ordinária confere ao primeiro poderes processuais que
.'"5. A LICITUDE DA PROVA
a segunda não tem (34).
Em sede de prova, o direito ao processo equitativo implica a inad-
3.4. DIREITO À COMPARÊNCIA PESSOAL missibilidade de meios de prova ilícitos (40), quer o sejam por violarem
direitos fundamentais (41), quer porque se formaram ou obtiveram por
Em casos em que o carácter ou o comportamento pessoal de uma processos ilícitos (42).
das partes contribua directamente para formar a opinião do tribunal
sobre um ponto importante do litígio, o direito ao processo equitativo
.'-6. DEVER DE FUNDAMENTAÇÃO
implica o direito à comparência pessoal da parte a fim de ser ouvida (35).
Este direito a depor não está consagrado no nosso processo contencioso, o dever de fundamentação das decisões decorre directamente do
em que pelo depoimento de parte se visa obter a confissão, isto é, O nrt. 205-1 da Constituição da República (<<asdecisões dos tribunais que não
reconhecimento da realidade de factos desfavoráveis ao declarante
::I'.jamde mero expediente são fundamentadas na forma prevista na lei»).
(art. 352 CC), e não um testemunho da parte (36), de tal modo que a sua
iniciativa cabe ao juiz (art. 552-1), à parte contrária ou a um comparte
(arts, 552-2 e 553-3), mas nunca ao próprio depoente. No entanto, no (8) Assim na regulação do poder paternal (art, 175 OTM). No âmbito da juris-
âmbito da jurisdição voluntária, há processos em que é indispensável LI dh;ilo contenciosa, a parte tem o dever de comparecer, informar e esclarecer quando para
comparência da parte (37), outros em que ela tem o dever de compare- '1\1111é notificada (arts. 266-3 e 519), sem prejuízo da valoração probatória da sua con-
dlil:! quando não comparece, não informa ou não esclarece (art, 357-2 CC).
(39) Assim, não obstante o silêncio da lei, na inibição ou limitação do exercício
d" poder paternal (o art. 197 OTM limita-se a conferir ao juiz o poder de ordenar as dili-
Mas, mesmo assim, pode não o ser. Se, por exemplo, proposta a acção contra vários
)'I'llI'ius que considere necessárias, entre as quais se conta a audição do progenitor a ini-
I·(~IIS.um deles não contestar e a causa de pedir contra ele invocada for diferente da invo-
rudu contra os réus contestantes (art. 485-a), ou se, nenhum contestando, um deles rol' "li ou limitar).
(.10) VELU-ERGEC, La COllvenlion,.cit., ps. 425 e 428. Sobre o tema: ISABEL ALE-
incupaz ou tiver sido citado editalmente e não intervier no processo (arts. 485-& e 483).
1/II'ln:. Provas ilícitas em processo civil, Coimbra, Alrnedina, 1988. Falamos de ili-
as situações processuais dos réus, tal corno se configuram posteriormente ao termo do
, 1/rI,fl' num sentido restrito que não engloba a mera inadmissibilidade do ingresso dum
prazo da contestação, diferem. A concessão de dilações diversas a um e outro réu,
111I111lle prova no processo, por via de restrições provenientes da lei substantiva (ex.:
lidas em conta circunstâncias que lhes são pessoais «LI'!. 252-A). é outro bom exemplo
,li '" \!).1 ec. 394 ec, 395 CC) ou da lei processual (ex.: arts. 632 e 633).
da divergência que pode haver entre igualdade substancial e igualdade formal.
1'") Por exemplo, o direito à imagem, à palavra ou à reserva da intimidade da vida
C'I) VELU-ERGEC, {..LI convenüon, cit., p. 414. Na nossa legislação processunl
J'ill'lIdll \' Iamil iar (art, 26-1 da Constituição da República), posto em causa pela utili-
rivil. existiam algumas desigualdades entre o Ministério Público c a parte particular ti
".,1" .lumn fotografia. uma gravação, um filme, urna carta ou um diário íntimo; o
qUI' 11 revisão de 1995-1996 pôs cobro (cf. LmmE DE FltEITI\S, li igualdade, cit.,
1i1<'11Id,- prova em si é proibido (ISI\BEL ALEXANDRE, Provas ilícitas, cit., L6.5.1.2).
p~:, hIK ..ü22. oll/':SllIllo5, ps, 28-33). Subsiste ainda a do art, 681-4 (I'C .orribilidudc d"
,.1.') ('.:, Msignadamenlc, formado por processo ilícito o depoimento produzido
dl·('is~I!). apL'.SlII'de o Ministério Público ter, expressa ou racit.uncutc. renunciado 1141
"'('111'.',0). ..I, ,11,11"';'" JlII villll'lIL·ia. ou mediante desvio de princípios básicos do procedimento pro-
). ,11''''' :·'\11111os dll (,olllradilúrio. da oralidade ou da ímediação; é proibido o método
(I") YI(I.II-EI((H,(', t a conveution, cit., p. 42.1,
11(,) 1\ ('(II!!iS,I'IIO, ps. :\110·246,
.I, 1'"';'" tI:;.\III·1. 1\1.1'XI\NIlIU', Provas ilícitas, cit., 1.6.5.1.3). É ilicitamente obtido,
(") 1\~;\1I1111:1illll'l;lI\,:l1I "" 11I:lhilit:I\:.III (lUl~, 1)'10,' !I'i', I) \' IUI 1111"1'\';111
{IUI, I'/P ,",i'I'I" '1''''',1 :.ídll n'!',lIlnnlJ .ntc Iormud». o documento que, por exemplo, é subtraído
.Ir IVII'IIIIII·:.:()TM)
d.1 ()'1~:lIli/.II'::ltI '1'1111'1:11 " '.11111' t IJlI1I," lit
) )
122 Os Princípios Gerais Princípio da Equidade 123

Em decorrência do preceito constitucional, a fundamentação nunca Ik despacho de mero expediente (art. 156-4), o dever de fundamentar;
pode, em primeiro lugar, ser dispensada na sentença. Em segundo lugar. apenas a forma do cumprimento desse dever pode por ela ser determi-
dada a importância de que, antes da sentença, se reveste a decisão sobre nado tinfra. nota 45).
a matéria de facto, igualmente se impõe que esta seja fundamentada (43).
Ao declarar os factos que julga provados e os que julga não pro-
vados, o julgador deve analisar criticamente as provas e especificar .\.7. O PRINCíPIO DA PUBLICIDADE
tnotivadamente as que considera decisivas para a sua convicção e as
que têm valor probatório fixado por lei (arts. 653-2 e 659-3) (44). Ao De acordo com o preceito do art. 206 da Constituição da Repú-
aplicar o direito aos factos assim provados, o julgador deve indicar l.lica, repetido no art, 656-1 CPC, as audiências dos tribunais são públi-
interpretar e aplicar as normas jurídicas (art. 659-2) (45). Há assim ('IIS. A exigência consta igualmente do art. 10 da Declaração Universal
lugar a uma dupla fundamentação - de facto e de direito. A falta de dlls Direitos do Homem e do art. 6 da Convenção Europeia dos Direi-
fundamentação da decisão de facto pode, em caso de recurso, dar lugar I!lS do Homem (46),
,'I baixa do processo à I." instância para o efeito de a obter (art. 712-5). Pela publicidade realiza-se a transparência da função jurisdicional,
A falta de fundamentação da sentença gera nulidade (art. 668-1-b). 11 rim de evitar o arbítrio do secretismo e permitir o controlo público
Mas - e em terceiro lugar - o preceito constitucional vai mais da boa administração da justiça. Razões particulares do caso con-
longe, estendendo-se a qualquer decisão duma controvérsia ou dúvida ,'\'I'lu podem, porém, permitir excepções: o tribunal pode afastar a
levantada (art. 158-1). É elucidativo que, na revisão de 1997, se haja publicidade da audiência, desde que o faça fundamentadamente e para
substituído «nos casos e nos termos previstos na lei» por «na forma , .ilvaguarda da dignidade das pessoas e da moral pública ou para
prevista na lei»: a lei ordinária não pode excluir em caso algum, fora O r.uuntir o seu normal funcionamento. Estas excepções, consagradas na
( '1 mstituição e repetidas na lei ordinária, conformam-se com o art. 6
til! Convenção Europeia dos Direitos do Homem (47); mas o Tribunal

(4:1) ALEXANDRE PESSOA VAZ, Justiça célere, econômica e segura, Revista du


Ordem dos Advogados, J 973, I, p. l75.
(4") Vejam-se os arts. 358-1, 358-2, 371-1 e 376-1 do Código Civil, quanto aos
meios cujo valor probatório é imposto por lei, e os arts. 358-3, 358-4, 366, 389 e 3%, (1(,) Em qualquer das convenções, o requisito da publicidade é consagrado para
1:1I1Ih6111do Código Civil, quanto àqueles eujo valor probatório passa pela formação dll Ii "Ifi(,\ls~ão (e instrução) da causa e para o acta de julgamento. A referência constitu-
livre convicção judicial (infra, 9.3), I 11111:"ils «audiências dos tribunais» abrange quer a instrução e discussão quer o julga-
("~) No processo surnaríssimo, dada a sua simplicidade, a fundamentação é sucintu lIH 1111'(cf, a epígrafe do capítulo IV do título 11 do CPC, antes do art. 646), que se apre-
(urt. 796-7; o mesmo no art, 4-7 do regime anexo ao Dec.-Lei n." 269/98, de 1 ele Selem" ',,'111"'11 concentrados numa só sessão ou em sessões contínuas da mesma audiência
lnu, rcpubiicado em anexo ao Dec.-Lei n." 107/2005, de 1 de Julho; ver também ti l/fl{/II, 1),2); mas não impede que a sentença seja, em processo ordinário e sumário (não
urt. 1.5, n.:' 4 e 5, do Dec.-Lei n." 108/2006, ele 8 de Junho, relativo ao regime preces- i 'li l"IIt"'sso sumarlssimo: art. 796-7), normalmente escrita e seguidamente notificada
1;\lill experimental); em recurso é consentido, ao rclator que dê decisão sumária, que ~,,' ,,,II~.. (,~i')-4 c 685, n."' .I e 2), o mesmo acontecendo com os acórdãos dos tribunais de
lituiu :'1 remissão para decisões precedentes, quando a questão a decidir ror simples nu I, I 111:,0, () Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, confrontado com normas inter-
I] rcrurxo munifcstamcnto infundado (art. 705). e é conscruída ~ conferência li silllpil'l' ",,', l,f'!lIl'HIHlllcs de outros Estados europeus, tem admitido que é compatível com a
!"I'lIli::,,;!o (1;lla IlS l'ulld:III1Cnlos da 1iL'l'is:IO Impugnada, quando esta s ~ill intciranu-uu- 1''''''''11''';\11 () depósito da decisão na secretaria, por forma a poder ser aí consultada
('ollJ'inlladil, ini-lnstvc qua/lto uos luudumcutox (urt. 71 :,.,.'\'1. hllldullwnla~'íies d 'SIL' 11/,,, I ", I" (l1I1i1it'o (VnLII-ERnEC, La. convention, cit., p. 434). Veja-se ainda o art. 15-3 do
\t'1I1 :,i<lo \'llllsidnadils ~;lll'icil'lll!'~ pl'iil ('llIui~:;;1(1 (',lll'Ojlcill cios I Ij"'llo,'; <I•• 11""11"111,1)1l!' 11" I ri 11" I OK/2006 (regime processual experimental).
1\'111, !lll ÍIIVI'I;, ('Xil',ido IlIlIa 1'11I1(/allJtlllil\';lll jll\Ti:;a qtl;l!lll(l •.:,I~ 1'111('all:::I 11111(ll'ri ,'li •• (li I .. () lIn's~,o ;1 S;t1:1 de audiência pode ser interdito à imprensa e ao público
dI' 11'1:lIlIhl!',llt nu (' ill\"II':ld" 111\111I1',illl"'lllo 1(111',;1111'11'1111<1".1".
l (- ',111,'I·plt\'..J dI' iul lu .tlflllllk 1\ 1,,(;t1ídlllll' 11111111111 parte do processo para salvaguarda da moral, da ordem
1'1"'011 adl'II:,litl(VIIIII'liloll,I'i/"I/I"'I/IIf1I1,\II,I' .11"1 n:H'illnal dn ~;Ill'i('da(lL' dcmocrútica, quando os interesses dos
1,,,1<111,,01] di! :;1'1',111"111<;:1
) ~
I,

124 Os Princípios Gerais l:


Europeu dos Direitos do Homem e a doutrina têm entendido que só são
\
admitidas quanto à discussão (e instrução) da causa, mas não quanto
à pronúncia do julgamento, cuja publicidade reveste carácter abso-
luto (48).
O princípio da publicidade manifesta-se ainda no direito de acesso
I
r,
ao processo, isto é, de o examinar e consultar na secretaria e de obter 4.
cópias ou certidões de quaisquer peças nele incorporadas, direito esse que
~
o art. 167-2 concede, para além das partes, a qualquer pessoa capaz de o PRAZO RAZOÁVEL
exercer o mandato judicial (cf. arts. 32, n.OS 1 e 2, e 34) e a quem nisso
revele interesse atendível (49). Embora sem consagração constitucio-
nal, esta derivação do princípio da publicidade obedece à mesma ideia O entendimento do direito de acesso à justiça como direito efectivo
i
de transparência da função jurisdicional. a jurisdição implica ainda que a resposta judicial à pretensão deduzida
u-nha lugar em prazo razoável, pois uma decisão ou uma providência exe- I'
rutiva tardia pode equivaler à denegação de justiça (I). Embora se trate
pn:valentemente de atender ao interesse do autor (Ou. réu reconvinte), tam-
1"'111 o interesse do réu em não ver indevidamente prolongada uma situa-
1,'!lO ele indefinição (ou ameaça) é atendível (2).
Por isso, o art. 6-1 da Convenção Europeia dos Direitos do Homem
,'\ igc que a causa proposta seja examinada em prazo razoável (supra,
, (I)), preceito que, introduzido no CPC na revisão de 1995-1996
1111'1. 2-1 (3)), veio a ser consagrado no art. 20-4 da Constituição da

(') Constitui denegação de justiça a falta de resposta à pretensão, isto é, na acção


dl"I'lilraliva a não pronúncia da decisão de mérito e na acção executiva a não efectiva-
'. :'>1 tlus providências executivas, quando se verifiquem os pressupostos processuais,
1I I .llumal não pode abster-se de julgar (art. 8-1 CC), incorrendo os magistrados que dene-
"111'111 justiça em responsabilidade civil e, eventualmente, em responsabilidade criminal
1.1\1. :i.;\ da Lei n." 21185, de 30 de Julho: Estatuto dos Magistrados Judiciais). Consi-
111mores ou a protecção da vida privada das partes o exijam ou, na medida que o (fi ,li ll\dllS as circunstâncias do caso, uma sentença proferida ou um pagamento executivo
hunal julgue estritamente necessária, quando circunstâncias especiais de publicidmh- I !.'I'llIiU.lo muito tempo depois de proposta a acção pode ter para o autor resultado prá-
possam prejudicar os interesses da justiça». li' q ~iI'ltl\'lh;\IIte à pura ausência de decisão ou satisfação.
(48) VELu-ERGEC, La convention, cit., p. 435. i.") A afirmação tem sido feita quanto ao arguido em processo crime (VELU-ERGEC,
(49) O acesso aos autos é limitado quando a divulgação do seu conteúdo pOS~lIellll J d ",JIII'I'I/I;OIl, cit., p. 438), mas não deixa de ter aplicação no processo civil, maxime
Sai dano à dignidade das pessoas, à intimidade da vida privada ou Familiar ou 1\ Illtll :11 '111I1111111 ('illllra o réu tenha sido ordenada uma providência cautelar (que se mantém até
pública, ou pôr em causa a eficácia da decisão a proferir (art, 168-1). Os pr(JCI'.~~n!i 110' ",,',"IIII'II,;a drl'initiva, ou 11penhora na execução: supra, 2.3.3) ou efectuada uma penhora.
anulação de casamento, divórcio, separação de pessoas e bens e cstubclccinu-ruo ,"1 I I) "'/\ protecção jurídica através dos tribunais implica o direito de obter, em
lmpugnação de paternidade constituem exemplo da primeira siltlil~[io I' OH (l!'lI("'dil'I<'11 /"01 " 1,1.:",il·'{ 11I11a decisão [udlciul que aprecie, com força de caso julgado, a preteri-
11l,~ caurclarcs pendentes em que o requerido não deva ser ouvido cxcmpl« da :,\,!'lllld,1 '';1'' 1"I',ltI:tlllI"III~~ lbluzidll ('111jllí/o, Ilt'III corno a possibilidade de a fazer executar»,
Iltll. 1(,1{ 2). ,,11'."1v:\tu'j'l dI> 1'1;1/11lal.lui, .•.1 "1'\'1' 11" 1111'."1tanto na acção declarativa como na
1
126 Os Princtplos Gerais o Prazo Razoável 127

República em 1997 (<<Todostêm direito a que uma causa em que inter- de indemnizar (9), é indiferente que para tal tenha contribuído apenas o
venham seja objecto de decisão em prazo razoável»). tribunal ou também o poder legislativo ou administrativo (10).
O prazo razoável conta, em processo civil (4), desde a data da pro- A duração dos processos judiciais nos tribunais portugueses ultra-
positura da acção até ao termo do processo, mas pode mostrar-se exce- passa frequentemente o prazo razoável. Está, porém, hoje geralmente
dido no decurso deste, nomeadamente quando ele se mantenha por um espalhada a compreensão da necessidade de o respeitar. A progressiva
período significativo completamente parado (5), A sua duração só em valoração da celeridade processual não deve, porém, levar a subalterni-
concreto pode ser apreciada, tidas em conta as circunstâncias do caso, zur, como por vezes entre nós se verifica, a necessária maturação e a qua-
sendo de atender, designadamente, à complexidade da causa (6) aos Iidade da decisão de mérito, com o inerente desvio da função jurisdi-
interessses em jogo C) e à contribuição que as partes possam ter dado rional,
para a demora do processo (8), À conclusão sobre a imputabilidade ao
Estado do excesso de prazo, com a consequente constituição da obrigação

acção executiva, Designadamenjs, a Comissão Europeia dos Direitos do Homem já se


pronunciou no sentido de ter sido violada a Convenção pelo Tribunal de Família de (9) O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem usa fixar indemnizações que,
Lisboa num caso de execução por alimentos devidos a menor (decisão de 12-10-94 sulvo casos excepcionais, são pouco mais que simbólicas, No plano interno, o Estado
relativa à queixa 19,980/92: Abel Frazão contra Portugal), ' l'ortuguês sofreu, em 7-3-89 e em 15-10-98, condenações em acções de indemnização
('I) Em sede de direito administrativo, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem movidas nos tribunais administrativos (ac, do Supremo Tribunal Administrativo rela-
tem-no contado desde o momento em que o queixoso se opõe ao acta administrativo, l'ldo por ANTÓNIO FERNANDES SAMAGAIO, Sub Judice, I, p. 43, e Revista de Legislação
IlH;SIllO que ainda em instância graciosa (VELU-ERGEC, La convention, cit., p. 439), " di' Jurisprudência, 123, p, 293, com anotação de [Gomes Canotilho]; ac. do Supremo
(5) Assim, o Estado Português foi condenado, no caso Guincho, por o acta de cita- 'l'tibunal Administrativo relatado por JOAQUIM CORREIA DE LIMA, Cadernos de Justiça
\~~iodo réu só ter tido lugar mais de 6 meses após a propositura da acção e, no caso .vdniinistrativa, 17, p, 17, com anotação de JOÃo CAUl'ERS), condenações essas que têm
Ilaraona, por o processo ter aguardado mais de J ano a contestação do Ministério ',itlo seguidas por outras (Joáo DA SILVA MIGUEL, Comentário à deisão de 22-5-2003 do
Público (JOAQUIM PIRES DE LIMA, Considerações acerca do direito de justiça em prazo lrllnutal Europeu dos Direitos do Homem, Revista do Ministério Público, 95, p. 116),
razoável, Revista da Ordem dos Advogados, 1990, Ill, ps, 690-692), i) uc. do Tribunal dos Conflitos de 29-6-2005, relatado por ALDERTO AUGUSTO Ou-
,(~) O número e a complexidade das questões de facto, a dificuldade das questões VfiWt\, proc, 02/05, www.dgsi.ptljcon.nsf. julgou ser competente o tribunal judicial para
<Iç direito, o volume do processo, a quantidade de provas a produzir devem ser tomadas 11Ilrçao de indemnização fundada no atraso do juiz do tribunal judicial no proferimento
"111conta no cômputo do prazo (VELU-ERGEC, La convention, cit., p. 444), Mas, óbvia- dtl sl'l\lença, Após longo período em que admitiu a sua competência para o conhecimento
mente, não hü que atender à complexidade da causa quando o atraso respeite a um acto IlIlI'dialO da violação da Convenção por se exceder o prazo razoável para a decisão, o
",li uma rase processual em que ela não tenha incidência (PIRES DE LIMA, Considerações, 'l'lÍllIlIlal Europeu dos Direitos do Homem passou a exigir o prévio esgotamento dos meios
cu., p, úR2),
11I11'1'110S, nos lermos do art. 35-1 da Convenção, por entender que Portugal assegura
(I) ,O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem tem exigido lU11aespecial diligência Iltlk à. vflima do atraso a possibilidade de reparação nos seus tribunais, Veja-se a deci-
1'111uuucnus de estado e de capacidade das pessoas, bem como de contrato de trabalho, ',1111de 22-5-2003, no processo Silva Torrado contra Portugal (Revista do Ministério
l'III"lIdt'lIdo nomcndumcnrc que os processos de rcgulação do poder paternal c os que Vi~,1I11 t'ublico cilada),
1\ I'l'integru<,:ão do trabalhador no local de trabalho ou a sua indemnização por rescisão do (lO) Uma lei processual pouco adequada à eficiência da justiça ou o mau estado
mlltl'al(l devem ler tratamento urgente (VELU-ERGEC, La convcntion, cit., p, 444), dll tll'J',llllii",ação judiciária não afastam a violação da Convenção Europeia dos Direitos
, (M? 00 ,queixoso exige o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem que tcnhu ,1'1 I 111mcm , sendo que a quali ficação do excesso de prazo razoável, tal como as outras
lido ,,<llIlgl'nl'l:\ 11111'111:11" na :1l'tiva,;ão do pmccssu, l1fio llu: sendo illlpllt;IVeJ ;1 (bUlira '1IIItlirít:II~:ne~ necessárias à aplicação da Convenção, se fazem autonomamente (VELU-
d,', 1111,'111,'dll l',wrci('io dI' din'illls 1111po,It'rt'~; prlll' 'sSII<lis, ,'1l111t1lJ tlr H'l'llITn IlU de Sll~ í;,'!iil!', l,tI convcntion, cit., ps, 447 e 55), O facto de a legislação nacional conceder
rluu ill,'itl"JJII',~, :WIII PIt',il,lifll d,', :.(' (\t'I"'1I1 11i/-,,;,r;1d •.•·is,·••.:, ('111I"llfl) r:\",Il!ÍVt'I, 11 (\:!lII''' "" MIIII:,I,'I itl I't'ihlico longos prazos para contestar não dispensa ° juiz de julgar dentro
1">11'./.'«111'1'1\'1111'111"tll'''''IItIt. 1"11)I'"dl'r ""111;11 PIII:! " Iljllll:IIII1'III" tllI ,'.\,',':,:, •• ti!; J1I'11ZI' .1., 1"11/11ra/tl;'iwl (r:t~(l 1'\:11':1011:.1: decisão do Tribunal Europeu de 8-7-87, Documenta-
1':11,111.1"1'111:111 l utul ti •• 1'ltI, ,",'.11 (V,! 11 1':,(<11(",1"/1"'1/1'("/1/1"/.1'11 , I'~, ,101',.1,1'('1, ~"" .' ,/i/";/f' /'tI/III'I/I'IIt!tI, 20, p, 40),
) )

ri
j,
I,
5.

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
DO CONTEÚDO DA DECISÃO

JURA NOVJT CURJA

Decorre do art. 203 da Constituição da República a sujeição dos tri-


hunais à lei, sem prejuízo do juízo de constitucionalidade da norma
IlIfÍdica que lhes compete formular (art. 204 da Constituição da Repú-
Iiliru). Tem, por isso, o juiz, na decisão final, de «indicar, interpretar e
Ilpli ·ar as normas jurídicas correspondentes» aos factos previamente
I .msiderados provados (art. 659-2).
Este princípio, igualmente espelhado no art. 202-2 da Constituição
II'
dll República (<<Naadministração da justiça incumbe aos tribunais asse-
/'\11 ar a defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cida-

II.III~;"), sofre a excepção decorrente da admissão do julgamento de equi-


,1,liI(· (supra, 1.3.4) e permite, em certas circunstâncias, a remissão, pelas
1'.IIII·S, para o direito estrangeiro (cf. art. 41 CC), mas não a remissão para
'1I11m quadro de princípios de decisão (J).
Na indagação, interpretação e aplicação das normas jurídicas, o
l\til'. não está sujeito às alegações das partes (art, 664), o que usa expri-
1I111:ie com o brocardo latino jura novit eu ria.

I':sle conhecimento oficioso da norma jurídica tem como limite os


I ,1',llS em que a lei substantiva torna dependente da vontade do interes-
. lido li invocação dum direito ou duma excepção (2), bem como aque-

(I) ('I\S'I'I(() cit., 1, p. 202 e notas 195 e 196 (<<nãoé possível a soli-
MENDL'.~. DPC,
I IIlh, ,llI dr jlllr.HilH:nln por normas de direito antigo, pela ética de certa religião, etc.»).
ri) Vrr. 1\ (~Xl'Cp~u\J do último. os exemplos supra, 3 (22). Cf art. 4-96.
)
130 Os Princípios Gerais Princípio da Legalidade do Conteúdo da Decisão 131

les em que a lei processual coloca na exclusiva disponibilidade da parte DU menos directa a relação que ocorra entre essa questão e a pretensão
a invocação da falta dum pressuposto (art. 495), do vício dum acto pro- ou o thema decidendum (4).
cessual (art, 203) ou da extinção dos efeitos dum acto (cf. art. 847-1, para Podem as partes, no âmbito do direito disponível, dispor das situa-
a penhora). Trata-se de casos em que a declaração do interessado cons- ções jurídicas objecto da pretensão, mediante a celebração de, negócios
titui um elemento da previsão da norma, sem o qual o seu efeito não se de auto-composição do litígio (supra, 1.3.3). Poderão também, dentro do
produz. mesmo âmbito, dispor dos fundamentos de direito material da deci- n
Por outro lado, o conhecimento oficioso da norma jurídica está são? Poderão, por exemplo, as partes acordar em terem por anulado um
dependente da introdução na causa dos factos aos quais o tribunal a contrato, não obstante não se verificarem os pressupostos de facto da anu-
aplica, devendo sempre distinguir-se o plano dos factos, em que vigora, lnbilidade, ou em terem por válido um negócio jurídico nulo por falta de
mesmo em matéria de direito processual (3), o princípio dispositivo forma imposta por lei (6)? Poderá, ainda, o réu reconhecer o direito de
(infra, 6.4.1), e o plano do direito, em que a soberania pertence ao juiz, «omproptiedade do autor duma acção de preferência na compra da
sem prejuízo ainda, no que ao direito material se refere, de o conheci- quota-parte dum bem móvel ou, em acção de reivindicação, a dívida
mento oficioso se circunscrever no domínio definido pelo objecto do tlo preço da compra e venda duma coisa vendida com reserva de pro-
processo (infra, 6.3). priedade até ao pagamento integral do preço (1)?
No sentido da disponibilidade da solução das questões jurídicas
prejudiciais, por acordo das partes ou por reconhecimento unilateral de
5.2. A QUESTÃO JURÍDICA PREJUDICIAL lima delas, argumenta-se com a supressão de parte do litígio que o

É controvertido na doutrina o problema de saber se, não obstante


o princípio da legalidade do conteúdo da decisão, as partes podem dis- (4) Constitui questão incidental a que não faz parte do encadeado das questões logi-
por sobre a solução de questões jurídicas prejudiciais. «umcnte necessárias à resolução do pleito, tal como inicialmente ele é desenhado pelas
É questão jurídica prejudicial toda aquela cuja solução constitua 1'lll'\es,revestindo assim carácter eventual e dando lugar a incidentes da instância (CAS-
1110 MENDES,Limites objectivos do caso julgado, Lisboa, Ática, 1968, p. 198; A COII-
pressuposto necessário da decisão de mérito, quer esta necessidade /I,\'.It/IJ.p. 438 (87); supra, 1.2.1). Mas a questão incidental que esteja em correlação lógica
resulte da configuração da causa de pedir, quer da arguição ou existên- IIITcssária com o thema decidendum, tal como ele se apresenta ao juiz no filial (é o que
cia duma excepção (peremptória ou dilatória), quer ainda do objecto de 11i'lIl1tccecom a questão da sucessão duma das partes, falecida na pendência da causa),
incidentes em correlação lógica com o objecto do processo, e seja mais '1lIlsLitui igualmente uma questão prejudicial, sem prejuízo da possibilidade de qual-
I/III'fquestão incidental passar a integrar a pretensão ou thema decidendum quando as
I'I\IICSformulam, quanto a ela, um pedido de declaração incidental, nos termos do
.1)1. %-2 (CASTROMENDES,cit., ps. 216-220; A falsidade, ps. 209-210). A questão pIe-
(3) O tribunal conhece, por exemplo, oficiosamente da excepção do caso julgado [u.liciul pode constituir objecto de causa prejudicial (infra, 6 (16».
(arts. 494-i e 495), mas, a menos que a causa anterior tenha corrido no mesmo tribunal (5) Embora constituam questões prejudiciais. as excepções dilatórias de que o
(infra. 6.4.2), esse conhecimento pressupõe que as partes tenham alegado, na sua mate- tuhunul conhece oficiosamente não estão na disponibilidade das partes, sem prejuízo de, ~
J
rialidade, o facto de ter sido proferida, em causa idêntica, a decisão insusceptível de ser "111 ulgurna medida, estas poderem acordar, nos termos gerais. na prova dos factos em ~.
repetida. Às partes cabe o quase-monopólio da alegação dos factos; <10 juiz cabe 11 '1li1'i-lus se fundem (A confissão, p. 144). jl
monopólio da qualificação jurídica. É, porém, admissível a utilização. pelas partes. 110 li,) Arribas as questões se levantaram' na jurisprudência alemã, tendo conhecido
Ilt-I'is\ic~opostas do Bundesgerichtshof - no sentido negativo no primeiro caso e no sen-
Ili
alegarem de facto, de conceitos de direito da linguagem corrente (eemprcstci», «vendi»,
«arrcndei»), com a condição de que não incidam sobre o ponto dúbio do lilfgio (o «th .ruu
dccidcndum»), equivalendo então à descrição dos vários elementos típicos do Iacto cun-
crcto em causa (CASTROMfiNDES,Do conceito, cit., ps. 574 c 588; BWtvll;Vl'lt, '1h·;1
I'nn('S,vr('c"t, cit., [1, ~5(1: 11 (//\'1111 declarativa, 13.2.2),
I idt>"ilfilJllal

lj<'. ,11·I·I,U).
i VII nu segundo (A confissão. p. 50 (21».
(') It confissão, p. 437. A questão da dispoti.ibilidade da solução das questões jurí-
di, ,,~,pnjudi 'illIS \,~;ilí. soh o ângulo do reconhecimento do direito, tratada nesta obra
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11
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Princípio da Legalidade do Conteúdo da Decisão 133 I,
132 Os Princlpios Gerais
~
acordo ou o reconhecimento implica (8), bem como com a possibili- tando-se a fixar um pressuposto da decisão final, não tem o mesmo
alcance de acto de direito substantivo nem, consequentemente, a mesma I'
dade que, por via do princípio da autonomia da vontade, as partes têm
de extrajudicialmente dispor dos seus direitos (9), quando não com li virtualidade de formação de caso julgado material: a decisão das ques-
ideia de que, na falta duma norma permissiva expressa, vigora, no direito tões prejudiciais é abrangida pelo caso julgado apenas enquanto funda-
processual como no direito privado, o princípio in dubio pro libertate, mento da sentença e não enquanto fundamento de outras pretensões (13).
corno presunção geral de liberdade da pessoa jurídica (10). Ora não há no nosso direito processual (14) disposição alguma de
Em contrário, porém, argumenta-se com a necessidade de adequa- onde se retire a possibilidade de as partes disporem sobre a solução de
ção da sentença, mediante a sua conformidade com o direito mate- questões prejudiciais. Pelo contrário, o art. 2-1 do Dec.-Lei n." 211/91,
rial (11), e com a instrumentalidade do processo civil, que não será de de 14 de Junho, ao admitir petição conjunta em que as partes acordem,
pôr em causa em casos em que o acto de disposição das partes, ao total ou parcialmente, sobre os factos da causa (infra, 6.5), limita-se,
invés do que acontece quando dispõem das situações jurídicas objecto quanto às questões de direito, a permitir que as pmtes sobre elas tomem
LIa pretensão, não leva mais rapidamente ao termo do processo (12). posição (conjunta ou em oposição). O princípio jura novit curia man-
Da admissibilidade dos negócios de auto-composição do litígio não tém, pois, aqui plena eficácia (15).
pode tirar-se a admissibilidade da disposição da solução das questões jurí-
dicas prejudiciais.
A desistência do pedido, a confissão do pedido e a transacção cons-
Iituern negócios jurídicos de direito material e por isso a sentença qu '
as homologa tem eficácia de caso julgado material. Mas o acordo ou
o reconhecimento que verse sobre uma questão jurídica prejudicial, limi-

(K) A decisão jurídica da causa só interessa na medida em que há litígio entre us


partes; o acordo sobre uma situação jurídica prejudicial suprime, quanto a ela, o litígio.
subtruindo-a ao juízo do tribunal (FRITZ BAUR, vereinbarungen der Parteien über prã
jllclddle Reclüsverhdltnisse im Zivilprozess, Festschrift für Eduard Bõtticher, Bcr (13) Quando, em acção que tenha por único objecto a obrigação de pagar o preço,
li", 1<)(,<). o juiz julga nulo o contrato de compra e venda de que ela emergeria, a nulidade fica
('J) Dentro e fora do processo, as partes devem ter idênticas faculdades de dis .. assente apenas enquanto fundamento da decisão de absolvição do réu do pedido de
J1(1si~'il(J (WOI.,FGANG GRUNSKY,Grundlagen, cit., ps, 19-23), Note-se, perante os exem condenação no pagamento da dívida peticionada, não podendo ser invocada, com força
pios dados. que o acordo das partes sobre a anulação dum contrato é possível (art. 291·1 ele caso julgado, em acção subsequente em que o vendedor pretenda, por exemplo,
( '( 'I, que a celebração dum novo negócio jurídico pode ter, nas relações entre as pUI' obter do comprador uma indemnização por ter dado causa à nulidade, CASTROMENDES
IL'~,efeitos idênticos aos que teria o negócio (nulo) anterior, se fosse válido, que o rala, a propósito, de caso julgado relativo, em contraposição ao caso julgado absol~1I0
din'i(n de propriedade ou de compropriedade é transmissível (art, 1316 CC) e que a COJ)· susceptível. de ser produzido pela pronúncia do tribunal sobre a pretensão que consntui
(1'HI'\'lío dllllla dívida, com eleitos tumbérn idênticos aos do reconhecimento duma dtvldu objecto do processo (Limites objectivos, cit., ps. 152-157).
Ulil<-I iOI. (- igualmente admissivel. (14) J\o invés, no direito francês é expressamente admitido o acordo das partes
(111) l'I\TEll SCHl.OSSER, Einverstandliclies Patteihandeln, cit., ps. 1-3 c 33-31~. sobre lundarncntos de direito, com a conscquente circunscrição do objecto do debate jurí-
(11) 1.111 IWI<1 l'I'\SHMEY1~R. Pa/'/I'il'I'Il'iIJh'//'/,,'gI'/1 iibr« (J/'iU"tli;:id/,' NI'("ft(,n'I'I'hII/1 dico (urtx, 12 ' 5H tlll 1I0VO Cf'(").
1/1.\\\/', Zeltsl:!lI'ift. Iür ZiyilpI'OI,cs~. Wi (I 'i72L p:" 212 c 217: [lANS 1'111I\1)(([('11 (11\(11,. , (1:1) /I cnndllsilP do texto .ü". impede a eficácia do acto de reconhecimento
Will,·/I.I'lIiill/.~(·1 ln-] J'I'tI;:,.S,\'llIIlItI"I/I.~('II, AI'i'lllv J'nl' di,' ,'lvíli:lI,i:idll~ Pru: is, 1'12 (J1)nJ. dum din'ílll pi'l'jlldklnl da parI!' ,'''"11 ill 1:\ "" /lII'J'() plau« dos [actos - como confissão
Jl'. \·1" \~n. (urt. \~7('(') "" ,""1'" l1H"oIl1,,;:I •• (11I1 ,I',K ('('l, consoante nele seja ou não feita rncn-
(I~ I IliV;'·~·II'),I'II. /',I/'ldl"'I"III/I"/IIIIII"", 1'11,»:, ;'.') ,}.',(" .
dio ali:; 1;,,'1••,'. "lIl·.lllillivlI.', d,··.·,,·1I1I1'iI" (J\rHIINI','j VAI;J'.I.A.MIIIIIilll, cit., p, 5:17 (:I»,
)

6.
PRINCÍPIO DISPOSITIVO

6.1. DISPONIBILIDADE DA TUTELA JURISDICIONAL E


RESPONSABILIDADE PELA MATÉRIA DE FACTO

o processo civil tem na sua base um conflito de interesses priva-


dos, por objecto pretensões formuladas com fundamento no direito pri-
vado (I) e por função a composição daquele conflito mediante a garan-
tia dos direitos e interesses tutelados por normas de direito privado (2),
No âmbito do direito privado, há zonas de direito indisponível,
maxime no ramo do direito de família, Mas, fora dessas zonas, domina
o princípio da autonomia da vontade, caracterizado pela regulação dos
interesses em jogo por acta dos próprios titulares,
Natural é, pois, que, no âmbito da aplicação do direito disponível,
se tenda a pensar o processo civil como coutada das partes, que melhor
do que ninguém podem orientar, em juízo como fora dele, a prossecução
dos seus interesses, Nesta concepção liberal do processo civil, dominante
no século XIX (3), o juiz era reduzido ao papel de árbitro dum jogo que,
com determinadas regras, se desenrolava entre as partes e o princípio dis-
positivo exprimia a possibilidade que estas tinham de dispor do pro-
cesso, em termos equivalentes àqueles em que lhes era lícito dispor da
relação jurídica material (4),

(I) () próprio Estado. as rcuiõcs autónomas c ~ISautarquias locais, representadas pelo


Millisl':rin I'tíhlk •• (;111.:1-1-,' do !o:slallllo do Ministcrio Público), apresentam-se no processo
civil .'tllll" .'.llj,'lln:, ,lo- 11'I;to;•••.:, d,' d.\(,illl privado, COIllO tal dcxtituidox de jus imperii.
(') li" "t'III:!!11 :,,' 1.1" ':I. "', ',I',"', ,'I)' '1'1(' ,. I. illIlIl:.tI 1111",;.::":'.1111110;1 ,'qui"ad.',
(') ''''1',., \.tll'h'lllo ",,1,,- ""1.,1',, .1', ,,1 •• ,.',.11' V"N
111111"'111,",1",,111\, [',\i'I'.IIII,1 " \\1",'1\
(I) I ',1.1 I '1I1I\.Ikl\l I.' I .u nr l, I, 11.1 1'(11 11111.1 I ,H 11'11\1' 11\.11',1,'11'1/1 •• ••• ·'1111'1.1 .\ 4pl.d

li 1"111\ qht' .1.1 ,111111111dllLI .LI \illil.lltl I \, j'"II. 'JtlP di'j1I1"III'" I pllntu ,III! .tlllllll', 11.\
Os Principias Gerais
)
Princípio Dispositivo 137

Es~a ~o~cepção ~stá hoje ultrapassada por uma outra que passa
como, muito mitigadamente, sobre a sua suspensão (11). É, grosso modo,
pd~ atnbUlçao.de mais poderes ao julgador e pela exigência da coope-
redutível à ideia de disponibilidade da tutela jurisdicional (12), por sua vez
racao entre o tnbunal e as partes, como meios preferenciais para aIcan-
distinguível em disponibilidade da instância em si mesm.a (dis.p~~ibi1idade
car .a. verdade. (5) e, com base nela, realizar o direito. O princípio dis-
do início, do termo e da suspensão do processo) e disponibilidade da
POSI.tIVO contmua, porém, a constituir um dos princípios basilares do
direito processual civil. conformação da instância (disponibilidade do objecto e das partes).
O princípio da controvérsia traduz-se na liberdade de alegar os fac-
. Nele se distinguem, rigorosamente, dois princípios processuais: o
tos destinados a constituir fundamento da decisão, na de acordar em
princrpíodisposi~iv~ propriamente dito (Dispositionsmaxime) e o prin-
crpio da controversla (Verhandlungsmaxime) (6). dá-los por assentes e, em certa medida, na iniciativa da prova dos qu~
forem controvertidos. É, grosso modo, redutível à ideia de responsabi-
O princípio dispositivo (stricto sensu] traduz-se na liberdade de deci-
lidade pelo material fâctico da causa.
,:to sobre a instauração do processo (1), sobre a conformação do seu
objecto (8) e das partes ria causa (9) e sobre o termo do processo (10), assim
6.2. A DISPONIBILIDADE DA INSTÂNCIA
Ilhcrdade de exercício e de disposição dos direitos privados. Por todos: GRUNSKY
Ao autor cabe solicitar a tutela jurisdicional, sem que o tribunal
(;ml/r/lagen, cit., ps. l8-20; lÜRGEN COSTEDE.Scheinprozesse, cit., p. 67; Mi\NFREI;
WIlI,I'. Das Anerkelllztnis, cit., ps. 58-59; WOLFGANGBREHM,Bindunp , cit., ps. 32-34 e 46, se lhe possa substituir neste impulso processual inicial (art. 3-.1):
(5)_ Durante muito tempo, a doutrina, ao contrapor as novas concepções 1i velha A partir da proposição (ali propositura) da acção, cab~ ao JlIlz~ro-
,'Ol]('l'pçao liberal d.o processo, utilizou os conceitos de verdade material (extraproces- videnciar pelo andamento do processo, mas podem preceitos especiais
;.11:\1)e de verdade fonnal (intraprocessual), como se pode ver em MANUEL DE ANDRADE
Nu\'!)",\', cit., p. 360. A verdade, como relação de adequação do intelecto realidade é' à
impor às partes (ao autor aLI ao reconvinte) o ónus inl!)u~.w.subse- =
'.'ti]'(:III. uma só, diversos sendo apenas os meios de ,j alcançar, O conceito de verdade quente, mediante a prática de determinados actos CLlJUormssao Impeça
I<lnllal, Implicando uma representação intelectual da realidade obtida através da aplica- o prosseguimento da causa (art. 265-1) (13).
1::1<1 de nOrmas processuais e de normas de prova legal, está hoje também uItrapas-
:,;liln na doutrina processualístlca. Para a sua crítica: locais citados em A confissão
p.. 5(J (26), Para a rejeição da colocação, em seu lugar, de outros fins da prova: idem:
". Di) (39). (11) GÜNTHERZEHEL, Der Beibringungsgnuulsat: Bcrlin, Duncker & Humblot,
, (lo) A distinção é, desde VON CANSTEIN(J 877). corrente na doutrina alemã, A dou-
1977, ps. 18-19, . ., .
('2) De disponibi lidade da tutela jurisdicional fala MANDRIOU, Corso, cn., l,
/1111:1 1;11.111<1conservou durante muito tempo a unidade do princípio, que só veio a ser posta
,'111(':111,:1em Itália a partir dos anos 60, na sequência de CARNACINJe de CAPPELLETrI .ps. 83-84, Iimitadarnente à disponibilidade, do início c do termo do pr~cesso \ «liberdade
(1'1" ('(1111 referências várias, J1 confissão, p. 456 (34». Entre nós, não obstante distin de solicitar ou não esta tutela e de dela desistir, uma vez solicitada»: cl. também MAUI~O
CAPPELLETTI, La testunonanra . delta parte . .r..
nel sistema et ata I'ua,
deli' 'M'/· o Giuffré
. 1 ano, . ~.'
1;111';';
,,~;pJ)rlÍdicasde MANUEL DE ANDRADE, PESSOAVAZ e CASTROMENDES (idem, p. 451
1962, ps. 325-326), Liberto o princípio dispositivo das zonas abrangida~ pelo. pnncIplo
I II I), lem-se continuado a não fazer a distinção (cf., por último, a actual redacção do
,,/I, .),("t- I l. da controvérsia e, como adiante será referido, das abrangidas pelo. princrpio da autono-
mia da vontade, a expressão pode, elucidativamente, cobrir as áreas que caractensnca-
(I) .",DispOllibilidade do. início do processo» (CASTROMENDES. DPC, cit., I, p. 184),
mente lhe pertencem. .
(li) I :'al:l-sc da «dlspondll!Jdade do objecto do processo», não englobando, porém,
(LI) Ao autor cabe, por exemplo, fazer registar as acções a que se relere o. art. 3-1
I'fllll" ('111( I\STI(() M/:NDI':s, {)/Y:, cit., /, ps, 185-188, a VCrfCIJ((~do prillcípio da COIl-
IIIJ\""'::I;I, do Código do Registo Predial, publicar os anúncios necessários à citação edi al (art. ~48-5)
c seguidamente provar 11])processo a prática destes actos. Antes da revisao do Co.dtg
2 ?,
1':111""1'<1
("i II;.!O use ser referido corno aspCl~l" do Prllldpill 11J:;pll~;ilíV(l,;1 IOlal
1,\,111;;11"di! il!irí:J1iviI 'JI'iciIlMI k'V;1 :1ctlllsidcr;l-!o (,(,iIH' /.tI :1 l'ú;·l\lllla Illilíl.ada pelo :11'1.2M,· I ("a iniciativa c () impulso processual incumbem .as
par('~,,) 1"1'1111111:11'11/"11<1"1 1',,"111]I'!'Y;I I) ónus de impulso processual subsequente, dis-
(li') ..1l1·;I'''"lhdi(iildl· d•• /1'1111""li pIOI]':,,'''''' Ii '\'.II"J r,IJ 1111/
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1 \1'; Os Principios Gerais Principio Dispositivo 139

Com a proposição (ou propositura) da acção constitui-se a instãn- querer renunciar à acção proposta, sem simultaneamente renunciar ao
1';11 (art. 267-1), como relação jurídica entre o autor (solicitante da pro- direito que através dela pretendeu fazer valer; faz, por isso, cessar o
vidência jurisdicional) e o tribunal (a quem a solicitação é dirigida). processo instaurado, sem extinguir o direito do desistente (art. 295-2).
() acto de proposição produz efeitos em face do réu com a citação É um acto unilateral, mas legalmente condicionado à aceitação do réu
(art. 267-2), acto mediante o qual a relação jurídica processual se con- (ou do autor reconvindo) quando tem lugar depois da contestação
verte de bilateral em triangular e se torna em princípio estável (art, 268). (art. 296-1) (ou da réplica: art. 502-1), por consideração do seu interesse
() lermo instância traduz, a partir daqui, a ideia da relação, por natureza em conseguir no processo pendente uma decisão de mérito favorá-
dinâmica, existente entre cada uma das partes (14) e o tribunal, bem vel (17). Não gozando embora o autor, senão até à contestação do réu,
vomo entre as próprias partes, na pendência da causa (15), isto é, até que da mesma liberdade de dispor da tutela jurisdicional que tem ao exer-
IlCOITaalguma das causas de extinção previstas no art. 287. cer o direito de acção, a disposição deste direito mediante a desistência
Na pendência da causa, podem as partes acordar na suspensão da da instância constitui o inverso do acta de proposição 8). e
instância por prazo não superior a 6 meses (art, 279-4). Mas este modo o termo do processo (extinção da instância) pode também ser alcan-
de disposição da tutela jurisdicional, além de conhecer esta limitação tem- çado na sequência dum negócio de auto-composição do litígio (supra,
poral, não é exclusivo das partes: a suspensão da instância tem lugar nos 1.3.3), que correntemente é tido como manifestação da disponibilidade
v.irios casos enunciados no art. 276-1, entre os quais se contam o da pen- do termo do processo pelas partes (19). Mas esta qualificação não é
dência de causa prejudicial (16) e o da ocorrência de outro motivo jus- correcta.
I i ficado, casos estes em que ao tribunal é atribuído o poder discricionário A lei admite que, 110 campo do direito disponível (art. 299-1), as par-
dt' ordenar a suspensão (art. 279-1). tes, unilateralmente (confissão e desistência do pedido) ou bilateral-
Pode ainda o autor (ou o réu reconvinte) desistir da instância. mente (transacção), disponham das situações jurídicas que são objecto
1\ desistência da instância consiste na declaração expressa da parte de da pretensão, por termo no processo (20) ou, fora dele, por documento

NtJçii(',\'. cit., p. 360), e de, mercê de múltiplos convites do tribunal a esse estímulo, se ('7) Proferida perante um acto de disposição da relação jurídica processual, que
1','1il'icarcm imúrneros atrasos do processo (LEBRE DE FREITAS, Parecer da Comissão através dela se extingue, a sentença homologatória da desistência da instância (art, 300-3)
di' I,i'gis/aç'cla, cit., p. 763). não constitui, ao contrário da que homologa a desistência do pedido, caso julgado mate-
(1'1) Ou conjunto de autores ou réus, em coligação ou litisconsórcio voluntário rial, limitando-se a absolver o réu da instância. A COlidiria juris da aceitação do réu, que
I injra, 10.2.2 e 10.2.3). Casos especiais são o da oposição, quando o opoente se cons- não transforma em bilateral o acto unilateral da desistência (OIAN ANTONIO MICl-lEU, La
111111 corno terceira parte, e o de intervenção principal passiva de devedor solidário rinunria agli atti dei giudizio, Padova, 1937, ps. 12-14), visa permitir-lhe decidir entre
t!"III;lIlLlauo em regresso pelo réu primitivo (inira, 10.2.6). a produção do efeito de absolvição da instância e a continuação do processo para nele
(15) AL13ERI'ODOS REIS, Cometuário, cit., Ill, ps. 21-30; TEIXEIRA DE SOUSA. lturo- conseguir a absolvição do pedido .
.flit;tlll. cir., p. 67. Supra, 1.5 (1). (18) Por isso se pode dizer acto de disposição do direito de acção (CAPPELLETrI,
(11)) Uma causa é prejudicial de outra quando tem por objecto pretensão que 1,0 testimonianza, cit., p. 326). Paralelos aos actos de proposição da acção e de desis-
"IlIl:,IlIui pressuposto da que é nesta formulada. A acção de nulidade dum contrato é, têucia da instância, os de interposição c de desistência de recurso são igualmente rnani-
por cxvmplo, prejudicial rclauvamcntc i\ acção de cumprimento das obrigações dele J'c~Iação desta vertente do princípio dispositivo (JAUERNIG, Zivilprozessreclu. cit., § 24, IV).
,·IIIi·I/',l'IIIl's. Se 11conhccim 1110ua questão prejudicial for da competência do IrihUII;1i (I~) Por todos: JAUERNIG, Zivilprozessreclu, cit., § 24, IV; MANUEL DE ANDRADE,
'1111l111al(lU admiuisuativo, I) Jlli/ pudl'!:1 ~,1ISIlt'lIdl"l' a instância até que o lrihunal COIll Noçôcs, cit., ]1. 360; CASTRO MENDES, DPC, cit., I, p. 188.
I)("I"PI(' se prununric, ;Iillda '1111'11I'lIhlllll;) 1111;:\\1
nrh- 1('llha sido ainda proposta (art. 97 ..J; (.~I)) O fC/'JIlII constitui documento integrado no processo, por elaboração da secre-
r III r ttrl/tHItIHbd,' l'O!!1 {I ,111 .,/ • r l'tI'II!I'.III!!,1 411'\'1' 'il';',lIil ~,(. no prazo de I nu'x, ~,(Ih 1;11 ia. prl"valt:lltCIlIl'llll' ]l;!!':! lonualizur declarações de vontade das partes e o exercício,
I" 11,1 dt' 11 pllli \",',41 1)llt',',. ,'If/j I 11'1 I dI !I' ,"',11', ,I t,lt';f1t·II~;.H) ,.;(, Plldl' :,('1 of'dt'llllfln llll! ,·llIs. tI(· l'('IIIl:. ]l''',,"I'':. pl'lll·I ...·.II;II:; (/\I.HlmTIJ 1l0S RI;rs, Couicutúrio, cit., 11, ps. 198
'j ;1 .u I, .111 jH"IUdll l,tI "','p. I • I, I II !lI!' li" 1""1''''.1.1 r.1I1 1/" 1I I' '1)11;\ I .u t-. J(, \ ,. 11>1I (I jl'lllI" ,: touuulo a ~ÍlJl]lh:s 1'1'1]11"1
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IdO Os Princípios Gerais Princípio Dispositivo 141

autêntico ou particular, conformando os respectivos direitos ou extin- tantivo se verificam os poderes do representante para o acto (art. 297),
)',lIindo-os (arts. 294 e 295-1), com independência das situações jurídi- que o litisconsorte necessário tinfra, 10.2.2) não pode só por si praticar
,':IS reais precedentes (21). A determinação da disponibilidade do direito, (art. 298-2). Lavrado o termo ou junto o documento ao processo, o
Ililra o efeito de saber se o acto é admissível, faz-se segundo as normas juiz, verificada a validade do acto, homologá-lo-á por sentença que,
do direito substantivo, que fornecem designadamente o critério de dis- tendo o valor da decisão de mérito (art. 300-3), constitui caso julgado
tilli(ão entre as situações jurídicas absolutamente indisponíveis e as que (art. 671-1) e extingue a instância (art. 287-d), sem prejuízo da impug-
() são apenas relativamente (22) (23). Também perante o direito subs- nabilidade do acto das partes, nos termos gerais dos negócios jurídicos
(art. 301-2) (24). A natureza substantiva dos negócios jurídicos de
auto-composição do litígio é patente neste regime: através deles, as par-
I,'ssados (art, 300-2). A transacção pode também fazer-se em acta de diligência judicial tes actuam directamente sobre as situações jurídicas que são objecto da
(;;1'1. :\00-4).
e
l) Ocorre assim, mais mitigadamcnte na desistência e na confissão do pedido,
III:IS também na transacção, um efeito prcclusivo: preclude-se a discussão sobre a exis- direito ao divórcio litigioso ou à separação de pessoas e bens litigiosa, embora seja
"'llri:1 c o conteúdo das situações jurídicas controvertidas e querem-se as situações jurí- insusceptível de transacção e de confissão do pedido, sem prejuízo da convertibilidadc
"I":IS d;ls partes independentemente do efeito concreto (meramente conservatório dos pri- elo processo litigioso em processo de divórcio por mútuo consentimento (art. 1407-3),
il
IIwiros ou constitutivo de novas situações) que do acto realmente venha a resultar compadece-se com a desistência do pedido (arts. 1780-b CC e 299-2).
I
til mll/is.\'(/o, p, 426). (23) Em CASTRO MENDES, DPC. cit., I, p. 206, aparece enunciado como princí-
(22) No direito civil, mesmo considerado o ramo do direito de família, a indis- pio processual autónomo o princípio da submissão aos limites substantivos, consis-
!lI 111ihi Iidade é, em regra, relativa (CASTRO MENDES, DPC, cit., I, p. 210). Depende, em tente em vedar à vontade das partes a possibilidade de conseguir, através de actuações
"lIl1sequência, da análise do direito substantivo saber em que medida a indisponibilidade processuais, efeitos jurídicos que não pode obter fora do processo. Os limites à adrnis-
tllIlll:1 situução jurídica se verifica e, portanto, quais os negócios de auto-composição do sibilidade da confissão do pedido, desistência do pedido e transacção, tal como os
111igio que estão vedados e quais os que são adrnissíveis. O problema foi, entre nós, lar- estabelecidos para o acordo sobre o julgamento de equidade (art. 4-b CC), para o
)',:Il1lellll" discutido quanto às acções de investigação de paternidade, sendo que as res- impedimento da caducidade pelo reconhecimento do direito (art. 331-2 CC), para a
!1'·,·liv:Is soluções se estendem hoje às acções de investigação de maternidade. A irre- convenção de inversão do ónus da prova (art. 345-1 CC), para a eficácia probatória plena
muuiuhilidadc do estado civil, ainda que a constituir, leva a concluir que nem a da confissão (art. 354-b CC), para a convenção de limitação a certos bens da respon-
,I.-:;ÍSI':IICi'l do pedido nem a transacção são admissíveis quanto ao objecto propriamente sabilidade patrirnonial (arl. 602 CC), para os efeitos da revelia (art. 485-c), para a
011111 d:1 <1<'\';]0(a pretensão de constituição do estado de filho), sem prejuízo de o serem petição conjunta (art. I do Dee.-Lei n." 211/91) ou para a convenção de arbitragem
'/\1;1111\1aos efeitos patrimoniais emergentes do estado de filho, na base da disposição do (art. l-I da Lei da Arbitragem Voluntária), bem como ainda as próprias normas de
""I~"l/llelltc direito à herança do investigado falecido (CASTRO MENDES, idem, ps. 215-219 litiseonsóreio necessário (CASTRO MENDES exemplifica com os arts. 18 e 19, hoje
" .'.!.t·-~ z, 5, onde se pode encontrar uma resumida. mas completa, visão das teses con- art. 28-A, em sede de legitimidade dos cônjuges), seriam manifestação desse princípio,
iI :'III;IS l' do estado da questão em face da lei vigente). Já a confissão do pedido se afi- que impediria que, directa, indirecta ou até eventualmente, se produzisse, no ou pelo
1'111:1.ulmissfvcl. uma vez que o pai é livre de perfilhar e a mãe de declarar a materni- processo, uma disposição de direitos que a lei material não consente. Não cremos
"li"," quando \J registo de nascimento seja omisso (arts. 1806-1 CC, 1847 CC e 1848-1 que estejamos perante um princípio autónomo e, muito menos, perante um principio pro-
( '( ') ,. :1 ncção proposta pelo filho ou em seu nome visa precisamente o efeito do cessual, mas perante limitações materiais (indisponibi1idade objectiva e subjectiva) ao
1,"'IIl1ll1'l'ilncntn: a solução tem hoje por si a admissão da confissão do pedido em sede princípio da autonomia privada e a efeitos semelhantes aos por ele produzidos, que
01,' :lv(·ril',II:I<..:ii\l oficiosa de maternidade e de paternidade (arts. 1808-3 CC e 1865-3 devem ser respeitadas dentro e fora do processo.
I '( 'I. I'llIhor:t l'lIl1lra ela se invoque a maior solidez da sentença judicial relativamente ao (24) No caso de proceder a acção de declaração de nulidade ou de anulação do acto,
.u 1(, .I,' "'I',islo (s~lhre a polémica e breves pistas de solução: !\ confissão, ps. J47-148). a sentença homologatória é seguidamente impugnável em recurso de revisão (art, 771-á).
1,,'I:<liv:IJIII'111L"indisponível é também o dirl'ilo a alimcutus: a transacção (ans. 2006 Mas a precedência da acção deixou, com o Dec.-Lei n," 38/2003, de 8 Março, de ser obri-
( '(', :01,1 ('(". II.~ 1 .I c 1-11')-1, ais, f' l" ./1, ,'. 1"'I ,!"liol iil (/(' ra t.i'1lI. a confissão do gat6ria: li n:vi:::11I ,J" ',('111,'11<;:1 pode ser directamente pedida (art. 772-2-b). O regime de
I,,'dl"" :';'" :ldllll:,,'.I\,,·i~l; nurs :t dl'si:;lhl< '"~ .1111"''',,1 •• ';0 I'llil,' 1,'1' 1'111'objecto presta- nl'l"l'ss:ili" .1111'1:.illll'[()"I1:I',:II1 do direito anterior era bem expressivo da distinção entre
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1.I.i '. \rl)i 111.1',(;111 'OOS I (te '),11:111 plllll !t!'., I. ",!" ti 11 li (111 -,1.11ti,", \ IlIel'lulas, ;lIiít:l di' a di,'(kíll dn .•' (" ""1",1.11,,1\',, dlls J1arles (que a acção visa destruir) e a da sentença que
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11Ijilll;lId. ',I IIQI1I' Ii'\ 1',1\1'1 il 111/. ,,~, fll" ,I ; \1· 'li' I",. 111 I III '(11' ('('), FI) PIOIHltl () I!tIlIlO!t'r.1 1.11111 d,LI 1I1~1 I", dp II'tlll',U),
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)
Os Princípios Gerais J Princípio Dispositivo 143

PI\:IC~lSão, mantendo-as, alterando-as ou, no limite, criando-as (quando quer momento do processo, em l ." ou em 2," instância (art. 272), Pode
:1Il!~nOJ'mente não existiam), com um claro efeito negocial (25), Sendo ainda qualquer das partes (29) reduzir o seu pedido em qualquer altura
íISSII11, trata-se de actos de autonomia privada, como tal excluídos do (desistência parcial: art. 293-1), ou ampliá-lo até ao encerramento da dis-
;JllIhilo do princípio dispositivo (26), cussão da matéria de facto em La instância (isto é, até ao fim dos deba-
Distinguem-se, porém, os negócios de auto-composição do litígio do tes a que se refere o art. 652-3-e) quando a ampliação for desenvolvi-
II!'IO com que são feitos valer no processo, A distinção é mais nítida nos mento Oll consequência do pedido primitivo (art. 273-2) (30), Pode
\';I:-;OSem que, sendo a desistência do pedido, a confissão do pedido ou também o autor, até ao encerramento da discussão da matéria de facto
:1 I ransacção extrajudicialmente celebrada, ela é seguidamente invocada em 1." instância, pedir a condenação do réu a pagar-lhe uma renda vita-
11\I,processo mediante a junção do documento que a formaliza, Mas, con- lícia ou temporária, em alteração do pedido incial de condenação em
('\'Itll~ll!ll:nte: é s~mpre possível distinguir a transacção do acordo das par- quantia certa (art, 273-5). O juiz tem de se ater, na decisão, ao objecto
I('s dirigido a extinção do processo (27), bem como a confissão e a desis- do processo assim definido pelas partes, não podendo «condenar em
1('llcia do pedido do acto, também processual, com que a parte declara quantidade superior ou em objecto diverso do que se pediu» (art, 661-1),
querer fazê-Ias valer, Este acto processual - e só ele - é manifesta- sob pena de nulidade da sentença (art. 668-1-e) (30-A),
1:;10 do princípio dispositivo, Na petição inicial, o autor identifica também o réu (art, 467-1-a),
Podendo qualquer elas partes vir, na pendência da causa, a ser substituída
h.J. t\ CONFORMAÇÃO DA INSTÂNCIA em consequência de sucessão mortis causa ou de transmissão inter vivos
do direito litigioso (art. 270-a), só às partes ou ao sucessor ou adquirente
Ao propor a acção, o autor formula o pedido, determinado for- cabe requerer a habilitação deste (arts. 37 l-J e 376-2), Pode ainda
III;tllllcnte pela providência requeri da e materialmente pela afirmação ocorrer a intervenção superveniente, espontânea ou provocada por alguma
<l1II11asituação jurídica, dum efeito querido ou dum facto jurídico e fun- das partes, de terceiro que passa a ocupar, ao laelo do autor ou do réu
11:ldo, de acordo com a imposição da substanciação, numa causa de
pnlir, assim conformando o objecto do processo (supra, 1.4,1 e 1.4,6),
Mas este objecto inicial (28) pode ser ampliado pela dedução de pedido (29) O art. 273-2 só fala do autor, mas a disposição é válida para o réu reconvinte,
ti" réu cOIl~ra,o autor (reconvenção: art. 274) e alterado ou ampliado pelo (30) Constitui, por exemplo, desenvolvimento do pedido de condenação do réu
numa prestação de capital o de condenação na sua actualização monetária ou nos res-
I//I(O/" na réplica (art. 273-2) (28-A) ali, por acordo das partes, em qual-
pectivos juros (outro exemplo: art. 569 CC, 2," parte; ver, sobre ele. A acção declarativa,
5 (9», desenvolvimento do pedido de condenação em prestação de facto infungívcl o de
condenação do réu em sanção pecuniária compulsória (art. 273-4) e consequência do de
e:;) Para maior desenvolvimento e com exposição histórica e doutrinária, sob o anulação d[l compra e venda dum bem imóvel o de cancelamento da respectiva inscrição
1>'1:;111:1.
em especial, da confissão do pedido: A confissão, ps, 411-433, predial. A ampliação pode envolver, como nos dois últimos exemplos dados. a formu-
(.'h) Dl,NTI, Note, cit., ps. /7-19,
lação dum pedido diverso, em cumulação sucessiva com o inicial (infra, 10,2.4); mas,
e') f)J:NTI, Note, cit., ps. 24-26, quando irnporte a alegação de factos novos, esta só pode ter lugar se eles forem super-
(.~H). Constituindo a citação do réu o momento em que, mediante a produção perante vcnicntes, isto é, quando ocorram ou sejam conhecidos posteriormente aos articulados, e
"li' dos 'leitos da propositura da acção, a instância em princípio se define (arts. 267-2 nos lermos e prazos previstos para o articulado supervenieruc (art, 506) .
.'(}~ I. n al~l(~r é livre até esse momento de alterar o pedido, mediante a apresentação ('0.,1) Vejam-se, porém, as disposições excepcionais dos arts, 405-2 (condenação
<I,' lillVil pl'II<,:ao.
oficiosa do autor, quando haja recebido, em reparação provisória, mais do que aquilo que
('11,I) '1:11pressupõe que haja lugar a réplica. por se verificar o condicionalismn di) lhe 6 arbitrado na. sentença [inal) e 392-3 (dccrctarnento de providência cautelar diversa
,111 'l()~>, 11" I ou li," 2. Não pode ter essa função :1 resposta ('ol/tntaçclo
à 011 r('(,{/II da 11'!!IIl:rida: (.'1'(' (II/O/f/(I/!, 11, 11."::I da anotação ao art. 392). Do art. 661-1 retira-se
",'/1""" IA (I''I'illl dcrtarativa, 22,1.2), inclusivumcntc íI do processo ci vi] cxprriutcntal li 1\1:"llId!.~ihilid:ltlt' da ;i('11"1111!1 'a\l Illkiosa da dívida de valor (ac. de uniformização de
I "li I: ' .I" I I,', I,l'i 11." 108/2006. de 8 de Junho). illll!,pllltl"11I 1:111" I ',/')1', .1,- 'I. d, [\)""'11"11 "I,
) J
144 Os Princípios Gerais
Princípio Dispositivo 145

primitivo ou em posição autónoma perante ambos, a posição de parte, rios e eventuais) do processo (petição, contestação, réplica ou resposta
principal ou acessória, na causa Unira, 10.2.6). Em nenhum destes casos à contestação, tréplica: cf. arts. 467-1-d, 488,501-1, 502-1, 502-2, 503-1
pode o tribunal tomar a iniciati va de chamar o terceiro para intervir. e 785), mas também o articulado superveniente (art, 506-1). Em resul-
Exceptua-se apenas o Ministério Público, que, quando deva tomar a tado da revisão do código, o juiz pode convidar as partes a aperfeiçoar
posição de parte acessória (31), é para o efeito notificado (art. 334-1) (32). os articulados, designadamente quando contenham insuficiências ou
O juiz pode - e deve - apenas convidar as partes à prática dos actos imprecisões na exposição da matéria de facto, mas não pode substi-
necessários à modificação subjectiva da instância, quando sejam neces- tuir-se-lhes na introdução dos factos na causa: feito o convite, à parte cabe
sários à regularização dela (art. 265-2).
apresentar novo articulado em que complete ou corrija o inicialmente pro-
É, portanto, monopólio das partes a conformação da instância, nos duzido, produzindo assim nova alegação de factos (arts. 508-I-b, 508-3
seus elementos objectivos e subjectivos (33).
e 508-A-1-c). A revisão do código tornou também possível a conside-
ração de factos principais que, completando ou concretizando os alega-
6.4. A FORMAÇÃO DA MATÉRIA DE FACTO dos nos articulados, se tomem patentes na instrução e discussão da
causa, mas tão-pouco na introdução destes novos factos pode o juiz
6.4.1. Factos principais substituir-se às partes: a parte neles interessada, isto é, aquela que, a
serem os factos verdadeiros, beneficia com o efeito constitutivo, impe-
Às partes - e só a elas - cabe alegar os factos principais da ditivo, modificativo ou extintivo que deles decorra, deverá manifestar a
causa, isto é, os que integram a causa de pedir e os que fundam as vontade de deles se aproveitar, alegando-os (art, 264-3).
excepções (art. 264-1). A alegação de uns e outros é feita nos arti- O monopólio das partes na alegação dos factos principais da causa
culados (art. 151-1), incluindo não só os articulados normais (necessá- não encerra a ideia de disposição.
Esta ideia é defendida por uma importante corrente doutrinária
alemã. Baseada na constatação de que o acordo das partes sobre a rea-
(31) Tal acontece quando tenha interesse na causa região autónoma, autarquia lidade dos factos da causa ou a admissão por uma delas dos factos ale-
local, incapaz ou ausente que se faça representar por mandatário próprio, ou outra pes- gados pela parte contrária pode ter, por via da produção dos efeitos do
~lla colectiva pública ou pessoa colectiva de utilidade pública, ou ainda quando a acção
facto assim provado, um efeito indirecto semelhante ao da disposição do
vise a realização de interesses colectivos ou di fusos (art, 5, n.''' 2, 3 e 4-a, do Estatuto
do Ministério Público), sem prejuízo de outros casos constantes da lei (art, 5-4-b do Esta- direito a que os factos se referem, faz equivaler o princípio da contro-
luto do Ministério Público: por exemplo, art, 9 do Código de Processo do Trabalho). vérsia ao princípio dispositivo para o efeito de entender ambos como
(32) O Ministério Público é também citado para assumir a representação do réu paralelos ao princípio da autonomia privada, todos radicando na liber-
ausente ou incapaz que não tenha contestado (art. 15-1). Mas neste caso, tal como no
dade geral de exercício e disposição dos direitos privados (supra, nota 4).
de citação do representante do réu incapaz ou irregularmente representado (art, 24-2),
II:ia há modificação subjectiva da instância, visto que a parte (o representado) continua
Ainda que, rigorosamente, os factos em si, corno acontecimentos da
a ser a mesma. realidade objectiva, não sejam materialmente disponíveis, a sua prova,
(33) Também a direcção da petição inicial a um tribunal determinado compete quando realmente não se tenham verificado, equivale à criação fictícia
:10 nutor (art, 467-1-a). Mas, se a acção for proposta em tribunal relativamente incorn- elos elementos do Tatbestand (ou fatispécie) da norma, com efeito idên-
pctcruc (art. 108) e a competência for de conhecimento oficioso (art, 110), o tribunal orde-
tico ao da disposição do direito (34).
n:Ii'!í a remessa do processo para o tribunal competente (art, '111-3). Já se a incompc-
1"llcia relativa não for de conhecimento oficioso, o réu - e esta é a regra - tem o 6I1u.~
ti" iI arguir (art. 109-1). No c.:;J~"de incompetência absoluta (art, 101) a remessa UlJ 11m
,.,..... " 1';11:1 o tribunul cornpctrur- ,.,', SL', dtí quando, havendo ucnrdo d;ls p;lIle:, :.,,1>1" (J
(.1.1) F!UJ..IIHI1·JI 1,f..NT, Di» \Ir'I'/flilulIg der verantwortlichkeit unter Gericht und
,II'''''''''Ii1I1I,'llIo dos :lrliCllIlId,,', I""dll·/.i<l,,·., "11/1101' a rcqucirn (an. 10,,:),).
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111 I I' I
) )
146 Princípio Dispositivo 147
Os Princípios Gerais

Não se podendo negar esta possibilidade, o seu carácter patológico de alegação dos factos constitutivos do direito do autor (37), gerando a
não permite, porém, dela extrapolar para a afirmação de que o monopólio falta ou a deficiência da causa de pedir, dá lugar à absolvição do réu (38),
da alegação é concedido às partes para o exercício de poderes disposi- ao passo que a falta de alegação dos factos impeditivos, modificativos
tivos. As partes não têm, aliás, em processo civil, o direito de mentir, ou extintivos em que se funda a excepção ou contra-excepção dedu-
tanto assim que estão sujeitas a condenação em multa e indemnização, zida, gerando a improcedência desta, faz precludir a possibilidade de a
como litigantes de má fé, quando aleguem factos falsos, omitam factos fazer valer (39), podendo dar lugar à condenação do réu no pedido (40).
relevantes para a decisão da causa ou impeçam a descoberta da ver- Cada uma das partes tem assim o ónus da alegação dos factos cujo
dade (art. 456-2, ais. b e d). A atribuição às partes do monopólio da ale- efeito lhe é favorável.
gação dos factos principais da causa corresponde antes à ideia de que,
melhor do que ninguém, elas podem trazer ao conhecimento do tribunal, 6.4.2. Factos de conhecimento oficioso
em contraditório, os factos relevantes no âmbito das relações jurídicas
que lhes respeitam. A opção legislativa expressa no art. 664 mais não A. O monopólio da alegação dos factos principais ela causa tem, de
exprime do que a preferência por um meio técnico, entre outros possí- acordo com o art. 264-2, as excepções constantes dos arts. 514 (facto
vcis (35), para alcançar a verdade, sem paralelismo com a autonomia
privada e tendo na sua base a ideia de responsabilidade das partes pelas
(37) Ou dos elementos eonstitutivos do facto jurídico de que ele pede a aprecia-
criação do material fáctico da causa (36).
ção judicial (supra, 1.3,3). ' .
À ideia de responsabilidade liga-se a de ónus. Sem prejuízo de (38) Absolvição da instância, por ineptidão da petição inicial, no primeiro caso
I1
os factos da causa poderem ser alegados por qualquer das partes, a falta (supra, 1.2 (15); J\ acção declarativa, 5.2.1); absolvição do pedido, por inconcludência,
no segundo (supra, 1.4 (39)); idem, 13.1.4.A. Ao dizê-lo, reportamo-nos ao momento
da decisão, pois a deficiência originária pode ser suprida, como se disse no texto. DIS-
"111que se verificou a celebração dum contrato de compra e venda que na realidade não tinto do ónus da alegação é, em todo o caso, o ónlls da substanciação do pedido, de
teve lugar, as partes criam fundamentos da sentença cuja consequência será o reconhe- acordo com o qual só ao autor cabe individualizar a causa de pedir (supra, 1.4.6).
1'i111l:1ll0por esta de direitos (direito de propriedade transmitido, obrigações de com- Baseando o juiz a sentença em todos os factos trazidos ao processo pelas partes, não se
prador c vendedor) anteriormente inexistentes (art. 879 CC). pode falar duma esfera dc legitimidade exclusiva de cada uma delas para a alegação dos
(35) Nos sistemas jurídico-processuais das democracias ocidentais, esta vertente factos que lhe são favoráveis; mas, cabendo ao autor (ou réu reconvinte) conformar.o
principal do princípio da controvérsia é de observância praticamente absoluta (HEINRlCII objecto do processo, mediante a formulação duma pretensão baseada numa causa de pedir,
Ni\C;EL, Die Grundrüge des Beweisrechts im europãischen Zivilprozess, Baden-Baden, não podem ser considerados como elementos de alteração ou ampliação desta, sem pre-
11)67, ps. 40-52; CAPPELLETI[, La testimonianza, cit., p. 356). Diversamente, nos sistemas juízo do acordo previsto no art, 272, factos introduzidos no processo por alegação do réu,
jurídicos socialistas russo e dos ex-países do leste europeu o tribunal tinha, ao invés, o poder Sobre esta questão: A confissão, ps. 33-36. Tenha-se, porém, sempre presente que os
de livremente investigar os factos (CAPPELLETT[,La testimonanza, cit., ps. 660,680-682, factos que alteram ou ampliam urna causa de pedir já indentificada não se confundem
'/(11), Tal acontece, fora do processo civil propriamente dito, no campo da jurisdição com os que apenas a completam ou concretizam (ver, no CPC anotado, I, o n." 5 da ano-
vuluutúriu tsupra, 1.4.5) e, num sistema como o alemão, no campo do contencioso adrni- tação ao art. 264, bem como A acção declarativa, 9.3.1). , ' ,
r.
uistr.nivo, de acordo com o § 86, do Código do Contencioso Administrativo, e no do con- (39) Toda a defesa deve ser deduzi da na contestação (art. 489-1). Depois dela, so
1("IIL·iosofiscal (sem prejuízo da ·iniciativa das próprias partes: GRUNSKY,Grundlagen, cit., podem ser deduzidas as excepções supervenientes, as que a lei expressamente admita pas-
p'i. IT\-17ú), áreas em que, entre nós, o princípio da controvérsia continua a ter aplicação. sado esse momento ou aquelas de que se deva conhecer oficiosamente (art. 489-2);
(',,) BREIIM, Bindung, cit., p. 10: para quem assim entende, as partes devem par- mas, neste último caso, os factos em que a excepção se funda deverão ter sido objecto
11,'ipar ao tribunal aquilo que sabem, não aquilo que querem. Afirmam, por isso. algulls de :,ilcg~I~:~onus articulados, pois o conhecimento oficioso da questão de direito (excep-
.llIllll'l', que o prin ·ípio da controvérsia . limitado p lo dcv 'r de verdade (SCII('INi\I'. ,':ío) lIão dispellsa a introdução dos factos pelas partes (supra, 5.1) .
l,dl//III,·h. rir.. p. 2R: ZETI'EI., I>('r /lt'ih,.i/lgl/llgsgm/ld\'(/t,:, ·it., p, I:n; .I(IM'IIIM S{'lI~IIIII', ('111) Não darú se não lorcm alegados e provados os factos constitutivos do direito
No,·;' rinuutl: IVI'rI 1111" (;'111'01 ,fo N,'/dl;"I/Slt·'·/III;k . Juristisclu- Sdliil(IIIj'., }tr;.i., 1'. rI'I',) do i111111J'.Nn ,':ISO da cOlllm I'XtTj1,ilO. il improcedência pode proporcionar a proce-
::11111'· II ,!t-Vt"1 di' Vt'!'t!;\c!,', \11"i;\ ',/' ""/~!1, ~: (1;\). tklll'I:I,/" ('\('I'r/'.'I'
) )
148 Os Princípios Gerais Princípio Dispositivo 149

notório e facto de que o tribunal conhece no exercício das suas fun- o facto notório não se confunde com as máximas de experiência de
ções) e 665 (simulação do litígio). que o juiz se serve nas operações de prova, dado o carácter indirecto que
esta normalmente reveste Unira, 6.4,3) (45-A), As máximas de expe-
B. Por facto notório entende-se um facto do conhecimento geral, riência, necessárias ao raciocínio dedutivo que caracteriza a presunção,
isto é, um facto conhecido ou facilmente cognoscível pela generalidade revestem natureza geral, ao passo que o facto notório é um facto con-
das pessoas de determinada esfera social, de tal modo que não haja creto de conhecimento geral (46). No entanto, as máximas de expe-
razão para duvidar da sua ocorrência (41), riência estão sujeitas ao mesmo regime dos factos notórios no que se
No domínio do processo civil, a esfera social que o caracteriza tem de refere à dispensabilidade de prova e à inadmissibilidade de prova con-
abranger as partes e 'o juiz da causa, A concretização do conceito varia assim trária (47),
consoante a localização do litígio, considerados os sujeitos do processo: um
facto notório em Bragança não o é necessariamente em Portugal inteiro; um C. Não é pacífico o entendimento do que seja o facto de que o tri-
facto notório em Portugal pode não o ser em França ou no Japão, Assim, bunal tem conhecimento por virtude do exercício das suas funções.
é mais restrita a possibilidade de invocação de factos notórios numa acção Na melhor interpretação, o art. 514-2 constitui manifestação do
pendente num tribunal francês entre um português e um japonês do que princípio geral da eficácia do caso julgado (art. 671-1) ou do valor
numa acção pendente em Bragança entre dois habitantes locais, extraprocessual das provas (art. 522) (48). Se no mesmo tribunal tiver
E, embora o âmbito da notoriedade apareça hoje consideravelmente corrido um processo do qual o actual constitui repetição (art. 497-1), o
alargado mercê dos meios modernos de comunicação de massas, tal não juiz deve servir-se desse facto, de que tem conhecimento funcional, para
significa que deva ser considerado notório todo o facto divulgado pela julgar verificada a excepção do caso julgado (art. 494-i); mas já não
imprensa, rádio ou televisão (42), pois se pode, mesmo assim, duvidar da pode introduzir no processo o facto de aquela causa ter corrido noutro
sua ocorrência, tribunal, no que está sujeito à alegação das partes (49), Se no mesmo tri-
A notoriedade do facto pressupõe que seja indiscutível ter-se veri-
ficado, de tal modo que se torna, embora com a relatividade acima
apontada, uma característica do próprio facto, da qual deriva que, uma (45-A) A acção declarativa, 14,4,
vez estabelecida a notoriedade (43), o facto em si não carece de prova (44) (46) Constitui, por exemplo, facto notório que Fidel Castro usa barba ou que
o é insusceptível de prova contrária (45), Federico Fellini morreu; mas é uma máxima de experiência que, após a adolescência,
aos homens normalmente crescem pelos na cara ou que todos os homens morrem.
A distância entre as cidades de Lisboa e Porto, o incêndio do Chiado, o dia da semana
de determinada data, o decurso do prazo certo para o vencimento duma obrigação, a ele-
vada precipitação de chuva ocorrida no inverno passado, a seca que grassou há dois anos
(41) CASTROMENDE.S,Do conceito, cit., ps. 628-636, ou o exercício do cargo de Presidente da República por Jorge Sarnpaio entre 1996 e 2006
(42) C 1', JAUERNIG,Zivilproressrecht, cit., § 49, VII, 2,a, constituem factos notórios,
('13) Pode, em sede de impugnação da notoriedade, pôr-se em causa a notoriedade (017) CARNELUTT1, Sistema, cit., I, p, 420. Se, no entanto, a máxima de experiên-
LI•• facto, quer quanto à geração do conhecimento (pode, por exemplo, provar-se que uma cia exprimir uma regra que pode ter excepções, a prova contrária é admissível. Alguma
uotíciu, base duma convicção generalizada, foi incorrectamente formada), quer quanto doutrina sujeita as máximas de experiência ao regime das questões de direito e não ao
~t sua generalidade. das questões de facto (assim, por exemplo, em MARTINWÜRTHWEIN,Umfang und Gren-
('I.') Porque notório, o facto está, por si mesmo, provado, Por isso, o art. 514 exige :.:/'//, cit., ps, 14ú-147. Posiçíio ccléctica é a de CASTRO MENDE.S,Do conceito, cit.,
l)IIt' t) tribuna] comprove docurncmalmentc os factos de que tem xmhccimento flor virtude p. (1(0),
do (',\t'r<.:fcio das suas l"uIlÇÕC:-;(n." 2), mas dispensa dI' prllva 11.': fados 1lolórios (n." I), (0111)/\1.1\10:\(\"(1
!lOS RI!':. 1"'/', \'it., 111,ps. 264-265.
(.h) SI,nA, tu«: cil., p, 196, ralando dn ,,(':,',I'IIIr. tI ••1'Ic·,11\it!;IIII'" do 1":1("10
!1o[l"i
.. ("") (, ,·,,,Ii,,·c·II)),'111,,
cIII' 1."," (l., nCTllt;:1I1cio ("aso jtllg:Hln (nrt. 495) não implica
111'. ('01111:1' 1'~41.';I·Nlllltl; St'IIW;\II(;trll\\,;\III,/I1'ill'/J' I <,\/1 I 11f, .11, II (tI:'. 11c1IIIIIc"11111,,,1,, IIli. I"'," ",n', 1.1.li,', , '" 'I"" ',c' 1'111111:1
:1 c'Xc'!'!'í::I()(s/Ill/'U, 5 O). Aqui,
) )
1'10 Os Principios Gerais
Princípio Dispositivo 151

hunal tiver sido proferida, em causa diversa, mas desfavoravelmente à


judicial (51), mas todos os outros meios de prova constituem prova indi-
mesma parte, uma decisão de facto baseada em depoimentos ou arbi-
recta: através deles, chega-se à realidade do facto principal por dedução,
tramentos produzidos em audiência contraditória e sem menores garan-
também por forma mais ou menos directa, da realidade de outros factos,
I ias processuais, pode o juiz servir-se, no segundo processo, dos factos
de acordo com regras da experiência humana que têm na sua base uma con-
que assim foram provados no primeiro (50).
venção social ou uma lei natural (52). Os factos que servem de base a essa
Constitui, além disso, facto de conhecimento oficioso o da pen-
dedução dizem-se factos probatôrios e aqueles que jurídica ou natural- I
dência de outro processo no mesmo tribunal, que poderá fundar a veri-
mente permitem ou vedam ao juiz tirar da realidade dos factos probatórios '11
ficação da litispendência (arts. 494-i, 496 e 497) ou justificar a suspen-
a conclusão acerca da realidade dos factos principais, ou aumentam ou dimi- ~
silo dacausa por prejudicialidade (art. 279-1).
nuem a probabilidade dessa conclusão, dizem-se factos acessórios (53),
Em todos os casos, deve o juiz juntar ao processo documento que
Uns e outros constituem a categoria dos factos instrumentais.
'ornprove o facto funcionalmente conhecido (art. 514-2).

D. De acordo com o art. 665, deve o juiz anular o processo quando


(51) A prova por inspecção judicial visa a percepção directa de factos pelo tribu~al
verifique que entre as partes foi simulado o litígio para o efeito de
(art, 390 CC), O julgador é directamente confrontado com uma pessoa ou COIsa, a Um
simulação ou fraude processual (supra, 1.3.6). Esta verificação importa de se esclarecer sobre qualquer facto que interesse à decisão da causa (art. 612-1),
() conhecimento oficioso dos factos constitutivos do desvio da função pro- O facto objecto da percepção pode ser ou não um facto principal da causa. Suponha-
ccssual praticada. mos que o juiz se desloca a um prédio urbano para verificar a sua composição e aí se
dá directamente conta do facto de ele ter 10 andares com 2 fogos de 5 divisões assoa-
lhadas. Este facto tanto pode ser um facto principal da causa (por hipótese, pretende-se
6.4.3. Factos instrumentais
anular, por erro, a promessa de compra e venda desse prédio, por ter sido declarado que
tinha I I andares ou que cada fogo tinha 6 divisões assoalhadas) como ser um facto
Estas regras são inaplicáveis aos factos instrumentais, que, por instrumental (através dele pretende-se, por hipótese, chegar a uma conclusão sobre o valor
natureza, não carecem de alegação e por isso são oficiosamente consi- do prédio, este, sim, um facto principal), Só no primeiro caso a inspecção é prova
directa do facto principal da causa, sem prejuízo de o ser sempre do facto que, através
derados na decisão de facto (art. 264-2). Ponto é que resultem da ins-
dela, é objecto da percepção judicial.
trução ela causa.
(52) CASTRO MENDES, Do conceito, cit., ps. 181-182,
Diversamente dos factos principais, não constituem condícionan- (53) É, por exemplo, facto probatório a informação constante do documento, o
directas da decisão. A sua função é, antes, a de permitir atingir a
11',' depoimento da testemunha, a linha de marcos existente no prédio rústico. São, por
pmva dos factos principais. exemplo, factos acessórios: no primeiro caso, os respeitantes à falsidade do documento;
no segundo, a credibilidade que a testemunha mereça, a sua boa ou má visão, a sua pro-
!\ prova só é directa quando o julgador é directamente confrontado
ximidade do local em que OCOlTeuo facto que diz ter presenciado, a sua inabilidade para
,'()11l o lacro principal a provar. Pode isso acontecer na prova por inspecção depor (c 1'. art. 617); no terceiro, o tipo de pedra utilizado ou os vestígios de corte que
apresente. Do facto probatório pode tirar-se directamente o facto principal ou um facto
ainda probatório (do depoimento da testemunha que diz que observou certos fa~tos
poder-se-à deduzir que ela presenciou os factos que refere e do de os ter presenciado
'1111111 sempre no processo civil, o plano das questões de facto c o das lfueslfÍL:,~di'
dill'lln 11;10 se sobrepõem,
poder-se-à deduzir a realidade do facto presenciado, que, por sua vez, pode ser já o facto
principal da causa ou um facto probatório do facto principal: a conversa que a testemunha
(.11) l'od« e não deve, na medida em que se trata de prova sujeil,l ~ livre apr~('ia
diz ter ouvido pode não ser ainda a da celebração do contrato verbal em causa, mas per-
".111 oI\i ,IIlg;,dol' (ill/i'o. 9,3), I~ controvertida a questão de suhcr se', al.'lIl li(> u Idlllloal
mil ir, com outros elementos de prova, inferir que ele foi efectivamente celebrado).
','" 1\ IIIi'SlIllI. !l'!ll Heslt· caso de se verificar também a idcruidnrl, d" jlllg:lc.I," 'llI;III.!"
'Illdas as deduções se apóiam em máximas da experiência, Para este iter probatório da
, ,I"i.i VIII ";111',:1 11111 llIeio de proV;1 sllj('iIO ~ livre convhVio ,Ílldil'i:iI, ,'-i •• I",' ,I '1'11".1.11'
pIDV:! illdirl'cla: ('i\STI(() M"NIWS,Do conceito, cit.. ps. 176- t84; J\ falsidade. ps. 175-176
,\ ','''11\'../", ,,', '.IX (4\) c' \ ", I','ll
" .',(li; ',lO'}; 1\ '·fI/(fls.w/u. px, 21\.•-21\7, ver também J\ acção declarativa, 14,1,2,
)
152
Os Princípios Gerais ) Princípio Dispositivo

Estes factos não têm, em regra, de ser incluídos na base instrutória


No entanto, admite-se no nosso direito que as partes apresentem, em
onde só têm de constar os factos principais (54) e, dos instrumentais:
petição inicial conjunta, a indicação dos factos que admitem po.r ~cordo
'If:enas aqueles que constituem a base duma presunção legal e os que,
(arts. 1 e 2-1 do Dec.Lei n." 211/91, de 14 de Junho). Esta petição COf-
visando contrariar a presunção legal estabelecida, integram excepções
responde, no esquema do diploma que a permite, à petiç~o inicial do pro-
probatôrios (art. 549-2 para o documento e, em geral, arts. 347 CC
c 350-2 CC) (54.A). cesso declarativo; mas, fora da hipótese de petição conjunta, deve con-
siderar-se igualmente admissível o acordo das partes sobre a realidade
dos factos do processo até ao encerramento da discussão da matéria de
o.s. O ACORDO SOBRE ·OS FACTOS DA CAUSA facto em 1.a instância (57).

Como vimos, não pode, em rigor, dizer-se que as palies têm o poder
de disposição dos factos que introduzem no processo, afirmação esta 6.6. A INICIATIVA DA PROVA
que implicaria o direito à mentira no processo civil, que as normas que
sancionam a má fé processual demonstram não existir (supra, 6.4.1). 6.6.1. Princípio do inquisitório
N~I~leadar~ente, a figura da admissão (supra, 2 (34», embora a seu pro-
posrto a lei fale de acordo das partes (arts. 490-2 e 659-3) (55), baseia-se A prova dos factos da causa deixou, no processo civil a~tl~al, de
lia regra da experiência segundo a qual, na generalidade dos casos, à constituir monopólio das partes: de acordo com o art, 265-3, o JlIlZ tem
manifestação de desinteresse em impugnar LIma afirmação corresponde a o poder de realizar ou ordenar oficiosamente as diligências necessárias ao
verdade desta (56). As partes são responsáveis pela constituição do mate- apuramento da verdade. Trata-se do princípio do inquisitário, que c~ns-
rial fáctico do processo, mas este não está sob o seu domínio. titui o inverso do princípio da controvérsia: ao juiz cabe, no campo da ms-
trução do processo, a iniciativa e às partes incumbe o dever de colaborar
na descoberta da verdade, respondendo ao que lhes for perguntado, sub-
(5,1) Era posição defendida perante a redacção do art. 515, § ].0, do CPC de 1939 metendo-se às inspecções necessárias, facultando o que for requisitado e
(··u questionário só compreenderá, de entre os factos aJticulados, controveltidos e pertinentes praticando os actos que forem determi nados (art. 519-1) (58). O papel do
:1 (":Il1sa, os que forem indispensáveis para a resolver»), que ineulcava a ideia de que os
1;1l"IO~mstrurnemais não podiam ser quesitados (CASTRO MENDES, Do conceito, cit., p. 153
juiz-árbitro encontra-se definitivamente ultrapassado.
1
1 (,)), Sendo, porém, a práticajUl1sprudencial no sentido inverso, o art. 511-J do CPC
d,' 19ú1 visou pe~filhá-Ia (<<o juiz (.,.) seleccionará entre os factos articulados os que
Illil"lCs.salll à decisão da causa»), sendo na sua vigência mais insustentável aquela posição
(57) Este momento constitui o limite temporal do exercício de faculdades pro-
rll"l' ( I\STI~O MENDES conunuou a defender: DPC, cit., 11, p. 434). A substituição, na revi-
cessuais relativas à alegação e à prova dos factos da causa, com ele precludindo a pos-
~.i'f).de 1995- J 996, do questionário pela base instrutória, na qual o juiz «selecciona a
sibilidade de deduzir articulado superveniente (art. 506- I), de alegar facto que corn-
111;11\'1"1;1 de facto relevante para a decisão da causa» (art. 5/1-1), permite reabrir a questão,
pletc ou concretize facto principal alegado (arts, 264-3 e 650-2-j; também a ampliação
(',.1A) 1\ .falsidade, ps. J 75-/76, 178-180 e 184 (37), 11 cO/!/iSSclO, p. 753, e 11 (/CÇÜO
oficiosa da base instrutória com factos alegados tem este limite), de Juntar do~umentos
,f,.,'I'.'U:''.\'~', 1J.2.1 e 14.3.1, Diz-se excepção probatriria a arguição dirigida contra a
(art. 523-2) e, de modo geral, de produzir qualquer outro meio de prova, E, porém,
:ltlllll.'ISlhd,d;lde 1)11;1 I'orça dum meio de prova. mcdianu; li alegaç[io de l'élCI.OSill/f!r-di ..
admissivel. em fase ele recurso, a junção de documentos superveruentes (arts, 524-1 I
111'".\' tI:1 ProdllíJío do efeito probarorio pretendido. Ver tarnhém iufra, 9.1.
712-1-1:, 727') e também, por acordo das partes, a alteração ou ampliação da causa de
(") ..;1, qll:tlil'ir:I\,fjo ( .. .] é illl'eli~ .. Não se Irala duma ;J(inliss:i() I1I)r :ll'mdll,
pedir (art. 272), Este último não se confunde com um acordo sobre a prova dos fac-
,\ "011/11/',:"::111 dllllla dc("llIr:I\·fill ('0111 11omissão de iIllPII!',1I111'r 1:1111\1:Il'nrdo (""110 :1
los, poix implica apenas () entendimento elas partes quanto à integração factual da causa
"O"ill!',llt,':io c/llnl :1('10 IIl1il;lln:1I Ilillll:ivt'l ('UIII :1 ílllli.'l,~;i() dn Wil ;111111:11::1,,'.'
('A!:)'I(11
f\ il J 11 11 '" ')fl 1'/'l1l'(';I,J, ('il" p, t,'1()! . (11- pct li r, independentemente ela prova dos factos que a constituem. _
(''''' ,\ 1'('11/1\.\1/1'1 P ·0:' ("x) 1~1·~s:t1vados IlS cas(\s constantes do n." 3 do artigo. a recusa de colaboração
lIuplil'il 11'·()lId'·II:I~:;ItJ l·1I1 1111111:1
(que evidencia estarmos perante um verdadeiro dever;
)
154 Os Princípios Gerais Princípio Dispositivo 155

A revisão de 1995-1996 acentuou um pouco mais o princípio inqui- ção (60). E, sendo assim, a doutrina hesita no enquadrámento da ini-
sitório, que a lei ainda vigente suprimia ou limitava quanto a determi- ciativa da prova no campo do princípio dispositivo e, quando o faz,
nados meios de prova: agora como dantes, o juiz pode amplamente. realça o carácter relativo da afirmação (61). De qualquer modo, o ónus
determinar a junção de documentos ao processo, quer estejam em poder da prova só em princípio repousa nas mesmas regras distributivas do ónus
da parte contrária, de terceiro ou de organismo oficial (art. 535), assim da alegação, pois tal deixa de acontecer quando se dá a sua inversão
corno ordenar a realização de prova pericial (arts, 579 e 589-2, este (arts. 344 CC e 345-1 CC), isto é, quando passa a caber à parte contrária
r .lativo à 2.a perícia; cf. também o art. 569-1-a), e só ele pode decidir àquela que com ele estava originariamente onerada, por disposição da lei
efectuar inspecção judicial (art. 612-1), inquirir testemunhas no local da (presunção ou dispensa legal) (62) ou, no campo do direito disponível,
questão (art. 622) e ouvir as pessoas que entenda ainda após as alegações
sobr« a matéria de facto (art. 653-1); mas só com a revisão de 1995-1996
p~ISSOU a ter a iniciativa do depoimento de parte (art. 552-1), até então (60) Por isso. parte importante da doutrina prefere denominá-lo ómls de iniciativa
de exclusiva iniciativa das partes (a parte contrária ou um comparte do da prova, distinguindo-o do ónus da prova. Deste resulta que a pane suportará as con-
sequências desvantajosas decorrentes de não se provar, quer por sua iniciativa, quer
depoente), e a ter o dever de ordenar o depoimento testemunhal de pes-
por iniciativa da parte contrária ou oficiosa (art. 515. que contém o chamado principio
soa que haja razões para presumir, no decurso da acção, que tem conhe- da aquisição processual: ver CPC anotado, 11, anotação ao art. 515), um facto que lhe
cimento de factos importantes para a decisão da causa (art. 645), quando é favorável (art, 516). Aquele é um reflexo do ónus da prova (também chamado ónus
alé então tinha o poder discricionário de o fazer só quando a inquirição da prova objectivo, em oposição ao ónus da prova subjectivo): as normas sobre o ónus
de outra pessoa tornasse manifesto o interesse do depoimento (59). da prova, destinadas em primeira linha a possibilitar a decisão no caso de falta de
prova, influenciam o comportamento das partes, levadas conseqüentemente a ter a ini-
Não obstante esta possibilidade de iniciativa instrutória do juiz, na ciativa da prova para evitar o risco duma decisão desfavorável. Para maiores precisões e
pr;í I ica forense até hoje pouco utilizada, quase todas as provas são reque- remissão para os representantes da corrente doutrinária referida: A COI!fisSC10,p. 222 (62).
ridas pelas partes, no momento processual em que tal lhes é facultado (61) Para HEIt>:RICII Bi\THE, por exemplo, mais não se pode falar do que duma
(.\/I/J/'{l. 3.2.3). Sendo seus os interesses em jogo, cada uma das partes iniciativa instrutória das partes predominante (Verhwzdlllllgsmaxim.e und verfahrungs-
beschleunigung bei der vorbereitung der miindliclien verhandlung, Berlin, 1977, ps. 28
1('111 o ónus da prova dos factos cujo efeito lhe é favorável. Este ónus,
e 54). Sobre outras referências doutrinárias: 11 confissão, p. 452 (88).
p.u.ilclo ao da alegação, dele diverge por, no campo da prova, o tribu- (62) A distinção entre as figuras da presunção e da dispensa de prova, bem como
uul ter poderes de iniciativa que lhe estão vedados no campo da alega- a definição do [acto impeditivo, não são fáceis e aparecem frequentemente confundidas
na doutrina. A presunção estebelece-se entre um tacto que é objecto de prova (base da
presunção) e outro que dela é dispensado. considerada a ligação que. de acordo com a
experiência, normalmente existe entre ambos (do escrito da mãe ou do pai deduz-se a
" :, voloração judicial da conduta da parte para efeitos probatórios (cf., designadarncntc, filiação biológica, segundo os arts, 1816-2-b CC e 1871-I-b CC; da declaração confessória
" :111. .\,7-2 CC). Pelo art, 344-2 CC, pode mesmo produzir-se a inversão do ónus da deduz-se a realidade do facto que dela é objecto, segundo os arts, 352 CC e 358 CC,
1"""((: :, parte que tiver eulposamente tornado impossível a prova dum facto que não lhe n.'" I e 2). A dispensa de prova é estabelecida por razões diversas da verificação duma
'01111:1provur (por exemplo: o condutor que, após o acidente, apaga o vestígio dum rasto regra de experiência: o art. 779 CC dispensa o devedor de provar o benefício do prazo
01,' 11:lv;lgcm comprometedor no pavimento) passa a ser onerada com a rcspccti vu prova. por pura consideração do favor debitoris: a consideração da igualdade de probabilida-
I"") t\ inovação encerrava, tal como a do art. 264-3 (consideração de lactosprin- des de sobrevivência de cada uma das pessoas falecidas leva a considerar que morreram
, 111;11'.1(,~I"la"tes da instrução e discussão da causa), algum perigo de I]lallipulaçfio do pnt simultaneamente, segundo o art. 68-2 CC; a consideração do equilíbrio de vantagens e
"........ () princípio do inquisitório usa ter um limite na prova testemunhal, afinllada ser dcsv.nuugcns na uccitação. soh reserva, da declaração indivisível do art. 360 CC leva a
dll ,lIlJhil<l do priucípir: dispositivo (.IAuERNIG, Zivilprozcssrectn, cit., ~ 51. I; I,1Ió1l~1,\N. I,'r por verdadeiro» os lilclos ()II circuustãncias que, impedindo, modificando ou extinguindo
1111/111/,,/1'. cit.. 11, p. lú7). 0* 37:' ZPO alemã só admite as tcsrcmuuhax iudic.nlnx pd;l.: \l~ ·reilll,' d" faclll ,·ollll-ssad(). s:io lIarrados juntamente com a confis ão. Por seu lado,
1':\·1<..·. "111111:1111
•• () .ut. 2.7-1 dn (,PC italiano tem redacção scrnclh.uu« ~ qll(, lill":1 " a dl~.lill'.::'" '"1111"/01'f,' ,·,J/I.\Ú/flrÍl·,, " F'<'/II ilfl/){'(/iril'(1 baseia-se. tal C0l110 a presunção, em
.111 1, j , .1111,",.I" u-visn ••, ('1I11'IHI"lIdo;1 (':Iss:\~'fi(l itnlianu que () jliÍ·f. poli,· uindJl (11,1.-.1.11 li·)'.I'a·. .1:1"\11('110'11'1.1 ;" "11.id, 1.1'.1" 01.11I",."",h,/"tfl· 0\1 csrrpcionalidnd« da ocorrên-
,,01, 1"""11'1111101,' 1'·~.J1'11I11I1"as Pl('s"illdida~; (MANI'I''')II, ('''1'.\'(1. ('il.. 1[, ~ 'IH. p.'" \/ (1'111 tia 1111 11 ! 1:14 III I (1l.llIdil 11111111 ',4 ,I ,dl!.1 I, \.1,1111'1111\ a ~;"~Iprova a qUI'11l invoca o direito
)
Os Princípios Gerais
)
Princípio Dispositivo I~'l

por convenção das partes (63): a inversão do ónus da prova não dis-
cessuais dos Estados democráticos de tipo ocidental (supra, nota 35), em
pensa nunca o ónus da alegação (64), pelo que não está dispensado de que, dominando o princípio da controvérsia a recolha do material pro-
\Lt; aleg~r aquel~ a quem, nos termos do art. 342 CC, aproveitam os
batório, apenas no campo da prova tem também aplicação o princípio do
LIGIOSnao carecidos de prova (65),
inquisitório, num esquema em que, como vimos, ambos os princípios .se
combinam, em termos que apontam, aliás, para a cooperação material
6.6.2. A direcção do processo pelo juiz
entre as partes e o juiz (infi'a, 8,2),
Para além do campo da recolha dos factos e da sua prova, assim
, , O princípio do inquisitório aponta para uma concepção do processo como do da discussão de direito (cf art, 266-2), ao juiz cabe, em geral,
\'IVII, dlv~rsa da primitiva concepção liberal, em que a investigação da
a direcção formal do processo, nos seus aspectos técnicos e de estrutura
~cr~!~lc~e ,e da ,r~spo~sabili?a~e do juiz, Na sua pureza, implicaria que a intema (67), Esta direcção implica a concessão de poderes tendentes a asse-
nucranva do J1lI2 nao se lImitasse ao plano da prova e, invadindo igual-
gurar a regularidade da instância e o normal andamento do processo,
lI1el~te ,o ~a ,recolha do material a provar, se traduzisse na livre investi-
Ao autor cabe indicar, na petição inicial, a forma do processo
)',;I(.;aojudicial dos factos (66). Não é assim, porém, nos sistemas pro-
(art. 467 -l-c); mas, se a forma indicada não corresponder à forma legal,
ao juiz cabe mandar seguir a forma adequada, aproveitando os actos
':" prirneiro caso.(facto constilutivo.) e à contraparle no segundo (facto impeditivo) (V '
que, já praticados, puderem ser aproveitados para esta forma (art, 199-1),
c 11'1' \ P it 126 /\7 Deve ainda o juiz, oficiosamente, quando a forma legal não se ade-
:' \, ,~I, • rovas, CI" ps. ,e 1~3-1,84; supra, /.3 (36», Mas, enquanto a base da prc-
,dl/lI,.dO é um ji.1:1O exterior a [atlspécie normaiiva em que se integra o facto presumid quar às especificidades do caso concreto, adaptar a tramitação abstrac-
li! () inverso do fact diti '.' I o,
, . " " o Impc I IVO consutuí eemelllo da faüspécie do facto constitutivo: título tamente prevista na lei, designadamente determinando a prática dos
: lavlo, C~'~ISt,ltUlJVO~e boa, fé (contrária ao Eacto impeditlva da má fé) do possuidor, esta
101.11 (,,1/ccida de prova (31 t, 1260-2 CC), sao elementos integradores das fatispécies dos
actos que melhor se ajustem ao fim do processo (art, 265-A; ver tam-
!I/IS, I294-a CC, 1298-a CC e 1299 CC, mas já só a boa fé (facto presumido pelo título) bém o art, 2-a do Dec.-Lei n.? 10812006, relativamente ao novo regime
r, ,'I':II](;nlO Jntc~rador da fatispécie do art, 1295-1-a CC; natureza igualmente de facto COI'- processual experimental), Trata-se duma inovação da revisão de
11111111'0 c lacto impeditivo têm, por exemplo, o exercício do poder de facto e a detenção 1995-1996, da qual resulta, em paralelismo com o que, no plano dos actos
:'" posse em nome alheio (art. 1252 CC), o incumprimento negocial ou certos factos
processuais singulares, estatui - e estatuía já - o art. 138-1, a subs-
Ilrlt'llOS ~~iJtuaIS e o caso fortuito ou de força maior (ans. 799-1 CC, 491 CC, 492 CC ~
,J / \ 1 eC), o contrato, de mútuo e a sua gratuitidade (art. 1145-1 CC), a declaração de tituição pelo princípio da adequação formal do rígido princípio da lega-
VIII/li/de ncgocíat e li falta de vontade real (A contissão p 541 (42» AI . I lidade das formas processuais da legislação anterior (68),
' , "" .,' ,,', " , ~r", , '. ,gumas ac legas
";1;r' \S;CS crucnos distintivos podem encontrar-se nesta obra, designadamente a ps, 209
I . I, ,~ __
2 (63), 39 I (26-A) e 482 (54), Ver também A acção declarativa, 14,3,1.
.. , ~(',?_, Contrato ~e ~rova, e como tal negócio jurídico processual, para alguns auto-
prejuízo do exercício de função de tutela e de controlo, o juiz deixou de ter a con:-
/(" ,.d, 1I1.ICSVI COII/Issao, p. 509), mas melhor qualitlcável como negócio jurídico ele
dll\'II(\ sIIhstanllvO (idem, p, 559 (33», tante direcção formal do processo, tendo sido transferido para o agente de execuçao
um conjunto de tarefas que engloba a promoção elas diligências executivas (A acção exe-
(",I) " ~;í,porém. doutrina em contrário (cf. A confissão, p, 390 (25»,
cutiva, 1,6),
.. fr,,) iL:nl assun o credor de dívida reconhecida sem indicação do facto que ;1
(67) Em sentido semelhante, mas incluindo as actividades instrutórias: CAPPELLETI'I,
' : :'1.,1IIII/tI I) 1:"11~ l~L' ;!lt.;gar este, não ob:,lante não ler de o provar (art, 458-' CC),
.i-. ,1111 I uni\! II 11111(lIllI" de alegar o hcncficio do pruzo o devedor dispensado de () l/r',
La testimouian:a, cit., ps. 306 e 355-356, Diversamente acontece hoje na acção exec-
I'!/I 11111, '/ Ir> ( '( 'I, li uva, desde a reforma operada pejo Dec.-Lei 11,° 38/2003, de 8 de Março: sem prejuízo
(I"') .1/\ 111 JINII i, liI'ill"";'('.\.\'/'{'dlf ril II 111}, I 'M'I'I'I I 1'''1'1'1 I 'I I -ti . do cxcrcíci« !I~' 1'1/11',%'de tutela e de controlo, o juiz deixou de ter a constante direc-
I' . '.' .
H , " ---', /?,\ III/OIIUII,'i!
."" "!l,. r,:jo fO/'1Il:tI dI. pl" ..' ....;.•, 1"/ltll' "ido transferido para o agente de execução um ~onjunto
I':, ,\ \'),1·, HIII ;,\'lllld" ""lIwlkmtr, mn-, "I< IlltlI<I., n', actividades inslnlllída~ '('AI'
de lI.lrrJ',,'. 'I"" l'llf'ltrl,,/ ,I 1'lIlItllI<.::II' rI:!s diligi'ncia executivas (1\ acção executiva, 1.6),
/'1111 i r r, 111 1<'.',//l/i"I/I,I/I."., , /1., Pé, 10/", ,; .I, r 'fI'l:rS:II1'ICI11.(' ;/('110(('(\' 11;,;,' o:,
", ',"" r',,,, 1111\", dr",rI,' .1 1,'1""11,/ I'I'I"I,I'!:' I" I" I'" I" li" l"f"lO()"I (I· U I ,.) , (1M) ('I {'I\',I/"il\lIlll<l',,/lf'I',I'il.,LI'.198, Não sendo admissivel o acordo das
• (J ~, •• L' n «(.' IV W,\'O: !H'HI !li li I,", '"oIlI!' " til' li, I"'" ',Uldi I' L", "1','1,,1', ',;t" ouvidas pelo juiz anlcs de decidir a adap-
) )
158 Os Princípios Gerais

Cabe ainda ao juiz providenciar pelo suprimento da falta de pres-


supostos processuais susceptível de sanação, em obediência à ideia de
que devem ser removidos todos os impedimentos da decisão de mérito
que possam sê-lo (supra, 1.3 (57)). Assim, no esquema do código
revisto, a absolvição da instância por procedência duma excepção dila-
lúria só terá lugar quando a falta do pressuposto não for susceptível de 7.
suprimento ou quando, dependendo este, por via do princípio dispositivo
(0 o caso dos arts. 31-A e 269), da vontade da parte, esta se mantiver PRINCÍPIOS DA PRECLUSÃO
inactiva (69) (10).
E DA AUTO-RESPONSABILIDADE DAS PARTES
Para assegurar o andamento do processo, em condições de regula-
ridade e de celeridade, o juiz deve, dentro dos limites da lei, promover
todas as diligências que julgue necessárias e indeferir os requerimentos Vimos como o princípio dispositivo, na vertente do princípio da
das partes que não correspondam a um interesse sério (sejam «imperti- controvérsia, se baseia, já não na disponibilidade do processo pelas par-
ncntes») ou visem fins meramente dilatórios (art. 265-1) (1t). tes, mas na responsabilidade destas na recolha do material fáctico do pro-
A direcção formal do processo está estreitamente ligada ao cum- cesso e, limitadamente, na sua prova. Esta ideia de responsabilidade tem,
primento de deveres de cooperação do juiz para com as partes e destas porém, um âmbito de aplicação processual mais vasto.
para com ele tinfra, 8.3). Diversamente da responsabilidade civil, que é uma responsabilidade
para com terceiros, essa responsabilidade deve ser entendida como res-
ponsabilidade das partes para consigo mesmas, isto é, como auto-respon-
sabilidade. Daí, a necessária articulação do conceito com o de ónus, como
situação jurídica que implica a necessidade de certa conduta própria para
1.1<;;10cio processo) e não tendo a indicação feita pelo autor na petição inicial qualquer atingir um resultado, que tanto pode consistir na não produção duma des-
nuluôncia na determinação desse meio, o princípio dispositivo não tem, neste campo, qual-
vantagem como na produção duma utilidade ou vantagem para o titular (l).
quer aplicação.
(1;9) No caso de cumulação indevida de pedidos, com ofensa das regras do Consideremos, no nosso direito, o caso da contestação: o réu
.ut. ·-170-1 (curnulação simples) ou dos arts. 30 e 31 (coligação), o juiz deve convidar tem, por um lado, o ónus de contestar (supra, 2.3.4) e o de impugnar
,i :111101'a escolher o pedido que queira ver apreciado no processo (solução expressa no (supra, 2 (36») e, por outro, o de deduzir todas as excepções que, não
;111.31-A para a coligação e extensível, por analogia, ao da cumulação simples). Ocor-
sendo de conhecimento oficioso, tenha contra a pretensão do autor
11'lIdl! ilegitimidade por a acção não ter sido proposta por ou contra um litisconsortc ncccs-
~:;ll'ili. li juiz convidará o autor a chamar à intervenção principal a pessoa em falta, nos
(art. 489). A inobservância de qualquer destes ónus dá lugar a preclu-
il'l'IIIIlS do urt, 269. Em caso de incapacidade judiciária ou irregularidade de repre- sões (de contestar, de impugnar, de excepcionar); mas nos dois primei-
srntacúo do autor ou do réu, bem como no de falia de autorização 011 deliberação, () ros casos joga também, em princípio, a cominação da prova imediata dos
11111IIt:VC uotilicar o representante para seguir com a causa e ratificar, querendo, os actos factos alegados na petição inicial (desvantagem que só a sua impugna-
pr;11icadlls (art. 24-2). Não tendo sido prestado o consentimento do cônjuge necessário
ção em contestação teria evitado), enquanto no último o réu apenas
11 IlI0l'lJsilllra da acção, ao juiz cabe notificá-lo para, querendo, o prestar (ari. 28·A-2).
J \ ;'~:~IIII sucessivamente,
(10) Não ocorrendo o suprimento, a absolvição da instância não ler:í, porém. lugllr
11,\:;,'a~:o,do art. 288-:1 (S/lpro, 1.3.5). (I) I\S dlla~ perspectivas deram lugar a alguma polémica doutrinária entre auto-
(I J) () I.ISl'ti '. IIIcios dikuórios com o fim de entorpecer. atr:lsuluJo-a, a aq:üo da ju:, rcs qll(' adoptar:III"' umn '111 !lulra COIII exclusividade (cf. 11 confissão, p. 487 (69), e
Ili,lI 11,,<1 •. "'111''''''111:11viotll\'Í!tI "li dl'VI'1 dI' !>lIa ré proCl:SSII;t! (;111.:i(lo I\)" fi ,'I>"
dlll 111/'.:11 !I/,/ic,tf,i/i, i,«t.: ,/" ,1/1 4.'i()':! '(li (',itfi.r:" ,I.' l'rocesso Civil ('/11 sede de dedução de
d,·,J.P~.,!, d,1 1',111,' ,'111 Jl11111111' 1i1!11'lllIJI!.I\.1tI, ,"Jlliil .lill)'.:llIli' dt" 111,1 k 1;lIf JI~)(l; 11 <I. I \' t ,lI "1/1/'1111:"'\ .1,' "\",'1/1,1,1,,, ('1, li/c:'" til. I' ." ('i:11I, Ill;l~ lia realidade completam-se.
I i

)
Principies da Preclusão e da Auto-Responsabilidade das Partes 161
160 Os Principias Gerais

perde a possibilidade de, através da prova do fundamento da excepção, A auto-responsabilidade da parte exprime-se na consequência negativa
.vir a conseguir a sua absolvição, da instância ou do pedido (resultado (desvantagem ou perda de vantagem) decorrente da omissão do acta.
remoto favorável, só proporcionável pela situação processual de vanta- Ónus e cominações podem ainda surgir fora do âmbito dos prazos
gem em que a dedução da excepção imediatamente o colocaria). peremptórios e das consequentes prec1usões: a omissão continuada de acti-
Ónus, preclusões e cominações ligam-se entre si ao longo de todo vidade da parte, quando a esta cabe um ónus especial de impulso pro-
II processo, com referência aos actos que as partes, considerada a tra- cessual subsequente, tem também efeitos cominatórios, que podem con-
mitação aplicável, nele têm de praticar dentro de prazos peremptórios. sistir, designadamente, na interrupção da instância (art. 285), na deserção
Por prazo peremptório entende-se, precisamente, aquele cujo decurso da instância ou do recurso (art, 291, n.05 1 e 2) ou no levantamento da
prcclude a possibilidade de praticar o acto (art. 145-3), sem prejuízo penhora (art. 847-1).
do justo impedimento (2), isto é, da ocorrência de caso fortuito ou de força A auto-responsabilidade pode também exprimir-se na mera pos-
maior que obste à prática atempada do acto (art. 146-1). Todos os pra- sibilidade de consequências probatórias desfavoráveis da omissão, por
I.OS para a prática de actos de parte, sejam estabelecidos por lei ou via da formação da convicção judicial: tal acontece quando a lei remete
fixados pelo juiz (art. 144-1), são, em princípio, salvo se forem dilató- para o julgador a livre apreciação do comportamento omissivo da parte,
rios (art. 145-2) (2-A), prazos peremptórios, só prorrogáveis, salvo dis- que, notificada para depor ou prestar informações ou esclarecimentos, não
posição especial (3), por acordo das palies, por uma só vez e por período, comparece ou se recusa a depor, informar ou esclarecer (arts. 357-1 CC
no máximo, igual ao primitivo (art. 147-2). As partes têm assim o ónus e 519-2) ou, notificada para apresentar um documento, não o faz
de praticar os actos que devam ter lugar em prazo peremptório, sob (art. 529), casos estes em que, não operando uma preclusão nem uma
IH;IlU de preclusão e, nos casos indicados na lei, de comi nações (4). comi nação automática, dificilmente se poderá continuar a falar de ónus
em sentido próprio (5) (6).

(2) E ainda da possibilidade de, mediante pagamento de multa, a parte praticar o


:1.:10 nos três dias subsequentes ao termo do prazo (art. 145, n.OS 4, 5 e 6).
(2-") «O prazo dilatório difere para certo momento a possibilidade de realização
.1(' um neto ou o início da contagem de um outro prazo». Ê assim dilatório o prazo que
;ll"I'l'SCCao da defesa nos casos indicados no art. 252-A (cf. A acção declarativa, 7.1). servãncia do ónus de alegar em recurso resulta a deserção deste, que fica sem efeito
(O) Especialmente importante é, desde a revisão de 1995-1996, a prorrogabi!i- (art, 291-2). Outros exemplos podiam ser dados.
dade do prazo para contestar, nos termos do art. 486, n.(" 4, 5 e 6, estendidos aos arti- (5) Fá-lo JAMES GOLDSCHMIDT, Der Prozess ais Rechtslage, Berlin, 1927, p. 361, para

,'ld;ldos eventuais posteriores ex vi art, 504. A adrnissibilidade do acordo de prorroga- o qual se está então perante aquilo a que chama ônus semi-pleno. Podercmos, quando
'::10 1"0i também introduzida com a revisão. muito, considerar que estamos perante um ÓIlUS imperfeíto (cf. CAS'ffiO MENDES, Teoria geral
('I) Já o vimos quanto aos ónus da contestação e da irnpugnação. Da inobscrvânciu do direito civil, cit., 1979, Il, p. 161), se tivermos em conta que o resultado probatório des-
tio ónus da substanciação (supra, 6 (38» resulta a absolvição da instância, por incpti favorável depende de outros elementos (concorrência desse elemento probatório com
dil" da pl'lil,'ão inicial; da do ónus da alegação de factos que integrem a causa de pedir outros, formação da convicção judicial por valoração final de todas as provas).
individualizada resulta, se posteriormente não forem introduzidos no processo, a nhsol- (6) A preclusão pode resultar, já não do termo do prazo para a prática dum acto,
\'i~':ttl do pedido, por inconcludêncla; a inobservãncia do ónus de alegação elc fa -lOS mas elo termo da fase processual dentro da qual ele é admissíveJ, com exclusão de
'1111' Iuudcrn a excepção tem, por via da improcedência da excepção, eleito scmelhantr outra. A revisão do código atenuou a rigidez da repartição do processo civil por fases
11<1 da olliissfío de excepcional'; conscquências semelhantes tem a falta dc' requerimento estanques (supra, 1.2.1), lida por característica do direito medieval, à qual se opõe a con-
d,' pruvu. se as provas propostas pela contrapartc ou ordenadas oficiosamente flflo li ccpção do processo como unidade (princípio da unidade) (KARL SIEGERT, Die Prozess-
'.111"111'111 1);1 inuhxrrv.unia do ÚIIUS de requerer a intervenção principal d" lilist'oJ1.':'III,· 1'((I/(I/IIJlgeJl, ihr Widl!J'ruj'und ihre Nachholung, Berlin, Otto Liebman, 1929, ps. 100-112;
""I"'.·'\;lIi'l (;111. !.(ll) I) rt'sull:1 a uhsolviçâo da instância. por ilcJ'.ililllidadt· til! P;II[I' 1\;, 1'1'.'1'1,1/ AI(ENS. WiIIC'lt.\·mdngel hei Paneihandlungen im Zivilorozess, Berlin, Gehlen,
1l1t,1""'IV;'III,'ia di' t!('[1111 c ti\' jurnr n 1:1\1')'." fi" dn"'d"J' ti"!' 1"Idla Illvl"';I.I"
.I •• 111111:; a I'U,X. p~;. 11.2-43). Importante momento prcclusivo constitui o encerramento da dis-
I'''···· ,i,,"" 1''''',lIl1liva 11·.·.1111:1
'1111'1':.1;, d('ixlI d,' 1',,01"1 ;1,'111.11(;III \ I·) (', '1, 1):\ 1111'11 ('II:.~.;I" da 11):tI<;tia (IL' íucto em 1." in~:I.nIlL:ia (.w{JI'CI, (j (57».

Ii I" "
)

8.

PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO

8.1. O DEVER DE COOPERAR

Revestindo embora o ónus, no direito processual civil, uma impor-


tância muito maior de que no direito civil, onde impera o direito subjectivo
e o dever (genérico ou específico) de conduta, não deixam as partes de
estar também sujeitas no processo a deveres processuais, tais como o de
boa fé processual (art. 266-A), o de cooperação (arts. 266 e 519), o de
apresentar documentos (art. 529), o de recíproca correcção (art, 266-B).
Também os terceiros intervenientes acidentais (supra, L5 (6)) têm deve-
res para com o tribunal (cf, arts. 519, 531-533, 535 e 537, 570-1, 618 a
contrario). A violação destes deveres dá lugar a sanções pecuniárias
(obrigação de indemnizar, condenação em multa), não confundíveis com
os efeitos da inobservância dos ónus processuais (I), mesmo quando
dever e ónus tenham a mesma conduta por objecto. Regista-se, de qual-
quer modo, a tendência no direito processual actual para acentuar esses
deveres processuais e para os estender aos próprios magistrados. ,No
código revisto, disso constitui bom exemplo o dever de cooperação (l-A).

(I) Ou de omissão de que resulte a possibilidade de consequências probatórias des-


lavoráveis (supra, 7, in fine). Quanto à violação do dever de cooperação por aeto cul-
poso que torne impossível a prova à contraparte que tenha o respectivo ónus, dá lugar
i\ inversão do ónus da prova, que passa a caber à parte que tenha praticado esse acto
(urt. 344-2 CC; cf art, 519-2), '
(1./1) Na doutrina alemã 6, além deste, particularmente enfatizado o dever de ver-
dud«, perante o qual têm sido rei las interessantes construções que conferem à sua vio-
la~iln efeitos proccssunis, dcsigll!ldalliL'lllc 1\0 .ampo probatório (a verificação da falsi-
tI:!!k duma ni'irm:l,;:iO 1'1Ivllr{ly,,1 da ",111,' '['I:' ,"\11111 d"'iIIJ a 1)l'Ilva da versão fáctica da
(111111' (·'''lllfiri", 1"'11\ 011'1111'. [pi.II,.I., [. ""!,."Io" u.iu dW/'.IIl' :I urna conclusão no seu
)
164
)
Os Princípios Gerais Princípio da Cooperação 165

Partes e juízes devem cooperar entre si para que o processo realize de acordo com o art. 519-3, dois limites: o respeito pelos direitos fun-
a ~ua função em prazo razoável (cpara se obter, com brevidade e eficácia, damentais (nomeadamente, o direito à integridade pessoal, o direito à
a Justa composição do litígio»: art. 266-1), O apelo à realizacão da reserva da vida privada e familiar e o direito à inviolabilidade do domi-
função processual aponta para a cooperação dos intervenientes pro- ;0 cílio, da correspondência e dos outros meios de comunicação privada:
cesso no sentido de nele se apurar a verdade sobre a matéria de facto e arts. 25-1, 26-1 e 34-1 da Constituição) e o respeito do direito ou dever
com base nela, se obter a adequada decisão de direito, O apelo ao de sigilo (sigilo profissional ou dos funcionários públicos, ou segredo de
pr.~z~razoável a,ponta para a sua cooperação no sentido de, sem dilações Estado), Em caso de colisão, pode a parte - ou o terceiro - deduzir
uurteis, proporcionarem as condições para que essa decisão seja profe- escusa (3-B),
mia no menor período de tempo compatível com as exigências do pro- Por sua vez, o ali, 266-2, colocado na parte geral do código, con-
cesso, ou, na acção executiva, para que tenham lugar com brevidade as sagra o poder de, em qualquer altura do processo, o juiz ouvir as par-
providências executivas, No primeiro sentido, poder-se-a falar duma tes, seus representantes ou mandatários, pedindo-lhes esclarecimentos
c,ooperação em sentido material; no segundo, duma cooperação em sen- sobre a matéria de facto ou sobre a matéria de direito da causa. No pri-
lido formal.
meiro plano (matéria de facto), o âmbito de aplicação do preceito não
se confunde com o do art, 519: enquanto este prevê o depoimento de
parte, aquele ocupa-se do acto, verbal ou escrito, de prestação de infor-
~.2. COOPERAÇÃO MATERIAL
mações e esclarecimentos ao tribunal, do qual pode igualmente resultar
prova por confissão (art. 356-2 CC), mas que visa, fundamentalmente,
De cooperação em sentido material tratam o art. 519 e os n,OS2 e 3
do art, 266, qualquer esclarecimento que o tribunal pretenda obter sobre a alegação
dos factos da causa, de modo a ter perfeita compreensão do seu conteúdo,
O art. 519-1, colocado em sede de instrução do processo, faz recair
No segundo plano (matéria de direito), às partes pode ser pedido que
s()hre as partes - e também sobre terceiros, para tanto solicitados pelo
esclareçam a sua posição quanto aos fundamentos de direito do pedido
tribunal - o dever de prestarem a sua colaboração para a descoberto
e das excepções,
riu verdade, facultando objectos que constituam meios de prova
O momento mais adequado para o pedido e a prestação destes
(documentos ou monumentos: arts. 528-530 e 518; supra, 3 (14»), sub-
esclarecimentos é o da audiência preliminar, que tem entre os seus
1II 'tendo-se elas próprias à inspecção judicial (cf. art, 612-1) e ao exame
fins o de discutir as posições das partes, «com vista à delimitação dos
pericial (2), prestando depoimento de parte (art, 552) e praticando os
termos do litígio» e com a eventual consequência do convite ao supri-
tll'mais actos que o tribunal determine (3) e-A), Este dever tem, porém,
mento de insuficiências ou imprecisões dos articulados (art. 508-A-l-c),

livre apreciação da prova), Tal é menos defensável entre 116s, Para urna pano-
1111'/,','llL'
I :1",,(,:1 sobre a questão: A confissão, ps. 465-467, em nota (cf. aí também, sohrc () (3-Il) O primeiro limite é absoluto, mas não o segundo, pelo que, deduzida escusa
<1",1('1' de verdade, ps. 545-546 e as respectivas remissões),
que neste se funde e verificado o direito pelo juiz, o tribunal imediatamente superior, se
(.') O termo inspecção (<<inspecções necessárias») não pode deixar de ahr:II'II'L'1' não se tratar ele segredo de Estado ou de segredo religioso, decide se ele é de manter
"" I'~:prril() di) prcccirn, também o exame pericial (ct. urt. 582), ," , ou não. segundo o critério elo interesse preponderante, ouvido, no caso de sigilo pro-
. ('), Por cxcmpln, para exume de lcuu deve a parte escrever as palavrus que III!' Iixsional. o o I'g;1I1is1110 representativo da profissão em causa (arts, 135, 136 e 137 do
1I",'111 sol!"lltlllai; (nrt. 5X4-11.
('{,digo d,' 1'J'i)('('sso Penal, para os quais remete o art. 519-4), Em especial sobre o si~ilo
(' ,I) () 1,'I'(','il'll '111" 1'I'('II:;t' ;1 t'I>I:thlll':ttJio lli'dida t~ c()fld"IIUd" "111 Itlllllil; !jllitlll(l hillll'{IIIII" "sil',ilu !l1'llf'issillll:rI,ver C'PC anotado, 11, li,'" 7 e 8 da anotação ao art. 519,
" ,' ••,,<1111;1ti!) 1'1111<'," 'iJ"'" ,,1<1., 1'\"t'III"III,' p:ni, ('Ii'illl:; Pl'<1h:II('rlO:" :,,'111 1'1"11/1'11'"., t' ',',', t u, I"',11'o ,1"",,/ ,f,' si,<:íl" 1'/'II11-'.I'íOl/(/1 do advogado I' do [uncionârio bancário,
1""1.,, 01,11111}'.,tI ,I 1111'1"',,11'.I., "'111', tI:! 1""1';1 1.111 '''').': ,\111'1'11, '1('1.,', I I' '], /11 /111" I", I I/ ',j!:
)
lú'!
Os Princípios Gerais Princípio da Cooperação

lidas designadamente em conta a clareza e a coerência interna das ver-


sões fácticas apresentadas, bem como o reflexo que nelas têm a con- 8.3. COOPERAÇÃO FORMAL
sideração dos enquadramentos jurídicos possíveis da decisão, Mas,
ao admiti-la na ausência da parte contrária (notificada seguidamente do Da cooperação em sentido formal trata o n." 4 do art. 266, assim
resultado da diligência), o art. 266-2 inculca claramente a possibili- como os arts. 155 e 266-B-3,
dade de a prestação de esclarecimentos ter lugar fora da audiência pre- O art. 266-4 impõe ao juiz o dever de providenciar pelo supri-
I i 111 inar, mento de obstáculos com que as partes se defrontem na obtenção de
Também no âmbito do art. 266 cabe às partes o dever de colabo- informação ou documento necessário ao exercício duma faculdade, à
ração (dever de comparecer e prestar os esclarecimentos), com os mes- observância dum ónus ou ao cumprimento dum dever processual.
1I10S limites estabelecidos no art. 519-3, Assim, por exemplo, se, falecida uma parte, o autor invoc~ dificuldade
O desenvolvimento do princípio da cooperação em sentido material séria em identificar os seus herdeiros ou em provar a qualidade destes,
parece assim, no nosso direito positivo, fundamentalmente implicar deve o juiz notificar o co-réu ou um terceiro familiar do falecido para
poderes do juiz e deveres das partes, Não é este o sentido que é dado que preste as informações necessárias à observânci~ do ónus de reque-
110 direito alemão ao § 139-1 da Zivilprozessordnung, que visivelmente rer a habilitação para poder, seguidamente, prosseguir a causa (arts. 2~7
orientou o legislador português de 1995-1996 (4), Segundo uma orien- e 371-1), Por sua vez, na acção executiva, quando o a~ent~ de e~ecu?~o
tação doutrinária e jurisprudencial praticamente unânime, o Fragerecht não encontre bens penhoráveis e o exequente não os indique, e SOl!Cl-
(direito de perguntar) do juiz é, rigorosamente, um Frage- und Aufklã- tado ao executado que o faça, ficando sujeito a sanção pecuniária com-
ruugspflicht (dever de perguntar e de esclarecer), de tal modo que é pulsória se não indicar bens existentes ou fizer indicação falsa (art, 833,
admissivel o recurso de revisão quando não tenha sido exercido, devendo n,OS 5 e 7),
lê-lo sido, isto é, nos casos em que fosse aconselhável o esclarecimento Manifestação do princípio da cooperação em sentido formal, ~l
das posições, de facto e de direito, das partes e a introdução de even- como ele resulta do art. 266-1, constituem ainda o art. 155-1 (marcaçao
s
tuais perspectivas judiciais delas divergentes (5), de diligências por acordo com os mandatários judiciais), os n.o ~, ,4
e 5 do art. 155 (comunicação imediata de impedimento de mandatano
ou juiz para a diligência) e o art. 266-B-3 (comunicação pelo juiz de
atraso no início da diligência),
(") Na actual redacção, que vigora desde 1-1-2002: «O juiz deve, na medida do
IlI'l'c~s{lrio,ouvir as partes, de facto e de direito, sobre a matéria de facto e a relação con-
II••vertida e fazer perguntas, Cabe-lhe assim assegurar-se de que as partes se pronun-
l'i"11loportuna e completamente sobre todos os factos relevantes e, em especial, que com-
pl,'I\"11 as deficiências dos factos alegados, indiquem os meios de prova e apresentem
II~ respectivos articulados», plano da apreciação da prova, quer no do direito a aplic~r (preve~indo assim as dec~-
(5) ROSENUERG-SCHWAB-GOTTWALD, Zivilprozessrechi, cit. ps. 428-430, e JAUER- sões-surpresa) e, excepcionalmente, aconselhar as partes a a1teraçao da causa de pe~lr
I,!ll, 'I.il'ilprozessrecht, cit., § 25, VII, O juiz deve, nomeadamente, solicitar o csclarc- ou do pedido (de modo a evitar a propositura duma segunda a,cção), Embora a lei nao
"1111\'1)1001,10completamente de alegações de facto ambíguas ou incompletas, prorno- distinga, para o efeito, entre os processos em que as partes se fazem representar e aque-
Vl'1'a alcgução de todos os tactos relevantes com interesse para a causa, l'ixur com as les em que não se fazem representar por advogado, o dever de perguntar e esc~arec:r
I':III,'s scutido dos conceitos de direito pur elas utilizados (a fim de determinar divcr- adquire, obviamente, mais importflllcia nos segundos, Os limites do dever judicial sao
SSUfilJ' o papel
(I
.. " "" - d
1',"'11";'"'111"I'''s;;alll levar :1IH.'L'.'s;;ida,d,'d,' :1Il'gar os [actos que neles se suhsumcm, pois <';!lnlmvcrli(\os, mas afirma-se IllcqlllvOCall1cnte que o JUIZ nao po e a
'Jlli', 1IH<1::,'11<1<1
('<1"11<1\'('11111.;
11111,'llIl!'!';I•• d,' dili'illl da lingllagel1l vlIl",ar qlll' 11:111
(:!lIlS lk COII,'IlIIPi'jllrí lico duma das partes (não lhe 6 iicito, por exemplo, aconselhar a dedu-
11111:1 t) ,III"II/If ,!,'/'ÚI,'lIdulIl, 1",',.1 akl'.l!, ,li' P' I\\.- ',,', di:-;jll'll.o.;:lt!:t ,',11/'1 d, (, , ~) I, t l.u ;1
<;'!lI.1:t ('\"t'I~,,:"1 di' prr\I'Il!;at'), I) ~ "\') d:! 1,1'(),6 ~'orrelllCmelltc l:()I:sldcrado conter
IIl1lil I f'\ .i-. 1'.1111". " I tHIl "L,', .1",111111 t 1"".I,dHIICI.IIIt-:. (k ',\lItI~';\!I ti" j,I,-1I11 qllt'l 11'1
11111 d,,', :\',,,,,, I,,', ,ho j't'I'i",,' 111.11',11111",,1.1111,",
do ,]11'1'1\'1
prO('('S:illillCIVIl.
)
168
)
Os Princípios Gerais

8.4. SUA IMPORTÂNCIA

, . A,.progressiva afirmação do princípio da cooperação, considerado já


l~ 1~d.II a ve mestra. do processo civil moderno, leva frequentemente' LI
1.11.11 duma comunidade de trabalho (ArbeitsgemeiJlscJ~arft) e tr ar
I'" ,,'b' /". nlcaspal-
cs e ~o ti I unal para a realização da função processual (6). ' 9.
.. .. b~ta .nova concepçã~ do processo civil, bem afastada da velha
Id~"l,JI?elal duma luta arbitrada pelo juiz, revela bem a importá . 'f PRINCÍPIOS DA IMEDIAÇÃO,
prtnc1IJI d. . - ncia c o
, o a coope, açao. Embora se tenha revelado, na prática difíc j I ORALIDADE E CONCENTRAÇÃO
() período de ada la - 1 Jezi - '
• • .Ór-: p çao a e a, a egislação portuguesa decorrente da E PRINCÍPIO DA LIVRE APRECIAÇÃO DA PROVA
ICVIS'IO de 1995 1996
. ..c. _ - constituí um passo Importante no sentido da /.
".
uuposrçso. sua
9.1. IMEDIAÇÃO

o julgador da matéria de facto deve ter o contacto mais directo


possível com as pessoas OLl coisas que servem de fontes de prova (I) e
estas, por sua vez, devem estar na relação mais directa possível com os
factos a provar.
O primeiro enunciado postula que os actos de produção da prova
constituenda tenham lugar perante o tribunal, singular ou colectivo
(arts. 646, 11.0S 1,2 e 5, e 791-1), ao qual compete apreciar a prova e pro-
nunciar-se, consequentemente, sobre os factos provados e não prova-
dos (art. 653-2), só se exceptuando os casos em que a produção de
prova deva ter lugar em tribunal diferente do da causa, por via de expe-
dição de carta precatória ou rogatória (arts. 176-1) (2), aqueles em que

(I) O meio de prova pode ser considerado na perspectiva dinâmica do acto de pro-
dução da prova, constituindo umJacLO (probatório) que prova outro facto (supra, 6.4.3),
ou na perspectiva estática da fonte de prova, que é uma pessoa (depoente de parte ou
testemunha: fonte de prova pessoal) ou uma coisa (documento ou monumento: fonte de
prova real) (CASTRO MENDES, Do conceito de prova, cit., ps, 252-253 e 178). O perito
I' 1" ~I,·;./)Hi.)'<;I'NIII':IW:entre, :l\W'OS rclcridr», por 1l,l'l'IlIê. Vl'rfllilll/!/ll/g,\'IIIf1.IiI/ll'. cit.,
actua, em virtude dos seus conhecimentos técnicos, como um intermediário entre o juiz
. " .. ,( !,!lI .//III/;IIN/I;, '1.1\0[11'1/;:",\',111'1'''1, cil. I' ()I ('sle (Tili("llltl, ' '( e a fonte de prova (coisa ou pessoa), intermediação esta que não existe na inspecção judi-
, 11'1\ lI' " ' .. I' "'.' , ,. " ',) il I (lI1i'('1i, I'ill
cial (cf. arts. 388 CC e 390 CC).
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"11\ . I .' .' ,I. IIJllI!tpHI[.IIPJlfI'lv!·".IJ
I • '. ~I

'I ' 1'''1 I'" I'·il.) ',itl" ·.,d".IIIII"I •• 11;\/1, 1(, 'o,' I» "'I /', , J ", P:II;\ :1 j'lrilc!\\\:iín ele prova. A instituição, pelo Dec.-Lei n." 183/2000, de 10 de Agosto,
1,1 I/', ' " t c s . 1\\1011 l/f/fi'"
'j 1111. "',',IU\Il'lf
• I, / ,"Ir, 11,'I>li, I '>I ,11.,'; .\í I I"" ti >I", 11\/ fi" , I': '" " li;! /('li'\'ullkrl:IICi;1 para :I inquirição do depoente de parte e das testemunhas a distância
"J , • " I

1:1I1~.',')(\:,~ ,. W:1) qll;ISl' illl('ir:lIlJl.'l1ll' ;i suprimiu. Resta o recurso, para o efeito, à cana
110
)
Os Princípios Gerais Princípios da lmediação, Oralidade e Concentração l/I

1i,lia lugar à produção antecipada de depoimento perante juiz diverso


do da causa: ou perante este quando a audiência final venha a ter lugar 9.2. ORALIDADE E CONCENTRAÇÃO
Ill'rante o tribunal colectivo (arts. 520 e 521), e ainda aqueles em que a
Ilalureza do meio probatório implique que a produção tenha lucrar antes Instrumentais relativamente ao princípio da irnediação (4) são os
l~a, audiência (é o caso da prova pericial: cf. arts. 580-586)~ Neste da oral idade e da concentração,
ultllllo caso, porém, o princípio da imediação exige que os peritos este- O primeiro implica que a produção dos meios de prova pessoal (5)
.1<1111 pre~entes perante o tribunal que vai julgar a matéria de facto, para tenha lugar oralmente, perante os julgadores da matéria de facto, sem pre-
pr\'slaçao de esclarecimentos das respostas aos quesitos que entre- juízo da sua gravação em registo adequado (nos termos do Dec-Lei
1;1".10deram, pelo menos quando o juiz ou as partes o entendam neces- n." 39/95, de 15 de Fevereiro, mandado aplicar a todos os processos de natu-
:,:11'I0 (art. 588) (3), . reza civil pelo art. 24 do Dec-Lei n." 329-A/95, de 12 de Dezembro, con-
o. segundo enunciado postula que, quando esteja disponível forme o aditamento resultante do art. 6 do Dec-Lei 11.° 180/96, de 25
11111;[lonte de prova que implique menos ilações no iter probatório de Setembro) para efeito de reprodução, sempre que necessário, em 1.' ins-
(SI/fim, 6.4,3), a ela se deve recorrer, em vez de a uma outra mais dis- tância (antes da decisão de facto) e no tribunal da relação (ali, 712, n.OS.l-c
t nntc ~do fa~to fundamental a provar, Assim, por exemplo, não está e 2) (6), Tem as mesmas excepções que o princípio da imediação,
('xc luida a Inquirição da chamada «testemunha de ouvir dizer», mas o O segundo implica que os actos de instrução, discussão e julga-
dl'flullllento daquela de quem ela ouviu o relato dos factos a provar tem mento da matéria de facto se façam seguidamente, com o menor inter-
1l1i1l0!'valor probatório. valo de tempo' entre eles, Sempre com as mesmas excepções, deverão
ter lugar numa mesma audiência (a audiência de discussão e julgamento:
art. 652-3) e esta deve ser contínua (art, 656-2),
1IJi.':III'.ria, ?em como à carta precatória dirigida a consulado português que não dispo-
111101 til' meios téCnICOS para a teleconferência (CPC anotado, lI, n,OS 4 e 6 da anotação
111/1\11. (.23), 9.3. A LIVRE APRECIAÇÃO DA I>ROVA
ti) Não se harmo~iza muito bem com o princípio da irnediação a prerrogativa de
<l1:lll''''11I por,escnto c,o~tenda às entidades referidas no art. 624, ainda que o juiz possa Em ligação com os anteriores, o princípio da livre apreciação da
"; , Idll que e ne~es~al'la a presença em audiência das constantes do n." 2 do artigo, prova significa que o julgador deve decidir sobre a matéria de facto da
> 11:11110 ,i\ admlsslblltdade,~,a apresentação de documento escrito de testemunha impos-
"hilll.ld,.' ou com grave dificuldade de comparecer no tribunal (art. 639-A), bem como
di' dl'l':llInento telefónico ou por outro meio de comunicação directa de testemunha (4)
MANUEL DE ANDRADE, Noções, cit., p, 370,
':lJpn,.~lh"!lada O,~Ico~ grave dificuldade de comparecer aternpadamente (art. 639-8), é Depoimento da parte ou de testemunha,
(5) Mas também assim quanto aos escla-
1.11111"'"1de justificação discutível, só se compreendendo por se ter tornado letra morta recimentos dos peritos.
11 dl:.pIlSlO nos arts, 557-2 e 627 (inquirição fora do tribunal de testemunha"":" ou (6) A gravação da prova representa, no nosso direito, uma inovação devida à
"l'I '1);'1111', ~ IInpossibilitada de se deslocar por doença); de qualquer modo, a exigência. revisão de 1995-1996, cuja necessidade há muito se fazia sentir, Portugal era dos
1'.11.10 '~kllO: do acordo das partes atenua a ofensa dos princfpios da imediação e do con- poucos países em que só a memória dos intervenientes no processo, ou uns rápidos
IloIdll"1'I0, so a~nda não inteiramente respeitados por depender sempre do juiz (e nunca apontamentos pessoais, ajudavam à discussão e apreciação da prova oralmente produ-
1,1",I;:~'I\! Icquenmen~o .da parte) a renova?ão ,do depoimento na sua presençajarts. 639-A-4 zida, I) que tornava dil'ícil a decisão sobre a matéria de facto e praticamente impossibilitava
I c 11]). Menos respeitador dos pnnclplOs,·O art. 5 do rezime anexo ao Dcc -I ei a suu rcaprcciução em recurso. Cf ALEXANDI<E PESSOA VAZ, Justiça célere, cit., ps, 167
11" 'I,III'I~
, de 1 de Setembro
c .) , disocns.
I pensa, na acçao - di'ec arativa especial
", ' -'
para cUI11I)ril11cl1l0 c xs.. c 'li'c/lll%.<:ÍI'. ':lfic'w;r(: ,'I garuIIIÍi:,\' di' justice, Papel e organização de magistrados
,I, ," 11')':I\'II('S pccuniárias, o acordo das partes para o depoimento por escrito de leSll" e "dV"I',~ldll~ lias ,':Cll' i 1'11:11 lo", I IIllll'lIqllll~'Ii':I', Coimhru, 19<>5,ps. 573 c 55., e CARLOS TOR-
IIIIIIiIl:, '1l1e Icnha conhecimento dos factos por virtude do exercício das suas fUIH;fi'S, 1(1-'" /)///'/" .':1'1(/1 .t, i/II;,t!/"I/ •• 0/1 /1/.,/.',;" .l, !il<'ll), I·'a .uidadc de Direito de Lisboa, 1993,
, I 111'·,111"laz, 110 âmbito do regime proc(:xxlI,t1l'xl"'IIIIII'III:t! I' ,'11111maior :lmplillltk li
1'111,,,,pC! r, d 1", 1I1 I" r: '11'. ".. 1",1.11'1\1 LI/I'I umu ••vnliação geral dos resultados
,"1 1',(" 1)1"', I.l'i li," JOX/"OoC., d' X til' ,111111," '
ill.ltd'l', .I. '..1. li"" I ItItPII ,111 • 1,'111 11 !lP' I1 ',1',1,'01;1
')
./
Os Princípios Gerais
Principios da lmediação, Oralidade e Concentração I. / '

causa segundo a sua íntima convicção. formada no confronto dos vários


IllCios de prova. Compreende-se como este novo princípio se situa na
fissão (art, 361 CC) que não reúna os requisitos exigidos para ter for~a

linha lógica dos anteriores: é porque há imediação, oralidade e concen- probatória legal fica sujeito à regra da livre apr~ciaç~o. Valor probato-

rr"<.;iio que ao julgador cabe, depois da prova produzida, tirar as suas con-
rio fixado por lei têm também as presunções legais stricto sensu (art, 350
CC) (9) e a admissão (supra, 2 (34»,
vlusões, em conformidade com as impressões recém-colhidas e com a
convicção que através delas se foi gerando no seu espírito, de acordo com
Em regra, a prova legal pode ser contrariada por meio de p:o~a
;IS máximas da experiência que forem aplicáveis (1). de que resulte ser falso o facto objecto da prova (~Jrova_dO cOI:trarw:
art. 347 CC), pelo que dela resulta então apenas a mversao do onus da
Representando, tal como os princípios anteriores, uma conquista
li'" se tem vindo a desenvolver desde a Revolução Francesa, a livre
prova, que passa a caber à parte que inicialmente nã~ esta va com el~

;qm.:ciação implantou-se historicamente em substituição dum sistema de


onerada (art. 344-1 CC) (10), ainda que, em determll1ado~ casos, ~o
pl"llva legal em que os próprios depoimentos testemunhais eram valera- verificados certos outros requisitos legais (11). A prova diz-se entac
dns em função de factores meramente quantitativos (8). Hoje, a Iiber- plena. ,
d.idc de apreciação da prova pelo julgador constitui a regra, sendo
Mas o valor legal do meio de prova é, em certos casos, insuscep-
['scepção os casos em que alei lhe impõe a conclusão a tirar de certo
Illcio de prova. Mas as excepções são importantes.
(9) Toda a prova indirecta se baseia, por natureza, em presunções, isto é, em ila-
. Estão, de acordo com essa regra, sempre sujeitas à livre apreciação
ções tiradas dum facto para outro, até se chegar ao facto principal (supra: 6.4,3). M~S
d() .iulgador a prova testemunhal (art. 396 CC), a prova por inspecção o Código Civil traia da presunção como se fosse um meio de prov,~ autónomo. Abs-
(;11'1. J91 CC) e a prova pericial (art, 389 CC), Têm, pelo contrário, valor trai assim da aplicação do conceito de presunção no âmbito das ilações Imcd"~lamcnle
tnubatário fixado na lei os documentos escritos, autênticos (art. 371-1 tiradas a partir da produção dos meios de que seguidamente trata, .apcuas utIhzand~ °
para significar o avanço que, a partir do~ factos probatórios assim provados,. se da
~ '(.') ou particulares (art. 376-1 CC), e a confissão escrita, seja feita em
mais para além no caminho da prova do facto principal. Imaginemos que consta em
li IIW (art. 358-1 CC), seja feita em documento autêntico ou particular,
documento particular o reconhecimento por A, que com B linha cele~rado conrrtuo-pro-
Illa x neste caso só quando dirigida à parte contrária ou a quem a repre- mcssa de compra e venda dum bem móvel, que deste recebeu um sinal: ~ocumento °
.',I'!lIC (art. 358-2 CC); mas quer o documento (art. 366 CC) quer a COI1- prova que A fez a declaração dele constante (art. 376-1 CC); desta dcclarnção, ~orqu~
confessória (art, 352 CC), deduz-se a realidade da entrega (~\I:t. 376-2 CC}, desta
deduz-se, por força do art, 830-2 Cc. a vontade das panes de afastar a exec~çao espe-
cífica do contrato-promessa. Só esta última dedução caractcnza uma presunçao em sen-
(,) As máximas da experiência permitem avançar no iter probatório, deduzindo tido restrito,
11111 f':l('lo d: outro isupra, 6,4.3). No domínio das provas que passam pela formação (10) Assim, por exemplo, no caso da nota anterior, é possível, segundo a melhor
doutrina (CALVÃODASn.YA,Sinal e contrato promessa, Coirnbra 1996, p, 111; ALMErD!\
</:1I'PIIVlcçao judicial, o JUIZ vale-se da sua própria experiência da vida (VAZ S[iI{RA.
/'" 1\'1/,\', cir., J1S, 78-82); no das provas com valor fixado por lei, é esta própria que, COSTA,Direito das obrigações, cit., p. 348), a prova de que a vontade real das part~s
;1" 1IIIpnr a dcdu~'ão, se baseia em «regras de experiência constantes e imutáveis», era, não obstantc o sinal passado, no sentido de manter a possibilidade da execuçao
J,:I',i'ad;l~ num «critério de uniformidade ou de normalidade» que pcrfilha (Ci\RI.O específica. ,. .
1'llnNII, ('(llIlri/JI/I(I nlla !('oria delta prova lega/e. Padova, Cedam. 1940, ps 153-154 (11) «Restrições especialmente determinadas na lei» (art. 347). ASSim, por exem-
" 1',1)). plo, com base no art, 359 CC, o valor probatório da confissão só pode ser tnflrm~do,
(li) Por l'x(,lIIplo, no I'ucro Vicjo de Castilln, para vencer um lilígio sobre imó- mediante prova do contrário, quando ocorram certos fundamentos de nulidade ou de. anu-
\""'. "I :\1111Il'('t'~s;Írias 5 Il'Slellllll1hils. 3 d:1S quais deviam ser fidalgos e 2 lavradores, labilidadc do negócio jurídico (A confissão, ps. 619 e ss.): e °
valor probatório de
, "'/".1111" (,:: lill)';I)" :;ohl'" "'SI;IIlICI1/11S requeriam 7 ou. se o tcxradnr fosse Cl'!~().X Il'S documento autêntico ou particular só pode ser infirrnado com fundamento em falsidade
111111,"11,'" (I ',\1',',." I r rr Iu It·stilll(i/lilill::II. CiL, p. 174 (7», A 1'.xigl'lIcia,,'111"'/(Ipm III~ (arl~, 372-1 e 376-1 CC) ou provando-se, sendo particular, que foi assinado por pessoa
I." j, .1111>'111>' 111.11'. I'" "1111"".I" /111111111<1 .I,' ~ 11.',·II'lllllllli:I.',l"lI /';11'1\1d"ri,,:! ;1111.1,1
d(, que não sahia ou não podia ler, sem a intervenção notarial exigida pelo art. 373 CC, ~u
n u ·,)tll. IJplJ d,- l;r1l1l.1I •.
i()
qu\' ['11
i assinado em branco c, nos termos do art. 378 CC, se verificou ~ sua subtracção
011li iw,,"U;:I" 1",1"dI' d('cl;II':II.:ti,";diV<'I'!'.('lIlrst!;ISajustadas com o srgnutano (art, 546-1),
)
Os Princípios Gerais
)
Princípios da lmediação, Oralidade e Concentração 175

IívcJ. d~ ser destruído. A prova diz-se então pleníssima (12). É assim a A distinção entre meio de prova legal e meio de prova sujeito à
Ud~!),lssa,oe po~e sê-I~, ~o~ .c~sos que a lei indique, a presunção legal livre apreciação do julgador (meio de prova livre) leva a uma reparti-
.\fllclo sensu, dita então inilidível (art. 350-2 CC).
ção de funções entre o juiz da matéria de facto e o juiz que profere a
Em outros casos a,inda, a lei estabelece que a simples dúvida do jul- sentença. A este cabe conhecer dos meios de prova legal, nomeadamente
I' 'Id( ir .obr . lid d
" ,~IC, a, rea I a e do facto, em princípio provado por imposiç'io a admissão, a confissão e o documento (art, 659-3). Àquele cabe
1<0"11
:,',
<: sufic
,
t
ren e para que cesse o valor probatório por ela f d"
1\ ir b
I' - ixa o, conhecer dos meios de prova livre, tanto assim que, se se pronunciar
I IU\ ~l e então astante, Assim é que as presunções de paternidade ou sobre factos que só possam ser provados por documento ou que este-
1I1:llerll~dade (estabelecidas com base, nomeadamente, em declaração jam plenamente provados, as respostas que der, tal como as que inci-
(:,~;l'l'Ifa,'~le:uÍV?ca da ~a.te~·nidade ou da maternidade, feita pelo investi- direm sobre questões de direito, são nulas (ctêm-se por não escritas»:
!,.tIl,O) s~ consIderam ~Irdldas quando existem dúvidas sérias sobre a ' art. 646-4).
P,IIC:fl1lddde ou m.a~erl11dade (arts, 1816-3 CC e 1871-2 CC),
,,:" Quer: ,p,ara a Ihs~o, da for~a probatória legal plena, quer para a cri-
,Il,',10 cio. est~elo ele dúvida do julgador, está de novo aberto o recurso a 9.4. CERTEZA E VEROSIMILHANÇA
qll',I~t~uel_fl1~IO~~ prova e, portanto, também aos que estão sujeitos à livre
"I .rccruçao judicial.
No âmbito do princípio da livre apreciação da prova, não é exigí-
?lI~ro tipo de excepção ao princípio da livre apreciação da prova é vel que a convicção do julgador sobre a validade dos factos alegados
\tlllslltllldo 'pela im . - J 'I dir "
, ,. " ' poslçao ega, necta ou mdlrecta, de que a prova de pelas palies equivalha a uma absoluta certeza, raramente atingível pelo
dtfcll11lJ1dd~ facto se faça por certo meio probatário, normalmente doeu- conhecimento humano. Basta-lhe assentar num juizo de suficiente pro-
,111(,1.lla~.A Imposição é directa quando a lei exige o meio apenas para babilidade ou verosimilhança (14), que o necessário recurso às presun-
:,1pJ~)~d ,d~ facto: doc.un.:ento ad probationem de declaração negocial, aliás ções judiciais (arts, 349 e 351 CC) por natureza implica, mas que não
,,1Ih;l.'tllIVel por confissão em documento de igual Oll superior valor pro- dispensa a máxima investigação para atingir, nesse juízo, o máximo de
Il:ll(in~ (art. 364-2 CC); confissão de não pagamento de dívida depois de segurança (15). Quando no espírito do julgador, em vez da convicção,
1'« '''ITJd~ ?
prazo da prescrição presuntiva (art. 313 CC); certidão do se forma a dúvida sobre a realidade dos factos a provar, nomeadamente
I:'!'I~;I() Clv,JI.para prov~ dos factos a ele sujeitos (art. 4 do Código do como resultado do confronto entre a prova produzida pela parte onerada
1\\')'ISlo CIvIl) tE' l'
, ~". ' ~ c. , inairecta quando a lei exige um documento, com o respectivo ónus e a contraprova oposta pela parte contrária
.I:JI,l.IIIICOOl~par~lcular, como forma da declaração negocial (art. 364-1 (art, 346 CC), o facto não pode ser dado como provado, em prejuízo da
~ .f l. ~_ que implica o ónus de conservação do documento e a sua apre- parte onerada ou, na dúvida sobre a determinação desta, em prejuízo da
,.( II(oIl,dOpara a prova des ' d 1 - (J3)
I " .' c , ,e sa ec araçao , com consequente afasta- parte a quem o facto aproveitaria (art. 516).
IH 11.10 de outros meIOS de prova (arts. 351 CC, 354-a CC e 393-1 CC
('('lIll'ol1lar com arts. 393-2 CC, 394 CC, 485-d e 490-2). '

1I (14) CASTHO MENDES, Do conceito, cit., ps. 321-327 e 644; BLOMEYBR, Zivil-
. I I 1 /\ lei chama-lhe
.," porém , (."1"/1'/
/ t'll corno à'
u, (, , prova
Icoa I' 50 conlrai'l::ível
. pela prozessrecht, cit., p. 348; JAUERNIG, Zivilprozessreclu, cito, p. 191; SALVATORE PATT1,
l'ill\" «() (arl.. 347 CC),
"')/llr:11'10
C
e» ,
f1IWfltvI)' i".'
(1') ' Libero convencimento e valutazione delle prove, Rivista di diritto processuale, 1985,
, 1, maung, CII., ps. 196-197, .Iá se tem defendido a acJl1lissihili,hd" de p.503.
( II"II.','i'l<I
1"(1'( ·1 >i'( . I I' .' I I 1 - , ' ... '
• I, ':. ". I JV.ll<J <1<;10 te a (CC araçao ler Sido emitida na forma Icgalrllcllle ['xi- (15) Não assim quando a lei se contenta com a prova sumária dos factos, como
I (. .r . ." ,I" I 'I 'r 1(1" " I 'I I' ",
,
f' f"
' ," ••I '.,lIl, 11111110
(IIVll OS[I
I C ./111'(' ('fI/lst/IUlo: ti confissã« I)!j 1;0') .. 1ru: acontece com o [umus boni juris nos procedimentos cautelares(art. 387-1; ver CPC
/I'ill fi 1I11',';nt"; dl\IHI 1/1)"11
IIW. • , •• 1~•• 1.)1

alio/lido, Il, 11." 2 da anotação ao art, 387).


( (

1 1(,
Os Principias Gerais

9.5. PLENITUDE DA ASSISTÊNCIA DOS JUÍZES

Em derivação do princípio da livre apreciação da prova, a decisão


lk Ciclo só pode ser dada pelos juízes que tenham assistido a todos os
;IClo.') ele instrução e discussão praticados na audiência final (princípio da
fl/"I/i/I/de da assistência dos juizes: alto 654). 10.

PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL

10.1. NOÇÃO GERAL

o resultado processual deve ser atingido com a maior economia


de meios.
Esta economia de meios exige que cada processo, por um lado,
resolva o maior número possível de litígios (economia de processos) e,
por outro, comporte só os actos e formalidades indispensáveis ou úteis
(economia de actos e formalidades) C).

10.2. ECONOMIA DE PROCESSOS

10.2.1. Suas manifestações

A exigência da economia de processos explica as disposições que


permitem o litisconsócio inicial, a curnulação de pedidos, o pedido sub-
sidiário, a ampliação do pedido e da causa de pedir, a reconvenção e os
incidentes de intervenção de terceiros.
Todas elas são normas permissivas: as partes podem ou não, de
acordo com o princípio dispositivo, formular no mesmo processo todos
os pedidos que a lei permite que sejam deduzidos e fazer ou não citar
para a causa, inicial ou posteriormente, todos os titulares da relação
jurídica material que não tenham de ser obrigatoriamente partes na
causa. Mas, se não o fizerem e forem propostas separadamente, perante
o mesmo juiz, acções que podiam ter sido reunidas no mesmo processo,

til MI\NIII'I.liI i\i-ilHII\III. fVO('(jI'.\", cit., p. 371.


I) I I' f
( ( "
178
Os Princípios Gerais
Principio da Economia Processual 179

(l JUlZ poderá determinar oficiosamente a apensação de todas elas


(art,275-4), sem prejuízo de as partes poderem requerê-Ia, mesmo que
o litisconsórcio é necessário quando a lei e), o negócio jurídico ou
pendam perante juízes diversos (art. 275-1). a própria natureza da relação controvertida (4) exige a intervenção -:- Oll

Da imposição da economia de processos, em conjugação com outros


princípios processuais, derivam ainda as disposições, em grande parte
decorrentes da revisão de 1995-1996, que visam o aproveitamento da sano. O maior obstáculo do critério perfilhado resulta dos casos, pela lei qualificados
como de litisconsórcio voluntário, em que por ou contra cada litisconsorte é formulada
ncção proposta e, indirectamente, evitar a propositura de nova acção
a quota-parte dum pedido global rcspeitaute a uma mesma relação jurídica (art. 27-1).
para conseguir a solução do litígio. Estão neste caso as normas que É o caso típico da obrigação conjunta: cada um dos credores conjuntos s6 pode exigir
impõem remoção de obstáculos processuais (supra, 6.6.2 e 8.3)
ao juiz a do devedor a quota-parte do seu crédito, tal como cada um dos devedores conjuntos só
e as a alteração do pedido e da causa de pedir (arts, 272
que permitem pode ser demandado pela quota-parte do seu débito. Rigorosamente, este caso devia ter
o tratamento da coligação, A razão dada por CASTRO MENDES (DPe, cit., ll, p. 176) e
(~ 273) e a integração do.litisconsórcio necessário (arts, 269 e 274-4).
perfilhada por TElXEIRA DE SOUSA (As partes, cit., p. 88) para a sua qualificação como de
Embora Já várias vezes lhes tenhamos feito referência, é o momento litiscons6rcio (a essencial identidade dos pedidos, quanto a conteúdo e fundamento) só é
de ver mais precisamente em que consistem estas figuras, para o que tra- admissívcl pela necessidade de encontrar lima explicação para o enquadramento legisla-
1:lrt.:1110S,sucessivamente, do litisconsórcio (voluntário e necessário), da tivo (que tem conscquências, designadamente, no campo da intervenção principal: art. 320).
('lllllulação de pedidos (cumulação simples e coligação) e do pedido Por seu lado, não se enquadram na definição do art. 27-1 os casos de litisconsórcio for-
mado entre sujeitos que não são contitulares da mesma relação controvertida, sendo um
suhsidiário, da ampliação e alteração do pedido e da causa de pedir, da
deles titular duma situação jurídica estruturalmente autônoma, mas dependente, jurídica
n:convençào e da intervenção de terceiros. Todas dizem respeito à con- ou economicamente, da posição elo outro ou da sua inexistência: assim acontece na acção
f'i!~lIração e à modificação da instância. . sub-rogatória quando nela intervém o credor-devedor para ocupar a posição de autor, em
liüsconsárcio impróprio com o seu credor (art. 608 CC), nas acções de dívida em que o
10.2.2. O li tis consórcio mesmo pedido é formulado contra devedor e garante (legal ou convencional) não principal
pagador, e na acção em que o mesmo pedido é subsidiariarnentc deduzido por autor ou
contra réu diverso do que demanda ou'é demandado a título principal (art. 31-B). Pouco
A configuração subjectiva mais simples da instância consiste na rigoroso é ainda o critério da unidade da relação jurídica se atendermos à figura da acção
I'xislência de um autor e um réu (além do tribunal). Frequentemente, de mera apreciação da existência dum facto jurídico.
p(HÚn, a instância constitui-se entre vários autores ou (e) vários réus.Éo (3) A exigência legal da intervenção ou citação de todos os interessados pode
qllC acontece, em primeiro lugar, no caso de litisconsórcio: o mesmo pôr-se igualmente, embora com raridade, em caso de coligação, pelo menos do lado activo.
Assim, em acção de indemnização por acidente de viação, quando se faça valer a res-
!ler/ido é formulado por ou (e) contra várias partes, dando lugar, res-
ponsabilidade pelo risco, limitada a determinado montante (art, 508 CC), ou se demande
p('('/ivill11enle, ao litisconsórcio activo ou (e) ao Iitisconsórcio passivo e). a seguradora c o capital seguro seja limitado (art. 741 CC), impõe-se a coligação activa
de todos os titulares de direitos de indemnização, não obstante estes serem autónomos
e darem lugar a pedidos distintos. O regime do litisconsórcio necessário é, em princí-
(1.) O apelo à unidade do pedido na configuração do litiscons6rcio tem sido ques- pio, aplicável a esta coligaçüo necessária, que as disposições gerais do código não pre-
11""1111",havendo quem recorra antes ao critério da unidade da relação jurídica material viram, mas é igualmente carecida duma decisão unitária, embora limitadamente aos
"IIIII'oVCl'lida (ADEUNO PALMA CAnLOS, Ensaio sobre o litiscol/s6rcio, Lisboa, Tipo- fins que a justificam, Nomeadamente, não pode ser ordenada a separação de causas
1".".;" ('olollial, 10.')(;, px. 11:\-126; ANTlJNES VARELA, Manual, cit., p. 161; LlC, do STJ. (art, 3[-4) c não é admissivel confissão do pedido, desistência do pedido ou transacção
til' 11)1I ~n.11M.!, .\31, p, 41)4), aparcntcmcnrs consagrado IIOSarts, 27 c 28, mas posto em que não intervenham todos os coligados necessários (art, 298-2). No caso de recurso
1111, .11''';11"'1;,dl'l"illi\';I(Itia coliga~'ãll, disunguida do litisconsórl'io por l'III'GITarurna plu- interposto por um deles não é, porém, defensável que os outros dele aproveitem
,.,; I, I.,d,· ,I.. 111''''./<1.\
1.;,,·1. :lO I). Qualquer tios critérios dC.l'J'OJlliI'S,' , 11111
di I il'llll.l:lde~. <Iul', (art. (j83-1). sem prcjufzo de a decisão que vier a ser proferida dever tCT em conta a regra
dl)'.1 '.1'. '.:,,, "01111;:111 11 '''I\" dl"""'"lill·,'idas 111)GllIhilo dox 01111'11'. ',;'.1."'".1'.illlill;,·,,' .. qll<' /1:111 (\,1propo!'<:j/\llidlfl:ldl' Jl;Idisuihuição da indemnização global; pode também o réu recor-
dil"II'''' '''''' IIIi',(IlII,,'·'/('i•• I' 1'l)fiJ~:II,,:II'" .':" lilllil:IIII, (,tllll 111>1'"''.11111"1, I.!"d,'. :, di'.li" I'<'IIIL'cxrluir dI' ,,','liI',I> :.11'11111
<111 :11!'IIIlSdos coligados (:11"1. 684-1),
!'II11 111,·.,"I"."" lo \'·,J""l.í,i" I"llI.I/'I'."IIc/II 111111.'.' ..1 "1'1'.11
I .• "" .."" li' I,,',
.. 1,,, I 111'· I','.
Cll "()llIllId" Ih'l., 1""lill., '1.,1111"1.'d;1 ,,'1;11;;111 jnridi";t. ela ~cja necessária para que
n dl'I'lt,ll~1 .1 ,tI!!11 1.1111111' 1'1 11 i'l/'llo
',I 111" 1101111:\1". 1',10 14~ P;";I '1111' It·".lIk dr fiuilivn ..
'l (
181
Princípio da Ecollomia Processual
180 Os Princípios Gerais

No caso de Jitisconsórcio necessário há uma só acção e duas par-


citação - de todos os interessados (art. 28), corno é o caso, por exem-
tes, das quais uma, pelo menos, plural; mas no litisconsórcio voluntário,
plo, da acção para o exercício de direito de preferência com vários titu-
tal como aliás na coligação, há várias acções e, portanto, várias partes
lares (art. 419-1 CC), da acção de cumprimento de obrigação objecti-
ocupando o mesmo lado da relação jurídica processual (art. 29). No pri-
vamente indivisível com pluralidade de devedores (art. 535 CC) e, por
meiro, a intervenção - ou citação - das partes é essencial à regulari-
extensão, da proposta contra compossuidores, comproprietários ou her-
dade da instância no aspecto da legitimidade, de tal modo que, quando
deiros em comunhão hereditária, da acção de exercício de direitos de
falta, a parte é ilegítima; mas, para se poder aproveitar a acção pro-
cornpropriedade ou relativos a herança por partilhar, desde que não seja
posta, é facultado ao autor o chamamento à intervenção principal do
de reivindicação (arts. 1405 CC e 2091-1 CC), da acção de declaração
sujeito em falta, mesmo depois de, com esse fundamento, o réu ter sido
de IlU] idade ou de anulação de negócio jurídico, a propor contra todos
os que o celebraram, da acção de que resulte perda ou oneração de absolvido da instância (inj'ra, 10.2.6.B.a).
No caso de litisconsórcio voluntário, ao invés, a autonomia de cada
bens que só por ambos os cônjuges podem ser alienados ou perda de
uma das partes litisconsorciadas leva a que, em oposição ao que acon-
direitos que só por ambos podem ser exercidos ou ainda, do lado pas-
tece no litisconsórcio necessário, a falta de citação de um dos réus não
sivo, da que ernerja de facto por ambos praticado (art. 28-A).
anule os actos subsequentes (art. 197-b), cada parte possa livremente
O litisconsórcio é voluntário quando a lei deixa na disponibilidade
desistir do pedido, confessar o pedido ou transigir (art. 298-1), o recurso
das partes a sua constituição, de tal modo que, se não se constituir e ape-
interposto por uma das partes vencidas não aproveite, em princípio, às
nas um ou alguns dos interessados na procedência ou improcedência
restantes (art. 683-1 a contrario) e o recorrente possa excluir do recurso
do pedido for parte na acção, o tribunal conhece apenas «a respectiva
quota-parte do interesse ou da responsabilidade» (art, 27-1), como acon- alguma das partes vencedoras (art. 684-1) (5).
tece na obrigação parciária ou conjunta, a menos que a lei ou o negó-
10.2.3. Curnulaçãode pedidos e pedido subsidiário
cio jurídico permita que o direito seja exercido por um só ou contra
um só dos interessados (art. 27-2), corno é o caso da obrigação solidá-
A cumulação de pedidos pode ser simples (art. 470); mas pode
A.
ri;1 (art. 512-1 CC), da obrigação objectivamente indivisível com plura-
também combinar-se com a pluralidade de partes, gerando então a coli-
lidude de credores (art. 538-1 CC) e de certas situações de contitulari-
dude como a compropriedade (art, 1405-2 CC), a composse (art, 1286-1 gação (art. 30).
A cumulaçiio simples tem lugar quando o mesmo autor (ou os mes-
( 'c) ou a comunhão hereditária (art. 2078-1 CC). O art. 31-B expres-
mos autores litisconsorciados) deduz (ou deduzem) contra o mesmo réu
samente admite a constituição de litisconsórcio mediante a dedução do
(ou os mesmos réus litisconsorciados) mais de um pedido (6). A sua
mesmo pedido a título principal contra um réu e a título subsidiário
admissibilidade do ponto de vista material exige tão-só que os pedidos
contra outro.

(5) TEIXElRi\ DE SOUSA, As partes, cit., p. 74. Também a confissão dum litis-
IIll'lIle as situações das partes relativamente ao pedido formulado (art. 28-2). Tal acon-
conserte, por poder ter efeito indirecto equivalente ao de um acta dispositivo, só pro-
11'l"(' sempre que, sem a presença de todos os interessados, a sentença que se obtivesse
dui'. prova legal plena quando o Iitisconsórcio é voluntário, estando sujeita à livre apre-
IIIIiksst' vir a ser inutilizada ou a estar em contradição lógica com outra, por não ser opo-
ciução d!) jul!'.:ldnr 1111
liliscol1sórcio necessário (arts. 353-2 CC e 361 CC).
lIíVl'1 :ilJut:/<'s que não tivessem sido parte no processo (nos termos gerais da delimita-
(") l'c'didp dI' \krl:lra<;:io du direito de propriedade sobre x e de condenação na
,,',IIl 01<1 :lIl1ltilll subjectivo do caso julgado) e o litígio carecer duma decisão una em
SIIII '"'IIH')':I . .I," :10111:1'::111
.I" 1\1')"" 111I"doli,'" " lk \"\lIIlJcIl:l,Jin ('01 indemnização pelo dano
rlil I' ,li' tll.!iI.'> ror, PALMA CARLOS, Ensaio, cit., ps, 151-164). O entendimento da cxprcs-
III'!' ..IIII''': ,I!- ",".1'"".1".1" li" ["'1,.11111'111",("1"1"'," .111111" ""111(>1:1" venda c na n.:slillli\:Jo
'.."I ",'1,'11" 111,(normab rem, porém, daelo lugar a dil'ieuladcll". (Ilrl'w rctcrênciu em
,(" '1"111111.' IIIIIIII,"\.' d, ,,,11'"1"" .1" '\""1.1 (,[11.1," d," 1,.11'.111,,",,1,1
.llIllIa Io'1i;I
, rt '11I'"'/'/''' t, 11,":1 da anotação ao art. 28).
(
IX.'
Os Princípios Gerais
(
Princípio da Economia Processual 183

xcjam entre si compatíveis (art. 470-1), sob pena de se verificar a inep-


fid~i{Jda petição inicial (supra, I.2 (15»). dúvida fundamentada sobre o sujeito da relação jurídica material, entre
partes distintas, em coligação (art. 31-B) (l0). Entre pedido principal e
A coligação tem lugar quando os pedidos cumuJados não são dedu-
pedido subsidiário não tem de haver prevalência substantiva: o autor
zidos por ou contra a mesma parte (singular ou plural), mas sim dis-
pode deduzi-los apenas por estar incerto relativamente ao seu direito
niminadamente deduzidos por ou contra partes distintas (1). A sua
ou por admitir que o tribunal possa ter dúvidas quanto a ele, orde-
adl1lissibilidade do ponto de vista material exige, além da compatibili-
nando-os então como muito bem lhe aprouver (11).
dade dos pedidos entre si, algum dos tipos de conexão referidos no
:1/'1. 30: mesma causa de pedir (exs.: o mesmo contrato; a mesma deli-
C. Para que a dedução de pedidos em cumulação ou em subsidia-
hl:rução social); relação de dependência entre os pedidos (exs.: anulação
riedade seja admissível, exige o art. 31-1, com o qual se conjugam os
du negócio de transmissão/Jlulidade da transmissão subsequente; validade
arts. 469-2 e 470-1, que não se verifique nenhum de dois requisitos nega-
(k negócio incumprido/cumprimento da obrigação de garantia); identi-
tivos, sem os quais eles não se consideram processualmente compatíveis:
dade de factos essenciais integradores das causas de pedir (ex.: coli-
xocs de veículos em cadeia); mesmas normas legais ou cláusulas con-
a) A incompetência internacional ou em razão da matéria ou da hie-
Irilluais aplicáveis (exs.: várias vendas de bens defeituosos; idêntica
d;íusula dum contrato-tipo) (8). rarquia para conhecer qualquer dos pedidos;
b) A correspondência aos pedidos de formas de processo especial
diversas (12).
8. Pode ainda o autor deduzir pedido subsidiário, destinado a ser
t, unado em consideração apenas no caso de não proceder o pedido dedu-
10.2.4. Ampliação e alteração do pedido e da causa de pedir
/.ido a título principal. Neste caso, tal como no de pedidos alternati-
v. », ('Jy, não é exigi da a compatibilidade substancial dos pedidos, podendo
A. Não é só inicialmente que são admitidas a cumulação de pedi-
I'kS ser contraditórios, precisamente porque cada pedido só poderá ser
dos e a dedução de pedido subsidiário. Também na pendência da causa
all~IIJido quando o outro não for. Também a dedução de pedido subsi-
.Ii.irio é admitida quer entre as mesmas partes (art, 469) quer, havendo
(10) O art. 31-B, introduzido na revisão de 1995-1996, distingue duas situações de
pluralidade subjectiva subsidiária: aquela em que o mesmo pedido é deduzido por ou
contra parte diversa da que demanda ou é demandada a título principal, constituindo litis-
(1) Constituem panes distintas uma parte singular e uma parte plural integrada pelo
III('SlIlO sujeito que constitui a primeira. Assim. constitui coligação (activa) o caso em consórcio voluntário (supra, nota 2); aquela em que por ou contra parte diversa da que
111ft'A e B dirijam um pedido contra C, mas só A deduza contra ele um outro com o pri- demanda ou é demandada a título principal é deduzido pedido diverso, constituindo
1111'11'0cUllllllado. coligação.
(I () Pode, por exemplo, impugnar paulianamente um negócio jurídico a título prin-
(x) Não ohstantc verificarem-se os requisitos da coligação. pode o juiz detcrmi-
II!ir ;1 d,'s({j'{'II,\'oç:âo das acções, prosseguindo o processo instaurado COI11 aquela quc cipal e pedir a declaração da sua nulidade por .simulação a título subsidiário, ou vice-versa;
IJ alll"r - ou autorcs - indicar. em obediência ao princípio dispositivo, e sendo o réu ou pedir a título principal a declaração de nulidade dum contrato e a restituição da coisa
prestada em seu cumprimento e a título subsidiário a condenação do réu no cumpri-
011 1(-\lS - absolvido da iustâncin se a indicação não for feita (art. 31-4). Convite
;1 Illtlll':i\·;·io sL'mcJhalltc, sob idêntica comi nação. é feito quando Iulte u conexão indis- mento do mesmo contrato, ou vice-versa. O tribunal deve, porém, sempre conhecer as
l'I'II:';lvrl :1 admissibilidad<; da coligaçiío ou a compatibilidade IICCC\SS[II'Íi1
i\ ,Jdlllissihili- questões jurídicas de conhecimento oficioso, prévias à apreciação do pedido deduzido, pela
"11<11'.J" 1'11111111;1,':\0 :,illlplt-.~ (;II!. ~ l-A; SII!J/'(/, 11.6 (60)). ordem de precedência imposta pelo direito substantivo (art. 660-1, por analogia)
(11) «Formas de processo diferentes» salvo quando «a diversidade da forma de pro-
(") 1).,. I"'did"" :dll'III:llivos 11'1111111':11.di' acordo C"1ll \I ;111.,I(.~:."111 11'1;11;:111;1.111\'1
[rt-,allt'llliI!IVO'. I,·, ,,1>li!'.:J',';!!' :tll{'III:lliv:\l "" qlll' !l0:,·.;lliI ""."1,, I '.' ,'11/ ."1"111:1111.1(I \. cesso derive unicamente do valor". Veremos que, em manifestação da segunda vertente
111,,11"","""111 I. '>I IItI.I./(· ,;11"111;11110'>11 :;,,1>1"<'1,". ("\'.11',,1>11111'1' Ii/', "I I( I'" '(,I. '(,<1 do prilll'Ípin da ccnnomia pnx-cssuul, o juiz pode, neste segundo caso c em certo con-
di,·j"ll:di:.II"'. :lIllllrinr:1 1'111I11ti W':lII, IlIl ;1 fOllllld;It;~1I <1(1pc.lulo ~;llhsidi;II'in (ill/i'o. 10J),
( (
11'4
Os Princípios Gerais
Princípio da Economia Processual Iw,

;I lei as admite, ainda que limitadamente (supra, 6.3): a ampliação do


pL:dido. por acordo das partes (art. 272) ou, unilateralmente, na réplica tenham ocorrido ou sido conhecidos depois da réplica ou, se o processo
(;11'1.. 273-2) ou, depois dela, quando for consequência ou desenvolvimento
não a admitir, depois da petição inicial (art. 506) (18).
di) pedido primitivo (supra, 6 (30», pode importar a formulação dum
p(~diclodiverso, que assim se curnula com o inicial (13); com um condi- C. Até à revisão de 1995-1996, era o Código omisso quanto à
('il1/1,"isI110 um pouco mais apertado (não pode, quando unilateral, exceder admissibilidade da modificação simultânea do pedido e da causa de
() momenro da réplica, salvo no caso do art. 567 CC: art. 273, n. os 2 e 5), pedir, isto é, quanto à possibilidade de o autor introduzir novo pedido,
n tllocliticação do pedido pode consistir, já não na sua ampliação (rnodi- com fundamento em facto constitutivo diverso do inicial (19). A ques-
(jc!ção por acrescentamento), mas na sua alteração ou transformação (em tão é resolvida no código revisto, em conformidade com o princípio
VI:Zdo pedido inicial, deduz-se outro, suprimindo-se o primeiro) (14). da economia processual: o pedido e a causa de pedir podem ser modi-
ficados simultaneamente, por ampliação ou alteração, desde que tal
fJ. Fundando-se todo o pedido numa causa de pedir (supra, 1.4.6), não implique convolação para relação jurídica diversa da controvertida
I'sI pode também ser modificada, por alteração ou ampliação: é ampliada
a
(art. 273-6) (20). O que deva entender-se por relação material contro-
Ifuanelo os novos factos alegados integram outro facto constitutivo do vertida não é isento de dificuldades, dado que, no seu sentido técnico
.lircito do autor, a valer ao lado do primeiro (15); é alterada quando os rigoroso, a relação jurídica tem por conteúdo um direito (21), cuja afir-
IIOVOS tactos integram um facto constitutivo do direito do autor que este
mação no processo constitui o conteúdo da pretensão (supra, 1.4.6):
pr(~tL:l1deintroduzir em substituição do inicial (16). Fora do caso de fora o caso em que o autor deduza uma pretensão que corresponda ape-
:!('llnJo elas partes (art, 272), a alteração e a ampliação da causa de pedir
.,,t') podem ter lugar na réplica, a não ser que os novos factos sejam
illfrnduzielos no processo já provados, em consequência de confissão dispositivo. depende da vontade do autor. e não com a aceitação da confissão, que,
constituindo urna declaração de ciência unilateral. dela não carece e produz efeito pro-
ti-il;l pelo réu (art, 273-1) (17), ou que sejam supervenientes, isto é, que
batório imediato.
(18) Em contrário: CASTRO MENDES, DPC, cit., li, p. 415, e EURICO LOPES CAR-
DOSO, Código de Processo Civi anotado, Coirnbra, Almedina, 1967, p. 408, que sujei-
(IJ) E que está sujeito aos mesmos requisitos de admissibilidade (substantivos e tam a alegação de factos consututivos em articulado superveniente à limitação do
/l' "l""Ssllai~) que a cumulação inicial. art, 273-], assim a reduzindo aos factos que completam a causa de pedir. A solução do
('.') Pode, além disso, como também vimos, o pedido ser reduzido, isto é, modi- texto, consistente em interpretar o art. 506 em conformidade com o princípio da econo-
11i':!dll por subtracção, em qualquer altura (art. 273-2). Exemplificando: na pendência mia processual, harmoniza-se com o regime temporal da adrnissibilidade de articulado
""11101 acção em que é pedida a condenação do réu no pagamento de 100, o autor modi- próprio do intervcniente principal ou do opoente (cf. os arts, 323-2 e 342-2; infra,
I,,·;, " pedido ao pedir a condenação do réu no pagamento de mais 50 ou também na pres- 1O.2.6.E). Ver, no CPC anotado, o n." 3 da anotação ao art, 506. '
I",.';io dllllla coisa Oll dum facto, ou ainda quando, além da condenação no pagamento .(19) Cf., no sentido negativo, MANUEL DE ANDRADE, Noções, cit., p. 159, argu-
"li', lO/). pede u produção dum efeito constitutivo (ampliação), ao desistir de 50 (redu- mentando, ainda que cautelosamente, com a «convolação para uma acção completa-
':' I") 1111 :111 de:-;;slir dos 100, pretendendo apenas a coisa, o facto ou o eleito jurídico (alte- mente distinta quanto ao seu objecto», que a dupla modificação importaria. Era, porém,
I'II"/"!. 1\ altcraçiio e a redução implicam a desistência do pedido ou da pane do pedido defendida a admissibilidade de novo pedido (por ampliação ou alteração do primeiro)
,·llIlilll:ld4ls. pois de' Olltro modo defraudar-se-ia o disposto 110 au. 21)6,./ (CASTRO MEN- quando a causa de pedir coincidisse parcialmente com a inicial (CASTRO MENDES, DPC,
I 'I 'i. /l1'C. (·il., li. p. 2(2).
cit., lI, [J. 291), ainda que, simultaneamente, fosse introduzida nova causa de pedir em
("') ()II. "(l'I.~idt:'·:ld:1 :1 acção de simples aprcci:,I~·:ío. outro (at'!l) I"rídi('t) :1 aprcci:1I'. suporte do pedido inicial, caso este em que a desarticulação das duas modificações não
/"') 1\ al{ef:",:í" e H ;lInplia\~;·I<J IIriose cOllflllldclll (,()/II \I "{lII'Jl"'I;II""III41 ,. a 1\'('- permitia questioná-las (cf. a hipótese de ANTUNES VARELA, Manual, cit., p. 359).
111,\ :1':'11/ d" '·;UI.".:1 d,· ""dll (.1'111'1", /,.1 (,Ihl). (21l) O critério adoptado tem nitidamente a sua fonte em ANTUNES VARELA, Allo-
1'/; 1\ l"·'·II.I',.", :1 '1'11' " 1'11"""111 '." 11'1"11' ("11/"1":.· .. 1<, 11i, ri , I" I •• /1111",., I,'", taçào (I() adm/rio do S7:! de 6-10-81. RU, 117, p. 120 (2), e Manual, cit., ps. 281-282:
.' I'" . "", 'i:"",-11.1\.11> <>11,11/""",;1" ti., I .111'.:1 di' I,,'dll 'I'" d, I" ,ó(d •• ,I/'Ii li 1'1111. '/"1/ ,k::dl' qUl' :1 r"I:'~'~i(1 nuuerinl se mantenha. nada deve impedir a dupla modificação.
í'l) I' 1:111\11(:," :I ·.illl:(I.:;'jo passiva (dever ou sujeição) que Ihc correspouda.
) )
1~4
Os Principios Gerais
Principio da Economia Processual
;t lei as admite, ainda que limitadamente _
pedido, por acordo das partes (art 272 (SUpl~, 6,~): a ampliação do tenham ocorrido ou sido conhecidos depois da réplica ou, se o processo
(;'1"1, 2T~-2) d ' ,) ou, unIlatelalmente, na réplica
- ou, epOls dela, quando for canse A , ,
não a admitir, depois da petição inicial (art. 506) (18),
do pedido primitivo (supra 6 (30» d ,quen~Ia, ou desenvolvImento
pedido diverso que assim s~ I ' po e 1~~~ltal a formulação dum C. Até à revisão de 1995-1996, era o Código omisso quanto à
.,' cumu a com o l11IClaI (13), ,
t'I(l(laIISrno um pouco mais apertado não od ' ~om um condi- admissibilidade da modificação simultânea do pedido e da causa de
t I I!lomento da réplica salv (d p e, quando unilateral, exceder pedir, isto é, quanto à possibilidade de o autor introduzir novo pedido,
, o no caso o art 567 CC' , 27
H lrIocliücação do pedido pode consistir ,,' _. ' art, 3, n. os 2 e 5), com fundamento em facto constitutivo diverso do inicial (19), A ques-
I..ICiIÇ,lOpor acrescentamento) , ja nao na sua ampli raçao - ( mo di1-
tão é resolvida no código revisto, em conformidade com o princípio
, mas na sua alteraçã tr c -
Vt,~Zdo pedido inicial, deduz-se outro .: IOd ou anslormaçao (em da economia processual: o pedido e a causa de pedir podem ser modi-
, supnmrn o-se o primeiro) (14),
ficados simultaneamente, por ampliação ou alteração, desde que tal
13. Fundando-se todo o pedido numa causa de e " , , não implique convolação para relação jurídica diversa da controvertida
t's/a pode também ser modificad 'I, _ p dir (supla, 1.4,6), (art. 273-6) (20), O que deva entender-se por relação material contro-
a, pOI atei açao ou amplia ;- " li
quando os novos factos alegad ' 'ÇclO, e amp iada vertida não é isento de dificuldades, dado que, no seu sentido técnico
. . os Integram outro fact "
dln;I/o do autor a valer ao I d d ' , o consutunvo do rigoroso, a relação jurídica tem por conteúdo um direito (2'), cuja afir-
, a o o pnrneim (15), é 1 d
IIOVOS factos integra' m um f t '. ' a lera a quando os
pr('1 'nele introduzir
:1l'tlI'do elas partes (art 272)
ac o constltUtJvo do dir it d
em substituição
1, _
do ' , , I
mrcia
o o autor que este
( ), Fora do caso de
I:~l mação no processo constitui o conteúdo da pretensão (supra, 1.4,6):
fora o caso em que o autor deduza uma pretensão que corresponda ape-
, " a a teração e a ampliaçã d' ,
,',I) podem ter lugar na " I' _ o a causa de pedIr
, . lep ica, a nao ser que o f '
fllll'oduzidos no processo já ' d s novos actos sejam dispositivo, depende da vontade do autor, e não com a aceitação da confissão, que,
, prova os, em consequên' d f'-
/(-,1:1 pelo réu (art 273-1) (17) , era e con rssao constituindo uma declaração de ciência unilateral. dela não carece e produz efeito pro-
, , ali que sejam supervenientes, isto é, que batório imediato,
(18) Em contrário: CASTRO MENDES, DPC, cit., li, p. 415, e EURICO LOI'ES CAR-
DOSO, Código de Processo Civi anotado, Coimbra, Alrnedina, ]967, p. 408, que sujei-
("t) E que está sujeito aos mesmos requisito d " , . tam a alegação de factos eonstitutivos em articulado supcrveniente fi limitação do
llillc'L"';,~tfais) que a cumulação inicial. s e admJsslbJ1!dade (substantivos e art, 273-1, assim a reduzindo aos factos que completam a causa de pedir. A solução do
(.1) Pode, além disso, como também vimo ' texto, consistente em interpretar o art, 506 em conformidade com o princípio da econo-
Iw:ldo por subtracção, em qualquer altura (, t ?~'3 o pedido ser reduzido, isto é, modí- mia processual, harmoniza-se com o regime temporal da admissibilidade de articulado
i1uol:1 ;Ir~'fío em que é pedida a co d _ dai, -: -2), Exemphficando: na pendência
I " n enaçao o reu no pagamento d 100 próprio do interveniente principal ou do opoente (cf. os arts, 323-2 e 342-2; infra,
" ;1 t) pt:dldo ao pedir a condcnação do .s: e , o autor rnodi- 10.2.6,E). Ver, no CPC anotado, o n." 3 da anotação ao art. 506, .
1:1\'''0 d'"na coisa ou dum fact~ o .led'u no pagamento de mais 50 ou também na pres-
I I( • , u am a quando além da cond - .('9) Cf., no sentido negativo, MANUEL DE ANDRADE, Noções, cit., p. 159, argu-
r t)', )0, r xlc a produção dum efeito consur ti . enaçao no pagamento mentando, ainda que cautelosamente, com a «convolação para uma acção completa-
I UIVO (al/lpliaroc7o) a d . .
','<1/ / ) (111 :1,) desistir dos 100 I)retcnú d ,. ,", • o esrsnr de 50 (redu- mente distinta quanto ao seu objecto», que a dupla modificação importaria, Era, porém,
, . en o apenas a COisa o facto o ·1"" ,
II/\,I/r/). /\ ;t1lera~:ií() e a redução imIJII'e'IIn 'I d . tê ," ,I .' 11 o e euo jurídico ialre- defendida a admissibilidade de novo pedido (por ampliação ou alteração do primeiro)
I c • esrs cncra uo nedd I
r ' liltlltatll!,'i, Jll)is de outro modo d 1"1 .' , I' I o ou na parte do pedido
I'I '" /)1'(', C;I.,' 11. Jl. 292). c Iauc ar-se-Ia o disposto no arr. 2%- I (CASTRO MEN-
quando a causa de pedir coincidisse parcialmente com a inicial (CASTRO MENDES, DPC,
cit., 11, p. 291), ainda que, simultaneamente, fosse introduzida nova causa de pedir em
(",) 011, <'(lIl~idcr:tdil :t .1t\''1o de" I ._ suporte do pedido inicial, caso este em que a desarticulação das duas modificações não
1"') 1\ ;tltl'f':t(:tti .' a ;lIllf1li:I~':'lll n~;(~I1~cs al~~'cclil~'a(J,Olflrt> 1';1('101"l'ídi('() a ;lprCC;,II:
permitia questioná-Ias (cf. a hipótese de ANTUNES VARELA, Manual, cit., p. 359).
111"'Ii.":I" tI:l <"111"1ti., 11' I ( ,., I I' . C cun IIlIdl'fll ('tllll ti ,'IIIII!,'( 1.llIlt'llIo " 'I rcc-
'," • "I ·\/11'/11, .' (,I() I I, ' (lO) O critério adoptado tem nitidamente a sua fonte em ANTUNES VARELA, Allo-
111J 1\ ,,' , .
1" II/('(io ao (/c(mki" do .\'7:/ de 6-/0-8/, RU, 117, p. 120 (2), e Manual, cit., ps. 281-282:
,I \,. """ fi '::" ",;",,111,I '1 /' .) P,t't'c',ft) ',I' '1'("11' ( .•( tlll{"",',.1I I II!! d.1 111 III :1111(11 111'111
! "1' ., ./11 UII .1 ,.",tl,.hl d.1 1 .111' •. , di' 111'dll dc:;tf(, IJtll' a ft'I:I~'iill material se mantenha. nada deve impedir a dupla modificação.
qllt d. li· 1111111, 'Hli" plllh 111111
('I) I' 1:lIllht'11I :, '.illl:tt.::'o passiva (dever ou sujeição) que lhe corrcsponda.
) )
lK/
Princípio da Economia Processual
1:-;6 Os Princípios Gerais

" . treza é pedida (26), a recon-


lias a parte do seu direito (22), a invocação do facto constitutivo do feitorias ,e des~es,as relativas a cO~~~dc:J;oe~éu~merge do facto jurídico
I/OVO direito do autor implica, rigorosamente, a convolação para uma venção e admissivel quan~o o ~ , defesa e quando através dela o
relação jurídica diversa (23). O preceito deve ser, porém, entendido ~~Ie s~:~:n~~ ~~:~~~~t~e~ a~~I~~fí~~o~ o mesmo efeito jurídico que da
C0l110 possibilitando a modificação simultânea do pedido e da causa de leu ~1 "eir~ caso, a reconvenção funda-se na mc:sn:a c,ausa e
pedir, não só quando alguns dos factos que integram a nova causa de au~~~. No Pl~;do do autor (27) ou 110S factos em que o propno "" fund~
pedir coincidam com factos que integram a causa de pedir originária ou pe 11 que o ~e 1 " ',', 28 ou com os quais indirectamente llllpugn,a
;t causa de pedir reconvencional, ou fundem excepções deduzidas, mas uma excepçao pel~~pt~l,l~ ( ;9 30. No segundo caso, a causa de pedir
rumbérn quando, pelo menos, o novo pedido se reporte a uma relação os alegados na peuçao ImcIal ~ ) () I'" I) mas a identidade e
material dependente ou sucedânea da primeira (24), reconvencional é diversa da mvocada p~ o dU~~~lara~ão de propriedade
do efeito jurídico pretendido (por exernp o, a
10.2.5. Reconvenção
" utui quando não tenha
d'd' elo excesso ou sc s 6 a cons . .
A ampliação do objecto do processo pode ter também lugar por é sUIJcrior ao elo autor e na mec I ,I 'd'. 848 1 CC tendo nos restantes
, di "I te nos termos o ai t. - "
rcconvenção, isto é, por via de pedido dirigido pelo réu contra o autor sido já invocada cxtraju icra menre, 'S br 'I queslão rcsolviela a favor da
casos a natureza de excepção pcrcmptóna, so rc • ,
(;11'1. 274-1),
scgunela posi liO, ver A acçü~ decl({rat~va, ~,7'1~'99_b CC e 1273 cc. Sobre li matéria,
Para que a reconvenção seja admissível, tem de se verificar algum 7
CI" por exemplo, arls. 1138 I C " , " '_ ,- " Imrfei/orias e a
dox elementos de conexão com o pedido do autor que vêm indicados no
:11'1. 274-2, Além dos casos específicos da compensação (25) e das ben-
(26)
pode ver-se o meu artigo /\ t,.al1:"lIiS~c7°fid(~
cadllcidade do direi/o de re/ençClo pc o ac o
d:;:I~~I:~/;:/~,~~~::;:'~:;~~I~e~~iS,
'
13 (2006, li),

no prelo, did: , 'ondenaç'ío do réu no pagamento do preço da com-


(27) Por exemplo, pe I ,I a c •• c , "
, d - do autor na entrega da COIS.\'
pra e venda. o réu pede ,I con cnaça~ ,,7 do réu no pagamento do remanescente do
(!l) Tendo direito ao preço de 100, o vendedor apenas pede que o comprador (28) Por exemplo. pedida a con enaçaoj'eI' I lo contrato e pede a condenação do
preço da empreuac 'I' .I, o rei
" I excepciona
, a nu I <IC e ( , 'd
.íona o incumpnmento 'o con-
',l'j;1 condenado a pagar-lhe 50, Se a obrigação de pagar os 50 não pedidos tiver resul- , ,- , nrtc d 'ço que pagou, ou cxce[lcl , ,
IlIdo duma modificação do contrato de compra e venda inicial, a invocação desta modi- autor na restIlUlçao ela parte o prc _ "t'llição elo que pagou e em indem-
oe pede a conelenaçao do autor na rcs I 1
I'll',II,;:10constituirá uma causa de pedir diversa da inicial, embora dela complementar, trato, reso I ve-
(2)) É desde logo assim no caso exemplificado por ANTUNES VARELA, Manual, cit., nização. , a di ,7 eI_ coisa comum. o réu alega que a coisa não
p, 2H2: proposta uma acção de cumprimento duma obrigação contratual e invocada (29)Por exemplo, pedida a ivtsao e 'I e ter já corrido o prazo da res-
, id di idid' de facto em duas pai ce as' " '
1',,10 IÚI, na contestação, a nulidade do contrato, o autor pede, na réplica, a restituição é comum. por te: SI o IVI I ,I. , . _. , d '1'." 50 do direito ele propnedac\e sobre
da ,"1111ru-prcstaçãc efectuada, eventualmente acrescida duma indemnização, O direito [lectiva usucapião, e, eOnScqL~entelll,el~te, geele ~Ia e~I~~1'~~bre a outra parcela (ac, TRC, de
:1 II'Sl.illlição, bem como o direito à indemnização, integram relações jurídicas distintas, a parcela que pOSSUI e duma servu.lao e P:ss los .t"ICtOSque integram a causa de pedir
I 39) A Impugnaçao ( " ' . f'
!'lllhora coucxas com as que, a ser válido o contrato, dele resultariam, Veja-se o para- 16-2,94, C.J, 1994" p" _ I" 7 4 I)' neste caso, o réu alega ac-
indi t' (/\ acçao dec arauva. , ' , '
j,-1i~;llill que o exemplo apresenta com as situações previstas no art. 274-2-a, pode ser directa ou 10 irec ,I . . 't'veis (cf art. 490-2: «oposi-
tos diversos dos alegados pelo autor e com estes mcompa I '
1"") No direito alemão. quando o réu não aceite a modificação do pedido, ao juiz , id ' da no seu conjunto»). , I
,'I 11IljlL'll' udmiti-Ia. lida em conta a sua utilidade para a causa (Sachdieulichkeit: § 263 ção com a dcfesa const ela dir ou e t c' a causa de pedir reconvenelOna
, idê ' das causas ele pc 1\ ou en r r . I
'/1'()1. Sl'glllldn a jurisprudência, o juiz deve ler em conta a possibilidade de com ela (30) A comer .cncra.oa : _. eI ' t t I bastando que seja purcta ..
b: "a defesa nao tem e sei o a,
rvu.rr 111111I0VO professo. mas não deverá, dcsignadamente, admiti-Ia quando dela resulte c os factos em que se ascia _ id t de viação o réu reconvenha com
, I ' , I te em 'lcçao por aCI en e, , -
.I .1I'H'!'i:l!;all dl' rrl;IlJiL-s jurídicus 1010111/('1111' distintas entre as mesmas partes ou 11I;!iO!' E, por exemplo, ac missive que, '_ .. ' .ad I autor pedindo a i-nelemmzaçao
1'1Ind,II1lClltll no <lell) ilícilO de conduçao,pl<lllC<l o pc o, ,
dlil! 111<1:\.11' d,' Il\-li'''1 dll 1'(.11(.I,\lII'\(NI(;. /'il'il'J/'O"(',I's/'('('h,, cir., p_ l(ll; BI.OMI"'''lt, Zivi!
{';", (',I,II{', '111, ,'il .. 1', .' 11: I,{)SI'NIII,RI :-Sl'IlWi\I\-(j()'J'lWJ\I,II, '/;1';1,,1'11;',1'.1',11'I'('''1, ril .. p, 57(,),
dos dal\os por ele ('111colls:,Cjuêncla sofr~do~-, .r ~ ao mesmo tempo, admissívcl por
\") (hwndu assill1l1:1n sc,p. a leCl)I1\CI1t,=.lOL,
I' 'I '11'111 ',i.t" 1'"1111>l'IIIIIII!""llid:t ;1 '1\II'SIô!ll di' :..111"1',,' d 111I'ur:It,:lll 1i;1 (11111
1011':1.1.1 ,li "1 t· !lol I'tll\:a lb .tl , r do an. 271\-2,
I" 11' .t".H' t'Ii!i.',llflli :,1111111' II 1'(111\1'111:.111, ~.r ;1 {'oll':111t11 ''111'11.'', qll.lnd'l " I 11't!lln dl' 11'11
) )
Os Princípios Gerais
Princípio da Economia Processual I •

sub~'c .0 mesmo bem, a anulação do mesmo contrato, a obtenção do


dIVOI.·CIO dos mesmos cônjuges) justifica a admissão do pedido recon-
o pedido reconvencional que não dependa, por sua natureza "li I" ,j

vontade do réu, da procedência do pedido do autor ou da irnproccd.-u


h:llc,lonal (32). Desde a revisão de 1995-1996, o código faculta também
da duma excepção é apreciado autonomamente, mas já não o é aCJul:11.:
;111rCl~ devedor solidário a dedução, na reconvenção, do pedido de con-
que esteja em qualquer das duas indicadas relações de dependência (34),
dl'I~lçao d~s ~eus condevedores, não demandados como réus, na satis-
A admissibilidade da reconvenção está ainda sujeita à não verificação
1;1(;<10do, ~Jre~to ,d~ regresso .Cart. 329-2; infra, 1O.2.6.B.b).
dos mesmos requisitos negativos de compatibilidade processual que a
, O eleito jurídico pretendido pelo réu pode ser materialmente incom-
cumulação de pedidos (art. 274-3),
p:H ívcl ou compatível com o pretendido pelo autor e, neste caso, pode até
d~'k c1epende~" São incompatíveis, por exemplo, os pedidos de reconhe-
10.2.6. Intervenção de terceiros
'·1I11<.:l1tO~o dll'eito de propriedade sobre a mesma coisa e compatíveis os
di' anulação de contrato, de divórcio ou de condenação em prestações recí-
A, Através dos incidentes de intervenção de terceiros, faculta-se a
pr()cas. Depende, da procedência do pedido do autor a procedência do
superveniente constituição como partes de sujeitos jurídicos entre os
p('dldo reco~vel:clonal de compensação (só se o crédito do autor existir)
quais a instância inicialmente não se constituiu, A posição que ficam
llll ~Ic bellfelt,onas (só se a entrega da coisa for devida), verificando-se
ocupando no processo difere consoante os três tipos ele incidente qu~, em
~'llIilO a s~bsldiariedade da reconvenção relativamente à defesa (por
consequência da revisão ele 1995-1996, neste mter-
ficaram consagrados:
IJllpllgnaçao ou por excepção) que o réu porventura deduza contra o
venção principal, intervenção acessória e oposição (35), Na intervenção
Jll'dldo ~l~ ~utor, Fora desta relação de dependência, o réu pode, havendo
principal o terceiro constitui-se autor ou réu, 1itisconsorciado com o
('()Illpallbdldacle material com o pedido do autor, deduzir a reconven-
autor ou o réu primitivo ou coligado com o autor. Na intervenção aces-
(;:to em lermos de subsidiariedade relativamente a um meio de defesa (33).
sória o terceiro constitui-se parte acessória, coadjuvando uma das par-

(34) O art. 274-6, proveniente da revisão de 1995-1996, prevê tão-só, como ca~sa
, . . (.12). A ~xigência da identidade
do efeito não impede que um dos pedidos vise a
011,1((".~'!ilUlçao no processo, enquanto no outro se afirma que ele pré-existia. Assí de exclusão da apreciação do pedido reconvencional, a dependência entre este e o pedido
1'111;Ic~'ao de rClvmdlcação é admissível o pedido reconvencional de execução específica do autor' mas também no caso de procedência de excepção com ele incompatível, por natu-
d" ('Ol1lrato-prOlnessa de venda ao réu do bem reivindicado. A identidade do efeit reza ou 'por vontade do réu, está excluída a apreciação do pedido reconvencional. Já o
1'111
~I"por ,outrol~do, ser I~er~ente parcial: o réu pede a declaração de propriedade so~r~ art. 296-2 (a desistência do pedido só prejudica a reconvenção quando esta dependa do
1:"I.I,;:.I~It: ~dlvlSlvcl c dlv~dlda) do bem reivindicado, a anulação parcial do contrato pedido do autor) apenas tem aplicação ao caso nele expressamente pr~visto, ,
(,111... J_ CC) ou a separaçao de pessoas e bens (art 1795 CC) O . " d (35) Na lei anterior, havia ainda os incidentes de chamamento a ~ulona, Chall!~l-
' " , .. , '. " pnnclplo a econo- mento à demanda e nomeação à acção. O primeiro passou a constituír a intervençao
1111,1 Pl\ll.css~,1i leva, deslgnadamente, a considerar este último preceito como seu aflo-
IillIl<'ntll e nao como uma norma de excepção ao art. 274-2-c. acessória provocada (art. 330), tendo-se eliminado a possibilida~e, ant~ri~rm,ente co~-
sagrada, de o chamado se constituir como parte principal, em lttlsco~sor~lO imprôprio
. (1\) -, Pede, por exemplo, a condenação do autor na contraprestação, condiciona-
lInp com o réu primitivo ou, quando este se excluísse da causa, em sua substituição processual,
:,I:":II'~~I,l',I, roc,edência ,da excepção de anulação ou resolução. A diferença entre
,lo \ ,1',0 l o anrcnor esta em. que, não resultando da improcedência da excepçflo a O segundo foi integrado na intervenção principal provocada, deixando o, chamado de auto-
'~"/:~III;III(,óI 1.~r~)ct.:d~IIl'lad()pedidodo autor, a eventual improcedência deste, por falta d~ maticamente se constituir como réu com o acto da citação (só o será se mtervier na causa)
I1 v.t dll'. I.lllos cOllsIIIllIIVOSda causa de pedir ou por incollcllldência, /1;]0 obsta iI e permitindo-se que, no caso de obrigação solidária, o réu primitivo peça a condenação
11 do chamado na satisfação do direito de regresso (art. 329), As situações que ~avam lugar
:1'.' ,::"1'1".'1;1d" 1'\'>lld" J'lTOIIVt:llcion;d. Pode, além disso, o réu, ao abrigo do prinCÍpio
11" '1.11\:".'"IIIIII/;II (' /,1'011(\11
J'l";IlIlVl'IIt'lOlla/ ,ubsidiari:I/l'ICIlIC em 'aso, em que () ao terceiro incidente (posse em nome próprio/posse em nome alheio e comitente/corni-
""dlll 1;1/11'.111111/11/111111''1,;,1, Islo c, pedir a l'olldell;I\'i'jn do ,HIIIlJ'('lllldiciolladallh'lIll' ;') tido em acto de violação do direito de propriedade) deixou de ser feita referência, sem
11I11"n,,',h ••1;1,111111;11'\""/";;111 1'111111'1('('IlIlIP;/livrl ou ;) prui'I'di'IlII,1 di' j1I'oIidodo llllllil prcjufzo de poderem fundar a intervenção principal. A simplificação aproxima-se do
I ·pll .1 t,'. IIII\J'IIII,ID di" f~IIII(1 IIlOdtl lIiin se :.ltlJllld'I/:III;1 esquema seguido no direito francês, onde, porém, a oposição não tem autonomia, mte-
l~nIIHlo'ht' 1111 inil'rV<'lIçiio principal (novos arts. 66, 329 e 332).
) )
11)0
Os PrillCÍpios Gerais
Princípio da Economia Processual I1I1
tes principais, sem possibilidade de tomar posição cont ',' ,
a parte principal ou de ' , ,. rar Ia a que tome quer das partes (arts, 325-1 e 274-4), com a particularidade,
, , praticar acto que a parte pnncipa] t h "
o direito de praticar (art. 337-2) (36) N " _ , en a perdído no caso de acção de condenação na totalidade de prestação
IXl,r~eprincipal, numa terceira POSjç~o, ~:;~~~:n~ t~rce~'o con~titui-~e devida solidariamente, mas não proposta contra todos os deve-
mruvas, se arnbas impugnarem o seu direito ~s a~ PaIt~s pn- dores, de os réus poderem pedir a condenação dos terceiros
substitui ão d ' .: , ' ou como auto! ou reu, em
() 'I
""Uct quer
?
d ~ P~Ite prumn va, se esta reconhecer o seu direito (37)
os inCIdentes d ' ,
condevedores que chamem a intervir no pagamento, em regresso,
da sua quota-parte na dívida (art. 329-2), Neste caso, o inter-
vcn ão ou o ';- p~ e surgir por iniciativa do terceiro (inter- veniente não se limita a ocupar a posição de réu ao lado do réu
mil?vas (i t ~OSIÇé:?espontan,e~ ou por iniciativa duma das partes pri-
111 el vençao ou oposição provocada), primitivo: aparece também como réu perante este, que é autor
duma pretensão contra ele, baseada numa relação jurídica estru-
B, turalmente distinta (39),
A intervenção principal pode ocorrer eln quatro
situações: c) Também a coligação activa, quando admissível, pode consti-
a) S~ndo caso de litis consórcio necessário o autor o ' tuir-se espontaneamente (art. 320-b) ou a requerimento de qual-
VInte pode h ,,', '. li o leCOIl- quer das partes (art. 325-1),
, c amal cI intervir o terceiro em falta " '
Clllél~'Jda?~~e o poder fazer mesmo depois de abs~~~d~ P~~I- d) Nos casos em que é admitida a pluralidade subjectiva subsi-
por ilegitimidade (art. 269) (38), o I eu diária (art. 31-B), seja na modalidade de litisconsórcio (mesmo
h) S~Jldo caso de liusconsârcio voluntário, o terceiro pod int ' pedido) seja na de coligação (pedido diverso), a dedução super-
VII'espontanea t ( 32 e 111 er- veniente do pedido contra terceiro (39-A) implica que o autor
men e art. O-a) ou a requerimento de qual-
requeira a sua intervenção (art. 325-2),

I "') O art. 334 prevê a intervenção acessória do M' . éri " C. A intervenção acessória, posto de lado o caso de intervenção do
1:11111',\ 1.1;1lei isupra II 6 (31» O o 2 d ,mlst 110Publico. ' nos casos cons-
. ", n. esse artigo conf . II lé Ministério Público (supra, nota 36), pode ocorrer em duas situações:
!,n:IIS d;1 parte acessória o de' , . erc- ic, a m dos poderes
I promover o que tiver por c r •
"'.1'0 1IIIcresses da parte assistida O MP desí 011.\. ernente para prossecllcão
crc '<. tem eSlgllada ti'·· •
I"'1' ""ClIrso, mesmo que o - I" :.. amcn e, egltllnlelade para inter- a) Tendo direito de regresso contra terceiro por via da satisfação
. • Ilao aça a parte assisuda (n o 3) .
11I/',:IIIV<lde all:"ar «o que sc 111c f ,," e, nO.5termos do 11," 4, a prer-
'" o erecer» ate a dccí - r I do direito do autor, pode o réu chamar esse terceiro a intervir
I)I1t!C, em caso algum ser . t did
11.11. " ISUO ma, prerrogativa esta que
. , . ' I ell en I a em lermos que 'I ., .
11;1I11Illr!Oe da igualdadc dc armas. VIO em os prmcipros do con-
(11) Como incidente de oposição aparece c r .
d, ,',"I,,{/grls ti" (('/t'cil'O (arts, 351 a 359)
a _ on :glilada, desde 1995-1996, a acção (39) Algumas questões suscita este normativo: se tiverem sido inicialmente deman-
IIIII~;, 1037 a 1043) e na realidarí ' dtel entao tratada como processo cspecial
, , •. e, ulJla ver auerra acçã di" . dados os vários devedores solidários, poderá um deles pedir a condenação dos restan-
,",li '!lur;t! '111nada é alterada com o t I I'·. o ec aranva, cuja autonomia tes em regresso? o chamamento pode ter por fim apenas a definição do direito de
, '. ac ua Igunno Como '1' def ',- ,
l'II"'liI;ttlvas, os emhargos de te " .. "s e Imçocs legais não são regresso, com a consequência de não se formar easo julgado, nem se constituir título exe-
elCCJlO conservam a natureza . '"
',{ I I, '·llltlll'L'id;1 entre nos c .... " . - que cOl/cntemcllte lhes usa
, , L: nü~ SIstemas jurfdicos Com ' .. , ." . cutivo, entre o credor e o chamado? a apreciação do direito de regresso tem lugar
1:\ "'\·'11' csecutiv«, 16.4.5). os quais temos mars afinidade
quando o chamado não intervenha? Ver, quanto a estas questões, o n." 4 da anotação
( la) I lrsdlO 11 revisGo de 1995-1996 O churnu, ' ',. no art. 329 no CPC anotado, 11.
11/'>111<'11'"
1)J'lIi'('SSII't1"111 que dcci _; " ncnro é aclnllSSIVd sela qual for () (3".1\) Normahncnte. o autor manterá como principal o pedido contra o réu pri-
" 'L L: a ccrsuo I.: pl'O Ic ri I'·(I" , I .
1111:"1 ::,'" ,J.. •. i':·11lI'w,'r 1"'11 .. ua CCsp,l(; 10 s:tllcauor ou SClllC/l('</
rnitivo ou, scnd» pedido o mesmo, manterá o réu primitivo como principal; mas nada
, ' " I 11).1111"'Il"'SSlI, 11dJ;lIli:tllJ!' I I" I ' (J

,li dlil:, "IIIIIII<lIIS tio Irillls;tlll'111 "1111"11)" "I , .1I IJ I,"'" [ti II!',:II li" pmzll d,' o impede di' Inill:.I'mlll;/I () pedido inicial em subsidiário, deduzindo novo pedido prin-
..• ' ti, ICI\OV,lIluo"se " 1I1sl'III '1'/ I t'·
, '·1/111 •• I"" 'I '''I' 11' I'· ·1' , , ,,', q /(' {/ ntl/~lltI 11'111111 cipnl ('I.niril " "alll,ld" .I,' pretender quc o pedido único seja apreciado a título
, "., 111/1"1111, P'" I· I,.,. lu):al ali· ;111 11:111',/1"
(li" I ( , I 1111

Itllllhl 1i1 '\iI'\',+,lll 1111 '11 r I, I' I . '), ) j 11.1I}J;lInl'Il!lt t",I;', jli'Í1J1'ipltl ,'11111",I, ,1',1" •."1,, I .,,', '.lll>-.idi:lrinlilclllC contrn o réu primitivo (CPC a/FO-
• ,) {t 111/1 te 11"1'111'1:1 a(l'. ,11 f '. ~ 'fi 11 r' ":: I
Ilfdo, li, H.1I ! li., .11It!lI".jj' lil 111 ""I)
) )
Os Princípios Gerais
Princípio da Economia Processual 193

acessoriamente, desde que este careça de Iegltin id d


consrit . . 11 a e para se E. A intervenção de terceiros provoca sempre, por definição, a
I UIr co:n0 parte principal (art. 330).
b) Todo o terceiro com interesse jurídico (40) em que a d . - d modificação subjectiva da instância (art. 270-b), normalmente mediante
causa se', f '1 ecrsao a a constituição de compartes do autor ou do réu primitivo, mas podendo
ja avorave a uma das partes pode nela i " ,
taneamente (art. 335) (41). a mter vu espon- (na oposição e na intervenção principal do devedor solidário provocada
pelo réu condevedor) gerar a coexistência de três partes principais com
,. D. Por sua v~z, a oposição pode ter lu ar es . posições processuais diferenciadas. Mas pode também provocar modi-
(art, 342) ou a requenmento do réu (art 347 gar, pont~neamente ficações no objecto do processo, ampliando-o: é o que acontece na opo-
1~1Il; direito próprio b I . " . ), ,quando um terceiro se arro- sição, bem corno na intervenção principal de Iitisconsorte voluntário
ci;ilmente com o d' .~ ~tOuto ou de credito, mcompatível, total ou par-
, ire: o que o autor (ou ,', . pelo qual ou contra o qual seja deduzido pedido baseado na sua
h/c!' valer (42) A' o leu leconvll1te) pretende quota-parte no interesse ou na responsabilidade (cf. art. 27-1), de autor
, . .. 1I1tervenção do op t 'ad .
dum pedido contra o réu (o oen e tIa, uz-se, assim, na dedução em coligação principal ou de réu em coligação subsidiária, Quando o
u o autor reco d) .
Illulaclo pelo ai t ,( .' nVIl1 o , eqllJvalente ao for- novo pedido é formulado contra o terceiro, a parte que o deduz deverá
acções conexas ~~lne~~u~~O~~~lI1:~~s ~m conse~uên~ia.' haverá duas observar os prazos em que, nos termos gerais, lhe é consentida a amplia-
(urt, 346-2) (42-A). P econhecei o direito do opoente ção do objecto do processo (supra, 10,2.4.A), Quando o pedido é for-
, mas, se apenas o autor o rec I
Sl'gUCentre o opoente na . - de aur , onnecer, o processo mulado pelo terceiro, este terá de observar os prazos especificamente pre-
, . ' posIçao e autor e o reu ao
"tl n réu a reconhecer o direito d ' " passo que, se for vistos no tipo de incidente em causa (arts. 322, n.OS 1 e 2; 326-1 e 327-3;
, . o opoente, este assume a posi - d "
('111 Iace do autor (arts, 346-1 e 350-2). rçao e teu 342-2 e 343),
Quando, provocada a intervenção, esta não se verificar, o princí-
pio da economia processual tem a sua expressão na constituição de caso
julgado contra o terceiro: sempre, no caso de se requerer a interven-
,('lU) Basta à verificação do interesse a tit I .:d _ .
l'I'"Slslência prática ou económic'l de d d I U an a~e duma relação Jurídica cuja ção principal de terceiro para constituição de Jitisconsórcio necessário
(;111.:1:15-2). O credor duma das oartes o. a a pretensao da parte principal assistida ou de litisconsórcio voluntário passivo (art. 328-2-a), ou ainda de coli-
("11) NC . P s pode aSSIm constlll11r-se seu assistente
, ao se compreende muito bem a dualid d .', ' gação subsidiária (art. 328-2-b); quando a intervenção do Iitisconsorte
('1:1" l' "intervenção acessória p.rovoc d . ' a e termtnológlca legal «assistên-
a a», VIsto que o obr d voluntário activo seja requerida pelo réu, mas não quando seja reque-
1':11':1:lUxiliar a defesa e fica com stat d ' liga o em regresso é chamado
1I
1<'podcndo negar por outro lado o direi] de i
o es atuto e assIstente (a t 330 I
I S, -
3
e 32-1), não se
rida pelo autor (art. 328-2-a); com os limites do art, 341, no caso de
.,' , IlCI o e mlerVlr espo t d .
1(·•.•St· .JIIrfdlco em que a causa seia d .idid f n, aneamente, ado o seu inte- provocação de intervenção acessória (art, 332-4); quando seja reque-
I ,. ' -J eCI I a a avor do reu N t . d
('I~Jtllllidadc para intervir como assistente do o.' . . o e-s~ a~n a que tem rida a intervenção de opoente que seja citado na própria pessoa
'JlI!' lide tenha derivado a posse (em nome alhei: ~SUld01 ~m no~e propr~o o detentor (art, 349-2),
".'. Il'l'1110h(/,\'s;SIC11Iec ;//{ervelliellfe
ri' ..•
'Ice' c..,
"
l a. c 01s.a
SSOIIO sao sm ó 1lI1ll0S.
lelvtndlcada, RIgorosamente,
( .) ,bcmplos: o terceiro afirma-se pI'O rietãrl ,'. 1..' .
•1111 "I' rei vindica autor da 01' 1'1. ãri P ano ou usufr utuário da COIsa que o
, ,< ,<. < )!<! I er na que o autor . t de . '
i'1,·~.la\·:!t), ou de parte da prcst'lç'ío que pie en e ter escrito ou credo!' da 10.3. ECONOMIA DE ACTOS E FORMALIDADES
l'I't'I·I">l1. (", o autor pretende que o réu seja condenado a
('" i\) 'J' I'
am lL:/l1 no processo de consi ma 'lo . A segunda vertente do princípio da economia processual implica
""IH·.~iIS. qlllllldoSl·,·;1 duvidos» .,,''Iv",sO~ 'I . ,g d' ç: em depõsiro pode haver duas acções
• • •• lO
",",'. CIC 01' 1I1'IIS do.
u, " ' a adequação da trumitação processual às especificidades da causa
111l1'"!,III' " "11'"1:11111' ilil :1 11'llllr"'\ I, . ",' _. '. . CJUl,um sc,.,acuudo . UIIl dl)/c.~
, , lI.1 (d plcsl.l~"O d"Jl"~il'ld'r l'
t 1('tI", tllll,,,}III'IIll,'
, •
(' ( I. . 1 .
I
~. ,...
t, i (lI é ollln ('1111'1'
1'(
' .~ " 111 ltl ;WI.';ill

('(li n- cllrre u (arts. 2(I'i 1\ " '~I, n.'~; 2 c 1), a proibição da prática de actos processuais
111111111(1'," ' ,,() 1"]111\1/11" li'. 11'/:1:1111,,·,
""''/11'''.'. I'illidos inúteis (!l11 I \/),.:1 Il·,JIltJío du forma dos actos úteis à sua expressão
IIlai:: ;.ill'loli'" (111' I '.)': I)
1\ I."·
)) ))
IIII

Princípio da Economia Processual


11).1 Os Princípios Gerais

implica ainda a simpl~ficaçiio das [ormalidades dos actos ?raticados no


Já foi referido o princípio da adequação formal (supra, 6.6.2).
processo, cuja forma, sempre que lei especial n~o ~etermme as forma.~
(': seu corolário o disposto no ali. 31, n.OS 2 e 3, aplicável por via directa
lidades a praticar, deve ser a que, nos termos mais simples. mel.h~r COI
;',coligação inicial e por via indirecta à cumulação inicial simples de pedi- . . ., . ( .t 138 1) (45) sem prejuízo da
dos (art. 470-1), à dedução de pedido subsidiário (art. 469-2), à amplia- responda ao fim que visam atmgu art, - '.. .•
clareza do seu conteúdo e da garantia da sua genulmdade (art. 138,
,:fio cio pedido mediante a dedução de pedido diverso (supra, nota 13),
~ rcconvenção (art. 274-'3) e à coligação decorrente da intervenção prin- 11.0S 3 e 4).
cipal: a cumulação inicial de pedidos (e a dedução de pedido subsidiá-
rio), bem como a ampliação do objecto do processo com novos pedidos,
são admissíveis, não obstante a incompatibilidade processual consis-
rente na determinação legal de formas de processo especial distintas,
que não sejam absolutamente incompatíveis (43), quando nelas haja inte-
resse relevante ou a apreciação conjunta seja indispensável para a justa
composição do litígio. O juiz autorizá-Ias-á então e determinará que se
siga a tramitação dum dos processos especiais em causa ou outra resul-
t.uuc da adaptação dessas formas processuais (44) às especificidades da
causa,
Não obstante a determinação abstracta dos actos da sequência pro-
ccssual pela lei, a possibilidade de determinação concreta duma sequên-
ria cicIa divergente pelo juiz e a exigência genérica da prática dos actos
indispensáveis ao respeito pelos princípios processuais, o processo con-
sente, mesmo fora do âmbito dos incidentes (supra, 1.2.1), a prática de
actos anómalos úteis para a realização da função processual, designa-
clamcnte por via da ocorrência de factos com relevância para a instân-
cia processual constituída ou para a decisão de mérito a proferir. Mas
11 lei proibe a prática de actos - do juiz, da secretaria ou das partes -
que, não tendo essa utilidade, apenas tem o efeito de complicar o pro-
l'('sso, impedindo-o de rapidamente atingir o seu termo (art. 137). Se
lorcrn praticados actos inúteis, os funcionários incorrem em responsa-
hilidade disciplinar (mesmo artigo) e as partes podem ocorrer em res-
ponsabilidade por má fé (ali. 456-2-d).
O princípio da economia processual, na vertente que consideramos,

('11) "Igllllla iucorupatihilidadc (manifesta) terá, por definição, de haver. pelo que
llIPlllíhi
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('15) Também aqui é p;llcnlc, IlO plano d o acto stngl~ ai , ' •
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(k :tdrqll:H;f!o que csuí lia has(' ti" princípio da adcquaçao formal.
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) )
212 Introdução ao Processo Civil índice 213

Pãgs.
11 3.6. Dever de [undamentação . 1.21
3.7. Princípio da publicidade . 122
OS PRINCÍPIOS GERAIS
4. O prazo razoável . 125
Págs.
I. Introdução..... 79
5. Princípio da legalidade do conteúdo da decisão . 129
1.1. A importância dos princípios gerais . 79
5.1. Jura novit curia . 129
1.2. Direito fundamental à jurisdição e princípios da lei ordinária . 82
5.2. A questão jurídica prejudicial . 130
2. O acesso aos tribunais . 85
6. Princípio dispositivo . 135
2.1. O art, 20 da Constituição da República . 85
2.2. Direito de acção . 6.1. Disponibilidade da tutela jurisdicional e responsabilidade pela maté-
86
ria de facto . 135
2.2.1. Sua natureza . 86 6.2. A disponibilidade da instância . 137
2.2.2. A acção popular . 88 6.3. A conformação da instância . 142
6.4. A formação da matéria de facto . 144
2.3. Direito de defesa . 92
6.4.1. Factos principais . 144
2.3.1. Suas derivações . 92 6.4.2. Factos de conhecimento oficioso . 147
2.3.2. O conhecimento do processo . 92 6.4.3. Factos instrumentais . 150
2.3.3. Dispensa da audição prévia . 97
2.3.4. A cominação da revelia . 99 6.5. O acordo sobre os factos da causa . 152
6.6. A iniciativa da prova . 1.'i3
2.4. Entraves econômicos . 102
66.1. Princípio do inquisitório .
2.4.1. Não devem existir . 102
6.6.2. A direcção do processo pelo juiz .
2.4.2. Apoio judiciário . 102
2.4.3. Falta de pagamento da taxa de justiça . 103 1.19
7. Princípios da preclusão e da auto-responsabilidade das partes .
2.4.4. Falta de pagamento de impostos . 104
8. Princípio da cooperação . 163
2.5. Independência e imparcialidade do tribunal . 105
8.1. O dever de cooperar : . 163
.\. Princípio da equidade . 107 1.64
8.2. Cooperação material .
8.3. Cooperação formal . 167
.i.l . Suas vertentes . 107
J2. Princípio do contraditório . 8.4. Sua importância . 168
108

3.2.J. O direito de influenciar a decisão . 108 9. Princípios da imediação, oralidade e concentração e princípio da livre
3.2.2. No plano da alegação . 109 apreciação da pl·ova . 169
3.2.3. No plano ela prova . II1
3.2.4. No plano do direito . 115 9. 1. [mediação . 169
9.2. Oralidade e concentração . [71
,(). Prillr:f!Jio ti" i,I!lJttl,/dd(' de lU'UIUS o" ,,, ••• ;,,,,. •••• ,,,, ••••••. ,.,,.,,,,,,,.,, •••• , •• , ••• f IX 9.3. A livre apreciação da prova . 171
1._/. I );r,';trI li ('ril/ll'/(IPIIl'Ía I',..\·soal .............................•...................•.......... 120 9.4. Certeza e verosimilhança , . 175
i,\, /\ I/{'iltllh! llrf/'rUli{l, •.•.•• ",; .•.. ,."." ••• ,." ..•• ,,,.,.,,,.,,, .... ,"",.,." u'1 9.5. Plenitude da assistência dos juizes . 176
J
'1·1 Introdução ao Processo Civil

Págs.
iH. I'vinefpiu da economia processual.............................................................. 177

10.1. Noção geral.. . 177


iO.2. Economia de processos . 177

10.2.1. Suas manifestações 177


10.2.2. O litisconsórcio... 178
10.2.3. Cumulação de pedidos e pedido subsidiário 181
10.2.4. Ampliação e alteração do pedido e da causa de pedir 183
10.2.5. Reconvenção........................................................................ 186
10.2.6. Intervenção de terceiros 189

/11.3. Economia de actos e formalidades . 193 EXECUÇÃO GRÁFICA


COIMBRA EDITORA
COIMBRA
I\1111 I( I( ;111\1'1/\ .............••.•..•.........•.....••..•..•..•..•.....•.•....•..•....•.......•.....•.....••..•..•.....•.... 197

1111111.1......................................................................................................................... 209

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