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CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS – AAFDL
Conteúdo1
Caso 1 ............................................................................................................................................. 2
Caso 2 ............................................................................................................................................. 4
Caso 5 ............................................................................................................................................. 5
Caso 11........................................................................................................................................... 7
Caso 14........................................................................................................................................... 8
Caso 18......................................................................................................................................... 11
Caso 19......................................................................................................................................... 18
Caso 20......................................................................................................................................... 20
Caso 21......................................................................................................................................... 22
Caso 23......................................................................................................................................... 27
Caso 24......................................................................................................................................... 28
Caso 28......................................................................................................................................... 31
Caso 29......................................................................................................................................... 34
1 Resolvidos em sede de aula prática – não conseguimos corrigir todos nem estar a formular um discurso
articulado de forma pedagógica para a vossa utilização, como pretendíamos – o tempo não dá para tudo -, ao
que pedimos, assim, que os usem como guia, confirmando tudo!!! – como sempre vos peço!! – com base no
vosso julgamento e vasto conhecimento jurídico.
Agradecemos à Senhora, Leonora,, que tanto nos ajudou e tanto nos agracia na monotonia da tristeza
imperativa, nos dias consumidos pelo fracasso, com o apoio e a compreensão de não lhe dar patologia mas,
também, não a relativizar na estima de nos forçar a colocar acima desse patamar mínimo de existência onde
nada nos dá, nada nos move e tudo nos comprime. À Mariana também lanço votos de estima e agradecimento,
soubessem vós o que custa – irmã gémea do atraso, da impotência e cansaço – tentar e lutar para aqui nos
quedarmos, novamente. Por fim, à Inês, que nos ajuda e nos estimula a continuar a tentar, no fazermos mais
sem censura de querermos pouco (senão apenas a estabilidade do terminar) e que, na surpresa do acaso de nos
conhecermos, se construiu em amizade sólida em gostarmos de ajudar e reconhecermos a boa ajuda que é.
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Caso 1
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Caso 2
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Caso 5
1. Sim, o cheque corresponde a título executivo, nos termos do artigo 703.º, n.º1, alínea c), 1.ª
parte CPC, sendo que tendo-se verificado recusa do pagamento (condição de ação que tem
de ser alegada e provada), nos termos do artigo 40.º LUC, o portador do título pode recorrer
dos meios judiciais para ser reembolsado do valor titulado no cheque (artigos 724.º, n.º1 e
5.º CPC).
Sim, manteria a responde já que, tratando-se de obrigações abstratas, dispensa-se a alegação
da causa: basta apresentar o cheque (mesmo que nele não esteja enunciada a causa), sem que
se tenha de demonstrar o porquê e independentemente de obrigação, invalidades ou exceções.
No fundo, o cheque é a própria causa de pedir, caberá ao devedor arguir e provar a nulidade
do negócio jurídico que lhe subjaz (in casu, se fosse um imóvel, a compra e venda sujeita a
registo sem o qual seria nula), em ação declarativa, no prazo de 6 meses (artigos 1.º, 3.º, 52.º,
n.º1 e 29.º LUC).
2. Sim, embora o artigo 29.º, n.º1 LUC determine que o portador do cheque tem 8 dias contados
a partir da data escrita no chegue para a apresentação do cheque a pagamento, a apresentação
intempestiva em relação ao artigo 29.º, n.º1 LUC, mas anterior à prescrição do cheque (a qual
ocorre 6 meses contados do termo do prazo de apresentação), ele vale como título executivo
– ou seja, o prazo de 8 dias refere-se à possibilidade de recorrer à ação cambiária – podendo
o executado deduzir oposição à ação executiva, demonstrando que a quantia não era devida
– a qualidade de titulo de crédito do cheque decorre da sua essência e não dos prazos e
procedimentos estabelecidos na LUC para assegurar ao beneficiário a ação cambiária (Paulo
Olavo Cunha). Assim, temos um título executivo válido enquanto título de crédito, nos
termos do artigo 703.ºa, línea c), 1.ª parte CPC, mas o banco podia pagar na mesma. Se
houvesse revogação já não havia título.
3. Estamos perante um cheque prescrito (aquele que em conformidade com a LUC já não
constitui um meio de pagamento idóneo, o que ocorre 6 meses passados do termo do prazo
de apresentação – prescrevendo a obrigação cambiária, o cheque deixa de constituir título
que incorpora um direito exercitável de modo autónomo da causa que o tenha originado –
deixa de valer como título de crédito).Assim, a prestação que se pretende obter já não é a
obrigação cambiária (entretanto extinta), mas a obrigação subjacente: o cheque deixa de ser
título executivo e de estar apto a constituir base válida de execução.
Mas surge-nos a questão: uma vez prescrito, o cheque pode continuar a valer como título
executivo, não enquanto título de crédito mas enquanto documento quirógrafo de
reconhecimento de dívida?
a. Posição maioritária: sim.
b. Paulo Olavo Cunha: não! É a validade formal do cheque que justifica o seu
enquadramento na categoria de títulos executivos, se o cheque deixa de valer
porque prescreve a obrigação do sujeito cambiário, que assegura
reconhecimento de dívida (artigo 458º CC).
c. Eurico Lopes Cardoso: o cheque prescreveu, este serve apenas como prova
se o negócio não estiver sujeito a forma específica;
d. Lebre de Freitas: tem de ser alegado pelo autor e tem de ser provada a
relação subjacente.
e. Rui Pinto: o cheque nunca pode valer como quirógrafo.
4. Não, segundo a jurisprudência do STJ (Acórdão 2003), o adquirente por endosso de cheque
prescrito não pode usá-lo como título executivo enquanto documento particular, dado que
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o cheque, como quirógrafo – reconhecimento de dívida – apenas vale nas relações entre
credor originário e devedor originário (o endosso, enquanto ato jurídico próprio da relação
cartular, não pode ser representado quando o título de crédito, designadamente pela
prescrição do direito, deixou de o ser, passando a simples quirógrafo), caso se entendesse
que o cheque prescrito continuava a ter força executiva quando na posse de terceiro ao
negócio causal que motivou a sua subscrição, a obrigação cartular, apesar de prescrita,
continuaria a mostrar o direito do credor através do título como título de crédito e não há
como documento particular. Só pode contar o P (se provar a relação subjacente – cheque
enquanto quirógrafo) – antes dos 6 meses poderia intentar contra todos.
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Caso 11
Dados:
Documento autenticado
H casada com X (sem ter escolhido a cor)
Condição suspensiva
H escolhe a cor
F cumpriu a sua obrigação
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Caso 14
NÃO ESQUECER: Lei n.º86/2016 e Portaria n.º282/2013 – Anexo A
i. Em razão da hierarquia: incompetência absoluta (artigo 96.º CPC): apenas os tribunais de
1.ª instância têm competência executiva (artigos 85º. e 86.º CPC), inclusive quando se
pretenda executar uma decisão proferida em ação proposta na Relação ou no Supremo
Tribunal de Justiça. Aplicamos o artigo 84.º CPC? O caso é omisso quanto às circunscrições
– não aplicamos o 84.º,n.º1 nem 4 CPC.
Território – tendo a decisão exequenda sido proposta na Relação, a execução é promovida
no Tribunal da 1.ª instância do domicílio do executado (artigo 86.º CPC). Assim, seria
competente o tribunal de Évora.
Valor e matéria: o tribunal da comarca de Évora tem secção de competência especializada
em execução em Montemor-o-Novo, tendo esta competência exclusiva – artigo 129.º, n.º1
LOSJ e 81.º, n.º2, alínea j) LOSJ (desdobramento).
ii. Hierarquia: tribunal de 1.ª instância (artigos 85.º e 86.º CPC)
Território: tendo a decisão exequenda sido proposta num tribunal de 1.ª instância, é
competente o tribunal da comarca em que foi julgado em 1.ª instância (artigo 81.º, n.º1 e
2CPC) (ainda que tenha havido recurso para tribunal superior);
Matéria: devia ter sido intentado na 1.ª secção de execução do Tribunal da comarca do Porto,
uma vez que havendo secção especializada de execução, esta tem competência exclusiva.
Incompetência absoluta em razão da matéria: mas o artigo 85.º, n.º2 CPC apenas implica a
remessa.
iii. Matéria: incompetência absoluta em razão da matéria – oficiosamente – artigos 104.º e 85.º,
n.º1 CPC. O artigo 129.º, n.º2 LOSJ exclui a competência da secção especializada de
execução, a execução das sentenças proferidas pelos tribunais de comércio (artigo 128.º, n.º3
LOSJ). Compete aos juízos de comércio a execução das decisões. Assim, não é competente
a secção de execução, mas antes a secção comercial do tribunal judicial da comarca de Lisboa
(artigos 550.º - a contrario, aplica-se o ordinário –, 726.º, n.º2, alínea b) e 734.º CPC
iv. Território: incompetência relativa (mas oficiosa porque o artigo 104.º e 89.º, n.º1, 1.ª parte
CPC), é este artigo (artigo 89.º, n.º1 CPC) que regula o tribunal territorialmente competente
(a injunção não se trata de decisão da autoria de um tribunal, além de que pode nem sequer
passar pela competência de um concreto tribunal, mas antes de uma entidade administrativa
nacional. Não se trata de um caso do artigo 89.º, n.º2 CPC, pelo que podemos aplicar o
critério especial da conexão real, restando recorrer à regra geral do artigo 89.º, n.º1 CPC.
Critério da conexão pessoal – é competente o tribunal do domicílio do executado (in casu,
Beja).
Material: incompetência absoluta (artigo 96.º CPC), que consome a relativa, já que Beja não
tem secção especializada de execução, pelo que, sendo o valor da causa inferior a 50.000€,
tem competência a secção de competência genérica da instância local (artigo 130.º, n.º1, alínea
d) LOSJ). Assim, é competente a secção de competência genérica da instância local de Beja
do Tribunal judicial da comarca de Beja, devendo ter sido cível.
v. Território: trata-se de um caso subsumível ao artigo 89.º, n.º2 CPC, pelo que o tribunal
territorialmente competente é o tribunal onde estão situados os bens onerados. Portanto,
será competente o tribunal da Guarda, o qual não tem um juízo de competência especializada
de execução, sendo portanto competente a secção de competência genérica da instância local
(artigo 130.º, n.º2, alínea d) LOSJ e 89.º, n.º2, 2.ª parte CPC): o autor tem competência
positiva mas se quiser acionar a garantia tem que aplicar o artigo 89.º, n.º2 CPC). Temos,
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assim, uma incompetência relativa em razão do território (artigo 89.º, n.º2 e 104.º CPC), de
conhecimento oficioso.
vi. Matéria: incompetência absoluta em razão da matéria (artigo 85.º, n.º2 CPC, implica a
remessa). 2.ª secção de execução é a secção de Almada, todavia, atendendo a que a regra geral
do lugar do cumprimento das obrigações é o lugar do domicílio do credor do credor (Catarina
Modista, com sede em Lisboa) – assim, a solução geral (domicílio do executado) e a solução
resultante da 2.ª parte do n.º1 do artigo 89.º CPC apontam para a necessidade de interpor a
ação na 1.ª secção de execução (Lisboa). Permitir que o bem indicado à penhora fosse
determinante do tribunal territorialmente competente seria permitir que se defraudassem
completamente as regras de competência (ficaria na discricionariedade do exequente o
tribunal competente para a execução – forum shopping).
vii. O artigo 95.º CPC vale também para as convenções das partes no âmbito do Direito
Executivo. Ora, estaria em causa a competência em razão do território, a qual pode ser
afastada pelas partes, com algumas exceções, salvo nos casos do artigo 104.º, n.º1, alínea a)
CPC, o qual proíbe que se afaste a regra do artigo 89.º, n.º1., 1.ª parte CPC, mas admite que
se afaste a possibilidade de recorrer ao artigo 89.º, n.º1, 2.ª parte CPC (ou seja, podiam
determinar que não se recorresse ao tribunal de Braga – lugar do cumprimento), mas teria
que ser o lugar do domicílio do executado (artigo 89.º. n.º1, 1.ª parte CPC) – que é
imperativo).
Todavia, trata-se de uma livrança, e deixa-nos a questão:
1) Pode a convenção abranger a execução com base na livrança? (ou seja, pode ser em
Lisboa?);
2) o artigo 75.º, n.º4 LULL é uma regra de competência ou pode valer como tal?
Tem-se entendido que o facto de ser uma livrança não afasta a aplicação do critério do
tribunal do domicílio do executado (em especial, dissentia se o artigo 75.º, n.º4 da Lei
Uniforme de Letras e Livranças, ao indicar que a livrança deve indicar o lugar do
cumprimento, constituiria uma regra especial de competência para efeitos do artigo 89.º n.º1
CPC, afastando pois a regra do domicílio – o Tribunal da Relação de Lisboa, em 2003,
concluiu que as normas da LULL que estabelecem qual o local do pagamento do titulo são
normas de Direito substantivo e não regras de competência: são inidóneas a delimitar a
competência territorial. Para execução da livrança é competente o tribunal do domicílio do
executado pessoa singular, mesmo quando o local do pagamento seja em comarca diferente.
Mas, o Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 2012 considera que a questão de
determinação do tribunal competente precede o mérito da ação, pelo que as questões de
mérito não podem ser fundamento da competência. Assim, não se pode atender ao contrato
subjacente: o exequente limita-se a pedir o pagamento do montante constante da livrança
exequenda, não formulando qualquer pedido relativamente ao contrato subjacente. Se na
livrança se diz que Braga é o lugar do cumprimento, então esse tribunal será territorialmente
competente.
viii. Não seria (artigo 710.º CPC) a 1.ª secção cível, mas a secção especializada de execução, sendo
o tribunal territorialmente competente o tribunal da comarca de Lisboa por força do artigo
85.º, n.º2 CPC.
Sub hipótese A: se fossem apresentadas duas sentenças, temos uma lacuna, na medida em
que o artigo 710.º CPC apenas se refere de uma sentença em que foram considerados
procedentes vários pedidos e o artigo 710.º CPC admite a cumulação de execuções fundadas
em títulos diferentes (Rui Pinto: artigo 709.º, n.º2 e 3 CPC – será o tribunal do lugar onde
correu o processo de valor mais elevado), como o tribunal era o mesmo, penso que o
problema não se colocava.
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Sub hipótese B: se o título fosse extrajudicial, aplicar-se-ia o artigo 89.º CPC, sendo
competente o tribunal do local do domicílio das executadas, dispondo esta de um juízo de
competência especializada de execução.
Consequências da incompetência. questão: pretensão de intentar ação na secção especializada
– forma ou matéria?
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Caso 18
1. Uma vez citado, o executado pode opor-se à execução por meio de embargos, os quais visam
a extinção da execução. Ora, a oposição à execução é efetuada intempestivamente, na medida
em que deve ser deduzida no prazo de 20 dias a contar da citação do executado (artigo 728.º,
n.º1 CPC), sendo que Nuno apenas apresentou oposição 30 dias depois de citado.
Consequência: o juiz deve proferir despacho liminar de indeferimento pois os embargos
foram deduzidos fora do prazo (artigo 732.º n.º1, alínea a) CPC).
Quanto ao incisivo (i), Nuno invoca uma exceção perentória, nomeadamente que a dívida
foi parcialmente perdoada ainda antes da ação declarativa, apenas tendo tido conhecimento
desse facto em momento posterior ao do trânsito em julgado da decisão em 1.ª instância –
ora, o artigo 729.º, alínea g) CPC impondo o respeito pelo caso julgado, estipula que o facto
extintivo ou modificativo invocado em oposição à execução há de ser posterior ao
encerramento da discussão no processo de declaração, pelo que, à partida, não se poderia
invocar este perdão da dívida em execução, na medida em que o facto é anterior ao
encerramento da discussão no processo declarativo.
Todavia, a superveniência subjetiva (Nuno só tem conhecimento do facto posteriormente
ao encerramento da discussão no processo declarativo, pelo que cumpre aferir se a
superveniência subjetiva pode ser atendido em processo executivo):
a. Plano literal: apenas se admite a invocação de factos objetivamente
supervenientes (factos em si mesmos posteriores ao encerramento da
discussão) – a invocação de factos subjetivamente supervenientes ficou
precludida pelo caso julgado;
b. Plano Funcional: pode invocar-se ser incompreensível que na ação
declarativa se admita a superveniência subjetiva até ao encerramento da
discussão e não se admita o mesmo nesta nova instância.
c. Miguel Teixeira de Sousa: admite a invocação de factos subjetivamente
supervenientes no caso em que as situações permitiriam recurso de revisão
de sentença (artigo 698.º, alínea c) CPC) e articulando o artigo 729.º, alínea d)
CPC com o artigo 728.º, n.º2 CPC – se a superveniência subjetiva de um
facto que pode ser prova do documento é relevante como fundamento de
recurso de revisão, não faz sentido que não o seja como fundamento de
embargos de executado, dado que a procedência daquele recurso implica a
inexequibilidade do título executivo, fundamento possível de oposição à
execução, conforme o artigo 729.º, alínea a) CPC.
d. Rui Pinto: a opção legislativa foi de pretender que a oposição à execução
operasse como uma revisão mais restrita, não permitindo a valoração de
factos subjetivamente supervenientes – resta ao Nuno aluir um revisão de
sentença e com a decisão favorável promover a extinção da execução e /ou
da venda que entretanto tenha ocorrido (artigo 839.º, n.º1, alínea a) CPC).
e. Ac. STJ 2017: o surgimento de um facto posterior importa a aplicação do
regime do artigo 619.º CPC, em particular da parte final da norma e não do
regime da oposição à execução da respetiva sentença condenatória.
Em todo o caso, quer se admitindo, ou não, a invocação de factos subjetivamente
supervenientes em sede de ação de execução, exigir-se-ia, para sua invocação na ação
executiva, que os factos extintivos ou modificativos fossem provados documentalmente! Ora,
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não sendo esse o caso (Nuno arrola 10 testemunhas para provar o facto), essa extinção não
seria invocável em oposição à execução, prosseguindo esta com base num título constitutivo
de um direito existente (a presunção estabelecida pelo título judicial quanto a existência da
obrigação só pode ser destruída, na oposição à execução, por prova documental). Assim,
Lebre de Freitas. Restaria ao Nuno propor uma ação declarativa para restituição daquilo que
indevidamente pagou em consequência do processo executivo.
Quanto ao incisivo (ii), Nuno pretende compensação à dívida em 10.000€ no contra-
crédito que tem sobre Maria, sendo que este contra-crédito se constituiu antes da propositura
da ação declarativa, mas só se tornou exigível na pendência da mesma.
Questão: pode o executado fazer valer a compensação em oposição à execução quando o
podia já ter feito na ação declarativa?
Lebre de Freitas: na medida em que, atualmente, o artigo 266.º, alínea e) CPC prevê
que a compensação deve ser integrada na reconvenção, o momento preclusivo recua
à data da contestação – assim, a invocação da compensação só não será admissível
quando ela já era possível à data da contestação da ação declarativa – só assim se
harmoniza o artigo 729.º, alínea g) CPC com o artigo 729.º, alínea h) CPC.
Rui Pinto: não são supervenientes a compensação cujos pressupostos objetivos já
estivessem completos até ao encerramento da discussão em 1.ª instância mas cujo
pressuposto subjetivo da declaração da vontade não tivesse tido lugar nos respetivos
articulados.
Miguel Teixeira de Sousa: a compensação é alegada no articulado da reconvenção,
pelo que não há nenhum ónus de reconvir e não há, atualmente, um ónus de reconvir
para obter a compensação judicial – isto significa que o réu não alegou um contra-
crédito para obter a extinção por compensação do crédito do autor não só não perde
este seu contra-crédito, como está impedido de o invocar e exigir numa posterior
ação
i. Podia contra argumentar-se que, em paralelo com o artigo 729.º, alínea g) CPC,
apesar de ser possível invocá-lo em ação posterior, estaria excecionada a sua
invocação em processo executivo, não se aplicando no processo executivo
posterior à correspondente ação declarativa que reconhecesse o crédito
executado.
ii. Mas não, diz-nos MTS: não:
1. Por motivos económicos: não tem sentido admitir a tramitação de uma
complexa e custosa ação executiva quando o crédito exequendo pode
afinal ser extinto através do reconhecimento de um contracrédito do
executado;
2. Não é aceitável submeter o devedor a um processo executivo quando
este executado possui um contra-crédito sobre o exequente que é
suscetível de extinguir, no todo ou em parte, o crédito exequendo e
poderia ser penhorado.
Assim, para o Professor:
a. Lebre de Freitas: preclude com a constestação na ação declarativa;
b. Rui Pinto: preclude com o encerramento da discussão em 1.ª instância;
c. Miguel Teixeira de Sousa: não preclude, pode ser invocado em execução.
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Não! Sim!
A ser admissível, coloca-se depois a questão de saber como deve ser realizada a prova do
contracrédito:
1) Lebre de Freitas: a consideração do fundamento da compensação em altura
diferente da dos factos do artigo 729.º, alínea g) CPC liberta o executado do ónus de
provar através de documento d, quer o facto constitutivo do contra crédito e as suas
características relevantes para o efeito do artigo 847.º CC, quer a declaração de querer
compensar (artigo 848.º CC), no caso de esta ter sido facto fora do processo.
2) Ac. Relação de Coimbra 2015: a compensação (o seu facto constitutivo, os
respetivos pressupostos) tem de estar provada por documento (mais a jurisprudência
e certa doutrina tem vindo a exigir que o contra crédito revestisse a forma de título
executivo)
3) Miguel Teixeira de Sousa: não, a finalidade da invocação do contra crédito é a
oposição à execução e não a execução do contra crédito.
Quanto ao incisivo (iii), a nulidade (artigos 851 e 696.º CPC) da citação deve ser arguida
no prazo da oposição (artigo 191.º, n.º2 CPC).
1) Acórdão Relação Évora 2016: considera que a nulidade da citação em ação
executiva não é fundamento de oposição à execução.
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pesado, pelo que bastaria um requerimento do executado em que este suscite a questão no
próprio processo executivo (sem prejuízo da multa a que pode dar lugar quando
manifestamente infundado – artigo 723.º, n.º2 CPC), não se justificaria a abertura de um
incidente declarativo. Todavia, o professor refere esta solução apenas para os casos em que
o fundamento de defesa não é reconduzível ao artigo 729.º CPC (considerando que a redação
do artigo 729.º CPC não constitui obstáculo a que se considerem outros fundamentos – por
exemplo, erro na forma do processo, não indicação do valor da ação no requerimento
executivo – na medida em que o direito de defesa e o princípio do contraditório não podem
nunca ser preteridos. Assim, a alegação dos fundamentos dos artigos 729.º e 730.º CPC, o
fundamento carece de ser alegado em oposição à execução, nos outros casos, o meio do
requerimento é a solução adequada.
7. Quanto aos incisivos (i) e (ii): a ação executiva produziu danos sérios na esfera de Nuno.
Antes da Reforma de 2003, se a execução findasse por procedência dos embargos do
executado, com base na extinção da obrigação, o exequente podia ser responsável
como litigante de má fé.
Ora a Reforma de 2003 veio introduzir o (atual) artigo 858.º CPC, o qual determina
que a negligência do exequente que inicia a ação executiva pode implicar que este
responda pelos danos culposamente causados ao executado.
Todavia, o artigo 858.º CPC, para todos os processos, depende de preenchimento de duas
ordens de exigências:
a) Requisitos processuais: o procedimento da oposição à execução e a inexistência de
citação prévia do executado (processo sumário);
b) Requisitos materiais: falta de pendência do exequente.
Quanto ao incisivo (iii), ainda que se pudesse equacionar a identidade entre a falta e a
nulidade da citação, não considerou o tribunal procedente tal fundamentação, relativamente
à nulidade da citação, pelo que restaria procurar sancionar Maria por via da litigância de má
fé. Esta divergência justifica-se na medida em que o executado que não foi previamente
citado está mais sujeito a agressões patrimoniais, pelo que se compreende que o artigo 858.º
CPC venha conferir uma proteção alargada nestes casos.
Ainda que fosse devida a indemnização, cumpria questionar qual o tipo de ação a utilizar:
Rui Pinto: a ligação material e prejudicial com a execução e com a oposição à
execução aconselharia a que corresse por apenso, eventualmente nos autos de
oposição à execução;
Todavia: levaria a que se prolongasse um procedimento executivo que se deve
extinguir por falta de causa (tampouco faria sentido correr como apenso à oposição
à execução pois obrigaria a reabrir a respetiva instância). Assim, parece ser mais
adequado que o lesado faça valer os seus direitos em ação declarativa autónoma.
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Caso 19
1. Cumulação aparente: temos dois títulos mas uma mesma dívida. quanto ao fundamento de
Pipo, diferentemente do que acontece nos embargos à execução de sentença, os embargos à
execução fundados noutros títulos podem fundar-se em qualquer causa que fosse lícito
deduzir como defesa no processo de declaração (artigo 731.º CPC). Justificação: o executado
não teve ocasião de, em ação declarativa prévia, se defender amplamente da pretensão do
exequente. Assim, o executado pode alegar nos embargos matéria de impugnação,
nomeadamente, pode pôr em causa a autoria do título de crédito cuja assinatura não esteja
presencialmente reconhecida (artigo 374.º, n.º2 CC).
Quanto à defesa de Quitéria, a oneração da casa morada de família exige o consentimento
de ambos os cônjuges (artigo 1682.º-A CC), desta forma, embora, no caso de cheque passado
por um dos cônjuges, apenas este possa ser chamado à ação por força do artigo 54.º, n.º9
CPC, havendo uma garantia real que assegura o cumprimento da dívida e tendo essa garantia
sido constituída por ambos os cônjuges, constando ambos do título executivo, ambos devem
ser demandados ou, pelo menos, ambos podem ser demandados. Havendo pluralidade de
executados, ainda que em litisconsórcio necessário, cada um dos executados pode deduzir
oposição à execução (têm legitimidade singular em sede de oposição à execução).
No que toca à força bastante do cheque, é importante atentar.
Existem, por fim, várias maneiras de chamar o cônjuge à ação:
a) Ambos assinam;
b) Demandar um e comunicabilidade ao outro;
c) Enquanto proprietário de bens comuns: ele não é um executado mas é avisado de
que há penhora.
2.
a. Miguel Teixeira de Sousa:
i. Se há litisconsórcio voluntário na ação executiva a decisão pode aproveitar,
por ser decisão favorável, aos demais nos termos do artigo 634.º, n.º2 CPC,
por analogia, se:
1. Fundamento for comum (por exemplo: inexequibilidade do título);
2. Se o executado não oponente for titular de um interesse essencialmente
dependente do interesse do executado oponente (por exemplo: por ser
o terceiro garante do 54.º, n.º2 CPC);
3. Se o executado não oponente for um devedor solidário
ii. Se há litisconsórcio necessário na execução (artigo 634.º, n.º1 CPC) dita que
a decisão favorável aproveita aos demais apesar de não serem oponentes.
b. Lebre de Freitas: não há omissão, não se aplicando o artigo 634.º CPC
analogicamente, porque não é um recurso, não é uma continuação da ação declarativa,
mas uma ação autónoma:
i. Quanto ao litisconsórcio necessário for legal ou natural: a extensão do
caso julgado ao não oponente decorre da natureza do litisconsórcio (não
revestiria utilidade o prosseguimento da execução apenas contra o executado
que não se opôs à execução); sendo o litisconsórcio necessário convencional a
não oposição de um dos executados impede esse executado de se prevalecer
da oposição do outro, dependendo do credor a execução da obrigação apenas
contra o executado, que não se opôs à execução (artigos 580.º e 581.º, n.º2
CPC).
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Caso 20
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de oposição à execução. Todavia, o Ac. RC 2015, entende que o alargamento dos meios de
defesa operado pelo artigo 857.º, n.º2 e 3 CPC não afasta os fundamentos que, em 2013,
levaram ao juízo de inconstitucionalidade da solução legal semelhante. Assim, subsiste a
razão de ser da censura jus constitucional da solução que mantém as restrições do direito de
defesa em sede de execução e da obtenção de pronuncia judicial sobre as razões oponíveis
ao direito exercido pelo credor prévias à oposição da fórmula executória, pelo que entende
que não devem ser aplicados os limites impostos pelo artigo 729º, alínea g). O Ac. TC
n.º264/2015 entende que se aplica também o artigo 731.º CPC e o Ac. TC n.º1896/2006,
julga tal artigo inconstitucional pela exceção do justo impedimento.
2. Depende da postura adotada em relação ao atual regime do artigo 857.º CPC, sobre se
admitirmos a sua constitucionalidade ou se fazermos uma interpretação do artigo 857.º CPC
conforme ao artigo 20.º CRP.
a. Se considerarmos que o artigo 857.º, n.º1 CPC opera uma aplicação do artigo
729.º, alínea g) CPC que não permite a invocação de factos que não sejam
objetivamente supervenientes, a oposição à execução não será procedente;
b. Se considerarmos que não se aplicam os limites do artigo 729.º, alínea g) CPC,
a oposição à execução continua a ser procedente.
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Caso 21
1.
(i) Estamos perante uma dívida comum, contraída por ambos os cônjuges, a qual está
prevista no artigo 1691.º, n.º1, alínea a) CC.
De acordo com o artigo 703.º, alínea b) CPC, propõe ação executiva apenas contra
Antónia: ora, tendo em mãos uma dívida comum e com um título executivo contra
ambos os cônjuges, cumpre aferir se estamos, ou não, perante um caso de
litisconsórcio necessário (esquema 18 do livro).
a) Lebre de Freitas: não há, a dívida comum pode ser executada singularmente
contra apenas um dos cônjuges, pelo que se trataria de uma situação de
litisconsórcio voluntário, na medida em que o artigo 34.º, n.º3 CPC não se
aplicará à ação executiva, na medida em que a preocupação subjacente ao artigo
seria relativa à salvaguarda da posição de ambos os cônjuges perante essa
situação de definição (e não de execução) de responsabilidade comum. A isso
acresce o favor creditoris (pode demandar o que pretender e lhe pareça ter os bens
próprios mais adequados à satisfação do seu crédito). Ademais, inicialmente
não havia litisconsórcio na ação executiva, até porque a ação executiva tem
meios que permitem que se chame o outro cônjuge
à ação.
Todavia, e tendo em conta que, sendo proposta ação executiva apenas contra
um cônjuge, apenas responderão os bens próprios do mesmo, e na medida em
que, perante uma dívida comum os bens próprios dos cônjuges apenas
responderão subsidiariamente, tanto o cônjuge executado poderia deduzir
oposição à penhora (invocando a subsidiariedade dos bens próprios em
execução por dívida comum), como poderia, nesse caso, o credor requerer a
intervenção principal do cônjuge do executado para permitir a legalidade da
penhora (esta posição é a mais coerente com a 1.ª parte do artigo 34.º, n.º3
CPC). O artigo 740.º CPC valeria também para os casos de responsabilidade
por dívida comum (segundo a lei substantiva), mas a execução seja movida
apenas contra um dos cônjuges, quer haja título executivo contra ambos quer
apenas contra o executado. A consequência seria que, devendo a penhora
começar pelos bens comuns, dever-se-ia citar o cônjuge não executado para
separar a meação nos termos do artigo 741.º CPC.
b) Rui Pinto: a posição anterior consubstancia uma interpretação restritiva do
artigo 1695.º CC: pelas dívidas da responsabilidade de ambos os cônjuges
responde a sua meação nos bens comuns, na execução singular. Estas normas
de Direito da Família são imperativas e o Direito Executivo não pode ser meio
de fuga. Ora, as normas processuais devem ser interpretadas no modo mais
conforme possível ao Direito material, pelo que esta interpretação de Lebre de
Freitas não deve ser aceite. Assim, admitir que o credor pudesse demandar
apenas um cônjuge e penhorar apenas metade dos bens comuns, não estaria na
lei civil, colocaria o cônjuge numa posição subalterna. O artigo 741.º CPC não
se pode aplicar na execução de dívida comum, pois o cônjuge deve ser sempre
citado como devedor comum em litisconsórcio necessário (ademais o
argumento literal: o artigo 34.º CPC não estatui). Expressamente, a lei material
não impõe o litisconsórcio (o mero facto de existirem dois devedores não
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agente de execução pode caber reclamação para o juiz (artigo 723.º, n.º1, alínea c) CPC),
em todo o caso: o cônjuge A poderia beneficiar, já fora da exceção do regime de
compensação que é devida pelo pagamento de dívidas comuns com bens próprias, nos
termos do artigo 1697.º, n.º1 CC, podendo nele alegar a natureza comunicável da
dívida, pois não se faz caso julgado sobre a questão.
c) C pode alegar a comunicabilidade da dívida até ao início das diligências para venda ou
adjudicação mediante requerimento autónomo, porém, não o tem de fazer, como
resulta do artigo 741.º, n.º1 CPC. O incidente de comunicabilidade é facultativo e,
apenas constando A do título executivo, não haveria preterição de litisconsórcio
necessário, pelo que nada obstaria a que C apenas promovesse execução contra A,
sendo certo que os bens comuns apenas responderiam subsidiariamente.
i. Nota 1: Rui Pinto, se a C quisesse obter declaração de comunicabilidade da
dívida, não o poderia fazer por outro meio processual que não a do artigo 741.º
CPC. O exequente não pode decidir não alegar a comunicabilidade e ir requerer
junto do juiz de execução a intervenção principal do cônjuge do executado
(paralelo com os artigos 773.º, n.º3 e 792.º, n.º3 CPC). São procedimentais
exclusivos e que não podem ser substituídos e por uma ação declarativa
incidental.
ii. Nota 2: apesar de C não alegar a comunicabilidade da dívida, A podê-lo-ia
fazer, mas apenas em oposição à penhora (artigo 742.º CPC), ou seja, apenas
quando penhorados bens próprios do executado é que este pode alegar que a
dívida é comum (artigo 742.º, n.º1 CPC).
iii. Nota 3: o cônjuge do executado (B) não pode alegar a comunicabilidade da
dívida, já que o que se prevê é que ele possa, além de promover a separação de
bens, declarar se aceita a comunicabilidade da dívida e manifestamente nada se
diz quanto a ele.
(iv) Artigo 1692.º, alínea a) CC: não estando preenchido nenhum dos requisitos, pelo que se
trata de uma dívida própria de A:
a) B pode defender-se arguindo D ser parte legítima nos termos do artigo 53.º CPC, na
medida em que não consta do título executivo;
b) C alega a comunicabilidade da dívida e B não rejeita essa comunicabilidade: ora, o artigo
741.º, n.º2, 2.ª parte CPC considera que, no silêncio (não oposição) pelo cônjuge citado
nos termos do artigo 741.º, n.º2 CPC estamos perante um caso de reconhecimento da
comunicabilidade da dívida (confissão ficta decorrente da revelia): produz-se o efeito
da norma substancia alegado na fundamentação do exequente para a comunicabilidade
da dívida. Todavia, este acertamento apenas releva para aquele processo (mas se a
confissão tivesse sido expressa, dever-se-ia considerar que aquela confissão expressa de
responsabilidade pela dívida teria eficácia interna probatória nos termos dos artigos
352.º CPC).
Não apresentando oposição, a execução segue também contra o cônjuge citado,
passando a execução a contar com 2 executados, em regime de litisconsórcio necessário
superveniente. Temos, pois, uma ato processual de que resultou a exequibilidade da
obrigação contra quem não constava do título original. Como devemos entender isto?
Maria José Capelo: a comunicabilidade consistiria numa extensão subjetiva do
âmbito do título executivo origináriamente apresentado à execução;
Rui Pinto: não, a comunicabilidade da dívida não é em si mesmo uma alteração,
pela via processual, do conteúdo do negócio jurídico (não estamos perante o
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Na qualidade de cônjuge do executado: ora, não sendo B parte na ação nem sequer
sendo proposto incidente de comunicabilidade, B não poderá ver os seus bens afetados.
Todavia, poderia, mediante cessão de créditos, ceder ao seu cônjuge a totalidade do
seu crédito (artigo 577.º, n.º1 CPC), por forma a que A compensasse a dívida que tinha
para com C. Acórdão RLx: não obsta à compensação de crédito exequendo a
circunstância de o contra crédito do executado lhe haver sido cedido por terceiro
credor do exequente.
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Caso 23
1. O título executivo da Worten contra L é o contrato de fiança (artigo 703.º, n.º1. alínea b)
CPC): ora, na execução da obrigação afiançada é-lhe lícito recusar o cumprimento enquanto
o credor não tiver excutido todos os bens do devedor sem obter a satisfação do seu crédito
(artigo 638.º, n.º1 CPC) ou quando o fiador tenha renunciado ao benefício da excussão prévia
(artigos 640.º e 641.º, n.º2 CPC). De acordo com os artigos 745.º, n.º2 e 728.º, n.º1 CPC, L
tem o ónus de invocar o benefício da excussão prévia em requerimento, entregue no prazo
da oposição à execução, como objeção preventiva à penhora .
a. Lebre de Freitas: não estamos perante em caso de legitimidade do devedor
subsidiário (não há litisconsórcio necessário) nem de inexigibilidade (como
defende Eurico Lopes Cardoso).
Ou seja, a Worten pode propor ação só contra Z, mas este pode invocar o benefício da
excussão prévia nos termos referidos, podendo, então, a Worten requerer execução contra o
devedor principal, para o que será citado, para o pagamento integral (artigo 745.º, n.º2 CPC).
2. Sim, pois neste caso, Z já não poderia invocar o benefício da excussão prévia, na medida em
que se o título executivo for uma sentença proferida aprovar contra o devedor subsidiário,
em ação em que não tenha intervindo o devedor principal, o benefício da excussão prévia
não é já invocável, por o réu, na ação declarativa, não ter chamado a intervir o devedor
principal nos termos do artigo 316.º, n.º3, alínea a) CPC (salvo se na ação declarativa tenha
expressamente declarado que não pretendia renunciar ao benefício da excussão): não se trata
tanto de um ónus de chamamento como de um presunção legal de renúncia ao benefício da
excussão, só ilidível mediante declaração expressa contrária no prazo em que o chamamento
era admissível.
3. A subsidiariedade concretiza-se no benefício da excussão e que consiste no direito que o
fiador tem de recusar o cumprimento da obrigação enquanto não estiverem excutidos todos
os bens do devedor do devedor principal – o fiador só responderá pelo pagamento da
obrigação se e quando se provar que o património do devedor (afiançado) é insuficiente para
a resolver.
4. Artigo 745.º, n.º4 CPC: aparentemente excutidos os bens do devedor principal e dirigida a
execução contra os bens do devedor subsidiário, pode este ainda indicar bens do devedor
principal que não fossem conhecidos, sustendo assim a execução dos seus bens – perante
esta indicação, o agente de execução deve proceder à penhora dos bens indicados. Se não o
fizer e os bens indicados desaparecerem, poderá o devedor subsidiário, mais tarde, vir opôr-
se à penhora dos seus bens com fundamento no artigo 638.º n.º2 CPC (não satisfação do
crédito por culpa do exequente, ao qual há-de ser dado conhecimento da indicação de bens
feita pelo devedor subsidiário.
5. Se, para segurança da mesma dívida, houver garantia real constituída por terceiro,
contemporânea da fiança ou anterior a ela, tem o fiador o direito de exigir a excussão prévia
das coisas sobre quer recai a garantia real, mesmo que os bens do devedor principal se hajam
esgotado (artigo 639.º, n.º1 CC). Nota: esta proteção do fiador existe haja ou não benefício
da excussão prévia! Se a garantia real incidir sobre os bens do fiador, este tem direito a que,
na execução dos seus bens, se comece pelos onerados, graças ao artigo 697.º CC. Todavia, in
casu, a constituição de garantia real foi posterior à fiança. (vejam isto)
6. Se a garantia real incidir sobre os bens do devedor principal, será irrelevante para o fiador,
este reclamará a excussão prévia dos bens do devedor principal, onerados ou não.
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Caso 24
(i)
(ii) Os objetos que, por via do artigo 280.º, n.º2 CC seja inalienáveis têm a sua impenhorabilidade
abrangida pelo artigo 736.º, alínea a) CPC – in casu, os estupefacientes, sendo o negócio
jurídico que os tenha como objeto absolutamente nulo, são impenhoráveis.
(iii) Artigo 736.º, alínea c) CPC: subordinando-se a penhora à finalidade de satisfação de
direitos patrimoniais, é vedada a apreensão de bens de valor económico nulo ou diminuto.
(iv) Cumpre aferir se estamos no âmbito do artigo 737.º, n.º3 CPC (bens imprescindíveis a
qualquer economia doméstica que se encontrem na residência permanente do executava –
são impenhoráveis por estarem em causa interesses vitais do executado, na medida em que
se asseguram ao seu agregado familiar num mínimo de condições de vida) – ora, a
imprescindibilidade não se afere pelo tipo de economia doméstica do executado: tem de
verificar-se em relação a qualquer economia doméstica, o que implica o recurso a um padrão
mínimo de dignidade social. Ac. RLx 2010: o padrão de dignidade ou de necessidades
essenciais, sendo evolutivo, deverá aferir-se pelo que a sociedade é humanamente exigível –
assim, a tv, o frigorífico, o computador, a mesma de cozinha, a mesa da sala e as cadeiras
onde o agregado se senta diariamente para fazer as suas refeições, ou até mesmo a cómoda
onde o agregado costuma guardar as suas roupas constituirão bens essenciais à economia
doméstica, só se se encontrando excluída tal essencialidade se se tratarem de objetos valiosos
ou decorativos, e sem utilidade na satisfação das necessidades básicas. Todavia, como refere
o Professor Lebre de Freitas, mesmo nestes casos, a penhora é admissível se se tratar de
execução destinada ao pagamento do preço de aquisição: in casu, tratava-se de um frigorífico
de tecnologia de ponta, bastante valioso.
(v) Artigo 736.º, alínea c) CPC: valor diminuto da coisa (artigo 737.º, n.º2 CPC): estão isentos
de penhora os instrumentos de trabalho e objetos indispensáveis ao exercício da atividade,
pelo que os cateteres não poderão ser objeto de penhora.
(vi) Preside ao (v) o mesmo raciocínio que ao (iv), a jurisprudência já considerou que a TV era
impenhorável: mas tratam-se de equipamentos de elevado valor e que me parece não ser
reconduzíveis à ideia de satisfação de necessidades básicas e que surpassam claramente o
padrão de dignidade social que serve de critério do tribunal.
(vii) As partes podem estipular a impenhorabilidade específica de determinados bens por dívidas
determinadas. Assim, o artigo 603.º CC permite que, por doação ou testamento, se
convencionem que os bens transmitidos não responderão pelas dívidas do beneficiário já
existentes à data. Assim, a cláusula aposta seria parcialmente inválida, na medida em que não
se pode consagrar a sua impenhorabilidade por dívidas futuras. Todavia, os jazigos e as
sepulturas (Ac. RGm) pertencem ao domínio público (embora os Municípios e as Freguesias
possam fazer concessões temporárias ou perpétuas de jazigos, a concessão não lhes retira a
natureza de bem público). Assim, caberia no artigo 736.º, alínea b) CPC, sendo, portanto,
impenhorável. Ainda que não de domínio público, podiamos considerar aplicável o artigo
736.º, alínea e) CPC, e, ainda, quiçá o artigo 736.º, alínea c) CPC.
É relevante que o jazigo seja valioso? – Sim, pelo menos quanto à aplicação do artigo 736.º,
alínea c) CPC (bons costumes), mas creio que a teleologia do artigo 736.º, alínea c) CPC não
seria lesada, na medida em que tratando-se de um jazigo desocupado não haveria uma
necessidade de tutelar o respeito pelos mortos (e, em especial, no caso de um jazigo, pela
ideia de uma última morada em que os familiares estão novamente reunidos).
(viii) Artigo 829.º CPC e 1961: no seu artigo 822.º, e na alínea a que atualmente corresponde o
artigo 736.º, alínea d) CPC atual, incluía nos casos de impenhorabilidade absoluta, não só os
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objetos de culto público, mas também os edifícios destinados ao culto público. Todavia, o
seu n.º3 referia que as capelas particulares podiam ser penhoradas na falta de outros bens:
todavia, penso que se deve considerar que a capela é impenhorável, se não pelo artigo 736.º,
alínea d) CPC, pelo artigo 736.º, alínea c) CPC, considerando que a sua apreensão é ofensiva
dos bons costumes.
(xi) Os animais de companhia são impenhoráveis nos termos do artigo 736.º, alínea g) CPC.
(xii) A correspondência do homem público não pode ser penhorada sem o seu consentimento
(sem o qual estaríamos no âmbito do artigo 736.º, alínea a) CPC, por se tratar de uma nulidade
negocial por força do artigo 280.º, n.º2 CC (Lebre de Freitas).
(xv) Trata-se de um direito penhorável: feita a notificação pelo agente de execução nos termos do
artigo 773.º, n.º1 CPC, o terceiro devedor pode, no ato de notificação ou no prazo de 10 dias
(artigo 773.º, n.º3 CPC):
a) Reconhecer que o crédito existe, mas declarar que a sua exigibilidade depende da
contraprestação do executado (artigo 776.º CPC), o que parece ser o caso, na medida
em que J ainda não entregou o veleiro. Estamos perante um reconhecimento
expresso qualificado onde o executado será notificado para confirmar a declaração e
realizar a prestação em 15 dias, por determinação do agente de execução (artigo 776.º,
n.º1 CPC).
Se J confirmar e caso não cumpra a contraprestação: a lei cria um sistema para
afastar o obstáculo da inexigibilidade do crédito sobre terceiro (artigo 776.º,
n.º2 CPC), com duas hipóteses:
i. O exequente realiza a prestação pelo executado, ficando neste caso sub-
rogado nos direitos do devedor (artigo 592.º, n.º1 CC);
ii. Ser instaurada uma ação executiva contra o executado, pelo exequente
ou pelo terceiro devedor, a qual pode correr sem necessidade de citação
prévia do executado, tendo como título executivo a declaração de
reconhecimento da dívida (artigo 776.º, n.º2 e 4).
(xvi) Artigo 738.º, n.º1 CPC: são impenhoráveis 2/3 dos rendimentos periódicos, devendo
atender-se ao valor líquido no plano fiscal (artigo 738.º. n.º2 CPC), ou seja, não deve atender-
se a um valor líquido no plano pessoal (depois de descontadas as despesas pessoais) qualquer
invocação de gastos pessoais deve ser feita a posteriori nos termos do artigo 738.º, n.º6 CPC.
Todavia, a parte impenhorável do vencimento do executado tem um limite mínimo e um
limite máximo:
a) Limite mínimo: garantia de reserva de um montante equivalente a um salário mínimo
(artigo 738.º, n.º3 CPC): quando o executado aufira valor igual ou inferior ao salário
mínimo, não podem estes ser penhorados de todo;
b) Limite máximo: de acordo com o mesmo n.º3 do artigo 738.º CPC, será penhorável,
por completo, a parte do rendimento superior a 3 vezes (3x) o salário mínimo.
Assim, do salário de J, serão penhoráveis, aproximadamente, 7329€.
Pode J requerer o aumento do valor impenhorável (artigo 738.º, n.º6 CPC), mas já não é
possível que o exequente solicite a diminuição do valor impenhorável.
(xvii) Trata-se de um caso de impenhorabilidade por consideração de interesse de terceiro (artigo
1184.º CC): os bens que o mandatário sem poderes de representação haja adquirido em
execução do mandato e que, consequentemente, devam ser transferidos para o mandante
não respondem pelas dívidas do mandatário, desde que:
1) O mandato conste de documento anterior à data da penhora; e
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2) Não tenha sido feito o registo da aquisição, se se tratar de um bem sujeito a registo.
(xviii) Creio que a penhora apenas poderá vir a abranger o direito que o executado tem na herança,
pelo que, apenas quando houver um de cuius é que existirá, na esfera jurídica do executado,
um direito de quinhão hereditário (ou seja, à respetiva quota parte da herança global em si
mesma). Ora, o direito do executado à quota hereditária na herança aberta pelo óbito do de
cuius responde pelas dívidas do I, na medida em que integra o património geral garante das
dívidas deste, e não podem ser penhorados (sendo que a partilha converterá os vários direitos
a uma simples quota – indeterminada – de um todo – determinado – em direito exclusivo a
uma parcela do todo). Assim, sendo operada a penhora do direito e ação do executado a
herança indivisa, a partilha realizada na pendência da execução é inoponível ao exequente (a
tese de que a penhora do direito se converte imediatamente na penhora dos bens só se poderá
aceitar se o penhorante tiver intervindo, como interessado na realização da partilha e a tiver
aceitado) – artigos 606.º e 2067.º, n.º1 CC.
c) Ac. RPt 1998: é impenhorável o direito de quota legitimária da herança (ainda não
aberta) de pessoa viva. Ademais, da inalienabilidade do direito à sucessão de pessoa
viva (artigo 2028.º CC) resulta a sua necessária impenhorabilidade (artigo 736.º, alínea
a) CPC).
d) Rui Pinto2: parece admitir que, perante o artigo 778.º CPC, seja possível conceber
a penhorabilidade do direito a quota em herança de pessoa viva, na medida em que
haverá já uma expectativa de aquisição.
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Caso 28
A penhora é a apreensão judicial de bens do executado (in casu, C) que constituem o objeto
dos direitos do exequente a serem satisfeitos pelo processo de execução.
Ora, a realizar-se a penhora, esta tem de se limitar aos bens necessários ao pagamento da
dívida exequenda e das despesas previsíveis da execução (1.ª parte do n.º3 do artigo 735.º
CPC) estando sujeitos a esta satisfação através da penhora, todos os bens do devedor
suscetíveis de o ser: ou seja, não sujeitos a impenhorabilidades (artigos 735.º, n.º1 e 736.º a
739.º CPC, quanto a estas). In casu, são-nos omitidos detalhes que tal possa indiciar e concluir,
desconsideraremos e presumimos a sua livre penhorabilidade.
Sendo o colar um bem móvel (artigo 205.º. n.º1 CC), será aplicado o regime processual
presente nos artigos 764.º e seguintes CPC. Sendo um bem não sujeito a registo, nos termos
do artigo 764.º, nº.1 CPC, a sua penhora faz-se com apreensão efetiva dos bens seguida da
sua remoção para depósito, uma vez que não se verifica, também, qualquer limitação do n.º2
do mesmo artigo, pois a apreensão do colar em nada nos parece ser/ter:
Natureza incompatível com o depósito;
A remoção implicar uma desvalorização ou inutilização;
O custo da remição ser superior ao seu valor.
Assim, o agente de execução será constituído de acordo com a parte final do n.º1 do mesmo
artigo 764.º CPC como depositário deste colar, o que também parece ter sucedido pois não
nos surge no caso indicação de que a executada o tenha em sua posse.
1. Esta realidade decorrente da apreensão dos bens assegura, assim, a viabilidade da venda
executiva dos direitos sujeitos à penhora cumprindo uma função conservatória que, como
nos diz Miguel Teixeira de Sousa, é:
1) Material: o bem não se desencaminhe ou deteriore transferindo para o agente de
execução dos poderes de exercício material do direito, maxime, o uso, a fruição e
administração. Como nos diz Anselmo de Castro: a indisponibilidade material do
bem). Que consequências retirar daqui, porém: posse, detenção do agente de
execução? A doutrina não é unívoca:
a. Miguel Teixeira de Sousa: a penhora impõe ao executado um
desdobramento da posse sobre os seus bens:
i. Permanece possuidor em nome próprio nos termos do seu direito de
que ainda fica como titular;
ii. Vê constituir-se sobre eles uma posse que é exercida pelo depositário
e que tem o conteúdo que resulta dos poderes que são concedidos
(artigos 760.º e 772.º CPC), e mesmo quando o depositário é o
executado.
b. Rui Pinto: seguindo esta posição, entende que a posse do agente de execução
como depositário é a posse do Estado no seu título (artigo 1253.º, alínea c)
CC):
i. O depositário é o detentor;
ii. O Estado é possuidor.
A posse civil é do executado e, assim, também a sua propriedade, até à venda
executiva (o mesmo entende Anselmo de Castro).
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Caso 29
1.
(i) Sim, o recheio da casa pode ser penhorado (salvo os bens que, dentro do recheio, sejam
impenhoráveis, nos termos dos artigos 736.º e 737.º CPC). Tratando-se de coisas móveis
não sujeitas a registo, a penhora faz-se por apreensão efetiva do bem, seguida da sua
remoção para depósito (artigo 764.º. n.º1 CPC), salvo se a sua remoção implicar uma
desvalorização substancial dos bens ou a sua inutilização, o custo de remoção implicar
uma desvalorização substancial dos bens ou a sua inutilização, o custo de remoção for
superior ao valor dos bens ou a natureza dos bens for incompatível com o depósito
(artigo 764.º, n.º2 CPC). Nota: o artigo 764.º, n.º3 CPC: presumem-se que os bens que
integram o recheio da casa pertence a Belmira (pelo menos os que se refiram aos espaços
comuns da casa).
(iii) Caso do artigo 764.º, n.º2 CPC, devendo proceder-se a uma descrição pormenorizada
dos bens, à obtenção de fotografias dos mesmos e, sempre que possível, à imposição de
algum sinal distintivo nos próprios bens, ficando o executado como depositário,
lavrando-se auto de diligência.
Do caso não resulta que o valor da remoção seja superior, todavia, o fundamento do
artigo 764.º, n.º2, 2.ª parte CPC é respeito pelos fins da penhora. Se, em regra, só com a
remoção da esfera de disponibilidade do devedor é acautelado o interesse do credor
exequente, tal remoção só faz sentido se a mesma for viável e garantir o valor patrimonial
dos bens e obtenção de receita com a sua venda, ainda que o custo de remoção não
fosse superior, ainda assim a teleologia do preceito se justifica.
(iv) Penhora de dinheiro é realizada nos termos do artigo 764.º, n.º5 CPC, tendo sido a
diligência realizada pelo agente de execução, deverão ser depositadas as notas em
instituição de crédito – quanto ao facto de as notas representarem o salário de B, estão
cobertas pela impenhorabilidade parcial do artigo 738.º, n.º1 CPC, sendo penhorável
apenas 1/3 do rendimento deste; todavia, o artigo 738.º, n.º3 CPC determina que, ainda
assim, a impenhorabilidade tem como limite mínimo, quando o exequente não tenha
outro rendimento, o montante equivalente a um salário mínimo. Assim, só será
penhorável a diferença entre o valor do salário mínimo e os 500€ recebidos por B. Como
o salário mínimo é superior ao valor recebido, é impenhorável na sua totalidade). B
poderia, pois, reagir através do mecanismo da oposição à penhora nos termos dos artigos
856.º e 784.º, n.º1, alínea a) CPC, na medida em que parece que B não foi previamente
citado para a penhora.
(v) Artigos 757.º, n.º4 ex vi 764.º, n.º4 CPC: deveria obter despacho judicial e, só depois,
solicitar a ajuda das entidades policias, não podendo o agente de execução só por si,
arrombar a porta da casa e entrado à força. Quanto a B, se o agente de execução tivesse
suspeitado da sonegação, deveria ter advertido B da responsabilidade em que incorre
com o facto da sonegação: tendo ocultado bens, B responderá por litigância de má fé
(artigo 767.º CPC).
2.
(i) Antes da reforma de 2003, admitia-se que, no ato de penhora pudesse o executado (ou
alguém por ele), mediante a apresentação de documento que demonstrasse, de modo
inequívoco, que o bem pertencia a terceiro ou ao executado e a terceiro, obviar a uma
ilegalidade subjetiva manifesta da penhora.
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Com a reforma, foi suprimido o protesto, dispondo o artigo 764.º, n.º3 CPC que se
presumem pertencerem ao executado os bens encontrados em seu poder, podendo a
presunção ser ilidida perante o juiz, mediante prova documental inequívoca do direito
de terceiro.
«Em poder» é diferente da posse: para o legislador bens móveis estão em poder do
executado quando se achem num espaço identificado no processo como sendo objeto
de algum direito de gozo do executado. Assim, estando a máquina de lavar em casa de
B, despoleta-se a aplicação da presunção do artigo 764.º, n.º3 CPC: assim, tem como
consequência:
1) a Repara Tudo, Lda apenas poderá ilidir esta presunção de modo deferido,
estando esse afastamento restringido a nível de prova, na medida em que não
se pode usar prova testemunhal para demonstrar o direito de terceiro.
2) O agente de execução não pode recusar-se ex officio a realizar a penhora, esta
vale, para ele, como uma ficção (já que oficiosamente ele deveria aferir da
qualidade de ser ou não do executado com base na regra comum do artigo
1268.º, n.º1 CC, que seria um critério normativo para permitir ou não a penhora.
Mas
a. Paula Costa e Silva: é uma ficção legal para toda a gente – a do artigo
1268.º, n.º1 CC.
b. Rui Pinto: só o é para o agente de execução.
c. Lebre de Freitas: considera que o facto de a ilisão da presunção se
efetuar perante o juiz nos termos do artigo 764.º, n.º3 CPC não significa
que o agente de execução deva realizar a penhora, quando seja
confrontado, no próprio ato, com a evidência do direito de terceiro. Há
que ter em conta que a ele cabe determinar os bens a apreender, com
respeito da proporcionalidade e salva a especial imposição da penhora
de determinado bem, pelo que seria abusivo que fosse obrigado a
penhorar um bem que manifestamente pertence a terceiro. Ou seja, se
tiver a prova inequívoca (mais forte que os documentos autênticos ou
autenticados), já que é nessa prova que se baseia a ficção. Deveria, assim,
embargar de terceiros.
Pois bem, o agente de execução deveria penhorar a máquina de lavar, apesar de estar
com autocolantes que indiciam que esta não é proprietária do bem:
a. Legitimidade ativa para desencadear o incidente do artigo 764.º, n.º3 CPC: o
executado (ou alguém em seu nome) e o terceiro;
b. Legitimidade passiva: o exequente, pois ele é o titular do interesse em manter
a penhora (artigo 30.º CPC).
Mais, deverá ser apresentada prova documental inequívoca (não tem de ser um
documento autentico, podendo ser apenas um documento particular; deve ser
inequívoca na medida em que o juiz terá o facto por provado apenas se não der lugar a
dúvida razoável, por menor que seja, sobre a genuinidade do documento ou sobre o teor
do seu conteúdo. Se houver contestação pela contraparte não há prova inequívoca, mas
consoante o valor probatório do documento apresentado, essa impugnação nuns casos
deverá ser por contraprova e noutros por prova do facto contrário.
(ii) Como resulta do dito anteriormente, o agente de execução não poderia recusar a
penhora ainda que fosse manifesto que as garrafas não pertencem a B, restando a B (ou
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