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DIREITO INTERNACIONA L

RODADA 01 – SETEMBRO/2022

TEMA: DIP E DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO (LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO


DIREITO BRASILEIRO) (ITEM 17 DO EDITAL DO CACD).

DATA PROGRAMADA PARA DISPONIBILIZAÇÃO DOS VÍDEOS COM AS ATIVIDADES:


14/09/2022.

O Direito Internacional Privado é caracterizado por situações concretas (casos


concretos) em que se verificam 03 elementos cumulativos:
1 – Particulares: trata-se de um ramo específico e autônomo do Direito Internacional
que cuida dos interesses jurídicos dos indivíduos (pessoas físicas ou pessoas naturais)
e de pessoas jurídicas de direito privado (ex. empresas, associações etc.).
OBSERVAÇÃO: Os Estados soberanos, quando atuam no âmbito do Direito
Internacional Privado, em geral, praticam atos que os equiparam aos particulares.
Trata-se dos atos de gestão, isto é, atos despidos do atributo da soberania e que
buscam gerir ou gerenciar o patrimônio do Estado soberano.
2 – Direito Privado: o Direito Privado trata de temas relacionados, em sua grande
maioria de assuntos, com o Direito Civil, a exemplo do casamento, divórcio, contratos,
sucessão etc.
3 – Fato jurídico multiconectado: entende-se por fato jurídico multiconectado uma
situação concreta (caso concreto) em que é possível aplicar a lei brasileira ou aplicar a
lei estrangeira. Em outras palavras, tem-se um caso concreto que se conecta, ao
mesmo tempo, ao direito brasileiro e ao direito de outro Estado soberano (direito
estrangeiro).
OBSERVAÇÃO: Parte da doutrina denomina o fato jurídico multiconectado de
elemento de estraneidade ou de elemento de conexão.
Em essência, pode-se entender que as normas de Direito Internacional Privado
buscam solucionar o chamado CONFLITO DE LEIS NO ESPAÇO, isto é, casos concretos
em que há a incidência, concomitante, de leis brasileiras e leis estrangeiras. Em outras
palavras, o Direito Internacional Privado é considerado um ramo de SOBREDIREITO,
na medida em que indica se determinado caso concreto será regido pela lei brasileira
ou se será regido pela lei estrangeira. Logo, o Direito Internacional Privado apenas
indica o direito aplicável aos casos concretos multiconectados e, consequentemente,
coloca fim ao conflito de leis no espaço.

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02 RACIOCÍNIOS JURÍDICOS QUE RESUMEM A ESSÊNCIA DO DIREITO INTERNACIONAL


PRIVADO:
Em essência, o Direito Internacional Privado, trata de atender a 02 necessidades
decorrentes da verificação de que existe um caso concreto multiconectado – isto é,
existe um conflito de leis no espaço:
a) POSSIBILIDADE DE O JUIZ BRASILEIRO APLICAR INTERNAMENTE A LEI ESTRANGEIRA:
- nesta primeira situação, pode-se concluir que é o juiz brasileiro que irá julgar o caso
concreto multiconectado. Na prática, isso acontece se as partes ajuizaram a ação
perante o Poder Judiciário brasileiro;
- o art. 14 da LINDB prevê que, se o juiz brasileiro não conhecer a lei estrangeira,
deverá determinar que a parte que a invocar prove seu texto e vigência;
- o art. 17 da LINDB estabelece que a lei estrangeira não será aplicada no ordenamento
jurídico brasileiro caso viole a SOBERANIA, ORDEM PÚBLICA ou BONS COSTUMES.
IMPORTANTE: A soberania, ordem pública e bons costumes são conceitos jurídicos
indeterminados. Caberá ao órgão julgador que integrar o Poder Judiciário brasileiro
verificar, caso a caso, se a lei estrangeira viola ou não tais valores ao ser aplicada no
Brasil.
- o art. 16 da LINDB proíbe o instituto do REENVIO nos casos de aplicação da lei
estrangeira por parte do juiz brasileiro que julga um caso concreto multiconectado.
Haverá a configuração do reenvio no caso de o juiz brasileiro, em conformidade com
as determinações da LINDB, ser orientado a aplicar a lei estrangeira para solucionar o
conflito de leis no espaço e a lei estrangeria aplicada remeter a solução do caso para
a lei de outro país.
b) HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA (STJ):
- nesta segunda hipótese, verifica-se que as partes do caso concreto multiconectado
ajuizaram a ação no exterior e obtiveram uma sentença proferida por autoridade
competente de outro país, a qual precisa ser, em regra, homologada pelo STJ para que
possa ser executada no Brasil;
- os aspectos técnicos-jurídicos de cooperação internacional que tratam da
homologação de sentença estrangeira serão devidamente estudados na Rodada 02 de
setembro de 2022, programada para ser publicada na sequência da presente Rodada.

ELEMENTOS DE CONEXÃO:
ARTS. 7°, 8°, 9°, 10° E 11 DA LINDB
Os elementos de conexão são temas de Direito Civil que, quando presentes no caso
concreto multiconectado, indicam se haverá a aplicação da lei brasileira ou a aplicação
da lei estrangeira para solucionar o conflito de leis no espaço, que é característico das
situações em que há a aplicação do Direito Internacional Privado.

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Os elementos de conexão previstos na Lei de Introdução às Normas do Direito


Brasileiro (LINDB) são os seguintes:
1 – DIREITO DE FAMÍLIA, CAPACIDADE CIVIL E PERSONALIDADE JURÍDICA: Art. 7° da
LINDB
Aplica-se a LEI DO DOMICÍLIO da pessoa. Desse modo, pode-se concluir que o
casamento (direito da família) entre 02 norte-americanos que têm domicílio no Brasil
será regido pela lei brasileira. Em igual sentido, o casamento entre 02 brasileiros que
moram nos EUA será regido pela lei estadunidense.
EXCEÇÃO: O art. 7°, § 2°, da LINDB prevê que o casamento de estrangeiros
domiciliados no Brasil poderá ser celebrado perante autoridades diplomáticas ou
consulares de ambos os noivos ou nubentes. Neste caso, o casamento será regido pela
lei do país da repartição consultar ou da missão diplomática que o celebrar.
OBSERVAÇÃO: No caso de noivos ou nubentes que tenham domicílios diferentes, o
casamento e o regime de bens será disciplinado pela LEI DO PRIMEIRO DOMICÍLIO
CONJUGAL, ou seja, a lei do país em que o casal estabelecer o seu primeiro domicílio
comum (art. 7°, § 3° e § 4°, LINDB).
2 – CONTRATOS E OBRIGAÇÕES: Art. 9°, LINDB
O art. 9° da LINDB prevê que os contratos e obrigações são regidos pela LEI DO PAÍS
DE CONSTITUIÇÃO, ou seja, pela lei do país em que foram celebrados ou assinados.
OBSERVAÇÃO: No caso de contratos entre ausentes – isto é, contratos que não têm
celebração ou assinatura formal –, o art. 9°, § 2° da LINDB prevê que se aplica a LEI DO
DOMICÍLIO DO PROPONENTE, a lei do país em que domiciliado a parte contratual que
ofereceu o bem ou serviço para ser contratado.
3 – SUCESSÕES: Art. 10°, LINDB
O Direito das Sucessões é um ramo do Direito Civil que cuida da habilitação dos
herdeiros e da definição da herança que cada herdeiro habilitado irá receber em razão
da morte de alguém (“de cujus”).
REGRA GERAL: O art. 10, “caput”, da LINB prevê que a sucessão será regida pela LEI
DO DOMICÍLIO DO DE CUJUS (DEFUNTO), qualquer que seja a natureza e a situação
dos bens.
EXCEÇÃO: O art. 5°, XXXI, CF/88 e o art. 10, § 1°, da LINDB prevê que a sucessão será,
excepcionalmente, regida pela LEI BRASILEIRA caso se verifiquem 03 requisitos
cumulativos:
(i) bens situados no Brasil;
(ii) cônjuge ou filhos BRASILEIROS;
(iii) lei brasileira MAIS FAVORÁVEL aos referidos herdeiros que a lei do domicílio do
“de cujus”.

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PEGADINHA: Para definir a CAPACIDADE DE SUCEDER – ou seja, a capacidade civil para


participar sem representantes do processo de inventário – aplica-se a LEI DO
DOMICÍLIO DO HERDEIRO (art. 10, § 2°, LINDB).
4 – QUALIFICAÇÃO DE BENS: Art. 8°, LINDB
O art. 8° da LINDB prevê que os bens serão qualificados conforme a LEI DO LOCAL DE
SITUAÇÃO, ou seja, a lei do local onde se encontram situados.
5 – FUNCIONAMENTO DE PESSOAS JURÍDICAS: Art. 11, LINDB
O art. 11 da LINDB prevê que as empresas e demais pessoas jurídicas terão seu
funcionamento regido pela LEI DO LOCAL DE CONSTITUIÇÃO, ou seja, a lei do local em
que houve sua criação mediante o registro dos atos constitutivos.

PROIBIÇÃO DE AQUISIÇÃO DE BENS POR ESTADOS ESTRANGEIROS NO BRASIL


REGRA GERAL: O art. 11, § 2°, da LINDB prevê que os governos estrangeiros – bem
como as empresas e demais pessoas jurídicas criadas por Estados estrangeiros – NÃO
podem adquirir bens imóveis ou bens suscetíveis de desapropriação no Brasil.
EXCEÇÃO: Os Estados estrangeiros poderão adquirir somente os prédios necessários à
sede dos representantes diplomáticos ou dos agentes consulares (art. 11, § 3°, LINDB).

I – DOUTRINA:

“Normalmente, os autores aludem a três fundamentos que explicam a existência do


Direito Internacional Privado, sem prejuízo de outras observações paralelas, igualmente
válidas.
A primeira hipótese é haver conflitos de leis no espaço. Em princípio, quando há
divergência entre leis de diferentes países, criando, portanto, conflitos legislativos
interespaciais, o Direito Internacional Privado intervém, não sendo de todo viável a tese
de que esse direito visa exclusivamente a uniformidade legislativa, porque, neste caso,
estaria falseando sua própria finalidade. (...)
O segundo fundamento é a extraterritorialidade das leis. Para que o Direito
Internacional Privado sobreviva é indispensável que os países permitam, dentro de suas
limitações e critérios, a aplicação de leis estrangeiras nos respectivos territórios. (...)
A terceira razão é o intercâmbio universal, que Clóvis Beviláqua denominava comércio
internacional. Realmente, segundo Clóvis Beviláqua, o comércio internacional, de um
lado, e, de outro, a diversidade de leis são o fundamento lógico e social do direito
internacional privado, que, para o emérito jurista pátrio, consiste no conjunto de
preceitos reguladores das relações de ordem privada da sociedade internacional. A
expressão comércio internacional, neste caso, não deve ser entendida no sentido

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mercantil, mas significando intercâmbio entre os diversos povos do universo, seja sob o
lado mercantil, seja sob o familiar, cultural, científico, artístico etc. (...)”1.

“O método conflitual tradicional, ainda utilizado pelo Direito Internacional Privado dos
países da Europa e da América Latina, com as modificações que a seguir serão
comentadas, tem como particularidade a existência de uma regra de DIPr – a regra de
conflito, que dá a solução de uma questão de direito contendo um conflito de leis
através da designação de lei aplicável pela utilização da norma indireta. Não compete
ao DIPr fornecer a norma material aplicável ao caso concreto, mas unicamente designar
o ordenamento jurídico ao qual a norma aplicável deverá ser requerida. Para a
concepção clássica do DIPr, é através das normas de conflitos que o DIPr cumpre uma
missão de prover à regulamentação da vida jurídica internacional. (...)
Um problema de DIPr (para a concepção clássica) não é um problema de justiça material,
mas sim a escolha da lei aplicável indicada pela norma de conflito. (...)”2.

“Em todos os sistemas jurídicos nacionais há previsão legal para a solução do conflito de
leis, nos casos de julgamento da situação jurídica multiconectada. O juiz escolhe a lei a
partir das normas de DIPr, tendo como resultado a indicação da lei brasileira ou
estrangeira. Mas o funcionamento desse sistema de DIPr poderá ser impedido pela
aplicação da exceção de ordem pública”3.

“A ordem pública no DIPr impede a aplicação de leis estrangeiras, o reconhecimento de


atos realizados no exterior e a execução de sentenças proferidas por tribunais de outros
países, constituindo-se no mais importante dos princípios da disciplina. Não é passível
de definição, pois reflete a filosofia sócio-política-jurídica de toda a legislação, aferindo-
se pela mentalidade e pela sensibilidade média de determinada sociedade em
determinada época”4.

“No Brasil, a principal fonte legislativa é a Lei de Introdução às Normas do Direito


Brasileiro (LINDB), que trata do Direito Internacional Privado (arts. 7 a 17). A
Constituição Federal de 1988 trata da nacionalidade (art. 12), dos direitos e deveres dos
estrangeiros, das questões atinentes a tratados internacionais (art. 49, I, art. 84, VIII), da
sucessão internacional (art. 5°, XXXI), além de determinar a competência do Supremo
Tribunal Federal em temas de cooperação internacional (art. 102, I, h) e da Justiça
Federal, em tema de tratados (art. 109, III). O Código de Processo Civil regulamenta a

1
STRENGER, Irineu, Direito Internacional Privado, 6 ed., São Paulo, LTr, 2005, pp. 30-31.
2
ARAUJO, Nadia de, Direito Internacional Privado: Teoria e Prática brasileira, Rio de Janeiro, Renovar,
2003, pp. 36-37.
3
ARAUJO, Nadia de, Direito Internacional Privado: Teoria e Prática brasileira, Rio de Janeiro, Renovar,
2003, pp. 95-96.
4
DOLINGER, Jacob, Direito Internacional Privado, 6 ed., Rio de Janeiro, Renovar, 2001, pp. 329-330.

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questão da jurisdição internacional (arts. 21 a 23) e aquelas relativas às cartas


rogatórias, prova de direito estrangeiro e sentenças estrangeiras (arts. 960 a 965). Há
ainda outros exemplos esparsos na legislação especial.
Além das fontes de origem legislativa, conta-se com a doutrina e a jurisprudência. A
primeira manifesta-se como interprete e guia para a segunda, que aparece nas decisões
do Superior Tribunal de Justiça – no cumprimento da competência originária, julgando
sentenças estrangeiras e cartas rogatórias. A justiça estadual cuida dos casos de direito
de família, sucessão e contratos internacionais, e a justiça federal daqueles dentro de
sua competência pela matéria”5.

“O reenvio é o instituto pelo qual o Direito Internacional Privado de um Estado remete


às normas jurídicas de outro Estado, e as regras de Direito Internacional Privado deste
indicam que uma situação deve ser regulada ou pelas normas de um terceiro Estado ou
pelo próprio ordenamento do primeiro Estado”6.

II – LEGISLAÇÃO:

Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) (Decreto-lei n° 4.657/1942):

Art. 7° A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e
o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.
§ 1° Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos
impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.
§ 2° O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas
ou consulares do país de ambos os nubentes.
§ 3° Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio
a lei do primeiro domicílio conjugal.
§ 4° O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os
nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal.
§ 5° O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa
anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de
naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens,
respeitados os direitos de terceiros e dada esta adoção ao competente registro.
§ 6° O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros,
só será reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano da data da sentença, salvo se houver

5
ARAUJO, Nadia de, Direito Internacional Privado: Teoria e Prática brasileira, Rio de Janeiro, Renovar,
2003, pp. 127-128.
6
PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves, Direito Internacional Público e Privado, 6 ed., Salvador, Jus Podivm,
2014, p 673.

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sido antecedida de separação judicial por igual prazo, caso em que a homologação
produzirá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das
sentenças estrangeiras no país. O Superior Tribunal de Justiça, na forma de seu
regimento interno, poderá reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já
proferidas em pedidos de homologação de sentenças estrangeiras de divórcio de
brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais.
§ 7° Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se ao outro
cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob sua
guarda.
§ 8° Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua
residência ou naquele em que se encontre.

Art. 8° Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a


lei do país em que estiverem situados.
§ 1° Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens
moveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares.
§ 2° O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se
encontre a coisa apenhada.

Art. 9° Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se


constituírem.
§ 1° Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma
essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos
requisitos extrínsecos do ato.
§ 2° A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o
proponente.

Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado
o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.
§ 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei
brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente,
sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.
§ 2° A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder.

Art. 11. As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e


as fundações, obedecem à lei do Estado em que se constituírem.

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§ 1° Não poderão, entretanto, ter no Brasil filiais, agências ou estabelecimentos antes


de serem os atos constitutivos aprovados pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei
brasileira.
§ 2° Os Governos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer natureza, que
eles tenham constituído, dirijam ou hajam investido de funções públicas, não poderão
adquirir no Brasil bens imóveis ou suscetíveis de desapropriação.
§ 3° Os Governos estrangeiros podem adquirir a propriedade dos prédios necessários à
sede dos representantes diplomáticos ou dos agentes consulares.
(...)

Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar,
quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros
provas que a lei brasileira desconheça.

Art. 14. Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem a invoca prova
do texto e da vigência.
(...)

Art. 16. Quando, nos termos dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei
estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão
por ela feita a outra lei.

Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de
vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem
pública e os bons costumes.

Constituição Federal de 1988:


Art. 5°. (...)
XXXI – a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei
brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja
mais favorável a lei pessoal do "de cujus";

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III – JURISPRUDÊNCIA:

Superior Tribunal de Justiça (STJ):

“Sendo caso de aplicação do direito estrangeiro, caberá ao juiz brasileiro fazê-lo, de


ofício, consoante as normas do direito internacional privado, entendido este como o
conjunto de regras que orientam a solução das relações jurídicas privadas envolvidas
em mais de uma esfera de soberania. A lei estrangeira, aplicada por força de dispositivo
de direito internacional privado (art 9º da LINDB), se equipara a legislação federal
brasileira, para efeito de admissibilidade de recurso especial”(STJ, REsp n. 1.729.549/SP,
relator Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 9/3/2021, DJe de
28/4/2021).

“Nos termos dos arts. 15 e 17 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, 963
do CPC/2015, e 216-C, 216-D e 216-F do Regimento Interno do Superior Tribunal de
Justiça, são requisitos da homologação os seguintes: (i) instrução da petição inicial com
o original ou cópia autenticada da decisão homologanda e de outros documentos
indispensáveis, devidamente traduzidos por tradutor oficial ou juramentado no Brasil e
chancelados pela autoridade consular brasileira; (ii) haver sido a sentença proferida por
autoridade competente; (iii) terem as partes sido regularmente citadas ou haver-se
legalmente verificado a revelia; (iv) ter a sentença transitado em julgado; (v) não
ofender a soberania, a dignidade da pessoa humana e/ou ordem pública” (HDE n.
1.936/EX, relator Ministro Og Fernandes, Corte Especial, julgado em 1/8/2022, DJe de
18/8/2022.)

IV – ORIENTAÇÃO BIBLIOGRÁFICA:
PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves Portela, Direito Internacional Público e Privado,
Editora Jus Podivm, Parte II (Direito Internacional Privado), Capítulo I (Direito
Internacional Privado), Capítulo II (Aplicação da Lei no Espaço: Conflitos de Leis no
Espaço e a Norma de Direito Internacional Privado).

V – EXERCÍCIOS OBJETIVOS:

01 – À luz dos fundamentos do direito internacional privado e da aplicação do direito


estrangeiro segundo o ordenamento brasileiro, julgue os itens a seguir.
I – O Direito Internacional Privado é primordialmente estruturado por normas de
sobredireito, que estabelecem regras de conexão para a escolha de uma entre as leis
em conflito. CERTO

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O Direito Internacional Privado cuida de solucionar conflitos de leis no espaço, isto é,


decide, diante de casos concretos multiconectados, se haverá a aplicação da lei
brasileira ou a aplicação da lei estrangeira. Para saber qual lei será aplicada, deve-se
buscar as disposições previstas no art. 7° ao 11 da LINDB, as quais trazem os elementos
de conexão (temas de Direito Civil que, quando presentes no caso concreto
multiconectado, informa se o caso concreto irá se conectar com a lei brasileira ou com
a lei estrangeira).
Vale registrar que o Direito Internacional Privado é, de fato, um conjunto de normas
de sobredireito, uma vez que informa qual o direito aplicável nos casos concretos
multiconectados: a lei brasileira ou a lei estrangeira.
II – O direito internacional privado, haja vista sua natureza, seu objeto e suas principais
fontes normativas, é, em sua essência, um direito de natureza jurídica interna, ao qual
cabe indicar a norma jurídica que poderá ser utilizada no caso concreto, sendo
preponderantemente composto de normas produzidas pelo legislador interno. CERTO
As principais fontes normativas do Direito Internacional Privado são NORMAS
INTERNAS, podendo-se citar as seguintes:
a) Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB): prevê elementos de
conexão que devem ser empregados para solucionar os conflitos de leis no espaço
(arts. 7° a 11), bem como proíbe a aplicação de lei estrangeira que viola a soberania,
ordem pública e bons costumes (art. 17), além de proibir o reenvio (art. 16);
b) Constituição Federal de 1988: estabelece a competência do Superior Tribunal de
Justiça (STJ) para homologar sentenças estrangeiras e conceder “exequatur” às cartas
rogatórias;
c) Código de Processo Civil (CPC): prevê as regras sobre a fixação da competência do
juiz brasileiro para julgar casos concretos multiconectados, que integram o universo
do Direito Internacional Privado.
III – De acordo com a Lei de Introdução as Normas do Direito Brasileiro, admite-se o
reenvio, salvo se o direito estrangeiro escolhido pelo reenvio for contrário a ordem
pública doméstica. ERRADO
O art. 16 da LINDB proíbe o reenvio, isto é, a situação verificada durante o julgamento
de um caso concreto multiconectado em que o juiz brasileiro, ao aplicar um elemento
de conexão que indica a necessidade de solucionar o conflito de leis no espaço por
meio da aplicação da lei estrangeira, verifica que a lei estrangeira aplicável determina
que seja aplicada a lei de um terceiro Estado soberano para resolver o caso concreto
multiconectado.
Em outras palavras, basta lembrar que a LINDB prevê, por meio dos elementos de
conexão, apenas o envio da questão ao ordenamento jurídico de outro Estado
soberano. Todavia, não será possível que a lei estrangeira a ser aplicada – de acordo
com a LINDB – reenvie a questão para ser solucionada com a aplicação da lei de outro
país.

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IV – Um dos fatores fundamentais para o direito internacional privado é a existência de


uma sociedade transnacional, dentro da qual se desenvolvem relações entre pessoas
físicas e jurídicas vinculadas a diferentes sistemas jurídicos nacionais. CERTO
O Direito Internacional Privado resolve o conflito de leis no espaço que se verifica em
situações em que há um caso concreto multiconectado, isto é, uma questão de Direito
Privado (Direito Civil) que envolve particulares (pessoas naturais e pessoas jurídicas)
e que permite aplicar a lei brasileira ou a lei estrangeira. Trata-se, portanto, de
situações jurídicas constatadas em um ambiente de transnacionalidade, ou seja, um
ambiente em que a lei de um Estado soberano pode ser aplicada por juízes de outro
Estado soberano (extraterritorialidade da lei nacional).

02 – Com fundamento no direito internacional privado, julgue os itens abaixo.


I – A principal fonte de direito internacional privado de origem nacional é a lei. São
consideradas fontes, ainda, a doutrina e a jurisprudência, sendo que a primeira se
manifesta como intérprete e guia para a segunda. CERTO
No Direito Internacional Privado, a lei nacional é a principal fonte. Trata-se da
chamada fonte normativa. Todavia, reconhece-se que a doutrina e a jurisprudência
também são fontes do Direito Internacional Privado. Segundo NADIA DE ARAÚJO (que
a banca do IADES copia), a doutrina interpreta a legislação nacional e guia a
jurisprudência, valendo lembrar que são as leis nacionais que adotam os elementos
de conexão que deverão ser empregados para solucionar os conflitos de lei no espaço
(arts. 7° a 11 da LINDB). Assim, a doutrina interpreta a LINDB e guia as decisões dos
órgãos do Poder Judiciário brasileiro – os quais poderão aplicar a lei estrangeira.
II – No direito internacional privado brasileiro, o direito costumeiro é fonte de criação
de normas jurídicas. ERRADO
O Direito Internacional Privado é composto por fontes normativas de direito interno,
ou seja, é regido por leis nacionais (LINDB, CF/88 e CPC). NADIA DE ARAÚJO indica que,
além das leis nacionais, a doutrina e a jurisprudência são fontes do Direito
Internacional Privado.
NÃO HÁ menção ao costume como sendo fonte do Direito Internacional Privado. Esse
dado é justificado porque, no Direito Interno, o costume não é fonte do Direito. Com
efeito, o art. 4° da LINDB prevê que o costume (juntamente com a analogia e os
princípios gerais do direito) é meio de integração ou meio de colmatação do
ordenamento jurídico. Na prática, o costume poderá ser aplicado pelo juiz nacional
apenas diante da constatação de LACUNAS, isto é, ausência de leis sobre o tema.
CONCLUSÃO: No Direito Interno, diferentemente do Direito Internacional Público, o
costume não é fonte do Direito. E, tendo em vista que o Direito Internacional Privado
é composto por normas internas, o costume não é fonte do Direito Internacional
Privado.

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III – O Estado pode engajar-se em uma relação jusprivatista (jus: direito; privatista:
privado) com conexão internacional, sujeitando-se às regras do direito internacional
privado sem, contudo, beneficiar-se de privilégios decorrentes de sua qualidade de ente
soberano. CERTO
No Direito Internacional Privado, os Estados podem atuar na realização de atos de
gestão, isto é, atos relacionados à gestão ou à gerência do seu patrimônio (ex. compra
de computadores, automóveis etc.). Neste caso, o Estado equipara-se ao particular,
uma vez que não exerce atributos do seu poder de império ou atributos de sua
soberania.
IV – A autoridade judiciária nacional poderá aplicar, de ofício, o direito estrangeiro,
desde que este se imponha por força própria. ERRADO
Para que um juiz brasileiro (autoridade judiciária nacional) possa aplicar a lei
estrangeira (lei de outro país), o juiz brasileiro deverá observar os elementos de
conexão previstos na LINDB (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro).
Apenas se a LINDB (lei brasileira) autorizar, o juiz brasileiro poderá aplicar leis
estrangeiras no Brasil. Logo, conclui-se que é a lei nacional (LINDB) que autoriza a
aplicação, no Brasil, da lei estrangeira. É errado afirmar que a lei estrangeira se impõe
por força própria no ordenamento jurídico brasileiro.

03 – Considerando a atual sistemática e o entendimento da Lei de Introdução às Normas


do Direito Brasileiro e do Direito Internacional Privado no Brasil, julgue os itens a seguir.
I – A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que estiver
domiciliado o defunto ou o desaparecido, quaisquer que sejam a natureza e a situação
dos bens. CERTO
O art. 10, “caput”, da LINDB prevê que a SUCESSÃO é regida pela LEI DO DOMICÍLIO
DO “DE CUJUS” (defunto ou desaparecido), independentemente da natureza ou da
situação dos bens (independentemente do país em que os bens estejam situados).
Ex. Na hipótese de um brasileiro que tinha domicílio na Colômbia falecer e deixar bens
no Brasil, a sucessão desses bens será regida pela lei colombiana (lei do domicílio do
“de cujus”).
II – A sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira
em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre
que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus. CERTO
O art. 5°, XXXI, CF/88 e o art. 10, § 1°, da LINDB trazem uma previsão excepcional
quanto à lei aplicável na SUCESSÃO. A sucessão será regida pela LEI BRASILEIRA (e não
pela lei de domicílio do “de cujus”) se verificados 03 elementos cumulativos:
(i) bens situados no Brasil;
(ii) cônjuge ou filhos brasileiros;
(iii) lei brasileira mais favorável aos referidos herdeiros.

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III – A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder. CERTO
O art. 10, § 2°, da LINDB prevê expressamente que a CAPACIDADE PARA SUCEDER –
isto é, a capacidade civil para que o herdeiro ou legatário possa participar, sem
representante, do processo judicial ou do processo administrativo de transferência a
herança que lhe é de direito – será regida pela LEI DO DOMICÍLIO DO HERDEIRO OU
DO LEGATÁRIO.
Ex. Os filhos do Gugu Liberato têm domicílio nos EUA e, atualmente, há um processo
judicial no Brasil para realizar a sucessão dos bens deixados pelo Gugu. Para saber se
os filhos do Gugu (herdeiros) precisam ou não ser representados no referido processo
judicial, deve-se aplicar a LEI DO DOMICÍLIO DOS FILHOS DO GUGU, isto é, a lei dos
EUA. Trata-se, aqui, de definir se os herdeiros têm, sem a necessidade representação,
capacidade para suceder ou para, sozinhos, participar do processo judicial de
transferência da referida herança.
IV – Os governos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer natureza que
eles tenham constituído (empresas ou fundações de direito privado criados por
governos estrangeiros), dirijam ou hajam investido de funções públicas, poderão
adquirir no Brasil bens imóveis ou suscetíveis de desapropriação. ERRADO
O art. 11 da LINDB trata do regime jurídico a ser observado pelos Estados ou governos
estrangeiros e pelas organizações (empresas ou fundações) criadas, dirigidas ou que
recebem funções públicas por parte de governos estrangeiros no tocante à aquisição
de imóveis ou bens suscetíveis de desapropriação no Brasil:
REGRA GERAL: Os Estados ou governos estrangeiros e suas organizações (empresas ou
fundações) NÃO poderão adquirir bens imóveis ou bens suscetíveis de desapropriação
no Brasil (art. 11, § 2°, LINDB);
EXCEÇÃO: O art. 11, § 3°, da LINDB autoriza os Estados ou governos estrangeiros a
adquirirem, no Brasil, a propriedade dos PRÉDIOS NECESSÁRIOS À SEDE DOS
REPRESENTANTES DIPLOMÁTICOS OU DOS AGENTES CONSULARES.

GABARITO:
Questão 01 – I.C; II.C; III.E; IV.C.
Questão 02 – I.C; II.E; III.C; IV.E.
Questão 03 – I.C; II.C; III.C; IV.E.

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DIREITO INTERNACIONA L

VI – QUESTÃO DISCURSIVA (CONTRATAÇÃO OPCIONAL):

Considere o julgado que segue:

“DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO E CIVIL. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE DE


ESTRANGEIRO. REGISTRO EM SUA PÁTRIA DE ORIGEM. APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO
BRASILEIRA.
O elemento de conexão, no conflito de leis no espaço, estipulado no ordenamento
pátrio, é o domicílio da pessoa. Ainda que a concepção, o nascimento e o registro da
investigante tenham ocorrido no exterior, estando ela domiciliada no Brasil, deve ser
aplicado o ordenamento nacional.
A demanda pela paternidade real, fundada na falsidade de registro, não tem prazo
decadencial, mesmo antes da promulgação da Carta Magna. Precedente da Segunda
Seção.
A ação de investigação de paternidade não depende da prévia propositura da ação
anulatória do assento de nascimento do investigante, tendo o filho interesse de buscar
a paternidade real, a despeito de reconhecido como legítimo por terceiro com falsidade
ideológica.
Recurso não conhecido.
(REsp n. 512.401/SP, relator Ministro Cesar Asfor Rocha, Quarta Turma, julgado em
14/10/2003, DJ de 15/12/2003, p. 317.)

Adotando-se o acórdão como exemplo de questões submetidas ao regime jurídico do


Direito Internacional Privado, responda de modo fundamentado os questionamentos
abaixo:
a) O que se entende por conflito de leis no espaço? A solução desses conflitos é norteada
pela aplicação da aplicação da lei brasileira ou da lei estrangeira?
b) Qual o significado de ordem pública e qual é a sua importância para o Direito
Internacional Privado?
c) Admite-se a possibilidade de as partes de um caso concreto regido pelo Direito
Internacional Privado elegerem o elemento de conexão aplicável ao referido caso?
(Valor: 20 pontos;
Limite: 40 linhas).

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