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Direito Internacional Privado

ROTEIRO DE AULA
Dr. Paulo Henrique Portela – Analista Judiciário

Conflito de leis no espaço: evolução histórica, espécies de


normas e fontes. Conexão: elementos de Conexão no Direito
Brasileiro. Reenvio: argumentos relativos ao reenvio e a
solução no Direito Brasileiro

I. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. NORMAS E


FONTES DE DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
1. Conceito: ramo do Direito que visa precipuamente a regular a resolução
dos conflitos de leis no espaço, indicando qual a norma nacional
aplicável a uma relação com conexão internacional
2. Objeto
a) Regular a resolução dos conflitos de leis no espaço.
b) Regular a competência dos órgãos jurisdicionais no tocante à resolução
de conflitos referentes a relações com conexão internacional
c) Pautar juridicamente a cooperação jurídica internacional
d) Tutelar questões pessoais de interesse internacional
e) Regulamentar o reconhecimento de direitos adquiridos no exterior
3. Características
a) Ramo do Direito (e não do Direito Internacional)
b) Norma típica é meramente indicadora do preceito jurídico nacional
aplicável a uma relação privada com conexão internacional: norma de
sobredireito.
c) Possibilidade de aplicação do Direito estrangeiro
d) Obrigatoriedade de aplicação do Direito estrangeiro quando assim
indicado
e) Caráter predominantemente nacional
f) Norma nacional a ser aplicada deve ser aquela com a qual a relação
jurídica com conexão internacional esteja mais estreitamente ligada
g) Fontes internas e internacionais
4. Fontes do Direito Internacional Privado brasileiro
a) Internas
 LINDB: artigos 7 a 19
 CPC 1973
 artigos 88 a 90: competência internacional
 artigos 403 e 484: homologação de sentenças estrangeiras
 artigos 202 a 204 e 210 a 212: cartas rogatórias
 Novo CPC
 artigo 13: hierarquia das normas de processo civil: " A jurisdição civil
será regida pelas normas processuais brasileiras, ressalvadas as
disposições específicas previstas em tratados, convenções ou acordos
internacionais de que o Brasil seja parte”
 artigos 21-25: competência internacional
 artigos 26-41: cooperação internacional, auxílio direto e cartas rogatórias
 artigos 960-965: homologação de sentenças estrangeiras e da
concessão de exequatur às cartas rogatórias
 CF

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 artigo 5º, XXXI: a sucessão de bens de estrangeiros situados no País
será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos
brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do "de
cujus"
 artigo 105, I, “i”: competência do STJ para a homologação de sentenças
estrangeiras e a concessão das cartas rogatórias
 Regimento do Superior Tribunal de Justiça – atualizado pela Emenda
Regimental 18/2014
b) Internacionais
 Código de Bustamante
 Protocolo de Las Leñas
 Conferência da Haia de Direito Internacional Privado e Estatuto
Emendado da Conferência da Haia de Direito Internacional Privado.
5. Histórico
a) Antiguidade: pouca intensidade das relações internacionais e hostilidade
contra o estrangeiro => desnecessidade de normas indicativas do Direito
nacional aplicável
b) Grécia: regras para a tutela dos negócios com estrangeiros. Roma:
Pretor Peregrino => competente para apreciar conflitos entre
estrangeiros residentes no Império Romano, ou entre estes e cidadãos
romanos.
c) Idade Média
 Incremento do comércio internacional
 Escola dos Glosadores: criação da Escola Estatutária italiana. Bartolo:
pai do Direito Internacional Privado.
 Distinção entre estatuto pessoal, ligado ao indivíduo, que determinava a
aplicação da norma do local de origem da pessoa, e estatuto real,

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vinculado aos bens e que obrigava à observância da lei do local onde se
encontrava a coisa.
d) Escolas Estatutárias alemã, francesa e holandesa
 Os estatutos pessoais e reais só se aplicariam, em princípio, no território
do Estado.
 O estatuto pessoal poderia acompanhar a pessoa fora de seu Estado,
desde que os demais Estados concordassem com esse fato, em razão
da cortesia internacional (comitas gentium).
e) Joseph Story
 Territorialidade do Direito Internacional Privado e a definição de seu
caráter de “Direito nacional”
 Domicílio como principal elemento de conexão
f) Friedrich Karl von Savigny
 Caráter universal ao Direito Internacional Privado e busca de sua
harmonização
 Exame de uma relação jurídica com conexão internacional parte da
própria relação, e não de uma norma: superação da prioridade conferida
ao estatuto (pessoal ou real)
 Domicílio como principal elemento de conexão
g) Pasquale Mancini
 Nacionalidade como elemento de conexão mais importante.
 Desenvolvimento das noções de autonomia da vontade e de ordem
pública
h) Tendência recente à maior uniformização das normas de Direito
Internacional Privado
6. Diferenças com o Direito Internacional Público

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DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNACIONAL
PRIVADO
Regulação da sociedade internacional Regulação dos conflitos de leis
no espaço
Disciplina direta das relações Indicação da norma nacional
internacionais aplicável a uma relação privada
ou das relações internas com conexão internacional
de interesse internacional entre ordenamentos
eventualmente aplicáveis
Normas de aplicação direta Normas meramente indicativas
do Direito aplicável
Regras estabelecidas em Regras estabelecidas em
normas internacionais normas internacionais ou internas
Regras de Direito Internacional Público Regras de Direito Internacional
Público ou de Direito interno

II. APLICAÇÃO DA LEI NO ESPAÇO. OS CONFLITOS DE LEIS


NO ESPAÇO. A NORMA DE DIREITO INTERNACIONAL
PRIVADO: OBJETOS DE CONEXÃO E ELEMENTOS DE
CONEXÃO. TIPOS DE ELEMENTOS DE CONEXÃO. INSTITUTOS
BÁSICOS DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO: REENVIO

1. Caracterizando os conflitos de leis no espaço: situações em que


há dúvida acerca da norma nacional aplicável ao caso concreto
2. A norma de Direito Internacional Privado
a) Tipos
 Indicativa, indireta ou de sobredireito: indicada pelo lex fori
 Conceitual ou qualificadora.
 Direta
b) Estrutura
b.1. Objeto de conexão: matéria/instituto objeto de conflito. Exemplos:
capacidade, regime de bens, penhor, sucessão
b.2. Elemento de conexão: critério para indicar a lei nacional aplicável.
Exemplos: domicílio, nacionalidade etc.

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3. Principais tipos de elementos de conexão e sua aplicação no
Brasil
a) Domicílio
b) Nacionalidade
c) Lex fori
d) Lex rei sitae
e) Lex loci delicti comissi
f) Lex loci executionis/lex loci solutionis
g) Locus regit actum/lex loci contractus/lugar de constituição da
obrigação
h) Autonomia da vontade
i) Norma mais favorável

ELEMENTOS DE CONEXÃO E APLICAÇÃO NO BRASIL

ELEMENTO INFORMAÇÕES RELEVANTES


DE
CONEXÃO

Domicílio  Aplica-se aos conflitos de leis a norma do domicílio de


uma das partes
 Principal elemento de conexão adotado no Brasil
 LINDB, art. 7º, caput: A lei do país em que domiciliada
a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim
da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos
de família.
 LINDB, art. 7º, § 3º: Tendo os nubentes domicílio
diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio a
lei do primeiro domicílio conjugal
 LINDB, art. 7º, § 4º: O regime de bens, legal ou
convencional, obedece à lei do país em que tiverem os
nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro
domicílio conjugal
 LINDB, art. 8, § 1º: Aplicar-se-á a lei do país em que

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for domiciliado o proprietário, quanto aos bens moveis
que ele trouxer ou se destinarem a transporte para
outros lugares
 LINDB, art. 8, § 2º: O penhor regula-se pela lei do
domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre
a coisa apenhada
 LINDB, art. 10, caput: A sucessão por morte ou por
ausência obedece à lei do país em que domiciliado o
defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a
natureza e a situação dos bens.
 LINDB, art. 10, § 2º: A lei do domicílio do herdeiro ou
legatário regula a capacidade para suceder
 LINDB, art. 12: É competente a autoridade judiciária
brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou
aqui tiver de ser cumprida a obrigação

NOTA: relatividade do artigo 10 da LINDB. Ainda que o


domicílio do autor da herança seja o Brasil, aplica-se a lei
estrangeira da situação da coisa - e não a lei brasileira -
na sucessão de bem imóvel situado no exterior. REsp
1.362.400-SP - Info 563 - STJ.

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DE
CONEXÃO

Nacionalidade  Aplica-se aos conflitos de leis a norma do Estado de


nacionalidade de uma das partes
 LINDB: art. 7, § 2º: O casamento de estrangeiros
poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas
ou consulares do país de ambos os nubentes
 LINDB, art. 18: Tratando-se de brasileiros, são
competentes as autoridades consulares brasileiras
para lhes celebrar o casamento e os mais atos de
Registro Civil e de tabelionato, inclusive o registro de
nascimento e de óbito dos filhos de brasileiro ou
brasileira nascido no país da sede do Consulado
 LINDB, art. 18, § 1º: As autoridades consulares
brasileiras também poderão celebrar a separação
consensual e o divórcio consensual de brasileiros,

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não havendo filhos menores ou incapazes do casal e
observados os requisitos legais quanto aos prazos,
devendo constar da respectiva escritura pública as
disposições relativas à descrição e à partilha dos
bens comuns e à pensão alimentícia e, ainda, ao
acordo quanto à retomada pelo cônjuge de seu nome
de solteiro ou à manutenção do nome adotado
quando se deu o casamento
 LINDB, art. 18, § 2º: É indispensável a assistência de
advogado, devidamente constituído, que se dará
mediante a subscrição de petição, juntamente com
ambas as partes, ou com apenas uma delas, caso a
outra constitua advogado próprio, não se fazendo
necessário que a assinatura do advogado conste da
escritura pública.

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DE
CONEXÃO

Lex fori  Aplica-se a lei do lugar onde se desenvolve a relação


jurídica
 Regra referente à própria aplicação do Direito
Internacional Privado

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DE
CONEXÃO

Lex rei sitae  Aplica-se a norma do lugar onde está situada a coisa
 LINDB, art. 8: Para qualificar os bens e regular as
relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país
em que estiverem situados
 LINDB, art. 10, § 1º, e CF: 5º, XXXI: A sucessão de
bens de estrangeiros, situados no País, será regulada
pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos
brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não
lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus
 LINDB, art. 12, § 1º: Só à .autoridade judiciária

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brasileira compete conhecer das ações, relativas a
imóveis situados no Brasil

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DE CONEXÃO

Lex loci  Aplica-se a norma do local de execução de um


execucionis/lex contrato ou de uma obrigação
loci solutionis  LINDB, art. 12: É competente a autoridade judiciária
brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou
aqui tiver de ser cumprida a obrigação
 Relações trabalhistas: aplicação no artigo 3 da Lei
7.064/82 (A empresa responsável pelo contrato de
trabalho do empregado transferido assegurar-lhe-á,
independentemente da observância da legislação do
local da execução dos serviços). A extinção da
Súmula 207. A prevalência da norma mais favorável

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DE CONEXÃO

Locus regit  Aplica-se a norma do lugar em que a obrigação foi


actum/lex loci contraída
contractus/lugar  LINDB, art. 7. § 1º: Realizando-se o casamento no
de constituição Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos
da obrigação impedimentos dirimentes e às formalidades da
celebração
 LINDB, art. 9º, caput: Para qualificar e reger as
obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se
constituírem
 LINDB, art. 9º, § 2º: A obrigação resultante do
contrato reputa-se constituída no lugar em que
residir o proponente
 CPC, art. 585, § 2º: Não dependem de
homologação pelo Supremo Tribunal Federal, para
serem executados, os títulos executivos
extrajudiciais, oriundos de país estrangeiro. O título,
para ter eficácia executiva, há de satisfazer aos
requisitos de formação exigidos pela lei do lugar de

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sua celebração e indicar o Brasil como o lugar de
cumprimento da obrigação
 Lei 7.064/82, art. 3: garantia dos direitos previstos
na lei em apreço

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DE
CONEXÃO

Autonomia  As próprias partes escolham o Direito aplicável a uma


da vontade relação privada com conexão internacional
 Pode ou não ser admitida e é normalmente limitada
pelo ordenamento que a permite
 LINDB, art. 7º, § 5º: O estrangeiro casado, que se
naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa
anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de
entrega do decreto de naturalização, se apostile ao
mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de
bens, respeitados os direitos de terceiros e dada esta
adoção ao competente registro
 Lei 9.307/96 (Lei de Arbitragem), art. 2º, § 1º: Poderão
as partes escolher, livremente, as regras de direito que
serão aplicadas na arbitragem, desde que não haja
violação aos bons costumes e à ordem pública

4. Reenvio
a) Conceito: é o instituto pelo qual o Direito Internacional Privado de
um Estado remete às normas jurídicas de um segundo Estado, e as
regras de Direito Internacional Privado deste indicam que uma
situação deve ser regulada ou pelas normas de um terceiro Estado
ou pelo próprio ordenamento do primeiro Estado.
b) Também conhecido como retorno, remissão, devolução, opção,
renvoi (francês) ou remission (inglês)
c) Graus do reenvio

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 Reenvio de primeiro grau: e o Direito deste Estado B determina como
incidente na situação a ordem jurídica do Estado A
 Reenvio de segundo grau: quando o Direito Internacional Privado do
Estado A determina a aplicação do ordenamento jurídico do Estado B, e
a ordem jurídica deste Estado manda aplicar o direito de um Estado C
d) Proibição do reenvio no Brasil: “Quando, nos termos dos
artigos precedentes, se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á
em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão
por ela feita a outra lei” – LINDB – artigo 16

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