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A Constituição de um Banco Múltiplo Digital no Brasil

Aspectos Legais
RESUMO

O presente trabalho teve início com a curiosidade de compreender


como é feita a constituição de um banco múltiplo digital no Brasil (Quanto
custa? Como funciona? Quem pode abrir um banco digital? Entre outras
perguntas), e se baseou, fundamentalmente, na legislação vigente, que vai
desde a Lei nº 4595/64, passa pela importantíssima Resolução do BACEN nº
4.122/12 e examina várias circulares e publicações à imprensa disponibilizadas
pelo Banco Central do Brasil.

A pesquisa a respeito do objeto do trabalho, a constituição de um


banco múltiplo digital, também foi inspirada no surgimento de várias novas
instituições financeiras altamente tecnológicas, chamadas de fintechs, as quais
possuem apenas o ambiente virtual de negociações, que pode ser acessado por
qualquer aparelho que receba sinais de internet.

No mais, a bibliografia sobre esse tema em específico é praticamente


inexistente, havendo sobre o assunto vários textos de leis e resoluções, que
precisavam ser absorvidos para que fossem transformados num compilado de
explicações de como se constitui uma instituição financeira digital, o que foi
realizado no presente trabalho.

Desde logo, é preciso frisar que o trabalho não aborda a constituição


de uma instituição financeira em seus aspectos tecnológicos ou
mercadológicos, mas apenas no que diz respeito às regras do Sistema
Financeiro Nacional, estabelecidas pelo Banco Central do Brasil, pelo
Congresso Nacional e pelo Conselho Monetário Nacional, para que haja a
autorização de constituição de uma instituição financeira digital.

Por fim, depois de discorrer um pouco sobre a história dos bancos em


geral, o livro vai especificando cada vez mais seu enfoque, passando pela
fundação dos bancos nacionais e por importantes transformações na regulação
do Sistema Financeiro Brasileiro, chegando, por fim, ao conceito e requisitos
para a constituição de um banco múltiplo digital.

DEDICATÓRIA

O presente trabalho de pesquisa é dedicado a pessoa de São Mateus,


padroeiro dos banqueiros e dos contabilistas, e a pessoa de Luiz Cezar
Fernandes, fundador dos bancos BTG Pactual e Garantia, e que até hoje serve
de grande inspiração e motivação para tantas pessoas.
LISTAS DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

BACEN Banco Central da República Federativa do Brasil

CMN Conselho Monetário Nacional

DEORF Departamento de Organização do Sistema Financeiro

SFN Sistema Financeiro Nacional

Circ. Circular

MPv Medida Provisória

CRFB Constituição da República Federativa do Brasil

FMI Fundo Monetário Internacional

S/A Sociedade Anônima

MF Mercado Financeiro

EC Emenda a Constituição

PJS Projeto de Lei do Senado

PJC Projeto de Lei da Câmara

INC. Inciso
Art. Artigo

CC Código Civil

LAI Lei de Acesso à informação

Fl. Folha

Lista de Tabelas e Gráficos

Tabela 1 e 2 – índice de desenvolvimento participativo das quatro maiores


instituições financeiras (Banco do Brasil S/A, Banco Bradesco S/A, Caixa
Econômica Federal e Itaú Unibanco S/A) na movimentação de ativos

Tabela 2 – Número de agências das cinco maiores instituições financeiras


(Banco do Brasil S/A, Banco Bradesco S/A, Caixa Econômica Federal, Itaú
Unibanco S/A e Banco Santander) em todo território Nacional

Tabela 3 – Tabela que apresenta algumas informações básicas a respeito de


instituições financeiras digitais

Tabela 4 – Tabela que descreve a completa isenção de tarifas do banco


múltiplo digital Inter S/A para contas-correntes
Tabela 5 – Tabela que demonstra a evolução das movimentações bancárias
realizadas via mobile

Tabela 6 – Tabela que demonstra a crescente movimentação de capitais via


mobile, que em 2016 alcançou 21,9 bilhões de reais

Sumário

INTRODUÇÃO

DESENVOLVIMENTO

1 Conceito, surgimento, desenvolvimento e o possível colapso dos bancos

1.1 Origem da atividade bancária

1.2 Origem e a constituição das instituições financeiras no Brasil Império


1.3 A constituição dos bancos na República Federativa do Brasil
1.4 O possível colapso dos bancos
1.5 A atual instituição financeira

a) Conceito
b) Instituições financeiras públicas e privadas

c) Atividade principal e acessória de uma instituição financeira

d) Coleta de recursos de terceiros como atribuição de uma instituição


financeira (A teoria da natureza subjetiva)
e) A instituição financeira como agente de intermediação e aplicação de
recursos

f) A custódia de valores como atributo da instituição financeira

g) A equiparação de pessoas físicas à instituição financeira (Exceção à


regra da subjetividade da natureza jurídica do agente financeiro)

h) O factoring como exceção à regra da subjetividade da natureza jurídica


do agente financeiro

i) As espécies de bancos

1.6 Os bancos múltiplos

a) Conceito

b) O banco múltiplo e suas carteiras

I) Carteira comercial

II) Carteira de investimento

III) Carteira de desenvolvimento

IV) Carteira de crédito imobiliário

V) Carteira de crédito, financiamento e investimento

VI) Carteira de arrendamento mercantil

VII) Demais características de um banco múltiplo


VIII) Valor necessário de capital social integralizado para cada carteira

c) Conceito de capital realizado e patrimônio líquido

d) Discriminação dos valores integralizados para cada carteira


e) Regras diferenciadas para integralização de capital social de instituições
financeiras sediadas fora do eixo Rio-São Paulo

f) Adicional de capital realizado para operar no mercado de câmbio de


taxas livres

g) Número de agências da instituição financeira e sua relação direta com o


capital realizado

1.7 Os bancos múltiplos digitais


a) Conceito
b) A concentração dos serviços financeiros nos quatro maiores
bancos e a consequente falta de competitividade
c) As fintechs em operação no Brasil
d) A crescente utilização do mobile para transações financeiras

2- A Constituição de um banco múltiplo digital, conforme a Lei nº 4595/64


e a Resolução do Banco Central do Brasil de nº 4.122/12

a) Conceito
b) Bases legais para a constituição de um banco múltiplo digital

c) Autorização para funcionamento de uma instituição financeira de capital


estrangeiro
d) Autorização para o funcionamento de cooperativas de crédito
e) O cerne da pesquisa: a Resolução 4.122 de 2 de agosto de 2012
f) A discricionariedade do Banco Central no processo de constituição de
uma instituição financeira
g) Definição de participação qualificada

h) Definição de grupo de controle


i) A desídia no processo de constituição de um agente financeiro
j) A falsificação de documentos que instruem o processo de constituição
de uma instituição financeira
l) Análise do Anexo I da Resolução nº 4.122/12 do BACEN

CONCLUSÃO
1

INTRODUÇÃO

Inicialmente, deve-se perceber o contexto no qual o presente trabalho está inserido,


isso porque a bibliografia sobre o presente tema é escassa, para não dizer inexistente, com o
agravante de que qualquer livro aleatório que aborde um dos pontos isolados do objeto da
pesquisa está desatualizada, pelo fato das constantes emendas e promulgações de novas leis
para regulamentação do tema, tão difícil de ser controlado e fiscalizado pelo Banco Central do
Brasil, tendo em vista a expertise dos profissionais envolvidos no Mercado Financeiro
Nacional.

Por esse motivo, a maior parte do material utilizado nas pesquisas do presente
trabalho são Leis, Resoluções, Portarias, Circulares, Comunicados a Imprensa e notícias de
jornais e revistas especializadas; ou seja, trata-se de material bruto, fonte primária, que carece
do devido cuidado, interpretação e agrupamento num contexto maior, onde o todo seja
harmonioso com as partes e com o ordenamento jurídico pátrio em si, trabalho esse
empreendido nessa pesquisa.

Percebe-se que o método de pesquisa, nessas condições, dificilmente poderia ser


outro que não o indutivo, onde se parte do particular para o geral.

De outra banda, o mercado financeiro fechado e pouco competitivo no que diz


respeito ao mercado financeiro brasileiro, suscita dúvidas que o presente trabalho buscou
elucidar, entre elas o do próprio procedimento frente ao Banco Central para constituição de
uma instituição financeira digital, o capital mínimo necessário, a viabilidade do nascimento de
uma instituição financeira digital (ainda que não de forma exaustiva), entre outras.

Por fim, espera-se que a presente pesquisa alcance, afinal, o seu desiderato e consiga
elucidar o procedimento constitutivo de um banco múltiplo digital.
2

Capítulo 1 - O surgimento, o desenvolvimento e o possível colapso dos


bancos tradicionais

1.1 Origem da atividade bancária

A primeira atividade, que hodiernamente caracterizaríamos como atividade


tipicamente bancária, ocorreu na Fenícia (1200 a.C. a 539 a.C.), mas apenas com os romanos
a atividade recebeu o nome de banco.

Essa primeira atividade bancária era a troca de moedas, isso porque Roma era o
principal centro de comércio do mundo antigo (quem tem boca vai a Roma), sendo assim para
lá afluíam pessoas de todas as partes do mundo para comerciar, essas pessoas carregavam as
moedas cunhadas em seus reinos e estados e precisavam trocá-las pelas moedas de Roma, e é
aqui que entram os primeiros banqueiros, que tinham o papel de trocar as moedas estrangeiras
pelas moedas romanas e lucravam com o aumento da demanda e taxas de corretagem1.

Não é demais destacar que o surgimento da denominação banco remonta a esse


período, pois os corretores de moedas, assim como os demais comerciantes, esperavam pelos
seus clientes em suas bancas.

Como se pode intuir, a atividade bancária, tal como exercida nos antigos impérios,
não era tão lucrativa quanto a que hodiernamente vemos no Brasil, quando o lucro dos quatro
maiores bancos brasileiros (Itaú, Bradesco, Banco do Brasil e Santander), em tempos de crise
econômica e desemprego cresceu 10,4% no 3º trimestre de 2018 em relação ao mesmo
período de 20172, chegando a 136 bilhões de reais, o maior lucro setorial.

1
REED, Edward W. – Bancos: Comerciais e múltiplos. São Paulo, SP: Editora afiliada, 1994. 28-31p.
http://www.historiadetudo.com/bancos; http://www.bv.fapesp.br/pt/pesquisador/83535/thiago-lopes/;

2
https://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/lucro-dos-4-maiores-bancos-cresce-104-no-3-
trimestre-e-soma-r-136-bilhoes.ghtml
3

Desse modo, a troca de moedas, que hoje é a principal atividade das casas de câmbio,
foi a primeira atividade propriamente financeira e que hoje representa apenas uma modesta
fatia dos serviços financeiros disponíveis no mercado.

1.2 Origem e a constituição das instituições financeiras no Brasil Império

Tratando-se de Brasil, o primeiro banco aqui constituído foi o Banco do Brasil,


trazido pela Coroa Portuguesa e que começou as suas atividades em 1808, com as seguintes
prerrogativas, nas palavras do historiador Bernardo de Souza Franco3:

...se lhe concederam valiosos privilégios quais: os de emissão de bilhetes por


quantia não designada e recebíveis nas estações públicas, - o exclusivo dos
saques do Tesouro e venda dos gêneros de estanque real como os diamantes,
pau-brasil, marfim e urzela, o empréstimo a 5 por cento dos dinheiros dos
órgãos e corporações de mão-morta, - o direito de único depositário público
das moedas, metais e pedras preciosas, - a limitação da responsabilidade dos
acionistas ao valor de suas ações e a isenção de toda e qualquer penhora
pública ou particular, - e afinal o privilégio executivo das dívidas do
Tesouro.

Em 1842, com a dissolução do antigo Banco do Brasil, que não é o mesmo Banco do
Brasil que temos hoje, outra instituição financeira estatal é criada: o Banco do Rio de Janeiro,
também criado por Decreto da Coroa Portuguesa, que atribuía, em seu art. 47, as seguintes
operações4:

3
Bancos do Brasil : sua história, defeitos da organização atual e reforma do sistema bancário, Os /
1984 - (Livros ) FRANCO, Bernardo de Souza. Os bancos do Brasil: sua história, defeitos da organização atual e
reforma do sistema bancário. Brasília: Universidade de Brasília, 1984. 120 p. (Coleção Temas brasileiros; 56)

4
Bancos do Brasil : sua história, defeitos da organização atual e reforma do sistema bancário, Os /
1984 - (Livros ) FRANCO, Bernardo de Souza. Os bancos do Brasil: sua história, defeitos da organização atual e
reforma do sistema bancário. Brasília: Universidade de Brasília, 1984. 120 p. (Coleção Temas brasileiros; 56)
4

Art. 47. As operações do Banco serão as seguintes:


§1º Receber em depósito moedas, joias, outo, prata e títulos do Governo, e
de estabelecimentos públicos ou particulares.
§2º Abrir contas-correntes com os depositadores de moeda – corrente
nacional.
§3º Fazer adiantamentos sobre títulos de valores a prazo fixo.
§6º Encarregar-se da cobrança de letras, ou quaisquer outros títulos a prazo
fixo dos depositantes.

O Decreto atribuía outras competências ao Banco em questão, mas apenas as citadas


acima já caracterizariam esses dois bancos, o do Brasil e o do Rio de Janeiro, como bancos
múltiplos nos dias de hoje, pois, como se exporá mais adiante, essa designação é aplicada aos
bancos com mais de uma carteira5, como era o caso dos dois.

É de se notar, também, que a constituição desses dois bancos se deu por Decreto da
Coroa Portuguesa, ou seja, tratava-se de um sistema ainda muito pessoal e discricionário, ao
contrário do sistema normativo moderno que é impessoal, pois depende do cumprimento de
requisitos constante de Leis e Resoluções, ou seja, quem cumprir os requisitos legais e possuir
o capital necessário pode constituir um banco, ao contrário do antigo sistema imperial, que,
não obstante todas as demais dificuldades inerentes à constituição de um banco, ainda
precisava do aval imperial6.

Mais tarde, foram constituídos outros bancos: o Banco da Bahia em 1845, o Banco
do Maranhão em 1846, o Banco do Pará em 1847 e o Banco de Socorro Provincial de
Pernambuco também em 1847.

5
Resolução nº 2.099/94 do BACEN - Art. 7º O banco múltiplo deverá constituir-se com, no mínimo,
duas das seguintes carteiras, sendo uma delas obrigatoriamente comercial ou de investimento.

6
Bancos e finanças aspectos da politica financeira brasileira / 1981 - ( Livros )
VIDIGAL, Gastão Eduardo de Bueno. Bancos e finanças aspectos da politica financeira brasileira. [S.l.]:
Federação Nacional dos Bancos, 1981. 10 p.
5

Todos eles seriam o que hoje chamamos de bancos múltiplos, com a diferença de seu
processo de constituição, que se dava pela via do Decreto Imperial e não pelo cumprimento de
exigências legais; tratava-se do império dos homens e não da Lei7.

1.3 A constituição dos bancos na República Federativa do Brasil

Já na República, onde idealmente reina a Lei, a constituição dos bancos de qualquer


natureza começou a passar pelo crivo do Banco Central do Brasil, criado em dezembro de
1964, por meio da Lei nº 4.595, que possuí atribuição legal para aprovar ou vetar projetos de
constituição de bancos, tudo a depender do cumprimento dos requisitos legais e dos
regramentos contidos em resoluções8.

É certo que existem leis para balizar o processo constitutivo do futuro banco, como a
importante Resolução nº 3.040/02 do BANCEN e a Lei nº 4.595/64, todavia, essas mesmas
normas atribuem ao Banco Central poder levemente discricionário em certos pontos, para
vetar a criação de novas instituições financeiras, mas nada comparado com o que acontecia no
regime do Império.

Exercendo o poder de autotutela, princípio fundamental da Administração pública, o


Banco Central goza de poder não absolutamente vinculado de escolha, conforme fica claro
com a leitura do artigo 5º da Resolução de nº 3.040/02, leia-se:

Art. 5º VI - Inexistência de restrições que possam, a juízo do Banco Central


do Brasil, afetar a reputação dos controladores, aplicando -se, no que couber,
as demais normas legais e regulamentares referentes às condições para o
exercício de cargos de administração nas instituições referidas no art. 1º.

Ou seja, “a juízo do Banco Central do Brasil” um controlador da futura instituição financeira


pode ficar fora do projeto de criação da instituição financeira.

7
Bancos do Brasil : sua história, defeitos da organização atual e reforma do sistema bancário, Os /
1984 - (Livros ) FRANCO, Bernardo de Souza. Os bancos do Brasil: sua história, defeitos da organização atual e
reforma do sistema bancário. Brasília: Universidade de Brasília, 1984. 120 p. (Coleção Temas brasileiros; 56)

8
Resolução nº 3.040/02 do Banco Central do Brasil.
6

Essa reprovação da pessoa de um controlador, que a juízo do BACEN pode ser excluída do
quadro de controladores da instituição, aconteceu com o criador da holding MTTG, Eugênio Holanda
e com o ex-banqueiro e fundador dos bancos Pactual e Garantia, Luiz Cezar Fernandes, que se
juntaram para comprar as operações do banco alemão Dresdner no Brasil, todavia, o Banco Central
vetou a participação do Sr. Holanda na empreitada 9, por constatar que o mesmo, em sua vida
pregressa, já tinha ficado famoso por casos milionários de estelionato.

Seja como for, o novo regime ainda é mais seguro do que o antigo, e o poder dado ao
BACEN não é nada desproporcional tendo em vista sua preponderante importância na economia
brasileira e os regramentos previstos em Lei, que conferem às suas decisões mais objetividade.

1.4 O possível colapso dos bancos

A Diretora Geral do Fundo Monetário Internacional, Christiane Lagarde, deu uma


declaração surpreendente sobre o impacto das criptomoedas nos rendimentos e, por tanto, na
própria força e existência dos bancos, tanto públicos quanto privados10.

Para ela, o fortalecimento das criptomoedas é diametralmente oposto ao


fortalecimento dos bancos, ou seja, quanto mais às primeiras se popularizarem, mais as
segundas ficarão fracas.

Todavia, segundo a Diretora Geral do FMI, as criptomoedas, entre elas o bitcoin,


ainda não são grande ameaça aos grandes bancos, pois são muito voláteis e a transparência
requerida para se ter um mínimo de confiança e regulamentação é quase inexistente.

Enfim, para a Sr.ª Lagarde, as criptomoedas são um risco aos sistemas financeiros do
mundo, todavia, um risco ainda não eminente.

1.5 A atual instituição financeira

9
https://oglobo.globo.com/economia/fundador-do-garantia-pactual-luiz-cezar-fernandes-abre-escritorio-
em-sp-tenta-se-reerguer-apos-perder-dresdner-2720935

10
http://link.estadao.com.br/blogs/seu-bolso-na-era-digital/fmi-alerta-para-o-fim-dos-bancos/
7

a) Conceito

Muito se falou até aqui a respeito de instituições financeiras, mas, afinal, o que vem a
ser uma instituição financeira?

A definição legal da instituição financeira bancária está contida no art. 17 da Lei nº


4.595/64, ipsis litteris:

Art. 17. Consideram-se instituições financeiras, para os efeitos da legislação


em vigor, as pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenham como
atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de
recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou
estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros.

Desse modo, percebe-se que os bancos não são unicamente instituições financeiras
que recebem depósitos em dinheiro dos superavitários e os repassa a juros aos deficitários,
esse é apenas uma das atribuições dos bancos, que podem assumir várias outras funções que
não essa.

Desde logo, é de se destacar que a definição de banco comumente repetida em


jornais e demais meios de comunicação é imprecisa, pois existem os bancos de
desenvolvimento, p. ex., que não captam depósitos a vista, a não ser que possuam carteira
comercial, todavia, são bancos para todos os fins jurídicos.

b) Instituições financeiras públicas e privadas

Conforme se depreende da leitura do texto legal, as instituições financeiras podem


ser públicas ou privas, não obstante, desde a promulgação da Medida Provisória nº 1514-5 em
29 de novembro de 1996 (atual Mpv nº 2.192-70, de 24/08/2001), na qual a União Federal
“estabelece mecanismos objetivando incentivar a redução da presença do setor público
estadual na atividade financeira bancária, dispõe sobre a privatização de instituições
financeiras, e dá outras providências.”, o Governo Federal vem buscando diminuir a
intervenção dos Estados federados na atividade financeira bancária, sem grande exito.
8

Todavia, a participação dos Municípios, Estados e da União nas atividades bancárias


ainda é relevante, com destaques para as agências de fomento, instituição exclusivamente
estatal, bem como para a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil.

Pois bem, sabendo-se que as instituições financeiras e, entre elas, os bancos, que são
espécies desse gênero, podem ser públicos ou privados, passemos as demais características
das instituições financeiras.

c) Atividade principal e acessória de uma instituição financeira

Em continuação, é imperioso destacar que as atividades de coleta, intermediação,


aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, bem como a custódia de valores de
terceiros, que são as características fundamentais das instituições financeiras, as quais serão
tratadas individualmente abaixo, podem ser as atividades principais ou acessórias da
instituição.

Ou seja, o agente financeiro pode adotar uma ou mais dessas atribuições legais e
trabalhá-las como principais ou acessórias.

Existem algumas hipóteses que aumentam a credibilidade da ideia de que o rol de


atribuições apresentado não é objetivo, ou seja, de que basta perfazer o tipo legal para ser uma
instituição financeira, mas sim subjetivo, de modo que a pessoa jurídica, pública ou privada,
precisa ter a intenção de ser um agente financeiro, tal como ficará demonstrado mais abaixo.

Por agora, devemos trabalhar a noção de atividade principal e acessória, que pode ser
sumariamente descrita como atividade-fim da empresa e atividade-meio da empresa,
respectivamente.

Quando a pessoa jurídica possui como atividade-fim ou principal alguma das


atribuições descritas acima no art. 17 da Lei nº 4.595/64, diz-se se tratar propriamente de um
agente financeiro, todavia, quando as atribuições legais acima indicadas são acessórias, diz-se
tratar de um agente financeiro impróprio.

Os exemplos de agentes financeiros próprios são abundantes, como p. ex., os bancos


Safra, Bradesco, Itaú Unibanco, entre outros, já os agentes financeiros impróprios ainda são
poucos, todavia, o seu número aumenta, são exemplos o Café Starbucks e a Petrobras, ambas
9

fornecem aos seus clientes cartões pré-pagos para compras em seus estabelecimentos,
enquadrando-se nas atribuições de agentes financeiros nos quesitos coleta e custódia de
valores de propriedade de terceiro.

d) Coleta de recursos de terceiros como atribuição de uma instituição financeira


(A teoria da natureza subjetiva)

Passemos, agora, à qualificação das atribuições que a Lei concede as instituições


financeiras, sendo que a primeira delas é a coleta de recursos financeiros de terceiros, que
pelo nome ser autoexplicativo não será necessária demorada explicação.

Todavia, não obstante o termo ser autoexplicativo por se tratar basicamente de


realizar a coleta de recursos financeiros de terceiros, não necessariamente em pecúnia, mas
também em moeda escritural, garantias hipotecárias e outros, não basta apenas realizar a
coleta de valores de terceiros para então se ter um agente financeiro, pois, tal como aludido
acima e explanado mais abaixo, é necessária a presença da intenção de realizar ou atuar como
instituição financeira, caso não haja tal intenção, não poderemos falar de instituição
financeira, ou seja, nesse ponto está erigido a teria da natureza subjetiva da instituição
financeira.

Veja-se como exemplo as empresas de transportes de valores, entre elas a Brink’s e a


Prosegur, que cumprem duas das atribuições dadas às instituições financeiras, a coleta e a
custódia de valores próprios de terceiros.

Todavia, como a intenção dessas empresas não é atuar como instituição financeira,
nem própria nem imprópria, ou seja, não tendo como objetivos principais ou acessórios dirigir
sua atuação às atividades de agente financeiro, essas empresas não são legalmente instituições
financeiras, apesar de exercerem como atividade principal dois dos seus atributos legais.

Desse modo, pode-se notar a importância da intenção da instituição financeira, tema


que voltará a ser abordado mais adiante, quando falarmos do atributo de aplicação de recursos
financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira.

e) A instituição financeira como agente de intermediação e aplicação de recursos

O próximo atributo legal das instituições financeiras é o de intermediar e aplicar


recursos financeiros próprios ou de terceiros, que se distinguem por uma linha muito tênue,
quase imperceptível em análises superficiais ao texto da Lei.
10

A intermediar de aplicação de recursos financeiros necessariamente só pode ocorrer


quando estamos falando da interação entre três pessoas: o agente superavitário, o agente
financeiro e o agente deficitário; já a aplicação de recursos financeiros próprios se dá quando
os envolvidos são dois: o agente financeiro e o agente deficitário.

No primeiro caso, o de intermediação, o agente superavitário deposita créditos aos


cuidados do agente financeiro, sabendo ou não da destinação desses recursos, com o que este
segundo investirá em agentes deficitários, perfazendo, por esses meios, a triangulação própria
da intermediação de ativos financeiros.

Já no caso da aplicação de recursos financeiros, a instituição financeira, utilizando-se


de seu próprio capital, investirá em agentes deficitários, formando a ligação característica
desse atributo.

Na prática essa distinção se mostra meramente conceitual, pois ao receber créditos de


uma instituição financeira, como p. ex., do banco de investimento BTG Pactual, esses podem
ser compostos de capital de agentes superavitários misturados com capital da própria
instituição, o que não desnatura a relação contratual e muito menos coloca os agentes
deficitários como devedores diretos dos agentes superavitários, que sequer podem se valer da
tutela jurisdicional para receberem os seus créditos daqueles, pois lhes falta legitimidade
processual, que pertence unicamente ao banco que assumiu o risco e aceitou ser o credor da
obrigação.

No mais, no caso de inadimplemento, o credor superavitário não suportará o


prejuízo, uma vez que esse foi assumido pelo agente intermediador.

Cabe aqui, uma vez mais, sustentar a tese de que a intenção da pessoa jurídica é o
fator determinante da natureza da atividade empresarial, se de instituição financeira ou de
outros ramos, para tanto pegaremos como exemplo o programa televisivo apresentado pela
emissora Rede Record, Shark Tank e a aplicação de recursos de uma empresa na compra de
uma sede e equipamentos.

O primeiro exemplo ilustra de forma primorosa o que aqui é defendido, pois


representantes de empresas escolhem e investem em empresas com problemas financeiros em
troca de participação na sociedade e, por consequência, nos lucros. O que demonstra que a
aplicação de recursos próprios nem sempre é realizada por instituições financeiras, mas
também por empresas com as mais variadas funções sociais.
11

Por outro lado, a compra de uma sede e equipamentos por uma empresa qualquer não
demonstra outra coisa, a não ser que a aplicação de recursos financeiros próprios não é
atividade exclusiva dos agentes financeiros, o que ressalta a tese da subjetividade na escolha
da natureza jurídica das instituições financeiras.

f) A custódia de valores como atributo da instituição financeira

O último dos atributos legais das instituições financeiras é a custódia de valores


próprios de terceiros, tema já sumariamente abordado acima, mas que carece de um pouco
mais de esclarecimentos.

A custódia de valores não diz respeito apenas a valores pecuniários, de dinheiro, mas
também a objetos de valor, ações, títulos da dívida pública, debêntures entre outros, ou seja,
se trata de tudo aquilo que tenha algum valor agregado.

Com isso, localizamos aqui a atividade bancária de fornecimento de cofres para que
seus clientes depositem bens de valor, mediante pagamento de aluguel, bem como a atividade
amplamente difundida no mercado financeiro de custódia de valores mobiliários, como ações
ou debêntures.

g) A equiparação de pessoas físicas à instituição financeira (Exceção à regra da


subjetividade da natureza jurídica do agente financeiro)

Até aqui tratamos os atributos que a Lei nº 4.595/64 outorgou às instituições


financeiras, passemos agora a análise do parágrafo único do art. 17, o qual prevê o seguinte:

Parágrafo único. Para os efeitos desta lei e da legislação em vigor,


equiparam-se às instituições financeiras as pessoas físicas que exerçam
qualquer das atividades referidas neste artigo, de forma permanente ou
eventual.

Nesse ponto a tese de que a intenção do agente é imprescindível para caracterizar sua
atuação como agente financeiro ou não sofre uma exceção, pois, independente da intenção, a
pessoa física que praticar atividades descritas no caput do art. 17 será equiparada à instituição
financeira para os fins legais, seja a prática permanente ou eventual.

Trata-se do conhecido crime de agiotagem, previsto na alínea “a” do art. 4º da Lei nº


1.521 de 26/12/1951, que comina pena de detenção de seis meses a dois anos e multa.
12

No mais, além da punição prevista no âmbito penal, há no âmbito do direito


administrativo as penas previstas na Lei nº 13.506/17, que vão desde a admoestação pública,
passando pela multa e chegando a proibição de prestar determinadas atividades ou
modalidades de operação.

h) O factoring como exceção à regra da subjetividade da natureza jurídica do


agente financeiro

Há também entre as exceções a atividade de fomento mercantil, também chamada de


factoring, na qual uma empresa em dificuldades econômicas vende parte de seu faturamento
futuro ou serviços a serem prestados futuramente em troca de créditos que serão recebidos no
presente, essa atividade, não obstante ser prática corriqueira há muito tempo, só começou a
ser regulamentada em 2007, por meio do Projeto de Lei nº 13/2007 11, que ainda tramita na
Câmara dos Deputados sob o nº 3.615-D de 2000.

Aqui também aplica-se a exceção da intenção da pessoa, seja jurídica ou física, em se


tornar instituição financeira ao praticar atos próprios dessa última.

Ademais, o Projeto de Lei nº 3.615-D de 2000 é expresso ao separar o mercado de


factoring do mercado financeiro, pois o art. 7º dispõe que é obrigatório no nome empresarial a
adoção do vocábulo “fomento mercantil” e vedado a utilização de “banco”, já o art. 12
também estabelece regime de constituição diferenciado para os participantes desse mercado,
que não são supervisionados ou subordinados ao Banco Central do Brasil.

Assim, podemos concluir que a instituição financeira, gênero da qual os bancos são
espécies, está definida no art. 17 da Lei nº 4.595/64, todavia, diz-se bancos com razão, pois
vários são os bancos.

De maneira que um banco de investimento não está autorizado a operar nos


mercados dos bancos de câmbio, p. ex., bem como os bancos de desenvolvimento possuem
natureza diversa dos bancos múltiplos.

i) As espécies de bancos

11
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2010/07/07/plenario-aprova-regulamentacao-da-
atividade-de-factoring - - https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2010/07/07/plenario-aprova-
regulamentacao-da-atividade-de-factoring),
13

São cinco, as espécies de bancos autorizados pelo ordenamento jurídico pátrio, e são:
bancos múltiplos, bancos comerciais, bancos de investimento, bancos de desenvolvimento,
bancos de câmbio.

Sabendo disso, passaremos ao estudo do que vem a ser o objeto do presente trabalho:
os bancos múltiplos.

1.6 Os bancos múltiplos

a) Conceito

Tendo o presente trabalho já discorrido a respeito do que vem a ser uma instituição
financeira no Brasil, cabe agora tratar do que vem a ser um banco múltiplo.

O verbete que busca definir o banco múltiplo constante no site do Banco Central é o
seguinte12:

Os bancos múltiplos são instituições financeiras privadas ou públicas que


realizam as operações ativas, passivas e acessórias das diversas instituições
financeiras, por intermédio das seguintes carteiras: comercial, de
investimento e/ou de desenvolvimento, de crédito imobiliário, de
arrendamento mercantil e de crédito, financiamento e investimento. Essas
operações estão sujeitas às mesmas normas legais e regulamentares
aplicáveis às instituições singulares correspondentes às suas carteiras. A
carteira de desenvolvimento somente poderá ser operada por banco público.
O banco múltiplo deve ser constituído com, no mínimo, duas carteiras, sendo
uma delas, obrigatoriamente, comercial ou de investimento, e ser organizado
sob a forma de sociedade anônima. As instituições com carteira comercial
podem captar depósitos à vista. Na sua denominação social deve constar a
expressão "Banco" (Resolução CMN 2.099, de 1994).

Acima constam algumas características do que vem a ser um banco múltiplo, essas
características decorrem da Resolução nº 2.099, de 17 de agosto de 1994, mais
especificamente em seu anexo I, a partir do art. 7º, que se transcreve abaixo:

12
https://www.bcb.gov.br/pre/composicao/bm.asp
14

Art. 7º O banco múltiplo deverá constituir-se com, no mínimo, duas das


seguintes carteiras, sendo uma delas obrigatoriamente comercial ou de
investimento:

Daqui já se depreende que o banco múltiplo, ao contrário das outras instituições


financeiras, precisa ter no mínimo duas carteiras, dessas duas uma, obrigatoriamente, precisa
ser comercial ou de investimento.

As outras carteiras que um banco múltiplo pode ter são: I - comercial; II - de


investimento e/ou de desenvolvimento, a última exclusiva para bancos públicos; III - de
crédito imobiliário; IV - de crédito, financiamento e investimento; e V - de arrendamento
mercantil.

b) O banco múltiplo e suas carteiras

Antes de prosseguir, é importante consignar que a denominação “carteira” significa,


em breves palavras, um conjunto de serviços voltados para determinado setor produtivo, com
determinado prazo para pagamento, ou seja, é o que o banco pode fazer e com quem pode
transacionar, é a estrutura e o direcionamento dos negócios13.

I) Carteira comercial

A primeira carteira que um banco pode ter, e uma das duas opções obrigatórias de
negócios, é a carteira comercial que, é definido pelo Banco Central nas seguintes termos14:

Os bancos comerciais são instituições financeiras privadas ou públicas que


têm como objetivo principal proporcionar suprimento de recursos
necessários para financiar, a curto e a médio prazos, o comércio, a indústria,
as empresas prestadoras de serviços, as pessoas físicas e terceiros em geral.
A captação de depósitos à vista, livremente movimentáveis, é atividade
típica do banco comercial, o qual pode também captar depósitos a prazo.
Deve ser constituído sob a forma de sociedade anônima e na sua
denominação social deve constar a expressão "Banco"
(Resolução CMN 2.099, de 1994).

13
http://www.bb.com.br/portalbb/page51,136,8517,0,0,1,8.bb?
codigoNoticia=1573&codigoMenu=0&codigoRet=2113&bread=8_5_2

14
http://www.bcb.gov.br/Pre/composicao/bc.asp
15

Sendo atividade típica do banco ou carteira comercial a captação de depósitos à vista,


podemos concluir que os bancos mais conhecidos ou são comerciais ou possuem carteira
comercial em seu plano de negócios, como p. ex., Bradesco, Itaú Unibanco, Santander e
Banco do Brasil.

II) Carteira de investimento

A segunda carteira de negócios que um banco múltiplo pode abrigar é a de


investimento, que também é uma das opções obrigatórias para a constituição de um banco
múltiplo, e que encontra base legal para sua constituição e funcionamento na Resolução nº
2.624, de 29 de julho de 1999.

Pela clareza e objetividade de conteúdo, cita-se o informativo do Banco Central, no


qual se define o que vem a ser um banco ou carteira de investimento15:

Os bancos de investimento são instituições financeiras privadas


especializadas em operações de participação societária de caráter temporário,
de financiamento da atividade produtiva para suprimento de capital fixo e de
giro e de administração de recursos de terceiros. Devem ser constituídos sob
a forma de sociedade anônima e adotar, obrigatoriamente, em sua
denominação social, a expressão "Banco de Investimento". Não possuem
contas correntes e captam recursos via depósitos a prazo, repasses de
recursos externos, internos e venda de cotas de fundos de investimento por
eles administrados. As principais operações ativas são financiamento de
capital de giro e capital fixo, subscrição ou aquisição de títulos e valores
mobiliários, depósitos interfinanceiros e repasses de empréstimos externos
(Resolução CMN 2.624, de 1999).

A carteira ou banco de investimento possuí, entre outros objetivos, a realização de


operações de participação societária de caráter temporário, que se resume a participação
acionária igual ou maior a 10% do capital da empresa beneficiada, que pode ter prazo curto ou
médio, com a posterior retirada do capital e os ganhos advindos deste16.

15
https://www.bcb.gov.br/pre/composicao/bi.asp

16
http://www.igf.com.br/aprende/glossario/glo_Resp.aspx?id=3525
16

No mais, o banco múltiplo com carteira de investimento pode financiar a atividade


produtiva, como capital de giro e fixo e administrar recursos de terceiros, realizando
investimentos em ações, fundos de investimento, títulos da dívida pública, entre outros, tudo
conforme autoriza o art. 1º da Resolução nº 2.624, de 29 de julho de 1999.

Nota-se pelas suas atribuições legais, que o banco múltiplo com carteira de
investimento e sem carteira comercial é um agente financeiro que opera no varejo e não no
atacado como os bancos múltiplos com carteira comercial, pois não possuem conta-corrente,
não recebem depósito à vista e não concedem empréstimos pessoais ou consignados, mas
apenas investimentos no setor produtivo.

Acrescente-se ainda o fato de que esse tipo de instituição é responsável pela


realização de empréstimos interfinanceiros (empréstimos entre bancos, os quais possuem
juros muito altos e prazos demasiadamente curtos) e pelos repasses de empréstimos externos.

III) Carteira de desenvolvimento

A Lei disponibiliza ainda a carteira de desenvolvimento para os bancos múltiplos,


todavia, nos termos do inc. II do art. 7º da Resolução nº 2099, essas carteiras só podem ser
agregadas a bancos múltiplos públicos.

Veja-se a definição de banco e carteira de desenvolvimento constante no site do


Banco Central do Brasil17:

Os bancos de desenvolvimento são instituições financeiras controladas pelos


governos estaduais, e têm como objetivo precípuo proporcionar o
suprimento oportuno e adequado dos recursos necessários ao financiamento,
a médio e a longo prazos, de programas e projetos que visem a promover o
desenvolvimento econômico e social do respectivo Estado. As operações
passivas são depósitos a prazo, empréstimos externos, emissão ou endosso
de cédulas hipotecárias, emissão de cédulas pignoratícias de debêntures e de
Títulos de Desenvolvimento Econômico. As operações ativas são
empréstimos e financiamentos, dirigidos prioritariamente ao setor privado.
Devem ser constituídos sob a forma de sociedade anônima, com sede na
capital do Estado que detiver seu controle acionário, devendo adotar,
obrigatória e privativamente, em sua denominação social, a expressão

17
https://www.bcb.gov.br/pre/composicao/bd.asp
17

"Banco de Desenvolvimento", seguida do nome do Estado em que tenha


sede (Resolução CMN 394, de 1976).

Tal como dito, esse tipo de carteira só pode funcionar em bancos públicos até porque
pelo que se transcreveu acima pode-se notar que a sua principal finalidade não é obter lucros,
mas ajudar no desenvolvimento regional, coisa que pouco interessaria a um banco privado.

IV) Carteira de crédito imobiliário

A carteira descrita no inc. III do art. 7º da Resolução nº 2099 é a de crédito


imobiliário que, ao contrário das três últimas carteiras, não pode ser a única de um banco, ou
seja, não existe um banco que só explore o mercado dos créditos imobiliários.

A carteira de crédito imobiliário está diretamente ligada ao Sistema Financeiro de


Habitação que, por ser regulamentado pelo Governo Federal, sofre além das pressões do
mercado financeiro as influências políticas.

V) Carteira de crédito, financiamento e investimento

A próxima carteira que pode ser adotada por um banco múltiplo é a de crédito,
financiamento e investimento, conforme disciplina do inc. IV do art. 7º da Resolução 2099, e,
como o próprio nome já diz, essa carteira está voltada para a distribuição de créditos, nas suas
mais variadas modalidades e prazos, financiamentos em geral, com exceção de contratos que
envolvam objeto de outro tipo de carteira como, por exemplo, o financiamento imobiliária,
que já está albergada pela carteira imobiliária.

VI) Carteira de arrendamento mercantil

Por fim, a última carteira que pode ser integrada a um banco múltiplo é a de
arrendamento mercantil, também chamado de leasing e que recebeu disciplina por meio da
Resolução nº 2.309, de 28 de agosto de 1996.

Veja-se a definição fornecida pelo Banco Central do que vem a ser o arrendamento
mercantil ou leasing18:

O leasing é um contrato denominado na legislação brasileira como


“arrendamento mercantil”. As partes desse contrato são denominadas
“arrendador” (banco ou sociedade de arrendamento mercantil) e

18
http://www.bcb.gov.br/pre/bc_atende/port/leasing.asp
18

“arrendatário” (cliente). O arrendador adquire o bem escolhido pelo


arrendatário, e este o utiliza durante o contrato, mediante o pagamento de
uma contraprestação.

O arrendador é, portanto, o proprietário do bem, sendo que a posse e o


usufruto, durante a vigência do contrato, são do arrendatário. A operação de
arrendamento mercantil assemelha-se a um contrato de aluguel, e pode
prever ou não a opção de compra, pelo arrendatário, do bem de propriedade
do arrendador.

Destaca-se que a carteira de arrendamento mercantil pode fazer parte das seguintes
instituições, nos termos do art. 1º e §2º do art. 13 da Resolução nº 2.309:

Art. 1º As operações de arrendamento mercantil com o tratamento tributário


previsto na Lei nº. 6.099, de 12.09.74, alterada pela Lei nº. 7.132, de
26.10.83, somente podem ser realizadas por pessoas jurídicas que tenham
como objeto principal de sua atividade a prática de operações de
arrendamento mercantil, pelos bancos múltiplos com carteira de
arrendamento mercantil e pelas instituições financeiras que, nos termos do
art. 13 deste Regulamento, estejam autorizadas a contratar operações de
arrendamento com o próprio vendedor do bem ou com pessoas jurídicas a
ele coligadas ou interdependentes.

Parágrafo 2º Os bancos múltiplos com carteira de investimento, de


desenvolvimento e/ou de crédito imobiliário, os bancos de investimento, os
bancos de desenvolvimento, as caixas econômicas e as sociedades de crédito
imobiliário também podem realizar as operações previstas neste artigo.

VII) Demais características de um banco múltiplo

Pois bem, essas são as carteiras que o banco múltiplo pode abrigar. Para completar a
explicação do art. 7º da Resolução nº 2.099, que disciplina a constituição de um banco
múltiplo, passaremos a breve explicação dos parágrafos 1º, 2º e 3º.

O parágrafo primeiro determina o seguinte:


19

§ 1º As operações realizadas por banco múltiplo estão sujeitas às mesmas


normas legais e regulamentares aplicáveis às instituições singulares
correspondentes às suas carteiras, observado o disposto no art. 35, inciso I,
da Lei nº 4.595, de 31.12.64.

Ou seja, as diversas modalidades de operações que podem ser agregadas a um banco


múltiplo, por meio de carteiras de negócios, estão submetidas as mesmas regras aplicáveis às
operações de instituições que só trazem aquela carteira em específico.

Por exemplo, as normas aplicáveis a uma sociedade de arrendamento mercantil


também são aplicáveis à carteira de arrendamento mercantil de um banco múltiplo.

O já revogado inc. I do art. 35 da Lei nº 4.595/64, o qual foi feita referência acima,
vedava a emissão de debêntures, nos seguintes termos:

Art. 35. É vedado ainda às instituições financeiras:  

I - Emitir debêntures e partes beneficiárias;

Todavia, o parágrafo único do dito artigo abria uma exceção, para os seguintes casos:

Parágrafo único. As instituições financeiras que não recebem depósitos,


poderão emitir debêntures, desde que previamente autorizadas pelo Banco
Central da República do Brasil, em cada caso.

Não obstante, primeiro por meio da Medida Provisório nº 784, de 2017 e depois pela
Lei nº 13.506, de 2017, a exceção foi retirada e agora vale a regra geral de que as instituições
financeiras não podem emitir debêntures.

Mas o que é uma debênture?


20

São valores mobiliários representativos de dívida de médio e longo prazos


que asseguram a seus detentores (debenturistas) direito de crédito contra a
companhia emissora.19

Ou seja, são obrigações emitidas por sociedades anônimas, como forma de financiar
suas operações, um empréstimo, em outras palavras, no qual grandes empresas captam capital
do público debenturista, sob promessa de pagamento futuro, com juros.

O parágrafo segundo do art. 7ª da Resolução 2099, consagra a autonomia dos bancos


múltiplos, um bom atrativo para proprietários de banco, veja-se:

§ 2º Não há vinculação entre as fontes de recursos captados e as aplicações


do banco múltiplo, salvo os casos previstos em legislação e regulamentação
específicas.

Desse modo, um recurso captado por meio da carteira de créditos imobiliários pode
ser aplicado na carteira de créditos de arrendamento mercantil, todavia, em casos
especificados em Lei e regulamentação específica, tal liberdade será mitigada, tendo em vista
a sobrepujança do princípio da legalidade sobre o da liberdade da iniciativa privada nesse
caso pontual.

O parágrafo terceiro repete a vedação contida na Lei nº 13.506/17, ao vedar ao banco


múltiplo a emissão de debêntures, leia-se: § 3º É vedado ao banco múltiplo emitir debêntures.

VIII) Valor necessário de capital social integralizado para cada carteira

Tendo o presente trabalho se debruçado até aqui sobre a descrição do que é um banco
múltiplo e das suas possíveis carteiras de negociação, é imprescindível agora passarmos à
questão que foi um dos motivos da presente pesquisa: quanto custa constituir um banco
múltiplo?

A resposta a esta pergunta está na Resolução nº 2099, de 17 de agosto de 1994 do


Banco Central do Brasil e seus anexos, resolução essa que desde sua promulgação, em 1994,
sofreu em média duas atualizações por ano, todavia, os valores necessários à constituição de
um banco múltiplo e outras modalidades de empreendimentos financeira são mais ou menos
fixos e sofreram apenas uma alteração por meio da Resolução nº 2607 do BACEN.
19
http://www.debentures.com.br/downloads/textostecnicos/cartilha_debentures.pdf
21

Todavia, essa alteração foi um verdadeiro divisor de águas, pois elevou o capital
mínimo, em alguns casos em mais de 50% (cinquenta por cento), de modo que a sociedade
que quisesse constituir uma instituição financeira depois de 1999 deveria desembolsar o dobro
do que seria necessário no ano anterior.

Além do mais, tais alterações no valor mínimo de capital necessário à constituição de


um agente financeiro, são de competência do Conselho Monetário Nacional, nos termos do
inc. XIII do art. 4º da Lei nº 4595/64, leia-se:

Art. 4º Compete ao Conselho Monetário Nacional, segundo diretrizes


estabelecidas pelo Presidente da República:   

XIII - Delimitar, com periodicidade não inferior a dois anos o capital


mínimo das instituições financeiras privadas, levando em conta sua natureza,
bem como a localização de suas sedes e agências ou filiais;

Tal medida deu preferência a solidez e confiança na liquidez das futuras instituições
financeiras em detrimento da maior liberdade de mercado, uma vez que dificultou a entrada
de novas sociedades no Sistema Financeiro Nacional.

Em prosseguimento, a resposta à pergunta de quanto custa constituir uma instituição


financeira em geral e um banco múltiplo em particular não possui resposta unívoca, mas
depende das carteiras que integrarão o banco.

Por exemplo, nos termos do inc. I do Anexo II da Resolução 2099 do BACEN, a


constituição de um banco comercial ou de um banco múltiplo com carteira comercial requer
um capital mínimo e capital líquido de R$17.500.000,00 (dezessete milhões e quinhentos mil
reais).

c) Conceito de capital realizado e patrimônio líquido

Antes de dar prosseguimento à exposição dos valores, faz-se necessário descrever o


que significa capital realizado e patrimônio líquido, conforme está contido no art. 1º do
Anexo II da Resolução 2099 do BACEN, leia-se:

Art. 1º Os limites mínimos de capital realizado e patrimônio líquido abaixo


especificados devem ser permanentemente observados pelas instituições
financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central
do Brasil.
22

Nos termos do art. 7º da Lei nº 6404/76, o capital realizado é aquele que está
disponível à pessoa jurídica, ou estão empregados nas atividades da mesma, ou seja, quando o
capital é transferido das pessoas dos sócios e passa a ser propriedade da empresa, diz-se que o
capital foi realizado20.

Todavia, esse capital realizado, nos termos do artigo 26 da Lei nº 4595/64, só pode
ser integralizado em moeda corrente, ao contrário do que possibilita o art. 7º da Lei nº
6405/76, que possibilita a realização do capital social em dinheiro ou em bens suscetíveis de
avaliação em dinheiro, com uma exceção que será tratada mais a seguir, leia-se:

Art. 26 da Lei nº 4595/64: O capital inicial das instituições financeiras


públicas e privadas será sempre realizado em moeda corrente.

Art. 7º da Lei nº 6404/76: Art. 7º O capital social poderá ser formado com
contribuições em dinheiro ou em qualquer espécie de bens suscetíveis de
avaliação em dinheiro.

O patrimônio líquido, a que faz referência o art. 1º do Anexo II da Resolução 2099


do BACEN, refere-se, basicamente, a própria pecúnia, moeda de Real.

Não é demais realizar-se um sutil acréscimo, pois o art. 1º do Anexo II da Resolução


2099 do BACEN, afirma que “os limites mínimos de capital realizado e patrimônio líquido
abaixo especificados”, perceba a presença da partícula “e”, acréscimo, e não da “ou”,
alternatividade, o que se afigura como uma imprecisão jurídica, que, buscando dar caráter
genérico à norma, acabou por incorrer em redundância, todavia, não é um erro absoluto, que
se aplica a todos os casos, pois, conforme será tratado mais a seguir, o inciso primeiro do art.
2º do Anexo II da Resolução nº 2299 do BACEN, prevê importante exceção a esse caso.

Não obstante, o art. 28 da Lei nº 4595/64, afirma que no caso de aumento de capital
social, no transcurso das operações da instituição financeira, os sócios podem integralizar no
capital social os bens imóveis utilizados para a atuação do banco, ou seja, as instalações de
suas agências e sede.

Art. 28. Os aumentos de capital que não forem realizados em moeda


corrente, poderão decorrer da incorporação de reservas, segundo normas
expedidas pelo Conselho Monetário Nacional, e da reavaliação da parcela

20
http://socontabilidade.com.br/conteudo/glossarioContabilidade.php?letra=C
23

dos bens do ativo imobilizado, representado por imóveis de uso e


instalações, aplicados no caso, como limite máximo, os índices fixados pelo
Conselho Nacional de Economia.

É relevante dar importância ao fato de que esse tipo de banco ou carteira comercial é
o mais custoso, o que demanda maior quantidade de capital mínimo, refletindo, assim, a
importância do banco e da carteira comercial, que é aquela que, de fato, mais agrega valor e
possibilidade de atuação no mercado por parte do agente financeiro.

Outro ponto importante, é o fato de que esse capital mínimo inicial deve ser mantido
durante todo o período de atuação da instituição financeira, importando o seu decréscimo em
afronta ao

Art. 1º Os limites mínimos de capital realizado e patrimônio líquido abaixo


especificados devem ser permanentemente observados pelas instituições
financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central
do Brasil.

d) Discriminação dos valores integralizados para cada carteira

Dito isso, passemos à exposição dos outros incisos, que estabelecem o capital
realizado e o patrimônio líquido mínimo para a constituição de uma instituição financeira.

O inciso segundo do art. 1º do Anexo II da Resolução 2099 do BACEN, estabelece


como capital mínimo para a constituição de um banco de investimento, banco de
desenvolvimento, correspondentes carteiras de banco múltiplo e caixa econômica, o valor de
R$12.500.000,00 (doze milhões e quinhentos mil reais).

Ou seja, para a constituição de um banco múltiplo com as carteiras de crédito de


investimento e desenvolvimento, o capital social mínimo a ser despendido é R$12.500.000,00
(doze milhões e quinhentos mil reais) após a alteração ocorrida em 1999, pois antes o capital
exigido era de R$6.000.000,00 (seis milhões de reais), uma exigência que mais que dobrou.

Já para agregar uma carteira de arrendamento mercantil, ou de crédito, financiamento


e investimento, ou de crédito imobiliário a um banco múltiplo o valor mínimo de capital
social é de R$7.000.000,00 (sete milhões de reais), um acréscimo de R$4.000.000,00 (quatro
milhões), em relação ao capital exigido anteriormente a 1999.
24

Apesar de não fazer referência ao banco múltiplo, é bom deixar registrado que os
valores para a constituição de uma companhia hipotecária é de R$3.000.000,00 (três milhões);
para uma sociedade corretora e distribuidora de títulos e valores imobiliários com autorização
para a realização de operações compromissadas, bem como para operar no mercado de swap
cambial, o valor é de R$1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais); já pra sociedade
corretora e distribuidora de títulos e valores imobiliários ordinárias, o valor é R$550.000,00
(quinhentos e cinquenta mil reais); por fim, para a constituição de uma sociedade corretora de
câmbio o valor R$350.000,00 (trezentos e cinquenta mil reais).

e) Regras diferenciadas para integralização de capital social de instituições


financeiras sediadas fora do eixo Rio-São Paulo

Esses são os valores para a constituição das diversas instituições financeiras, e para o
banco múltiplo em particular, todavia, o Legislador cuidou de modular os efeitos da eficácia
desses incisos, para promover um desenvolvimento Nacional equilibrado, nos três parágrafos
que se seguem.

O primeiro parágrafo traz a seguinte determinação:

§ 1º Em se tratando de instituição que tenha a agência sede ou matriz e, no


mínimo, 90% (noventa por cento) de suas dependências em funcionamento
fora dos Estados do Rio de Janeiro e/ou de São Paulo, os valores de capital
realizado e patrimônio líquido exigidos nos termos deste artigo terão redução
de 30% (trinta por cento).

O parágrafo supracitado, prestigiou o inc. III do art. 3º da Carta Política brasileira,


leia-se:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do


Brasil:

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades


sociais e regionais;

Por esse motivo, caso a instituição financeira possua a agência sede ou matriz, bem
como no mínimo 90% (noventa por cento) de suas dependências em funcionamento fora dos
Estados do Rio de Janeiro ou de São Paulo, o valor a ser integralizado será reduzido em 30%
(trinta por cento), com o que as outras regiões brasileiras possam também receber melhor
cobertura bancária, com a diminuição das desigualdades regionais.
25

O complemento do parágrafo primeiro, vem com o segundo, que traz a seguinte


norma:
§ 2º Para efeito de cálculo do limite de 90% (noventa por cento) de que trata
o § 1º, serão consideradas apenas as dependências para as quais é exigida
capitalização, nos termos deste Regulamento.

Ou seja, caso a instituição financeira possua outras dependências, como armazéns


para materiais de escritório e outros, essas não farão volume aos 90% (noventa por cento) de
dependências fora do eixo São Paulo e Rio de Janeiro, mas apenas as dependências que
guardam relação com a atividade fim do agente financeiro.

f) Adicional de capital realizado para operar no mercado de câmbio de taxas


livres

Em prosseguimento, leia-se o §3º:

§ 3º Para a instituição operar no mercado de câmbio de taxas livres devem


ser adicionados R$6.500.000,00 (seis milhões e quinhentos mil reais) aos
valores de capital realizado e patrimônio líquido estabelecidos neste artigo.

É preciso definir o que vem a ser o Mercado de Câmbio de Taxas Livre, que na
definição dada pelo Governo Federal significa o seguinte21:

O Brasil tem um único mercado de câmbio legal desde 2005, quando uma
resolução do CMN unificou o Mercado de Câmbio de Taxas Livres (câmbio
ou dólar comercial) e o Mercado de Câmbio de Taxas Flutuantes (câmbio ou
dólar turismo).

Pelo que foi transcrito acima, depreende-se que o Mercado de Câmbio de Taxas
Livres está relacionado ao câmbio ou dólar comercial, ou seja, aquele que é operado na Bolsa
de Valores, em oposição ao câmbio ou dólar para turismo, que pode ser operado por casas de
câmbio e bancos.

g) Número de agências da instituição financeira e sua relação direta com o


capital realizado

21
http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2009/11/cambio
26

Passemos agora à análise do importante art. 2º do Anexo II da Resolução 2099 do


BACEN, o qual afirma que as instituições financeiras referidas acima, ao integralizar capital
mínimo referido nos incisos do art. 1º do mesmo anexo da dita Resolução, têm direito à
instalação de até dez agências no País.

Leia-se o texto legal:

Art. 2º Observados os limites mínimos de capital realizado e patrimônio


líquido exigidos nos termos do art. 1º, as instituições referidas neste
Regulamento podem pleitear a instalação, no País, de até dez agências.

Desse modo, com a integralização de, por exemplo, R$17.500.000,00 (dezessete


milhões e quintos mil reais), um banco comercial ou um banco múltiplo com carteira
comercial tem direito à instalação de dez agências, todavia, só na cidade de Campo
Grande/MS, o Banco Bradesco S/A possui 18 (dezoito) agências22, isso porque se trata de uma
cidade pequena, com menos de um milhão de habitantes, de modo que só nesta capital o
limite de dez agências já foi ultrapassado em quase o seu dobro, situação essa que será
explicada quando abordarmos o §2º mais abaixo.

Antes, abordaremos a determinação contida no §1º do referido artigo, que diz:

§ 1º A agência sede ou matriz deve ser considerada no cômputo das


dependências para fins de capitalização.

Há aqui uma inexatidão na ordenação dos textos da Resolução, pois o correto seria
colocar o §1º acima transcrito depois do §2º do art. 1º dessa mesma Resolução, pois se trata
de continuação lógica ao raciocínio lá iniciado e concluído, ao passo que não guarda relação
com o assunto aqui tratado.

Com a ordenação acima indicada, ficaria determinado que com a instalação da sede
ou matriz do agente financeiro e mais de 90% (noventa por cento) de suas dependências fora
dos Estados do Rio de Janeiro ou São Paulo, o mesmo receberia o bônus de redução de 30%
(trinta por cento) do valor necessário de capital mínimo realizado, de modo que a agência
sede ou matriz entraria no cômputo duas vezes, a primeira para atender o requisito de sede

22
https://www.google.com.br/search?q=quantidade+de+ag
%C3%AAncias+do+bradesco+em+campo+grande+ms&npsic=0&rflfq=1&rlha=0&rllag=-20477590,-
54608015,1920&tbm=lcl&ved=0ahUKEwjA0KDf9IDbAhXHjJAKHaGuDUUQjGoIVA&tbs=lrf:!2m1!1e3!
3sIAE,lf:1,lf_ui:4&rldoc=1#rlfi=hd:;si:;mv:!1m3!1d63222.59207039994!2d-54.6089824!
3d0.494080750000002!2m3!1f0!2f0!3f0!3m2!1i103!2i203!4f13.1;tbs:lrf:!2m1!1e3!3sIAE,lf:1,lf_ui:4
27

fora dos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo e a segunda para que a agência sede ou matriz
fosse também contada para fins dos 90% (noventa por cento), referentes as dependências em
outros Estados da Federação.

Assim, o §1º do art. 2º encontraria seu complemento necessário, que resultaria num
conjunto harmonioso do Diploma Legal.

Voltando ao tema da quantidade de agências, percebe-se que o número de dez


agências diz respeito apenas aos agentes financeiros que integralizaram o capital mínimo
exigido pela Lei, de modo que o parágrafo dois do art. 2º traz os critérios para o aumento do
número de agências, leia-se:

§ 2º É facultada a instalação de agências além do número previsto no


"caput", desde que, ao montante dos respectivos valores de capital realizado
e patrimônio líquido, exceto para as agências pioneiras, sejam adicionados
2% (dois por cento) para os Estados do Rio de Janeiro e/ou de São Paulo e
1% (um por cento) para os demais estados, por unidade.

O parágrafo segundo supratranscrito tem como finalidade a descentralização do


Sistema Financeiro Nacional do eixo Rio/São Paulo, de modo a distribuir a disponibilidade de
serviços financeiros pelo restante do Pais.

Buscando concretizar essa distribuição o §2º determina que o número de dez


agências pode ser ampliado com a adição ao capital social e ao patrimônio líquido de 2%
(dois por cento) para os estados de Rio de Janeiro e São Paulo e 1% (um por cento) para os
demais Estados, com a ressalva de que para agências pioneiras em determinado Estado o
acréscimo é dispensado, desse modo, um agente financeiro pode, depois de receber o aval
para funcionamento do Banco Central, instalar uma agência em cada Estado sem o acréscimo
ao capital social, com o direito a mais dez agências, que podem ser distribuídas a seu critério.

Para ilustra a situação narrada tomemos com exemplo o Banco Bradesco S/A, que
não obstante precisar de “apenas” R$196.000.000,00 (cento e noventa e seis milhões de reais)
de capital social e patrimônio líquido integralizado, nos termos dos incisos do art. 1º do
Anexo II da Resolução nº 2099/94, possui hoje R$8.000.000.000,00 (oito bilhões de reais) de
28

capital social e patrimônio líquido realizado23, o que corresponde a mais de 40 (quarenta)


vezes o mínimo legal requerido, ou a 4.081,64% (quatro mil e oitenta e um vírgula sessenta e
quatro por cento), o que lhe permite possuir as atuais 4649 agências distribuídas por quase
todos os municípios brasileiros, só perdendo para a estatal Banco do Brasil S/A, que detêm
5450 agências em todo o território nacional24.

1.7 Os bancos múltiplos digitais

a) Conceito
Uma vez já tendo o presente trabalho se debruçado sobre o estudo do que vem a ser
um banco múltiplo, cabe agora especificar um pouco mais as pesquisas e adentrar no tema em
análise propriamente dito: os bancos múltiplos digitais.

Entre as instituições financeiras digitais reina o uso do termo fintech, que surgiu da
junção de finanças com tecnologia, ou seja, trata-se de inovações e uso de novas tecnologias
por agentes financeiros.
No Brasil, o surgimento das fintech’s foi providencial, pois em um mercado fechado
como o nosso constituído de grandes conglomerados econômicos multimilionários, no qual
cerca de 72% (setenta e dois por centos) dos empréstimos estão concentrados nos cinco
maiores bancos do total de mais de 150 25, o único jeito de penetrar essa barreira competitiva e
participar desse mercado é a inovação, a criatividade, tarefa essa desempenhada por essas
ainda pequenas instituições financeiras digitais.

b) A concentração dos serviços financeiros nos quatro maiores bancos e a


consequente falta de competitividade
Para demonstrar a concentração dos serviços financeiros nas quatro maiores
instituições em funcionamento no Brasil: Banco do Brasil S/A, Banco Bradesco S/A, Caixa

23
http://www.valor.com.br/financas/4941876/bc-aprova-aumento-de-capital-de-r-8-bilhoes-do-bradesco
--- http://www.econoinfo.com.br/governanca-corporativa/capital-social-e-eventos?codigoCVM=906

24
https://exame.abril.com.br/revista-exame/os-15-bancos-que-tem-mais-agencias-no-brasil/

25
https://www.istoedinheiro.com.br/o-problema-no-nosso-pais-nao-sao-os-bancos/
29

Econômica Federal e Itaú Unibanco S/A - veja-se abaixo o índice de participação dos quatro
no total de ativos circulantes26:

Não obstante os quatro agentes financeiros deterem quase 80% (oitenta por cento)
dos ativos em território brasileiro, os quatro e mais o Banco Santander possuem 90% (noventa
por cento) das agências, veja-se27:

26
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/10/18/A-concentra%C3%A7%C3%A3o-banc
%C3%A1ria-no-Brasil-em-3-gr%C3%A1ficos

27
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/10/18/A-concentra%C3%A7%C3%A3o-banc
%C3%A1ria-no-Brasil-em-3-gr%C3%A1ficos
30

Nesse quadro, as reclamações sobre falta de competitividade são comuns e


justificáveis, pois para concorrer o agente financeiro que ingressa no Mercado Financeiro
Nacional, precisa de muito capital investido e de profissionais altamente qualificados, que, em
sua grande maioria, já ocupam cargos nos grandes bancos.
c) As fintechs em operação no Brasil
Atualmente operam no Brasil um sem número de pequenas instituições financeiras
totalmente digitais, como por exemplo: Nubank (sociedade de crédito financiamento e
investimento com carteira comercial), Neon (em liquidação extrajudicial, mas que continua
operando com a plataforma de cartões pré-pagos Neon Pagamentos), Next (pertencente ao
Banco Bradesco S/A), Inter (Banco Múltiplo Digital), Banco Original (pertencente ao grupo
JBS S/A), Modalmais, Sofisa Direto, Agibank, Superdigital (fintech do Banco Santander),
MeuPag (do grupo financeiro Avista), ContaUm, Soudig+28, entre outros.

Leia-se a tabela explicativa abaixo29:

Banco múltiplo com conta digital desde 2014. Tem 165 mil correntistas
Inter (antigo
digitais. Prevê que terá 350 mil até o final de 2017 e espera ter atingido 1
Intermedium)
milhão de clientes no final de 2018. Não cobra mensalidade.
Lançado em julho de 2016 pela fusão entre a fintech Controly e o banco
Neon Pottencial. O Neon tem hoje mais de 130 mil usuários. Recebeu R$ 14
milhões em investimento de investidores-anjo e do banco Pottencial.
Conta Fácil
Lançada em novembro de 2016. Tem uma opção gratuita e uma paga de R$
(Banco do
9,90.
Brasil)
A conta digital do banco foi lançada em março de 2016 e tem mais de 100
mil clientes. Entre dezembro de 2016 e maio de 2017, sua carteira de
Original (J&F)
clientes cresceu cerca de 70%. Oferece pacotes de R$ 9,90, R$ 24,90 e R$
29,90.
Lançado em junho de 2017 pelo Bradesco. As contas digitais têm
Next (Bradesco)
mensalidade entre R$ 19,95 e R$ 39,95.
28
https://financasreal.com.br/melhores-contas-digitais-2018/

29
https://conteudo.startse.com.br/nova-economia/tecnologia-inovacao/mariana-rodrigues/como-tres-
bancos-pequenos-viraram-fintechs-para-competir-com-grandes/
31

Para se notar a atualidade dos agentes financeiros digitais, basta perceber que a
regulamentação específica para suas operações de abertura, manutenção e fechamento de
contas só foi promulgada em 2016, com a Resolução 4480 do BACEN, que prevê em seu art.
1º, 4º e 6º:
Art. 1º Esta Resolução estabelece os requisitos a serem observados pelas
instituições financeiras e pelas demais instituições autorizadas a funcionar
pelo Banco Central do Brasil na abertura e no encerramento de contas de
depósitos por meio eletrônico.
Art. 4º Para o encerramento da conta de depósitos aberta por meio
eletrônico, além do disposto nas Resoluções ns. 2.025, de 1993, e 3.211, de
2004, deve ser assegurada ao cliente a possibilidade de encerramento por
meio eletrônico.
Art. 6º As instituições referidas no art. 1º devem observar o disposto nos
arts. 5º a 8º da Resolução nº 4.474, de 31 de março de 2016, na definição de
procedimentos e de tecnologias relativas ao armazenamento, à manutenção,
à restauração e ao acesso aos documentos eletrônicos e às informações
utilizadas na abertura e no encerramento de contas de depósitos por meio
eletrônico.

O grande diferencial das instituições financeiras digitais são a ausência ou


diminuição da cobrança de taxas; a operação da conta- depósito integralmente por meio de
dispositivos digitais; a ausência de agências físicas; a prestação dos mesmos serviços dos
bancos convencionais; com o diferencial de que nesse caso todas as operações são feitas por
meios digitais.

Em comunicado à imprensa datado de 28 de fevereiro de 2011 30 o Banco Central já


expôs alguns esclarecimentos a respeito da isenção de taxas dos bancos digitais que, no caso
de movimentação apenas por meio digitais, não haveria cobrança de taxas, como p. ex., taxa
de abertura de conta, de emissão do primeiro cartão, transferências bancárias como TED e
DOC ou não seriam cobradas ou teriam valor reduzido, com a possibilidade ainda de serem
cobradas a partir de certa quantidade mensal.

30
http://www.bcb.gov.br/textonoticia.asp?codigo=2954&
32

Como exemplo das isenções, podemos citar o Banco Inter S/A, que propõem os
seguintes serviços sem a cobrança de tarifas31:

d) A crescente utilização do mobile para transações financeiras


Uma breve análise da atual forma de como o brasileiro opera o seu dinheiro
depositado em bancos, revela que o surgimento dos bancos digitais veio em momento
oportuno, aproveitando-se da crescente onda de movimentações via mobile, que já supera em
muito as realizadas em agências bancárias, veja-se32:

31
https://www.conta-corrente.com/conta-digital/intermedium/vale-pena-ter-conta-no-banco-intermedium/

32
https://www.portalodia.com/noticias/economia/mobile-se-torna-meio-mais-usado-para-transacoes-
bancarias-298350.html
33

Para se ter uma ideia, em 2016 o capital movimentado via mobile chegou a 21,9
bilhões de reais, o que representa 34% (trinta e quatro por cento) do total de ativos em
circulação, veja-se33:

Com isso, são percebidas as condições favoráveis para a constituição de bancos


múltiplo digitais, tema do presente trabalho, tendo-se em vista a crescente utilização dos
meios digitais de interatividade bancária e a mudança de gerações, o que ocasionará num
futuro próximo a quase absoluta utilização dos meios mobile para a realização de transações
bancárias.

2- A Constituição de um banco múltiplo digital, conforme a Lei nº 4595/64 e


a Resolução do Banco Central do Brasil de nº 4.122/12

a) Conceito

33
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/05/1882784-transacoes-bancarias-por-mobile-superam-
outros-meios-diz-febraban.shtml
34

Inicialmente, é preciso dizer que a constituição de uma instituição financeira não é a


mesma coisa que a sua autorização para funcionamento, de maneira que um grupo pode obter
a autorização para iniciar a constituição, mas a autorização para funcionamento dependerá do
atendimento de requisitos estabelecidos pelo Banco Central, bem como dos próprios
requisitos postos no plano de negócios.
Em outros termos, a constituição é a fase da elaboração dos planos, de arquitetar a
instituição de surge, de traçar objetivos, enquanto que a autorização para funcionamento é a
fase de execução, na qual a sociedade que pretende abrir o banco deve provar que cumpriu o
que estava no papel, passando desde a construção da agência sede ou matriz conforme o
planejado e chegando até a integralização completa do capital social da nova instituição.

b) Bases legais para a constituição de um banco múltiplo digital

Para melhor entendimento do que é a constituição de um banco múltiplo digital e de


como se processa essa fase de criação de um agente financeiro, passaremos a análise da Lei nº
4595/64 e da Resolução do Banco Central do Brasil de nº 4.122/12, que são as bases legais
para esse ato.
Inicialmente, o §1º do art. 4º da Lei nº 4595/64, reafirma o papel de órgão de cúpula
do Conselho Monetário Nacional ao lhe atribuir competência concorrente com o Banco
Central para negar autorização de funcionamento a novas instituições financeiras, tendo em
vista a ordem geral do Sistema Financeiro Nacional, nos seguintes termos:

Art. 4º Compete ao Conselho Monetário Nacional, segundo diretrizes


estabelecidas pelo Presidente da República:   

§ 1º O Conselho Monetário Nacional, no exercício das atribuições previstas


no inciso VIII deste artigo, poderá determinar que o Banco Central da
República do Brasil recuse autorização para o funcionamento de novas
instituições financeiras, em função de conveniências de ordem geral.

Ainda no art. 4º da mesma Lei, a competência do Conselho Monetário Nacional para


regular a constituição dos agentes financeiros é reafirmada, veja-se:
35

VIII - Regular a constituição, funcionamento e fiscalização dos que


exercerem atividades subordinadas a esta lei, bem como a aplicação das
penalidades previstas;

Já a alínea “a” do inc. X do art. 10 dessa mesma Lei, afirma ser competência
privativa do Banco Central a concessão de autorização para o funcionamento de agentes
financeiros, todavia deve-se notar que não se trata de competência exclusiva, ou seja, que não
pode ser delegada ou exercida em concorrência, mas de competência privativa, o que firma a
participação concorrente do Conselho Monetário Nacional e do Poder Executivo nessa
escolha, veja-se:

Art. 10. Compete privativamente ao Banco Central da República do Brasil:

X - Conceder autorização às instituições financeiras, a fim de que


possam:                       (Renumerado pela Lei nº 7.730, de 31/01/89)

a) funcionar no País;

c) Autorização para funcionamento de uma instituição financeira de capital


estrangeiro

Ainda se tratando de autorização para funcionamento, no caso de instituição


financeira estrangeira a competência legal para autorizar o seu funcionamento depende
chancela do Poder Executivo, mediante decreto, nos termos do §2º do art. 10 da Lei nº
4595/64, leia-se:

Art. 10 § 2º Observado o disposto no parágrafo anterior, as instituições


financeiras estrangeiras dependem de autorização do Poder Executivo,
mediante decreto, para que possam funcionar no País.

O parágrafo supracitado foi aplicado ao caso da sociedade de crédito, financiamento


e investimento Nu Financeira S/A, que pertence a Nu Holdings, sediada nas Ilhas Cayman,
conhecida popularmente como Nu Bank, que recebeu autorização para funcionamento por
meio do Decreto de 19 de Janeiro de 2018, o qual importa citar o art. 1º:
36

Art. 1º  É do interesse do Governo brasileiro a participação estrangeira de até


cem por cento no capital social da instituição financeira a ser constituída
pela Nu Holdings Ltd., sediada nas Ilhas Cayman.

Não obstante a clareza das normas a citadas acima, o Legislador considerou oportuno
acrescentar o art. 18 da Lei nº 4595/64, que repete o comando legal já contido nas normas
supracitadas, que se transcreve:

Art. 18. As instituições  financeiras  somente poderão funcionar  no País 


mediante  prévia autorização do Banco Central  da República do Brasil ou
decreto do  Poder  Executivo, quando forem estrangeiras.

d) Autorização para o funcionamento de cooperativas de crédito

No mais, o art. 55 dessa mesma Lei, transfere para o Banco Central a competência
anteriormente do Ministério da Agricultura para conceder autorização de funcionamento às
cooperativas de crédito, leia-se:

Art. 55. Ficam transferidas ao Banco Central da República do Brasil as


atribuições cometidas por lei ao Ministério da Agricultura, no que concerne
à autorização de funcionamento e fiscalização de cooperativas de crédito de
qualquer tipo, bem assim da seção de crédito das cooperativas que a tenham.

Com isso, fica clara a atuação do Poder Executivo que, por meio do Presidente da
República, do Banco Central e do Conselho Monetário Nacional, concorrem na competência
de conceder autorização para constituição e funcionamento das instituições financeiras.

e) O cerne da pesquisa: a Resolução 4.122 de 2 de agosto de 2012

E na tendência que se matem no presente trabalho de buscar cada vez mais a


especificidade a respeito do tema proposto, chega-se agora ao mais importante caderno
legislativo do Conselho Monetário Nacional sobre o tema da presente pesquisa, tornado
público pelo Banco Central do Brasil em 2012, trata-se da Resolução nº 4.122, de 2 de agosto
de 2012, que traz em sua ementa o seguinte texto:

Estabelece requisitos e procedimentos para constituição, autorização para


funcionamento, cancelamento de autorização, alterações de controle,
reorganizações societárias e condições para o exercício de cargos em órgãos
estatutários ou contratuais das instituições que especifica.
37

A dita resolução, em carácter genérico, traz dois objetivos, que são:

Art. 1º Esta Resolução estabelece, nos termos dos Regulamentos Anexos I e


II, respectivamente:

I - requisitos e procedimentos para a autorização de constituição e


funcionamento, o cancelamento da autorização e as alterações de controle e
reorganizações societárias de bancos múltiplos, bancos comerciais, bancos
de investimento, bancos de desenvolvimento, bancos de câmbio, sociedades
de crédito, financiamento e investimento, sociedades de crédito imobiliário,
companhias hipotecárias, agências de fomento, sociedades de arrendamento
mercantil, sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários, sociedades
distribuidoras de títulos e valores mobiliários e sociedades corretoras de
câmbio; e

II - condições para o exercício de cargos em órgãos estatutários ou


contratuais das instituições financeiras e demais instituições autorizadas a
funcionar pelo Banco Central do Brasil.

Ou seja, a Resolução se propõe, basicamente, a estabelecer requisitos para a


constituição de bancos múltiplos, matéria objeto do presente trabalho, e condições para o
exercício de seus cargos.

É importante sublinhar o fato de que apesar de ter sido promulgada em agosto de


2012, até hoje, 6 (seis) anos depois, só foi emendada quatro vezes, o que demonstra que os
critérios adotados pelo CMN e pelo BACEN em sua elaboração são firmes e suficientes para a
manutenção da segurança do Sistema Financeiro Nacional, caso contrário a dito Resolução já
deveria ter sido alterada outras vezes, a exemplo dos outros regramentos específicos para a
constituição e autorização de funcionamento de instituições financeiras.

f) A discricionariedade do Banco Central no processo de constituição de uma


instituição financeira
38

O art. 2º, bem como os que se seguem, da Resolução 4122/12, estabelecem critérios
genéricos para a apresentação de documentos e os prazos dos procedimentos administrativos
previstos no decorrer dos seus Anexos I e II, leia-se o dito artigo:

Art. 2º O Banco Central do Brasil deverá dispor sobre:

I - os documentos necessários à instrução dos processos relativos aos


assuntos de que trata esta Resolução;

II - os prazos a serem observados na instrução dos processos.

No mais, alguns atributos são conferidos ao Banco Central no decorrer da instrução


dos processos administrativos para a constituição de uma instituição financeira, entre eles está
a discricionariedade, que o professor José Cretella Júnior34 define como:

O poder discricionário como aquele que permite que o agente se oriente


livremente com base no binômio conveniência-oportunidade, percorrendo
também livremente o terreno demarcado pela legalidade. O agente seleciona
o modo mais adequado de agir tendendo apenas ao elemento fim.

Já o professor Celso Antônio Bandeira de Mello define a discricionariedade como35:

“a margem de liberdade conferida pela lei ao administrador a fim de que este


cumpra o dever de integrar com sua vontade ou juízo a norma jurídica,
diante do caso concreto, segundo critérios subjetivos próprios, a fim de dar
satisfação aos objetivos consagrados no sistema legal”.

Tal característica, o da discricionariedade, será percebida durante todo o estudo


envolvendo a constituição de um agente financeiro, nesse caso um banco múltiplo digital,
inclusive no art. 3º, ipsis litteris:

Art. 3º O Banco Central do Brasil, no curso da análise dos assuntos tratados


nesta Resolução, poderá:

34
CRETELLA JÚNIOR, José. Curso de Direito Administrativo. 18. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro:
Forense, 2002, p. 174.

35
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso..., p. 414.
39

I - solicitar quaisquer documentos e informações adicionais que julgar


necessários à decisão acerca da pretensão, inclusive a autoridades no
exterior;

II - convocar para entrevista técnica os integrantes do grupo de controle, os


detentores de participação qualificada e os indicados, eleitos ou nomeados
para o exercício de cargos em órgãos estatutários ou contratuais da
instituição.

Desse modo, a Resolução deixou de classificar de forma taxativa os documentos


necessários à constituição de um agente financeiro, antes elaborou rol aberto, com a
possibilidade de requerimento de quaisquer documentos e informações mesmo a autoridades
no exterior.

Além do que, previu a convocação dos integrantes do grupo de controle, dos


detentores de participação qualificada e dos indicados, eleitos ou nomeados ao exercício de
cargos, que serão definidos mais adiante, para que participassem de entrevistas técnicas, nas
quais o conhecimento a respeito do setor financeiro deve ficar evidenciado, sob pena de sua
exclusão do cargo que almejava, conforme será abordado com mais atenção quando da análise
do inc. V do art. 6º da Resolução 4122/12.

A discricionariedade do Banco Central do Brasil continua expressa no art. 5º da


Resolução, que afirma:

Art. 5º O Banco Central do Brasil poderá indeferir os pedidos relacionados


com os assuntos de que trata esta Resolução, caso venha a ser apurada:

I - circunstância que possa afetar a reputação dos administradores, dos


integrantes do grupo de controle, dos detentores de participação qualificada;

II - falsidade nas declarações ou nos documentos apresentados na instrução


do processo.

Parágrafo único. Nos casos de que trata este artigo, o Banco Central do
Brasil concederá prazo aos interessados para a apresentação de justificativas.
40

Alguns aspectos contidos no artigo acima merecem atenção especial, pois revelam
algumas características da atuação do Banco Central.

O inc. I traz conteúdo que parece destoar do restante do ordenamento jurídico


brasileiro, no qual se exige a subsunção da norma ao fato, ou seja, a tipicidade, a legalidade,
nos termos do inc. II do art. 5º da Carta Política de 1988, leia-se:

Art. 5º II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa


senão em virtude de lei;

Isso porque, por exemplo, um pedido de constituição de banco múltiplo digital pode
ser indeferido pela avaliação negativa, por parte do Banco Central, de circunstâncias que
possam afetar a reputação dos administradores, dos integrantes do grupo de controle ou dos
detentores de participação qualificada.

E isso sem que seja exposto pela Resolução quais são os tipos legais que afetam a
reputação dos interessados, se um homicídio, um estelionato, um atraso na entrega do imposto
de renda, dirigir alcoolizado, e etc., trata-se de análise de uma análise tipicamente
discricionária, todavia, tal análise deve se ater a condutas que guardem alguma relação com o
Sistema Financeiro Nacional.

Sem que haja a tipicidade das condutas que afetam a aferição da reputação pelo
BACEN, diz-se que a análise é discricionária, nesse caso, altamente discricionária, com o que
se confirma mais uma vez o brocardo latino non est absolutum ius, não existe direito absoluto,
nesse caso a discricionariedade, por mais que seja um direito garantido ao BACEN na análise
dos pedidos de constituição de agentes financeiros, não é um poder absoluto.

A hipótese do inc. II é facilmente aceitável e altamente confirmatória da índole dos


interessados em constituir uma instituição financeira, pois se trata da falsificação de
documentos e declarações apresentados na instrução do processo constitutivo.

Tal atitude, inclusive, constitui crime, nos termos do art. 296 do Decreto-Lei nº
2.848/40, o que obsta o exercício da discricionariedade e privilegia a reserva do legal.

O parágrafo único do art. 5º, por sua vez, privilegia os princípios constitucionais do
contraditório e da ampla defesa, previstos nos inc. LV do art. 5º da Constituição de 1988, uma
vez que determina a abertura de prazo para que os interessados que supostamente incidiram
nas condutas dos incisos I e II possam apresentar justificativas, leia-se:
41

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados


em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes;

Essa previsão, em tudo se alinha por analogia ao previsto no art. 10 combinado com
o art. 15 do Código de Processo Civil de 2015, leia-se:

Art. 10.  O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em
fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de
se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de
ofício.

Art. 15.  Na ausência de normas que regulem processos eleitorais,


trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão
aplicadas supletiva e subsidiariamente.

g) Definição de participação qualificada

Ao art. 6º dessa mesma Resolução foi atribuído o papel explicativo, que vem a
elucidar o que é uma participação qualificada e o que vem a ser o grupo de controle, nos
seguintes termos:

Art. 6º Para fins do disposto nesta Resolução, entende-se como:

I - participação qualificada: a participação, direta ou indireta, detida por


pessoas naturais ou jurídicas, equivalente a 15% (quinze por cento) ou mais
de ações ou quotas representativas do capital total das instituições referidas
no art. 1º, inciso I;

II - grupo de controle: pessoa, ou grupo de pessoas vinculadas por acordo de


votos ou sob controle comum, que detenha direitos de sócio correspondentes
à maioria do capital votante de sociedade anônima ou a 75% (setenta e cinco
por cento) do capital social de sociedade limitada. (Redação dada pela
Resolução nº 4.279, de 31/10/2013.)

Assim, participação qualificada é aquela na qual uma pessoa, física ou jurídica, ou o


seu conjunto, detêm o equivalente a 15% (quinze por cento) ou mais de ações ou quotas
representativas do capital total da instituição financeira emergente.
42

Aqui, vale destacar que se tratam de ações ordinárias, ou seja, aquelas que dão direito
a voto na assembleia deliberativa, mas que não prestigia os seus proprietários com preferência
na distribuição de dividendos, e não de ações preferenciais, que possuem como característica
a preferência na distribuição de dividendos, todavia, não dão direito a voto.

Leia-se a lição de analista econômico sobre a diferença entre uma ação ordinária e
uma preferencial36:

Uma das principais diferenças entre as ações ordinárias e as preferenciais é


que para os detentores da primeira, existe preferência na distribuição de
dividendos, enquanto quem possui papéis preferenciais tem direito a voto.

É certo que o texto da Resolução se refere a ações ordinárias, apesar da não


taxatividade do texto, pois nessa fase de constituição ainda não foram distribuídas ações na
Bolsa de Valores, ou seja, inexiste a opção pela compra de ações preferenciais ou ordinárias.

h) Definição de grupo de controle

Já o inc. II cuidou de conceituar o que é um grupo de controle, leia-se:

II - grupo de controle: pessoa, ou grupo de pessoas vinculadas por acordo de


votos ou sob controle comum, que detenha direitos de sócio correspondentes
à maioria do capital votante de sociedade anônima ou a 75% (setenta e cinco
por cento) do capital social de sociedade limitada. (Redação dada pela
Resolução nº 4.279, de 31/10/2013.)

Ou seja, a pessoa ou o grupo de pessoas que possuam o direito a voto correspondente


aos direitos de voto dos sócios majoritários, quer esse direito tenha lhe sido outorgado por
acordo ou por características da formação da sociedade, na qual se exerce o controle comum,
controle por todos, dos negócios ou, ainda, a pessoa ou sociedade que detenha no mínimo
75% (setenta e cinco por cento) do capital social a ser integralizada na futura instituição
financeira.
Por esse meios, se percebe que o grupo de controle é aquele que administra os
negócios, ou porque detêm direito por acordo de sócios ou porque na formação da sociedade

36
http://www.infomoney.com.br/onde-investir/noticia/2062906/qual-diferenca-entre-acoes-para-
pequeno-investidor
43

restou assentado que aquele grupo administraria os negócios; ou ainda pode o grupo de
controle ser constituído daqueles ou daquele que detêm 75% (setenta e cinco por cento) do
capital social.

O parágrafo único do art. 6º cuidou de evitar a prática do uso de “laranjas”, ou seja,


de terceiros que apenas emprestam seu nome, mas que não possuem vínculo real com a
instituição que nasce, veja-se:

Parágrafo único. Nos casos em que o controle da sociedade não seja


identificado segundo os critérios mencionados no inciso II do caput, o Banco
Central do Brasil poderá utilizar outros elementos para identificar o grupo de
controle.
Aqui, novamente, impera a discricionariedade da atividade do Banco Central, que
pode se utilizar de outros meios para identificar o real grupo de controle, outros meios esses
que podem inclui a quebra de sigilo bancário e fiscal, por exemplo.

i) A desídia no processo de constituição de um agente financeiro

Em continuação, o art. 7º cuida de punir eventual desídia que possa ocorrer na


tramitação dos processos administrativos, leia-se:

Art. 7º O Banco Central do Brasil poderá arquivar os pedidos relacionados


com os assuntos de que trata esta Resolução quando:

I - houver descumprimento de quaisquer dos prazos previstos nesta


Resolução; ou

II - não forem atendidas solicitações de apresentação de documentos


adicionais, de prestação de informações, de comparecimento para a
realização de entrevistas técnicas ou outras solicitações relacionadas ao
processo, no prazo assinalado.
Aqui resta caracterizado prestígio ao direito da razoável duração do processo,
insculpido no inc. LXXVIII do art. 5º da CRFB/88, que evita a eternização de demandas cujos
seus proponentes já não têm mais interesse, veja-se:
44

LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a


razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

j) A falsificação de documentos que instruem o processo de constituição de uma


instituição financeira

Voltando a abordar o tema da falsidade nas declarações ou nos documentos que


instruem os procedimentos administrativos abordados nessa Resolução, o inc. I do art. 8º
prevê inclusive a aplicação da cassação da autorização de funcionamento, a critério do Banco
Central, leia-se:
Art. 8º Verificada, a qualquer tempo, falsidade nas declarações ou nos
documentos apresentados na instrução dos processos previstos nesta
Resolução e considerando a relevância dos fatos omitidos ou distorcidos,
tendo por base as circunstâncias de cada caso e o interesse público, o Banco
Central do Brasil poderá:

I - no caso de processos de autorização para constituição e funcionamento,


rever a decisão que autorizou o funcionamento da instituição;

Destaca-se que a eventual cassação da autorização de funcionamento da instituição


financeira por apresentação de documentos falsos não impede a propositura de ação penal, a
fim de verificar a ocorrência de crimes da seara do Direito Penal.

Ainda sobre o prestígio da presente Resolução aos princípios constitucionais, entre


eles o do devido processo legal, o §1º do art. 8º prevê o seguinte:

§ 1º Nas hipóteses descritas no caput, o Banco Central do Brasil deverá


instaurar processo administrativo, notificando o interessado no endereço
fornecido à Autarquia para se manifestar sobre a irregularidade apurada.

Com isso, é dada eficácia à previsão constitucional de que ninguém será privado de
seus direitos sem o devido processo legal.

l) Análise do Anexo I da Resolução nº 4.122/12 do BACEN


45

Nesse ponto, inicia-se a análise do Anexo I da Resolução nº 4.122/12, que, nos


termos da sua ementa visa o seguinte:

Disciplina os requisitos e procedimentos para a autorização de constituição e


funcionamento, o cancelamento da autorização e as alterações de controle e
reorganizações societárias das instituições que especifica.

Desde logo, o art. 1º enumera as instituições que estão submetidas à presente


regulamentação, e são elas:

Art. 1º Sujeitam-se às disposições deste Regulamento os bancos múltiplos,


bancos comerciais, bancos de investimento, bancos de desenvolvimento,
bancos de câmbio, sociedades de crédito, financiamento e investimento,
sociedades de crédito imobiliário, companhias hipotecárias, agências de
fomento, sociedades de arrendamento mercantil, sociedades corretoras de
títulos e valores mobiliários, sociedades distribuidoras de títulos e valores
mobiliários e sociedades corretoras de câmbio.

Até o presente momento a pesquisa trabalhou no plano da conceituação, da


introdução dos aspectos necessários a autorização de constituição de um banco múltiplo
digital, todavia, agora, o foco dos estudos se volta para os pontos fundamentais da sua
constituição.

Para tanto, passa-se a análise do art. 2º do Anexo I da Resolução 4122, leia-se:


Art. 2º O funcionamento das instituições de que trata o art. 1º pressupõe:

I - constituição, conforme as normas legais, esta Resolução e as demais


disposições regulamentares vigentes;

II - autorização para funcionamento.

Percebe-se, desde logo, que o texto legal inicia sua preleção estabelecendo a nuance
entre a autorização para constituição de uma instituição financeira e a autorização para seu
funcionamento, pois, tal como dito acima, a constituição é a fase de projetos, já a fase de
46

autorização para funcionamento é o período no qual a sociedade empresarial deve transpor o


projeto em realidade, efetivando o que foi pensado.

Tal como dito, agora a presente pesquisa entra propriamente na fase de constituição
de um banco múltiplo digital e, conforme se lerá no art. 3º, a primeira fase da sua autorização
para constituição é a apresentação ao Banco Central do responsável pela condução do projeto,
bem como a identificação do grupo organizador da instituição, constituído pelo futuro grupo
de controle e dos futuros detentores de participação qualificada, leia-se:

Art. 3º No processo de constituição deve ser indicado o responsável,


tecnicamente capacitado, pela condução do projeto no Banco Central do
Brasil, bem como identificado o grupo organizador da instituição, do qual
deverão participar representantes do futuro grupo de controle e dos futuros
detentores de participação qualificada.

Em leitura do art. 4º, percebe-se que existe uma análise preliminar do Banco Central
a respeito da viabilidade da constituição de uma instituição financeira, ou seja, existe um juízo
prévio de admissibilidade, no qual a sociedade empresarial pode ver sua pretensão ser
indeferida, sem sequer ter autorização para terminar os atos de constituição. Veja-se:
Art. 4º O processo de constituição das instituições referidas no art. 1º terá
início com a apresentação, ao Banco Central do Brasil, de:
I - minuta da declaração de propósito prevista no inciso I do art. 6º;

Art. 6º - inc. I - publicação de declaração de propósito por parte das pessoas


naturais ou jurídicas que não integrem grupo de controle de instituição
mencionada no art. 1º, nos termos e condições estabelecidos pelo Banco
Central do Brasil, que também deverá divulgá-la, utilizando, para tanto, o
meio que julgar mais adequado;

Os objetivos da minuta de declaração de propósitos, cujos modelos 8.1.30.5 e


8.1.30.4 seguem em anexo I, são basicamente três, conforme esclarecimentos do próprio
Banco Central, leiam-se37:

1.      A publicação da declaração de propósito tem por objetivos:


37
https://www3.bcb.gov.br/sisorf_externo/manual/04-03-030-010.htm
47

 a)   divulgar amplamente à sociedade a intenção dos controladores de


constituir uma instituição integrante do Sistema Financeiro Nacional;

b)   divulgar amplamente à sociedade a intenção dos administradores eleitos


de exercer cargos em instituição integrante do Sistema Financeiro Nacional;

c)    possibilitar a manifestação do público em geral ao Banco Central do


Brasil quanto a eventuais objeções à pretensão.

 Desse modo, está-se privilegiando a publicidade dos atos administrativos, nos


termos do art. 37 da Constituição de 1988, veja-se:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte:  (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)

Isso porque, a minuta da declaração de propósitos busca divulgar à sociedade a


intenção de criação de uma nova instituição financeira, busca também divulgar os nomes dos
integrantes que ocuparão cargos de sua administração e, por fim, busca dar à sociedade a
oportunidade de impugnar as pretensões de sua constituição e da nomeação de algum sócio ou
administrador comprometido pela prática de atos que afetam a sua reputação como
administrador.

O próprio Banco Central já cuidou também de regulamentar o procedimento para a


recepção de impugnações às minutas de declaração de propósitos38, veja-se:

Recebimento de objeções por parte do público

19.   O prazo para apresentação, ao Banco Central do Brasil, de objeções por


parte do público em decorrência da publicação da declaração de propósito é
de:

 a)   de trinta dias, contados da data da divulgação do respectivo comunicado


pelo Deorf (Departamento de Organização do Sistema Financeiro), no caso

38
https://www3.bcb.gov.br/sisorf_externo/manual/04-03-030-010.htm
48

de declaração publicada em nome de controlador (Circ. 3.649/2013, art. 5º, §


2º, e art. 11, § 5º);

b)   quinze dias, contados da data da divulgação do respectivo comunicado


pelo Deorf (Departamento de Organização do Sistema Financeiro), no caso
de declaração publicada em nome de administrador (Circ. 3.611/2012, art.
2º, § 2º).

 20.   Eventuais objeções por parte do público são comunicadas diretamente


ao interessado, que tem direito a vista do processo, de acordo com a
legislação em vigor, para conhecimento dessas objeções.

Ainda sobre a minuta de declaração de propósitos, deve-se destacar que a


observância da forma nessa fase é fundamental, veja-se alguns aspectos formais da sua
formação e publicação, conforme determina o próprio Banco Central39:

Análise prévia da minuta de declaração em nome do controlador

 7.      A declaração de propósito em nome dos integrantes do grupo de


controle deve ser apresentada sob a forma de minuta, elaborada conforme
modelos Sisorf 8.1.30.5 ou 8.1.30.4 (no caso de contemplar também a
declaração de propósito por parte dos administradores), juntamente com os
documentos que compõem a instrução inicial do processo (Circ. 3.649/2012,
art. 2º, I).

 8.      O Deorf (Departamento de Organização do Sistema Financeiro)


examina se o teor da minuta de declaração de propósito é compatível com o
disposto na regulamentação vigente e com as características do pleito. No
caso de não existir óbice, quando da comunicação de manifestação favorável
à proposta do empreendimento, o Deorf (Departamento de Organização do
Sistema Financeiro) informa aos interessados que a publicação da declaração
de propósito poderá ser providenciada e menciona o número do processo que
deve constar no texto da publicação.

O inc. II do art. 6º disciplina aquilo que deve ser o coração da fase de constituição de
um banco múltiplo digital e de todo o projeto de sua criação, trata-se do plano de negócios,
que é composto dos seguintes documentos:

39
https://www3.bcb.gov.br/sisorf_externo/manual/04-03-030-010.htm
49

II - apresentação de plano de negócios composto pelos seguintes


documentos, abrangendo o período estipulado pelo Banco Central do Brasil
na forma do § 2º deste artigo:

a) plano financeiro, que deve demonstrar a viabilidade econômico-financeira


do projeto e do qual devem constar:

1. premissas econômicas;

2. premissas do projeto;

3. metodologia utilizada para a avaliação do negócio;

4. projeção, elaborada em periodicidade mensal, das demonstrações


financeiras e do fluxo de caixa;

5. estrutura de capital e fontes de financiamento;

6. estimativa da taxa de desconto, calculada com base em metodologia


amplamente aceita de cálculo de custo de capital próprio;

7. cálculo do Valor Presente Líquido (VPL) do projeto com base no Fluxo de


Caixa Disponível ao Acionista;

8. descrição das variáveis críticas para o sucesso do empreendimento, assim


como a construção de três cenários (base, conservador e ideal), em que seja
possível verificar o impacto gerado por mudanças dessas variáveis nos
resultados obtidos;

b) plano mercadológico, que deve contemplar os seguintes tópicos:

1. objetivos estratégicos do empreendimento;

2. descrição do mercado em que a instituição pretende atuar, contemplando


os riscos nele existentes e os decorrentes de eventual concentração de
negócios;
50

3. público-alvo;

4. principais produtos e serviços a serem ofertados;

5. análise da concorrência;

6. tecnologias a serem utilizadas na colocação dos produtos e


dimensionamento da estrutura de atendimento;

c) plano operacional, detalhando os seguintes aspectos:

1. a composição societária própria e do grupo econômico a que pertence a


instituição, explicitando, em todos os níveis de participação, os integrantes
do grupo de controle, os detentores de participação qualificada, os
participantes estrangeiros, se houver, bem como as respectivas quantidades e
espécies de ações ou de quotas detidas, até que fique evidenciado quem são
os controladores finais;

2. o relacionamento que a instituição pretende manter com as demais pessoas


naturais ou jurídicas que compõem o grupo econômico do qual ela faz parte;

3. os padrões de governança corporativa e a estrutura de gerenciamento do


negócio;

4. o organograma da instituição e a política de pessoal;

5. a estrutura física;

6. os controles internos, a estrutura a ser utilizada no gerenciamento de


riscos, os planos de contingência a serem adotados e a indicação dos
sistemas, procedimentos e controles a serem utilizados para a detecção e a
prevenção de operações cujas características possam indicar a existência dos
crimes tipificados na Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998;

7. a estrutura prevista para atender as exigências do Banco Central do Brasil


no que se refere ao fornecimento de informações para fins estatísticos e de
51

supervisão e à divulgação de demonstrações contábeis nos padrões


estabelecidos;

Veja-se o período que deve ser abrangido pelo plano de negócios:

§ 2º Com referência aos documentos de que trata o inciso II do caput, o


Banco Central do Brasil, levando em conta a natureza e o porte da
instituição, poderá:

I - estipular período mínimo de abrangência a ser considerado na elaboração


desses documentos;

II - adequar o atendimento dos requisitos estabelecidos.

Na busca de trazer ao presente livro alguns exemplos de planos de negócios reais,


buscou-se junto ao Banco Central, no setor de Acesso à Informação, os planos do Banco Itaú
Unibanco S/A e do Banco Cruzeiro do Sul S/A, todavia ambos os requerimentos foram
indeferidos, sob a alegação de que se tratam de documentos protegidos pelo sigilo
empresarial, nos termos do no art. 22 da Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 (Lei de
Acesso à Informação – LAI), além do mais o indeferimento também se assentou sob a
proteção conferida pelo art. 5º, § 2º, do Decreto nº 7.724, de 16 de maio de 2012, que
regulamenta a LAI no âmbito do Poder Executivo Federal, e que protege informações
empresariais sensíveis.

O inc. III do art. 6º da Resolução ora em análise, traz o requerimento de apresentação


dos atos societários, ou atos constitutivos da nova instituição financeira, os quais devem ser
encaminhados para a análise do Banco Central em conjunto com a ata da assembleia geral de
constituição e o instrumento particular de constituição, bem como todos os outros documentos
requisitados no modelo Sisorf de nº 8.1.10.46 que segue em anexo III. Leia-se:

III - apresentação das minutas dos atos societários de constituição da pessoa


jurídica objeto da autorização para funcionamento;
52

E, conforme informações do próprio Banco Central, os principais elementos de


análise nessa fase são os seguintes40

Elementos principais do exame do processo

 1.      Na etapa do processo relativa ao pedido de aprovação dos atos


societários de constituição da sociedade são examinados:

a)   a conformidade das deliberações, das informações apresentadas e do


estatuto ou contrato social com as minutas dos atos societários previamente
submetidas ao Banco Central do Brasil;

b)   o atendimento, pelos eleitos, às condições básicas para o exercício de


cargos em órgãos estatutários ou contratuais;

c)    a inexistência de restrições que possam, a juízo do Banco Central do


Brasil, afetar a reputação dos eleitos para cargos estatutários ou contratuais;

d)   os aspectos legais e regulamentares relativos à integralização do capital


social e o recolhimento dos valores ao Banco Central do Brasil;

e)   a comprovação da origem dos recursos utilizados no empreendimento;

f)    as informações relativas ao pleito registradas no Unicad.

O próximo inciso, o IV, trata de garantir que as pessoas envolvidas nos projetos de
constituição não são aventureiros, mas pessoas que possuem condições financeiras de arcar
com eventuais prejuízos causados no Mercado Financeiro, veja-se:

IV - demonstração de capacidade econômico-financeira compatível com o


porte, a natureza e o objetivo do empreendimento, a ser atendida, a critério
do Banco Central do Brasil, pelo grupo de controle ou, individualmente, por
cada integrante do grupo de controle;

Mas uma garantia de idoneidade dos controladores e detentores de participação


qualificada foi acrescentada a Resolução por meio do inc. V, leia-se:

40
https://www3.bcb.gov.br/sisorf_externo/manual/04-03-050-050.htm
53

V - inexistência de restrições que possam, a juízo do Banco Central do


Brasil, afetar a reputação dos controladores e dos detentores de participação
qualificada, aplicando-se, no que couber, os requisitos estabelecidos nos arts.
2º e 3º do Anexo II desta Resolução.

Ou seja, nessa fase a apresentação de certidões negativas de restrições junto aos


vários órgãos da União, Estados e Municípios devem ser apresentadas.

Passada a fase de apresentação de documentos e declarações, e com a manifestação


favorável do Banco Central, o art. 7º prescreve as providências a serem tomadas, nos
seguintes termos:

Art. 7º No prazo de 180 (cento e oitenta) dias a contar do recebimento da


manifestação favorável do Banco Central do Brasil a respeito do
cumprimento das condições previstas no art. 6º, os interessados deverão:

I - formalizar os atos societários de constituição da pessoa jurídica a ser


objeto da autorização para funcionamento pelo Banco Central do Brasil,
levando-os, após a aprovação da Autarquia, a arquivamento no Registro de
Comércio;

Aqui já se inicia a fase de constituição de uma instituição financeira que se equipara


a constituição de qualquer outra empresa, todavia, nesse caso existem algumas
particularidades que diferenciam a primeira das empresas ordinariamente constituídas.

O inc. II continua prevendo as atividades necessárias para que os planos de negócios


sejam efetivados, veja-se:

II - implementar a estrutura organizacional, contemplando as estruturas de


governança corporativa, de gerenciamento do negócio, de controles internos
e de gerenciamento de riscos, a contratação dos sistemas eletrônicos e da
mão de obra, a aquisição de equipamentos e a adoção de todas as demais
providências previstas no plano de negócios e necessárias às atividades da
instituição;
54

Nessa fase, o banco múltiplo digital, já está quase pronto para iniciar as atividades,
todavia, ainda existem mais algumas barreiras que precisam ser superadas para que a
autorização para funcionamento seja concedida, entre elas está a inspeção do Banco Central,
que realizará a cerificação da estrutura organizacional, veja-se:

III - apresentar ao Banco Central do Brasil requerimento solicitando a


realização de inspeção a fim de verificar a estrutura organizacional
implementada.

Faz-se necessário um esclarecimento a respeito da aplicação da Lei das Sociedades


Anônimas na constituição de um agente financeiro, que é a sua subsidiariedade, ou seja, ela só
será aplicada no caso de omissão na Resolução nº 4.122 e na Lei nº 4.595, o que mesmo que
aconteça pode ser remediada a contento pelo Banco Central, nos termos do art. 9º da
Resolução nº 4.122, evitando-se a aplicação da Lei das S/A’s a esse tipo de empresa tão
particular, como é um agente financeiro.

Para melhor compreensão, leia-se a disposição do §1º e seus incisos do art. 7º do


Anexo I da Resolução nº 4.122:

§ 1º O estatuto ou contrato social da pessoa jurídica de que trata o caput,


inciso I, deverá conter, expressamente, cláusula estabelecendo que:

I - até a expedição da autorização para funcionamento da instituição, é


vedada a realização de qualquer atividade, especialmente operações
privativas das instituições de que trata o art. 1º, permitidas somente aquelas
necessárias ao cumprimento do disposto neste artigo;

II - a sociedade será regida subsidiariamente pela lei das sociedades


anônimas, nos termos do art. 1.053, parágrafo único, da Lei nº 10.406, de 10
de janeiro de 2002 (Código Civil), quando não organizada sob a forma de
sociedade anônima.
55

É certo que as inspeções do Banco Central são regulares e minuciosas após a


expedição da autorização para funcionamento, todavia, nessa primeira fase, a de constituição,
as vistorias se repetem, trazendo sempre um motivo diferente, que no caso do art. 8º terá
como objetivo a maior ou menor adequação da estrutura organizacional prevista no plano de
negócios com a que efetivamente foi construída, veja-se:

Art. 8º No prazo de noventa dias a contar do recebimento do documento


previsto no art. 7º, inciso III, o Banco Central do Brasil realizará inspeção na
instituição, a fim de avaliar a compatibilidade entre a estrutura
organizacional implementada e aquela prevista no plano de negócios.
(Redação dada pela Resolução nº 4.308, de 30/1/2014.)

Parágrafo único. Constatada incompatibilidade entre a estrutura


organizacional existente e a prevista no plano de negócios, o Banco Central
do Brasil determinará prazo para correção, após o qual, em caso de
desatendimento, indeferirá o pedido.

Depois de muito trabalho e planejamento, enfim, após a constatação de que a


estrutura organizacional montada se adéqua ao plano de negócios, o Banco Central exige a
apresentação de mais alguns documentos, que estão previstos no art. 9º, leia-se:

Art. 9º Constatada a adequação da estrutura organizacional, a autorização


para funcionamento dependerá da apresentação, ao Banco Central do Brasil,
no prazo de 90 (noventa) dias, de documentação comprobatória da adoção
das seguintes providências:

I - alteração do estatuto ou contrato social da pessoa jurídica a que se refere


o inciso I do art. 7º, a fim de adequar seu capital social ao montante previsto
no plano de negócios;

II - eleição dos administradores e demais membros dos órgãos estatutários


ou contratuais da instituição;

III - comprovação da origem dos recursos utilizados no empreendimento.


56

Por fim, o art. 10 põe termo final à fase de constituição de um banco múltiplo digital,
prevendo a expedição da autorização para seu funcionamento:

Art. 10. Verificado, pelo Banco Central do Brasil, o atendimento das


condições previstas no art. 9º, será expedida autorização para funcionamento
da instituição.

Parágrafo único. Expedida a autorização referida no caput, a instituição será


considerada em funcionamento, para efeitos de aplicação e observância da
regulamentação em vigor.

Com isso, percorremos todas as fases da constituição de um banco múltiplo digital,


que após receber autorização para funcionamento ainda permanecerá em período probatório
por tempo determinado pelo Banco Central, caso consiga atingir as metas previstas no plano
de negócios passará a exercer suas atividades com plenitude.

CONCLUSÃO

Com isso, ficou demonstrada a viabilidade econômica da entrada no Mercado


Financeiro de um novo banco múltiplo digital, ainda mais se o mesmo contar com uma
carteira comercial, uma vez que a movimentação e as aplicações financeiras via mobile
crescem e apresentam boas perspectivas de ampliação a curto prazo

No mais, a presente pesquisa teve início com a exposição da história das instituições
financeiras em geral, nesse ponto se concentrando na exposição sumária da evolução histórica
do sistema monetário brasileiro, passou pela parte conceitual, onde alguns conceitos
fundamentais à análise do tema proposto foram esclarecidos, e teve fim com a descrição
pormenorizada de como constituir um banco múltiplo digital.

Desse modo, o presente livro chega ao fim, espera-se que este tenha servido para
seus leitores.
57

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Lei nº 4.595/64 (a chamada lei da reforma bancária)
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Resolução nº 3.040/02 do BACEN
Resolução nº 4.122/12 do BACEN
Resolução nº 2.099/94 do BACEN

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