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EXMO. SR. DOUTOR JUIZ DO JUIZADO ESPECIAL


FEDERAL DE CAMPO GRANDE/MS

PROCESSO Nº 5006992-40.2022.403.6000

JORGE ALENCAR OLIVEIRA SILVA, já


devidamente qualificado nos autos desta ação de obrigação de fazer
que promove em face da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, vem à
presença de V. Exa., respeitosamente, interpor EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO, com fundamento no art. 1.022 do Código de
processo Civil, em razão da omissão existente na r. decisão, pelos
motivos a seguir expostos.

1- BREVE RELATO
A r. decisão interlocutória embargada negou
provimento ao pedido liminar da ação com fundamento na afirmação
de que o FGTS do Autor encontra-se bloqueado para garantia de
empréstimo feito frente ao Banco Mercantil do Brasil, bem como na
suposta insuficiência de provas de que o mútuo não foi celebrado pelo
Autor e que se trata de fraude.

Por fim, entendeu que a ação de nº 0801166-


26.2022.8.12.0043, que tramita na justiça Estadual é que deve
liberar ou manter bloqueado as verbas de FGTS do Autor, como se
houvesse falta de legitimidade da Caixa para figurar na presente ação.

É o breve relato.

2- RAZÕES PARA PROVIMENTO DOS EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO – ART. 2º, §2º, DA LEI Nº 8.036/1990

Tanto a suposta ilegitimidade da Caixa para


participar da presente ação como a ausência de provas idôneas são
superadas pelo fato de que o art. 1º, §5º, I e II, da Lei nº 13.313/2016
afirma que a consignação de empréstimos por meio do FGTS é

 
 
limitada a 10% (dez por cento) do saldo TOTAL em conta e pode
abranger a totalidade APENAS do valor da multa rescisória paga pelo
empregador, leia-se:

Art. 1o Os empregados regidos pela Consolidação


das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-
Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, poderão
autorizar, de forma irrevogável e irretratável, o
desconto em folha de pagamento ou na sua
remuneração disponível dos valores referentes ao
pagamento de empréstimos, financiamentos,
cartões de crédito e operações de arrendamento
mercantil concedidos por instituições financeiras e
sociedades de arrendamento mercantil, quando
previsto nos respectivos contratos.

§ 5º Nas operações de crédito consignado de


que trata este artigo, o empregado poderá
oferecer em garantia, de forma irrevogável e
irretratável

I - até 10% (dez por cento) do saldo de sua conta


vinculada no Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço - FGTS;

II - até 100% (cem por cento) do valor da multa


paga pelo empregador, em caso de despedida
sem justa causa ou de despedida por culpa
recíproca ou força maior, nos termos dos §§ 1º
e 2º do art. 18 da Lei nº 8.036, de 11 de maio
de 1990.

Ou seja, a consignação objeto da presente ação se


deu sobre a totalidade do saldo de FGTS do Autor, o que é ilegal e, por
vias oblíquas, demonstra a mais completa ausência de boa-fé do banco
que realizou o empréstimo nesses termos.

Por outro lado, a parte Ré, Caixa Econômica, NÃO


poderia ter realizado o bloqueio acima dos 10% (dez por cento)

 
 
determinados por lei, com o que agiu de forma ERRADA e CONTRÁRIA
A LEI, com o que é parte legítima na demanda.

De mais a mais, o FGTS é obtido pelo trabalhador


“a título de indenização trabalhista”, conforme foi decidido pelo
Superior Tribunal de Justiça no AgInt no REsp nº 1.540.155/SP, com
o que se vislumbra a proteção a estas verbas pelo ordenamento
jurídico, sendo o FGTS, inclusive, absolutamente impenhorável, nos
termos do art. 2º, § 2º, da Lei n. 8.036/19901.

Veja-se também que na página da Internet do


FGTS2, gerida pelo Governo Federal, essa mesma informação é
ensinada da seguinte forma:

Entenda Como Usar o FGTS Como Garantia de


Empréstimo Consignado

O trabalhador titular de conta do FGTS com vínculo


empregatício ativo poderá, nas operações de crédito
consignado, oferecer como garantia até 10% (dez
por cento) do saldo de sua conta vinculada FGTS e
até 100% (cem por cento) do valor da multa paga
pelo empregador.

O trabalhador interessado em utilizar parte dos


saques do FGTS, nas situações contidas na Lei nº
13.313/2016, como garantia em operação de
empréstimo consignado, deverá dirigir-se
diretamente à Instituição Consignatária de sua
preferência, que possuir convênio com o seu
empregador, para formalizar a autorização para a
consulta de suas margens consignáveis ou, em
sendo o caso, para a reserva dos valores a serem
requeridos pela Instituição Consignatária por ele

 
1 Art. 2º O FGTS é constituído pelos saldos das contas vinculadas a que se refere esta lei e outros recursos
a ele incorporados, devendo ser aplicados com atualização monetária e juros, de modo a assegurar a
cobertura de suas obrigações.
§ 2º As contas vinculadas em nome dos trabalhadores são absolutamente impenhoráveis. 
2 https://www.fgts.gov.br/Pages/sou-trabalhador/fgts-garantia-emprestimo-consignado.aspx

 
 
eleita. Um instituição consignatária pode ser o seu
Banco de relacionamento ou até uma Financeira.

O valor reservado, a título de até 10% do saldo, no


ato da contratação, será separado dos valores
constantes da conta do FGTS de sua titularidade,
ficando indisponível para outras movimentações,
até a finalização da operação ou a execução da
garantia.

Quando da rescisão do contrato de trabalho por


despedida sem justa causa, por culpa recíproca ou
força maior, o empregador informará à CAIXA se o
trabalhador possui empréstimo consignado com
garantia do FGTS e a Instituição Consignatária
onde foi contratado para poder realizar a execução
da garantia.

Por esse motivo o bloqueio da integralidade das


verbas depositadas no FGTS é ILEGAL e deve ser limitada, nos termos
da Lei a apenas 10% (dez por cento), com a liberação do restante,
tendo em vista a sua natureza alimentar.

Veja-se que a natureza do FGTS e o cuidado que


se deve ter com essa verba, em razão de ter caráter alimentar, é tão
sublime que no informativo 614, o Superior Tribunal de Justiça assim
se manifestou:

Ementa Oficial

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL.


EXECUÇÃO. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS.
PENHORA. SALDO DO FUNDO DE GARANTIA POR
TEMPO DE SERVIÇO. FGTS. IMPOSSIBILIDADE. 1.
Recurso especial interposto contra acórdão
publicado na vigência do Código de Processo Civil
de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e
3/STJ).

2. Cinge-se a controvérsia a verificar a


possibilidade de penhora do saldo do Fundo de

 
 
Garantia por Tempo de Serviço - FGTS para o
pagamento de honorários de sucumbência.

3. O Superior Tribunal de Justiça, em linhas gerais,


tem dado interpretação extensiva à expressão
"prestação alimentícia" constante do § 2º do artigo
649 do Código de Processo Civil de 1973,
afastando a impenhorabilidade de salários e
vencimentos nos casos de pagamento de
prestações alimentícias lato senso, englobando
prestação de alimentos stricto senso e outras
verbas de natureza alimentar, como os honorários
advocatícios contratuais e sucumbenciais.

4. A hipótese dos autos não é propriamente de


penhora de salários e vencimentos, mas, sim, de
saldo do fundo de garantia por tempo de serviço -
FGTS, verba que tem regramento próprio.

5. De acordo com o artigo 7º, III, da


Constituição Federal, o FGTS é um direito de
natureza trabalhista e social. Trata-se de uma
poupança forçada do trabalhador, que tem
suas hipóteses de levantamento elencadas na
Lei nº 8.036/1990. O rol não é taxativo, tendo
sido contemplados casos diretamente relacionados
com a melhora da condição social do trabalhador e
de seus dependentes. 6. Esta Corte tem admitido,
excepcionalmente, o levantamento do saldo do
FGTS em circunstâncias não previstas na lei de
regência, mais especificamente nos casos de
comprometimento de direito fundamental do titular
do fundo ou de seus dependentes, o que não ocorre
na situação retratada nos autos.

7. Recurso especial não provido.

(REsp 1619868/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS


BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
24/10/2017, DJe 30/10/2017)

 
 
Desse modo, a parte Ré não pode bloquear o
levantamento dos 90% (noventa por cento) referentes a saldos do
FGTS do Autor.

3- PEDIDOS E REQUERIMENTOS FINAIS


Face ao exposto e pelo mais que dos autos constam
o Autor requer, respeitosamente, que os presentes embargos de
declaração sejam conhecidos e providos, com efeitos infringentes, para
reformar a r. decisão embargada e determinar que a Caixa libere
imediatamente a verba que exceda os 10% (dez por cento) de FGTS
depositado.

Publicações e intimações exclusivamente em nome


de LUIZ EPELBAUM OAB/MS 6.703-B.

Nestes termos,
P. deferimento.

Campo Grande/MS, 13 de agosto de 2022


Luiz Epelbaum
OAB/MS 6703B

Amalryr Mascarenhas Cerqueira


OAB/MS 24.166

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