Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ECONOMIA I
O que é economia? Robbins afirma que a economia é a ciência social que estuda as opções que
fazemos face à raridade dos bens que satisfazem as nossas necessidades.
(Apesar de ser uma ciência social também existe mesmo com o homem isolado, por exemplo
Crusoe quando estava sozinho na ilha continuava a ter um conjunto de necessidades e
escassez de recursos)
Necessidades → Tudo aquilo que gera carência no indivíduo face ao qual ele vai tentar corresponder
Bens → Meios que utilizamos para satisfazer as necessidades. Há 2 tipos:
1. Bens livres ↠ Existem em quantidade e condições tais que podem ser obtidos
sem esforço, como o ar que respiramos.
⇩
Como temos necessidades ilimitadas e bens limitados devemos fazer escolhas.
Queremos satisfazer da melhor forma possível as nossas necessidades pelo menor
esforço possível.
O pai da economia (Adam Smith) em 1776 escreveu a obra A Riqueza das Nações. Nesta obra
ele conta que uma vez sentou-se a jantar e pensou que ia satisfazer a sua necessidade mas que, por
exemplo, não era devido à bondade do padeiro que tinha pão - aquilo que o padeiro queria era receber
bens/vantagens que o permitissem satisfazer as suas próprias necessidades.
Mas a relação económica entre Smith e o padeiro não era caótica, então o que a regulava? O
facto de os seus comportamentos, apesar de diferentes, se regerem pela mesma necessidade de
prosseguir o seu interesse próprio - o Princípio da Racionalidade1.
Este padrão comum faz com que os defeitos individuais correspondam a vantagens públicas.
Julgava-se então que houvesse uma mão invisível a organizar as relações em sociedade.
⇩
Esta ordem natural julgava-se divina, agora julga-se inerente - dado resultar de cada
indivíduo possuir razão.
Isto significa que não devem haver intervenções externas que abalem este equilíbrio,
SEGUNDO SMITH.
Para Adam Smith, como não devem existir intervenções externas na economia, o Estado
deve estar limitado a assegurar os órgãos de soberania e ser dono de espaços que não
1
Princípio da Racionalidade - Cada indivíduo escolhe aquilo que supõe ser a melhor opção disponível, ou
seja, que permite a maior satisfação com o mínimo esforço. Procura sempre satisfazer o seu interesse próprio.
Noa Brighenti
2
Economia Relacional relaciona os meios com os fins, as vantagens com os custos, sem
valorização axiológica.
→ Há uma ordenação de preferências: colocamos em primeiro o que nos dá mais prazer e
aplicamos os recursos segundo essa lista.
Nos anos 50 Herbert Simon publicou um artigo no qual falava de racionalidade limitada pois
afirmava que o ser humano falha e, por isso, não se pode assemelhar ao homo oeconomicus;
que não nos é possível chegar a todo o conhecimento e que, mesmo que fosse possível, as
nossas capacidades são limitadas e não nos permitiriam tratar toda a informação, para além de que há
2
Homo Oeconomicus- É um termo financeiro utilizado pelos economistas de uma ideia utópica do ser humano
como modelo perfeito de racionalidade.
3
O método dedutivo rege-se segundo uma forma lógica válida de forma a que se as premissas forem
verdadeiras a conclusão é obrigatoriamente verdadeira
4
O método indutivista parte do estudo de um número de casos particulares para chegar a uma verdade geral.
Noa Brighenti
3
ainda informação à qual podemos ter acesso mas não compreendemos (como um professor pode não
saber como funciona a mecânica de um carro). Tentarmos possuir toda a informação disponível
acarretaria custos explícitos e implícitos.
↠ Por exemplo, se eu quisesse comprar a esferográfica mais barata de Lisboa teria de ir ver o
preço de todas as lojas o que me implicaria ter de gastar dinheiro na deslocação (custo
explícito) e estaria também a gastar tempo (custo implícito).
Gossen (alemão) criou certos ensinamentos económicos que depois foram repensados pela
Revolução Marginalistas, destacando-se nela Jevons, Menger e Walras.
1ª Lei de Gossen - a intensidade de uma necessidade decresce à medida que vão sendo
aplicadas doses sucessivas do mesmo bem até se alcançar o ponto de saciedade. (Também se
pode chamar lei de utilidade marginal crescente)
↠Por exemplo, quando eu tenho sede à medida que vou bebendo copos de água a minha
necessidade vai sendo suprimida e chego ao ponto de saciedade6. Quanto mais perto da
saciedade chegamos, menos utilidade tem a nossa ação.
5
Custo de Oportunidade - as oportunidades que são prescindidas quando fazemos uma escolha.
6
Ponto de Saciedade - ausência de escassez, i.e., equilíbrio ou mesmo superabundância dos meios face às
necessidades que eles podem satisfazer.
Noa Brighenti
4
⇩
Enquanto a utilidade total é crescente a utilidade marginal decresce - à medida que vou saciando, a
minha necessidade vai diminuindo e por isso a utilidade da ação também.
Uma ação vale a pena quando as vantagens são superiores ou iguais ao custo
As trocas são jogos nos quais os participantes visam lucrar - jogos de soma positiva. Estas só
ocorrem pois trazem vantagens tanto ao vendedor como ao consumidor - se fosse um jogo de soma
zero7 então levaria ao isolamento.
O vendedor lucra pois vendeu o seu produto por um valor superior ao do seu custo de produção
e o consumidor lucra pois por 10 satisfez uma necessidade que valia 12.
Quanto maior for a dimensão do mercado maiores são as vantagens dado que há mais potencialidade
de trocas.
7
Jogo de Soma Zero - O que o vencedor ganha é a soma da perda dos restantes. Só é vantajoso para um dos
lados.
Noa Brighenti
5
Numa economia de mercado a atividade económica é condicionada pelas forças que animam
as trocas - sendo o mercado a ocasião dessas trocas - predominando assim a liberdade de
conformação (conformação = resignação) de direitos e deveres conexos com os interesses em jogo, por
recurso às formas contratuais comuns.
⇩
A eficiência e justiça do mercado não são confiados a ninguém, presumindo que elas resultarão de uma
ordem espontânea, centrada no mecanismo dos preços
⇩
O maior obstáculo à pretensão dirigista e planificadora da economia é que a iniciativa política
que interfira no mecanismo dos preços pode gerar um risco de grave instabilidade económica.
⇩
Entre os dois tipos de mercado ocorre um fluxo circular de produtos e fatores e um contrafluxo
de pagamentos, entre consumidores e produtores.
Noa Brighenti
6
⇩
As famílias fornecem fatores de produção e consomem bens e serviços,
as empresas produzem bens e serviços e utilizam fatores de produção.
Noa Brighenti
7
O QUE UMAS GANHAM AS OUTRAS GASTAM - o rendimento total é equivalente à despesa total.
O Estado pode intervir mais ou menos nos mercados. A sua intervenção é feita com o objetivo
de emendar as falhas de mercado8 - fá-lo sem ter a necessidade de se colocar numa posição de
proeminência, bastando-lhe frequentemente entrar no próprio jogo livre do mercado munido do seu peso
económico e dos meios que dispõem para contrabalançar as forças causadoras destas falhas.
Existem três razões para a intervenção do Estado:
1. Ignorância das leis económicas
2. Imperativo de justiça
3. Imperativo de eficiência - aqui entram as falhas de mercado
1. Ignorância das leis económicas
Quando o Estado age desconhecendo os requisitos e implicações da atitude intervencionista e
acaba por agravar os problemas que pretendia resolver, como quando um grupo reivindica almoços
grátis mas satisfazer a necessidade de uns acaba por resultar na carência absoluta de todos os outros.
2. Imperativo de justiça
O Estado aqui intervém para redistribuir a riqueza. O que acontece quando a economia se gere
autonomamente é que há grupos de pessoas que são beneficiados e outros que, pelo contrário, são
prejudicados, como por exemplo os deficientes dado não conseguirem desempenhar uma profissão.
Assim, o Estado redistribui a riqueza para que esta chegue a todos. Pode fazê-lo com
transferências diretas, como é o caso dos subsídios de desemprego, ou com impostos pois quando
estes são progressivos pretendem ajudar quem tem menos ao retirar uma menor percentagem dos seus
rendimentos.
3. Imperativo da eficiência
➔ Externalidades - Efeitos externos quanto ao mecanismo dos mercados que a atuação
económica de um sujeito produzem na esfera jurídica de outrem sem que este segundo
seja indemnizado (caso sejam negativos) ou tenha de pagar qualquer compensação
(caso sejam positivos).
◆ Por exemplo, CASO DE EXTERNALIDADE NEGATIVA imaginemos uma fábrica
que utilize a água de um rio para a produção de produtos e depois a restitua
poluída, resultando que os pescadores agora não conseguem pescar tantos
peixes e perderam parte do seu rendimento, os agricultores também já não
conseguem usar a água do rio para regar as suas hortas e as pessoas já não
podem lavar a roupa naquela água.
O fabricante está então a usar um recurso que é de todos sem o
pagar. O fabricante está a obter vantagens pois ao usar a água do rio tem menos
custos de produção, mas em contrapartida a comunidade que vive à volta daquele
recurso já não pode usufruir dele.
Como os custos da sua produção são mais baixos o fabricante
tem o incentivo de produzir mais e ultrapassar desta forma a quantidade ótima
que a sociedade quer ver produzida. O Estado então intervém na economia para
fazer com que o fabricante pague mais impostos, o custo de produção aumente,
8
Falhas de mercado - todo o tipo de perdas de eficiência resultante do funcionamento espontâneo do mercado.
Noa Brighenti
8
➔ Assimetrias informativas - ocorrem quando uma das partes da transação tem uma
vantagem informativa e utiliza-a a seu favor, à custa da contraparte.
◆ Existem 2 tipos:
1. Seleção adversa, afeta uma potencial transação antes dela acontecer.
Por exemplo, Foi mostrado por Akerlof que no mercado dos
carros usados quem tem mais informação sobre os automóveis é o
vendedor (se tiveram alguma acidentes, como foi feita a revisão,...) e
obviamente não vai disponibilizar esta informação ao comprador.
Como os compradores são mais ignorantes só estão
disponíveis a pagar um preço médio sobre os carros e os vendedores vão
mostrar-lhe os piores carros em vez dos melhores, pois com os primeiros
podem ganhar um preço superior ao que eles valem.
Assim os compradores vão pensar que os carros em segunda
mão são maus e da próxima vez vão oferecer um preço ainda mais baixo,
o que faz com que todos os bons carros saíam do mercado dado não
serem vendidos.
No final isto vai levar ao estreitamento do mercado ou até
mesmo à sua extinção.
Em ambos os casos o Estado pode seguir três vias para a sua intervenção:
Noa Brighenti
9
1. Produção direta de bens, serviços ou conteúdos informativos que estejam a ser subproduzidos
pelo mercado - estadualizando parcial ou totalmente alguns setores produtivos - ou a aquisição
desses bens, serviços e informações a produtores privados - estabelecendo convénios9 com
eles.
Porém, a intervenção do Estado pode levar a falhas de intervenção (ideia que surgiu nos
anos 70 com o fim da teoria neoclássica), o que acontece pois o Estado é administrado por pessoas que
falham e não são sempre justas, pois é inevitável que as intervenções não contenham informação
imperfeita, deficiências de planeamento e execução, quebras de comunicação,...
Antes do Estado intervir deve averiguar se vai aumentar a eficiência, ter impacto redistributivo
desejável ou se a intervenção vai ser prosseguida a um custo razoável - se alguma destas respostas for
negativa então temos um falha de intervenção e mais vale deixar que o mecanismo autónomo do
mercado se resolva sem intervenção estadual.
9
Convénio - ajuste entre partes interessadas, pacto.
10
diacronia - carácter dos fenómenos ou factos, especialmente linguísticos, estudados do ponto de vista da sua
evolução no tempo.
Noa Brighenti
10
⇩
O progresso económico transporta consigo um risco estrutural
Na fronteira encontramos a máxima eficiência produtiva (ou seja, não á desperdícios, todos
os recursos estão a ser usado ao máximo), sabendo que quando escolhemos produzir uma maior
quantidade de um bem há um custo de oportunidade associado ao outro.
Noa Brighenti
11
Apesar da poupança ter sido benéfica para a formiga não quer dizer que seja benéfica para
todos segundo a falácia da composição: o que é válido para um não tem de ser válido para todos. Uma
das verdades da macroeconomia é que a economia definha numa sociedade só composta por formigas
ou só composta por cigarras - é necessária ua combinação equilibrada das duas.
A ciência econômica tem uma linguagem privativa que não emprega - estes tecnicismos servem
para abreviar os conceitos e cadeias de raciocínios que são complexos e que reclamam, dado não
serem intuitivos, uma aprendizagem extensa e difícil.
Até ao séc. XX a Economia era sobretudo uma ciência social que recorria, por exemplo, a muitos
elementos psicológicos para chegar a teorias, como foi o caso da Teoria da poupança - perguntavam-se
o que levava as pessoas a querem poupar - desta altura um economista muito conhecido foi Keynes
Fisher.
Porém, depois dos anos 30, com Samuelson ocorreu uma formalização matemática e a
economia passou a ser uma ciência económica, que recorria ao método indutivista, ou seja, parte do
real para o abstrato - do particular para o geral.
Noa Brighenti
12
⇩
Porém não é por determinada coisa ter tendência a acontecer ou tinha acontecido muitas
vezes que vá acontecer no futuro. O ser humano rege-se segundo uma correlação e não
segundo uma lei física, pelo que é livre. A norma não é obrigatória.
⇩
Como o ser humano está envolvido na observação não tenta explicar os fenómenos mas antes
compreendê-los.
Para esta compreensão não vai analisar apenas a conduta humana mas também condutas
não-humanas, prescindindo da racionalidade intrínseca às motivações do ser humano, fá-lo por
exemplo através da observação de uma colónia de formigas.
Os fenómenos económicos por vezes são muito difíceis de determinar pois resultam do
entrechoque de motivações particulares que não coincidem com um padrão uniforme de motivação e
causalidade. Por esta mesma razão, a vida económica depende da diversidade pois se não houvessem
interesses particulares muito diversos entre si não haveria jogos de soma positiva - devido à dificuldade
que esta diversidade cria ao método científico da economia ele vai recorrer à estatística mas sem
explicar ou envolver-se nas motivações internas dos agentes económicos.
⇩
Assim torna-se mais fácil contribuir para o raciocínio indutivo, baseando-se apenas na
observação de fenómenos empíricos.
Assim sendo é habitualmente vedado para o economista a experimentação em contextos reais,
não simulados - toda a reprodução experimental, se é uma experimentação controlada requer artifícios,
e esses artifícios tendem a comprometer a motivação dos agente económicos, pelo que não
demonstram a sua motivação verdadeira.
Por isto os economista acabam por ser simples receptores passivos de dados, dados estes ou
dados históricos ou estatísticos (como vimos em cima as duas matrizes do indutivismo)
Noa Brighenti
13
Por ser uma forma simplificada de representar a realidade a ciência económica por vezes
limita-se a fazer referência ao comportamento isolado de uma variável, como se ela fosse única e não
interagisse com outras.
A reconstrução do mecanismo da causalidade12 implica que se admita pelo menos duas
variáveis, o que faz com que surjam implicações, como por exemplo como é que a identificação de uma
variável causal autoriza a abstração da sua condição de variável causada?
Então os economistas para chegar a uma descoberta teórica o que fazem é tentar perceber se
existe alguma afinidade recorrente entre variáveis, o que leva à interrogação se existe alguma razão
que leve a isto. O estudo das correlações aplica testes estatísticos aos dados (testes
econométricos) e multiplica as observações para que possa determinar se existe um padrão de
relacionamento.
A economia não consegue chegar a certezas pois para isso precisaria de aguardar pela
consumação dos tempos coisa que não é possível . a nossa prioridade é agir e isto só é possível se
substituirmos as certezas por um grau aceitável de probabilidade e de corroboração.
⇩
Então se são tão irrealistas porque criamos estes modelos económicos? Eles são um ponto de
comparação, quanto mais próximos estivermos deles mais próximos estamos da perfeição.
12
Causalidade - Influência da causa sobre o efeito.
Noa Brighenti
14
Na atividade económica há um grau de coordenação e harmonia que faz com que o todo
funcione, pois cada um desempenha funções específicas auxiliando os demais, mesmo que não o
desejasse. Isto cria uma interdependência.
A interdependência não reclama uma confiança intersubjetiva mas antes uma confiança
institucional - de que a complementaridade objetiva de interesses e aptidões tornará inevitável uma
conduta generalizada de cooperação.
A oportunidade para proceder a trocas vantajosas pressupõe que as pessoas têm necessidades
complementares, têm bens diversos e distintas aptidões para prestar serviços, para além de possuírem
informações a cerca da existência de parceiros.
⇩
Só participamos nas trocas porque pressupomos que vai ocorrer uma soma positiva. A nossa
cooperação é uma cooperação condicional - aceitamos a interdependência assentes na
convicção de que haverá reciprocidade.
O facto de uma pessoa se sentir insatisfeita com uma transação13 não significa que tinha sido
por ela prejudica nem que não tenha sido beneficiada - as trocas são voluntárias pelo que tem de existir
um benefício objetivo para que esta ocorra, mesmo que este benefício objetivo fique aquém do
subjetivamente esperado.
⇩
As trocas têm sempre um risco a eles associado, este risco pode ser reduzido se as transações se
fizerem acompanhar de sinalizações e garantias que incutam a impressão de seriedade ou que
permitam remediar resultados muito insatisfatórios ou desequilibrados.
A Teoria da Vantagem Absoluta dita que é a especialização que determina a posição que
cada um tem nas trocas, ou seja, o que cada um produz em excesso face às suas necessidades para
usar como troca para os outros bens e serviços que não produz.
Esta Teoria partiu do exemplo do tratado de Methuen - Portugal acordou com Inglaterra
exportar vinhos sem taxas alfandegárias e em troca Inglaterra fornecia-lhe têxteis. Adam Smith suponha
que isto era mais vantajoso para Portugal que para Inglaterra e para verificar isto olhou para as horas
de trabalho gastas na produção e verificou que para produzir uma peça de tecido Portugal
demorava, por exemplo, 90h enquanto que em Inglaterra demoravam 100h, já quanto ao vinho em
Portugal demoravam 100h e em Inglaterra 120h. Logo, olhando para os dois bens, o custo de produção
era sempre menor em Portugal, por isso Portugal em vez de recorrer a Inglaterra devia ter produzido
tudo sozinho.
↳Mas em que é que nos devemos especializar? Adam Smith foi o primeiro a tratar da
divisão e especialização do trabalho. Sendo que são necessárias 40 tarefas para fazer um
alfinete, se for só uma pessoa a fazê-lo demora muito tempo, mas se as 40 tarefas forem
divididas por 40 pessoas este trabalho vai ser muito mais rápido - cada pessoa especializa-se
13
Transação - unidade básica da atividade económica.
Noa Brighenti
15
numa só tarefa o que será mais produtivo mas também mais inovador dado que tentará arranjar
novas formas de a desempenhar.
⇩
Se existem tantas vantagens associadas a esta divisão e especialização e se isto ocorre dentro
de uma economia porque não fazê-lo ocorrer entre economias? - uns países especializam-se
numas coisas e outros noutras.
⇩
Esta dependência recíproca entre as várias economias produz um efeito de dominó envolvendo
em cadeia o destino económico de todos os agentes envolvidos.
A esta teoria junta-se uma teoria que não nega a anterior mas traz-lhe uma leitura diferente que
é a Teoria das Vantagens Comparativas ou Relativas de David Ricardo.
Esta teoria afirma que qualquer país, antes de se envolver nas trocas de um bem, deve olhar
para si próprio e ver o que faz com maior vantagem, comparando o custo das duas produções e aquilo
que ganha ou perde quando vai buscar recursos a uma outra produção. Por exemplo, um trabalhador
em Portugal é mais produtivo produzindo vinho, por isso se o colocarmos a produzir tecidos estamos a
perder mais do que a ganhar dado que nessa segunda produção ele vai ser menos produtivo.
⇩
O que faz sentido é colocar todos os produtores no local onde geram mais lucro.
David Ricardo defende que em termos de custo de oportunidade faz mais sentido que, quanto ao
Tratado de Methuen, Portugal se foque numa só coisa, ou seja, se foque apenas na produção de vinho
e deixe a produção dos tecidos para Inglaterra.
⇩
Imaginemos, agora, que os EUA produzem têxteis a um preço mais baixos ainda graças às suas novas
tecnologias em relação aos tecidos asiáticos - mesmo assim faz sentido os EUA desistam das
tecnologias (dado serem um dos países mais avançados nesta área) pelos tecidos? Não, porque as
tecnologias são mais valiosas que os têxteis, logo quando os americanos produzem tecidos estão a
perder o que ganhariam na produção de tecnologia. EUA devem largar os tecidos, focar-se só nas
tecnologias e comprar os tecidos a outros.
Noa Brighenti
16
Outro aspeto que complementa isto são as fontes das vantagens comparativas:
1. Lotações Naturais ou Herdadas - como o clima, as características do solo, se somos
bons a produzir vinho porque temos condições naturais para tal, mas também as
aptidões dos povos - um saber fazer que seja transmitido entre gerações e leve à
especialização em determinada área.
2. Lotações Adquiridas - reconduz ao conceito amplo de capital - conjunto de meios de
produção que tiveram de ser produzidos, o stock de recursos produtivos como
máquinas,...
3. Capital Humano - a formação e especialização do trabalhador - quanto maior for o nível
de capital humano maior é o nível de produção de uma economia.
As trocas são vantajosas mas isto pressupõe que ocorrem num ambiente internacional favorável
- onde exista livre troca ou livre cambismo. A isto se opõe a autarcia e protecionismo,
que estabelecem quotas ou taxas aduaneiras (alfandegárias) de forma a dificultar a importação.
Livre cambismo ≠Protecionismo
Dentro destes dois grandes cenários, que política económica deve um país aplicar? Se no século
XVIII estes autores (Adam Smith e David Ricardo) defendiam o livre cambismo era porque inglaterra era
um país mais desenvolvido que os outros em termos da revolução industrial, pois no século XIX já
defendiam o protecionismo, dado quererem proteger as suas indústrias para que estas ganhassem
robustez e conseguissem estar em paridade para com as outras indústrias do mercado internacional.
⇩
O protecionismo tende a ser bem acolhido num espaço nacional mas é muito prejudicial para os
agentes económicos pois quem beneficia dele são os produtores e não os consumidores.
O protecionismo tende a beneficiar as indústria que existem e estão estabelecidas porque as resguarda
da concorrência e faz com que não existam incentivos à inovação e diminuição de custos, logo os
preços ficam mais elevados para os consumidores
Noa Brighenti
17
Como dizia Marshall, o mercado é como uma tesoura - só opera porque tem duas lâminas,
sendo estas a procura e a oferta. Estas são, também, as forças de mercado.
A oferta é a atitude típica do vendedor que se dirige ao mercado para trocar o bem que
produziu por um preço. O referencial do valor para o produtor é o custo de produção.
A procura é a atitude típica de quem se dirige ao mercado para satisfazer as suas
necessidades através bens e serviços. O referencial do valor que determina a aceitação do preço é a
utilidade desse bem.
Ao contrário do que por vezes parece sugerir-se, a oferta e procura não designam conjuntos de agentes
que se dirigem ao mercado para aí se comportarem como blocos coesos, são apenas simplificações
modelares que impõem unidade onde existe diversidade.
⇩
A internet pode até promover o aumento da desigualdade económica se propiciar a
concentração dos ganhos das trocas num número progressivamente mais reduzido de participantes.
O mercado eletrónico B2B reporta-se essencialmente à multiplicação de transações entre
intermediários (explicados mais à frente) nas trocas de produtores de bens e serviços, visando
automatizar transações e simular mercados muito mais rápidos e baratos que os tradicionais.
A internet, porém, não garante especialmente a formação e manutenção de um ambiente
competitivo, mesmo que nunca tenha sido tão fácil entrar e sair do mercado, isso não impede a
subsistência dos tradicionais fenómenos de dispersão de preços e de concentração de mercado que
impedem o mecanismo optimizador das trocas de alcançar a plenitude dos seus objetivos.
Apesar desta Nova Economia não necessitar da criação de novos princípios da ciência
económica dado que não é uma realidade qualitativamente diversa daquela que tradicionalmente serviu
para o surgimento da teoria dos mercado, a verdade é que ela demonstra que um dos arquétipos que
tradicionalmente foi utilizado na análise das trocas que a revolução tecnológica nos permitiu perceber:
no mercado eletrónico as redes são partes contratantes que partilham algo em comum, em vez do
modelo de mercado casual de desconhecidos puramente caracterizados pela complementaridade dos
seus interesses.
Por isto agora o anonimato atomístico e amorfo não costumam ser a regra nas trocas que
passam a tender em concentrar-se em pólos moleculares de comunicação de interesses, de valores, de
sinalização e de reputação locais, de confiança adquirida em relacionamentos anteriores.
A criação destas redes pressupõe-se ser feita à margem do mecanismo de mercado, sendo que
esta multiplicidade de conexões pessoais prévias às trocas permite uma dispersão de risco de partilha,
mas também pode erradicar a incerteza nas vendas de modo similar ao que resulta da fidelização dos
comprador. POR ISTO, QUESTIONA-SE A EFICIÊNCIA DAS REDES.
Noa Brighenti
18
⇩
As relações entre estes bens não se presumem mas demonstram-se através da elasticidade
cruzada (será estudada mais à frente) que estabelece uma correlação entre os preços e
quantidades destes tipos de bem, permitindo demonstrar que são complementares ou
sucedâneos.
SÓ NESTES CASOS É QUE SE ANALISA CONJUNTAMENTE DOIS MERCADOS para
detetar as motivações dos agentes que passariam despercebidas numa análise separada.
Dentro dos mercados existem vários tipos que variam segundo dois extremos:
⇩
Dentro dos mercado encontra-se esta figura do intermediário, como quando
procuramos uma casa recorremos a um agente imobiliário ou se vamos comprar voos
recorremos a sites que comparam os preços das companhias aéreas.
Estes intermediários aproximam a procura da oferta - têm a função de partilhar a
informação. Este seu papel é muito importante pois o tempo é um bem escasso e por
isso impossibilita-nos de termos acesso a tanta informação - os intermediários
permitem-nos tomar decisões mais racionais com mais critérios e consequentemente
obter mais vantagens.
A ideia de que os mercados tendem a equilibrar-se havia já sido defendida por Adam Smith. A
este associou-se o Equilíbrio Walrasiano (León Walras) que dita que o equilíbrio seria alcançado
num mercado hipotético, com um intermediário capaz sem fatores externos ou qualquer imperfeição de
mercado, ajustar todas as licitações a um preço único - há uma limpeza feita pelo mercado
relativamente a agentes que gostariam de estar nele mas não conseguem vender ou comprar os bens a
determinado preço.
Noa Brighenti
19
⇩
Esta ideia do equilíbrio do mercado levou a um Princípio de Equilíbrio Geral - se o mercado se
equilibra todos os mercados se equilibram. Isto pressupõe, no entanto, que estejamos a funcionar com
um modelo de análise que é o da concorrência perfeita14. o que é isto?
1. Atonicidade - Existe uma multiplicidade de agentes na oferta e procura, pelo que estes são
pequenas partículas e consequentemente a sua entrada ou saída não altera o funcionamento do
mercado. Por exemplo, num mercado de cebolas em que as cebolas são todas semelhantes, se
um vendedor ou comprador sair desse mercado não faz mal, o mercado não se altera - nenhum
agente individualmente tem capacidade pela sua conduta de alterar o funcionamento do
mercado, pelo que não há poder de mercado15.
a. Price takers - aquele que não se esforça por manipular os preços pois sabe que isso
está fora do alcance da sua decisão pessoal, pelo que se conforma com o preço corrente
e se concentra no controlo dos custos de produção, tentando ao máximo diminui-los.
TEM UM INCENTIVO ADICIONAL PARA SER EFICIENTE.
b. Price makers - aquele que tem capacidade, através da sua conduta individual, de
manipular os preços a seu favor.
14
Concorrência Perfeita - Como já visto em matéria anterior, este modelo resulta de uma abstração e é
utilizado como ponto focal de comparação entre o modelo real e o modelo perfeito.
15
Poder de mercado - quando um agente económico tem capacidade individualmente para alterar o
funcionamento do mercado.
16
Custo histórico, Afundado ou Sunk Cost - São custos irrecuperáveis que nós não colocamos quando
fazemos os custos benefícios. Por exemplo quando vamos ao cinema e não estamos a gostar do filme temos duas
hipóteses. podemos ficar lá porque já gastámos o dinheiro ou então, do ponto de vista económico é esta a
resposta correta, como o dinheiro já está totalmente perdido não deve ser usado para tomar decisões e o que
devo fazer é sair - já gastei dinheiro, não vale a pena gastar mais tempo também.
Noa Brighenti
20
concorrência do ponto de vista estrutural dos mercados desde que os mercados se sintam
ameaçados, ou seja, não interessa se há 30 empresas ou 2 mas antes que existam condições
que os fazem sentir ameaçados. Por exemplo, se não existem barreiras de entrada no mercado
uma empresa mesmo que não tenha concorrência vai esforçar-se ao máximo para agradar a
procura pois se, eventualmente surgir outra empresa que com esta concorra, ela não perca a
sua posição vantajosa.
⇩
Os mercados concorrenciais são perfeitos quando englobam em si estas 3 características ou
imperfeitos se falhar 1 - normalmente falha ou atonicidade ou fluidez.
Exemplos de falta de fluidez - Ocorre quando não há fluidez pois os bens são
diferenciados - são substitutos próximos mas não são bens homogêneos. Por exemplo, se
estamos numa zona balnear cheia de restaurantes vamos encontrar restaurante de muitos tipos
- chinês, português, sushi, italiano - não é a mesma coisa mas saciam a mesma necessidade.
Acontece que o facto de existir esta heterogeneidade faz com que o produtor possa exercer
algum poder de mercado.
Noa Brighenti
21
A Procura, como já havíamos visto é a atitude típica de quem se dirige ao mercado para
satisfazer as suas necessidades através bens e serviços. O referencial do valor que determina a
aceitação do preço é a utilidade desse bem. Os compradores fazem-no no fundo estando dispostos a
adquirir o bem mas também por terem poder de compra17.
A Procura tem 3 acessões:
1. Individual - O pão que compro para mim
2. Mercado - Estudar o mercado do pão, mas apenas este
3. Procura agregada - Procura de todos os bens de uma economia
⇩
Há bens aos quais a Lei da Procura não se aplica. É o caso dos bens Veblen (têm muita
qualidade e são muito caros, como as lojas de roupa caras) e os bens Giffen (não têm
necessariamente muita qualidade, mas são bens indispensáveis ou que não têm substituição
- como as batatas em Inglaterra no séc. XIII).
2. Efeito de rendimento - Não basta a disposição de adquirir é necessário ter capacidade para
suportar o pagamento. Este efeito não significa que o rendimento em termos absolutos se altere:
17
Poder de compra - uma manifestação séria de uma disposição de pagar.
Noa Brighenti
22
se alguém ganha 100€ continua a ganhar 100€, o que se altera é o preço do bem. Se o preço do
bem aumenta, para comprar a mesma quantidade do mesmo temos de dar mais dinheiro, o que
implica que temos menos dinheiro para outros bens, logo a tendência é para diminuímos a
quantidade adquirida desse bem. Em termos relativos ficamos mais pobres se quisermos
adquirir a mesma quantidade do bem vendido ao preço mais caro.
Chamamos de bens normais aqueles cujo consumo aumenta com os
aumentos do rendimento disponível dos consumidores e bens inferiores aqueles cujo consumo
tende a evidenciar uma correlação inversa com as variações de rendimento, tendendo portanto a
diminuir quando o rendimento aumenta, e a aumentar quando o rendimento diminui.
Como já visto em cima, a Oferta é a atitude típica do vendedor que se dirige ao mercado para
trocar o bem que produziu por um preço. O referencial do valor para o produtor é o custo de produção.
↳ A Lei da Oferta apresenta o conjunto de
pontos mínimos da disposição de vender - o preço
mínimo a que alguém julgará compensador produzir e
vender mais uma unidade de um bem ou serviço.
Correlaciona o preço com a quantidade e diz-nos que
há entre eles uma correlação direta, uma tendência
(ceteris paribus) - quando o preço aumenta aumenta
também a quantidade oferecida e vice-versa. Isto ocorre
porque quanto maior for o preço maior é o incentivo
para produzir, abaixo de um determinado preço a
Noa Brighenti
23
quantidade oferecida será zero pois esse preço não pode sequer suportar o custo de produção.
Esta curva é positivamente inclinada.
⇩
A ascendência da curva deve-se à Lei dos Rendimentos Marginais Decrescentes ou Lei
dos Custos Marginais Crescentes que dita que a partir de determinado ponto para produzir
mais do que quantidade existem custos que o impossibilitam pois há pelo menos um fator de
produção fixo que o impede. Por exemplos nas fábricas se o produtor quiser aumentar a
produção terá de fazer aumentar o fator de produção trabalho e terá de contratar mais
trabalhadores até chegar a um ponto em que já não compensa continuar a contratar pessoas
pois o preço de contratar um trabalhador não vale a pena preço a que o bem é vendido.
Noa Brighenti
24
e. Expectativas - a ideia de que vai haver aumento dos preços faz com que os stocks
cresçam para mais tarde se vender uma maior quantidade a preços mais altos.
Chama-se de efeito de édipo a esta capacidade que têm as previsões para
desencadearem os efeitos previstos.
As curvas da oferta e da procura vão-se encontrar naquilo que é designado como uma cruz
marshalliana que é a sua interseção - chamamos a este ponto de interseção o ponto de
equilíbrio dos mercados.
18
Binómio - expressão algébrica formada por dois termos.
Noa Brighenti
25
⇩
Este é também um ponto de estabilidade pois é o único no qual ambas
as partes estão a fazer precisamente aquilo que querem.
É o mecanismo dos preços que faz o mercado chegar e regressar a uma posição vantajosa para
os dois lados envolvidos nas trocas, a uma posição em que, dadas aquelas escalas de preferências -
aquelas curvas da procura e da oferta - nada se conseguiria fazer de mais eficiente.
Sempre que estamos perante um preço de desequilíbrio, sabemos pois que existe uma pressão
sobre esse preço, uma pressão em direção ao ponto de equilíbrio - só o ponto de equilíbrio não está
sujeito a pressões.
O cruzamento de oferta e procura comporta uma estabilidade dinâmica (uma tendência de
regresso à posição inicial quando o equilíbrio é perturbado) que mais ou menos imuniza o mercado
contra a instabilidade estrutural (que seria a tendência de conversão de perturbações do equilíbrio em
degenerações permanentes das propriedades dinâmicas do sistema).
Existe certos bens que não queremos ver sujeitos às leis do mercado, juridicamente são aqueles
que se designam por bens fora do comércio. Por exemplo, ninguém hesita na atribuição de um
valor alto ao uso da água superior ao dos diamantes mas todos continuamos a agir de forma a que o
preço da água continue inferior ao dos diamantes.
Noa Brighenti
26
No século XIX constatou-se o Efeito de King que defendia que um mau ano agrícola era bom
para os agricultores e um bom ano agrícola era mau. Pois, num bom ano agrícola há uma maior oferta
logo o seu preço dos bens diminui e os produtores nao vao vender muito mais do que vendiam num
mau ano agrícola pelo simples facto do preço ter diminuído, o que faz com que a descida de preço não
compense a quantidade vendida. (por outras palavras não é por as batatas estarem mais baratas num
ano que no outro que eu de repente vou basear a minha alimentação apenas em batatas). Por outro
lado, num mau ano agrícola, há menos produtores no mercado pelo que os preços aumentam e
vendemos a mesma quantidade que antes mas agora por um valor superior.
⇩
Esta constatação pode ser traduzida no conceito de elasticidade - a procura de bens agrícola é uma
procura muito rígida logo independentemente do preço vamos sempre consumir a mesma quantidade
ou a mudança de quantidade não é substantiva.
⇩
A conjugação do efeito de queda de preços em anos abundantes e de redistribuição aleatória da
riqueza em anos agrícolas maus, tornam inteiramente justificado o recurso a medidas de estabilização
dos preços e de garantia dos rendimentos agrícolas, com maior ou menor intervenção do Estado,
medidas que se dividem em constituição de reservas e estabilização direta dos preços:
⇩
Desde Theodore W. Schultz que se tem vindo a abandonar o preconceito tutelar e
paternalista em relação à atividade agrícola - agora considera-se que os camponeses, mesmo os das
sociedades mais arcaicas e menos economicamente desenvolvidas, eram e são agentes capazes de
adotar atitudes de uma impecável racionalidade maximizadora, agindo com perfeita eficiência dentro
das suas áreas de especialização e dos constrangimentos resultantes da escassez de informação e de
meios técnicos - nada disso obstando a um relacionamento livre do Estado com o campesinato,
exclusivamente assente no estabelecimento de incentivos à produtividade agrícola.
Por exemplo, partindo de um ponto de desequilíbrio no qual se supõe que o preço se encontra
mais alto do que a procura gostaria:
1. Inicialmente os produtores, motivados pelos preços mais altos, vão estar mais
incentivados a produzir e aumentar a oferta;
Noa Brighenti
27
2. Se os preços não descerem, como os compradores não compram os bens àquele preço,
a produção não será escoada;
3. O preço vai descer e os produtores vão restringir a sua produção pois já não estão
incentivados a produzir;
4. A falta de oferta vai fazer com que os preços subam novamente;
5. Motivados pela subida de preços os produtores recomeçam a produzir o bem e repete-se
todo o processo sucessivamente.
⇩
Isto pode terminar de duas formas:
a) Convergência - se a oferta revela menor
elasticidade-preço do que a procura, cada
novo lance provocará uma maior oscilação de
preços do que de quantidades oferecidas,
facilitando-se assim a determinação de um
volume equilibrado de transações, fazendo
com que em cada lance seja menor o
desfasamento entre a quantidade oferecida e a
quantidade efetivamente procurada.
i) Imaginemos que o preço do papel
higiénico aumenta o preço mas mesmo assim a procura, por ser mais
elástica do que a oferta, continua a comprar aquele bem, mesmo que em
menor quantidade, ao vendedores. Há medida que o bem vai sendo
vendido naturalmente começará a retornar ao ponto de equilíbrio.
Noa Brighenti
28
Especulação do lado da procura: os consumidores, por outro lado, podem retrair a procura em
consequência da sua expectativa de uma próxima queda de preços não comprando
imediatamente aquilo que futuramente terá um preço inferior.
↳ Em relação à procura a especulação pode ter:
1. Um efeito estabilizador dos preços quando, com expectativa de que os
preços vão baixar, a procura não compra e faz com que os preços baixem,
amortecendo assim os efeitos de pressão no sentido da subida dos
preços.
2. Um efeito desestabilizador, ou seja, pode ampliar as oscilações do
mercado, quando se supõe que os preços vão aumentar então o consumo
aumenta, o que faz com que os preços subam e os vendedores se vejam
incentivados a produzir.
⇩
Se os preços descem:
➢ Se pensam que é temporário
○ Oferta restringe-se e a procura expande-se
○ Provoca uma subida estabilizadora dos preços
➢ Se pensam que continuará
○ Oferta expande-se e a procura restringe-se
○ Provoca uma agravamento destabilizador da descida dos
preços
Se os preços sobem:
➢ Se pensam que é temporário
○ Oferta expande-se e a procura restringe-se
○ Provoca uma descida estabilizadora dos preços
➢ Se pensam que haverá uma subida mais ampla
○ Oferta restringe-se e a procura expande-se
○ Provoca uma acentuamento destabilizador da tendência
para a subida de preços
Uma das aplicações desta ideia aplica-se no Princípio de Hotelling de Harold Hotelling que
defende que o preço dos recursos naturais não-renováveis tende a variar proporcionalmente à taxa de
juro real, dado que o preço presente desses recursos não é mais do que o valor presente do preço
esperado para esses recursos em períodos subsequentes, sendo pois o preço presente inteiramente
dominado por esse propósito especulativo.
↳Hotellingconsiderava que o preço dos recursos naturais não-renováveis aumentaria
sucessivamente até que o seu uso fosse abandonado e se adotassem outros recursos
sucedâneos antes do seu esgotamento.
⇩
Julian Simon refutou isto com sucesso.
Noa Brighenti
29
ELASTICIDADE DA PROCURA
Tem 2 variantes:
1. Se os preços se alteram e a quantidade se mantiver é RÍGIDO (insensível à alteração)
como aconteceu quando o preço das batatas aumentou.
↳ Os agentes maximizadores do lucro aproveitam-se disto e aumentam os
preços.
𝐸𝑝 =
%𝑄
%𝑃
; 𝐸𝑝 ≥ 0(superior a 0) // %𝑄 =
𝑄2 − 𝑄1
(𝑄2 + 𝑄1) / 2
x 100
Exemplo: Antes o papel higiénico custava 2 por unidade e as pessoas comparavam 5, agora custa 3 por
Noa Brighenti
30
Inelasticidade Valor = entre 0 e 1 O aumento do preço leva a uma diminuição menos do que
(Bens normais) proporcional das quantidades procuradas ou leva a um
aumento menos do que proporcional das quantidades
procuradas.
➔ Se o preço das batatas aumentar a procura pode
diminuir ou aumentar mas não o suficiente para que
seja proporcional com o aumento do preço.
Elasticidade Valor = entre 1 e Infinito O aumento do preço leva a uma diminuição mais do que
(Bens superiores) proporcional das quantidades procuradas ou leva a um
aumento mais do que proporcional das quantidades
procuradas.
➔ Se o preço das batatas aumentar a procura aumenta
ou diminui muito proporcionalmente com o aumento
do preço.
Em termos gráficos quanto maior é a elasticidade mais a curva da procura se aproxima da horizontal:
Inelasticidade Absoluta é uma linha vertical, Elasticidade Unitária tem um declive de 45º e a
Elasticidade Perfeita é uma linha horizontal.
Noa Brighenti
31
Quanto mais elástica for a procura, mais compensador é para o vendedor a descida de preços
(pois a tendência é que a quantidade procurada aumente com preços mais baixos e diminua com
preços mais altos).
Quanto menos elástica for a procura, mais compensador é para o vendedor a subida de
preços (porque vende a mesma quantidade que venderia de outra forma mas gerando mais lucro)
Bens Inferiores Valor da Elasticidade = Abaixo de Bens cujo aumento do rendimento implica que
0 os deixemos de usar e que a diminuição do
rendimento nos faz usar, por exemplo eu
comprava sempre margarina mas não é por
agora ganhar mais que vou comprar mais
margarina, o que vou fazer é passar a comprar
manteiga (substituem os bens normais com
bens de menor qualidade)
Noa Brighenti
32
ELASTICIDADE DA OFERTA
Noa Brighenti
33
𝐸𝑝 =
%𝑄
%𝑃
; 𝐸𝑝 ≥ 0(superior a 0) // %𝑄 =
𝑄2 − 𝑄1
(𝑄2 + 𝑄1) / 2
x 100
Inelasticidade Valor = entre 0 e 1 O aumento do preço leva a uma aumento menos do que
proporcional das quantidades oferecidas ou leva a uma
diminuição menos do que proporcional das quantidades
oferecidas.
Elasticidade Valor = entre 1 e Infinito O aumento do preço leva a uma diminuição mais do que
proporcional das quantidades oferecidas ou leva a um
aumento mais do que proporcional das quantidades
oferecidas.
19
Elasticidade negativa - aumento da oferta quando descem os preços do mercado, porque mesmo assim o
produtor precisa de obter uma determinada receita - normalmente resulta de um fenómeno coletiva do mercado e
não de um só produtor.
Noa Brighenti
34
O Estado intervém na lei da oferta e da procura indo contra a mão invisível de Adam Smith e a
geração espontânea de um equilíbrio no mercado através de intervenções paternalistas que trazem
consequências negativas para a eficiência, justiça e bem-estar. O ESTADO INTERVÉM REGULANDO
OS PREÇOS.
Esta regulação dos preços faz com que:
1. Quando os preços de bens são tabelados abaixo do preço de equilíbrio há excessos de
procura face à oferta que leva a questões graves de justiça e até de sobrevivência;
2. Na mesma o tabelamento dos preços abaixo do preço de equilíbrio levaria a situações de
mercado negro que forma um preço de equilíbrio superior àquele que existiria se não se
recorresse ao tabelamento no início (ao qual se acresce o preço de risco que os
vendedores cobram pela sua exposição a uma sanção jurídica - esta é ainda uma
barreira à entrada no mercado negro que restringe a concorrência e permite monopólios)
3. A formação de um intervalo especulativo de disparidade entre o preço de equilíbrio no
mercado negro e a remuneração de quem efetivamente produz o bem ou serviço o que
faz com que quem produz diminua a sua produção devido ao facto de supor que a venda
daquele bem não gera lucro e consequentemente haja ainda menos bens no mercado.
4. Com o mercado negro (ou mercado paralelo ou sector informal da economia) cresce a
economia do crime.
5. Geram também áreas de corrupção e impunidade
6. A procura pode aperceber-se da deslocação irreversível de toda a escala da oferta ou da
degradação qualitativa dos produtos oferecidos e abandonar o mercado, optando por
exemplo por bens sucedâneos.
Noa Brighenti
35
⇩
O preço de equilíbrio, por outro lado, acaba por ser vantajoso para ambas as partes visto
que advém da negociação entre elas através de concessões recíprocas, com perdas
relativamente às vantagens extremas que seriam óptimas para uma das partes e
péssimas para a contraparte (o que é incompatível com as trocas).
É este erro de paralaxe, ou seja, de as pessoas não perceberem que o preço de
equilíbrio cria vantagens para ambas as partes, que explica o apelo às interferências por
parte do Estado e é também a indiferença perante este que explica o poder de reação
desses mercados à interferência do Estado, gerando desequilíbrios automáticos que
acabam por ser mais graves que aqueles que o Estado pretendia retificar.
1. Controlo Administrativo dos Preços - Fixando preços mínimos acima do ponto de equilíbrio e
preços máximos abaixo do ponto de equilíbrio.
2. Impostos - Lançamento de impostos sobre as transações na medida em que esses impostos,
constituindo um acréscimo de custo para algumas partes envolvidas nas trocas no mercado,
interferem no incentivo dos preços.
Noa Brighenti
36
Como resultado vai haver mais oferta que procura o que levará a uma escassez pois a oferta
não vai ser suficiente para saciar todas as necessidades.
Para além disto, vão ser feitos mercados negros de aluguer de casas, contratos ilegais feitos
para tentar evitar esta regra.
Noa Brighenti
37
oferecida. Pelo que, de qualquer forma, haveria sempre um grupo de compradores que ficariam
impossibilitados de aceder a este bem (o problema que se visava resolver continua por resolver).
Irá então ter de se recorrer a um critério de racionamento, de distribuição de quantidade
oferecida pela massa dos consumidores que procuravam uma quantidade maior. Os vendedores
podem atender sequencialmente os pedidos, o que levará à formação de filas de espera e ao
rateio entre os consumidores em função do custo de oportunidade associado ao tempo de espera
- O equilíbrio dos preços seria substituído pelo equilíbrio entre a disposição de pagar e o custo da
espera em filas.
Mas os vendedores poderão adotar outros critérios, justos ou injustos: a simpatia, as
relações familiares, afinidades políticas,... Uma via possível é a atribuição a alguém de critérios
distributivos inapeláveis, ou seja, a aceitação prévia do acatamento definitivo de qualquer decisão
que seja tomada por um ditador, o que permite custos de transação aceitáveis que para além de
sacrificar a liberdade das trocas, não assegura a justiça ou eficiência - independentemente da
solução de racionamento ser mais justa ou injusta ela é sempre ineficiente pois haverá sempre
consumidores que poderiam dar mais valor àquele bem e que a ele não tiveram acesso.
No final de tudo alguns compradores foram beneficiados mas isso implicou o detrimento
de todos os outros, como os que compravam ao preço de equilíbrio e agora ficaram excluídos do
consumo pois não valia a pena o custo de espera na fila ou porque simplesmente não havia mais
produtos à venda.
Os que forem excluídos, ao contrário dos que anteriormente estavam excluídos, ficam
não numa situação de escassez mas numa situação de carência absoluta - não se trata de
consumirem menos, trata-se de não consumirem nada.
Se optarmos antes por recobrar o equilíbrio através do subsídio aos produtores, fazemos
na verdade com que todos os contribuintes suportem o consumo desequilibradamente barato de
alguns.
VAI HAVER SEMPRE UMA TENDÊNCIA PARA VOLTAR A SUBIR OS PREÇOS
Noa Brighenti
38
Outra situação totalmente diferente ocorre se for o Estado a decidir baixar o preço pois o
produtor vai sofrer as consequência dessa diminuição do lucro e não estará tão incentivado a
produzir, logo eles próprios nunca baixariam o preço do bem e alguns chegam mesmo a ter de
abandonar o mercado, estes são os produtores marginais.
Na mesma, a quantidade oferecida é menor do que a quantidade procurada (que agora
abarca a classe Y e X) e surge assim em cena uma nova classe, a classe Z, que são os
especuladores dispostos a assumirem o risco de promoverem o reequilíbrio do mercado através
do mecanismos dos preços, contra a proibição legal do recurso a um tal mecanismo. Para além da
chegada desta nova classe acresce o agravamento dos custos de busca pois será mais difícil
encontrar o melhor produto dos oferecidos.
Esta nova classe irá disputar o produto independentemente da sua disposição de pagar
pois joga exclusivamente nos ganhos especulativos da compra ao preço oficial. Esta classe Z
posteriormente irá vender os produtos que comprou a um preço especulativo acrescido de um
prémio de risco aos membros da classe X que estejam dispostos a pagar mais de 20€ pelo
Queijo.
Como já referido acima a clandestinidade gera uma retração da oferta o que vai fazer
com que havendo menos concorrência os preços subam, fazendo com que o preço original se
eleve.
Deste modo ou o Estado promove uma expansão da oferta que ao preço de 15€ irá
também satisfazer a procura - classes X e Y- o que evita o surgimento da classe Z. Embora para
tal seja necessário subsidiar o produtor com uma quantia superior ao lucro que este perdeu ou
então forma-se este mercado negro onde os preços são superiores ao nível de queilíbrio e ambas
as classes consomem menos e quem beneficia é uma classe parasita, a classe Z, sendo que esta
clandestinidade também sonega receitas fiscais ao Estado.
IMPOSTOS
IMPOSTOS INDIRETOS
Noa Brighenti
39
São aqueles que incidem de forma discriminada sobre cada uma das trocas e não sobre o
resutado final das trocas.
Suponhamos, pegando no exemplo anterior, que o Estado decide tributar as vendas de Queijo
da Serra com um imposto especial com o valor de 3€ por quilo vendido. A questão que se coloca é
quem é que vai suportar esse impostos: os vendedores ou os compradores? Cada grupo tentará fazer
pressão para que seja o outro grupo a pagá-lo mas a verdade é que não interessa o que diga a previsão
legal - o imposto será pago pelos consumidores, pelos vendedores ou pelos dois de acordo com as
condições geradas pelo próprio mercado, determinadas pelo mecanismo livre da interação da oferta e
da procura.
3. Porém, em bom rigor, o imposto não recai em exclusivo sobre um só grupo dada a
presença de elasticidades nas posições de qualquer uma das partes:
⇩
Este fenómeno chama-se de repercussão: dada a elasticidade da
procura os compradores conseguiram repercutir sobre os
vendedores uma parte da carga tributária que formalmente recaía
apenas sobre eles.
Noa Brighenti
40
b. Se quem deve pagar o imposto é a procura mas esta tivesse uma elasticidade
infinita a repercussão teria sido total e os vendedores suportariam na íntegra a
carga tributária, apesar de a lei poder estabelecer o contrário.
Em suma…
Se a oferta for mais elástica do que a procura a retração geral do mercado causará maior
impacto do lado da procura pois, dada a menor elasticidade, a quebra de quantidades significa aumento
mais do que proporcional de preços - será a procura a arcar com a proporção maior da carga tributária.
Se a oferta for mais rígida do que a procura, a retração do mercado terá mais impacto na oferta.
Por esta razão, por exemplo, quando se criam impostos para bens de luxo à espera que sejam os
consumidores a pagar já que têm mais posses na verdade quem acaba por pagar são os vendedores
pois, como a procura é tão elástica, não está disposta a pagar certo preço e a oferta vê-se obrigada a
cobrir toda a carga tributária para que os consumidores continuem a consumir.
Se a elasticidade for igual de ambos os lados do mercado a repartição da carga tributária será
rigorosamente igualitária uma vez alcançado o novo equilíbrio, caso em que se torna indiferente a
determinação de quem é o devedor do imposto, salvo para efeitos de eficiência da cobrança do imposto.
IMPOSTOS DIRETOS
Incidem sobre o rendimento pessoal isto também acontece. Aquilo que o trabalhador deverá
suportar de imposto será mais ou menos repercutido para o seu empregador, em função da maior
elasticidade ou inelasticidade de cada um deles - também no mercado dos fatores o imposto gera uma
clivagem entre aquilo que é pago ao trabalhador e aquilo aquilo que ele recebe, líquido do imposto.
Aquilo que cabe ao trabalhador suportar (aquilo que tem agora - o que teria num ponto de
equilíbrio sem imposto) e aquilo que cabe ao empregador suportar (aquilo que paga agora - aquilo que
teria de pagar num ponto de equilíbrio sem imposto) depende das circunstância da procura e da oferta,
mais do que da vontade do legislador.
PROCURA
Noa Brighenti
41
Anteriormente, esta teoria baseou-se na 1ª Lei de Gossen que afirma que escolhemos a
hipótese cuja utilidade seja maior, que sacie as nossas necessidades. O problema foi que tentou
quantificar-se a utilidade de uma forma que acabou por ser arbitrária - com de um valor cardinal mas é
difícil determinar a utilidade cardinal até porque isso daria azo a que nunca chegássemos a grandes
conclusões dado a utilidade ser relativa.
Assim, evoluiu-se definindo que sabemos claramente dizer se a utilidade de um bem é superior a
outro - logo a utilidade deixou de ser cardinal para ser ordinal, isto é, ordenamos as nossas preferências
em função da utilidade.
Hoje em dia há uma forma ainda melhor de resolver este problema - no mercado as pessoas
expressam a sua utilidade através da disposição de pagar, logo o mercado é um espaço em que são
reveladas as preferências dos consumidores através de um parâmetro monetário. Esta é a TEORIA
DAS PREFERÊNCIAS REVELADAS ou TEORIA DA DISPOSIÇÃO DE PAGAR.
Claro está que esta continua a ter evidentes limitações por exemplo o facto dos consumidores
não disporem de informação perfeita acerca dos preços por isso a sua disposição de pagar poderia ser
outra se tivessem mais conhecimento, a disposição de pagar tem uma base psicológica pelo que varia
ao longo do tempo e não é constante,...
Quando o binómio preço-quantidade é alcançado cada parte foi tão longe na prossecução do
seu fim quanto a outra permitiu logo nenhuma parte maximizou a satisfação das suas necessidades
pelo que o vendedor pode sair insatisfeito e o comprador também. Então há eficiência das trocas?
Podemos adicionar a este cálculo o bem-estar das partes envolvidas, ou seja, a forma como o
mecanismo do mercado equilibra os benefícios para que estes se repercutem num nível mais vasto de
bem-estar coletivo.
A análise do bem-estar é o ramo da ciência económica que versa e desejabilidade social de
situações económicas alternativas, sendo que é esta análise que coloca a Economia ao serviço de
soluções práticas, jurídicas e políticas.
Um potencial comprador só consumará a compra se entender que esta valeu a pena logo os
bens que sacrifica em troca daquele que adquire compensam-lhe essa perda e vale também mais a
pena ter o bem novo que manter o que tinha, mesmo que seja em menores quantidades. Podemos
Noa Brighenti
42
concluir que há uma margem de bem-estar que excede os custos (a tal história dos jogos de soma
positiva)
Por exemplo, se temos 3 licitadores num leilão de arte e licitam por uma pintura - um está
disposto a ir até ao 10000€, outro até aos 9000€ e outro até aos 8000€, quem ficará com a pintura?
Fica para aquele que estava disposto a ir até aos 10000€ , pois mais ninguém está disposto a pagar
mais que 9000€ como ele. Assim, conseguiria a pintura por 9001€ sendo os 999€ que estava disposto a
pagar e não pagou o excedente do consumidor. CORRESPONDE AO MONTANTE LÍQUIDO
QUE REPRESENTA O ACRÉSCIMO DE BEM-ESTAR QUE O COMPRADOR OBTÉM ATRAVÉS DAS
TROCAS, ou seja, o bem-estar que adquiriu.
Na última imagem, se o preço baixar de A para B, o consumidor beneficia pois paga menos e a
utilidade que adquire é igual. É nestes casos que surge o Consumidor Marginal que entra no mercado
quando os preços estão mais baixos e sai quando os preços aumentam logo, se o valor de um bem
baixa, o seu mercado aumenta.
O consumidor marginal é o consumidor que está disposto a pagar o menor preço por
aquele produto e consequentemente aquele que, quando o preço do bem sobe, deixa de estar disposto
a pagar. No exemplo do leilão imaginemos que o pintor quer ver o quadro separadamente por 9000€,
aquela pessoa que estava disposta a dar apenas até 9000€ pelo quadro é o consumidor marginal.
O recurso ao conceito de excedente do consumidor procura fornecer uma base objetiva aos
juízos valorativos acerca dos efeitos sobre o bem-estar de várias opções económicas, procurando
evidenciar não apenas as preferências dos consumidores mas também qual a perceção dos
Noa Brighenti
43
consumidores face aos efeitos finais de qualquer medida que os afete, como uma interferência no nível
de preço dos produtos finais.
A escala da procura para além de representar o espectro total das relações preço-quantidade
que cada comprador estava disposto a aceitar, ou seja, a quantidade que estava disposto a adquirir em
cada nível de preços, mostra também o preço máximo que o comprador marginal está disposto a pagar
- a disposição marginal de pagar evidenciada pela procura.
Como a lei da procura dita quando os preços descem amplia-se o excedente do consumidor
daqueles que já estavam dispostos a pagar anteriormente, surgem excedentes para os compradores
marginais e entram no mercado aqueles que estavam dele excluídos.
⇩
Com a descida de preços o bem-estar melhorou para a procura e o benefício marginal aumenta, isto é,
a disposição de pagar mais uma unidade de um produto - corresponde ao máximo montante de
produtos de que um consumidor está disposto a prescindir para obter mais essa unidade de um
qualquer produto.
O consumidor pretende maximizar a sua utilidade marginal, alcançando-o quando todo o seu
rendimento disponível estiver gasto e quando a quando a utilidade marginal de cada unidade de
rendimento gasto for igual para todos os produtos.
Esta ideia traduz-se nas Leis de Gossen. A primeira já vimos (a intensidade de uma necessidade
decresce à medida que vão sendo aplicadas doses sucessivas do mesmo bem até se alcançar o ponto
de saciedade) e agora vamos incluir ao nosso conhecimento a Segunda Lei de Gossen ou LEI DA
EQUIMARGINALIDADE:
Defende que a utilidade total é maximizada quando a utilidade do rendimento disponível for
todo gasto e quando a utilidade marginal de cada última unidade de rendimento for igual
para todos os bens.
Na primeira imagem eu tinha comprado dois bens: 4 unidades do bem A que me custaram no
total 4€ e cuja última unidade me providenciou uma utilidade de 1. Em contrapartida, na segunda
imagem agi de forma diferente e aquilo que fiz foi, em vez de usar 2€ para comprar mais duas doses do
bem A, investiu-nos para comprar duas doses do bem B que me trariam mais utilidade.
Assim sendo, no final, comprei apenas duas doses do bem A e duas doses do bem B, mas a
última unidade de rendimento foi igual em todos os bens, ou seja, tanto no bem A como no bem B a
última unidade teve uma utilidade de 6.
Noa Brighenti
44
Eficiência para o consumidor é quando este tiver despendido de todo o seu rendimento
disponível e se encontrar no limite da sua fronteira de possibilidades orçamentais, sendo que o
benefício marginal que retirar das suas opções há-de ser o preço máximo que ele está disposto a pagar
pelos produtos por que opta e a sua curva da procura há-de ser a representação exacta da quantidade
procurada a cada preço quando a utilidade está maximizada.
OFERTA
Tal como na procura há a disposição de comprar, na oferta há a disposição de vender que é
um conceito que traduz o custo marginal do produtor - o preço mínimo que este está disposto a aceitar
para produzir mais uma unidade de um bem ou serviço.
Associado a isto está o preço relativo, o valor dos outros bens e serviços que o produtor está
disposto a deixar de produzir e oferecer para poder produzir e oferecer mais uma unidade daquele pelo
qual optou, e o custo que é o nível básico acima do qual o produtor está disposto a vender mas abaixo
do qual já não está disposto a vender.
Noa Brighenti
45
OFERTA E PROCURA
O bem-estar geral é o excedente total, a soma do excedente do consumidor com o do produtor -
o bem-estar geral é a soma positiva do jogo das trocas.
𝐸𝑥𝑐𝑒𝑑𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝑒𝑥𝑐𝑒𝑑𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑖𝑑𝑜𝑟 + 𝑒𝑥𝑐𝑒𝑑𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜𝑟
Um mercado é eficiente se promover uma afetação de recursos que maximize este excedente
total e permita que a venda dos produtos seja exercida por aqueles que têm mais disposição de vender
e comprados por aqueles que têm mais disposição de pagar
ESCALAS DE PRODUÇÃO
Economias de escala interna são aquelas que se alteram devido a fatores internos como a eficiência
técnica (comprar máquinas melhores) ou até possibilidade de descontos de quantidade na compra de
publicidade. As economias de escala externa são as que se alteram devido a faores externos como a
presença local de uma vasta mão de obra ou da existência de uma vasta mão-de-obra especializada.
As economias de escala são então ambientes empresariais férteis que tiram proveito do caráter
da informação como bem público suscetível de fruição generalizada. Aproveitam-se da formação de
externalidades positivas.
No caso de aumentarmos a escala e nos apercebemos que o aumento acabou por trazer
desvantagens - como se comprarmos novas máquinas mas estas implicam mais trabalhadores e não
nos compensa pagar tantos salários, o que devemos fazer é emagrecer, reduzir a escala. As perdas de
escala também podem ter uma vertente interna (saturação dos locais ou instrumentos de trabalho,
crescente dificuldade de supervisão) ou vertente externa (crescente escassez de mão de obra
especializada perto do local de produção, crescente raridade de infraestruturas disponíveis).
Noa Brighenti
46
Entre as fontes internas de perdas de escala a teoria destaca a ineficiência-X que é a flacidez da
empresa, a sua falta de agilidade em geral provocada pela falta de concorrência - como não há quem
com ela concorra a empresa ganha uma comoda ilusão de invulnerabilidade nem sequer
acompanhando muitas vezes a evolução tecnológica ou os progressos de gestão.
Podem haver hipóteses de curva de custos médios de longo prazo que não se altera com as
variações de escala, caso em que diremos que as caraterísticas tecnológicas do produtor lhe permitem
operar com rendimentos constantes à escala, uma hipótese improvável mas não impossível.
OPÇÕES DE INVESTIMENTO
Um investimento é a aquisição de um bem na perspetiva de obtenção de rendimentos na
exploração desse bem, ou de mais-valias na sua alienação. Os investimentos podem ser reais se
consistem diretamente na aquisição de bens de capital que sejam empregues seguidamente num
processo produtivo ou podem ser financeiros se ao depósito de fundos junto de mercados ou
instituições especializadas os quais, por sua vez, encaminham em direção àqueles de que necessitam
para realizarem os seus investimentos reais.
O sistema financeiro então é aquele em que as pessoas que têm rendimentos superiores às
suas despesas se encaminham para as pessoas e empresas que estejam dispostas a pagar mais do
que aquilo que lhes é permitido pelo seu rendimento corrente.
O investimento justifica-se enquanto for positivo o valor presente líquido dos bens de capital, ou
seja, a diferença entre o valor presente do rendimento gerado pelo capital e o custo presente desse
capital.
2. Obrigações
Esta é a subscrição de títulos obrigacionais, ou seja, o empréstimo de capital financeiro a
uma empresa, por um prazo determinado. A segurança do investimento é elevada pois o
investidor fica na posição de credor da empresa - mas pode apresentar problemas de fluidez que
dificultam a aquisição do dinheiro investido através da venda do título devido a este ser destruído
Noa Brighenti
47
pela inflação. Se o investidor quer vender os seus títulos se a taxa de juro corrente no mercado
tiver ficado mais elevada do que a taxa de juro com que convencionalmente os títulos
obrigacionais são remunerados, muito dificilmente haverá com quem fazer a venda. Por outro
lado, se a taxa de juro corrente for mais baixa a liquidez está praticamente assegurada.
Logo, as subidas das taxas de juro são más notícias para os subscritores de obrigações,
mas por outro lado a descida das taxas de juro desbloqueiam a liquidez dos títulos. É este risco
do aumento das taxas de juro e da falência das empresas que justifica que as taxas de juro das
obrigações devem ser mais elevadas quanto mais longo é o prazo ou mais alto é o risco - por
vezes chegam a dar remunerações altíssimas.
3. Ações
A compra de ações, de parte do capital de uma empresa que normalmente até permitem
ao investidor a contitularidade da propriedade dessa empresa, são outro tipo de investimento.
Aqui a segurança do investimento é muito menor e o montante investidor pode mesmo perder-se
todo caso a empresa vá à falência. Por outro lado, pode-se ganhar muito mais.
As ações são o espelho do valor corrente do capital das sociedades eminentes, tal como
ele deve ser avaliado pelo mercado. Assim, é problemática a questão da liquidez destes títulos
que pode ser muito grande num momento e aí há muita procura, ou muito baixa noutro logo a
seguir e aí há muita oferta.
Pior, as transações das ações no mercado bolsista estão expostas a efeitos de contágio
especulativo pelo que nos momentos em que a liquidez dos títulos começa a tornar-se
problemática e um investidor começa a temer a possibilidade de não conseguir vender as suas
ações, o mesmo se passa com a maioria dos outros investidores, o que faz com que então de
repente haja muita oferta mas nula procura.
Uma forma de salvaguardar os investidores minimizando os riscos e aumentando a
liquidez, que ocorre tanto nas ações como nas obrigações, é através de fundos de investimento
nos quais os investidores participam pondo em comum os seus recursos, o que permite:
➔ uma diversificação na compra de títulos que dissipa os riscos de cada
investimento em particular
➔ permite uma gestão profissional dos títulos
➔ quando chegam a uma determina dimensão, um número de participantes tão
grande que a entrada ou saída de um deles não afeta sensivelmente o total de
montante investido
Noa Brighenti
48
só mercado - resultado este que, na ausência de barreiras e dado um suficiente grau de informação
disponível, é assegurado pela especulação.
A única forma de então vencer um mercado eficiente seria através da aposta em variações
inesperadas de preços - não seria sequer jogar com probabilidade, era só mesmo investir
aleatoriamente na esperança de se ter sorte, como quando jogamos na lotaria. A isto se chama o
passeio aleatório ou a não-estratégia. A verdade é que se a probabilidade de qualquer estratégia vencer
o mercado é nula pois não podemos prever o movimento dos preços ou detemos informação que não
esteja já refletida no preço, mais vale seguir o passeio aleatório.
As empresas
O investimento das famílias é a fonte da maior parte do financiamento das empresas, sendo o
restante fornecido pelos subsídios estaduais e pelo investimento estrangeiro.
As empresas detém responsabilidade limitada e por isso podem arcar com projetos e iniciativas
rodeados de riscos que a maioria dos indivíduos não estaria disposto a assumir, dada a prevalente
“aversão ao risco” que domina os atos individuais. A responsabilidade limitada facilita a captação de
investimentos individuais, porque ela garante aos investidores (especialmente aos acionistas) que nada
lhes será exigido e que na pior das hipóteses as suas perdas são limitadas ao capital que investiram.
Agora investir com ações é como jogar a lotaria - podes ganhar muito mas só perdes o que
investiste - logo é como um jogo de sorte e azar que atrai os investidores, mesmo aqueles mais avessos
ao risco.
Em suma, as empresas são, no processo produtivo, agentes dotados de acentuada neutralidade
perante o risco que se substituem a agentes avessos ao risco e por isso são capazes de prosseguir na
senda da criação de riqueza, quando a aversão ao risco teria já ditado, nos agentes individuais, o
declínio da utilidade marginal desse esforço de enriquecimento, o declínio das esperanças (subjetivas)
de ganho.
Juro
Muitas das nossas decisões económicas são orientadas para o futuro, na medida em que se
integram numa estratégia, numa sequência de decisões que visa produzir efeitos. Os bens futuros cuja
obtenção procuramos assegurar através da estratégia presente têm um preço relativo em termos de
bens presentes, sendo esse preço relativo o valor dos bens presentes que temos de prescindir para
obtermos os bens futuros - o sacrifício de consumo imediato que levará ao investimento no bem futuro.
Logo, o valor presente de bens futuros é descontado, ou seja, é menor do que o valor dos
mesmos bens quando a sua disponibilidade seja imediata; e o valor descontado é tanto menor quanto
mais dilatado for o prazo que medeia entre o presente e o momento em que finalmente acedemos à
fruição desses bens futuros.
Imaginemos que prescindo da utilização de um fundo monetário que disponho e que me permitia
comprar agora uma casa na praia e o empresto antes a outra pessoa. Se ela me devolver o dinheiro
daqui a 100 anos não tenho sequer hipótese de vir a usufruir futuramente da minha casa de praia, logo
não me vale mesmo nada à pena; agora imaginemos que só tenho mais 40 anos de vida e empresto o
Noa Brighenti
49
dinheiro por 10 anos, estou a perder ¼ do tempo que tenho para aproveitar a casa de praia, também
não me vale a pena - mesmo que empreste só por 1 ano estou a perder tempo que não me vale a pena.
Desta forma, a racionalidade impõe-nos a preferência pelo presente pelo que nunca nos valeria
a pena sacrificar a gratificação imediata dos bens por aproveitá-los apenas futuramente, o que faria com
que fosse desaconselhada qualquer troca intemporal em que uma das partes anticiparia a fruição da
sua necessidade enquanto que a outra adiaria a satisfação da sua necessidade.
Mas, para que existam trocas livres é preciso que ambas as partes ganhem algo com isso, por
isso aquele que adia a satisfação da sua necessidade deve ser compensado com um montante que
ultrapasse a taxa de desconto (fator financeiro cuja finalidade é a de determinar o valor do dinheiro ao
longo do tempo, para calcular o valor do capital futuro e/ou considerar projetos de investimento.) -
quando ele finalmente aceder à fruição do bem esta tem de ser melhor do que a fruição que teria no
imediato. ESTE MONTANTE QUE COMPENSA É O JURO, ou remuneração do capital.
Em suma, a taxa de juro tem de ser superior à taxa de desconto para que eu troque a
preferência pelo presente pela preferência pelo futuro. Senão houvesse juro haveria carência de fundos
mutáveis, ou seja:
➔ Excesso da procura de fundos - porque todos procurariam fundos para satisfazer as suas
necessidades no presente
➔ Falta de oferta de fundos - porque nenhum incentivo dissuadiria os donos dos fundos de
empregá-los na satisfação imediata das suas próprias necessidades.
2. A presença de inflação - que faz com que as taxas de juro devam incorporar um prémio
de inflação, sem o qual a remuneração do juro seria diminuída ou destruída em termos
reais fazendo, pois, com que o juro efetivamente cobrado, o juro nominal, seja o
somatório do juro real ( a remuneração do empréstimo) e do prémio de inflação.
𝑗𝑢𝑟𝑜 𝑛𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙 = 𝑗𝑢𝑟𝑜 𝑟𝑒𝑎𝑙 (𝑟𝑒𝑚𝑢𝑛𝑒𝑟𝑎çã𝑜 𝑑𝑜 𝑒𝑚𝑝𝑟é𝑠𝑡𝑖𝑚𝑜) + 𝑝𝑟é𝑚𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑖𝑛𝑓𝑙𝑎çã𝑜
⇩
Quanto mais elevada é a inflação esperada, mais elevada é a taxa de juro nominal, e
quanto mais elevada esta é maior é o custo de oportunidade de se deter moeda sob a
forma de fluidez - menor é o valor advindo da detenção de numerário.
Quanto à taxa de desconto esta corresponde ao valor futuro de determinado bem que se subtrai
de modo a entender se vale a pena um investimento atual ou um investimento futuro. Por exemplo,
tenho um carro será que o vendo agora ou guardo porque valerá mais no futuro? Aplico a taxa de
desconto e a taxa de juro e vejo qual é mais benéfica (também com o próprio para ver se o invisto no
momento ou o deixo no banco a ganhar juros). Para investir agora a taxa de juro tem de ser superior à
taxa de desconto porque se não não vale a pena estar a preferir o futuro por algo que ganho mais no
presente.
Noa Brighenti
50
Motivo-especulação
Há um setor da economia que se centra nas transações intemporais, é aquele em que os bens
duradouros são adquiridos não como meios de satisfação direta de necessidades, mas como valores
especulativos - empresto dinheiro para ganhar mais no futuro.
O mercado especulativo não está a espelhar a conjuntura real sobre que assenta mas apenas,
na sua volatilidade, a exprimir a limitação e irracionalidade das expectativas sobre situações de
mercado vindouras. Dessas expectativas dir-se-á que elas são racionais quando incorporam todo o
conhecimento disponível e irracionais quando se limitam a extrapolar do presente, ou do passado
recente, para o futuro, apostando tudo na mera continuidade evolutiva.
Seguros
Se há aversão ao risco e incerteza as pessoas não investem ou participam em mercados
especulativos pelo que se estes receios forem generalizados estagna-se toda a atividade produtiva. Há,
por isso formas de mitigar o risco e incerteza como por exemplo diversificar o investimento e produção
em vários setores e não só num ou de transferir os riscos para uma seguradora, a qual cobra um preço
correspondente ao dano coberto, multiplicando pela probabilidade do dano e acrescido de um prémio
que remunera a seguradora pela absorção do risco. Mas os seguros têm limites.
1. Seguro e incerteza
Há incertezas não computáveis pelo cálculo das probabilidades e que, por isso, não
podem ser cobertas pelo seguro, ainda que possam ter um impacto decisivo na verificação de
lucros ou prejuízos - não podemos saber se uma peça de roupa terá o sucesso de vendas que o
produtor necessita para cobrir as despesas.
Se uma seguradora estivesse disposta a cobrir também essa incerteza, isso
representaria para ela um mau negócio pois ela passaria a assumir todos os prejuízos do
produtor sem receber a totalidade dos lucros que se verificassem em caso de sucesso. Também
o produtor se quisesse ser coberto pela seguradora a totalidade das incerteza pagaria um valor
exorbitante equivalente ao da própria empresa.
Noa Brighenti
51
O risco moral prende-se ao facto de os segurados, sabendo que estão cobertos, agirem
de forma diligente e terem menos cuidados - um seguro ilimitado levaria a que todos agíssemos
de forma imprudente sem pensar ans nossas ações e nas suas consequências.
Como isto agrava o nível geral de risco das seguradores ele poderia causar a sua
insolvência - ressalvada a hipótese de se socorrer ao resseguro (seguros das seguradoras) e à
securitização, ou seja, à transferência parcial dos riscos das seguradoras para o próprio
mercado de capitais. As seguradoras poderiam também optar por um pagamento uniforme mas
restringidos os assegurados apenas àqueles que tinham saúde acima da média.
Normalmente o que as seguradoras fazem é aumentar o preço daqueles que mostram
ser diligentes. Se tenho um seguro e depois tenho um acidente automóvel o seguro do meu
carro passará a ser mais alto porque eu sou vista como sendo mais propensa a agir de forma
irresponsável.
Condições da concorrência
1. Atomicidade
A presença no mercado de muitos agentes de tal forma que nenhum deles pode através
do seu próprio comportamento alterar o mecanismo dos preços (são todos price-takers) - permite
que haja concorrência pois há sempre alternativas o que é crucial também para a existência de
elasticidade.
Há atomicidade do lado da oferta quando a escala mínima de eficiência é reduzida por
comparação com o volume da procura - muitos produtores podem simultaneamente atingir e
manter um volume de produção que lhes traz a minimização dos custos médios de longo prazo,
ou seja, o máximo de eficiência económica.
2. Fluidez
O grau de competitividade do mercado e a extensão dos benefícios gerados pela
concorrência dependem da intensidade e sinalização que é transmitida no mercado. É
necessário que o mercado seja homogéneo de tal forma que a única forma de escolher a quem
comprar o bem seja o preço por ele praticado e não as caraterísticas do seu bem.
Mesmo que haja homogeneidade é necessário que haja também fluidez e para tal é
necessário que os consumidores se apercebam desta homogeneidade pois dispõem de
informação suficiente e são racionais.
Não existe fluidez se for possível uma diferenciação dos produtos que os torne
substitutos imperfeitos ou bens sucedâneos, que os torne infungíveis.
Noa Brighenti
52
Num ambiente de atomicidade, como o produtor é um price taker e não pode influenciar os
preços, o seu rendimento total variará diretamente em função das quantidades produzidas, do volume
de vendas e de produção - se todas as unidades são vendidas ao mesmo preço mais vale vender
muitas para obter mais dinheiro que vender poucas.
Para o price taker a procura é infinitamente elástica não dependendo do produto em si mas
porque os produtos vendidos pelos seus concorrentes são substitutos perfeitos dos seus.
No caso do vendedor atomístico, o rendimento médio coincidirá, por definição, com o preço
unitário dos bens vendidos, sendo que o resultado não pode deixar de ser igual ao preço inicial. Mais,
no mercado atomístico o próprio rendimento marginal coincide com o rendimento médio - o rendimento
marginal é o que ele recebe por cada nova unidade vendida mas, se ele recebe sempre o mesmo, logo
cada unidade vendida vai ter o mesmo preço que a anterior.
Por exemplo, um relojoeiro é um price taker e no mercado os relógios custam 3,5€ - num
contexto verdadeiramente concorrencial os preços tendem a não se afastar muito dos custos médios do
produtor atomístico, senão mesmo a coincidir com ele. Como os preços são todos iguais o lucro
consegue-se quando os custos médios são mais baixos - enquanto o custo marginal for inferior ao
rendimento marginal vale a pena incrementar a produção porque o lucro irá subir, mas enquanto o custo
marginal for superior ao rendimento marginal não vale a pena incrementar a produção porque o custo
marginal tem uma tendência a aumentar.
Então, qual o ponto ótimo para o vendedor atomístico que quer ter mais lucro? Encontra-se na
escala da eficiência, no ponto em que a curva ascendente dos custos marginais se encontra com a
recta plana dos rendimentos marginais (porque o preço do produto é sempre o mesmo). Neste ponto é
possível gerar mais lucro, mas a partir dele o aumento de produção deixa de gerar mais lucro. Por outro
lado, se a partir deste ponto diminuirmos a produção, vamos diminuir ainda mais os custos de produção
pelo que as perdas de rendimento compensam. Por exemplo, diminuímos de 5000 para 3500 unidades
e há uma perda de 520€ mas uma redução de custos de 800€, o que significa que o benefício líquido
compensará esta diminuição.
Noa Brighenti
53
quando ela passar os 10 anos eu decidir tenho antes de decidir se me compensa comprar uma nova ou
se devo antes abandonar o mercado.
É compensador sair temporariamente do mercado se as perdas resultantes da ausência de
vendas forem mais do que compensadas pela poupança obtida em sede de custos variáveis, ou seja, se
os custos variáveis forem superiores ao rendimento total. Assim, o ponto de encerramento ocorre
quando o rendimento total não cobre o total de custos variáveis e por isso as perdas totais são
superiores aos custos fixos totais, ou os rendimentos médios são inferiores aos custos variáveis médios.
Deste modo, uma empresa de óculos de sol em que os vende por 3,5€ no verão e 1€ no inverno,
mais vale sair temporariamente do mercado e só abrir meio ano que estar a perder dinheiro.
A elasticidade-preço da oferta verifica-se através desta decisão de entrada ou saída sendo que
ela tende a aumentar com o tempo e a atingir o seu máximo no longo prazo: as variações de preços não
apenas podem induzir atitudes adaptativas de escala nos produtores já presentes no mercado, como
também aumentam ou diminuem o número desses produtores.
Como cada produtor novo só entra se tiver calculado que é capaz de operar a custos médios
totais inferiores ao preço de mercado e volta a sair se verificar o inverso, a expansão da oferta através
do número de produtores faz-se a custos marginais que praticamente coincidem com os custos médios,
pelo que a curva da oferta de longo prazo se apresenta como quase horizontal, isto é, quase
perfeitamente elástica, respondendo às solicitações da procura com variações nas quantidades
oferecidas, sem significativa alteração do nível de preços.
Em suma, o produtor deve encerrar atividade, retirando-se do sector, sempre que o preço de
venda dos seus produtos não for suficiente sequer para cobrir os custos médios. Mas se o preço de
venda, sendo inferior aos custos médios, for superior aos custos variáveis médios, ou seja, se se
encontrar num ponto intermédio entre as curvas dos custos médios e dos custos variáveis médios, vale
a pena ao produtor manter-se em atividade apesar de registar perdas, dentro de uma lógica de
minimização de perdas.
Noa Brighenti
54
número de vendedores seja fixo, mas pode presumir-se que há pontos de equilíbrio nos quais ninguém
entra ou sai do mercado.
Os produtores entram no mercado quando percebem que outros estão a gerar lucros mas a sua
entrada implica que com mais um vendedor a quantidade vendida por cada vendedor será menor, pois a
procura não se alterou. Assim, a nova entrada vai fazer com que os lucros diminuam. Se, por acaso, os
produtores não se conformarem com a nova quantidade que devem vender (mais pequena porque há
mais um vendedor) haverá um excesso das quantidades oferecidas em relação às quantidades
procuradas o que levará a uma quebra dos preços. Se os vendedores começarem a abandonar o
mercado porque já não lhes compensa, depois o preço voltará a subir e tudo se repetirá.
Porém, há um limite para estas oscilações e movimentos de entrada e saída que é o ponto no
qual convergem preço e custo médio, um ponto no qual o lucro tende a desaparecer. Em suma, o
mercado concorrencial sem barreiras de entrada e de saída tende, no longo prazo, para um equilíbrio
que coloca os produtores na sua escala de eficiência. Nota que o preço e custo médio coincidem mas,
para o lucro ser máximo devemos também expandir o volume de vendas, até ao ponto em que
coincidem preço e custo marginal.
Enquanto existirem lucros económicos no mercado, a entrada de novos concorrentes já
estabelecidos fará aumentar a oferta e baixar os preços até que aqueles lucros desapareçam, num
ponto de equilíbrio em que ninguém mais é incentivado a entrar no mercado e os concorrentes
presentes perdem também o incentivo de expandir a produção.
Pode também ocorrer ocasiões em que a oferta de longo prazo deixa de ser estável quanto ao
preço e passa a evidenciar uma tendência crescente - começa a revelar uma elasticidade preço menos
do que infinita, o que acontece quando:
➔ A entrada de novos concorrentes faz subir o preço dos fatores para todos os
concorrentes
➔ Não sendo homogéneos os padrões de custos, pode dar-se o caso de os
produtores mais eficientes serem os primeiros a entrar no mercado pelo que cada
nova entrada de concorrente agrava a média de custos
◆ Nesta segunda opção a presença de custos heterogéneos faz com que os
produtores mais eficientes mesmo no longo prazo possam beneficiar de
uma renda económica - todo o rendimento que ultrapassa os custos de
oportunidade dos recursos empregues na actividade - e por isso
ultrapassa o incentivo mínimo necessário para que a atividade tenha lugar,
convertendo-se numa remuneração desnecessária e ineficiente.
Lucro normal
Quanto ao facto do mercado concorrencial tende para o desaparecimento do lucro, a verdade é
que o facto de economicamente ter desaparecido o lucro não significa que não subsista um lucro
contabilístico, pelo que a noção de custo total que temos tratado inclui também o custo de oportunidade.
Lucro normal é o ponto mínimo aceitável de lucro sem o qual o setor é abandonado e, se por
acaso este lucro normal não está disponível num setor o custo de oportunidade de não optar por uma
outra atividade em que alcançaria esse lucro normal, faria com que o empresário abandonasse o
mercado. Se ele se mantém no mercado é porque mesmo assim lhe compensa.
O ponto de break even é atingido quando o rendimento total é igual aos custos totais (no qual
está incluído este lucro normal) - é o ponto no qual passou a valer a pena entrar naquele sector
produtivo. Perdido esse ponto os vendedores atomísticos começarão a registar prejuízos o que os
Noa Brighenti
55
Concentração de mercado
A intensidade da concorrência depende da estrutura de custos dominante e esta depende, por
sua vez, da tecnologia disponível. O nível ótimo da concorrência dar-se-á quando a densidade de
concorrentes não impedir nenhum deles de chegar à sua escala de eficiência.
Mas o que determina o grau de concorrência que cada mercado comporta, ou melhor, o que faz
com que a escala de eficiência corresponda a volumes maiores ou menores de produção?
Essencialmente são os custos fixos e os overhead costs em que cada produtor tem de incorrer para se
estabelecer num determinado sector, aquilo que poderíamos designar como a componente económica
das barreiras de entrada - esta é uma barreira natural à entrada e saída de concorrentes.
Em suma, tende a sustentar-se que os efeitos maximizadores da livre concorrência só não
ocorrem de facto porque esses requisitos da livre concorrência são difíceis de preencher. Mas é
possível que nem mesmo a concorrência perfeita fosse capaz de assegurar a referida maximização -
dada a presença de elevados custos fixos e, em consequência, de elevadas escalas de eficiência
capazes de generalizar perdas em ambientes concorrenciais - sendo que, nestes casos, terá de se
admitir que a livre concorrência se torna indesejável.
Noa Brighenti