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10067
Disponível em:
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Resumo
Abstract
In this study it was aimed to analyze the specialization pattern of international trade in the state
of São Paulo, identifying the most dynamic productive sectors in the period between 1999 and
2014. In this sense, the Revealed Symmetric Comparative Advantage indicator was calculated,
as well as the Intra-Industry trade indicator, the Sector Concentration of Exports and the
imports coverage ratio. The results indicated that the state had a diversified export basket.
Thus, it is possible to conclude that the sectors specialized in international trade are those with
product differentiation, economies of scale and monopolistic competition, although it was also
identified the existence of inter-industry trade in many sectors.
Keywords: Exports. Comparative Advantage. São Paulo.
1 INTRODUÇÃO
lizados com o resto do mundo. E, nesse contexto, o Estado de São Paulo, que em 1999
respondia por, aproximadamente, 10,5% da pauta de exportações do Brasil, passou
a 8,4% em 2014, conforme o Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio
(MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA E COMÉRCIO EX-
TERIOR, 2015).
A competitividade do comércio internacional paulista pode ser explicada pelo
comércio interindustrial e intraindustrial. O comércio interindustrial é baseado nas
vantagens comparativas, cuja teoria pressupõe que ganhos em trocas internacionais
dependem da capacidade que certo país tem de produzir os bens nos quais, comparati-
vamente entre si, a produtividade do trabalho fosse maior, ainda que em determinada
situação de menor custo na produção de diferentes produtos, o comércio exterior seria
mais vantajoso por possibilitar a melhor e mais eficiente alocação de recursos de um
país e, por conseguinte, a obtenção de vantagens comparativas com aumento na pro-
dução e na renda dos países envolvidos na troca (RICARDO, 1982).
Ainda nesse contexto, o comércio intraindustrial é definido pela troca de pro-
dutos da mesma indústria, a qual ocorre pela diferenciação de produto, pelos retornos
crescentes de escala e pela concorrência monopolística. Em um mundo globalizado,
no qual as empresas passaram a depender das trocas internacionais para “fazer coi-
sas” e não mais somente para “vender coisas”, o comércio internacional não mais se
limita à simples venda de um produto final produzido em determinado país para con-
sumidores em outra parte do globo (BALDWIN, 2013). O comércio intraindustrial,
também é condizente com a teoria de internacionalização das empresas, uma vez que
se considera a existência de concorrência imperfeita, pois, em geral, há um monopólio
em um país, enquanto em outro país existe uma concorrente potencial, isto é, uma
empresa local que pretende entrar na produção desse bem. Além disso, a modelização
da produção é realizada supondo-se que existem custos irrecuperáveis, e as empresas
se engajam em comportamentos estratégicos e devem decidir entre exportar os pro-
dutos ou produzir no exterior, e os balizadores dessa decisão são maximizar lucros e
minimizar custos (RAINELLI, 1997).
Nesse contexto, teve-se o objetivo geral neste trabalho, de se analisar o pa-
drão de especialização das exportações do Estado de São Paulo, considerado o centro
financeiro mais desenvolvido e com maior relevância no PIB do País, no período 1999
a 2014, cujo marco inicial representa o ano em que o Brasil adota o regime de câmbio
flutuante (VIANNA; BRUNO; MODENESI, 2010). Especificamente, pretendeu-se
analisar os setores produtivos mais dinâmicos do Estado paulista, bem como com-
Gráfico 1 – Exportações (X) segundo fator agregado (em milhões US$ FOB) – São Paulo
Gráfico 2 – Importações (M) segundo fator agregado (em milhões US$ FOB) – São Paulo
Tabela 1 – Destino das exportações e sua participação no total exportado por São Paulo (1999 e 2014)
Estados
1º 8.439 16,4 1º Estados Unidos 4.301 24,5
Unidos
2º Argentina 6.006 11,7 2° Argentina 2.883 16,4
(Países Bai- (Países Baixo)
3º 2.624 5,1 3º 857 4,9
xo) Holanda Holanda
Bélgica e Lu-
4º China 2.546 4,9 4º 692 3,9
xemburgo
Bélgica e
9º 1.231 2,4 29º China 68 0,4
Luxemburgo
Demais
30611,2 59,5 Demais Países 8741,7 49,8
Países
Total 51.458 100,0 Total 17.542 100,0
Fonte: adaptado de Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior (2015).
3 METODOLOGIA
(1)
Em que:
Ainda, conforme Hidalgo (1998), quando uma região exporta um grande vo-
lume de determinado produto em relação ao que é exportado pelo país desse mesmo
produto, ela possui vantagem comparativa na produção desse bem. Além disso, em
um ambiente cada vez mais globalizado e integrado, o fluxo comercial é caracterizado
por um crescente comércio intraindústria. A expansão do comércio nos processos de
integração econômica, em geral, acontece por meio desse tipo de comércio. Assim, o
conhecimento desse comércio é importante na formulação de estratégias de inserção
internacional para uma economia (HIDALGO; DA MATA, 2004).
O segundo é o Índice de Comércio Intraindústria (CII), o qual visa caracteri-
zar o comércio do Estado de São Paulo. Esse índice consiste na utilização da expor-
tação e importação simultânea de produtos do mesmo setor. Com o avanço e difusão
dos processos tecnológicos entre os países, muda-se a configuração do comércio inter-
nacional e o peso das vantagens comparativas (abundância de recursos). Apresenta-se
como destaque o crescimento do comércio interindustrial. Conforme Appleyard, Field
Junior e Cobb (2010), diferente do comércio interindustrial, o comércio intraindústria
é explicado pelas economias de escala e pela diferenciação do produto.
O indicador setorial do comércio intraindustrial (CII) foi desenvolvido por
Grubel e Lloyd (1975) e pode ser apresentado conforme a Equação 2:
(2)
Em que:
Xi representa as exportações do produto i;
Mi representa as importações do produto i.
de fatores e sob concorrência perfeita. Esse arranjo explicativo das trocas comerciais
pode indicar se determinado participante do comércio internacional alcançou ganhos de
competitividade. Ressalta-se que, em meio à profusão de conceitos que foram atribuídos
a esse termo, entende-se, neste artigo, diante dos alcances e das limitações dos índices
utilizados, que alcançar competitividade internacional significa atingir os maiores níveis
de vantagem comparativa revelada e o padrão de inserção intraindustrial.
O terceiro indicador é o índice de Concentração Setorial das Exportações
(ICS), também conhecido como coeficiente Gini-Hirchman, o qual quantifica a con-
centração das exportações de cada setor exportador i realizadas pelo estado j (São
Paulo). O ICS é representado por meio da Equação 3:
(3)
Em que:
Xij representa as exportações do setor i pelo estado j (SP);
Xj representa as exportações totais do estado j (SP).
(4)
Em que:
Xij representa as exportações do setor i do estado j (SP);
Mij representa as importações do setor i do estado j (SP);
Xi representa as exportações do produto i;
Mi representa as importações do produto i.
Alimentos/fumo/bebidas -0,09 -0,16 -0,16 -0,11 -0,14 -0,12 -0,10 -0,05 -0,11 -0,13 -0,08 0,00 0,00 -0,05 -0,04 -0,08
Minerais -0,78 -0,61 -0,58 -0,72 -0,60 -0,65 -0,65 -0,64 -0,58 -0,61 -0,80 -0,87 -0,89 -0,83 -0,78 -0,64
Químicos 0,11 0,07 0,12 0,14 0,12 0,12 0,12 0,08 0,10 0,16 0,21 0,21 0,26 0,24 0,25 0,23
Plástico/borracha 0,20 0,17 0,21 0,25 0,24 0,23 0,20 0,17 0,16 0,23 0,21 0,27 0,32 0,30 0,32 0,31
Calçados/couro -0,46 -0,39 -0,37 -0,34 -0,28 -0,20 -0,19 -0,17 -0,13 -0,16 -0,23 -0,12 -0,15 -0,12 -0,11 -0,12
Madeira -0,69 -0,72 -0,73 -0,72 -0,70 -0,75 -0,69 -0,69 -0,70 -0,64 -0,64 -0,68 -0,64 -0,63 -0,56 -0,59
Papel -0,06 -0,11 -0,04 -0,03 -0,02 -0,01 0,01 -0,03 -0,03 -0,03 0,03 -0,01 0,06 0,02 0,02 -0,03
Têxtil 0,01 -0,05 -0,07 -0,05 -0,05 -0,11 -0,13 -0,14 -0,15 -0,15 -0,14 -0,08 -0,17 -0,27 -0,10 -0,17
Metais comuns -0,30 -0,30 -0,24 -0,21 -0,21 -0,18 -0,21 -0,20 -0,15 -0,19 -0,12 -0,14 -0,18 -0,10 -0,12 -0,11
Máquinas/equipamentos 0,28 0,29 0,26 0,24 0,24 0,25 0,24 0,26 0,29 0,35 0,34 0,37 0,42 0,41 0,39 0,38
Material transporte 0,32 0,29 0,31 0,34 0,35 0,31 0,32 0,32 0,32 0,36 0,41 0,43 0,45 0,43 0,31 0,43
Ótica/instrumentos 0,04 0,07 0,11 0,20 0,25 0,25 0,25 0,22 0,23 0,28 0,30 0,33 0,39 0,36 0,39 0,39
Outros -0,30 -0,25 -0,25 -0,08 -0,25 -0,29 -0,24 -0,19 -0,09 0,02 0,10 0,12 0,20 0,20 0,26 0,26
Fonte: adaptado de Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior (2015).
Padrão de especialização do comércio...
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Mygre Lopes da Silva et al.
Alimentos/fumo/bebidas 0,50 0,59 0,48 0,42 0,37 0,28 0,26 0,25 0,29 0,33 0,31 0,31 0,35 0,35 0,36 0,41
Minerais 0,20 0,33 0,42 0,35 0,48 0,36 0,54 0,51 0,50 0,44 0,30 0,22 0,15 0,29 0,18 0,32
Químicos 0,42 0,43 0,42 0,46 0,48 0,47 0,53 0,56 0,54 0,47 0,49 0,47 0,49 0,46 0,41 0,40
Plástico/borracha 0,73 0,71 0,72 0,77 0,85 0,82 0,85 0,84 0,80 0,70 0,74 0,69 0,73 0,72 0,61 0,62
Calçados/couro 0,41 0,31 0,29 0,29 0,24 0,22 0,31 0,32 0,34 0,57 0,77 0,66 0,84 0,87 0,98 0,97
Madeira 0,31 0,35 0,31 0,26 0,17 0,14 0,14 0,20 0,27 0,34 0,39 0,50 0,63 0,72 0,59 0,60
Papel 0,99 0,99 0,88 0,78 0,59 0,67 0,64 0,73 0,75 0,83 0,75 0,84 0,83 0,80 0,77 0,81
Têxtil 0,78 0,77 0,87 0,93 0,90 0,91 0,97 0,92 0,83 0,71 0,63 0,59 0,49 0,40 0,36 0,32
Min. n.met/met. preciosos 0,80 0,81 0,93 0,66 0,56 0,58 0,64 0,65 0,70 0,81 0,81 0,97 0,99 1,00 0,87 0,91
Máquinas/equipamentos 0,60 0,64 0,63 0,75 0,84 0,82 0,88 0,88 0,78 0,69 0,62 0,58 0,57 0,57 0,48 0,48
Material transporte 0,62 0,51 0,44 0,40 0,38 0,38 0,38 0,38 0,43 0,54 0,62 0,69 0,68 0,66 0,75 0,82
Ótica/instrumentos 0,32 0,30 0,30 0,34 0,32 0,30 0,30 0,29 0,25 0,22 0,21 0,21 0,24 0,22 0,20 0,21
Outros 0,68 0,83 0,85 0,78 0,86 0,94 0,98 0,94 0,91 0,83 0,89 0,72 0,68 0,67 0,64 0,65
Fonte: adaptado de Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior (2015).
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De acordo com a Tabela 4, o terceiro setor que apresenta maior comércio in-
traindústria é o de minerais não metálicos e metais preciosos. Esse padrão comercial
justifica-se pela dotação de recursos minerais do Estado, principalmente de minerais
não metálicos, os quais são demandados pelo setor de construção civil. A produção
do Estado concentra-se em areia, brita, argilas, calcário, fosfato, talco e água mineral
(CABRAL JÚNIOR et al., 2008).
Além disso, ressalta-se que as exportações se concentram, principalmente,
nos setores de vidros e suas obras e pedras e metais preciosos. As importações pau-
listas do setor têm ênfase em obras de pedra, gesso, cimento e matérias semelhantes e
vidros e suas obras (ALICEWEB, 2015).
O quarto setor que apresenta maior comércio intraindustrial é o de papel.
Tanto as exportações quanto as importações paulistas do setor concentram-se, princi-
palmente, em papel, cartão e obras de pasta de celulose (ALICEWEB, 2015).
Já para análise dos setores agregados no CII, de acordo com a Tabela 5, os
resultados indicaram o comércio intraindustrial para São Paulo variando em torno de
56% entre 1999 e 2014.
Como pode ser observado, pode-se sugerir que São Paulo apresenta uma pau-
ta de exportações relativamente diversificada; a média do indicador (ICS=0,42), no
período analisado, aparece oscilando entre 0,40 e 0,44.
Esse resultado é reflexo das vantagens comparativas do Estado, de acordo
com os resultados alcançados pelo IVCRS, visto que 28,6% dos setores apresentaram
vantagem comparativa, bem como o CII indica que 64,3% dos setores apresentam
comércio baseado em diferenciação de produto, economias de escala e concorrência
monopolística, ou seja, intraindustrial.
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio
Exterior (2015) (SECEX) (2015), ao longo do período, os setores que mais aumenta-
ram as exportações foram minerais, outros, alimentos/fumo/bebidas, químicos e plás-
Alimentos/fumo/bebidas 4,09 3,18 3,89 3,77 3,93 5,38 5,54 5,69 5,64 6,16 6,66 7,29 6,66 6,61 7,71 6,83
Minerais 0,15 0,26 0,32 0,21 0,28 0,19 0,30 0,28 0,32 0,34 0,22 0,16 0,12 0,23 0,17 0,33
Químicos 0,35 0,37 0,33 0,30 0,28 0,27 0,29 0,32 0,35 0,37 0,39 0,41 0,46 0,41 0,43 0,43
Plástico/borracha 0,77 0,72 0,69 0,62 0,66 0,61 0,59 0,60 0,64 0,64 0,72 0,70 0,82 0,77 0,74 0,79
Calçados/couro 5,23 7,27 7,20 5,98 6,55 7,26 4,41 4,32 4,67 3,04 1,95 2,67 1,95 1,79 1,76 1,84
Madeira 7,43 6,25 6,58 6,83 9,31 11,85 11,13 7,33 6,18 5,75 4,99 3,95 3,10 2,46 4,01 4,10
Papel 1,39 1,36 1,55 1,58 2,13 1,74 1,72 1,44 1,60 1,70 2,03 1,83 2,02 2,09 2,66 2,57
Têxtil 0,86 0,83 0,95 0,87 1,09 1,05 0,86 0,70 0,68 0,66 0,56 0,56 0,47 0,35 0,37 0,33
Min. n.met/met. preciosos 2,03 1,95 1,40 2,03 2,30 2,18 1,73 1,70 1,77 1,74 1,78 1,42 1,39 1,38 1,28 1,45
Máquinas/equipamentos 0,58 0,63 0,57 0,60 0,64 0,62 0,63 0,64 0,62 0,63 0,55 0,54 0,56 0,54 0,53 0,54
Material transporte 2,98 3,81 4,41 4,06 3,85 3,75 3,52 3,46 3,51 3,22 2,74 2,51 2,78 2,77 2,79 2,50
Ótica/instrumentos 0,26 0,23 0,21 0,20 0,17 0,15 0,14 0,14 0,14 0,14 0,15 0,15 0,19 0,17 0,19 0,20
Outros 0,70 0,94 0,90 1,56 1,17 0,99 0,84 0,73 0,80 0,85 0,99 0,74 0,74 0,70 0,78 0,83
Fonte: adaptado de Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior (2015).
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Mygre Lopes da Silva et al.
5 CONCLUSÃO
Nota explicativa:
1
Para classificar as mercadorias, em 1996, o Brasil passou a utilizar a Nomenclatura Comum do Mercosul
(NCM), a qual é utilizada pelos outros integrantes do Bloco, baseado no Sistema Harmonizado de Des-
ignação e Codificação de Mercadorias (Capítulos SH) (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO DA
INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR, 2015).
REFERÊNCIAS
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where are they going. In: ELMS, D.; LOW, P. (Org.). Global value chains in a
changing world. Geneva: Fung Foundation, Temasek Foudation and World Trade
Organization, 2013.
GRUBEL, H.; LLOYD, P. Intra-industry trade: the theory and the measurement of
international trade in differentiated products. London: Macmillan, 1975.
ABNT
SILVA, Mygre, Lopes; FRANCK, Alison, Geovani, Schwingel; SILVA, Rodrigo
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Administração, Contabilidade e Economia, 15(2), 553-578. Recuperado de http://
editora.unoesc.edu.br/index.php/race