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7º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais

23 a 26 de julho de 2019
Belo Horizonte/MG

Área temática: Análise de Política Externa

Desempenho das exportações brasileiras e avaliação do governo Fernando Henrique


Cardoso (1995-2002)

Andréa Freire de Lucena (UFG)


Adilson Bicudo da Rocha (UFG)
Resumo

Alterações na produtividade e nos movimentos de exportação em vários países, nos anos


1990, pressionaram os empresários brasileiros, por mudanças nos padrões de
competitividade, e o governo, para elaboração de políticas comerciais mais ativas que
tivessem a finalidade de adequar as empresas às novas exigências internacionais. O
governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), em um contexto caracterizado pela criação da
Organização Mundial do Comércio com a incorporação dos vários acordos assinados dentro
do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) e pela recente existência do Mercosul,
adotou uma agenda de política comercial externa proativa. No âmbito internacional, houve
uma preferência pelo fortalecimento do multilateralismo. Na dimensão doméstica, houve a
criação de diversas políticas destinadas ao incremento da atividade exportadora brasileira.
Com o slogan “Exportar ou Morrer”, FHC definiu o incremento das exportações brasileiras
como uma das prioridades da politica comercial do seu governo. Como uma política
comercial ativa é considerada bem sucedida se ela consegue incrementar as exportações,
resta saber se os agentes avaliam bem um governo quando o país tem superávit comercial.
O objetivo desse artigo é verificar, a partir do uso de um modelo econométrico, se o
desempenho das exportações brasileiras no período 1995-2002 influenciou a avaliação do
governo FHC pela opinião pública.

Palavras-chave: Exportações brasileiras. Avaliação. Governo Fernando Henrique Cardoso.


Introdução

No período 1988-93, o Brasil realizou um grande processo de liberalização


comercial: eliminou-se as principais barreiras tarifárias e não-tarifárias e reduziu-se
paulatinamente os níveis de proteção à indústria local. A primeira etapa, entre 1988 a 1989,
diminuiu as tarifas médias de 41,2% para 17,8%, acabou com os regimes especiais de
importação e unificou os tributos incidentes sobre as compras externas. A Nova Política
Industrial de Comércio Exterior (PICE) lançada em 1990 extinguiu a maioria das barreiras
não-tarifárias e elaborou um cronograma de redução para as tarifas de importação que
ocorreria de maneira gradual entre 1991 e 1994. Neste contexto, as tarifas aduaneiras que
eram em média 35% e, em alguns casos, chegavam até a 100%, passaram a oscilar entre
zero a 40%, com tarifa média de 20%. O nível máximo de tarifa permitido deveria ser
utilizado para a proteção temporária de determinados setores. Em alguns casos, seriam
admitidos níveis tarifários superiores a 40% para proteção às indústrias nascentes,
sobremaneira na área de tecnologia de ponta. No final de 1994, a tarifa média deveria
chegar a 14% (MOREIRA; CORREA, 1997).
A abertura da economia brasileira no início dos anos 1990, entretanto, expôs o
parque industrial doméstico à competitividade internacional. A nova empresa passou a estar
baseada no desenvolvimento tecnológico. Na verdade, a substituição de um modelo de
desenvolvimento sustentado pelo Estado para um modelo autossustentado ainda não tinha
acontecido. A desvalorização cambial não foi suficiente para garantir um crescimento
sustentado das exportações brasileiras.
O Brasil, de forma geral, no início dos anos 1990, fez uma tentativa de reconstrução
conceitual da política externa brasileira. Fernando Henrique Cardoso (FHC) trabalhou no
sentido de adaptar o Brasil às demandas internacionais. Com a herança das expectativas de
transformação da imagem internacional do Brasil, FHC trabalhou no sentido de criar um
novo paradigma diplomático para o país. Em seu primeiro mandato, quebrou as práticas
intervencionistas do Estado e deu continuidade a algumas políticas de Collor. Priorizou a
abertura econômica, as privatizações, e a liberdade do comércio (PINHEIRO, 2004).
Na diplomacia brasileira da época, as visões institucionalistas e realistas se
completavam, pois se buscou fortalecer as instituições multilaterais internacionais por meio
de adesão às normais de regulação e, também, houve uma incessante busca pela
autonomia, com destaque para o processo de integração regional. Um dos principais
destaques deste governo foi a diplomacia presidencial. Nela, FHC teve grande papel de
negociação tanto com países industrializados como com as lideranças regionais
(PINHEIRO, 2004). Com relação à política de comércio exterior, FHC definiu sete áreas
prioritárias (FONSECA, 2002).
A redução dos custos de exportação, que era a primeira área fundamental, seria feita
em três fases complementares. Na primeira fase, a redução dos custos de logística foi
buscada por meio do reaparelhamento e da informatização dos portos (Reporto), da
interiorização de entrepostos aduaneiros e de portos secos em regiões estratégicas e da
dinamização do sistema aduaneiro. A diminuição dos custos financeiros, na segunda fase,
seria buscada por meio da capitalização do Fundo de Garantia à Exportação (FGE); da
revisão dos limites de risco país e dos limites de cobertura; do aumento do orçamento do
Proex – equalização e Proex – financiamento e do aumento dos recursos do BNDES-Exim
(ENAEX, 2001).
A redução dos custos tributários, na terceira fase, seria realizada não só pela difusão
e implementação de novas Estações Aduaneiras (EAD’s) industriais em pontos estratégicos,
como também pela regulamentação e implementação de aeroportos aduaneiros industriais
em parceria com a INFRAERO, pela implementação do controle de informatização de
operação de drawback (drawback eletrônico), pelo Sistema Integrado de Comércio Exterior
(SISCOMEX) – exportação em ambiente windows e pela redução a zero da alíquota de 15%
do Imposto de Renda sobre remessas ao exterior para fins de reembolso de despesas de
promoção comercial (ENAEX, 2001).
A busca pela agregação de valor à produção exportável era a segunda área
prioritária e aconteceria por meio de uma maior atuação em cadeias produtivas do Fórum de
competitividade instalado na Secretaria do Desenvolvimento da Produção (SDP) do
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), por meio de medidas
tarifárias, como o estabelecimento de imposto de exportação ou contribuição de intervenção
no domínio econômico sobre produtos primários de baixa elasticidade de preço, e por meio
de diferencial mercadológico, selecionando e certificando produtos brasileiros de qualidade
internacional (ENAEX, 2001).
O aumento da capacidade produtiva de bens voltados para exportação era a terceira
área prioritária e a principal atividade era a implantação do Programa de Financiamento às
Exportações (PROEX), que objetivava facilitar a disponibilidade de recursos para o
exportador. O agressivo programa de promoção comercial e de acesso a mercados, que era
a área quatro, aconteceria por meio do Portal brasileiro de comércio exterior, do apoio à
promoção no exterior de produtos “marca Brasil”, dos acordos bilaterais de preferências
tarifárias (gerais ou setoriais), da propaganda institucional do Brasil como fornecedor
competitivo e confiável e da divulgação de estatísticas de comércio exterior para o setor
privado (ENAEX, 2001).
O aprimoramento e a atualização da pauta exportadora, que era a quinta área
prioritária, se dariam por meio do Programa de captação de investimentos destinados a
setores dinâmicos, do Programa de exportação de serviços, pelos acordos de financiamento
de projetos e serviços e pelo Programa de substituição de importações de matérias-primas.
O aumento da base exportadora era a sexta área prioritária e ocorreria por meio do apoio da
Agência de Promoção às Exportações (APEX) à formação e à ampliação de consórcios de
pequenas e médias empresas e pela adequação da legislação para criação de cooperativas
de exportação (ENAEX, 2001).
O objetivo de internacionalizar as empresas brasileiras, que era a sétima área, seria
buscado por meio do apoio do BNDES-Exim e do Banco do Brasil (BB) à criação de
empresas no exterior e da criação da sala do exportador nas agências do BB no exterior.
Cabe destacar um aspecto da política de comércio exterior do governo FHC fundamental: a
crença de que para melhorar as vendas externas devia-se também criar uma cultura
exportadora no país: o empresário devia ter consciência da relevância do comércio exterior
(ENAEX, 2001). O saldo da balança comercial brasileira, todavia, passou a ser negativo a
partir de 1995 e permaneceu assim o restante da década de 1990. Na verdade, o que vale a
pena destacar é que esse saldo só se tornou positivo em 2001 e a partir do movimento de
desvalorização do real que começou a acontecer em 1999. Percebe-se, de fato, uma grande
diferença no valor do déficit de 1998 para o superávit de 2001 (MINISTÉRIO DA
ECONOMIA, 2019).
A população de um país, segundo Ostrom e Smith (1992), tem a expectativa de que
o seu governante lhe traga paz, prosperidade e probidade e a aprovação do público a esse
governo vai depender do quanto ele está atendendo essa expectativa (NEWMAN, 2002). A
situação econômica de um país, estado ou município, portanto, influencia a aprovação de
um governo. O governo FHC alcançou estabilidade macroeconômica por meio do Plano
Real. Com essa alta credibilidade, executou ações com a intenção de elevar a imagem do
Brasil internacionalmente, com maiores participações em foros decisórios multilaterais como
a Organização Mundial do Comércio (OMC). Resta-nos saber se essa elevada credibilidade
doméstica ampliou-se para uma boa avaliação da política comercial.
O objetivo desse artigo é verificar se o desempenho das exportações brasileiras no
período 1995-2002 influenciou a avaliação do governo FHC pela opinião pública brasileira,
com a utilização de um modelo econométrico por Mínimos Quadrados Ordinários (MQO). A
hipótese levantada é que o aumento das exportações brasileiras no período 1995-2002
influenciou positivamente a avaliação do governo FHC. Os dados sobre a avaliação do
governo FHC foram retirados do portal do Instituto de Pesquisas Datafolha e os dados sobre
exportação e importação foram retirados do portal do Ministério da Economia. O artigo está
dividido em três partes. Na primeira parte, mostra-se a relação entre desempenho
econômico de um país e a aprovação de um governo por meio de uma revisão da literatura.
Na sequência, explica-se a metodologia adotada pelo trabalho e, por fim, os resultados são
apresentados.
Desempenho econômico e aprovação de governo
Bloom e Price (1975) afirmam que quando a economia de um país está em uma fase
de prosperidade, ela afeta pouco o comportamento eleitoral1. Gronke e Brehm (2002)
chamam atenção para o fato de a volatilidade na aprovação presidencial ter uma
regularidade durante uma gestão e que, também, existem fatores, como a história e as
condições econômicas, que tanto podem aumentar os índices de volatilidade quanto podem
diminuí-los. Nesse contexto, outros aspectos irão influenciar a corrida eleitoral. Todavia,
quando um país está em recessão, as condições econômicas tornam-se variáveis capazes
de explicar um resultado eleitoral. Apesar de os governos desejarem uma estabilidade nas
suas taxas de aprovação, existe uma volatilidade na avaliação que as pessoas fazem de um
governo. Bloom e Price (1975) estimaram um modelo econométrico para verificar se o
comportamento eleitoral dos norte-americanos no período 1930-1970 era determinado por
algumas forças de curto prazo (como condições econômicas) e de longo prazo (como
identificação partidária). Uma das conclusões dos autores é que os eleitores consideram o
contexto econômico um ano antes do processo eleitoral, especialmente se a economia do
país não estiver em boas condições.
A aprovação de um presidente que o leva a ganhar uma eleição, no caso de
reeleições, ou que leva um candidato do seu partido a ganhar a eleição e a mantê-lo no
poder é cíclica e influenciada pela boa condição econômica. Segundo Stimson (1976), os
presidentes norte-americanos começam seus mandatos com uma popularidade elevada que
é reduzida durante os três anos iniciais e que, depois, no último ano de governo, tende a se
recuperar. O ciclo de apoio aos presidentes norte-americanos, portanto, é formado por três
etapas. Nos meses iniciais do primeiro ano do governo, aprovação elevada influenciada pela
eleição. Entre o primeiro ano e o terceiro ano, redução da aprovação. No último ano,
recuperação da popularidade. Os ciclos mostrariam expectativas positivas e negativas da
parcela menos informada da população norte-americana.
Kernell (1978) questiona a premissa de que a popularidade presidencial deve cair à
medida que o mandato presidencial avança. De acordo com o autor, a popularidade de um
presidente tem relação com eventos reais. Neste caso, a experimentação que for realizada
no mandato, a partir dos direcionamentos que forem dados pela equipe de um governo,
influenciaria a aprovação de um governo. Além disso, a popularidade é afetada
gradualmente e de maneira incremental pelas mudanças contextuais. Kernell (1978) conclui
que a aprovação de um presidente norte-americano não despenca abruptamente porque ela
tem relação com as oscilações em seu prestígio que, por sua vez, é influenciado por
alterações no contexto nacional. Cabe destacar que a prosperidade, para o autor, estrutura

1
Os artigos de Stigler (1973) e Arcelus e Meltzer (1975) aprofundam tal discussão.
a aprovação de um presidente. Assim, alterações econômicas influenciam a aprovação e/ou
a desaprovação de um governo: se a economia vai bem, há aprovação e voto no governo;
se a economia vai mal, há desaprovação e não voto no governo.
Shapiro e Conforto (1980) também procuraram verificar se a aprovação dos
presidentes norte-americanos teve correlação com alterações na economia (inflação e
desemprego) no período 1947-1975 e encontraram evidências de que mudanças no preço e
no nível de desemprego alteraram a avaliação que os eleitores fizeram de um governo que,
por sua vez, influenciaram a não votação nesse governo. Todavia, não são apenas as
eleições presidenciais que são afetadas. Tufte (1975) já tinha mostrado que alterações na
economia norte-americana que afetavam a renda pessoal disponível fizeram com que o
partido dos presidentes perdesse votos nas eleições para o congresso.
Os trabalhos que descrevemos até o momento possuem uma concepção comum de
que o eleitor faz sua escolha a partir de uma retrospectiva: ele olha para trás, verifica como
está o desempenho da economia e toma sua decisão de voto. Todavia, o eleitor também
pode tomar sua decisão eleitoral a partir de sua expectativa sobre o futuro. Neste caso, a
percepção que ele tem sobre o futuro definirá sua escolha. MacKuen, Erikson e Stimson
(1992) testaram elementos das dimensões retrospectiva e prospectiva e chegaram à
conclusão de que os eleitores retribuem ou condenam os presidentes pelos eventos
econômicos que ainda não aconteceram. De acordo com os autores, a dimensão
prospectiva é mais relevante do que a retrospectiva para explicar o comportamento eleitoral.
Norpoth (1996), entretanto, encontrou evidências de que a visão retrospectiva da economia
influenciou a aprovação dos governos norte-americanos e que a visão prospectiva não
influenciou.
Clarke e Stewart (1994) questionaram os resultados de MacKuen, Erikson e Stimson
(1992). Para eles, quando se utiliza uma série temporal não estacionária, os resultados
mostram que tanto a abordagem retrospectiva quanto a prospectiva influenciam o
comportamento eleitoral. Edwards III, Mitchell e Welch (1995) reafirmam que a variabilidade
dos fatores deve ser considerada porque eles modificam com o tempo. Assim, ao se
considerar que um fator tem efeito constante, corre-se o risco de não captar as alterações
que ocorrem na aprovação ou não aprovação de um governo porque o eleitor que faz a
avaliação de um presidente, governador ou prefeito modifica sua percepção durante a série
temporal. As questões, portanto, variam com o tempo sua importância para o público e são
significantes para a compreensão do comportamento político eleitoral. Cabe destacar que
Erikson, MacKuen e Stimson (2000) revisaram o artigo publicado em 1992 e confirmaram os
mesmos resultados encontrados anteriormente: os eleitores agem de acordo com suas
expectativas sobre o futuro.
Se as pesquisas que associam desempenho econômico doméstico à aprovação do
governo têm tido resultados próximos, o mesmo não se pode afirmar para os artigos que
tratam da relação entre política externa e aprovação do governo. Kagay e Caldeira (1975
apud ALDRICH, SULLIVAN e BORGIDA, 1989) asseveram que a política externa norte-
americana influenciou pouco as eleições de 1952 e de 1956 e não influenciou os resultados
das eleições entre 1960 e 1976, com exceção do ano de 1972. Hess e Nelson (1985 apud
ALDRICH, SULLIVAN e BORGIDA, 1989) encontraram resultados parecidos. De acordo
com os autores, a política externa afetou o comportamento dos eleitores nas eleições de
1952 e 1972. Kessel (1988 apud ALDRICH, SULLIVAN e BORGIDA, 1989) enfatiza que a
política externa influenciou mais as eleições de 1968 e 1976 do que a política doméstica.
Nickelsburg e Norpoth (2000), ao analisarem, por meio de séries temporais, dados
que começaram no governo Carter e foram até o governo Clinton chegaram à conclusão de
que a aprovação de um presidente norte-americano depende tanto da situação econômica
quanto da política externa. Eles destacam que um presidente bem avaliado precisa ser
comandante-chefe e economista chefe. O doméstico e o internacional, portanto, se
complementam. Em um mundo interdependente, o nível de abertura da economia, por
exemplo, impacta na avaliação doméstica de um país que, por sua vez, influencia o apoio da
população ao governo. Além disso, o bom desempenho de um país na economia mundial,
muitas vezes, ameniza suas situações domésticas ruins (HELLWIG, 2001).

Procedimentos metodológicos
Diante do que foi exposto até o momento, e em detrimento do objetivo deste artigo,
entende-se necessário analisar a influência que as exportações de um país têm sobre a
avaliação do governo. Para atingir essa proposição utiliza-se o método econométrico dos
Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), que estima os dados com o propósito de reduzir as
diferenças entre os valores estimados e os dados observados, por meio de um ajuste das
diferenças (resíduos) (GUJARATI, 2011; ROSSI & NEVES. 2014).
Como se pretende estimar a relação entre três variáveis e verificar se uma consegue
explicar os efeitos na outra, utilizar-se-á de um modelo de regressão linear multivariado - no
software Gretl2 - para analisar a correlação de explicação entre as variáveis dependentes e
independentes, como sugerem Kellstedt & Whitten (2015), Gujarati (2011) e Bueno (2018).
Em testes iniciais, verificou-se que seria interessante analisar também as importações;
então, incluiu-se ao modelo no intuito de retirar melhores conclusões. Os dados de
exportação e importação foram retirados do portal do Ministério da Economia e os da

2
A escolha do software foi de responsabilidade dos autores e não tem relação com os conceitos
apresentados. Gretl é uma ferramenta de processamento de informações, como várias outras
disponíveis. O ponto positivo do software é sua interface amigável e a gratuidade da licença.
avaliação do governo Fernando Henrique Cardoso foram extraídos do banco de dados do
Instituto de Pesquisas Datafolha, para todos os meses no período de 1995 a 2002. Para os
dados governamentais, foi considerado somente a variável que avaliava o governo como
sendo “ótimo ou bom”.
Os valores referentes à exportação e importação do Brasil no período analisado se
tratam de dados em séries temporais e, por isso, deve-se tomar cuidado com os valores na
busca pela confiabilidade de se trabalhar com esse tipo de dado. Kellstedt e Whitten (2015),
Gujarati (2011) e Rossi & Neves (2014) sugerem que, ao estimar séries temporais, deve-se
verificar se as mesmas sofrem de processos estocásticos e se são não estacionárias. Como
utiliza-se a taxa de variação dos dados de comércio, conforme extraído do portal do
Ministério da Economia, e a taxa de aprovação do governo, constatou-se que as séries são
estacionárias. Desta forma, não foi necessário tratar as informações neste sentido.
Porém, de acordo com os exemplos e explicações oferecidas por Kellstedt e Whitten
(2015), para modelos que envolvam fatores econômicos ligados à aprovação de governo, é
interessante incluir na modelagem a variável dependente com uma defasagem de 1 mês.
Estes autores explicam que, ao se analisar variáveis em um modelo de regressão linear, as
verificações são feitas variável a variável; no nosso caso, seria mês a mês. Contudo, ao se
tratar de avaliação governamental, os autores afirmam que os avaliadores (agentes) não
esquecem o que aconteceu no governo em meses anteriores, ou seja, a população em geral
não avalia o governo apenas pelo que ele fez no mês corrente, e sim de forma acumulada
desde o início de seu governo.
Kellstedt e Whitten (2015) sugerem que uma das formas mais consistentes de
verificar relações causais neste tipo de modelagem é o uso do modelo da variável
dependente defasada (transformação Koyck). Para isso, utiliza-se a seguinte equação (1):

𝑌𝑡 =≫ 𝑌𝑡−1 + 𝛼 + 𝛽1 𝑋1𝑡 + 𝛽2 𝑋2𝑡 + 𝑣𝑡 (1)

Onde:
𝑌𝑡 representa a variável dependente avaliação do governo em determinado tempo (t);
𝑋1𝑡 e 𝑋2𝑡 são as exportações e importações, respectivamente;
𝑌𝑡−1 é um substituto para o efeito acumulado de todos os valores defasados de X, ou
seja, todas as defasagens de 𝑋 em 𝑌𝑡 .
Desta forma, é possível verificar como as variáveis independentes afetam a
dependente, mas, conforme expõem Kellstedt e Whitten (2015), o coeficiente 𝑌𝑡−1, também
interpretado por 𝜆 (que varia de 0 a 1), representa a persistência ao longo do tempo do
efeito dos valores defasados de 𝑋 em 𝑌𝑡 . Sendo descrito pela equação (2):
𝛽𝑥
𝛽= 1−𝜆
(2)

Sendo que quando 𝜆 = 0, então o impacto acumulado é igual ao impacto imediato.


Diferentemente, se o coeficiente da variável dependente defasada se mover de 0 a 1, este
impacto será crescente. Deste modo, considera-se que a avaliação do governo é
dependente do aumento no fluxo de exportações e importações a um nível de confiança de
95%. As variáveis independentes no modelo são as exportações e importações e a
avaliação governamental trata-se da variável dependente. Este tipo de modelagem proposta
por Kellstedt e Whitten (2015) e por Gujarati (2011) pretende mostrar qual nível de
explicação das variáveis independentes sob a dependente.
A amostra utilizada contempla 95 observações e espera-se que 𝛽1 e 𝛽2 sejam
positivos, mostrando que quanto maior for às exportações e importações de um país, melhor
avaliado será o governo que estiver em exercício, pois as exportações geram emprego e
renda e as importações deixam os produtos mais competitivos, o que de forma geral
aumenta o bem-estar da população.

Resultados e discussões
De acordo com os resultados obtidos e expressos na Tabela 1, o teste feito com as
variáveis demonstra que as exportações não são significativas dentro do modelo, mas que
as importações têm representatividade frente à avaliação do governo, em um nível de
confiança de 95% podem explicar o comportamento da variável de avaliação do governo. O
modelo é capaz de explicar 89% da influência das variáveis independentes na variável
dependente. Mesmo não sendo significante dentro do modelo, o aumento de 1 ponto nas
exportações provoca elevação de 0,024 pontos na aprovação do governo. Já as
importações provocam o aumento de 0,032 na aprovação de forma significativa para cada
ponto adicional.

Tabela 1 – Resultados do modelo


Modelo: MQO, usando as observações 1995:02-2002:12 (T = 95)
Coeficiente Erro Padrão razão-t p-valor

const 2,33714 0,774990 3,016 0,0033 ***

VarUSFOBEXP 0,0237936 0,0511474 0,4652 0,6429

VarUSFOBIMP 0,0311758 0,0137745 2,263 0,0260 **

AV_GOV_1 0,909634 0,0324367 28,04 <0,0001 ***


R-quadrado 0,893189 R-quadrado ajustado 0,889668
Fonte: Estimado pelos autores no software Gretl com dados tratados do Ministério da Economia (2019) e
Instituto de pesquisas Datafolha (2002).
Nota: ** p<0.05, *** p<0.01
Ao verificar o coeficiente de determinação da variável dependente defasada, nota-se
que 90,96% dos efeitos ocorridos nas variáveis dependentes persistem para períodos
posteriores. Desta forma, utiliza-se a equação (2) para mostrar os efeitos acumulados, pois
no parágrafo anterior foram expostos apenas os efeitos imediatos. Dado que o coeficiente (𝜆
= 0,9096 / variável AV_GOV_1) é próximo de 1, os resultados podem se tornar mais
substantivos e representativos. Segue exemplos aplicados para as exportações e o mesmo
cálculo é replicado para as importações:

𝛽1 0,0237936
𝛽= => = 0,26330257 (𝑒𝑥𝑝𝑜𝑟𝑡𝑎çõ𝑒𝑠)
1−𝜆 1 − 0,909634

𝛽2 0,0311758
𝛽= => = 0,344948 (𝑖𝑚𝑝𝑜𝑟𝑡𝑎çõ𝑒𝑠)
1−𝜆 1 − 0,909634

Desta forma, o aumento de 1 ponto nas exportações acumuladas gera uma elevação
em 0,263 pontos na aprovação do governo e a mesma elevação acumulada nas
importações provoca elevação de 0,345 pontos na taxa de aprovação governamental.
Lembrando que as exportações não se demonstram significativas no modelo; mesmo assim,
é possível verificar a tendência positiva esperada.

Gráfico 1 – Avaliação governamental, taxa de exportações e importação (1995-2002)


AV_GOV VarUSFOBEXP
50 15

45
10
40

35 5
30

25 0

20
-5
15

10 -10
1995 1997 1999 2001 2003 1995 1997 1999 2001 2003

VarUSFOBIMP
60

50

40

30

20

10

-10

-20
1995 1997 1999 2001 2003

Fonte: Elaborado pelos autores com dados do Ministério da Economia (2019) e Instituto de pesquisas Datafolha
(2002).
O Gráfico 1 mostra que, em alguns anos, as variáveis têm as mesmas tendências,
como é o caso dos anos de 1996, final de 1999 e início do ano de 2001, em que ocorreram
quedas similares em ambas as variáveis. Nos anos 2000, as três variáveis também
tenderam a crescer gradativamente.
Esses resultados vão ao encontro do que defenderam Bloom e Price (1975), Tufte
(1975), Kernell (1978) e Shapiro e Conforto (1980): há uma relação entre resultados
econômicos e aprovação de governo. Entretanto, os dados de exportação e importação
representam apenas uma das variáveis influentes na economia, talvez por isso as
influências destas variáveis sejam pequenas, porém, positivas. Logo, verificar a relação
destes dados com a avaliação do governo não se faz suficiente para realizar elucidações
robustas sobre a influência de variáveis de comércio internacional na avaliação de um
governo.

Considerações Finais
De acordo com as teorias apresentadas na primeira parte, em atendimento ao
objetivo deste trabalho e em resposta aos questionamentos aqui levantados, verificou-se
que são verdadeiras as explicações oferecidas por Clarke e Stewart (1994) e por Edwards
III, Mitchell e Welch (1995) de que é relevante, ao analisar a aprovação de um governo sob
a ótica da opinião pública, os efeitos passados e futuros das ações realizadas por este,
sobretudo no quesito econômico. Os agentes tendem a verificar suas memorias
acumulativas sobre o governo. Desta forma, é necessário considerar as análises com séries
temporais não estacionárias, além de incluir defasagem na variável dependente.
Verificou-se com este estudo que as exportações do Brasil, no período de 1995 a
2002, não influenciaram significativamente a avaliação do governo Fernando Henrique
Cardoso. Porém, foi possível identificar que as importações geram efeitos além de positivos,
também significativos na avaliação do governo. Como sugerem Nickelsburg e Norpoth
(2000), o ideal é atrelar as análises aos fatores econômicos gerais e não somente às
políticas externas. Análises amplas nesta perspectiva seriam mais explicativas.
De todo modo, foi possível verificar influências positivas e relação causal entre os
determinantes propostos pelo presente estudo. As exportações não são consideradas tanto
como as importações, talvez pelo fato de que o aumento de exportações atinge diretamente
e inicialmente os empresários, já as importações estão ligadas ao poder de compra e
acesso aos produtos importados pelos consumidores (população no geral). Entende-se que
a grande maioria dos entrevistados em pesquisas de opinião pública é a população, talvez
por isso as importações estejam mais ligadas aos resultados obtidos nesta pesquisa.
Este artigo buscou testar a hipótese de que as exportações afetam a avaliação de
um governo. Concluiu-se que além dos efeitos positivos das exportações, as importações
têm maior peso na avaliação, e sugere-se que análises mais amplas com outras variáveis
econômicas sejam incluídas em pesquisas futuras, assim como foi feito pela maioria dos
autores citados na primeira parte do texto. Por fim, reforça-se a ideia de que fatores
econômicos influenciam de forma cumulativa a percepção da sociedade, diante de um
governo.

Agradecimentos
Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG) pelo
apoio financeiro, que auxiliou na realização desta pesquisa, e à Universidade Federal de
Goiás, por meio do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Faculdade de
Ciências Sociais, que ofereceu auxílio financeiro para a participação neste evento.

Referências
ALDRICH, J. H.; SULLIVAN, J. L.; BORGIDA, E. Foreign affairs and issue voting: do
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