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1º teste parcelar
1º. Promessa de casamento: negócio jurídico familiar (regras gerais + liberdade de forma)
Miguel e Inês começaram o seu namoro em 1999, tendo-o mantido durante 2 anos na
expectativa de realizar o casamento, mas sempre sem terem vivido juntos. Em consequência
disso, Miguel comprou a mobília da casa, a gosto de Inês, e com o acordo desta, gastando cerca
de 5.000€. Inês, por seu lado, comprou um apartamento onde a mobília foi colocada, tendo sido
Miguel quem pagou as despesas de água e luz no valor aproximado de 400€.
A pouco e pouco, Inês afastou-se de Miguel, mantendo relações íntimas com Francisco que
passou a ser o seu novo namorado. Em fins de 2001, Inês exigiu a Miguel que retirasse a mobília
do apartamento.
Miguel, ao ver gorada a sua expectativa de casar com Inês, interpõe uma ação contra esta,
pedindo uma indemnização de acordo com a lei. Inês contesta, dizendo que nada tem de
indemnizar, já que, apesar do prolongado namoro, não houve previsão séria de casamento; de
resto, Miguel pode ficar com a mobília que comprara.
Quid Iuris?
Bárbara Vasconcelos Mendes Direito da Família e das Sucessões Página 1
O caso apresentado relaciona-se com a promessa de casamento: um negócio jurídico
familiar, sujeito às regras da parte geral - pode ser expresso ou tácito (art. 217º), torna-se eficaz
quando a declaração negocial chega ao conhecimento do destinatário (art. 224º) e está sujeita
aos prazos de aceitação do art. 228º -, sem exigência de forma (art. 219º).
De facto, da promessa de casamento nunca pode resultar uma obrigação de casar cujo
cumprimento seja judicialmente exigível: a natureza pessoa que reveste a obrigação de casar
exclui a possibilidade de execução específica (art. 830º).
Por outro lado, o legislador consagrou uma menor extensão do dever de indemnizar que
deriva do não cumprimento da promessa de casamento. Pretende-se evitar que o consentimento
para o matrimónio seja menos livre. Na verdade, para não pagar uma indemnização
eventualmente muito avultada, o contraente que estivesse na disposição de romper a promessa
preferia talvez casar. É isto que a lei não deseja e, por isso, limita indemnização devida às
despesas feitas e obrigações contraídas na previsão do casamento (art. 1594º).
A indemnização pode ser exigida pelo esposado inocente, pelos pais deste ou por terceiros
em nome dos pais. Na verdade, é isso que sucede com os gastos de Miguel, ao gosto de Inês e
com o consentimento desta.
O art. 1594º nº1 não prevê que, em vez da indemnização, possa haver uma qualquer entrega
dos bens. Nem do nº3 do mesmo resulta tal solução. Não há, para Miguel, quaisquer vantagens
em ficar com a mobília.
Assim, Inês indemnizará Miguel pelas despesas com a compra da mobília (5.000€) e com as
despesas de água e luz (400€).
Quanto às restituições, o caso não as aborda mas serão sempre devidas nos termos do art.
1592º.
Carlos e Diana prometeram casamento um ao outro, mas o casamento não se realizou pelo
facto de Carlos ter rompido a promessa depois de saber que Diana era, frequentemente, vista
com outros homens em situações pouco dignas para uma mulher honrada, tal como Carlos a
imaginava.
Diana quer ser indemnizada, uma vez que já tinha comprado o vestido de noiva e tinha pago o
aluguer da quinta onde se realizaria o banquete da festa. Carlos não reconhece qualquer direito a
Diana e pretende que esta lhe restitua o anel de noivado que lhe oferecera.
Quid Iuris?
De facto, da promessa de casamento nunca pode resultar uma obrigação de casar cujo
cumprimento seja judicialmente exigível: a natureza pessoa que reveste a obrigação de casar
exclui a possibilidade de execução específica (art. 830º).
Por outro lado, o legislador consagrou uma menor extensão do dever de indemnizar que
deriva do não cumprimento da promessa de casamento. Pretende-se evitar que o consentimento
para o matrimónio seja menos livre. Na verdade, para não pagar uma indemnização
eventualmente muito avultada, o contraente que estivesse na disposição de romper a promessa
preferia talvez casar. É isto que a lei não deseja e, por isso, limita indemnização devida às
despesas feitas e obrigações contraídas na previsão do casamento (art. 1594º).
A indemnização pode ser exigida pelo esposado inocente, pelos pais deste ou por terceiros
em nome dos pais. No caso concreto, foi Diana que, por culpa sua, deu lugar a que Carlos se
retratasse. Assim, sobre Carlos não recai qualquer obrigação de indemnizar Diana.
Quanto às restituições (art. 1592º), estas são sempre devidas. O anel de noivado constitui um
donativo feito na expectativa do casamento e, por isso, Diana terá que o restituir.
Durante cerca de ano e meio, Manuel e Isaura mantiveram o seu namoro, sem nunca terem
vivido juntos mas na expectativa de realizar o casamento. Assim, Isaura comprou um pequeno
apartamento, tendo, nesse período de tempo que durou o namoro, Manuel pago as despesas de
água, gás e luz no valor aproximado de 1.000€.
Por seu lado, Manuel comprou os electrodomésticos necessários para a casa, onde foram
colocados, com o acordo de Isaura, gastando cerca de 5.000€.
Em meados deste ano, Isaura afastou-se de Manuel, sem que este tivesse dade qualquer
causa para isso, tendo-se apaixonado por António que passou a ser o seu novo namorado. Isaura
bem agora exigir a Manuel que retire os eletrodomésticos do apartamento.
Manuel, ao ver gorada a sua expectativa de casar com Isaura, interpõe uma ação contra esta,
pedindo uma indemnização de acordo com a lei. Isaura conteste, dizendo que nada tem de
indemnizar, já que, apesar do namoro, Manuel nunca a tinha pedido formalmente em casamento.
De resto, Manuel pode ficar com os eletrodomésticos que comprara.
Quid Iuris?
De facto, da promessa de casamento nunca pode resultar uma obrigação de casar cujo
cumprimento seja judicialmente exigível: a natureza pessoa que reveste a obrigação de casar
exclui a possibilidade de execução específica (art. 830º).
Por outro lado, o legislador consagrou uma menor extensão do dever de indemnizar que
deriva do não cumprimento da promessa de casamento. Pretende-se evitar que o consentimento
para o matrimónio seja menos livre. Na verdade, para não pagar uma indemnização
eventualmente muito avultada, o contraente que estivesse na disposição de romper a promessa
preferia talvez casar. É isto que a lei não deseja e, por isso, limita indemnização devida às
despesas feitas e obrigações contraídas na previsão do casamento (art. 1594º).
A indemnização pode ser exigida pelo esposado inocente, pelos pais deste ou por terceiros
em nome dos pais. Na verdade, é isso que sucede com os gastos de Manuel, com o
consentimento de Isaura.
O art. 1594º nº1 não prevê que, em vez da indemnização, possa haver uma qualquer entrega
dos bens. Nem do nº3 do mesmo resulta tal solução. Não há, para Manuel, quaisquer vantagens
em ficar com os eletrodomésticos.
Assim, Isaura indemnizará Manuel pelas despesas com a compra dos eletrodomésticos
(5.000€) e com as despesas de água, gás e luz (400€).
Quanto às restituições, o caso não as aborda mas serão sempre devidas nos termos do art.
1592º.
- atual
- pessoal
- puro e simples
- perfeito e livre
- coação moral
- simulação absoluta
A. Coação moral
- pressupostos gerais:
- receio de um mal;
- requisitos:
- qualidade essencial;
- causalidade ou essencialidade;
- desculpabilidade;
- propriedade.
C. Simulação absoluta
- motivos;
- simulação relativa;
3º. Legitimidade
4º. Prazos
Ao mesmo tempo, a avó de Maria zanga-se com Bernardo e passa a tratar-se com o filho, o pai
de Maria, dos seus problemas cardíacos, coisa de pouca importância e que toda a família sabia.
Aliviada com esse facto, Maria pretende desfazer o seu casamento com Bernardo.
a) Quid Iuris?
b) Suponha agora que, em virtude de um pequeno incêndio que deflagrou na Conservatória
do Registo Civil onde Maria e Bernardo casaram, o registo do casamento, celebrado nas
condições referidas, não foi efetuado. Poderá Maria casar com Francisco, amigo de longa
data por quem ela se apaixonou recentemente? Que poderá Maria fazer?
a)
O consentimento deve ser: atual (art. 1617º), pessoal (art. 1619º), puro e simples (art. 1618º),
perfeito e livre (art. 1627º e 1634º).
Em primeiro lugar, o consentimento deve ser atual, isto é, deve ser prestado no próprio ato da
celebração. Note‐se que o instituto do casamento por procuração não abre exceção, pois o
consentimento do nubente que se faz representar é prestado nesse caso no próprio ato da
celebração (através do procurador) e não na data (anterior) em que foi passada a procuração, a
qual pode ser livremente revogada até à celebração do casamento.
O consentimento deve ser ainda pessoal, isto é, há de ser expresso pelos próprios nubentes,
pessoalmente, no ato da celebração (art. 1619º).
Em terceiro lugar, o consentimento deve ser puro e simples, o que quer dizer, nomeadamente,
que não podem ser apostos ao casamento uma condição ou um termo. A solução está no art.
1618º nº2, que proíbe ainda que os efeitos do casamento fiquem submetidos à preexistência de
algum facto, sendo indiferente, em qualquer das hipóteses aludidas, que a estipulação seja feita
em convenção antenupcial, no momento da celebração do casamento ou em outro ato.
A possibilidade de anulação com base em coação moral (art. 1631º al. b) e 1638º) assenta
na verificação dos pressupostos gerais do art. 255º - receio de um mal, ameaça com o fim de
obtenção da declaração, ameaça com respeito à pessoa ou bens do declarante ou terceiro - e
especiais do casamento - gravidade do mal com que o nubente é ilicitamente ameaçado e
justificado o receio da sua consumação. Neste caso em particular, Maria tem receio que Bernardo
deixe de tratar a sua avó e foi com este facto que Bernardo coagiu Maria a aceitar casar-se.
Apesar de Maria sentir justificado receio da consumação desta ameaça, este mal pode não ser
expressamente grave, uma vez que Maria tem ainda dois familiares cardiologistas, além de que o
facto de a doença da avó ser de pouca importância pode tornar mais fraca a gravidade do mal.
Tem legitimidade, nos termos do art. 1641º, para intentar esta ação de anulação o cônjuge
que foi vítima do erro ou coação, ou seja, neste caso, Maria.
O prazo para o fazer está previsto no art. 1645º, começa a correr a partir da cessão do vício e
tem a duração de 6 meses, o que no presente caso implica que se inicia quando a avó deixa de
ser doente de Bernardo, em junho de 2008, e termina em dezembro do mesmo ano.
Por outro lado, para tentar anular o casamento com base em erro sobre as qualidades
essenciais (art. 1631º al. b) e 1636º), é necessário que estejam preenchidos todos os seus
pressupostos.
Deve estar em causa uma qualidade essencial, que pode ser natural ou jurídica (neste caso,
trata-se de uma qualidade natural de Bernardo, a sua doença); haver causalidade ou
essencialidade subjetiva ou objetiva (se Maria soubesse da doença de Bernardo nunca teria
casado e, em face das circunstâncias do caso e à luz da consciência social dominante, é legítimo
e razoável supor que a circunstância sobre que versou o erro seja decisiva na determinação da
vontade de casar); desculpabilidade, no sentido em que mesmo que Maria realizasse as
diligências normais não se teria apercebido da circunstância sobre que versou o erro (não é
relevante o erro indesculpável, grosseiro, em que não teria caído uma pessoa normal), o que
sucedeu, já que Bernardo escondeu a doença de Maria; propriedade, que implica que o erro não
deve recair sobre qualquer requisito legal de validade ou existência do casamento.
Além disso, Maria tem legitimidade para intentar esta ação de anulação (art. 1641º) e pode
fazê-lo num prazo de 6 meses desde que toma conhecimento da doença (art. 1645º).
b)
Pode registar o casamento a todo o tempo (art. 2º CRegC), produzindo então efeitos civis
que retroagem, nos termos do art. 1670º, à data da celebração do casamento. Só depois pode
pedir a anulação do primeiro casamento e, de seguida, casar com Francisco.
Dulce, cansada de viver à custa dos pais e pretendendo adquirir habitação própria, recorreu a
várias instituições bancárias que lhe negaram a concessão do empréstimo para o efeito, uma vez
que Dulce aufere apenas um modesto rendimento. Empenhada em alcançar o seu objetivo, e
tendo conhecido Eliseu, muito rico e bastante mais velho que ela, resolveu casar com ele.
O casamento é celebrado civilmente e, passado um mês, Dulce obtém o tão desejado
empréstimo, pois agora foram considerados preenchidos os requisitos de solvabilidade que
garantem o pagamento dos juros e das amortizações.
a) Suponha que Eliseu sabia da intenção de Dulce e que os dois não tinham qualquer
intenções de assumir o casamento e que só o celebraram para que Dulce obtivesse o crédito
bancário, nunca tendo estabelecido qualquer tipo de convivência marital. Quid Iuris?
b) Suponha agora que Eliseu só depois do casamento é que tomou conhecimento que Dulce
não tinha outras intenções que não fosse conseguir o referido empréstimo, sendo certo que se
soubesse dessa situação nunca teria casado com ela. Quid Iuris?
c) Finalmente, suponha que, em virtude de um pequeno sismo que abalou a zona onde se
realizou o casamento, celebrado nas condições referidas, o registo do mesmo na
Conservatória do Registo Civil não foi efetuado. Poderá Eliseu casar com António, antigo
namorado dele recentemente regressado do estrangeiro? Que poderá Eliseu fazer?
a)
O consentimento deve ser: atual (art. 1617º), pessoal (art. 1619º), puro e simples (art. 1618º),
perfeito e livre (art. 1627º e 1634º).
Em primeiro lugar, o consentimento deve ser atual, isto é, deve ser prestado no próprio ato da
celebração. Note‐se que o instituto do casamento por procuração não abre exceção, pois o
consentimento do nubente que se faz representar é prestado nesse caso no próprio ato da
celebração (através do procurador) e não na data (anterior) em que foi passada a procuração, a
qual pode ser livremente revogada até à celebração do casamento.
Em terceiro lugar, o consentimento deve ser puro e simples, o que quer dizer, nomeadamente,
que não podem ser apostos ao casamento uma condição ou um termo. A solução está no art.
1618º nº2, que proíbe ainda que os efeitos do casamento fiquem submetidos à preexistência de
algum facto, sendo indiferente, em qualquer das hipóteses aludidas, que a estipulação seja feita
em convenção antenupcial, no momento da celebração do casamento ou em outro ato.
Por último, o consentimento deve ser perfeito, não só no sentido de que devem ser
concordantes as duas declarações de vontade que o integram, como também no sentido de que
em cada uma dessas declarações de vontade deve haver concordância entre a vontade real e a
declarada, concorrência essa que a lei presume (art. 1634º). Todavia, por vezes, pode ocorrer que
o consentimento seja imperfeito. O consentimento deve ainda ser livre (também presumido - art.
1634º), ou seja, é preciso que a vontade dos nubentes, tenha sido esclarecida (formada com
exato conhecimento das coisas - doutrina do erro) e se tenha formado com liberdade exterior
(sem a pressão de violências ou ameaças - doutrina da coação). Não assumem significado,
quanto ao casamento, nem o dolo, nem, em geral, o estado de necessidade.
O casamento entre Dulce e Eliseu apresenta um problema: não pretenderam nenhum dos
efeitos do casamento, tendo casado apenas para que Dulce obtivesse um empréstimo bancário -
simulação absoluta (art. 1635º al. d)).
Qualquer um dos cônjuges tem legitimidade para propor a ação (art. 1640º), dentro do prazo
dos 3 anos subsequentes à celebração do casamento ou de 6 meses após o conhecimento da
falta de vontade (art. 1644º).
b)
Dulce emitiu uma declaração de vontade contrária à vontade real com o intuito de enganar
Eliseu, pelo que estamos perante reserva mental (art. 244º). No entanto, só se for conhecida pelo
declaratário (Eliseu) é que a reserva mental conduziria à anulação do casamento por simulação, o
que não é o caso.
Assim, Eliseu pode tentar anular o casamento com base em erro sobre as qualidades
essenciais (art. 1631º al. b) e 1636º), para o que é necessário que estejam preenchidos todos os
seus pressupostos.
Deve estar em causa uma qualidade essencial, que pode ser natural ou jurídica (neste caso,
trata-se de uma qualidade natural de Dulce, o seu carácter, o casar por interesse); haver
causalidade ou essencialidade subjetiva ou objetiva (se Eliseu soubesse da real intenção de
Dulce nunca teria casado e, em face das circunstâncias do caso e à luz da consciência social
dominante, é legítimo e razoável supor que a circunstância sobre que versou o erro seja decisiva
na determinação da vontade de casar); desculpabilidade, no sentido em que mesmo que Eliseu
Assim, Eliseu tem legitimidade para intentar esta ação de anulação (art. 1641º) e pode fazê-lo
num prazo de 6 meses desde que toma conhecimento da intenção de Dulce (art. 1645º).
c)
Pode registar o casamento a todo o tempo (art. 2º CRegC), produzindo então efeitos civis
que retroagem, nos termos do art. 1670º, à data da celebração do casamento. Só depois pode
pedir a anulação do primeiro casamento e, de seguida, casar com António.
- existência do casamento
Afonso e Margarida casaram com uma convenção antenupcial em que estipularam o regime da
comunhão geral de bens.
Adolfo levou para o casamento um automóvel, uma máquina de escrever e uma máquina de
costura. A máquina de escrever serve para os trabalhos jornalísticos de Adolfo, a máquina de
costura é utilizada apenas por Margarida na sua profissão de costureira e o automóvel é usado por
ambos.
Suponha que o casamento foi anulado por Adolfo ter enganado Margarida quanto às suas
intenções ao contrair o casamento.
Os bens levados por Adolfo para o casamento, e referidos supra, têm o valor de 5.000€, e
Margarida levou bens no valor de 20.000€, não havendo quaisquer bens adquiridos no pouco
tempo de casamento. Anulado o casamento, como deverá proceder-se à partilha dos bens em
causa?
Em segundo lugar, é preciso que o casamento tenha sido declarado nulo ou anulado (art.
1647º nºs 1 e 3): a invalidade do casamento não opera ipso iure (art. 1632º) e, enquanto não for
reconhecida por sentença em ação especialmente intentada para esse fim, o casamento produz
todos os seus efeitos.
O terceiro pressuposto é a boa fé dos cônjuges ou de algum deles, mas não pode colocar‐se
no mesmo plano dos anteriores. Este requisito é necessário para que o casamento produza
efeitos em relação aos cônjuges ou os efeitos favoráveis ao cônjuge de boa fé e, reflexamente,
produza efeitos em relação a terceiros. A eficácia putativa em relação aos filhos não depende,
porém, da boa fé dos cônjuges; como resulta do art. 1827º, essa eficácia produz‐se ainda que
ambos tenham contraído o casamento de má fé.
A lei presume a boa fé dos cônjuges (art. 1648º nº3), a qual, em princípio, consiste na
ignorância desculpável do vício causador da nulidade ou anulabilidade (art. 1648º nº1). A lei
alarga esta noção, considerando ainda de boa fé o cônjuge cujo consentimento tenha sido
extorquido por coação. A boa fé dos cônjuges deve existir no momento da celebração do
casamento, e só nele. Por último, se declarada a nulidade do casamento católico por um tribunal
eclesiástico, é da exclusiva competência dos tribunais do Estado o conhecimento judicial da boa
fé (art. 1648º nº2).
Tendo agora como objeto o caso em apreço, no regime de comunhão geral (convencionado
pelos nubentes), todos os bens (salvo os do art. 1733º) são comuns (art. 1732º), ou seja, tanto os
bens levados para o casamento por cada um dos cônjuges (neste caso, os 5.000€ de Adolfo e os
20.000€ levados por Margarida) como os bens adquiridos ao longo dele (não existem) são
comuns.
Contudo, devemos ter em conta que o casamento foi anulado e, como tal, há que atender ao
art. 1647º, em especial o nº2, pois indica-se que apenas um dos cônjuges (Margarida) estava de
boa fé. Sendo assim, Margarida pode arrogar-se os benefícios do estado de casado e, assim,
fazer a partilha (art. 1688º e 1689º) segundo o regime da comunhão geral, ficando com metade
do património do casal. Mas, se lhe for mais vantajoso, poderá não invocar esse estado de
casado e tudo se passará como se não tivesse havido casamento, regressando tudo à situação
inicial antes do matrimónio.
Ou seja, se optar pelos benefícios do estado de casado, apenas ficará com 12.500€, ao passo
que se não os invocar ser-lhe-ão devolvidos os seus 20.000€, o que será, seguramente, mais
vantajoso.