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Dívidas dos Cônjuges

Cecília Morais Martins


Direcção Conjunta
Legitimidade para contrair dívidas vide
art.º1690.º do CC
“Tanto o marido como a mulher têm legitimidade para
contrair dívidas sem o consentimento do outro cônjuge”
“Para a determinação da responsabilidade dos cônjuges,
as dívidas têm a data do facto que lhes deu origem”
Espírito do Matrimónio
“Compromisso recíproco de plena comunhão de
vida”
Princípio Constitucional - Matriz – igualdade dos cônjuges vide
art.º36º nº3 CRP, art.º1671º do CC e artº19ºnº3 Lei Liberdade
Religiosa
• Impacto: concretização dos deveres conjugais
• Impacto: direção conjunta da família
Espírito do Matrimónio
Impacto do princípio da igualdade : Direção Conjunta

Bem da família + interesses de um e de outro vide


artº1671º = Tensão entre a integração e a individualidade

Norma imperativa
Dívida Comum ou Singular?
(Questões Prévias?)
Qual é a data do casamento?
Qual é o regime de bens dos cônjuges?
Algum dos os cônjuges faz do comércio
profissão?
Qual é o momento/data em que o facto que está
na origem da dívida ocorreu?
Qual é a natureza do facto(causa) que está na
origem da dívida?
Questões Principais
Qual é a natureza da dívida?
Comum vide art.º 1691.º
ou
Singular vide art.º 1692.º

Quais os bens que respondem?


vide artigos 1695.º e 1696.º
Dívidas Comuns
Dívidas contraídas antes ou depois do casamento
com o consentimento de ambos.

Dívidas contraídas antes ou depois do casamento


para ocorrer aos encargos normais da vida
familiar.
vide art.º1691.º e 1695.º do CC
Dívidas Comuns

Dívidas contraídas na constância do casamento


pelo cônjuge administrador, em proveito comum
do casal, e nos limites dos seus poderes de
administração.

vide art.º1691.º e 1695.º do CC


Dívidas Comuns
• Dívidas contraídas por qualquer dos cônjuges
no exercício do comércio, salvo se provar que
não foram contraídas em proveito comum do
casal, ou se vigorar entre os cônjuges o regime
de separação de bens.

Vide art.º1691.º e 1695.º do CC


Dívidas Comuns
Dívidas consideradas comunicáveis nos termos
do art.º1693.º nº2

Proveito comum não se presume excepto quando


a lei o declarar

vide art.º1691.º e 1695.º do CC


Dívidas Singulares
• Dívidas contraídas antes ou depois da
celebração do casamento por cada um dos
cônjuges sem o consentimento do outro, fora
dos casos indicados nas alíneas b) e c) do n.º1
do art.º1691.º, isto é, não foram contraídas
antes ou depois do casamento para ocorrer aos
encargos normais da vida conjugal ou não
foram contraídas em proveito comum
Vide art.º1692.º e 1696.º
Dívidas Singulares
Dívidas provenientes de crimes, indemnizações,
restituições, custas judiciais ou multas devidas
por factos imputáveis a cada um dos cônjuges,
salvo se esses factos, implicando
responsabilidade meramente civil, estiverem
abrangidos pelo nº1 ou 2 do artigo 1691.º
Dívidas Singulares
As dívidas cuja incomunicabilidade resulta do
disposto n2 do artigo 1694.º

vide art.º1692.º e 1696.º


Quais são os Bens que Respondem?
Dívidas Comuns?
Respondem os bens comuns até ao limite das
suas forças.
Subsidiária e solidariamente respondem os bens
próprios de cada um dos cônjuges.
No regime da separação de bens, a
responsabilidade dos cônjuges não é solidária. É
conjunta.
Quais são os Bens que Respondem?
Dívidas Singulares?
Em primeiro lugar respondem os bens próprios
do cônjuge devedor

Subsidiariamente a meação nos bens comuns do


cônjuge devedor
Doutrina e Jurisprudência
“Encargos Normais da Vida Familiar”
O Código Civil Português, ao invés do que sucede em outros ordenamentos
jurídicos, não concretiza o que se deva entender por “encargos normais da
vida familiar”. Por conseguinte, a doutrina e a jurisprudência têm vindo a
entender que as dívidas contraídas para ocorrer aos encargos normais da vida
familiar compreendem, designadamente, as despesas de alimentação, vestuário
e saúde, bem como as despesas relacionadas com o pagamento da renda devida
pela ocupação de bem imóvel que constitua a casa de morada de família.
Enquadram-se igualmente neste domínio as dívidas referentes à prestação de
serviços básicos, como sejam os serviços de eletricidade, água, gás e
telecomunicações.
Por outro lado, importa salientar que este regime da responsabilidade dos
cônjuges pelas dívidas contraídas para fazer face aos encargos normais da vida
familiar não se aplica às pessoas que vivam em união de facto.
Jurisprudência
• Acordãodo STJ de 08.05.1979, proc. 067696, in BMJ, n.º 287, ano 1979, p.
311. Cfr., no mesmo sentido, o ac. do STJ de 10.01.1980, proc. 068279, in
BMJ, n.º 293, ano 1980,
• Acórdão do TRG de 05.11.2015, proc. 156/10.4TBVPA.G1, in
www.dgsi.pt. Assim, conforme se decidiu neste aresto, “Não obstante o
contrato de arrendamento ter sido celebrado pelo réu marido enquanto
arrendatário, a mera separação de facto do outro cônjuge, a ré mulher, não a
desresponsabiliza do pagamento da renda da casa relativa à casa de morada
de família.”.
Doutrina e Jurisprudência:
“Proveito Comum”
Conceito de “proveito comum do casal”, o Código Civil estabelece a regra
segundo a qual o proveito comum do casal não se presume, exceto quando a
lei o declare.
Assim, tratando-se de um conceito de natureza jurídica, indeterminada e
abstrata, recai sobre o credor o ónus de alegar e de provar que uma
determinada dívida foi contraída por um dos cônjuges em proveito comum do
casal, isto é, no interesse comum da sociedade familiar.
O mesmo é dizer que não basta a alegação, de natureza meramente conclusiva,
desprovida de qualquer suporte factual, de que uma determinada dívida foi
contraída em proveito comum do casal para daí se concluir pela
responsabilidade de ambos os cônjuges.
Jurisprudência – duas correntes
A jurisprudência tem vindo a dividir-se quanto aos requisitos a que se deve atender para
que uma dívida seja qualificada como tendo ou não sido contraída em “proveito comum
do casal”. Assim, para uma primeira corrente, a qualificação de uma dívida como tendo
sido contraída em proveito comum do casal pressupõe não só a prova do fim visado no
momento em que a dívida foi contraída, isto é, a satisfação de um interesse comum do
casal, como também do resultado obtido com essa dívida.
Segundo esta corrente, o credor não tem apenas de alegar e provar qual foi a razão de
ser da dívida, mas também qual foi o “destino dado ao dinheiro representado pela
dívida” e que, face a esse destino, a dívida foi contraída em benefício de ambos os
cônjuges. Diferentemente, para uma segunda corrente , para se determinar se uma
dívida foi contraída em proveito comum do casal, basta atentar no fim que foi visado
pelo cônjuge devedor no momento em que contraiu a dívida, independentemente do
resultado que foi efetivamente obtido com essa dívida.
Acórdão do STJ de 22-10-2009
(Proc:419/07.6TVLSB.S1 2ª secção)
I-Para se concluir pela comunicabilidade da dívida com fundamento no
proveito comum do casal não basta aceitar que os demandados são casados ou
que o são no momento da instauração da acção: antes é necessário que a dívida
tenha sido contraída na constância do casamento.
II - Compete ao autor a alegação e prova dos factos integradores dos requisitos
legais fixados no art. 1691.º, n.º 1, al. c), do CC com vista à demonstração da
comunicabilidade da dívida com base no proveito comum.
III - O proveito comum é um conceito jurídico, cuja integração e verificação
depende da prova de factos demonstrativos de que a destinação da dívida em
causa, ou seja, o destino do dinheiro ou dos bens com este adquirido, foi a
satisfação de interesses do casal, não sendo de considerar o resultado
alcançado.
Acórdão do STJ de 22-10-2009
(Proc:419/07.6TVLSB.S1 2ª secção)
IV - O apuramento do proveito comum traduz-se numa questão mista ou
complexa, envolvendo uma questão de facto e outra de direito, sendo a
primeira a de averiguar o destino dado ao dinheiro representado pela dívida e a
segunda a de ajuizar sobre se, tendo em conta esse destino apurado, a dívida
foi contraída em proveito comum, preenchendo o conceito legal.
V - Também o património comum é um conceito jurídico, desde logo porque
ligado estreitamente à data do casamento e ao regime de bens deste.
VI - Sendo conceitos jurídicos, o proveito comum e o património comum do
casal não constituem matéria de facto passível de ser adquirida pela confissão
ficta prevista no art. 484.º, n.º 1, do CPC.
VII - A mera prova pelo autor de que o concreto mútuo foi celebrado para a
aquisição de um veículo automóvel, ademais desacompanhada da
demonstração da data e do regime de bens do casamento dos réus, obsta a que
se conclua que a dívida resultante da celebração do negócio foi contraída em
proveito comum ou que o bem cuja aquisição foi financiada se destinou ao
património comum do casal.

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