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UNIVERSIDADE AUTÓNOMA DE LISBOA

“LUÍS DE CAMÕES”

DEPARTAMENTO DE DIREITO

MESTRADO EM DIREITO

DÍVIDAS DOS CÔNJUGES

Projeto de investigação apresentado na unidade curricular Direito Civil Avançado

Mestranda: Beatriz Margarida Abreu Rodrigues

Professora Doutora: Cristina Dias

Número da aluna: 30002807

fevereiro de 2023

Lisboa
Índice
Introdução ................................................................................................................... 3

1. Quem responde pelas dividas ............................................................................... 4

a) Responsabilidade de ambos os cônjuges ............................................................ 4

b) Responsabilidade do cônjuge que contraiu a dívida ......................................... 6

2. Bens que respondem pelas dividas ....................................................................... 7

a) Bens que respondem pelas dividas da responsabilidade de ambos os cônjuges 7

b) Bens que respondem pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos


cônjuges ................................................................................................................... 7

Conclusão .................................................................................................................... 8

Bibliografia.................................................................................................................. 9

Webgrafia ...................................................................................................................10

2
Introdução

Em primeiro lugar, iremos analisar que ambos os cônjuges têm legitimidade de contrair
dividas, sendo que nem sempre foi assim, pois apenas após a reforma de 1977 que a
mulher obteve legitimidade para contrair dividas. Inicialmente ira ser analisado quem
responde pelas dividas e quais as dividas que pertencem a ambos e as exclusivas do
cônjuge que as contraiu, seguidamente quais os bens que respondem pelas dividas.

3
1. Quem responde pelas dividas

a) Responsabilidade de ambos os cônjuges

O Código Civil centra o seu capítulo IV, Secção II, nos efeitos do casamento, toda
a questão da dívida conjugal. Para além do princípio geral relativo às obrigações
contratuais dos cônjuges, esta cláusula define os critérios de distinção entre
dívidas de responsabilidade de ambos os cônjuges e dívidas de responsabilidade
apenas de um, identificando os bens correspondentes a algumas das dívidas e
descreve as formas pelas quais o incumprimento das disposições da
responsabilidade patrimonial dos cônjuges é corrigido1. Qualquer que seja o
regime de bens estabelecido entre os cônjuges, cada um dos cônjuges tem
legitimidade para contrair dívidas sem o consentimento do outro conforme o
artigo 1690º n 1º do cc2.
No entanto, algumas das dívidas do outro cônjuge são de sua exclusiva
responsabilidade, enquanto outras são de responsabilidade de ambos os cônjuges.
Para determinar a responsabilidade dos cônjuges, deve-se levar em consideração
a data das dívidas, conforme o artigo 1690º n 2º do cc. As dívidas previstas no art.
1691º n 1º al. a) responsabilizam ambos os cônjuges qualquer que seja o regime
de bens adotado quer sejam anteriores ou posteriores à celebração do casamento.
Em relação a alínea b) do artigo 1691º n 1º, as dívidas que ambos os
cônjuges contraíram para cobrir os encargos normais da vida familiar, não
importam se essas dívidas foram contraídas antes ou depois do casamento ou com
a relação patrimonial existente dos cônjuges3. São dívidas pequenas considerando

1
LIMA, Pires de & VARELA, João de Matos Antunes. Código Civil Anotado, Vol. IV (Artigos 1576.o a 1795.o), 2.a
ed. revista e actualizada, Coimbra, Coimbra Editora, 1992, p. 324.

2
CAMPOS, Diogo Leite de. Lições de Direito da Família e das Sucessões, 2.a ed. revista e actualizada, Coimbra,
Almedina, 2001, p. 427 e NETO, ABÍLIO, Código Civil Anotado, 19.a ed. reelaborada, Lisboa, Ediforum, 2016, pp.
1407-1408.

3
CAMPOS, Diogo Leite de. Lições de Direito..., p. 429.

4
o padrão de vida do casal e geralmente são correntes ou temporárias tais como dívidas de
mantimentos, roupas, remédios e farmácia.
De acordo com a alínea c) n.º 1 do artigo 1691.º apenas as dívidas contraídas durante a
vigência do casamento são cabíveis.
Quanto às dívidas pré-matrimoniais, só podem ser declaradas segundo o
regime da comunhão geral, se tiverem surgido para o bem comum dos cônjuges
(1691.o, n.º 2 do cc). Na comunhão conjunta, todas as coisas que cada cônjuge
traz para o casamento são compartilhadas, portanto, é justo que as dívidas
contraídas em nome do bem comum de ambos os casais não deixem ambos
responsáveis porque foram feitas antes do casamento. Nos outros regimes
patrimoniais, se os bens contraídos por ambas as partes forem considerados
próprios, é lógico que apenas seja responsável o cônjuge que assumiu as dívidas
de um deles antes do casamento, ainda que regressem ao bem comum.
Segundo Jorge Duarte Pinheiro, o conceito de despesas familiares inclui todas as
necessidades dos cônjuges, filhos e outros familiares dependentes (ou familiares) que
determinam o nível de vida do agregado familiar4. Portanto, não se justifica resumi-los
como despesas domésticas, embora sejam um bom exemplo. É verdade que, se essas
dívidas forem contraídas para cobrir despesas de preparação para o casamento ou para a
vida familiar, nenhum dos cônjuges pode ser liberado de responsabilidade, mesmo que
ele próprio não tenha contraído a dívida ou dado consentimento expresso para ela.
Essas dívidas também seriam muitas vezes gerais de acordo com a alínea c) n.º 1 do artigo
1691.º do Código Civil, segundo o qual ambos os cônjuges respondem pelas dívidas
contraídas na constância do casamento, contraídas pelo cônjuge cuidador, para o bem
comum dos cônjuges e nos limites da competência administrativa.
O artigo 1691º nº 1 alínea d) visa proteger o comércio, ao estender o escopo das
garantias de património aos credores dos comerciantes, facilita o acesso ao crédito e,
assim, incentiva o comércio. , por outro lado, para a alínea e) n.º 1 do mesmo artigo é
estipulado a transmissibilidade das dívidas mencionadas no artigo 1693º. n.º 2 do CC,

4
PINHEIRO, Jorge Duarte. O Direito da Família..., p. 572.

5
sendo estas dívidas que onerem doações, legados ou testamentos, se os
correspondentes bens tiverem passado para a herança conjunta.
As dívidas contraídas por ambos os cônjuges antes do casamento também são gerais para
benefício comum do casal, se for aplicável um acordo geral de comunhão de bens, de
acordo com as regras presentes no artigo1691º, nº 2. No regime de comunhão geral de
bens, são considerados os bens que cada cônjuge traz para o casamento. Portanto, as
dívidas contraídas em benefício comum de cada casal, mesmo que tenham sido contraídas
antes do casamento, são de responsabilidade de ambos. Assim como são declarados os
bens que cada um traz para o casamento, também devem ser declaradas as dívidas se
forem contraídas para o bem comum. No regime de comunhão de adquiridos e de
separação, os bens trazidos por cada cônjuge ao casamento continuam a pertencer
exclusivamente a ele e, justamente por isso, se as dívidas foram contraídas antes do
casamento, ainda que retornem ao benefício comum do casal, essas dívidas. . pertencem
apenas à pessoa que as contraiu5.
O artigo CC 1694 dispõe acerca de dívidas sobre bens certos e
determinados. Este artigo apresenta duas orientações distintas, uma para as dívidas
sobre bens comuns como por exemplo as dívidas de IMI ou as taxas sanitárias e
outra para as dívidas que oneram bens próprios de um dos cônjuges. Ambos os
cônjuges respondem pelas dívidas que oneram o patrimônio comum. Se as dívidas
sobrecarregarem o patrimônio de um dos cônjuges, os cônjuges são os únicos
responsáveis por elas. No primeiro caso mantém-se o regime não só no caso de as
dívidas serem posteriores à celebração do casamento, mas também no caso de as
dívidas se terem vencido anteriormente.

b) Responsabilidade do cônjuge que contraiu a dívida

O art. 1692.º identifica as dívidas que responsabilizam apenas um dos


cônjuges. A al. a) do art. 1692 do CC abrange as dívidas anteriores e posteriores

5
AMARAL, Jorge Augusto Pais de. Direito da Família..., p. 135 e COELHO, Francisco Pereira & OLIVEIRA,
Guilherme de, Curso de Direito..., p. 490.

6
ao casamento, contraídas por um dos cônjuges sem o consentimento do outro, excluído
os casos em que a lei permita tal como as dívidas terem sido contraídas para as despesas
da vida familiar ou em proveito comum do casal pois sendo esse o caso as dívidas são de
responsabilidade comum. Também as dívidas previstas no art. 1693º, n 1º do cc, são da
exclusiva responsabilidade do cônjuge que as contraiu, ou seja, as dívidas frutos doações,
heranças ou legados.
Não havendo circunstâncias especiais, valem as regras gerais do direito
das obrigações e cada um dos cônjuges fica responsável pelas dívidas que contrai.
Seguem-se na al. b), do mesmo artigo, as dívidas provenientes de crimes ou outros factos
imputáveis a um dos cônjuges.
Tratando-se de dívidas provenientes de factos ilícitos que originem
responsabilidade objetiva, por elas apenas responde o cônjuge a quem é atribuída a
respetiva autoria. No entanto, os casos em que os factos praticados impliquem
responsabilidade meramente civil, e estejam abrangidos pelo disposto nos 1 e 2 do art.
1691.o do CC.

2. Bens que respondem pelas dividas

a) Bens que respondem pelas dividas da responsabilidade de ambos os cônjuges

O artigo 1695 do Código Civil prevê de forma abreviada o sistema de


responsabilidade pelas dividas pertencentes a ambos os cônjuges. Nos termos do artigo
1695 º nº 1 em relação as dividas de responsabilidade comum respondem em primeiro
plano os bens comuns e, na falta ou insuficiência deles, os bens próprios de qualquer um
dos cônjuges. A responsabilidade dos cônjuges é parcial em caso de separação. De acordo
com art. 1695 do cc.

b) Bens que respondem pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos


cônjuges

No artigo 1696 do CC o tratamento jurídico das dívidas são da exclusiva responsabilidade


de um dos cônjuges sendo este aplicável em todos os regimes de bens embora
especialmente para o regime de comunhão. Os bens próprios do cônjuge devedor
respondem pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de cada um dos cônjuges tal como
está presente no artigo 1696 n 1 do código civil.

7
No número dois do mesmo artigo refere que os bens por ele levados para o casal ou
posteriormente adquiridos também respondem como tal, caso haja falta de bens próprios
do cônjuge devedor podem ser penhorados os bens comuns do casal credor poderá́ no
requerimento executivo requerer a penhora dos bens próprios do devedor e desses bens
comuns.

Conclusão

Concluindo, através do presente trabalho foi possível observar que de acordo com o art
1695 do cc , nos regimes de comunhão (n.º 1) o credor deve primeiro atingir o bem
comum (que pertence igualmente a ambos) e só secundariamente pode atingir os dois
bens, e nesta segunda situação já juntos. (você pode escolher a dívida que deseja quitar).
Na separação de bens, o credor deve primeiro satisfazer os recursos próprios do devedor,
e só depois disso (secundariamente) podem ser mantidos os bens do outro cônjuge (n.º 2)
sem comunhão de bens. Se o devedor for responsável apenas nos termos do n.º 2 do artigo
1691.º, n.º 1, do Código Civil, só são responsáveis os bens pertencentes ao património do
devedor e, havendo regime comunitário, a sua menção (a parte pertencente ao ele) da
propriedade comum que inclui toda a propriedade de outro membro. do casal protegido.
Por fim, deve-se afirmar que o benefício comum pertence ao casal, e não à família, ou
seja, a possibilidade de penhora nunca se aplica aos bens dos filhos, porque protegidos
contra as dívidas dos pais.

8
Bibliografia

AMARAL, Jorge Augusto Pais de. Direito da Família..., p. 135;

ANDRADE, Manuel de. Teoria Geral das Obrigações, com colab. de Rui de Alarcão, 3a
ed., Coimbra, Almedina, 1966;

CAMPOS, Diogo Leite de. Lições de Direito da Família e das Sucessões, 2.a ed. revista
e actualizada, Coimbra, Almedina, 2001, p. 427-429;

CARDOSO, A. Lopes. A Administração dos Bens do Casal, Coimbra, Almedina, 1973;

CARDOSO, A. Lopes. “Alguns aspectos das dívidas dos cônjuges no novo Código
Civil”, Revista dos Tribunais, ano 86.o, 1968, pp. 51-114;

CARDOSO, A. Lopes. “Da responsabilidade dos cônjuges por dívidas comerciais”, in


AAVV, Temas de Direito da Família, Ciclo de Conferências no Conselho Distrital do
Porto da Ordem dos Advogados, Coimbra, Almedina, 1986, pp. 165-208;

9
COELHO, Francisco Pereira & OLIVEIRA, Guilherme de. Curso de Direito..., p. 490;

CORTE-REAL, Pamplona. Direito da Família e das Sucessões. Relatório, Suplemento


da Revista da Faculdade de Direito de Lisboa, Lisboa, Lex, 1995;

COSTA, Almeida. Direito das Obrigações, 8a ed., Coimbra, Almedina, 2000;

DIAS, Cristina. Compensações devidas pelo pagamento de dividas do casal (da


correcção do regime actual), Coimbra, Coimbra Editora, 2003;

DIAS, Cristina. Das compensações pelo pagamento de dívidas do casal (o caso especial
da sua actualização), in AAVV, Comemorações dos 35 anos do Código Civil e dos 25
anos da Reforma de 1977, Direito da Família e das Sucessões, Vol. I, Coimbra, Coimbra
Editora, 2004, pp. 319-339;

LIMA, Pires de & VARELA, João de Matos Antunes, Código Civil Anotado, Vol. IV
(Artigos 1576.o a 1795.o), 2.a ed. revista e actualizada, Coimbra, Coimbra Editora, 1992,
p. 324;

NETO, Abílio, Código Civil Anotado, 19.a ed. reelaborada, Lisboa, Ediforum, 2016, pp.
1407-1408;

PINHEIRO, Jorge Duarte, O Direito da Família..., p. 572.

Webgrafia

Diário da República Eletrónico. Responsabilidade das dívidas dos cônjuges (3 fevereiro,


2023). Disponível em: https://dre.pt/dre/lexionario/termo/responsabilidade-por-dividas-
cônjuges

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