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O HAKIMISMO A LUZ DO CONTEXTO JURÍDICO ANGOLANO.

Breve análise.

Autor: Eugénio Kalukembe

Advogado Cédula Profissional n.º ( esqueci)

Domicílio profissional Lobito-Zona Comercial

Contactos: 929 52 28 40/ 936 64 49 05.

Lobito, Abril de 2023

1
Não estou acreditar que levei essa brincadeira a sério.

Não era para ser assim, mas acabei por consumir o meu dia a escrever esse simples
e talvez equivocada análise, seja por fás ou por nefás, ao menos brincamos de
escrever e impregnamos toda nossa tolice neste manso e humilde programa “
Word”, que aceita receber qualquer tolice de manifestação de ideias de homens
loucos, loucos do meu tipo que enquanto a carga não acaba não larga o coitado e
miserável computador.

Amor, chega precisas parar! Diziam os meus pensamentos.

Por outra, prorroguei várias tarefas e quando os meus requerentes perguntarem


pelos seus pedidos responder-lhes-ei com a seguinte evasiva: Caro, requerente
devido a especial complexidade do processo e atendendo o número de problemas
sociais o que país enfrenta tive que prorrogar o vosso trabalho por mais dois
meses.

Por favor, depois da crítica não esqueça por os pontos nos i , traço nos t e vírgulas
nas frases cujas vozes encontram-se entarameladas, cujas pernas estão sem norte
levadas por qualquer vento desta vida.

Obrigado.

2
ÍNDICE

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4
DEFINIÇÃO DE TERMOS ...................................................................................... 5
I. REGIME DE BENS DO CASAMENTO. ............................................................. 5
No caso do direito francês ......................................................................................... 8
Regime de bens no contexto jurídico angolano e suas consequências ...................... 9
Art.º 56.º Alienação ou oneração dos bens ............................................................. 10
No tocante aos bens móveis próprios ou comuns ................................................... 10
Casos de alienação sem acordo. .............................................................................. 10
Excepções da alienação ........................................................................................... 10
Quanto aos imóveis próprios ou comuns ................................................................ 11
Condicionalismo da sua alienação .......................................................................... 11
CONCLUSÕES ....................................................................................................... 14

3
INTRODUÇÃO

A presente abordagem surge num momento que muito se fala, de forma positiva por
parte da claque de homens, de um famoso jogador argelino Achraf Hamikimi, lateral-
direito do Paris Saint-Germain, envolto em acusações de estupro feito por uma jovem
de 24 anos de idade. Contudo, o estopim da minha abordagem pretende-se com o facto
de que tendo a esposa deste, Hiba Abouk, modelo espanhola, entrando com acção de
divórcio e pedindo a meação dos bens, a Justiça francesa declarou que o mesmo não
tinha bens registados em nome próprio, mas sim em nome da própria mãe.1

Tão logo que a informação foi publicada as redes sociais, in concreto, ficaram
inundadas com imagens do jogador, sendo o mesmo aplaudido por muitos internautas
por ter adoptada tal conduta, inclusive alguns fazem comentários do tipo “ nosso líder”,
“exemplo a seguir”.

Diante de comentários de aprovação feita por muitos jovens dentro os quais angolanos,
vimos a necessidade de analisar tal procedimento no âmbito do nosso direito. Com a
mesma abordagem pretendemos esclarecer as consequências legais decorrentes deste
acção se aplicada no nosso contexto.

Para auxiliar a nossa pesquisa fizemos as seguintes perguntas: Pode um dos cônjuges
sem consentimento do outro registar em nome de terceiro o bem adquirido por ele na
constância do casamento? Se tal acontecer quais serão as consequências jurídicas
decorrentes deste registo?

Como forma de dar respostas a estas perguntas recorrerei a métodos dedutivos e


indutivos e pesquisa bibliográfica.

A abordagem estará circunscrita a tópicos apresentação da definição de regime de bens


do casamento no direito português, suíço, alemão, francês e por último apresentarei as
suas consequências legais imanente neste instituto.

1
Cfr:https://ge-globo-com.cdn.ampproject.org/v/s/ge.globo.com/Google/amp/futebol/futebol-
internacional/futebol-frances/noticia/2023/04/14/investigado-por-estupro-hakimi-dribla-ex-mulher-
em-processo-de-divorcio.ghtml?amp. acessado 15/04/2023.

4
DEFINIÇÃO DE TERMOS

Para Humberto ECO, “definem-se os termos usados, a menos que se trate de termos
consagrados e indiscutíveis pela disciplina em causa”.2

Assim sendo, passaremos por definir o termo hakimismo3.

Hakimismo é um termo que procede do nome Hakim significa sábio, sensato. É um


nome árabe sua principal variante é Hakeem.4

Quando usamos o termo hakimismo referimo-nos ao conjunto de ideias apresentadas


por homens, que defendem que o registo de bens e direitos de um homem casado, sejam
feitos de forma discreta e em nome de terceiros, mormente pais ou irmãos, visando
assim impedir que outro cônjuge (mulher) beneficie futuramente, isto nos casos de
divórcio ou morte, dos bens e direitos próprios do requerente do registo.

São Pressupostos do Hakimismo os seguintes:

 Homem financeiramente estável;


 A existência de parentes da linha recta e da linha colateral do segundo grau5;
 Casado ou viva em união de facto;
 Concepção da mulher como interesseira.

I. REGIME DE BENS DO CASAMENTO.


Segundo Francisco Pereira COELHO e Guilherme de OLIVEIRA “ chama-se regime
de bens do casamento o conjunto de regras cuja aplicação define a propriedade sobre
os bens do casal, isto é, a sua repartição entre o património comum, o património do
marido e o património da mulher”.6

2
Humberto ECO, Como Se Faz Uma Tese, Editora Perspectiva, 13ª edição, São Paulo-Brasil, 1996, p. 114.
3
Termo cunhado por nós.
4
https://www.dicionariodenomesproprios.com.br acessado 15/04/2023.
5
Nos termos do art.º11.º do Código de Família angolano as linhas de parentesco são classificadas em:
a) Linha recta ou estirpe, que liga as pessoas que descendem uma da outra;
b) Linha colateral ou transversal, que liga as pessoas que têm um ascendente comum.
A linha recta refere-se ao avô em relação ao pai e o filho, isto se chama linha recta descendente. Já o
filho em relação ao pai e o avô, temos linha recta em sentido ascendente.
Quanto aos da linha colateral os parentes têm um ascendente em comum. É caso dos irmãos do mesmo
pai ou da mesma mãe, são parentes da linha colateral do 2.º grau.
6
Francisco Pereira COELHO e Guilherme de OLIVEIRA, Curso de Direito da Família, Vol.I, 4.ª ed.
Reimpressão, Coimbra Editora, pág. 475.

5
As regras em referência além de outras, também envolvem as sobre administração dos
bens, sobre as responsabilidades por dívidas e pelos encargos da vida familiar etc.7

Para o ordenamento jurídico português existem três regimes de bens a saber:

a) Regime da comunhão dos adquiridos – Art.º 1721.º do Código Civil português


(doravante C.C.P);
b) Regime de comunhão geral – Art.º 1732.º do C.C.P;
c) Regime da separação- Art.º 1735.º do C.C.P.

Quanto a comunhão dos adquiridos:

Segundo o acórdão da Relação do Porto, citado por Abílio NETO o prédio


adquirido a título oneroso e na pendência de casamento celebrado sob o
regime de comunhão de adquiridos é bem comum, ainda que na escritura de
compra e venda haja outorgado só um dos cônjuges e declarado falsamente
ser solteiro. Mesmo que esse contrato de compra e venda seja o cumprimento
de contrato-promessa celebrado anteriormente ao casamento, não pode, só
por isso, o prédio ser considerado adquirido por virtude de direito próprio
anterior.8

Na comunhão geral tal como vem explicitado no acórdão do Supremo Tribunal de


Justiça Português:

Os bens comuns constituem uma massa patrimonial a que, em vista da sua


especial afectação, a lei concede um certo grau de autonomia, e que pertence
a dois cônjuges, mas em bloco, podendo dizer-se que os cônjuges são, os
dois, titulares de um único direito sobre ela. II – Se um prédio foi adquirido
através da de escritura de compra e venda pela autora e seu marido, com
quem era casada no regime da comunhão geral de bens, tal significa que esse
prédio entrou na comunhão conjugal, ficando a constituir bem comum do
casal. III – Se, entretanto, faleceu o marido da autora, a herança é que deve
reivindicar o reconhecimento de que tal prédio é pertença da mesma herança
e não vir a autora reivindicar que é dele comproprietária.VI – Só depois da
partilha é que o herdeiro poderá ficar a ser proprietário ou comproprietário de
determinado bem da herança.9

Relativamente a Separação de bens, consta que:


O regime de separação de bens caracteriza-se por uma completa autonomia
do património encabeçado por cada um dos cônjuges, não havendo
comunhão conjugal e tendo todos os bens a natureza de bens próprios, ainda
que pertençam a ambos os cônjuges, em compropriedade. Em caso de
compropriedade, serão bens próprios as quotas que a cada um dos cônjuges
neles caibam. II – O facto de ter sido declarado pelos ex-cônjuges, no
processo de divórcio por mútuo consentimento, que não havia bens comuns a
partilhar, não impede o recurso a uma acção, suportada no instituto do
enriquecimento sem causa ( art.º 473.º do Código Civil), e, relativamente às

7
Ibidem
8
Abílio NETO, Código Civil Anotado, 19.ª Edição reelaborada, 2016, pág. 1426.
9
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça (doravante STJ), 21. 04. 2009: CJ/STJ, 2009, 2.º - 35. Apud
Abílio NETO, Código Civil Anotado, 19.ª Edição reelaborada, 2016,

6
quantias depositadas, na compropriedade do dinheiro da conta bancária
titulada por ambos os cônjuges, à data da respectiva separação.10

No contexto português ainda existe o chamado regime imperativo, como afirma


Francisco COELHO e Guilherme DE OLIVEIRA “ são apenas os da als. a) e b) do n.º1
do art.º 1720.º: casamentos celebrados sem precedência do processo preliminar de
casamento e por quem tenha completado 60 anos de idade.11 No caso da definição da
faixa etária os autores citados comentam que “ (…) o legislador terá entendido que as
circunstâncias em que se celebraram legitimam, na generalidade dos casos, a suspeita
de que algum dos nubentes tenha sido determinado a contrair matrimónio por interesse
económico.12

Contrariamente do Código de Família angolano, que no seu art.º 49.º apenas consagra
dois regimes: o de comunhão de adquiridos e separação de bens. Tendo o regime de
comunhão de adquiridos carácter supletivo, tal como escreveu a Professora Maria do
Carmo MEDINA “ O código não institui nenhum caso de imposição imperativa de
determinado regime de bens, o que significa que os nubentes são sempre livres de
escolher entre os dois tipos de regime de bens estatuídos por lei, não havendo regimes
obrigatórios de bens em certos casos específicos.1314

O legislador angolano não impõe aos nubentes a adopção de certo regime de bens, ou
seja não é imperativo, mas também não dá maior margem de liberdade de escolha tal
como acontece no art.º 1698.º do Código Civil Português “ os esposos podem fixar
livremente, em convenção antenupcial, o regime de bens do casamento, quer
escolhendo um dos regimes previstos neste Código, quer estipulando o que a esse
respeito lhes aprouver, dentro dos limites da lei”. Tal como comenta Francisco
COELHO e Guilherme DE OLIVEIRA “ os nubentes portugueses gozam de maior

10
Acórdão STJ, de 17-06-2014, Proc. 1041/10: Sumários, 2014, p. 352, Apud Abílio NETO, Código Civil
Anotado, 19.ª Edição reelaborada, 2016, pág 1434.
11
Francisco Pereira COELHO e Guilherme de OLIVEIRA, Op. Cit., pág. 476.
12
Ibidem, pág. 477.
13
Maria do Carmo MEDINA, Direito de Família, 2ª edição actualizada, Escolar Editora, 2013, pág. 255.
14
Vide Maria do Carmo MEDINA, Seminário para Actualização do Código de Família e Diplomas
Complementares, Escolar Editora, 2014, pág. 12

7
liberdade, podendo, inclusivamente, criar um regime novo ou combinar dum modo ou
doutro os vários regimes-tipo.15 (sublinhado é nosso)

Na tónica da tentativa de combinar regime de comunhão com o de separação de bens,


surge a Suécia, em 1920, como país pioneiro desta tentativa, sob a forma de comunhão
diferida.16 Neste regime durante a constância do matrimónio vigora o regime de
separação de bens, cada cônjuge administra seus bens e responde por suas próprias
dívidas, mas na dissolução da relação, seja por morte ou divórcio, todos bens são
considerados propriedade conjugal e cada cônjuge tem direito de mear, ou seja, de obter
a metade dos bens.17

Já na Alemanha, tal como explica o COELHO e DE OLIVEIRA:

O propósito de beneficiar das vantagens da separação sem prejuízo da


solidariedade própria dos regimes de comunhão foi conseguido através da
impropriamente chamada “ participação nos adquiridos”, que é sobretudo
uma partilha das valorizações ou uma “ separação de bens com igualação nos
ganhos”. Tal como na “ comunhão diferida” dos escandinavos, durante o
casamento os cônjuges vivem em separação de bens; no momento do
divórcio, calcula-se o aumento do valor do conjunto de todos os bens de cada
cônjuge – que são todos bens próprios – e confrontam-se estes dois valores
para apurar a diferença. O cônjuge cujo património se valorizou mais, que
enriqueceu mais durante o casamento, digamos assim, deve entregar ao outro
a metade da diferença das valorizações dos patrimónios. 18

No caso do direito francês, o tal que trouxe todo esse assunto a baila, no Código civil
francês existem três regimes matrimonias que são19:

a. Regime de comunhão geral


b. Separação de bens;
c. Comunhão de adquiridos.

Iremos nos deter na análise do último regime, pois é o que mais nos interessa,
atendendo ao facto que, os demais são quase idênticos com os que já debruçarmos ao
falarmos do regime português.

15
Francisco Pereira COELHO e Guilherme de OLIVEIRA, Op. Cit., pág. 478
16
Cfr. Braga da CRUZ, O problema do regime matrimonial de bens supletivo no novo código civil
português, p. 175, Apud Francisco Pereira COELHO e Guilherme de OLIVEIRA, Op. Cit., pág. 482.
17
Cfr. Francisco Pereira COELHO e Guilherme de OLIVEIRA, Op. Cit., pág. 482
18
Ibidem pág. 483.
19
Cfr. Frédéric VARIN, Incidência no direito dos regimes matrimoniais na França( especificidades de
certos regimes ou disposições) https://www.nbfproject.eu/wp-
content/uploads/sites/32/2021/03presentatoinfvarin_regimes-mat-en-france_pt.pdf, acessado 16 de
Abril de 2023.

8
Trata-se de regime híbrido, segundo Frédéric VARIN “ durante o casamento funciona
como se os cônjuges fossem casados sob o regime da separação de bens, mas na
dissolução, cada um dos cônjuges tem direito de participação em metade dos bens
adquiridos do outro.20

Neste regime um bem adquirido a título oneroso durante o casamento pode ser próprio
de um dos cônjuges. Mas, para tal é necessário observar-se duas condições:

- Que o cônjuge adquirente financia-o em mais de metade dos fundos próprios;

- No acto de compra, o cônjuge declara a sua vontade de fazer do bem adquirido um


bem próprio.21

Regime de bens no contexto jurídico angolano e suas consequências


Para nossa realidade apenas existem dois regimes que são:

a) Regime de comunhão de adquiridos;


b) E o Regime de separação de bens (não nos debruçaremos acerca deste regime
porque se assemelha em muito ao ordenamentos jurídicos supra abordados).

Segundo MEDINA o “regime de comunhão de adquiridos prevê que durante o decurso


da união conjugal vão sendo adquiridos bens, seja pela actividade exercida pelos
cônjuges seja de rendimentos havidos não só de bens comuns como ainda de bens
próprios”.22

De acordo a autora supra citada, neste regime distingue-se fundamentalmente, a


natureza dos seguintes patrimónios23:

Pelo lado activo abrange os bens adquiridos por um ou ambos os cônjuges de forma
conjuntiva ou disjuntiva, a título oneroso.

Pelo lado passivo abrange dívidas comuns.

Na mesma tónica, afirma que no regime de comunhão de adquiridos coexistem três


patrimónios distintos:

20
Ibidem.
21
Frédéric VARIN, Op. Cit. sem página.
22
Maria do Carmo MEDINA, Direito de Família, 2ª edição actualizada, Escolar Editora, 2013, pág. 258
23
Ibidem

9
- O património próprio do marido, que engloba os bens e dívidas que tinha antes da data
do casamento e os próprios posteriores a este e os demais bens exceptuados pela lei da
comunhão, entre os quais os recebidos a título gratuito depois do casamento;

- O património próprio da mulher, que abrange, da mesma forma que o do marido, os


bens e dívidas anteriores ao casamento, os bens recebidos depois do casamento a título
gratuito e os exceptuados por lei da comunhão, e as dívidas anteriores e posteriores;

- O património comum, que engloba os bens adquiridos depois do casamento a título


oneroso, os rendimentos regulares e os frutos produzidos pelos bens próprios e comuns
dos cônjuges, os salários e as dívidas comuns que podem ser anteriores ou posteriores
ao casamento.

Analisando as consequências deste regime

Tendo os cônjuges inicialmente adoptado este regime, não os poderão na constância do


casamento, alterar para o de separação de bens senão nos casos definidos pela Lei.24

Art.º 56.º Alienação ou oneração dos bens

No tocante aos bens móveis próprios ou comuns

Casos de alienação sem acordo.


N.º1 qualquer dos cônjuges tem legitimidade para alienar ou onerar, por acto entre
vivos, os bens próprios ou comuns de que tenha a administração, excepto nos casos do
n.º 2 do artigo 54.º do C.F. (sublinhado é nosso).

Excepções da alienação
Art.º 54.º n.º 2 estabelece:

a. Dos bens móveis, próprios do outro cônjuge ou comuns, por ele exclusivamente
utilizados como instrumentos de trabalho; (sublinhado é nosso).
b. Dos bens próprios do outro cônjuge se este se encontrar ausente ou, por qualquer
motivo, impedido de os administrar, desde que não tenha sido conferida a
outrem procuração bastante para administração desses bens.

24
Maria do Carmo MEDINA, Op. Cit., pág. 257

10
Art.º 56.º - Casos de Alienação com acordo

N.º2 Só podem ser alienados ou onerados com o acordo de ambos os cônjuges, qualquer
que seja o regime de bens:

a) Os bens próprios de um cônjuge exclusivamente utilizados pelo outro como


instrumento de trabalho.
b) Aos bens móveis próprios ou comuns utilizados conjuntamente pelos cônjuges
na vida do lar ou como instrumento comum de trabalho.

Neste ponto MEDINA exemplifica o caso do cônjuge que tem uma viatura automóvel
que outro cônjuge usa como motorista profissional não a pode alienar (transmitir a
outrem, seja por venda ou doação ou qualquer acto entre vivos) sem consentimento
deste. Assim como as mobílias, fogões e louças25 etc.

Quanto aos imóveis próprios ou comuns

Condicionalismo da sua alienação


O n.º 3 do art.º 56.º do CF estabelece que:

Os bens imóveis, próprios ou comuns, e o estabelecimento comercial só podem ser


alienados ou onerados, por acto entre vivos, com o acordo de ambos os cônjuges, salvo
se vigorar entre eles o regime de separação dos bens. (sublinhado é nosso)

Por hipótese prática: Maria, empresária do ramo imobiliário, casada com Alberto, é
proprietária de um condomínio de luxo numa das zonas de elite na cidade de Luanda.
Porém, o Condomínio em causa foi adquirido antes de esta contrair matrimónio com
Alberto. Pergunta-se se as rendas recebidas por esta fazem parte dos bens comuns.

R: Sim, fazem parte. Por força do art.º 51.º n.º 2 os frutos ou rendimentos produzidos
pelo bem próprio de um dos cônjuges fazem parte dos bens comuns. Portanto, o cônjuge
proprietário nunca o poderá vender ou alienar o Condomínio sem o consentimento de
Alberto seu esposo.

Via de regra, os bens imóveis não importa sua classificação não podem ser alienados
sem acordo dos cônjuges.

25
Maria do Carmo MEDINA, Op.Cit., pág. 271

11
Esta regra só não se aplica nos casos de separação de bens. Enquanto as regras dos
móveis aplicam-se tanto num regime como no outro.

Por consequência, salvo melhor entendimento, se na constância do matrimónio em


regime de comunhão de adquiridos, o homem fruto do seu trabalho adquirir certos bens
e os não declarar a sua esposa tem esta legitimidade para intentar a respectiva acção
judicial, se for por exemplo proprietário de um imóvel e disponha para um terceiro pode
intentar uma acção de revindicação de propriedade nos termos do art.º 1311.º do C.C.
com fundamento no art.º 1403.º do mesmo Código.

Se por acaso o bem já for registado em nome do terceiro pode impugnar os factos
comprovados pelo registo, nos termos do art.º 12.º do Decreto-Lei n.º 47 611 de 28 de
Março de 1967, na sequência deste regime o Código Predial Português, na sua redacção
actual- introduzida pelo Decreto-Lei n.º 116/2008 – estabelece que “ a impugnação
judicial de factos registados faz presumir o pedido de cancelamento do respectivo
registo”. Assim, se a impugnação proceder, o juiz deve determinar esse cancelamento.26

Ainda que por mera hipótese académica, aventarmos a possibilidade de um dos cônjuge
registar todos seus bens em nome de sua mãe, o mesmo só sai a perder porque a família
bantu é assaz alargada, uma mãe normalmente não tem só um filho e se está vier a
falecer todos demais filhos serão chamados a herdar os bens deixado por esta. ( art.º
2.131.º e 2.133.º todos do C.Civil).

Essa partilha decorrerá no âmbito do processo de inventário por óbito, a situação fica
mais caricata se esta mãe tiver contraído matrimónio ou reunido os pressupostos para o
reconhecimento da união de facto por morte27, com um homem que não seja o pai do
filho “ partidário do haquimismo”. O cônjuge sobrevivo será a cabeça de casal e sendo
assim administrará a herança até a sua liquidação e partilha.28 E mais, antes dos

26
Luís A. Carvalho FERNANDES, Lições de Direitos Reais, 6.ª Edição (reimpressão) Quid Iuris Sociedade
Editora, Lisboa 2010, pág. 129.
27
Pressupostos previstos no art.º 113.º do Código de Família angolano.
28
Art.º 2079.º do C.C: A administração da herança, até a sua liquidação e partilha, pertence ao cabeça-
de-casal.
n.º1 art.º 2080.º O cargo da cabeça-de*casal defere-se pela ordem seguinte:
al. a): o cônjuge sobrevivo, se for herdeiro ou tiver meação em bens do casal

12
herdeiros receberem a sua parte dos bens far-se-á a meação dos bens e cônjuge
sobrevivo terá 50% e só depois os herdeiros do de cujus.29

Outro efeito menos bom do haquimismo aplicado a nossa realidade, é o facto de os


filhos do haquimista ficarem prejudicados na quota-parte que lhes cabe enquanto
herdeiros prioritários na sucessão do pai.

Como argumenta José Gonçalves DE PROENÇA na opinião de grande parte


da doutrina, ao acentuar que o testador (aquele que deixa um testamento) não
pode dispor (transferir, transmitir, dar) da porção de bens legalmente
destinados aos herdeiros legitimários, o legislador pretende acentuar que a
quota legitimaria é uma quota efectiva da herança que está fora do alcance da
vontade do testador, em tudo quanto respeita a actos de disposição gratuita
efectuados quer em vida quer em mortis causa.30

Situações do género, a serem analisadas nesta perspectiva é mesmo que dizer que o tiro
saiu pela culatra. Não vale a pena tentarmos.

29
Para melhor esclarecimento passo a citar as palavras da Doutora MEDINA: uma vez liquidado o
passivo, passe-se à partilha dos bens comuns e à determinação do património pessoal de cada cônjuge,
o qual é integrado pelos respectivos bens próprios e pelos bens que passam a integrar a sua meação.
Como a palavra indica, a meação consiste no direito a metade dos bens comuns do casal. Pág. 331
Neste caso são aplicadas as regras da devolução sucessória e são chamados os herdeiros ou legatários,
entre os quais pode estar ou não incluído o cônjuge viúvo, e então estes são chamados a receber os
bens próprios e os bens que passem a integrar a meação do defunto. Pág. 332
Ao operar-se a partilha dos bens comuns, o cônjuge sobrevivo goza do direito de preferência que lhe é
concedido pelo art.º 75.º, n.ç 2 do Código de Família. Pág. 332.
30
José João Gonçalves PROENÇA, Direito das Sucessões, 2.ª Edição Quid Iuris Sociedade Editora, Lisboa,
2005, pág 119.

13
CONCLUSÕES

Depois de uma pequena reflexão em torno do tema que nos propusemos analisar,
embora a partida num tom de brincadeira sem querer atribuir cientificidade a nossa
abordagem, concluímos o seguinte:

Os regimes de bens variam de contexto jurídicos. Embora muitas vezes transplantamos


juridicamente leis, doutrinas e jurisprudências portuguesas, no aspecto do regime de
bens do casamento somos um pouco diferentes. Sendo assim, a forma como cada
cônjuge actuará não terá a mesma eficácia, resposta ou consequência legal.

O caso do Jogador Hakimi enquadra-se na estrutura sistemática do regime de bens


adoptado no direito positivo francês, que numa das suas vertentes consagra o regime de
comunhão de adquirido, mas, combinado com aspectos da separação de bens, onde
permite os cônjuges embora casados neste regime conservem sua autonomia financeira,
e como bem entenderam decidam atribuir aos bens adquiridos qualidade de bens
próprios, não havendo assim nenhum impedimento legal para tal. É claro se o bem é
mesmo meu eu tenho extensas manobras ou evasivas para escapar da comunhão dos
mesmos, em caso de divórcio ou morte, tal como acontece neste regime.

Para o nosso ordenamento jurídico os cônjuges não tem outra saída senão optarem no
regime de comunhão de adquiridos ou separação de bens, ficando assim frustrada toda
liberdade de modelação do regime de bens que os nubentes queiram atribuir na sua
relação conjugal.

Consequentemente, atendendo as características do nosso regime de comunhão de


adquiridos, os cônjuges que decidirem adoptar este regime dificilmente terão eficácia ao
recorrerem ao haquimismo. Aliás só se verão emaranhados e teias venenosas que por
fim os prenderão a penúria.

14

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