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Breve análise.
1
Não estou acreditar que levei essa brincadeira a sério.
Não era para ser assim, mas acabei por consumir o meu dia a escrever esse simples
e talvez equivocada análise, seja por fás ou por nefás, ao menos brincamos de
escrever e impregnamos toda nossa tolice neste manso e humilde programa “
Word”, que aceita receber qualquer tolice de manifestação de ideias de homens
loucos, loucos do meu tipo que enquanto a carga não acaba não larga o coitado e
miserável computador.
Por favor, depois da crítica não esqueça por os pontos nos i , traço nos t e vírgulas
nas frases cujas vozes encontram-se entarameladas, cujas pernas estão sem norte
levadas por qualquer vento desta vida.
Obrigado.
2
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4
DEFINIÇÃO DE TERMOS ...................................................................................... 5
I. REGIME DE BENS DO CASAMENTO. ............................................................. 5
No caso do direito francês ......................................................................................... 8
Regime de bens no contexto jurídico angolano e suas consequências ...................... 9
Art.º 56.º Alienação ou oneração dos bens ............................................................. 10
No tocante aos bens móveis próprios ou comuns ................................................... 10
Casos de alienação sem acordo. .............................................................................. 10
Excepções da alienação ........................................................................................... 10
Quanto aos imóveis próprios ou comuns ................................................................ 11
Condicionalismo da sua alienação .......................................................................... 11
CONCLUSÕES ....................................................................................................... 14
3
INTRODUÇÃO
A presente abordagem surge num momento que muito se fala, de forma positiva por
parte da claque de homens, de um famoso jogador argelino Achraf Hamikimi, lateral-
direito do Paris Saint-Germain, envolto em acusações de estupro feito por uma jovem
de 24 anos de idade. Contudo, o estopim da minha abordagem pretende-se com o facto
de que tendo a esposa deste, Hiba Abouk, modelo espanhola, entrando com acção de
divórcio e pedindo a meação dos bens, a Justiça francesa declarou que o mesmo não
tinha bens registados em nome próprio, mas sim em nome da própria mãe.1
Tão logo que a informação foi publicada as redes sociais, in concreto, ficaram
inundadas com imagens do jogador, sendo o mesmo aplaudido por muitos internautas
por ter adoptada tal conduta, inclusive alguns fazem comentários do tipo “ nosso líder”,
“exemplo a seguir”.
Diante de comentários de aprovação feita por muitos jovens dentro os quais angolanos,
vimos a necessidade de analisar tal procedimento no âmbito do nosso direito. Com a
mesma abordagem pretendemos esclarecer as consequências legais decorrentes deste
acção se aplicada no nosso contexto.
Para auxiliar a nossa pesquisa fizemos as seguintes perguntas: Pode um dos cônjuges
sem consentimento do outro registar em nome de terceiro o bem adquirido por ele na
constância do casamento? Se tal acontecer quais serão as consequências jurídicas
decorrentes deste registo?
1
Cfr:https://ge-globo-com.cdn.ampproject.org/v/s/ge.globo.com/Google/amp/futebol/futebol-
internacional/futebol-frances/noticia/2023/04/14/investigado-por-estupro-hakimi-dribla-ex-mulher-
em-processo-de-divorcio.ghtml?amp. acessado 15/04/2023.
4
DEFINIÇÃO DE TERMOS
Para Humberto ECO, “definem-se os termos usados, a menos que se trate de termos
consagrados e indiscutíveis pela disciplina em causa”.2
2
Humberto ECO, Como Se Faz Uma Tese, Editora Perspectiva, 13ª edição, São Paulo-Brasil, 1996, p. 114.
3
Termo cunhado por nós.
4
https://www.dicionariodenomesproprios.com.br acessado 15/04/2023.
5
Nos termos do art.º11.º do Código de Família angolano as linhas de parentesco são classificadas em:
a) Linha recta ou estirpe, que liga as pessoas que descendem uma da outra;
b) Linha colateral ou transversal, que liga as pessoas que têm um ascendente comum.
A linha recta refere-se ao avô em relação ao pai e o filho, isto se chama linha recta descendente. Já o
filho em relação ao pai e o avô, temos linha recta em sentido ascendente.
Quanto aos da linha colateral os parentes têm um ascendente em comum. É caso dos irmãos do mesmo
pai ou da mesma mãe, são parentes da linha colateral do 2.º grau.
6
Francisco Pereira COELHO e Guilherme de OLIVEIRA, Curso de Direito da Família, Vol.I, 4.ª ed.
Reimpressão, Coimbra Editora, pág. 475.
5
As regras em referência além de outras, também envolvem as sobre administração dos
bens, sobre as responsabilidades por dívidas e pelos encargos da vida familiar etc.7
7
Ibidem
8
Abílio NETO, Código Civil Anotado, 19.ª Edição reelaborada, 2016, pág. 1426.
9
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça (doravante STJ), 21. 04. 2009: CJ/STJ, 2009, 2.º - 35. Apud
Abílio NETO, Código Civil Anotado, 19.ª Edição reelaborada, 2016,
6
quantias depositadas, na compropriedade do dinheiro da conta bancária
titulada por ambos os cônjuges, à data da respectiva separação.10
Contrariamente do Código de Família angolano, que no seu art.º 49.º apenas consagra
dois regimes: o de comunhão de adquiridos e separação de bens. Tendo o regime de
comunhão de adquiridos carácter supletivo, tal como escreveu a Professora Maria do
Carmo MEDINA “ O código não institui nenhum caso de imposição imperativa de
determinado regime de bens, o que significa que os nubentes são sempre livres de
escolher entre os dois tipos de regime de bens estatuídos por lei, não havendo regimes
obrigatórios de bens em certos casos específicos.1314
O legislador angolano não impõe aos nubentes a adopção de certo regime de bens, ou
seja não é imperativo, mas também não dá maior margem de liberdade de escolha tal
como acontece no art.º 1698.º do Código Civil Português “ os esposos podem fixar
livremente, em convenção antenupcial, o regime de bens do casamento, quer
escolhendo um dos regimes previstos neste Código, quer estipulando o que a esse
respeito lhes aprouver, dentro dos limites da lei”. Tal como comenta Francisco
COELHO e Guilherme DE OLIVEIRA “ os nubentes portugueses gozam de maior
10
Acórdão STJ, de 17-06-2014, Proc. 1041/10: Sumários, 2014, p. 352, Apud Abílio NETO, Código Civil
Anotado, 19.ª Edição reelaborada, 2016, pág 1434.
11
Francisco Pereira COELHO e Guilherme de OLIVEIRA, Op. Cit., pág. 476.
12
Ibidem, pág. 477.
13
Maria do Carmo MEDINA, Direito de Família, 2ª edição actualizada, Escolar Editora, 2013, pág. 255.
14
Vide Maria do Carmo MEDINA, Seminário para Actualização do Código de Família e Diplomas
Complementares, Escolar Editora, 2014, pág. 12
7
liberdade, podendo, inclusivamente, criar um regime novo ou combinar dum modo ou
doutro os vários regimes-tipo.15 (sublinhado é nosso)
No caso do direito francês, o tal que trouxe todo esse assunto a baila, no Código civil
francês existem três regimes matrimonias que são19:
Iremos nos deter na análise do último regime, pois é o que mais nos interessa,
atendendo ao facto que, os demais são quase idênticos com os que já debruçarmos ao
falarmos do regime português.
15
Francisco Pereira COELHO e Guilherme de OLIVEIRA, Op. Cit., pág. 478
16
Cfr. Braga da CRUZ, O problema do regime matrimonial de bens supletivo no novo código civil
português, p. 175, Apud Francisco Pereira COELHO e Guilherme de OLIVEIRA, Op. Cit., pág. 482.
17
Cfr. Francisco Pereira COELHO e Guilherme de OLIVEIRA, Op. Cit., pág. 482
18
Ibidem pág. 483.
19
Cfr. Frédéric VARIN, Incidência no direito dos regimes matrimoniais na França( especificidades de
certos regimes ou disposições) https://www.nbfproject.eu/wp-
content/uploads/sites/32/2021/03presentatoinfvarin_regimes-mat-en-france_pt.pdf, acessado 16 de
Abril de 2023.
8
Trata-se de regime híbrido, segundo Frédéric VARIN “ durante o casamento funciona
como se os cônjuges fossem casados sob o regime da separação de bens, mas na
dissolução, cada um dos cônjuges tem direito de participação em metade dos bens
adquiridos do outro.20
Neste regime um bem adquirido a título oneroso durante o casamento pode ser próprio
de um dos cônjuges. Mas, para tal é necessário observar-se duas condições:
Pelo lado activo abrange os bens adquiridos por um ou ambos os cônjuges de forma
conjuntiva ou disjuntiva, a título oneroso.
20
Ibidem.
21
Frédéric VARIN, Op. Cit. sem página.
22
Maria do Carmo MEDINA, Direito de Família, 2ª edição actualizada, Escolar Editora, 2013, pág. 258
23
Ibidem
9
- O património próprio do marido, que engloba os bens e dívidas que tinha antes da data
do casamento e os próprios posteriores a este e os demais bens exceptuados pela lei da
comunhão, entre os quais os recebidos a título gratuito depois do casamento;
Excepções da alienação
Art.º 54.º n.º 2 estabelece:
a. Dos bens móveis, próprios do outro cônjuge ou comuns, por ele exclusivamente
utilizados como instrumentos de trabalho; (sublinhado é nosso).
b. Dos bens próprios do outro cônjuge se este se encontrar ausente ou, por qualquer
motivo, impedido de os administrar, desde que não tenha sido conferida a
outrem procuração bastante para administração desses bens.
24
Maria do Carmo MEDINA, Op. Cit., pág. 257
10
Art.º 56.º - Casos de Alienação com acordo
N.º2 Só podem ser alienados ou onerados com o acordo de ambos os cônjuges, qualquer
que seja o regime de bens:
Neste ponto MEDINA exemplifica o caso do cônjuge que tem uma viatura automóvel
que outro cônjuge usa como motorista profissional não a pode alienar (transmitir a
outrem, seja por venda ou doação ou qualquer acto entre vivos) sem consentimento
deste. Assim como as mobílias, fogões e louças25 etc.
Por hipótese prática: Maria, empresária do ramo imobiliário, casada com Alberto, é
proprietária de um condomínio de luxo numa das zonas de elite na cidade de Luanda.
Porém, o Condomínio em causa foi adquirido antes de esta contrair matrimónio com
Alberto. Pergunta-se se as rendas recebidas por esta fazem parte dos bens comuns.
R: Sim, fazem parte. Por força do art.º 51.º n.º 2 os frutos ou rendimentos produzidos
pelo bem próprio de um dos cônjuges fazem parte dos bens comuns. Portanto, o cônjuge
proprietário nunca o poderá vender ou alienar o Condomínio sem o consentimento de
Alberto seu esposo.
Via de regra, os bens imóveis não importa sua classificação não podem ser alienados
sem acordo dos cônjuges.
25
Maria do Carmo MEDINA, Op.Cit., pág. 271
11
Esta regra só não se aplica nos casos de separação de bens. Enquanto as regras dos
móveis aplicam-se tanto num regime como no outro.
Se por acaso o bem já for registado em nome do terceiro pode impugnar os factos
comprovados pelo registo, nos termos do art.º 12.º do Decreto-Lei n.º 47 611 de 28 de
Março de 1967, na sequência deste regime o Código Predial Português, na sua redacção
actual- introduzida pelo Decreto-Lei n.º 116/2008 – estabelece que “ a impugnação
judicial de factos registados faz presumir o pedido de cancelamento do respectivo
registo”. Assim, se a impugnação proceder, o juiz deve determinar esse cancelamento.26
Ainda que por mera hipótese académica, aventarmos a possibilidade de um dos cônjuge
registar todos seus bens em nome de sua mãe, o mesmo só sai a perder porque a família
bantu é assaz alargada, uma mãe normalmente não tem só um filho e se está vier a
falecer todos demais filhos serão chamados a herdar os bens deixado por esta. ( art.º
2.131.º e 2.133.º todos do C.Civil).
Essa partilha decorrerá no âmbito do processo de inventário por óbito, a situação fica
mais caricata se esta mãe tiver contraído matrimónio ou reunido os pressupostos para o
reconhecimento da união de facto por morte27, com um homem que não seja o pai do
filho “ partidário do haquimismo”. O cônjuge sobrevivo será a cabeça de casal e sendo
assim administrará a herança até a sua liquidação e partilha.28 E mais, antes dos
26
Luís A. Carvalho FERNANDES, Lições de Direitos Reais, 6.ª Edição (reimpressão) Quid Iuris Sociedade
Editora, Lisboa 2010, pág. 129.
27
Pressupostos previstos no art.º 113.º do Código de Família angolano.
28
Art.º 2079.º do C.C: A administração da herança, até a sua liquidação e partilha, pertence ao cabeça-
de-casal.
n.º1 art.º 2080.º O cargo da cabeça-de*casal defere-se pela ordem seguinte:
al. a): o cônjuge sobrevivo, se for herdeiro ou tiver meação em bens do casal
12
herdeiros receberem a sua parte dos bens far-se-á a meação dos bens e cônjuge
sobrevivo terá 50% e só depois os herdeiros do de cujus.29
Situações do género, a serem analisadas nesta perspectiva é mesmo que dizer que o tiro
saiu pela culatra. Não vale a pena tentarmos.
29
Para melhor esclarecimento passo a citar as palavras da Doutora MEDINA: uma vez liquidado o
passivo, passe-se à partilha dos bens comuns e à determinação do património pessoal de cada cônjuge,
o qual é integrado pelos respectivos bens próprios e pelos bens que passam a integrar a sua meação.
Como a palavra indica, a meação consiste no direito a metade dos bens comuns do casal. Pág. 331
Neste caso são aplicadas as regras da devolução sucessória e são chamados os herdeiros ou legatários,
entre os quais pode estar ou não incluído o cônjuge viúvo, e então estes são chamados a receber os
bens próprios e os bens que passem a integrar a meação do defunto. Pág. 332
Ao operar-se a partilha dos bens comuns, o cônjuge sobrevivo goza do direito de preferência que lhe é
concedido pelo art.º 75.º, n.ç 2 do Código de Família. Pág. 332.
30
José João Gonçalves PROENÇA, Direito das Sucessões, 2.ª Edição Quid Iuris Sociedade Editora, Lisboa,
2005, pág 119.
13
CONCLUSÕES
Depois de uma pequena reflexão em torno do tema que nos propusemos analisar,
embora a partida num tom de brincadeira sem querer atribuir cientificidade a nossa
abordagem, concluímos o seguinte:
Para o nosso ordenamento jurídico os cônjuges não tem outra saída senão optarem no
regime de comunhão de adquiridos ou separação de bens, ficando assim frustrada toda
liberdade de modelação do regime de bens que os nubentes queiram atribuir na sua
relação conjugal.
14